Ai de mim, ai das crianças abandonadas na escuridão.
Graciliano Ramos
Profa Debora Gil
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
Por que olhar para a história?
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A recuperação histórica dos métodos de
alfabetização utilizados ao longo do tempo,
nos
permite
avaliar
vantagens
e
desvantagens de cada didática e indica suas
influências nas práticas atuais.
Esse estudo permite que o professor
situe nas discussões metodológicas
compreenda que as mudanças de rumo
pensamento sobre alfabetização alteram
modos de alfabetizar.
se
e
no
os
Por que olhar para a história?
Em nosso país, a história da alfabetização tem
sua face mais visível na história dos métodos
de alfabetização, em torno dos quais,
especialmente desde o final do século XIX, vêmse gerando tensas disputas relacionadas com
"antigas" e "novas" explicações para um mesmo
problema: a dificuldade de nossas crianças em
aprender a ler e a escrever.
Um pouco de história...
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Até o século XVIII, o processo de alfabetização tinha um caráter
individual.
Desde o final do século XIX, especialmente com a proclamação da
República, a escola assumiu o importante papel como instrumento de
modernização e progresso da Nação, como principal propulsora do
“esclarecimento das massas iletradas”.
As práticas de leitura e escrita passaram, assim, a ser submetidas a
ensino organizado, sistemático e intencional. Um mundo novo que
instaura, enfim, novos modos e conteúdos de pensar, sentir, querer e
agir.
Por quase um século, esses esforços se concentraram na questão dos
métodos de ensino da leitura e escrita, e muitas foram as disputas
entre os que se consideravam portadores de um novo e
revolucionário método de alfabetização.
Século XX
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Excesso de alunos para serem alfabetizados.
Falta de professores.
Falta de escolas.
Falta de material adequado ao ensino e à aprendizagem.
Mudanças políticas e econômicas no mundo.
Avanços das ciências.
Guerras.
Alfabetização como um problema mundial.
O grande problema dos países sub-desenvolvidos.
1º período: primeira metade do século
Fracasso relacionado ao uso dos métodos.

2º período: anos 60
Teoria do déficit. Supunha-se que a aprendizagem
dependia de pré-requisitos.
Exercícios de estimulação (prontidão).
Foco: como se ensina.

3º período: meados dos anos 70
Mudança de paradigma: como aprendem os que
conseguem aprender a ler e escrever?
Foco: como se aprende?

Os métodos de alfabetização baseavam-se:
 No conhecimento das letras: decorar alfabeto.
 No reconhecimento das letras: categorização
gráfica.
 Formação de unidades pequenas: sílabas.
 Leitura de palavras.
 Cópia como forma de escrita.
 Ditado como forma de avaliação.
 O texto era uma atividade depois da
alfabetização.
O que são métodos de alfabetização?
Um conjunto de princípios teóricoprocedimentais que organizam o trabalho
pedagógico em torno da alfabetização.
Um conjunto de saberes práticos ou de
princípios organizadores do processo de
alfabetização.
MÉTODOS SINTÉTICOS
MÉTODOS ANALÍTICOS
MÉTODOS ANALÍTICOS-SINTÉTICOS
MÉTODOS SINTÉTICOS
(alfabético, silábico, fônico)
Proposta: progressão de unidades menores
(letra, fonema, sílaba) a unidades mais
complexas (palavra, frase, texto).
Enfoque: processos de decodificação.
Insistem na correspondência entre o oral e
o escrito. Entre o som e a grafia.
Estratégia perceptiva utilizada: audição.
MÉTODO ALFABÉTICO OU DE SOLETRAÇÃO
Considerado o método mais antigo, empregado
desde a Grécia continuou a ser utilizado até o
século XIX, período em que a escolarização passou
a ser desenvolvida no Brasil.

