TESTEMUNHO
Quanto mais deixo perpassar pelos olhos do meu espírito a figura de
Salazar, mais ela se agiganta em nobreza e dignidade.
Penso que nenhum homem justo poderá furtar-se a esta sensação forte
quando, despido de preconceitos ideológicos e com objectividade, se debruçar
sobre a personalidade única e a obra portentosa do homem que, durante
quarenta anos, inteiramente se identificou com o destino de Portugal.
Seguro estou, porém, de que só a perspectiva da História permitirá
abranger, na sua exacta medida, toda a ciclópica estatura do estadista e todo o
alcance da doutrina política do Professor de Coimbra que, por desígnio da
Providência, haveria, do alto do Poder, que nunca o seduziu nem abastardou,
ser mestre de Portugal e do Mundo.
Por isso, quando me inclinei, comovida e respeitosamente perante o
corpo a que a morte imprimira a sua fria e serena majestade, o meu
pensamento ergueu-se em súplica a Deus para que desse sempre aos
Portugueses o discernimento de espírito e a força de ânimo que lhes façam
compreender e respeitar a mensagem de Salazar: mensagem e trabalho e
sacrifício, mensagem de seriedade e equilíbrio, mensagem de liberdade na
ordem e na hierarquia dos valores, mensagem de integral devotamento à
Pátria.
Restaurador das finanças e da economia, reformador das leis e da vida
nacional, criador de novo sistema governativo e representativo, diplomata de
visão profética, estadista das grandes decisões nos momentos cruciais, homem
de inteligência e acção, a ele deve o País a renascida consciência da sua
saudade e integridade, na dimensão intercontinental dos territórios, e da sua
missão universalista.
Mas, nesta hora dolorosa em que os portugueses que mantêm vivo o
amor da Pátria se curvam, emocionados e agradecidos, perante os restos
mortais de Salazar, quero exaltar, de modo especial, não tanto o Presidente do
Conselho autor da Constituição de 1933, nem o artífice do ressurgimento
nacional, nem o homem de carácter e de apurada sensibilidade que ele sempre
foi, mas sobretudo o pensador vigoroso e profundo que, com a sua doutrina,
há-de exercer influência crescente na ciência e arte de conduzir os povos, e o
político genial, que acima de todos os chefes dos países do mundo livre, mais
concorreu para impor um travão ao expansionismo comunista e melhor soube
interpretar e defender os interesses do Ocidente.
Sempre o mesmo, nas horas tranquilas da paz, ou nos períodos
perturbados da guerra ou do terrorismo, não pode duvidar-se de que a lucidez
do meu espírito e a validade das suas concepções, a eloquência da sua
palavra e a fortaleza da sua vontade lhe deram jus, não apenas a lugar cimeiro
na galeria dos Grandes de Portugal, mas também a uma posição proeminente
entre os maiores vultos políticos do século.
Henrique Veiga de Macedo
In Política, n.º 14/15, 15/30.07.1971, pág. 10.
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