Produção de grãos de aveia branca...
PRODUÇÃO DE GRÃOS DE AVEIA BRANCA (Avena sativa L.) EM
CULTIVO COMPANHEIRO COM LEGUMINOSAS FORRAGEIRAS
GABRIEL T. DE ABREU1
LUIS O. B. SCHUCH2
MANOEL DE S. MAIA2
MARIANE D‘A. ROSENTHAL3
SIDNEI BACCHI4
LEANDRO D. CANTARELLI5
ÉDIMO PEREIRA6
1. Engº Agrº M.Sc. Agronomia - Produção Vegetal, [email protected];
2. Engº Agrº Dr. Prof. Depto. de Fitotecnia - FAEM/UFPel, Cx. Postal 354, CEP 96001-970, Capão do Leão - RS, lobs@
ufpel.tche.br;
3. Enga Agra Depto. de Fitotecnia - FAEM/UFPel, Cx. P. 354, CEP 96001-970, Capão do Leão - RS;
4. Engº Agrº M.Sc. Agronomia - Produção Vegetal;
5. Mestrando em Ciência e Tecnologia de Sementes, FAEM/UFPel;
6. Engenheiro Agrônomo.
RESUMO: ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA, M. de S.; ROSENTHAL, M. D‘A.; BACCHI, S.;
CANTARELLI, L.D.; PEREIRA, É. Produção de grãos de aveia branca (Avena sativa l.) em cultivo
companheiro com leguminosas forrageiras. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida,
Seropédica, RJ: EDUR, v. 25, n. 2, p. 70-79, jul.-dez., 2005. Diversos parâmetros estimam a produção de
grãos de aveia branca (A. sativa L.). O trabalho foi conduzido no Centro Agropecuário da Palma - CAP/UFPel
e o delineamento experimental em parcelas divididas com 3 repetições. As populações de aveia branca
foram 100, 200, 300 e 400 plantas.m-2 com o cultivar moderno UPF 18. As leguminosas forrageiras utilizadas
foram trevo branco (Trifolium repens L.), trevo svermelho (T. pratense L.), trevo vesiculoso (T. vesiculosum,
Savi), cornichão El Rincon (Lotus subflorus L.) e cornichão São Gabriel (L. corniculatus L.) nas densidades
recomendadas. As determinações foram número de panículas/m2, número de grãos/panícula, peso de mil
sementes (g), rendimento de grãos (Kg.ha-1, g panícula-1, g planta-1), estatura de plantas (cm), número de
panículas/planta, número de grãos/planta, número de grãos.m-2, índice de colheita (%) e peso do hectolitro
(Kg). Existe interação entre os tratamentos no cultivo companheiro para o rendimento de grãos de aveia branca.
Incrementos na população de plantas de aveia incrementam número de panículas.m-2, peso do hectolitro e
rendimento de grãos (Kg.ha-1) porém reduzem número de grãos/panícula, rendimento de grãos (g panícula-1
e g planta-1), número de panículas/planta, número de grãos/planta e índice de colheita.
Palavras-chave: aveia branca, cultivo companheiro, forrageiras, intraespecífica, interespecífica.
ABSTRACT: ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA, M. de S.; ROSENTHAL, M. D‘A.; BACCHI, S.;
CANTARELLI, L.D.; PEREIRA, É. Grain production of oat (Avena sativa l.) in the cover crops with
forage legumes. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 25,
n. 2, p. 70-79, jul.-dez., 2005. Several parameters estimate the grain production of oat (A. sativa L.). The
study was conducted in the Centro Agropecuário da Palma CAP/UFPel, and the design was divided plots
with 3 replications. The populations of oat were 100, 200, 300 and 400 plants.m-2 with the modern cultivar
UPF 18. The Whinter forage legumes were white clover (Trifolium repens L.), crimson clover (T. pratense L.),
vesiculoso clover (T. vesiculosum Savi), birdsfoot trifoil El Rincon (Lotus subflorus L.) and São Gabriel (L.
corniculatus L.) in the recommended densities. The response variables were number of panicles.m-2, number
of grain/panicle, weight of thousand seeds (g), grain yield (Kg.ha-1, g panicle-1, g plant-1), stature of plants
(cm), number of panicles/plant, number of grain/plant, number of grain.m-2, harvest index (%) and weight of
hectoliter (Kg). The forage legumes and plants population interacted with the grain yield of oat. Increases in
the oat plant population increase number of panicles.m-2, weight of hectoliter and grain yield (Kg.ha-1) but
reduce number of grain/panicle, grain yield (g panicle-1 and g plant-1), number of panicle/plant, number of
grain/plant and harvest index.
