GESTÃO ESCOLAR E SUAS COMPETÊNCIAS: UM ESTUDO DA
CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE GESTÃO.
CAMPOS, Marli1-FURB
[email protected]
SILVA, Neide de Melo Aguiar2-FURB
[email protected]
Eixo Temático: Políticas Públicas e Gestão da Educação
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O artigo discute a construção social do conceito de “bom” gestor fundamentado na Teoria das
Representações Sociais, com um grupo de gestores das Unidades Escolares do Ensino
Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Blumenau, levando em consideração o novo
enfoque de gestão escolar, incorporado pela sociedade contemporânea, a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº. 9394/96. A construção social do conceito de “bom” gestor é uma dissertação de
mestrado que se encontra em andamento e está ancorada na Teoria e Metodologia das
Representações Sociais. A referida teoria é o meio para compreender os saberes do grupo, as
marcas sociais, o contexto histórico e social onde a renovação desses saberes é elaborada por
meio das práticas sociais, das experiências individuais desenvolvidas pelos sujeitos da
pesquisa no desempenho de sua ação profissional. A atuação do gestor no âmbito de suas
atribuições perpassa por três dimensões: técnica, pedagógica e política como espaços de
competências interligados. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um questionário, cujas
questões foram elaboradas com base na técnica da associação livre e hierarquizada dos itens,
de acordo com Bardin. Os gestores conceituaram a função de gestão escolar quando
solicitados que completassem a frase: Bom Gestor... e, indicassem as palavras mais relevantes
naquela concepção. As palavras foram classificadas e aglutinadas de acordo com as
competências de gestão e a mais relevante serviu para agrupar nas referidas competências. Os
resultados obtidos até o momento apontam que a dimensão técnica exige dos gestores
conhecimento da legislação educacional, do sistema de ensino e da escola. A dimensão
política é a ação, onde os gestores pesquisados estão mais focados. Na dimensão pedagógica
as ações culminam com a elaboração do Projeto Político Pedagógico.
1
Graduada em Pedagogia/Administração Escolar e Supervisão Escolar pela Universidade Regional de Blumenau
– FURB; Especialização em Administração escolar pela UNIVALI; Mestranda em Educação pelo PPGE/ME da
FURB (Turma 2008); pesquisadora na Linha de Pesquisa Educação, Estado e Sociedade. Diretora do Ensino
Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Blumenau/SC, no período de 15/01/07 a 09/02/09.
2
Doutora em Educação Matemática pela UNESP – Campus de Rio Claro-SP. Professora permanente no
PPGE/ME/FURB na Linha de Pesquisa Educação, Estado e Sociedade, tendo Representações Sociais como foco
de pesquisa.
1861
Palavras-chave: Gestão Escolar. Representações Sociais. Competências.
1862
Introdução
A pesquisa que fundamenta o presente artigo está sendo realizada como dissertação de
mestrado no Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação pela Universidade
Regional de Blumenau – PPGE/ME-FURB, na linha Educação, Estado e Sociedade, no Grupo
de Pesquisa Edupesquisa que estuda a Teoria das Representações Sociais, cujo precursor foi
Sérge Moscovici3. O artigo apresenta a construção social do conceito de “bom” gestor, a
partir de um grupo de gestores das Unidades Escolares do Ensino Fundamental da Rede
Municipal de Ensino de Blumenau, Santa Catarina, sujeitos da pesquisa. A pesquisa justificase pelas dificuldades no cotidiano dos gestores quando descreviam suas ações à pesquisadora
e a preocupação dos mesmos em serem “bons” gestores, no sentido de articularem a teoria
trabalhada nos cursos de formação e o exercício diário de suas funções.
A elaboração da construção social do conceito de “bom” gestor definida pelo grupo de
gestores escolares são construídas a partir da apropriação que eles fazem da prática, das suas
relações e dos saberes históricos e sociais. Para compreender o conceito de gestão do grupo
pesquisado, foi aplicado um questionário, onde os sujeitos da pesquisa completariam a frase
com o que significaria para eles ser um bom gestor. A partir da definição, da concepção que
os sujeitos possuíam a respeito de gestão, os mesmos destacaram as palavras relevantes. As
palavras relevantes foram classificadas em categorias de competências: técnica, política e
pedagógica.
