Conferência Internacional - Empresas e Responsabilidade Social
Promovida pelo Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade
Social, realizada pelo UNIETHOS- Educação para a Responsabilidade
Social e o Desenvolvimento Sustentável, em parceria com o Instituto
Akatu pelo Consumo Consciente, com o Programa das Nações Unidas
para o desenvolvimento- PNUD e com o Pacto Global das Nações Unidas
Estrutura:
04 Plenárias
03 Mesas redondas
08 Painéis temáticos
05 Oficinas de Gestão
Atividades multiculturais
02 Atividades paralelas
Período: 12 a 15 de junho de 2007
Hotel Transamérica São Paulo
Sensibilizados pelas graves questões
ambientais, participantes buscaram
ferramentas para transformar suas
empresas em agentes de mudanças
A Conferência Internacional 2007, do Instituto
Ethos, contou com a participação de mais de
1.300 pessoas de várias partes do Brasil e do
mundo. Foram ao todo 1.008 inscritos, 180
jornalistas credenciados, 84 palestrantes e 60
convidados entre os parceiros do Ethos na
disseminação dos conceitos da
responsabilidade social empresarial.
Debate RSE na mídia
Executivos da TV Globo, Grupo Folha, Grupo Estado e Editora Abril discutem o
papel da imprensa no avanço da responsabilidade social empresarial e do
desenvolvimento sustentável
. pauta e gestão”
“Responsabilidade social na mídia:
Promovida pela Rede Ethos de Jornalistas,
• Estariam os jornalistas com o olhar afinado e o ouvido
treinado para identificar os temas relativos à
sustentabilidade?
• Ao buscar divulgação de suas ações em
responsabilidade social, as empresas estão sendo
apenas
oportunistas
e
fazendo
marketing
institucional, sem real preocupação com a
sustentabilidade?
Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos,
afirmou que, se todos queremos que a sociedade seja
sustentável, é preciso alinhar as estratégias de
sustentabilidade do negócio com as da sustentabilidade
da sociedade.
As empresas de comunicação não estão à margem desse
processo, e seu produto – a notícia – tem impacto direto
sobre ele.
• Como a mídia pode qualificar o debate
sobre sustentabilidade, se tem adotado
estratégias empresariais de tratar a notícia
como commodity, ou seja, como mercadoria
de baixo custo e alta utilização?
• E como a mídia pode fazer uma cobertura
crítica e isenta em relação às empresas que
sustentam a própria mídia por meio da
publicidade?
•O mediador Carlos Eduardo Lins da Silva,
diretor da Patri-Relações Governamentais &
Políticas Públicas, apresentou uma questão
ética: quais os instrumentos de controle que
a mídia tem sobre a qualidade e a veracidade
da notícia e como lida com seus erros?
Antonio Manuel Teixeira Mendes,
diretor-superintendente do Grupo
Folha, “as empresas precisam
entender que os erros fazem parte
do negócio, e os mecanismos de
compensação e controle desses
erros têm de ser usados”. Para
isso, as empresas de comunicação
devem criar seus próprios
mecanismos, como uma seção
“Erramos”.
Caco de Paula, diretor do Núcleo
de Turismo da Editora Abril,
considera o enfoque um fator
muito importante da notícia. “O
enfoque não pode ser visto como
um erro, mas temos que ter
cuidado, pois nem sempre
conseguimos agradar a todos os
nossos públicos”.
Debate RSE na mídia
Responsabilidade
pauta e gestão,
social
na
mídia:
Carlos Eduardo Lins da Silva, Como as
empresas jornalísticas podem cobrar
um comportamento sustentável das
outras empresas se nem sempre elas
têm esse comportamento?