Key words: oat, cover crops, forage, intraespecific, interespecific.
INTRODUÇÃO
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p.70-79.
ABREU, G.T. de; et al.
O gênero Avena L. compreende uma
série de espécies poliplóides silvestres,
invasoras e cultivadas distribuídas pelo
mundo (MARSHALL & SORRELLS,
1992). A aveia antigamente não tinha
importância ao homem quanto trigo ou
cevada e evidências indicam que a aveia
persistiu como planta daninha naqueles
cereais mais antigos por séculos. A aveia
era associada ao homem de tempos
remotos não menos do que 4000 anos
atrás e, provavelmente, A. strigosa (aveia
preta) foi utilizada mais cedo do que A.
sativa (aveia branca), a qual surgiu mais
tarde (COFFMAN, 1961). Estima-se que
a espécie A. sativa ocupe cerca de 80%
da área mundial de aveia e que os 20%
restantes correspondem à A. byzantina
(aveia amarela) (FLOSS, 1989).
No Brasil a aveia é cultivada desde
1600 sendo que as espécies cultivadas são
anuais, existindo porém espécies perenes
(MATZENBACHER, 1999). A aveia é
uma alternativa de inverno para inclusão
nos sistemas de produção de grãos nos
estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul (FONTANELI et al., 1996). A
semeadura de aveia branca em associação
com leguminosas forrageiras constitui
um exemplo de culturas companheiras,
também referidas como nurse crops,
companhion crops, cover crops. Essa
é uma prática considerada de elevada
eficiência técnica e econômica para a
implantação de pastagens. SANCHEZ
& SALINAS (1982) comentam que a
associação entre culturas e espécies
forrageiras é muito específica para cada
local e depende das condições climáticas
e de manejo, de modo que os sistemas
deveriam ser comprovados localmente,
principalmente no que se refere a taxas
de semeadura, espaçamentos, cultivares
envolvidos e nível de fertilidade. Afirmam
ainda que os resultados dependem
primeiramente das espécies forrageiras
e das culturas associadas.
Na Região Central do Brasil alguns
trabalhos estão sendo feitos para a
implantação ou renovação de pastagens
através de culturas companheiras. Na
década de 70, milhares de hectares de
pastagens de braquiária foram implantados
com o plantio de arroz. Outro sistema
de integração agricultura/pastagem é
o Sistema Barreirão aperfeiçoado por
KLUTHCOUSKI et al. (1991), no Centro
Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão
(CNPAF) da EMBRAPA no qual são
associadas culturas anuais como arroz
de sequeiro, milho, soja ou milheto, com
espécies forrageiras, principalmente
dos gêneros Brachiaria e Andropogon
com propósito de reduzir custos de
recuperação/renovação de pastagens
degradadas. Esse sistema apresentou
grande aceitação visto que, tendo sido
colocado à disposição dos pecuaristas
em 1991, alcançou em 1994 a 8 estados
brasileiros, ocupando uma área de 300
mil ha (SILVA et al., 1994). O Sistema
Barreirão foi desenvolvido para o cerrado
brasileiro que ocupa uma área superior
a 200 milhões de ha (cerca de 25% do
território nacional).
No Rio Grande do Sul a prática da
associação de cereais com forrageiras
inicialmente adotada foi o estabelecimento
de cornichão (Lotus corniculatus L.) com
o trigo. Os primeiros trabalhos com essas
espécies datam da década de 50, cabendo
à Estação Experimental de Forrageiras
de São Gabriel/RS a obtenção das
primeiras informações técnicas sobre
a viabilidade dessa prática e a divulgação
das suas vantagens.
O presente trabalho teve por objetivo
avaliar o efeito das populações de plantas
de aveia branca e diferentes leguminosas
forrageiras sobre a produção de grãos
da aveia.
