A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS AO LONGO DAS TRÊS
DÉCADAS E MEIA DO CENTRO DE CULTURA NEGRAS DO MARANHÃO.
*Josanira Rosa Santos da Luz
Ao longo dessas três décadas e meia de existência, o CCN tem tido uma trajetória de
conquistas no que diz respeito à luta pela garantia dos direitos dos afrodescendentes do
estado do Maranhão. Entidade pioneira do movimento negro maranhense priorizou em
sua frente de trabalho a educação, a formação política, a luta pela terra das comunidades
negras rurais.
Nessa trajetória, vale ressaltar a força e a garra das mulheres negras, que pelo CCN
passaram e contribuíram com sua luta, no resgate da história do povo negro, no
enfrentamento ao racismo, aos preconceitos e às desigualdades de gênero e etnia no
Maranhão e no Brasil. Assim, destacamos a jornalista e fundadora do CCN, Mundinha
Araújo, a psicóloga Paula Baltazar, fundadora do Grupo de Mulheres Negras Mãe
Andresa, a assistente social Sílvia Leite, dentre outras, mulheres negras que sem
vergonha de se assumirem, foram as primeiras negras, no estado, a usar seus cabelos no
estilo black power, roupas coloridas. Mundinha Araújo também se destaca na Literatura
Negra, autora do livro “Negro Cosme: Tutor das liberdades bentivis”.
Ao se falar da religião de matriz africana, um nome não pode-se deixar de mencionar, o
da saudosa professora e historiadora Maria do Rosário Carvalho, que também
contribuiu nos alicerces da formação política e da identidade negra dentro do CCN.
Pesquisadora perserverante, publicou vários artigos, e os livros “Boboromina e
Caminho das Matriarcas”, onde relata a participação das mulheres da dinastia Jêje da
Casa das Minas, como Mãe Andresa, e Mãe Dudu, da Casa de Nagô.
Na dança, além do gigante negro, o Bloco Afro Akomabu ( que significa a cultura não
deve morrer), fundado em 1985, destaca-se a criação do Grupo de Dança Afro Abanjá (
na luta agora já), pela militante e ativista Ana Silvia Cantanhede, falecida há quase 13
anos, e que conseguiu, através do incentivo à dança, promover o resgate da identidade e
da autoestima do povo negro, e também ao lançar o penteado chamado Abanjá (o cabelo
crespo amarrado no alto da cabeça em um coque elegantemente afro). Através da dança,
Sílvia Cantanhede pode resgatar muitos jovens da periferia que viviam sob a
vulnerabilidade social em área de risco, e que hoje são referências no Estado, na área de
dança, percussão e da música.
Em 1986, um grupo de mulheres do Centro de Cultura Negra entre Sílvia, Paula, Lúcia
Dutra, Concita Cantanhede, Lucia Pacheco, Marinilde Martins, e outras, fundam o
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, com a missão de incentivar e fortalecer a
organização e o protagonismo das mulheres negras, por meio da formação políticosocial.
Destaca-se também nessa trajetória a criação do Cursinho Pré-Vestibular “Negros em
Ação”, em 1994. O cursinho funcionava nas dependências da sede do CCN, e nasceu de
uma proposta da militante e ativista da entidade, Josanira Rosa Santos da Luz, que
assina esse artigo, com o apoio das também ativistas, Soraya Avelar, Ana Clara, Eloisa
Monteiro, dentre outras, que estas representam. O “Negros em Ação” contribuiu de
maneira significativa para o ingresso de vários jovens negros e não negros ao Ensino
Superior e a outros tantos despertou a vontade de galgar o 3º grau.
A partir de todas essas conquistas históricas, considera-se a trajetória política das
mulheres negras pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão, positiva, sólida e
multiplicadora, por ter conseguido de muitas formas promover alianças na luta pela
afirmação positiva dos afrodescendentes no Maranhão.
*Josanira Rosa Santos da Luz
Bacharel em Administração.
Militante ativista do Centro de Cultura Negra , desde 1984.
Coordenadora do Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa.
Membro do Comitê Gestor da Rede de Mulheres Negras do Nordeste.
Membro do Conselho Municipal da Condição Feminina .
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