1 A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE UBERLÂNDIA – MG SOB A PERSPECTIVA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ESTADUAIS Vanessa Lepick ­ UFU [email protected] Profª Ms. Luci Aparecida Souza Borges de Faria – UFU [email protected] Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa­ação em andamento que teve início em 2007 através das discussões desencadeadas na disciplina de Princípios e Métodos de Orientação Escolar e Supervisão Escolar (PMOESE), no 3º ano do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), visando à busca da inter­relação teoria/prática vivenciada nas escolas públicas sobre organização e gestão escolar. No primeiro momento foram realizados seminários em sala de aula sobre o referencial teórico indicado pela professora, em seguida elaborou­se um instrumento de coleta de dados para a realização da pesquisa de campo. Em curso do ano letivo de 2008 por meio da observação participante no Estágio Supervisionado, estamos colhendo informações a fim de propormos uma intervenção na realidade escolar observada. Os aspectos abordados neste trabalho buscam o levantamento da organização administrativa, seu financiamento, distribuição de recursos, a elaboração do Projeto Político Pedagógico, os projetos desenvolvidos e a estrutura física, humana e organizacional da escola, bem como o processo de ensino aprendizagem. Enfim, a partir deste levantamento de dados busca­se respostas aos questionamentos sobre o processo de organização por meio da gestão escolar e a implementação das políticas públicas pelo governo de Minas Gerais nas escolas estaduais. Através deste levantamento inicial verificou­se que a gestão democrático­participativa é buscada pela instituição, porém não se efetiva em sua totalidade. Esta pesquisa­ação tem ampliado nossa visão sobre a organização e gestão no ambiente escolar verificando a necessidade de se concretizar uma relação efetivamente democrática entre direção, vice­ direção, professores, especialistas da educação, demais servidores da escola, alunos e
2 seus familiares, ou seja, de toda a comunidade escolar, com o propósito de vislumbrar uma educação democrática que realmente possa incluir a todos. Considera­se relevante este trabalho por permitir um maior aprofundamento nas questões ligadas à gestão escolar e ao funcionamento da escola como um todo, permitindo um maior contato com o que ocorre nas escolas podendo inclusive contribuir para a busca da práxis em educação. Palavras­chave: escola, organização, pesquisa­ação e gestão Abstract: SCHOOL’S ORGANIZATION AND MANAGEMENT IN PUBLIC SCHOOLS OF UBERLÂNDIA­MG ON THE PERSPECTIVE OF STATE SCHOOLS POLICY This study is a result of an action­research in progress which started in 2007 on debates from the subject called Principles and Methods of school’s counseling and school’s supervision, on the third year of Pedagogy of Universidade Federal de Uberlândia, aiming the theory in practice at public schools’ organization and management. Firstly, seminars inside the classrooms about the theoretical reference suggested by the teacher took place. Next, an instrument to collect data for the research was elaborated. Throughout 2008, by present observation in “Estágio Supervisonado”, we have been collecting information in order to propose an intervention in the observed school’s scenery. The aspects which are debated on this study aim knowing the management organization, its funding, resource distribution, elaboration of the Pedagogic and Politic Project, projects developed and facilities, human and organization structure of the school, as well as the teaching and learning process. Finally, from this survey we aim to answer questions about the organization process through school’s management and implementation of Minas Gerais’ public policy in state schools. Through this initial survey we realized that the institution searches democratic management, although it does not come true totally. This action­research has broaden our view on organizing and managing school’s environment, showing the necessity of really relating democratically the roles of the principal, vice­principal, teachers,