O conceito de gestão escolar passa a ser incorporado pela sociedade contemporânea, a
partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, quando no seu Art. 206, dispõe ao
longo do mesmo, a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” e da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº. 9394/96, no seu Art. 14 destaca o
preceito da gestão democrática como um dos seus princípios, pressupondo a gestão
democrática como um trabalho coletivo, participativo e dialógico.
A relevância do estudo como produção científica para a área de Representações
Sociais e Gestão Escolar está na escassez dos trabalhos que discutem os saberes sociais
construídos pelos próprios gestores no desempenho de suas funções, na construção do
conceito social de “bom” gestor.
3
Sérge Moscovici – estabeleceu a Teoria das Representações Sociais por meio de uma redefinição dos
problemas e conceitos da Psicologia Social, a Psicanálise. O referido estudo é sistematizado na obra La
Psycanalyse: son image el son public (1961).
1863
Para efeitos de organização do artigo o leitor encontra quatro tópicos; a gestão escolar
sob novo enfoque; os conceitos e competências da gestão escolar; o contexto, os sujeitos da
pesquisa; a metodologia e a definição dos gestores nas competências, permeados pela Teoria
das Representações Sociais que estuda os saberes do senso comum, no caso, a construção do
conceito social de “bom” gestor. Finalizando a discussão, as considerações finais.
Gestão Escolar sob novo enfoque
No contexto da educação brasileira, emerge um conceito novo, gestão da escola, que
vem superar o enfoque limitado de administração, a partir do entendimento que os problemas
educacionais são complexos e que demandam uma ação articulada e conjunta na superação
dos problemas cotidianos das escolas.
A gestão da escola sob essa nova perspectiva surge como orientação e liderança
competente, exercida a partir de princípios educacionais democráticos e como referencial
teórico para a organização e orientação do trabalho em educação, afinado com as diretrizes e
políticas educacionais públicas para a implementação das políticas educacionais e o Projeto
Político Pedagógico das escolas.
Para Lück, 2005, p.17:
O conceito de gestão está associado à mobilização de talentos e esforços
coletivamente organizados, à ação construtiva conjunta de seus componentes, pelo
trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma
vontade coletiva.
Anterior a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº. 9394/96, a
escola era administrada por princípios fundamentados na Administração Escolar, que se
constatava na assimilação do modelo de administração científica ou Escola Clássica,
orientado pelos princípios da racionalidade limitada; da linearidade; da influência estabelecida
de fora para dentro; do emprego mecanicista de pessoas e de recursos para realizar os
objetivos organizacionais de sentido limitado.
O modelo de direção da escola era centralizado na figura do diretor, que agia como
tutelado aos órgãos centrais, competindo-lhe zelar pelo cumprimento de normas,
determinações e regulamentos deles emanados. Atuava sem voz própria para determinar os
1864
destinos da escola e, portanto, desresponsabilizado do resultado de suas ações. O trabalho do
diretor constituía-se em repassar informações, como controlar, supervisionar, “dirigir” o fazer
escolar, de acordo com as normas estabelecidas pelo sistema de ensino.
Segundo, Lück, (2006, p. 35). “Bom diretor era o que cumpria essas obrigações plena
e zelosamente, de modo a garantir que a escola não fugisse ao estabelecido em âmbito central
ou em nível hierárquico superior”.
A Escola Crítica surgiu na contraposição da identificação educacional com a
administração geral de empresas e, de maneira menos enfática que a Escola Clássica e dá
indícios, de que compreende a condução política e pedagógica da escola e da educação, de
onde emergiria um campo de conhecimento da administração educacional. A Escola Clássica
ou Administração Científica perdurou até o início dos anos de 1970 e a Escola Crítica do final
dos anos de 1970 e início dos anos de 1980. (SOUZA, 2008).
Com o movimento da redemocratização e a conseqüente promulgação da Constituição
Federal de 1988 e a LDBEN 9394/96, o movimento de democratização, descentralização e
construção da autonomia, princípios democráticos da Carta Magna e da LDBEN vigente, os
mesmos, passaram a constituir novas formas de mecanismos e ações no interior das Unidades
Escolares, oportunizando a participação da comunidade escolar e local nas decisões que
envolvem as questões educacionais, ampliando a responsabilidade e atuação do gestor
escolar.
