“RISCO
E EFICIÊNCIA BANCÁRIA NO
CRÉDITO CONCEDIDO A PARTICULARES
Dissertação de Mestrado em Economia
Orientação:
Professor Doutor Carlos Arriaga Costa
Mestrando:
MIRANDA Luís Sérgio
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gestão
Plano de Apresentação
Estrutura da Dissertação de Mestrado:
I – Capítulo I – Introdução
II- Capítulo II – A evolução do crédito em Portugal
III – Capítulo III – Fundamentação em modelos e estudos
empíricos sobre crédito e risco
IV – Capítulo IV – Metodologia e análise de dados
V– Capítulo V – Conclusão
I- Introdução



A relação entre os bancos e seus clientes, tem sido objecto de estudos
empíricos, os quais normalmente abordam o comportamento recíproco, na
procura e na oferta de crédito e de outros produtos bancários, no
investimento privado e estatal, no consumo, no crescimento económico.
Na maior parte dos temas em análise, predominam as empresas como sendo
os principais clientes alvo das pesquisas, ou então as empresas e os clientes
particulares (pessoas) são englobados numa só variável.
Clientes particulares da banca, define-se neste estudo, como sendo pessoas
singulares e famílias, cujo crédito é dispendido nos seus gastos privados. É
mais específico do que aquilo que se encontra em muita literatura sobre esta
matéria, que abrange empresas e cidadãos, onde é normal o termo
“particular” referir-se àquilo que é não-estatal.
I- Introdução


Discernir melhor os clientes particulares no universo bancário é importante,
porque os seus variados comportamentos diferem bastante das empresas e
os próprios bancos adoptam condutas distintas para com esses dois tipos de
clientes.
O mercado bancário português tem sido estudado sobretudo pelo grande
incremento do crédito nos últimos 10 anos e pela mudança radical nas
relações banco-cliente
I- Introdução



Estudos empíricos sobre o relacionamento bancário não discriminava
clientes particulares.
os
Foram incluídos numa só variável “cliente” por vários autores (Cabral 1993,
Canhoto 2003, Barros 1997) ou então foram preferidas as empresas como
alvos de estudo (Arriaga Costa 2000).
Autores estrangeiros como Spiegel 2004, Brzoza-Brzezina 2004, Japelli
2000 interessaram-se por analisar o crédito em Portugal, mas também
incluíram os clientes particulares num universo global.
I- Introdução
O objectivo deste trabalho é então explicar as razões
que levaram os bancos em Portugal, a conceder um
incremento significativo do crédito a particulares
nos últimos anos e saber se o risco variou
significativamente, a ponto de afectar a eficiência
do sector bancário.
I- Introdução
Questão 1 – O que determinou o alargamento do
crédito a particulares?
Questão 2 – O risco aumentou? / Como quantifica-lo?
Questão 3 – Quais foram os critérios selectivos de
concessão de crédito a particulares?
II- A

evolução do crédito em Portugal
Período de 1974-1986
Em 1975 todos os bancos e companhias de seguro foram nacionalizados,
exceptuando-se apenas os bancos estrangeiros e as caixas económicas da
Madeira e dos Açores.
Com a nacionalização da banca as taxas de juro foram regulamentadas.

Período de 1986-1998
consumo e o crédito cresceram sempre de forma sustentada.
Em 1989 o Estado ainda estava na posse de 90% do mercado bancário e
nesse ano deu-se início ao lento processo de privatização da banca.
Em 1993 o Estado já só detinha 45% da fatia de mercado.
II- A
evolução do crédito em
Portugal

Período de 1986-1998
Os bancos privados e os bancos privatizados competiram entre si e
cresceram a par do salto quantitativo que o país deu com a entrada na
CEE e com o aumento da confiança dos portugueses e dos investidores
estrangeiros.
concentração na banca :No final de 1996 já 80% do mercado estava
completamente dominado por 5 grupos bancários.
II- A
evolução do crédito em
Portugal