MATERIAL E MÉTODOS
A área experimental da UFPel (Centro
Agropecuário da Palma - CAP/UFPel)
está localizada no município de Capão do
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p. 70-79.
Produção de grãos de aveia branca...
Leão/RS, região fisiográfica denominada
Encosta do Sudeste do Estado do Rio
Grande do Sul e situado a 31°45’ 45’’
de latitude Sul, 52°19’ 55’’ de longitude
Oeste de Greenwich. O solo pertence à
unidade de Mapeamento “Matarazzo”,
Argissolo Amarelo Distrófico Típico na
classificação brasileira e na classificação
do Soil Taxonomy é denominado de Typic
Paleudalf. O delineamento experimental
utilizado foi parcelas divididas com
3 repetições. Nas parcelas estão as
leguminosas forrageiras e nas subparcelas
as populações de plantas de aveia branca.
Cada unidade experimental foi constituída
de 9 linhas espaçadas em 17,5 cm, com
5 m de comprimento (7 m² considerandose as bordaduras). As populações de
plantas avaliadas foram 100, 200, 300
e 400 pl.m-², obtidas por ajustes das
respectivas quantidades de sementes
correspondendo a 42, 83, 125 e 167
kg.ha-¹. O número de sementes aptas.
m-² equivale, teoricamente, à população
de plantas (pl.m-²) embora o estande final
seja menor. O cultivar de aveia branca
utilizado foi UPF 18 recomendado para
cultivo no RS em 1999; suas principais
características são: ciclo tardio, estatura
alta, moderadamente susceptível à
ferrugem da folha, resistente à ferrugem do
colmo, tolerante à geada, rendimento de
grãos superior a 2300 kg.ha-¹ e rendimento
industrial 67% (COMISSÃO..., 2000). As
leguminosas forrageiras utilizadas foram
trevo branco (Trifolium repens L.), trevo
vermelho (T. pratense L.), trevo vesiculoso
(T. vesiculosum Savi), cornichão El Rincon
(Lotus subflorus L.) e cornichão São
Gabriel (L. corniculatus L.) semeadas nas
densidades normais de cultivos isolados
no RS, respectivamente 2 kg.ha -¹, 6
kg.ha-¹, 10 kg.ha-¹, 4 kg.ha-¹ e 8 kg.ha-¹.
O tratamento testemunha foi monocultivo
de aveia branca.
Os resultados da análise de solo
realizada no Laboratório de Análise de
Solos, Departamento de Solos, Faculdade
de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade
Federal de Pelotas, conforme as normas
da ROLAS (COMISSÃO..., 1994) foram
os seguintes: textura: 190 g Kg-¹ argila; C:
12,33; pH água: 6,0; Al+3: 0,0 cmolc dm-3;
pH SMP: 6,8; Na+: 0,039 cmolc dm-3; Ca+2:
3,1 cmolc dm-3; Mg+2: 1,5 cmolc dm-3; P:
10,3 mg dm-3; K+: 0,087 cmolc dm-3. Na
semeadura (base) foram aplicados em
linha 17 kg.ha-¹ de N, 72 kg.ha-¹ de P2 O5 e
108 kg.ha-¹ de K2O. As respectivas fontes
de nutrientes utilizadas foram Ca(NO3)2,
Super Fosfato Triplo e KCl objetivando a
cultura da aveia e acrescentando-se 20%
na recomendação de P e K para maior
longevidade das forrageiras. Aos 40 dias
após a semeadura (cobertura) foi aplicado
33 kg.ha-¹ de N.
A semeadura da aveia foi realizada
no dia 27/07/2000 utilizando semeadora
- adubadora no sistema de semeadura
direta em área com vegetação espontânea
previamente dessecada com Glifosato.
As forrageiras foram semeadas à lanço
no dia 28/07/2000, após fez-se a rolagem
para incorporar as sementes e aplicação
de Rhizobium específico utilizando areia
como veículo. A emergência das plântulas
de aveia ocorreu em 04/08/2000.
Aos 119 DAE (01/12/2000) foram
amostradas 30 panículas/parcela para
determinar o número de grãos/panícula.
Determinou-se em cada unidade
experimental a estatura de plantas pela
medição de 5 plantas escolhidas ao acaso.