O sistema escolar sempre sofreu, em maior ou menor grau, as marcas oriundas de
grupos sociais que ocupam posições diferentes ao mesmo, ou seja, discurso dos políticos, dos
administradores, dos agentes institucionais dos diferentes níveis de hierarquia e dos usuários
do sistema escolar. Esse entendimento é necessário na medida em que a área educacional
aparece como um campo privilegiado para se observar como as representações sociais se
constroem, evoluem e se transformam no interior dos grupos sociais, e para esclarecer o papel
dessas construções nas relações desses grupos com o objeto de sua representação. Desta
forma, compreender as representações sociais de um grupo de gestores escolares sobre “bom”
gestor, suscita a indagação central do estudo em questão.
As representações sociais dos gestores são construídas a partir da apropriação que eles
fazem da prática, das suas relações e dos saberes históricos e sociais. Considerando a idéia,
dos saberes históricos e sociais e que nada é definitivo, que a renovação desses saberes é
1865
necessária, e que os mesmos são elaborados através de práticas sociais é que a escola é
concebida.
Dotta (2006) confirma que por meio da Teoria das Representações Sociais podemos
apreender esses saberes, pois, está envolvido o esforço em apreender os problemas da
educação no processo que articula o homem concreto, em sua especificidade e complexidade,
à totalidade social, dentro do movimento histórico que os engloba em espaço e tempo
definidos.
O gestor escolar sob esse novo paradigma passa a atuar de forma mais dinâmica,
comprometido com os destinos da instituição escolar, co-responsabilizando todos os atores da
instituição escolar e da comunidade escolar no fazer pedagógico.
Conceitos e competências da gestão escolar
A gestão escolar vai além do sentido de mobilizar as pessoas para a realização eficaz
das atividades, pois implica intencionalidade, definição de um rumo, uma tomada de decisão
diante dos objetivos sociais e políticos de uma escola. A escola, ao cumprir sua função social
influi na formação da personalidade humana e não é possível estruturá-la para o cumprimento
da sua função social, sem levar em consideração objetivos políticos, técnicos e pedagógicos.
Segundo Libâneo (2004) a intencionalidade projeta-se nos objetivos que dão o rumo, a
direção da ação. Na escola, isso leva à busca deliberada, consciente, planejada de integração e
unidade de objetivos e ação, em torno de normas e atitudes comuns.
O gestor responsável pelo espaço educacional, assume posturas profissionais
decorrentes do seu compromisso profissional na dimensão educacional. Essa postura envolve
os aspectos referentes ao contexto da prática escolar, suas experiências pessoais, a influência
das políticas públicas, do entorno onde a escola está inserida, do grupo de profissionais nas
dimensões: pedagógica, técnica e política.
Segundo Wittmann (2004) podemos falar que a gestão escolar possui três aspectos
inalienáveis e interrelacionados: a competência técnica, a liderança na comunidade e o
compromisso público-político, as demais funções da gestão escolar, por mais importantes e
indispensáveis, são adjetivas e complementares.
A dimensão pedagógica envolve a organização do trabalho escolar no que diz respeito
à elaboração do projeto pedagógico, no planejamento anual, nas reuniões pedagógicas, nos
1866
conselhos de classe, na recuperação da aprendizagem dos alunos com menor rendimento
escolar, na organização do tempo e do espaço escolar, no acolhimento às famílias e os alunos,
no índice de aprovação e correção da defasagem idade/aprendizagem.
Lück (2005) relaciona habilidades e conhecimentos em áreas: administrativas;
relacionamento
interpessoal
e pedagógica
elencando
as
principais
habilidades
e
conhecimentos que os profissionais da gestão, precisam refletir de modo que possam liderar
de forma competente uma escola, independentemente do nível de escolaridade que esta
ofereça.