Período de 1998-2003
Portugal passou a cumprir critérios de convergência
bastante rigorosos, em que a contenção de despesas
estatais é visto como um factor de estabilidade.
A confiança dos consumidores diminuiu gradualmente a
partir do início do novo milénio, o desemprego aumentou e
com isso o crescimento do crédito abrandou 8,8% de 2000
para 2001. O mercado manteve-se em expansão com um
valor positivo (13,3%), mas na expectativa de um futuro
menos promissor, os bancos partem agora à procura de
novos métodos com vista a dinamizar e a rentabilizar os
créditos concedidos.
II- A
evolução do crédito em
Portugal



Período de 1998-2003
Portugal passou a cumprir critérios de convergência
bastante rigorosos, em que a contenção de despesas
estatais é visto como um factor de estabilidade.
A confiança dos consumidores diminuiu gradualmente a
partir do início do novo milénio, o desemprego aumentou e
com isso o crescimento do crédito abrandou 8,8% de 2000
para 2001. O mercado manteve-se em expansão com um
valor positivo (13,3%), mas na expectativa de um futuro
menos promissor, os bancos partem agora à procura de
novos métodos com vista a dinamizar e a rentabilizar os
créditos concedidos.
II- A
evolução do crédito em
Portugal



O crédito e o consumo
A concessão de crédito está estreitamente ligada
ao consumo privado e ao endividamento, onde se
destaca em Portugal, o papel fundamental
desempenhado pelos bancos desde 1990, em
especial no crédito hipotecário.
Teoria do Ciclo de Vida e do Rendimento
Permanente.
III- Fundamentação em modelos e estudos empíricos
sobre crédito e risco
Dois modelos de base:
 Indicadores quantitativos:
Rosenwald, F., 1998, Coût du crédit et montant des
prêts, une interprétation en termes de canal large
du crédit, Revue économique, vol.49, p.1103-1127.
 Indicadores qualitativos de análise do risco
credito:
Milewicz, H., 1991, Model of reputation building
and destruction, Journal of Business Research, p. 2331.

III- Fundamentação em modelos e estudos empíricos
sobre crédito e risco




O aumento do crédito em Portugal tem sido estudo de caso para
vários autores a nível mundial, como Spiegel (2004), Japelli e
Pagano (2000) e ainda Brzoza-Brzezina (2004).of Business Research,
p. 23-31.
A União Monetária Europeia foi o maior percursor do aumento de
crédito nos últimos anos, que conduziu ao endividamento do país
perante terceiros.
A confiança criada no meio financeiro internacional, permitiu conceder
créditos a Portugal.
Segundo Cabral M. (1993), existe uma fraca ligação entre a oferta
de capital, disponibilizada através de créditos e a actividade
económica, devido à inovação financeira.
III- Fundamentação em modelos e estudos empíricos
sobre crédito e risco

A oferta de crédito
A concessão de grandes montantes de crédito pelos bancos ocorre ciclicamente,
tal como acontece na ligação entre o sistema financeiro e o ciclo económico.




Em Portugal o ciclo de crescimento forte do crédito dura desde o início da década
de 90.
Um crunch implica apenas uma diminuição drástica na oferta de
crédito, portanto não significa nenhuma diminuição imediata no
endividamento das famílias.
A procura de crédito
Os estudos de Gross e Souleles (2000) comprovam que aumentos nos
limites de crédito geram automaticamente uma subida significativa no
endividamento e que este é particularmente sensível às grandes
descidas das taxas de juro.
IV- Estudo Empírico

Inquérito aos bancos :


Pretende-se recolher a opinião dos bancos sobre os indicadores
de avaliação do risco de credito a particulares.
apenas 20% dos inquiridos responderam


O número de respostas não permite traçar um bom modelo econométrico por
traduzir uma amostra pequena para um grande número de variáveis, muitas das
quais só têm uma ocorrência.
ordenamos de forma sistemática, a importância que os bancos atribuíram aos
indicadores quantitativos e qualitativos subentendidos nas perguntas do inquérito e
a partir daí analisamos os resultados
IV- Estudo Empírico

1º grupo de questões
factores quantitativos DO RISCO DE CRÉDITO
factores qualitativos
Avaliar o risco em função da profissão
zona geográfica