Albert Alcoulumbre Junior, diretor de
planejamento e projetos sociais da
Central Globo de Comunicações, “Há
empresas que se caracterizam por
práticas insustentáveis e não se
esforçam
para
resolver
esses
problemas, mas existem outras que,
mesmo em momentos de dificuldade,
estão preocupadas com uma gestão
sustentável”
Para Antonio Manuel Teixeira Mendes,
diretor-superintendente do Grupo Folha,
há uma tensão entre a redação e os
anunciantes. Muitas vezes, há boicotes
por parte de alguns anunciantes e
instala-se um clima de tensão que faz
parte do jogo, mas limita o faturamento.
“Um fator histórico que deve ser levado
em conta é a pressão de custos e o
endividamento
das
empresas
jornalísticas”. Muitas dessas empresas
sobrevivem porque são familiares.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo
do jornal O Estado de S. Paulo, destaca
que “ser lucrativo é necessário para não
se tornar escravo de anunciantes”.
Para Caco de Paula, diretor do Núcleo de Turismo
da Editora Abril, o fato de muitos jornalistas
estarem assumindo posições de chefia nas
empresas é favorável para o desenvolvimento de
ações de responsabilidade social. A alma de uma
empresa jornalística depende dos jornalistas que
conseguem
abordar
o
enfoque
da
sustentabilidade.
Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, a
mídia tem um papel fundamental no estímulo a
atitudes sustentáveis, tanto das empresas como
da sociedade em geral. “Mas o debate ainda é
tímido”,“impressão é de que o papel dos veículos
de comunicação como indutores de novos
paradigmas de sustentabilidade ainda é uma
questão em aberto. Destaca a importância dos
jornalistas como agentes de transformação e
salienta que existem profissionais construindo o
caminho para as novas pautas há muitos anos,
“mas só agora conseguem o espaço necessário
para publicar.”
Debate RSE na mídia
.
“O moderador Carlos Eduardo Lins da Silva
levantou a questão da cobertura crítica sobre o
tema da responsabilidade social empresarial
(RSE), já que essa é uma condição inerente ao
bom jornalismo.
Para Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do
jornal O Estado de S. Paulo, “o jornalismo ainda
sofre pela dificuldade de falar do bem, assim como
tem grande facilidade em falar do mal”.
Os veículos são pressionados a trabalhar sempre
com o inusitado, a falar dos bastidores.
É comum ouvir-se a frase segundo a qual os
jornais têm como objetivo “confortar os aflitos e
afligir os confortados”. Em sua visão, os jornalistas
precisam aprender a cobrir o bem, já que é difícil
separar o joio do trigo. Isso exige também que as
empresas de comunicação invistam na formação
de suas redações.
Caco de Paula, diretor do Núcleo de
Turismo da Editora Abril, acredita que a
novidade do tema também dificulte a
cobertura. Ele comparou o quadro atual
com o período em que surgiram os
cadernos de economia, no início da década
de 80. Na época, havia muita dificuldade
em traduzir o “economês” para uma
linguagem acessível ao leitor. Da mesma
forma,
segundo
Caco,
há
graus
diferenciados
de
compreensão
dos
problemas nessa área. “No geral, até os
editores resumem o tema RSE à questão
do meio ambiente”, afirmou.
Para o diretor-superintendente do Grupo
Folha, Antonio Manuel Teixeira Mendes, as
empresas jornalísticas “não podem comprar
de graça a RSE”. Segundo ele, a imprensa
precisa ser crítica, tentar contextualizar o
tema e revelar os interesses envolvidos.
“A notícia nunca é apenas boa”. Não
é possível, por exemplo, cobrir a
questão da produção do etanol, que é
tema atual, sem falar dos possíveis
problemas que o seu processo
produtivo traz “em paralelo”, nas
áreas ambiental e social.
Em sua intervenção, o diretor de
planejamento e projetos sociais da
Central Globo de Comunicação,
Albert Alcouloumbre Junior, destacou
que, para manter o espírito crítico, é
essencial adotar “a velha e boa
fórmula do jornalismo ortodoxo” e
“não tentar reinventar a roda”.
Lembrou que em geral o espaço
jornalístico na mídia não é muito
elástico, o que obriga as empresas a
entrar numa grande disputa para
divulgar suas ações na área de
responsabilidade social.