Na área pedagógica a autora sugere:
Compreensão dos fundamentos e bases da ação educacional; Compreensão da
relação entre ações pedagógicas e seus resultados na aprendizagem e formação dos
alunos; Conhecimento sobre organização do currículo e articulação entre seus
componentes e processos; Habilidade de mobilização da equipe escolar para a
promoção dos objetivos educacionais da escola; habilidade de orientação e
feedback ao trabalho pedagógico. (2005, p. 85)
A dimensão ou competência técnica refere-se à organização do trabalho escolar na
dimensão administrativa e financeira. Essa competência requer do gestor conhecimentos para
o gerenciamento de recursos humanos e materiais, na obtenção dos recursos e prestação de
contas dos mesmos, conservação dos materiais e patrimônio público.
Em relação à competência técnica, Wittmann (2004) diz que a gestão demanda
competências específicas. Há conhecimentos, aptidões cognitivas e aptidões atitudinais
requeridas para o exercício da gestão escolar. Para gerir a escola há necessidade de formação
específica.
Lück (2005, p. 84) define para o gestor na área administrativa uma:
Visão de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel da escola na
comunidade; Conhecimento de política e da legislação educacional; Habilidade de
planejamento e compreensão do seu papel na orientação do trabalho conjunto;
Habilidade de manejo e controle do orçamento; habilidade de organização do trabalho
educacional; habilidade de acompanhamento e monitoramento de programas, projetos
e ações; habilidade de avaliação diagnóstica, formativa e somativa; habilidade de
tomar decisões eficazmente; habilidade de resolver problemas criativamente e de
emprego de grande variedade de técnicas.
A dimensão política está associada à participação na gestão e a responsabilidade
individual de cada membro da equipe escolar. O gestor coordena, mobiliza, motiva, lidera,
1867
delega responsabilidades decorrentes das decisões dos membros da equipe escolar, presta
contas e submete à avaliação do grupo o desenvolvimento das decisões tomadas
coletivamente.
Essa dimensão associa-se ao desenvolvimento do trabalho no sentido de buscar
parcerias, articular a comunidade escolar na representatividade dos conselhos escolares, nas
ações que envolvem o trabalho no cotidiano escolar, trazendo a comunidade exterior para o
interior da escola, ou seja, abrir as portas do espaço educacional para que toda a comunidade
possa usufruir e participar das decisões decorrentes daquele ambiente educacional.
O gestor escolar na dimensão política exerce o princípio da autonomia que requer
vínculos mais estreitos com a comunidade educativa, os pais, as entidades e organizações
paralelas à escola. (LIBÂNEO, 2004).
Segundo Libâneo (2004) “autonomia é a faculdade das pessoas de autogovernar-se, de
decidir sobre seu próprio destino”. Autonomia de uma instituição significa ter o poder de
decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente
independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. As escolas
públicas como não são organismos isolados, dependem do sistema central, das políticas e da
gestão pública, possuem uma autonomia relativa, ou seja, a autonomia de uma escola pública
pauta-se no planejamento, na organização, na orientação e o controle de suas atividades
internas estando sujeita a adequação e aplicação das diretrizes gerais que recebem dos níveis
superiores da administração do ensino.
A presença da comunidade na escola, em especial os pais, significa representatividade
e participação nos Conselhos de Escola, Associação de Pais e Professores para a elaboração e
ou reformulação do Projeto Político Pedagógico, acompanhando e avaliando a qualidade dos
serviços prestados.
Contexto da pesquisa
No estudo em questão é imprescindível situar o contexto pois o processo histórico é
contínuo, possui avanços e recuos, mudanças de rumos, idas e vindas. As pessoas fazem parte
deste cenário, da dinamicidade que é fator que impulsiona a vida. Segundo Jodelet (2001)
sempre há necessidade de informar-se sobre o mundo à nossa volta, para ajustar-se a ele,
saber
comportar-se, identificar e resolver os problemas que
apresentam-se. As
1868
representações são sociais e estão ao redor de todas as pessoas e fazem parte do mundo e por
isso existentes na vida de todas as pessoas.
A pesquisa sobre a construção social do conceito de “bom” gestor foi realizada no
município de Blumenau, que localiza-se na região metropolitana do Vale do Itajaí, ao longo
do rio Itajaí-Açu, no Estado de Santa Catarina, na região sul do Brasil. O município foi
fundado em 02 de setembro de 1850, pelo filósofo alemão Dr. Hermann Bruno Otto
Blumenau que obteve do governo Provincial uma área de terras de duas léguas para nela
estabelecer uma colônia agrícola, com imigrantes europeus. (SILVA, 1988).