2º grupo de questões
conhecimento dos produtos bancários de crédito mais utilizados
Grau de utilização dos factores quantitativos de risco
na análise do risco de crédito
Factores de Risco de Crédito
(quantitativos)
Nunca
utilizado
(a)
Pouco
utilizado
(b)
Utilizado
(c)
1. Histórico de conta e Saldos
médios
2. Vencimento fixo e/ou
outros Rendimentos do cliente
3. Património
(imóveis, empresas, negócios, acções)
4. Hipotecas efectuadas
5. Contas poupança e seguros
6. Incumprimento face a outros
bancos (Central de Riscos do Banco
de Portugal)
7. Dívidas ao fisco
8. Montante do empréstimo
9. Finalidade do empréstimo
10. (outros especificar p.f.)
RELACIONAMENTO COM
EMPRESAS/SÓCIOS
11. (outros especificar p.f.)
RELACIONAMENTO COM
FAMILIARES AVALISTAS
12. (outros especificar p.f.)
ENCARGOS COM OUTROS
CRÉDITOS
13. (outros especificar p.f.)
POTENCIAIS ENCARGOS COM
AVALES
14. (outros especificar p.f.)
22,2%
11,1%
11,1%
11,1%
33,3%
Muito
utilizado
(d)
Sempre
utilizado
(e)
25%
75%
33,3%
66,7%
55,5%
22,2%
44,4%
44,4%
33,3%
11,1%
100%
11,1%
11,1%
22,2%
55,5%
11,1%
88,9%
55,5%
44,5%
1
ocorrência
1
ocorrência
1
ocorrência
1
ocorrência
Grau de utilização dos factores qualitativos de risco na
análise do risco de crédito
Factores de Risco de Crédito
(qualitativos)
Nunca Pouco Utilizado Muito
utilizado utilizado
utilizado
(a)
(b)
(c)
(d)
1. Reputação e Credibilidade do cliente
2. Relacionamento próximo entre o
cliente e o gerente de conta
3. Seriedade no cumprimento de
compromissos
4. Profissão
11,1%
22,2%
22,2%
33,3%
22,2%
44,5%
11,1%
44,4%
44,4%
33,3%
44,5%
22,2%
55,5%
44,5%
5. Emprego fixo
6. Habilitações literárias
11,1%
22,2%
10. Número do agregado familiar
11,1%
44,5%
55,5%
11,1%
44,4%
44,4%
11,1%
12,5%
12,5%
50%
25%
11,1%
44,5%
22,2%
22,2%
11,%
33,3%
22,2%
22,2%
7. Idade
8. A reputação e capacidade financeira
dos Outros Titulares da conta
9. Estado civil
Sempre
utilizado
(e)
Indicadores mais utilizados na análise do risco quanto à
profissão e ao tipo de emprego dos clientes
Antiguidade
Sector de actividade
Posição na empresa
Estabilidade de emprego
Entidade patronal (empresa economicamente estável)
Profissões liberais de alto rendimento
Vínculo contratual / Componente fora da remuneração
Sector de actividade / Categoria profissional
Pontuação por profissões no “scorecard”
Pontuação diferenciada para emprego fixo e contrato a prazo
Estabilidade
Rendimentos declarados
Vínculo laboral
Efectividade
Trabalhador por conta própria
Desempregado
Situação e vínculo profissional (trabalhadores por conta de outrem)
Actividade profissional ou empresarial (trabalhadores por conta própria)
Estabilidade do emprego (tipo de vínculo contratual)
Estabilidade da entidade empregadora
Valor do salário total
Ponderação percentual atribuída aos factores quantitativos e
qualitativos na análise do risco de crédito
FACTORES
%
MÉDIA
(amostra)
QUANTITATIVOS
54,2%
QUALITATIVOS
45,8%
Ponderação percentual atribuída aos factores quantitativos e
qualitativos na análise do risco de crédito
seguintes resultados:
FACTORES
Bancos Grandes
Bancos Pequenos
QUANTITATIVOS
75%
20%
QUALITATIVOS
0
40%
IGUAL PREFERÊNCIA
25%
40%
PREFERIDOS
Bancos grandes da amostra: CGD, BCP, BES, BPI