3 education’s specialist, other members of school’s staff, students and their relatives, in other words, the whole school community, in order to gaze democratic education which really can include all. This study is considered as relevant for allowing going even deeper on issues related to school’s managing and its working as a whole institution, allowing more contact with what happens in schools, being even able to contribute for the search of education praxis. Keywor ds: action­research, management, organization and school Contextualizando a Pesquisa­ação A Pesquisa­ação no estágio supervisionado tem com uma de suas funções desmistificar a dicotomia teoria x prática tão comum no meio educacional. a visão dicotômica da teoria e da prática resulta em lacunas no processo de formação que dificultam a compreensão de que a prática é intencionada pela teoria, que por sua vez é legitimada pela prática. Considerar que a prática seja desprovida de fundamentos teóricos significa torná­la inócua. (MIRANDA, 2008. p.16) Na pesquisa­ação a experiência assume grande importância, entretanto, precisa que ser pensada e refletida de forma crítica a fim de promover as transformações da práxis. A pedagogia da pesquisa­ação é uma pedagogia de produção de conhecimento, socialização e transformação, devendo possuir uma flexibilidade de procedimentos, permitindo que sejam feitos os ajustes necessários durante o processo. pedagogia da pesquisa­ação que implica em considerar a complexidade, a imprevisibilidade, a oportunidade gerada por alguns acontecimentos inesperados, a fecundidade potencial de alguns momentos que emergem da práxis, indicando que o pesquisador precisa muitas vezes “agir na urgência e decidir na incerteza”. (FRANCO, 2005. p.497) Para que a ação transformadora seja assegurada, se faz necessário o levantamento dos problemas reais e concretos que precisam ser solucionados na escola. A pesquisa­ação deve ser pensada de forma coletiva e pautada numa ação comunicativa na qual a interação e o diálogo sejam garantidos e respeitados. Para que ocorra de fato esta coletividade, o pesquisador, caso venha de fora da instituição, precisa em primeiro lugar, conquistar a confiança e a integração do e no grupo, tornando­se um ator deste processo.
4 Este tipo de pesquisa demanda que o registro dos dados seja realizado sistematicamente e com muito rigor, podendo utilizar como ferramenta para este fim o “diário de bordo”. Durante o processo, todos dados coletados precisam ser analisados por meio das espirais cíclicas. Estas espirais consistem em um processo contínuo de pesquisa/ reflexão/ ação. Esses dados são discutidos, refletidos, apropriados, ressignificados pelo grupo, principalmente por meio das espirais cíclicas, transformando­se gradativamente em conhecimentos do processo de pesquisa. Essas compreensões/ interpretações/análises/revisões precisam ser processadas sob forma de registros críticos. (FRANCO, 2005. p.499) Por meio deste ciclo contínuo, a pedagogia da pesquisa­ação realiza a função de esclarecimento que permite uma mudança na postura e na práxis do professor. O professor ao aderir à pesquisa­ação acaba incorporando a atitude de pesquisador passando a pensar sobre sua prática ética e criticamente, tendo a consciência do caráter político que possuem suas ações. Nossa pesquisa­ação teve início no primeiro semestre de 2007 por meio das discussões desencadeadas em sala na disciplina PMOESE. No primeiro momento foram realizados seminários em sala de aula sobre o referencial teórico indicado, em seguida elaborou­se um instrumento de coleta de dados para a realização da pesquisa de campo. O instrumento de coleta de dados foi elaborado de maneira que permitisse uma flexibilidade das perguntas para uma maior adequação com a realidade observada na escola, ou seja, de forma semi­estruturada. De posse do instrumento de coleta de dados realizamos a primeira visita à escola, no intuito primeiro de conhecer a estrutura física da escola e no momento seguinte realizar as entrevistas. Nesta primeira etapa a primeira tentativa de utilização da pesquisa­ação foi no ano de 2007, sendo entrevistadas uma supervisora e a tesoureira da escola. A segunda tentativa foi iniciada neste ano letivo de 2008 e o processo da pesquisa está sendo realizado por meio da observação participante no Estágio Supervisionado onde estamos coletando informações a fim de propormos uma intervenção na realidade escolar observada. Sobre esta fase da pesquisa trataremos adiante.