Atividade Multicultural
A situação climática do planeta pelos olhos de um viajante
Despretensioso de obter status social ou títulos, Amyr
Klink resumiu em sua palestra que o conceito maior de
sustentabilidade está na simplicidade das ações. Isso pode
ser traduzido em saber eleger as ferramentas de que
necessitamos para sobreviver: se é possível chegar a um
local com um automóvel que tenha um motor de 125
cavalos, para que utilizar outro com o dobro da potência?
Sua casa em Paraty, no Rio de Janeiro, é um exemplo
dessa postura, já que foi projetada para um baixo consumo
de energia.
Discutir temas da sustentabilidade não vai levar a grandes
mudanças. Para ele, “o exemplo prático e a iniciativa
individual são o melhor caminho.” É o que ele faz ao
construir seus veleiros, nos quais não aplica tinta, motivado
pela preocupação ambiental – e por uma estética que não
valoriza a beleza simplória.
No estaleiro, a preocupação social também faz parte do
dia-a-dia, pois Amyr Klink costuma dar emprego a
moradores de rua e alcoólatras. Prefere-os a profissionais
especializados na construção de barcos, pois estes apenas
executam um bom trabalho. Os que antes estavam
excluídos, no entanto, manejam as ferramentas
conscientes de que estão transformando suas vidas. “Ao
aprender um ofício, eles se tornam os melhores
profissionais do mundo, pois trabalham com o coração”.
“
“ As facilidades temos em nossas mãos, mas fazemos
pouco uso- faz parte do mundo da sustentabilidade”.
“ Os erros foram importantes, às vezes a gente é
prepotente para entender a natureza.”
“Pequenos desperdícios valeram os grandes vilões”.
“ Idéias simples, construir uma embarcação sustentável,
inspiração nos jangadeiros cearenses.” Utilização de
espécies brasileiras, bambu, sebo, biodiesel.
Formar pessoas, apostar nas qualidades delas, é uma
experiência sem igual.
A mesa foi moderada pelo
presidente
e
CEO
do
Business
for
Social
Responsibility (BSR), Aron
Cramer, que começou com
uma provocação ao fundador
e empreendedor-chefe da
SustainAbility,
John
Elkington: “Será possível
sustentar a globalização ou
será que a globalização pode
nos sustentar?”
Elkington
lamentou
não
poder
responder. Segundo ele, não
é possível continuar com
modelos tradicionais na área
da cidadania corporativa:
“Precisamos
de
novas
espécies, é necessário criar
um novo ‘ecossistema’”.
A nova agenda, segundo
John Elkington
O criador do triple bottomline,
afirma que a nova
agenda da sustentabilidade
escapa dos governos e das
grandes corporações e vai
para
as
mãos
de
empreendedores
sociais,
ambientais e de energia
limpa. Em jogo: o futuro que
queremos desfrutar.
Plenária Especial de Abertura
Tendências globais, dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável no mundo
Simon Zadek fala sobre ética global
Professor da Universidade de Harvard
Presidente da AccountAbility foi um dos debatedores da
plenária especial de abertura “Tendências globais,
dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável no
mundo”,
os líderes das grandes corporações precisam ter
ousadia, coragem para enfrentar o sistema vigente e
buscar
a
sustentabilidade
para
implantar
a
responsabilidade social nas grandes corporações. Ele
citou como exemplo o líder de uma multinacional
petrolífera que desafiou seus empregadores, quebrou
regras ao discursar em defesa da sustentabilidade –
pegando de surpresa a alta cúpula do grupo – e
conseguiu mudanças importantes na indústria. “Alguns
dos nossos principais líderes têm de quebrar regras para
tomar decisões mais à frente. Acho que as instituições
tendem a criar líderes que não queremos”. Destacando
que esse é um árduo desafio, Zadek ressaltou que
muitas das multinacionais de grande influência no
mundo não conseguiram, e talvez não consigam,
abandonar velhos conceitos e se recriar rumo ao
progresso. Ele acredita que uma nova geração de
companhias vai se transformar no motor da
sustentabilidade, rumo a uma sociedade melhor. Para
ele, alguns investidores já se deram conta disso, estão
mais amigáveis com o meio ambiente, abandonaram
visões de curto prazo e já pensam na sustentabilidade e
no futuro das empresas nas quais estão investindo.