Bancos pequenos da amostra: os restantes
Tipos de créditos mais concedidos
Tipo de Crédito
%
Ordenação
1. Habitação própria
7,2%
1º
2. Aquisição de outros imóveis
16,4%
3º
3. Automóvel
17,1%
4º
4. Consumo
15,9%
2º
5. Plafond de conta a descoberto
21,3%
5º
6. Investimento
(ex: compra de acções, quotas de
empresas e negócios particulares ...)
22,4%
6º
Factores que influenciaram nos últimos 5 anos a procura e a
oferta de crédito
Pouco
Importante
Importante
Muito
Importante
50%
12,5%
37,5%
11,1%
44,5%
33,3%
11,1%
33,3%
55,5%
4. Conjuntura político-económica
favorável
66,6%
34,4%
5. Crescimento económico
88,9%
11,1%
Factores
Nada
Importante
1. Disponibilidade e liquidez
financeira por parte do banco
2. Competição entre bancos
11,1%
3. Aumento do consumo
6. Incentivos do Estado
(ex: redução de impostos, etc)
7. (outros especificar p.f.)
TAXA DE JURO
8. (outros especificar p.f.)
“FUNDING” ATRAVÉS DE
OPERAÇÕES DE
TITULARIZAÇÃO
12,5%
50%
37,5%
1 ocorrência
1 ocorrência
1 ocorrência
O risco e a eficiência bancária na concessão de
crédito
Afirmação
Resposta
1. O aumento da disponibilidade na concessão do crédito alargou o leque de
clientes àqueles que outrora não usufruíam da concessão de crédito.
2. O aumento de crédito obrigou a uma redução na importância atribuída aos
critérios selectivos de concessão de crédito.
3. O aumento de crédito implicou um aumento não-linear do risco para o
Banco.
4. Apesar do aumento intrínseco do risco, a eficiência do Banco aumentou com
o incremento dessas operações.
5. Apesar do aumento intrínseco do risco, a eficiência do Banco aumentou de
forma não-linear com o incremento dessas operações.
V=66,7%
F=33,3%
V=22,2%
F=77,8%
V=55,5%
F=44,5%
V=88,9%
F=11,1%
V=55,5%
F=44,5%
Factores que contribuíram para o aumento da procura de
crédito por parte dos clientes particulares
Factores
Nada
Importante
Pouco
Importante
1. Crescimento salarial e de
rendimentos
Importante
Muito
Importante
88,9%
11,1%
2. Abaixamento das taxas de juro
3. Crédito bonificado
100%
11,1%
33,3%
33,3%
22,2%
4. Aumento da oferta
11,1%
77,8%
11,1%
5. Confiança político-económica
33,3%
55,5%
11,1%
44,5%
33,3%
12,5%
75%
6. Incentivos do Estado
(ex:: redução de impostos, etc)
7. Comportamento consumista
8. (outros especificar p.f.)
CRESCIMENTO DE
MERCADO
9. (outros especificar p.f.)
OFERTA DE CRÉDITO NOS
LOCAIS DE COMÉRCIO
22,2%
12,5%
1 ocorrência
1 ocorrência
V- Conclusão





Este estudo procurou explicar o risco e a eficiência da banca portuguesa,
num cenário de forte expansão de mercado, onde a concessão de crédito
a particulares, atingiu nos últimos anos valores nunca antes vistos
Em Portugal para os bancos, concorrem tanto os valores quantitativos como
os qualitativos na análise do risco de crédito.
A atribuição percentual das instituições de crédito para a ambos os
factores é bastante equilibrada.
Contudo, o cruzamento de variáveis, demonstrou que os maiores bancos
preferem mais os factores quantitativos de análise, enquanto os pequenos
são mais propensos aos factores qualitativos
O estudo aponta para o facto da banca não ter facilitado nos
pressupostos.
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Luis SergioMiranda - EEG