Tem como unidade principal a letra, sua
sequência partia de uma ordem crescente de
dificuldade, iniciando pela decoração oral das
letras do alfabeto, seu reconhecimento posterior
em pequenas sequências.
MÉTODO FÔNICO
1º passo: vogais - nome e som das letras são iguais.
2º passo: palavras formadas apenas por vogais.
3º passo: apresentação os fonemas regulares (d, b, f, j, m, n...) de forma
isolada e processualmente os irregulares.
4º passo: junção dos fonemas regulares
irregulares, com as vogais, formando sílabas.
5º passo: formação de palavras.
6º passo: formação de frases.
7º passo: formação de textos.
e,
processualmente
os
MÉTODO SILÁBICO
1º passo: apresenta-se as vogais, com ajuda de ilustrações e palavras como
“o” de OVO; “e” de ELEFANTE.
2º passo: Apresentam-se as sílabas canônicas, utilizando palavras e ilustrações
e destacando a sílaba na palavra: ma de macaco, na de navio, pa de
panela, e as não canônicas, de forma processual.
3º passo: Famílias silábicas da sílaba em destaque na palavra.
4º passo: Formação de palavras.
5º passo: Formação de frases.
6º passo: Formação de pequenos textos.
MÉTODOS ANALÍTICOS
(palavração, sentenciação, global contos/textos)
Proposta: progressão de unidades de
sentido mais amplas (palavra, frase, texto) a
unidades
menores
(sílabas
e
sua
decomposição em grafemas e fonemas).
Enfoque: reconhecimento global
silhueta da palavra, frase ou texto.
Estratégia perceptiva utilizada: visão.
pela
PALAVRAÇÃO
1º passo: apresentação de palavras ilustradas que fazem parte do
universo infantil.
2º passo: memorização (leitura e escrita da palavra).
3º passo: divisão silábica das palavras.
4º passo: formação de novas palavras com as sílabas estudadas.
5º passo: estudo e análise de grafemas/fonemas.
6º passo: formação de frases.
7º passo: formação de textos.
SENTENCIAÇÃO
1º passo: apresentação de frases que fazem parte do universo infantil.
2º passo: memorização (leitura e escrita da frase).
3º passo: observação de palavras semelhantes dentro da sentença.
4º passo: formação de grupo de palavras.
5º passo: isolamento de elementos conhecidos dentro da palavra (sílaba).
6º passo: estudo e análise de grafemas/fonemas.
GLOBAL DE TEXTOS/CONTOS
1º passo: apresentação de partes do texto com sentido
completo, em cartazes.
2º passo:
memorização - leitura e escrita do texto.
3º passo: decomposição do texto estudado em frases.
4º passo: decomposição das frases em palavras.
5º passo: decomposição das palavras em sílabas.
6º passo:
estudadas.
formação de novas
palavras com as sílabas
7º passo: estudo e análise de grafemas/fonemas.
MÉTODO ANALÍTICO-SINTÉTICO
Esse método caracteriza-se por explorar o todo
significativo e as partes, simultaneamente. Dentro
desse método, o professor poderá partir:
a) da palavra, passando para a frase, formando um
texto, retirando novamente a palavra para
decompô-la em sílabas;
b) da frase, retirando a palavra para chegar à
sílaba;
c) da história, retirando a palavra-chave para
depois destacar a sílaba.
Alfabetização: construtivismo e desmetodização
A partir do início da década de 1980, introduziu-se no
Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização,
resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua
escrita desenvolvidas pela pesquisadora argentina Emilia
Ferreiro e colaboradores. Deslocando o eixo das
discussões dos métodos de ensino para o processo de
aprendizagem da criança, o construtivismo se apresenta,
não como um método novo, mas como uma “revolução
conceitual”, demandando, dentre outros aspectos,
abandonarem-se as teorias e práticas tradicionais,
desmetodizar-se o processo de alfabetização e se
questionar a necessidade das cartilhas.
Alfabetização: construtivismo e desmetodização
Nesse momento, inicia-se, uma disputa entre os
partidários do construtivismo e os defensores dos
tradicionais métodos e cartilhas.
Hoje, temos a institucionalização, em nível
nacional, do construtivismo em alfabetização,
verificável, nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs).
 Enfrentamos, as dificuldades decorrentes, em
especial,
da
ausência
de
uma
“didática
construtivista”.
PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA

Nova visão da aprendizagem: processo contínuo de desenvolvimento.
A escrita, a leitura e a linguagem oral não se desenvolvem
separadamente, mas atuam de maneira interdependente desde a mais
tenra idade.

Mudança no foco: como se ensina para como se aprende a ler e
escrever.

As crianças pensam, elaboram suas hipóteses sobre como funciona o
sistema de escrita, se esforçam para compreender para o que serve, e
são capazes de aprender as formas de linguagem utilizadas para
escrever ao mesmo tempo que aprendem a natureza alfabética do
sistema.

PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA
 Constatação:
as
crianças
apresentam
formas
surpreendentes de escrever que aparecem dentro de
uma ordem precisa.
 Importante: acesso das crianças à informação sobre a
escrita dentro de situações de aprendizagem
intencionalmente planejadas – práticas sociais mediadas
pela escrita.
 Necessário: trazer para dentro da escola as práticas de
leitura que existem nas famílias letradas.
 Processo de alfabetização: começa assim que a criança
se encontra com material impresso – desde que alguém
lhe diga o que está escrito.
 Em vista do que foi aqui apresentado não podemos desconsiderar
o passado desse ensino, ingenuamente supondo que, possamos,
efetuar total ruptura, ou, de maneira saudosista, buscar seu total
resgate, como se não tivesse havido nenhum avanço científico, de
fato, nesse campo de conhecimento.
“É preciso conhecer aquilo que constitui e já constituiu
os modos de pensar, sentir, querer e agir de gerações
de professores alfabetizadores (mas não apenas),
especialmente para compreendermos o que desse
passado insiste em permanecer. Pois é justamente nas
permanências, especialmente as silenciadas ou
silenciosas, mas operantes, e nos retornos ruidosos e
salvacionistas, mas simplistas e apenas travestidos de
novo, que se encontram as maiores resistências”.
Maria Rosário Longo Mortatti
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