A rapidez das informações exige atuação em redes de
colaboração
Para Ernest Ligteringen, diretorexecutivo da Global Reporting
Initiative
(GRI),
as
empresas
precisam ter gestão de informação,
transparência e visão ampla para
caminhar em sintonia com a era da
informação.
“Atualmente
a
informação chega na velocidade da
luz e está transformando as
empresas. Hoje o indivíduo pode
criar sua própria comunicação, por
meio de blogs, ou interagir com os
veículos de mídia. Por isso é
importante uma gestão empresarial
clara, transparente e objetiva”,
Questionada sobre o cenário mundial
na área das relações do trabalho,
Alice Tepper Marlin, presidente e
CEO
do
Social
Accountability
International (SAI), reconheceu que
apesar dos avanços ainda há muito
que caminhar, observando que mais
de 2 bilhões de pessoas continuam
vivendo com menos de 2 dólares por
dia. O problema, segundo ela, é que
os progressos nessa área ainda não
atingiram todos os stakeholders na
maioria dos processos produtivos.
Para isso, Alice acredita que as
empresas precisam estabelecer uma
forma sistemática de classificar todos
os seus fornecedores
Plenária Especial de Abertura
Tendências globais, dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável
no mundo
A apresentação, realizada por
Jodie Thorpe, gerente do
SustainAbility e responsável
pelo
Programa
para
Economias
Emergentes,
mostrou que o movimento de
globalização já responde por
20% do PIB global. Houve um
crescimento sensível nos
últimos 20 anos, com a
entrada no jogo do comércio
de alguns emergentes - como
China, Índia, Brasil e África do
Sul -, buscando manejar a
balança
do
crescimento
econômico a seu favor. Os
números ascendentes do PIB
de Índia e China mostram que
estão conseguindo sucesso
Apresentado os resultados da
pesquisa “Melhorando o Jogo – A
Globalização É Sustentável?”,
realizada pela SustainAbility, que
mostra os grandes cenários
globais pelos quais Estados,
empresas e pessoas deverão
transitar daqui para a frente.
A
pesquisa
aponta
esse
crescimento tem um preço em
termos de degradação ambiental.
Esses mesmos países já são
responsáveis
por
30%
das
emissões globais de gases de
efeito
estufa,
principalmente
dióxido de carbono, gás emitido
pelo consumo de combustíveis
fósseis nos setores de energia e
transporte e na queima de
biomassa florestal.
Sete pontos relevantes foram levantados como diretrizes de ação:
1 – Planeje para o Inesperado. A flexibilidade em cadeias de valor, plataformas
tecnológicas e políticas de trabalho são fatores de eficácia.
2 – Encontre o Verdadeiro Sul. Não subestime a importância das economias
emergentes. Há regiões e cidades onde o desenvolvimento é mais rápido.
3 – Não Espere os Bons Chegarem na Frente. Mesmo os melhores podem ser
atingidos por escândalos e crises. O importante é a capacidade de criar valor.
4 – Colabore com o Sistema Imunológico da Terra. Faça parte das soluções
nas crises ambientais e sociais. Sirva como fonte de inteligência e criatividade.
5 – Pense em Oportunidades e Inovações. Repense as questões ambientais e
sociais não como riscos, mas como grandes oportunidades.
6 – Supere-se. A escala dos desafios é muito grande e exige abordagens
radicais. Líderes precisam sair de sua zona de conforto para encontrar novos
modelos, novos parceiros e novas soluções.
7 – Faça Política. A agenda agora é política. É preciso se envolver e assumir
posições.