5 A escola A escola selecionada para a realização da pesquisa é uma escola da rede pública estadual de Minas Gerais, situada num bairro central da cidade de Uberlândia. Esta escola teve seu início a mais de 40 anos, atendendo a princípio, aproximadamente dois mil alunos. Passou a ser mantida pelo Estado na década de setenta. Durante seu percurso chegou a ministrar também o ensino médio, atualmente funciona apenas com o Ensino Fundamental nos turnos matutino e vespertino tendo um total de 520 alunos. A estrutura física da escola dispõe de: doze salas de aula, um laboratório de ciências, um laboratório de informática, uma biblioteca, uma sala de diretoria, uma sala de secretaria e tesouraria, quatro salas de almoxarifado, uma sala para professores, uma sala para pedagogos, uma sala do som, uma sala de vídeo, um consultório dentário, uma cozinha, uma dispensa, uma cantina, três sanitários femininos, dois sanitários masculinos, duas quadras, sendo uma coberta, um pátio, dois bebedouros com várias torneiras. Quanto ao mobiliário, possui mesas e cadeiras, arquivos e armário suficientes, porém desgastados pelo uso. Apesar de a escola contar com uma estrutura física razoável, o que se percebe são paredes gastas, problemas na rede elétrica, telhado precisando de reparos, goteiras, refletindo assim, as dificuldades da escola de realizar uma manutenção constante. Ao ser questionada sobre o porquê da escola se encontrar com tantos problemas físicos a tesoureira explica que as reformas que a escola necessita só podem ser realizadas mediante a autorização da Secretaria Estadual de Educação (SEE). Para tanto, os engenheiros da Secretaria Regional de Educação (SRE) devem vistoriar a escola e verificar as necessidades reais, para depois encaminhar este laudo para a SEE que mediante a verificação das prioridades deverá autorizar ou não as reformas. A escola só tem autonomia para realizar apenas pequenos reparos em sua estrutura desde que estes não ultrapassem o montante de R$1000,00 (um mil reais). Em relação aos recursos humanos disponíveis a escola dispõe de: uma diretora, uma vice­diretora, duas especialistas, atuando como supervisoras escolares, trinta e quatro professores, sendo duas eventuais, duas bibliotecárias, três auxiliares de secretaria, uma secretária, uma tesoureira, um zelador e oito ajudantes de serviços gerais. Dentre estes funcionários 33 são servidores efetivos e 22 são designados. A grande maioria dos funcionários é do sexo feminino.
6 Gestão Escolar Corpo docente Administração Escolar Gestor e vice­diretor Especialista de Educação
ALUNO Setor Administrativo Secretaria e A S G Colegiado Escolar Pais Organograma representativo da estrutura organizacional da escola. Como podemos observar no organograma acima a escola adota uma perspectiva participativa buscando integrar toda a comunidade escolar num trabalho cujo foco central é o aluno. Contudo, o que observamos, diante dos depoimentos, é que a participação dos pais e da comunidade a qual a escola está inserida, não se efetiva. A gestão é, pois, a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnico­administrativos. Há várias concepções e modalidades de gestão: centralizada, colegiada, participativa, co­gestão. (LIBÂNEO, 2003. p.318) Mediante esta realidade a escola procura, por meio de projetos e reuniões, obter uma maior participação em suas decisões e em seu dia a dia; ainda assim, depara­se com bastante resistência. Como exemplo, podemos citar uma reunião organizada pela escola, a qual deveria contar com a presença de pelo menos 120 pais, porém compareceram apenas 07. Sobre a importância da participação efetiva da família na escola, Paulo Freire afirma: O que importa é que a escola de nossa atualidade eduque seu aluno e suas famílias no sentido da responsabilidade social e política, de que somos tão carentes ainda. Responsabilidade que só se ganha vivendo. Que só se obtém inserido em projetos onde seja ela experimentada. O que importa é que a escola de nossa atualidade, permeável e flexível, fazendo­se centro comunitário, exercite os grupos em torno dela existentes, na análise crítica da problemática local, regional e nacional. (FREIRE, 2002. p. 96) 7 Em relação à elaboração do Projeto Político Pedagógico, a supervisora nos esclareceu que as questões pedagógicas são discutidas entre Diretor, vice diretor, supervisores, corpo docente e o colegiado da instituição. Acontece uma divisão em grupos e depois é feito um consolidado com toda a equipe pedagógica. Os demais integrantes da escola participam de uma reunião onde são apresentadas as decisões tomadas por estes grupos. Observamos assim que não ocorre uma participação efetiva de toda a comunidade escolar, como deveria acontecer em uma gestão democrático­ participativa. Ainda segundo Libâneo: a autonomia é o fundamento da