Segundo os dados do sítio eletrônico: www.furb.br/ips/sigad o município de Blumenau
possui 296 mil habitantes, sendo destes 270 mil residentes na zona urbana e o restante da
população residentes na zona rural. É a terceira cidade mais populosa do Estado, constituindo
como um de seus principais pólos industriais e tecnológicos, com destaque nas áreas de
informática, comércio e indústria. A indústria têxtil é a principal atividade econômica do
município.
Segundo os indicadores demográficos e educacionais divulgados pelo Ministério da
Educação - MEC o município apresenta Índice de Desenvolvimento Humano4 - IDH de 0,86,
Índice de Desenvolvimento Infantil - IDI de 0,77.
A cidade de Blumenau apresenta-se como um dos municípios com o nível de educação
acima da média brasileira. A taxa de analfabetismo é de 0,8 na faixa etária de 10 a 15 anos de
idade e de 2,8 na população de 15 anos ou mais. (http://portal.mec.gov.br).
A taxa de escolarização líquida no ensino fundamental, de acordo com o censo
demográfico de 2000, fonte IBGE, em Blumenau, é de 95,3%. O Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica – IDEB5, da rede municipal apurado em 2005, foi de 4,4 nas séries
iniciais e 3,6 nas séries finais do ensino fundamental; No ano de 2007 o índice apurado nas
séries iniciais foi de 4,8 e nas séries finais 4,3 (www.mec.gov.br).
“O conhecimento só pode ser analisado tendo como contraponto o contexto social em
que emerge, circula e se transforma”. (SPINK, 1994, p.93). Ainda nos apoiando em SPINK
4
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma referência para avaliar o desenvolvimento humano dos
países, utilizando como critérios indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade
(esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
5
O IDEB foi criado pelo Ministério da Educação, no ano de 2007 para aferir a qualidade de ensino das escolas
públicas. O indicador é apresentado numa escala de zero a dez. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo
do país é alcançar a nota 6 até 2022, indicador este, que corresponde à qualidade do ensino em países
desenvolvidos.
1869
(1994, p. 121) “o contexto só nos interessa porque sem ele não poderíamos compreender as
construções que dele emanam e nesse processo o transformam”.
Sujeitos da Pesquisa
Os sujeitos da pesquisa são 41 diretores das Unidades Escolares da Rede Municipal de
Ensino de Blumenau. A rede municipal possui 50 unidades de Educação Básica que atendem
o nível do Ensino Fundamental. Para a realização da pesquisa, o critério utilizado na escolha
dos sujeitos foi às escolas que atendiam as séries iniciais e finais do ensino fundamental.
Os sujeitos participantes da pesquisa são sujeitos sociais inseridos em um contexto
social, partícipes de uma construção histórica, ou seja, das representações sociais do grupo de
pertença e remete à atividade do sujeito na elaboração das representações sociais SPINK
(1994).
O perfil do grupo de gestores que participaram nesse estudo em relação à formação
acadêmica, 18 possui especialização e 23 possuem graduação. A nomeação ao cargo de gestor
na Rede Municipal de Ensino de Blumenau acontece por meio de eleição direta, conforme
prescreve a Lei Eleitoral Municipal específica nº. 5.867 de 19/04/02, alterada em 05/07/07. A
eleição acontece de dois em dois anos com a participação da comunidade escolar e local. A lei
prevê uma recondução. Sendo que vinte e sete estão no seu primeiro mandato e doze no
segundo mandato e dois abstiveram-se da resposta.
Metodologia da Pesquisa
A abordagem metodológica deste estudo é de caráter qualitativo e visa compreender as
representações sociais de um grupo de gestores escolares sobre “bom” gestor. Para que seja
possível o entendimento dessa construção social, a pesquisa utiliza-se do questionário como
instrumento de coleta de dados.
Os resultados encontrados, enriquecidos de novos estudos, podem contribuir para a
compreensão do conceito de “bom” gestor, suas áreas de competências para a área da
educação, bem como servir de possibilidade e sugestão de algumas práticas de mudança para
a formação continuada de gestores escolares.