Aos 120 DAE (02/12/2000), considerando
2 m de linha, determinou-se o número de
panículas.m-² e o índice de colheita pela
equação: IC (%) = 100 x (rend. grãos/rend.
biomassa). Também aos 120 DAE foram
colhidas as plantas de aveia branca da
área útil (4,2 m²) para determinar o
rendimento de grãos expresso em kg.ha1
à 13% de umidade, em g panícula-1 e
g planta-1. Com as sementes colhidas
na área útil determinou-se o peso de mil
sementes (g) e o peso do hectolitro (Kg)
em balança hectolítrica. Dividindo-se o
número de panículas.m-² pelas populações
de plantas (pl.m-²) obteve-se o número
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p.70-79.
ABREU, G.T. de; et al.
de panículas/planta. Multiplicando-se o
número de panículas.m-² pelo número de
grãos/panícula obteve-se o número de
grãos.m-² e multiplicando-se o número
de panículas/planta pelo número de
grãos/panícula obteve-se o número de
grãos/planta.
Os resultados experimentais foram
submetidos à análise da variância e
comparação de médias pelo teste de
Duncan ao nível de 5% de probabilidade
de erro sendo os efeitos da variação na
população de plantas de aveia branca
avaliados por regressões polinomiais. Nos
pontos de máximo e mínimo a derivada
primeira da regressão quadrática é
igual a zero obtendo-se os valores de x
(população de plantas) e y (rendimento
de grãos, número de panículas/planta
ou número de grãos/planta). As análises
estatísticas foram realizadas através
do Sistema de Análise Estatística para
Microcomputadores - SANEST (ZONTA
& MACHADO, 1986).
RESULTADOS
As populações de plantas de aveia
branca afetaram número de panículas.m², número de grãos/panícula, rendimento
de grãos (Kg.ha-1, g planta-1 e g panícula-1),
número de panículas/planta, número de
grãos/planta, índice de colheita e peso
do hectolitro. Incrementos na população
de plantas elevaram número de panículas.
m-², peso do hectolitro e rendimento de
grãos (Kg.ha-1) porém reduziram número
de grãos/panícula, rendimento de grãos
(g panícula-1 e g planta-1), número de
panículas/planta, número de grãos/planta
e índice de colheita. As leguminosas
forrageiras, nas quantidades de sementes
recomendadas, não afetaram a produção
de biomassa da aveia branca. O trevo
vesiculoso resulta em maior produção de
biomassa total do cultivo sendo que as
demais leguminosas forrageiras resultam
semelhantes produções entre si (ABREU
et al., 2005).
O rendimento de grãos (kg.ha-1) do
cultivar UPF 18 foi descrito por uma
equação quadrática positiva com ponto
de mínimo na população de 360 pl.m² produzindo 1533 kg.ha -1 (Figura 1).
Em g panícula-1 o rendimento de grãos
reduz linearmente com o aumento na
população de plantas enquanto que em
g planta-1 foi descrito por um polinômio
quadrático negativo com ponto de mínimo
na população de 401 pl.m -² atingindo
0,391 g.pl-1. A quantidade de panículas.m-²
aumenta em proporção direta à população
de plantas (correlação linear positiva, r =
0,995) enquanto que o número de grãos/
panícula reduz linearmente (correlação
linear negativa, r = -0,99). As populações
de plantas do cultivar UPF 18 não afetaram
o peso de mil sementes (PMS).
A variação na população de plantas não
influenciou a estatura (Figura 2) resultando
em média 115 cm. Não foi constatado
problema com acamamento em nenhuma
das populações consideradas (ABREU,
2001; ABREU et al., 2002; 2003; 2004). A
quantidade de panículas/planta apresentou
tendência quadrática de redução com
ponto de mínimo na população de 342
pl.m-² produzindo 0,694 panículas/planta.
O número de grãos/planta também
apresentou tendência quadrática de
redução porém com ponto de mínimo na
população de 370 pl.m-² atingindo 16,824
grãos/planta. As populações de plantas
consideradas não afetaram o número de
grãos.m-² enquanto o índice de colheita
(IC) reduziu linearmente com o acréscimo
na população de plantas. O peso do
hectolitro (PH) aumentou linearmente
conforme aumentou a população de
plantas.