concepção democrático­participativa de gestão escolar (...). Instituição autônoma é a que tem poder de decisão sobre seus objetivos e sobre suas formas de organização, que se mantém relativamente independente do poder central e administra livremente recursos financeiros. (2003. p.333) Entretanto, a escola sente que possui uma autonomia restrita, por integrar um sistema escolar que depende de política e gestão pública. No caso da escola pesquisada, observamos que não possui autonomia para fazer as reformas físicas que julga necessárias, para elaborar seu calendário escolar; nem ao menos para reter um aluno das séries iniciais, pois para este fim necessita da assinatura de uma inspetora, sentindo­se ainda pressionada a manter um número baixo de reprovações da 5ª à 8ª séries. Obser vação participante Como citado anteriormente, este segundo momento da pesquisa­ação teve início este ano por meio da observação participante 1 no Estágio Supervisionado, tendo como objetivo a verificação dos problemas de aprendizagem vivenciados pelos alunos a fim de buscar meios para auxiliá­los na superação dos mesmos. Para tanto a direção da escola indicou uma sala de aula da 4ª série (5º ano). Superando a concepção dicotomia e ampliando as possibilidades de realização do estágio, o conhecimento é produto do processo de investigação, os alunos­estagiários são orientados na pesquisa e não na reprodução de conceitos prontos e acabados. Nessa perspectiva, são as demandas suscitadas pela realidade escolar que norteiam o estágio, considerando que não basta observar e/ou denunciar, faz­se necessário enfrentar as situações e construir alternativas de ação. O estágio é, 1 A observação participante observação, anotações de campo, entrevistas, análises de documentos, fotografias, gravações. Os dados são considerados sempre inacabados. O observador não pretende comprovar teorias nem fazer generalizações estatísticas. O que busca, sim, é compreender e descrever a situação, revelar seus múltiplos significados, deixando que o leitor decida se as interpretações podem ou não ser generalizáveis, com base em sua sustentação teórica e em sua plausibilidade. (André, 1997)
8 portanto, uma ação educativa e social, uma forma de intervir na realidade. (MIRANDA, 2008. p.16) Por ser a única sala da primeira etapa do ensino fundamental (Fase Introdutória à 4ª série) possui uma realidade diferenciada em relação ao número de alunos na sala, são dezoito alunos, enquanto a maioria das salas possui uma média de vinte e seis alunos. No início do ano a turma iniciou com vinte e três alunos, contudo cinco saíram no decorrer do ano. A sala é composta por meninos em sua maioria totalizando doze e somente seis meninas, com idades que variam de dez à treze anos. O horário de aula é das 7 às 11 e 25 minutos. Tal horário é respeitado pela maioria dos alunos, sendo pequenos os atrasos, por volta de 10 minutos, contudo existe um único aluno que atrasa muito chegando normalmente no segundo horário quase todo dia. Apesar da maioria da turma ser pontual, o mesmo não ocorre em relação à presença, as faltas são muito freqüentes, sendo raro o dia em que não falta pelo menos um aluno. Até o mês de maio do corrente ano havia o caso de uma aluna cuja mãe trabalhava em um restaurante durante a noite e acredita­se que por este motivo ela faltava demais, as faltas eram tantas que a professora temia que a aluna fosse reprovada por falta caso o quadro persistisse. Quanto ao material escolar, sabe­se que o governo fornece os livros didáticos, contudo, os outros materiais os pais têm que adquirir, e neste ponto surge mais uma complicação, pois, a maioria dos alunos ou não têm, ou esquecem os materiais em casa, o que atrapalha a rotina de sala de aula. A professora sempre compra material (lápis, borracha, lápis de cor), mas, estes também não duram muito tempo, já que os alunos usam e esquecem de devolver. A classe social dos alunos é variada, percebe­se que alguns alunos possuem uma condição social bem melhor, uns vão de carro ou de “van” pra escola, observa­se ainda que a quantidade e qualidade dos materiais escolares variam muito. Em relação à família nota­se que na sua maioria há um certo distanciamento em relação à escola. Os pais até comparecem à escola quando são chamados, pois caso contrário o aluno fica impedido de entrar. Esta foi a solução encontrada pela escola para obrigar os pais a se responsabilizarem minimamente pela educação dos filhos, tomando ciência do que ocorre com os mesmos. Contudo, não existe uma parceria efetiva, na qual os pais procurem acompanhar e ajudar os filhos nos deveres de casa, nos trabalhos e no desempenho escolar como um todo. Verifica­se inclusive, que os alunos que apresentam um melhor desempenho em sala são àqueles cujos pais ou responsáveis participam de fato da educação escolar.