1870
A categorização dos dados foi feita de acordo com o modelo proposto por Bardin
(1977), organizada em três momentos:1) A pré-análise; 2) A exploração do material; 3) O
tratamento dos dados, a inferência e a interpretação.
O instrumento de coleta de dados e categorização
Como instrumento de pesquisa foi utilizado um questionário para a coleta de dados,
cujas questões foram elaboradas com base na técnica da associação livre e hierarquizada dos
ítens (BARDIN, 1977). A técnica da associação livre consiste em apresentar ao sujeito uma
frase, ou palavra indutora, e solicitar que ele produza outras palavras relacionadas, depois
justifique sua produção (ALMEIDA e COSTA, 1999, p.272).
O questionário é composto de 14 questões e apresenta-se subdividido em três núcleos.
As primeiras 07 questões identificam o perfil dos gestores, sujeitos da pesquisa. O segundo
núcleo busca entendimento dos gestores à respeito da formação continuada e o terceiro e
último núcleo são as questões que fundamentam o presente artigo, pois busca identificar nas
palavras hierarquizadas mais relevantes, as dimensões, ou seja, as competências de gestão,
indicadas pelos gestores.
Os gestores definindo as competências de gestão
Os sujeitos da pesquisa no preenchimento do questionário que visava sobre a
construção social do conceito de “bom” gestor, destacaram quatro palavras relevantes. Estas
por sua vez, foram categorizadas por dimensões de ações; técnica, pedagógica e política. Para
Bardin (1977) a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de
um conjunto, por diferenciação e, por reagrupamento segundo o gênero, semelhança, com os
critérios previamente definidos.
A dimensão técnica é tomada como referência na compreensão das rotinas escolares
no que se refere ao gerenciamento de recursos humanos e materiais, conservação dos
materiais e do patrimônio público, enfim toda a rede de relações que permeiam o cotidiano da
instituição escolar. As palavras que formam essa dimensão e que expressam a competência
técnica dos gestores, mais evocadas formam a categoria: Gerenciamento. O gestor, na
dimensão técnica, gerencia, coordena e organiza todas as atividades da escola, atendendo às
1871
leis, regulamentos e determinações dos órgãos superiores do sistema de ensino e às decisões
no âmbito da escola assumidas pela equipe escolar e pela comunidade (LIBÂNEO, 2004).
A dimensão política é vista como parâmetro na habilidade de se comunicar
eficazmente, de mobilizar a comunidade escolar e local, desenvolver e motivar a equipe,
negociar e resolver conflitos, avaliar e dar opinião construtiva aos trabalhos dos outros. Para
FERREIRA (2000) a participação é sempre uma participação política, pois envolve interesses
e organização da sociedade, que associada à formação da qualidade, vai possibilitar o
exercício da cidadania.
As palavras que foram destacadas pelos gestores, que serviram de análise para agrupálas na dimensão política, formam a categoria liderança. Como uma sub-categoria das palavras
surgiu: democrático. O último núcleo da dimensão política apresentada pelos sujeitos da
pesquisa é humanista. Os gestores quando apontam as palavras que foram aglutinadas na
categoria humanista apresentam uma preocupação com as pessoas ao seu redor, no sentido de
serem mais humanos e criarem um ambiente acolhedor e mais justo no espaço escolar.
A dimensão política por ser constituída de várias palavras evocadas dos sujeitos fez-se
necessário criar núcleos de sentidos. Para Bardin (1977) fazer uma análise temática, consiste
em descobrir os “núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja presença, ou
freqüência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.
A dimensão pedagógica sendo também uma competência da gestão escolar, não
menos importante que as anteriores, porém todas interligadas e na prática indissociáveis, está
diretamente ligada à finalidade da escola. As palavras que foram evocadas pelos sujeitos que
integram a dimensão pedagógica e que formam a categoria do Projeto Político Pedagógico.
O projeto político pedagógico engloba e norteia todas as ações da escola, perpassando
pelo mesmo a concepção que a escola possui sobre as palavras mencionadas pelos gestores. O
Projeto Político Pedagógico é a sistematização nunca definida, de um processo de
planejamento
participativo,
que
é
aperfeiçoado
e
concretizado
na
caminhada.