A avaliação de cada um dos cenários mostrados pelo relatório envolve perdas e
ganhos. O importante da pesquisa é que mostra oportunidades para cada uma
das situações que envolvem risco ou crise, e não apenas a constatação de
problemas. Jodie Thorpe acredita que esse trabalho deverá ser um grande
subsídio para organizações que querem avançar em direção a cenários de
sustentabilidade. Segundo ela, o momento é de ser audacioso “e de virar o jogo”.
A insustentabilidade do atual modelo
econômico é uma unanimidade que
não pode ser considerada burra. O
fenômeno das mudanças climáticas é
apontado como um divisor de águas
entre os grupos que insistem na
manutenção de um modelo predatório
– que reforça as desigualdades
sociais, concentra a renda nas mãos
de poucos e distribui pobreza – e os
que defendem o novo modelo, com
equilíbrio e harmonia no atendimento
de demandas sociais, ambientais e
econômicas. “O custo da inércia, de
não fazer nada, será muito maior do
que os investimentos necessários para
as mudanças, sejam de governos, das
empresas ou individuais”, afirmou
Julio Moura, presidente do Grupo
Nueva e vice-presidente do Conselho
Mundial
Empresarial
para
o
Desenvolvimento
Sustentável
(WBCSD). Para ele, a boa notícia é
que as 190 empresas que integram o
WBCSD, e representam US$ 6 trilhões
anuais em vendas, já compreenderam
que têm uma enorme responsabilidade
no processo de mudanças.
Plenária 1
Agenda Econômica para a Sustentabilidade
A dança das cadeiras nos setores econômicos mudará os cargos, mas
não prescindirá das pessoas Nesse cenário, o Brasil é visto como um
país de grandes oportunidades de negócios, principalmente por sua
matriz energética considerada limpa. Embora o país esteja entre os
maiores emissores de gases de efeito estufa, tais emissões ocorrem por
um problema de má governança, do Estado e das empresas, no
combate às queimadas na Amazônia, responsáveis pela maior parte
das emissões. De acordo com Sérgio Abranches, responsável pelo
boletim Ecopolítica, da Rádio CBN, a solução depende de vontade
política e é relativamente fácil. “Temos de mudar o padrão de
desenvolvimento para o baixo carbono e essa mudança vai interferir em
todos os aspectos da atividade humana”, afirmou. Para ele, as
mudanças têm de passar por três etapas: aplicação efetiva da lei,
responsabilização dos agentes públicos e visão estratégica de longo
prazo.
A fase de transição entre o modelo econômico atual e o novo, mais
sustentável, vai gerar desemprego nas atividades insustentáveis, mas
trará novas oportunidades em empresas potencialmente de sucesso no
século 21. Estas serão fundamentadas em atuações socialmente
responsáveis, ambientalmente corretas e economicamente justas. É
nisso que Abranches acredita.
Ele cita, por exemplo, que os empregos em grandes petrolíferas serão
extintos, mas novas ocupações vão surgir nas empresas de energias
alternativas, como eólica e solar. “No período de transição, haverá um
trauma que deverá ser amenizado pela ação de uma rede de proteção
social, formada por governos, com o apoio das empresas, por meio do
pagamento de impostos”
Plenária 1
Agenda Econômica para a Sustentabilidade
Embora o Brasil seja considerado o país das oportunidades no novo cenário
internacional, devido ao grande potencial das energias limpas, as mudanças
estruturais rumo à sustentabilidade ainda são incipientes. Durante a plenária
“Agenda econômica para a sustentabilidade”, o executivo-chefe da ONG
AccountAbility, Simon Zadek, antecipou alguns resultados de um estudo
internacional, feito com 108 países, sobre a relação entre a prática da
responsabilidade corporativa e a competitividade no mercado internacional.