9 A preocupação com a escola está dividida em duas frentes: em uma delas, a família atribui à escola toda a função da educação, do ensinamento pedagógico, humano e pessoal, em outra, a família cobra e exige da escola um trabalho correspondente à sua responsabilidade. Neste contexto, os pais ora cobram corretamente, ora se omitem, ora cobram incorretamente. Por exemplo, ao exigirem que a escola ensine o filho, há uma cobrança correta uma vez que o ensino faz parte da natureza da atividade escolar. Entretanto, quando a família exige que a escola se ocupe de tarefas ligadas à organização e formação do indivíduo como um todo, há inadequação acerca da visão do papel da escola na educação do aluno. (MALAVAZI, 2000. p. 299) Os alunos são muito agitados, conversam muito e têm dificuldades de se manter concentrados muito tempo. Contudo, a professora procura manter a calma, sendo poucas as ocasiões em que perde a paciência e altera a voz. Na maioria das vezes ela cruza os braços e faz uma cara séria, quando percebem os próprios alunos se encarregam de chamar a atenção uns dos outros. Além disso, a professora acredita na importância e na eficácia do emprego de elogios e incentivos. O que realmente a tira do sério é quando um aluno a responde com grosseria. Segundo a professora somente dez dos dezoito alunos vão conseguir ter um bom desempenho na 5ª série, apesar de todos serem aprovados, visto que não há reprovação. a não­retenção escolar dos alunos estaria caracterizando­se como uma mera aprovação automática, sem a devida garantia de que eles tenham adquirido o domínio das competências escolares mínimas esperadas pela sociedade para o seu atual momento de escolarização. (GLÓRIA & MAFRA, 2004. p.235) A professora contou o caso de um aluno que teve o ano passado e que apresentava dificuldades sérias e básicas de leitura e escrita, precisando retomar um processo de alfabetização, mas sem obter sucesso. Diante de um quadro tão complexo a professora sugeriu que o aluno não deveria ser aprovado, pois não possuía condições mínimas de acompanhar a 5ª série, ainda sim o aluno foi aprovado. Percebe­se claramente na fala da professora que esta falta de autonomia em relação a própria prática docente se traduz num descrédito do seu papel como professora. A autonomia da escola numa sociedade que se pretenda democrática é, sobretudo, a possibilidade de ter uma compreensão própria das metas da tarefa educativa numa democracia. Sem essa possibilidade, não há como falar em ética do professor e em ética da escola, e sem isso, a autonomia deixa de ser uma condição de liberdade e pode até ser facilitadora da opressão. Sem liberdade de escolha, professores e escolas são simples executores de ordens e ficam despojados de uma responsabilidade ética pelo trabalho educativo. Nesse caso, professores e escolas seriam meros prestadores de serviços de ensino, de quem até se pode exigir e obter eficiência, mas não que respondam eticamente pelo resultado de suas atividades. (AZANHA, 2001)
10 As dificuldades de aprendizado são muitas e percebe­se que muitas destas são originárias do início da escolarização. Pelo menos a metade dos alunos tem muita dificuldade de interpretar textos e desta forma também de interpretar problemas matemáticos. Somente dois dos alunos conseguiram aprender toda a tabuada. As dificuldades de escrita são enormes, eles confundem muito as letras, trocam p/b, d/t, f/v, x/ch. Nenhum dos alunos acerta as cópias propostas, muito menos os ditados. Mesmo diante das dificuldades de aprendizagem a maior parte dos alunos ainda apresenta ânimo em relação ao ensino, demonstrando uma grande preferência pelas aulas de matemática. Outro fator relevante em relação às observações realizadas diz respeito à sexualidade que nota­se aflorada na turma, isso se deve em parte à presença de alunos um pouco mais velhos na sala e que chamam a atenção dos outros para estes aspectos. Segundo a professora as crianças têm despertado cada vez mais cedo para este aspecto. Analisando teoria x prática Temos verificado que a gestão democrático­participativa é buscada pela instituição, porém não se efetiva em sua totalidade. Isso ocorre devido a vários fatores: falta de instrução ou de interesse da comunidade escolar, falta de autonomia da própria escola em alguns aspectos apontados pela supervisora, entre outros. Em relação às observações realizadas em sala de aula verifica­se a necessidade de propor um projeto de intervenção pedagógica a ser realizado no segundo semestre deste ano com os alunos acompanhados nesta pesquisa­ação a fim de promover uma melhoria na sua qualidade educacional. Percebe­se ainda a necessidade de se concretizar uma relação efetivamente democrática entre direção, vice­direção, professores, especialistas da educação, demais servidores da escola, alunos e seus familiares com o propósito de vislumbrar uma educação democrática e de qualidade. Neste sentido, nota­se que a organização e a gestão escolar na rede estadual de ensino de Uberlândia­MG, sob a perspectiva das políticas públicas estaduais encontra­se num momento de bastante cobrança em relação aos resultados das avaliações externas e tem sido apresentadas propostas do atual governo para que Minas Gerais avance em seu índice de aprendizado e, através da Superintendência Regional de Ensino, as escolas têm sido acompanhadas principalmente quanto ao Projeto Político Pedagógico, o qual deve conter as metas a serem alcançadas.