(VASCONCELLOS, 1995).
Assim, as competências dos gestores evocadas pelos sujeitos constituem a gestão da
escola. A combinação, o balanceamento e as expressões das mesmas, no cotidiano da escola
dependem do perfil de cada gestor e da realidade de cada escola.
1872
Considerações Finais
Este artigo buscou discutir a função de gestão escolar sob o novo enfoque, permeado
pela Teoria das Representações Sociais, onde o gestor passa a atuar mais comprometido com
os destinos da instituição escolar, co-responsabilizando os parceiros no fazer pedagógico.
O gestor escolar no desempenho da sua função, assume posturas profissionais que
decorrem do seu perfil profissional e da influência de políticas públicas, do entorno onde a
escola está inserida, do grupo de profissionais que compõem o quadro funcional, apresentadas
nas dimensões: pedagógica, técnica e política. As referidas dimensões entendidas como
competências dos gestores estão interligadas e no cotidiano da ação indissociáveis para a
concretização dos objetivos educacionais da Escola.
Na representação social do grupo de gestores escolares sobre “bom” gestor, a partir da
categorização das palavras mais relevantes indicadas pelo grupo e aglutinadas conforme os
sentidos sobressalentes são categorizadas três dimensões: técnica, política e pedagógica como
competências intrínsecas no desempenho de suas funções.
A atuação do gestor na dimensão técnica amplia as suas responsabilidades para gerir a
complexidade da escola atual. Competência técnica no sentido de ser um conhecedor da
legislação educacional, da origem dos recursos financeiros, bem como a prestação de contas
dos mesmos, das atribuições do sistema de ensino e da escola. A categoria que formou essa
dimensão foi representada pela palavra gerenciamento.
Na dimensão política sua atuação está vinculada à pertinência e relevância do que
executa na escola. O significado social, político e histórico da aprendizagem é que faz com
que a proposta educativa da escola seja um projeto político, além de pedagógico.
(WITTMANN, 2004). As palavras liderança, democrático e humanista constituem a
dimensão política, onde a ação dos sujeitos pesquisados está mais focada.
Encerrando a discussão a dimensão pedagógica é definida pelos gestores pela palavra:
Projeto Político Pedagógico, onde o mesmo engloba e norteia todas as ações da escola, sendo
este, liderado pelo gestor e construído por todo o coletivo de educadores.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ângela Maria de Oliveira; COSTA, Wilse Arena da. Teoria das representações
sociais: uma abordagem alternativa para se compreender o comportamento cotidiano dos
1873
indivíduos e dos grupos sociais. Rev. Educ. Pública. Cuiabá, v. 8, n.13, p.250-280,
jan./jun.1999.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução de Luis Antero Reto e Augusto
Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977.
BRASIL. Constituição, 1988. Constituição Federal, São Paulo: Lex, 1988.
______. Lei nº. 9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1996.
DOTTA, Leanete Teresinha Thomas. Representações sociais do ser professor. Campinas,
SP: Editora Alínea, 2006.
FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Gestão Democrática da Educação para uma Formação
Humana: conceitos e possibilidades. Em Aberto, Brasília, v. 17, n.72, p.167-177, fev./jun.
2000.
JODELET, Denise. (Org.) As Representações Sociais. Tradução: Lílian Ulup. Editora Uerj.
Rio de Janeiro. 2001.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5 ed. Revista e
ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
_____, Heloísa... [et al.]. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2005.
_____, Heloísa. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2006. Série: Cadernos de Gestão.
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2ª ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr.
Blumenau”, 1988.
SOUZA, Ângelo Ricardo de. A produção do conhecimento e o ensino da gestão educacional
no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. V. 24, n.1, p.5160, jan./abr. 2008.
SPINK, Mary Jane. Desvendando as teorias implícitas: uma metodologia de análise das
representações sociais. In: GUARESCHI, Pedrinho e JOVCHELOVITCH, Sandra. (Orgs).
Textos em Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1994.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto
educativo. São Paulo: Libertad, 1995.
WITTMANN, Lauro Carlos. Práticas em gestão escolar. Curitiba: IBPEX, 2004.
Download

GESTÃO ESCOLAR E SUAS COMPETÊNCIAS: UM