A competitividade foi medida por uma série de indicadores que apontam a
facilidade de realizar negócios nos países pesquisados. O relatório da
AccountAbility, que será apresentado em 6 julho próximo, na reunião do Pacto
Global da ONU, em Genebra (Suíça), mede, por exemplo, a burocracia nos
processos de importação e exportação, totalizando 21 grupos de indicadores sobre
políticas, negócios e sociedade. Neste estudo, o Brasil não está nem entre os 20
primeiros países que apresentam bons resultados. Já entre os 12 países
“emergentes”, o Brasil aparece em segundo lugar, atrás da África do Sul e à frente
de países como Rússia, Índia e China. “Existem ainda muitos mercados resistentes
a inovações. Precisamos criar uma rede de colaboração e indução a mudanças no
mercado rumo à sustentabilidade”, defendeu Simon.
O estudo da ONG britânica aponta que vários países europeus avançaram no
quesito responsabilidade corporativa. Brasil, China e Índia estão na faixa
intermediária, de países que ainda estão no começo do processo. Outras nações,
como Zimbábue e Paquistão, encontram-se nas últimas posições entre os países
cuja competitividade relacionada à responsabilidade social empresarial foi avaliada.
Mesa redonda 1
Compromissos das empresas com o desenvolvimento sustentável da Amazônia
Será que estamos vendendo os dedos para
comprar os anéis?
A Amazônia é a fronteira da sustentabilidade. O
desafio é gerar renda sem se desfazer da
biodiversidade.
Investir com sustentabilidade na Amazônia não é
fácil. A área conta com mais de um terço das
espécies da fauna e da flora mundiais e um quinto
das águas superficiais do planeta e uma
diversidade cultural enorme. Só a necessidade de
pensar o desenvolvimento considerando as partes
envolvidas já gera conflitos. Uma solução,
segundo Adriana Ramos, coordenadora para a
Amazônia do Instituto Socioambiental (ISA) e uma
das
debatedoras
da
mesa-redonda
“Compromissos
das
empresas
com
o
desenvolvimento sustentável da Amazônia”, é
buscar mecanismos de planejamento e processos
de licenciamento ambiental mais éticos. Acordos
legítimos e legais, segundo ela, fornecerão
subsídios para daqui a alguns anos conseguirmos,
de fato, um desenvolvimento sustentável na
região.
Para o secretário-executivo do Ministério do Meio
Ambiente, João Paulo Capobianco, ao olhar o
diagnóstico da Amazônia temos a tendência de nivelar
por baixo, ou seja, “o debate ambiental no Brasil
continua na defensiva”. Capobianco afirmou que é
preciso entender que o licenciamento ambiental não é
apenas um defensor do meio ambiente, mas um
processo que busca como fim o desenvolvimento
sustentável. Quem deseja empreender no Brasil deve,
necessariamente, “passar pela discussão sobre qual
desenvolvimento queremos”, acrescentou o secretário
executivo do MMA. Nada pode ser feito no país sem
pensar na questão ambiental, que não é uma opção, é
uma obrigação – e, nesse cenário, as empresas
passam a ter um papel central e fundamental.
Segundo Franklin Feder, presidente da Alcoa para a
América Latina, a empresa, líder mundial na produção
de alumínio, enfrenta um grande desafio: um
megaprojeto de extração de bauxita em Juruti, no oeste
do Pará. Segundo o presidente da Alcoa, “70% da
produção acumulada de alumínio ainda está em uso,
por exemplo, com a reciclagem de latas. A cadeia
começa na bauxita, mas termina no alumínio
reciclado”. Feder acredita que a empresa deve ser
responsável e utilizar cada vez menos produtos
naturais. “A Alcoa não é perfeita, mas para preservar o
meio ambiente uma de nossas alternativas é a
pesquisa para reduzir o uso de bauxita na preparação
do
alumínio
e
também
de
watts.”
André Baniwa, diretor vice-presidente
da
Federação
das
Organizações
Indígenas do Rio Negro (FOIRN),
afirmou que os índios deixaram de fazer
o manejo das terras como seus avós
faziam, forma que as preservava para as
gerações futuras. Isso acontece porque
se valorizam apenas algumas espécies.