DISCUSSÃO
As populações de plantas afetaram o
rendimento de grãos (kg.ha-1) do cultivar
UPF 18 com prob.>F= 0,001% (ABREU
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p. 70-79.
Produção de grãos de aveia branca...
et al., 2001; 2004; 2005) sendo descrito
por uma equação quadrática positiva
com ponto de máximo na população
de 360 pl.m-² produzindo 1533 kg.ha-1
(Figura 1). As leguminosas forrageiras
interagem com as populações de plantas
de aveia branca para o rendimento de
grãos, resultado este citado por ABREU
et al. (2001). No monocultivo com o
cultivar UPF 18, as mesmas populações
de plantas não afetaram o rendimento
de grãos com prob.>F=8,33% (ABREU
et al., 2000; 2002; 2003; 2006; ABREU,
2001). Em g.panícula-1 o rendimento de
grãos reduz linearmente com o aumento
na população de plantas enquanto que
em g.planta-1 foi descrito por um polinômio
quadrático negativo com ponto de mínimo
na população de 401 pl.m-² atingindo 0,391
g.pl-1. Assim o incremento no rendimento
de grãos (kg.ha-1) deveu-se ao incremento
no número de plantas por área. No cultivo
companheiro avaliado, as populações de
300 a 400 pl.m-² são recomendadas para
o cultivar UPF 18 porque apresentam
os maiores rendimentos de grãos (kg.
ha-1) e não prejudicam a implantação da
pastagem. O baixo rendimento médio de
grãos deve-se, em parte, à competição
interespecífica com plantas daninhas e
forrageiras ao longo do ciclo (ABREU et
al., 2004; 2005).
A variação do grau de competição entre
plantas de aveia provoca uma adaptação
morfológica devido a ocorrência de maior
ou menor disponibilidade de espaço
entre as mesmas, com variável oferta
de luz, água e nutrientes por planta
(GALLI & MUNDSTOCK, 1996). Essa
adaptação é expressa pela variação na
estatura da planta, formando panículas
de tamanho diferente e pela diferença no
número de perfilhos alterando o número
de panículas/planta e panículas por área
(ABREU, 2001; ABREU et al., 2003).
No presente trabalho, o incremento no
número de panículas observado na Figura
1 deveu-se ao incremento no número
de plantas (correlação linear positiva,
r = 0,995) enquanto que o número de
grãos/panícula decresceu linearmente
(correlação linear negativa, r = -0,99).
A competição intraespecífica causa a
redução do número de grãos/panícula
com o acréscimo no número de plantas
por área. Isso ocorre porque água, luz e
nutrientes tornam-se limitantes à produção
de grãos (ABREU et al., 2003). Outros
Figura 1. Rendimento de grãos e componentes do rendimento de aveia branca em função da população de
plantas.
Figura 2. Características agronômicas de aveia branca em função da população de plantas.
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p.70-79.
ABREU, G.T. de; et al.
trabalhos apresentaram comportamento
semelhante em aveia branca (COSTA
et al., 1992; MATZENBACHER, 1999;
MUNDSTOCK & GALLI, 1995). Embora
o número de panículas.m - ² tenha
aumentado linearmente com o aumento na
população de plantas, essa variação não
foi proporcional a variação na população.
Observa-se que na população de 100
pl.m-² foram produzidas 126 panículas.
m-² (intercepto em função de tratamento)
enquanto que na população de 400 pl.m² foram produzidas 281 panículas.m-².
Esse comportamento entre as populações
extremas pode ser explicado por um maior
perfilhamento nas menores populações,
permitindo a produção de mais de uma
panícula por planta e pela ausência de
produção de panículas em algumas
plantas quando cultivadas em maiores
populações, consequência da competição
intraespecífica (ABREU et al., 2003).
COSTA et al. (1992) e FLOSS & RADIN
(1996) observaram maiores índices de
perfilhamento nas menores populações de
plantas, em diversos cultivares de aveia,
sendo que o perfilhamento diminuiu com o
aumento na população. MATZENBACHER
et al. (1989) constataram que elevada
capacidade de perfilhamento em trigo
compensou a redução no número de
plantas por área. SIEMENS (1963),
também com a cultura do trigo, observou
que o aumento na população de plantas
ocasionou redução no número de perfilhos
por planta. As populações de plantas do
cultivar UPF 18 não afetaram o peso de
mil sementes (PMS).