11 BIBLIOGRAFIA ALARCÃO, Isabel. Pr ofessor es Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo; Cortez, 2003, p. 41­ 59 ALARCÃO, I. (2001). Do olhar super visivo ao olhar sobre a super visão. In: RANGEL, M. (Org.) Supervisão Pedagógica. Princípios e Práticas. São Paulo: Papirus. (pp.11­56). ANDRÉ, Marli E. D. “Tendências atuais da pesquisa na escola”. Cadernos CEDES, Dez 1997, vol.18, nº 43, p.46­57. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101­ 32621997000200005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em 17/06/2008. AQUINO, Julio Groppa. Ética na escola: a difer ença que faz a difer ença. In: Diferenças e preconceitos na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998. AZANHA, José. Proposta pedagógica e autonomia da escola. In: A Escola de Cara Nova /Planejamento, São Paulo: SE/CENP, 2000. p.18­24. DALBEN, Angela Imaculada L. de Freitas. Os Conselhos de Classe, ciclos e sér ies­ espaço de mediação entre o projeto político pedagógico e a sala de aula. In:­ PROCAD, Cadernos de textos: Oficina n. 04, fase Escola Sagarana, Belo Horizonte: SEE/MG, 2001, v. 1, p. 74­88. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da pesquisa­ação. Educ. Pesqui., Sept./Dec. 2005, vol.31, no.3, p.483­502. ISSN 1517­9702. FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2002. GARCIA, T. O. G. O papel do Colegiado na Gestão Democrática da Escola. In: Dalila Andrade de Oliveira. (Org.). Democracia na Escola. 1 ed. Belo Horizonte: PROCAD­ SEE/MG, 2001, v. 1, p. 37­46.
12 GLÓRIA, Dília Maria de Andrade; MAFRA, Leila de Alvarenga. A pr ática da não­ retenção escolar na nar rativa de professores do ensino fundamental: dificuldades e avanços na busca do sucesso na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, maio/ago. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n2/v30n2a03.pdf> Acesso em 01/07/2008. JORDÃO, R. S. A pesquisa­ação na formação inicial de pr ofessor es: elementos para a reflexão. In: 27ª Reunião anual da Anped, 2004, Caxambu. Sociedade, democracia e educação: qual universidade?, 2004. LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar : políticas, estr utura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. p.315­351. MALAVAZI, Maria Márcia Sigrist. Os pais e a vida escolar dos filhos. 2000. 320f. Tese (Doutorado em Educação na Área de Ensino, Avaliação e Formação de Professores) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. Disponível em <http://libdigi.unicamp.br/document/?view=vtls000217761> Acesso em 20/07/ 2008. MIRANDA, Maria Irene & SILVA, Lázara Cristina (orgs). Estágio super visionado e pr ática de ensino: desafios e possibilidades. Araraquara, SP: Junqueira&Martin: Belo Horizonte, MG: FAPEMIG, 2008. PIMENTA, Selma G. & LIMA, Maria Socorro L. Estágio e Docência. São Paulo. Cortez. 2004, p. 33­ 57.
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1 a organização e gestão escolar na rede estadual de ensino de