Câmara de Lisboa baseia-se em números errados
para encerrar trânsito na Baixa
A apresentação do plano de mobilidade da baixa lisboeta feita ontem pelo presidente da
Câmara de Lisboa, António Costa, e pelo vereador Manuel Salgado não acrescentou nenhuma
novidade, expôs as fraquezas deste plano e revelou-se demagoga.
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Nos mapas apresentados pela dupla camarária não se consegue aceder à colina do
Castelo a não ser pelo Rossio e Martim Moniz e nada é dito como se acede a este
colina para quem vem do lado do rio. É claro que é possível, só que isso obriga a
voltas pelo Chiado e Rua da Madalena, que obviamente não interessa mostrar.
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Também foi referido que o serviço de transportes públicos vai melhorar (mais paragens
e mais velocidade) mas na prática ainda os afastam mais da frente edificada onde
estão os utentes.
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Para a CML a segurança dos peões vai aumentar com o alargamento dos passeios em
algumas ruas, mas esqueceram-se de mencionar que os passeios da rua da Alfândega
vão ser reduzidos em 1 metro…a não ser que também aí esteja planeado a supressão
da circulação automóvel.
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O número de 5.500 veículos que a CML afirma circularem no Terreiro do Paço em hora
de ponta é fantasioso. A Baixa só é atravessada por 2.700 veículos em ambos os
sentidos, o que corresponde à soma dos veículos que passam nas Ruas do Ouro,
Prata, Madalena e Fanqueiros. Se somarmos os que passam na Praça do Comércio
junto ao rio (3.700 em ambos os sentidos) obteremos 6.400, mas estes últimos não são
tidos em conta pois a proposta da CML permite que eles continuem a circular nessa
zona. O valor de 2.700 veículos é o máximo que foi contado desde 2002 a 2008,
independentemente da hora de ponta considerada.
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Na ponte Vasco da Gama não passam 5.500 carros como a CML fez crer quando
comparou o número de veículos que circulam nesta ponte com os que passam no
Terreiro do Paço. De acordo com as últimas contagens disponíveis - apresentadas no
âmbito dos estudos da ponte proposta para Chelas/Barreiro -, esse valor andará na
ordem dos 4500 veículos, nos dois sentidos da ponte na hora mais carregada. Isto é, a
CML distorce os dados estatísticos para induzir as pessoas em erro: aumenta os
valores do tráfego na Baixa e na ponte Vasco da Gama para fazer parecer que a Baixa
é uma auto-estrada.
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O valor amplamente divulgado pela CML que 70 % do tráfego do Terreiro do Paço é de
atravessamento é uma ficção. O próprio estudo encomendado pelo gabinete do
vereador Manuel Salgado ao TIS, presidido pelo Professor Catedrático de Transportes
no Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, reconhece o facto.
Basta ler o parágrafo que refere o facto de esse valor só respeitar aos movimentos que
não têm origem e destino no interior do perímetro delimitado pelos Restauradores,
Campo das Cebolas, Corpo Santo/Cais do Sodré e Martim Moniz. Como refere o
estudo da Parque Expo, e o próprio estudo do TIS, basta considerar um perímetro mais
alargado entre Santa Apolónia e Santos, até ao meio da Av. da Liberdade (Praça da
Alegria) para os 70 % se reduzirem em 35 a 40 %. Continuar a insistir no erro é
incompreensível.
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Seria interessante que a CML mostrasse quais são os itinerários alternativos para este
tráfego do perímetro mais alargado e que se dirige para o Chiado e para a encosta do
Castelo.
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Quanto à questão da qualidade do ar e do nível de ruído quando a Baixa for um
deserto, o silêncio será permanente e o ar puríssimo…
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