A variação na população de plantas
não influenciou a estatura (Figura 2),
apresentando valores em torno de 115
cm, ou seja, estatura mediana segundo
MATZENBACHER (1999). Não foi
constatado problema com acamamento em
nenhuma das populações consideradas
(ABREU, 2001; ABREU et al., 2002; 2003;
2004).
O número de panículas/planta
apresentou tendência quadrática de
redução com ponto de mínimo na
população de 342 pl.m-² atingindo 0,694
panículas/planta (Figura 2). O mesmo
comportamento apresentou o número de
grãos/planta porém com ponto de mínimo
na população de 370 pl.m-² produzindo
16,824 grãos/planta. As populações de
plantas consideradas não afetaram o
número de grãos/m². O índice de colheita
(IC) reduziu linearmente com o acréscimo
na população de plantas (Figura 2).
Assim, a redução na população de
plantas proporciona maior eficiência na
alocação do rendimento biológico para a
produção de grãos. O índice de colheita
variou de 48,18% para 51,35% entre as
populações extremas, demonstrando um
incremento de 6,58% na eficiência de
alocação de rendimento biológico para
os grãos com a redução no número de
plantas por área. Nas maiores populações
de plantas de aveia branca a competição
intraespecífica se acentua reduzindo
o índice de colheita (ABREU, 2001;
ABREU et al., 2002; 2003). Ao contrário,
SCHUCH et al. (2000) constataram em
aveia preta que os maiores índices de
colheita ocorreram nas populações de
plantas médias e altas (300 e 450 pl.m-²)
e utilização de sementes com baixo vigor.
Além do fato de que o índice de colheita
implica no rendimento de grãos, SINGH &
STOSKOFF (1971) comentam que essa
característica expressa também uma
medida da eficiência do rendimento, isso
porque o rendimento de grãos é apenas
a fração econômica da matéria seca
produzida. DONALD & HAMBLIN (1996)
consideram que os principais fatores que
afetam a expressão do índice de colheita
em cereais são densidade de semeadura,
adubação nitrogenada e disponibilidade
de água. MUNDSTOCK & GALLI (1994)
observaram menor índice de colheita
na menor densidade considerada (50
sementes aptas.m-²) com o cultivar de
aveia UFRGS 7. COSTA et al. (1992)
não verificaram efeito da densidade de
semeadura sobre essa característica
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p. 70-79.
Produção de grãos de aveia branca...
em cultivares de aveia. O peso do
hectolitro (PH) aumentou linearmente
conforme aumentou a população de
plantas (Figura 2). ALMEIDA et al. (1995)
também observaram que a população
de plantas afetou o peso do hectolitro de
cultivares de aveia, sendo superiores nas
maiores populações. COSTA et al. (1992),
no entanto, não observaram influência de
diferentes populações de plantas sobre o
peso do hectolitro em aveia.
CONCLUSÕES
a) Maiores populações de plantas
incrementam o rendimento de
grãos do cultivar UPF 18 no cultivo
companheiro;
b) Existe interação entre os tratamentos no
cultivo companheiro para o rendimento
de grãos de aveia branca;
c) Aumentos na população de plantas
de aveia branca aumentam número
de panículas.m-², peso do hectolitro e
rendimento de grãos (Kg.ha-1) porém
reduzem número de grãos/panícula,
rendimento de grãos (g panícula-1 e g
planta-1), número de panículas/planta,
número de grãos/planta e índice de
colheita.
d) As populações de plantas de aveia
branca interagem com as leguminosas
forrageiras, porém, estas não alteram
os componentes de produção nem
o rendimento de grãos da aveia
branca.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.;
MAIA, M. de S.; et al. Desempenho
de aveia branca (Avena sativa L.) em
função da população de plantas. In:
REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA
DE PESQUISA DE AVEIA, 20, 2000,
Pelotas - RS. Resultados Experimentais.
Pelotas: FAEM/UFPel, 2000. p. 113-5.