“Precisamos que todos mudem de atitude
antes que a floresta acabe”,
O tema é complexo e gera dúvidas: será
que é possível plantar soja, criar gado e
ainda assim manter a floresta em pé? A
legislação florestal brasileira, segundo
Adriana Ramos, prevê que sim, desde
se aja de forma racional, permitindo
espaço para a agropecuária, para a soja
e para as reservas florestais, e não
somente para o manejo sustentável e
para extração de madeira ou de
matérias-primas. Adalberto Veríssimo,
fundador do Imazon, compartilhou da
mesma opinião e acrescentou que o
importante é ter espaços utilizados bem
definidos. “Só há sustentabilidade se o
carro-chefe for a preservação do que
existe e a utilização apenas de áreas já
devastadas para a agropecuária. Não é
possível pensar em dividir as terras
igualmente para esse ou aquele uso”.
Com moderação do professor Décio
Zylbersztajn, da Faculdade de
Economia,
Administração
e
Contabilidade da USP (FEA-USP), a
mesa-redonda
“Compromissos
socioambientais
na
agricultura”
contou
ainda
com
Cláudio
Valladares Pádua, da Iniciativa
Brasileira de Verificação da Atividade
Agropecuária, Jason Clay, vicepresidente da World Wildlife Fund
(WWF),
Fábio
Trigueirinho,
secretário-geral
da
Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (Abiove), e John Elkington,
da SustainAbility.
Segundo Jason Clay, as pressões
sobre
as
grandes
empresas
produtoras de alimentos podem ser
sentidas em diversos casos, mas em
geral elas não atingem toda a cadeia
produtiva e, objetivamente, produzem
baixos resultados. O caso da CocaCola, que reduziu o consumo de
água em sua linha de produção (de
quase 4 litros para 2,7 litros de água
por litro de refrigerante), pode ser
considerado uma grande iniciativa.
Mas o uso de quase 300 litros de
água para a produção do açúcar
necessário para se obter o mesmo
litro do produto não sofreu alteração.
Mesa redonda 2
Compromissos socioambientais na agricultura
Para otimizar os resultados da luta pela sustentabilidade, de acordo
com o vice-presidente da WWF, é preciso adotar uma estratégia
seletiva, focalizando as empresas em toda a sua cadeia produtiva e
principalmente aquelas que mais provocam impacto sobre os
recursos naturais. As questões-chave, segundo Jason, se situam
“na redução do consumo, na criação de fontes renováveis e na
garantia da biodiversidade” Para Cláudio Valladares Pádua, da
Iniciativa Brasileira de Verificação da Atividade Agropecuária, esse
esforço de acompanhamento de todos os elos da cadeia produtiva
deve passar por um consenso que envolva todas as partes
interessadas a fim de se chegar a um acordo sobre a utilização dos
recursos naturais. O Brasil, segundo ele, é uma grande potência no
mercado de commodities agrícolas e precisa chegar a padrões
mínimos, tendo em vista a redução da perda de habitat e de água e
a conservação da biodiversidade.Na área da produção de soja, a
experiência de verificação da cadeia produtiva foi relatada pelo
secretário-geral da Abiove, Fábio Trigueirinho. o setor constituiu
recentemente uma mesa-redonda composta por três câmaras
integradas por representantes dos produtores, da indústria, do
comércio, de instituições financeiras e da sociedade civil. Esse
organismo se encontra atualmente em fase de formulação de
princípios e critérios, que deve levar ainda cerca de 18 meses para
ser concluída. Entre as iniciativas já acordadas estão a moratória da
produção de soja na região amazônica, com o compromisso dos
traders de suspender a compra de grãos originários dessa região, e
a criação do Instituto para o Agronegócio Responsável (ARES).
Além disso, segundo ele, discutem-se meios de agregar valor ao
produto, como forma de melhorar a sustentabilidade.