428 p.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.;
MAIA, M. de S.; et al. Produção de
grãos de aveia (Avena sativa L.) em
sistemas de cultivo consorciados com
leguminosas forrageiras de inverno. In:
REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA
DE PESQUISA DE AVEIA, 21, 2001,
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p.70-79.
ABREU, G.T. de; et al.
Lages - SC. Resultados Experimentais.
Lages: CAV/UDESC, 2001. p. 121. 365
p.
ABREU, G.T. de. Desempenho de aveia
branca (Avena sativa L.) em função da
população de plantas. Pelotas. Dissertação
(Mestrado em Agronomia) - Faculdade de
Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade
Federal de Pelotas, 2001. 49 p.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.;
MAIA, M. de S. Análise do crescimento
e utilização de nitrogênio em aveia
branca (Avena sativa L.) em função da
população de plantas. Revista Brasileira
de Agrociência, Pelotas, v. 8, n. 2, 2002.
p. 111-6.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA,
M. de S.; et al. Desempenho de aveia
branca (Avena sativa L.) em função da
população de plantas. Revista Científica
Rural, Bagé, v. 8, n. 2, 2003. p. 144-52.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA,
M. de S.; et al. Análise do crescimento de
aveia branca (Avena sativa L.) em cultivo
companheiro com leguminosas forrageiras.
Revista Agronomia. Seropédica, v. 38, n.
1, 2004. p. 16-21.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA,
M. de S.; et al. Produção de biomassa em
consórcio de aveia branca (Avena sativa
L.) e leguminosas forrageiras. Revista
Brasileira de Agrociência, Pelotas, v. 10,
n. 1, 2005.
ABREU, G.T. de; SCHUCH, L.O.B.; MAIA,
M. de S.; et al. Efeito da população de
plantas de aveia branca (Avena sativa L.)
sobre a produção de biomassa. Revista
Brasileira de Agrociência, Pelotas, v. 12,
n. 1, 2006 (no prelo).
ALMEIDA, J.L.; SANDINI, I.E.; PINHEIRO,
Z.S. Ensaio de densidade de semeadura
em aveia, Entre Rios 1994. In: REUNIÃO
DA COMISSÃO SULBRASILEIRA
D E P E S Q U I S A D E AV E I A , 1 5 ,
1995, Guarapuava - PR. Resultados
Experimentais. Guarapuava: FAPA, 1995.
p. 27- 9. 330 p.
COFFMAN, F.A. Oats and oat improvement.
Madison: American Society of Agronomy,
1961. 650 p.
Comissão Brasileira de Pesquisa de
Aveia. RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
PARA A CULTURA DA AVEIA. Pelotas:
UFPel, 2000. p. 55-6. 69 p.
Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC.
RECOMENDAÇÕES DE ADUBAÇÃO E
CALAGEM PARA OS ESTADOS DO RIO
GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA.
3 ed. Passo Fundo: SBCS - Núcleo
Regional Sul, 1994. 223 p.
COSTA, C.; RODRIGUES, O.; BASEGGIO,
J. Resposta de cultivares de aveia a épocas
de semeadura e densidade de plantas,
em Passo Fundo, 1991. In: REUNIÃO
DA COMISSÃO SULBRASILEIRA DE
PESQUISA DE AVEIA, 12, 1992, Passo
Fundo - RS. Resultados de Pesquisa.
Passo Fundo: FAMV/UPF, p. 184-90.
190 p.
DONALD, C.M.; HAMBLIN, J. The
biological yield and harvest index of
cereals as agronomic and plant breeding
criteria. Advances in Agronomy, New York,
v. 28, 1976. p. 351-405.
FLOSS, E.L. Aveia. In: BAIER, A.C.;
FLOSS, E.L.; AUDE, M.I. da S. As lavouras
de inverno. 2 ed. São Paulo: Globo, 1989.
172 p.
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p. 70-79.
Produção de grãos de aveia branca...
FLOSS, E.L.; RADIN, B. Resposta de
cultivares de aveia a épocas de semeadura
e densidades de plantas em Passo Fundo,
1995. In: REUNIÃO DA COMISSÃO
SULBRASILEIRA DE PESQUISA DE
AVEIA, 16, 1996, Florianópolis - SC.
Resultados Experimentais. Florianópolis:
UFSC, p. 310-20. 472 p.
FONTANELI, R.S.; FONTANELI, R.S.;
SILVA, G. da; et al. Avaliação de cereais
de inverno para duplo propósito. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 31, n.
1, 1996. p. 43-50.
GALLI, A.P.; MUNDSTOCK, C.M. A
plasticidade de semeadura de plantas de
aveia sob diferentes épocas e graus de
competição. In: REUNIÃO DA COMISSÃO
SULBRASILEIRA DE PESQUISA DE
AVEIA, 16, 1996, Florianópolis - SC.
Resultados Experimentais. Florianópolis:
UFSC, 1996. p. 27-9. 472 p.
KLUTHCOUSKI, J.; PACHECO, A.R.;
TEIXEIRA, S.M.; et al. Renovação de
pastagens do cerrado com arroz: I.
Sistema Barreirão. Goiânia: EMBRAPA CNPAF, 1991. 20 p. (EMBRAPA - CNPAF:
Documentos, 33).
MARSHALL, H.G.; SORRELLS, M.E.
Oat science and technology. Wisconsin:
American Society of Agronomy, 1992.
846 p.
MATZENBACHER, R.G. (coord.). A
cultura da aveia no sistema plantio direto.
Cruz Alta: FUNDACEP - FECOTRIGO,
1999. 200 p.
MATZENBACHER, R.G.; SVOBODA,
L.H.; JOST, C.A. Avaliação de diferentes
densidades de semeadura da cultivar
de trigo CEP 14 TAPES. In: Culturas de
Inverno - Resultados de Pesquisa 1987/88.
Cruz Alta: FUNDACEP - FECOTRIGO,
1989. p. 80-90, 275 p.
MUNDSTOCK, C.M.; GALLI, A.P. Efeito
da densidade de semeadura da cultivar
de aveia UFRGS 7. In: REUNIÃO DA
COMISSÃO SULBRASILEIRA DE
PESQUISA DE AVEIA, 14, 1994, Porto
Alegre - RS. Resultados Experimentais.
Porto Alegre: UFRGS, 1994. p. 19-25.
398 p.
MUNDSTOCK, C.M.; GALLI, A.P. Efeito
da densidade de plantas sobre a cultivar
de aveia UFRGS – 15 em duas épocas de
semeadura. In: REUNIÃO DA COMISSÃO
SULBRASILEIRA DE PESQUISA DE
AVEIA, 15, 1995, Guarapuava - PR.
Resultados Experimentais. Guarapuava:
FAPA, 1995, p. 173-4. 330 p.
SANCHEZ, P.A.; SALINAS, J.C. Low
- imput technology for managing oxisols
and ultisols in tropical America. Advances
in Agronomy, New York, v. 34, 1982. p.
279-406.
SCHUCH, L.O.B.; NEDEL, J.L.; ASSIS,
F.N. de; et al. Vigor de sementes de
populações de aveia preta: II. desempenho
e utilização de nitrogênio. Scientia
Agricola, Piracicaba, v. 57, n. 1, 2000. p.
121-7.
SIEMENS, L.B. The effect of varying
row spacing on the agronomic and
quality characteristics of cereals and
flax. Canadian Journal of Plant Science,
Ottawa, v. 43, 1963. p. 119-30.
SILVA, A.E.; OLIVEIRA, I.P.; YOKOYAMA,
L.P.; et al. Sistema Barreirão: uma opção
de reforma de pastagem degradada
utilizando associação milho - forrageira.
Revista dos Criadores, 1994. p. 53-61.
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p.70-79.
ABREU, G.T. de; et al.
SINGH, S.; STOSKOFF, N.C. Harvest
index in cereals. Agronomy Journal,
Madison, v. 63, 1971. p. 224-6.
ZONTA, E.P.; MACHADO, A.A. Sistema de
Análise Estatística para Microcomputadores
- SANEST. Pelotas: UFPel/DMEC/IFM.
1986. 150 p. (mimeografado).
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 25, n. 2, jul.-dez., 2005. p. 70-79.
Download

PRODUÇÃO DE GRÃOS DE AVEIA BRANCA (Avena