John Elkington, da SustainAbility, se
mostrou bastante pessimista em
relação à capacidade global de
alimentar mais de 9 bilhões de
pessoas, ainda neste século. “Eu não
sou religioso, mas acho que vamos
precisar de um milagre para atingir
esse objetivo”, brincou. Apesar disso,
Elkington deu exemplos de empresas
globais que desenvolveram projetos
inovadores
para
aumentar
a
produtividade agrícola envolvendo
algumas das populações mais pobres
do planeta. Será preciso, em sua
opinião, contar com essa capacidade
de criar soluções inesperadas em
áreas
como
a
de
alimentos
geneticamente modificados, ou dos
chamados alimentos funcionais.
Mesa redonda 3
Matriz energética para o desenvolvimento sustentável
“Matriz energética para o desenvolvimento sustentável”,, Não houve
consenso sobre quais rumos o Brasil deve tomar na questão energética. A
moderação ficou por conta do professor José Goldemberg, ex-secretário de
Estado do Meio Ambiente de São Paulo e membro do Conselho Deliberativo
do Instituto de Eletroeletrônica e Energia da USP. Ao expor suas idéias, os
representantes da sociedade civil organizada, da Petrobras e da academia
reforçaram suas posições, em vez de buscar soluções negociadas para o
tema.
O Brasil, considerado um país com alto potencial para a geração de energias
limpas, ainda tem 55% de sua demanda energética atendida por
combustíveis fósseis.
Embora a situação seja mais confortável do que a observada no cenário
mundial – 80% da energia consumida no mundo é de origem fóssil –, o país
não aproveitou seu potencial em energias limpas e renováveis. No setor
hidrelétrico, apenas 30% foram utilizados. A quantidade e intensidade da
incidência solar e a vantagem dos ventos no litoral também podem ser
exploradas, bem como os biocombustíveis, como o álcool e o biodiesel.
O representante da Petrobras, Mozart Schmitt de Queiroz, gerenteexecutivo de Desenvolvimento Energético da companhia, mostrou que a
empresa petrolífera está caminhando para se transformar em empresa de
energia. O investimento total da Petrobras em energias renováveis, no
entanto, corresponde a apenas 1% do total investido pela empresa em 2006.
Para Queiroz, a decisão de investir deve ser uma política de governo,
respaldada pela sociedade. “Sempre que surgem projetos economicamente
viáveis, a Petrobras tende a investir”.
Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás e idealizador do
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Proinfa), ressaltou que a hidroeletricidade é uma boa opção
energética para o país. Ele afirma que as barreiras na liberação de
licenças ambientais dificultam a criação de novas hidrelétricas no país,
opinião alinhada com a do governo federal. O Proinfa foi criado em
2002 e regulamentado pelo governo Lula com o objetivo de diversificar
a matriz energética nacional. Hoje, cinco anos depois, apenas
engatinha. Segundo Goldemberg, 70% dos projetos previstos no
Proinfa ainda estão no papel.
O diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, indicou
que as ONGs estão dispostas a sair da posição de crítica pura e
passar para a construção de alternativas. Ele apresentou o resumo do
estudo “Cenário de Revolução Energética”, que propõe uma matriz
energética mais limpa e mais barata para tornar o Brasil autosuficiente em energia até 2050. O professor José Goldemberg
chamou de “pseudo-discussão” o debate sobre o meio ambiente como
empecilho para a aprovação de hidroelétricas como a do Rio Madeira,
na Região Norte do país. “Existem 100 milhões de quilowatts que já
tiveram o licenciamento ambiental aprovado e ainda não saíram do
papel”, afirmou. Goldemberg destacou que o problema é complexo,
uma vez que investir em energia ainda é um mau negócio no Brasil. “A
incerteza jurídica, a falta de um marco regulatório que assegure aos
investidores um retorno de longo prazo, faz com que os projetos sejam
aprovados, mas acabem parados nas mãos de atravessadores. São
eles que encabeçam a licitação, com a esperança de vender a idéia
para as empresas, mas não conseguem passá-los adiante”, afirmou. O
debate urgente é na busca de um modelo para alavancar o
desenvolvimento do país.
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Apresentação - Conferência ETHOS