SISTEMATIZAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO
BUENO, Marlene Giehl – PUCPR
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KINTOP, Ana Cristina – PUCPR
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MAMED, Pamella Franco de Souza – PUCPR
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ZURLO, Bruna Thereza Cristina Paz de Barros – PUCPR
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WINKELER, Maria Silvia Bacila – PUCPR
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Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora Bolsa PIBID - CAPES
Resumo
Investigamos boas práticas pedagógicas de alfabetização, constituídas dentro de uma Escola
Estadual, cujo IDEB atingiu a meta estipulado pelo governo para 2021, com objetivo de
sistematizar boas práticas pedagógicas de alfabetização, relacionando as teorias aprendidas na
graduação com as vivências da prática profissional de ser professor, registrando assim, novas
possibilidades didáticas mais articuladas com as necessidades dos alunos presentes na escola
hoje. A pesquisa toma como objeto de estudo as práticas pedagógicas de duas professoras de
reforço, uma professora do segundo ano do Ensino Fundamental, uma professora do terceiro
ano do Ensino Fundamental, uma diretora, duas pedagogas e uma auxiliar pedagógica. A
metodologia de pesquisa é de abordagem qualitativa. A coleta de dados se fez por meio de
observação participante. O estudo desenvolveu-se numa Escola Estadual, localizada no
município de Curitiba. Como aporte teórico utilizamos as reflexões desenvolvidas por
Carvalho (2005); Freire, Gadotti e Guimarães (1989); Luck (1996); Menegolla e Sant’Ana
(1991); Moran (2007). O estudo revelou que: 1) A Escola Estadual Ângelo Trevisan adota
efetivamente o modelo de gestão democrático; 2) Observamos que para ser uma Professora
bem-sucedida, além de uma boa formação, é fundamental ser um profissional que tenha uma
boa expectativa com relação aos seus alunos, mediando o conhecimento para que os alunos
encontrem significado; 4) O compromisso e as boas práticas no reforço estão relacionados
com o compromisso que a equipe tem em não deixar lacunas no aprendizado; 5) Os projetos
educacionais surgem a partir das necessidades reais da escola e das brincadeiras das crianças;
6) A prática alfabetizadora da professora se remete a metodologia da base lingüística ou
psicolingüística; 7) Concluímos que não existe nada tão diferente na metodologia dessa
escola, o que existe é uma direção comprometida, onde cada um realiza seu trabalho com
responsabilidade e competência.
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Palavras-chave: alfabetização; aprendizado; práticas pedagógicas.
Introdução
O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência) PUCPR 2010/2012 nos deu a oportunidade de participar da vida escolar da Escola Estadual Ângelo
Trevisan, nos envolvendo em um projeto de pesquisa de grande valia para nossa formação,
por estarmos inseridas em uma escola que é referência no ensino, onde a disciplina e o
comprometimento com o aprendizado contribuíram para uma educação de qualidade.
Entendemos que a educação faz parte de um processo que se inicia na família e tem
continuidade ao longo da vida das pessoas.
A escola tem papel fundamental no
desenvolvimento da criança no que se refere ao seu intelecto, podendo contribuir para que a
boa educação permaneça e se estabeleça de forma positiva.
Para tanto, investigamos boas práticas de alfabetização, construídas dentro dessa Escola
Estadual com um significativo diferencial. Seu Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica), observado em 2009, foi de 6.6. A Escola Estadual Ângelo Trevisan pertence à rede
estadual de ensino e já conseguiu atingir a meta estipulada pelo governo federal para 2021,
que segundo as projeções, será de 7.7.
Objetivo Geral
Verificar como se constituiu as práticas de alfabetização de uma Escola Estadual cujo
Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) atingiu a meta estipulado pelo governo
para 2021.
Objetivos específicos
a) Observar e descrever as práticas da gestão;
b) Verificar e descrever como uma professora alfabetizadora, considerada bemsucedida, constrói sua prática no cotidiano da sala de aula;
c) Observar e descrever boas práticas pedagógicas de alfabetização, utilizadas pelo
grupo de reforço nas dificuldades de aprendizagem na etapa da alfabetização;
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d) Verificar e descrever como os projetos (Literatura Infantil, Mensagens Ler e
Pensar, Coquetel na Escola Ediouro) influenciam na aprendizagem da alfabetização dos
alunos.
Metodologia
Essa pesquisa se desenvolveu, através de um estudo de abordagem qualitativa,
utilizando para a coleta de dados a observação das práticas pedagógicas de alfabetização,
sendo o problema que orienta essa investigação: Como se constitui as práticas de
alfabetização de uma Escola Estadual cujo Ideb (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica) atingiu a meta estipulado pelo governo para 2021, e; como se dá a
reflexão sobre esta prática no ensino fundamental e na formação de professores?
Os sujeitos dessa pesquisa foram: duas professoras de reforço, uma professora do
segundo ano do Ensino Fundamental, uma professora do terceiro ano do Ensino fundamental,
uma diretora, duas Pedagogas e uma auxiliar pedagógica. Observamos as práticas
pedagógicas alfabetizadoras desse grupo, de agosto de 2010 à Junho de 2011, em duas visitas
semanais no período da tarde.
Desenvolvemos nossas reflexões baseadas nas leituras descritas a seguir: LUCK,
Heloísa. Ação integrada: administração, supervisão e orientação educacional. Petrópolis:
Vozes, 1996. A leitura dessa obra foi destinada aos acadêmicos do curso de Pedagogia e aos
profissionais que direta ou indiretamente compõe o eixo administrativo em uma escola. O
autor traz o papel de cada profissional no processo educativo e de que forma essa integração
pode facilitar o processo de aprendizagem. Essa leitura nos ajudou a compreender o papel de
cada profissional dentro da escola.
A obra de MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e
como chegar lá. São Paulo: Papirus, 2007, colaborou para nossa reflexão sobre o assunto, pois
o objetivo dessa obra é uma comparação entre a educação atual e a educação que almejamos.
O capítulo 3 mostra que o mais importante como educadores é acreditarmos no potencial de
aprendizagem pessoal, ao mesmo tempo em que aceitamos nossos limites, precisamos
aprender a ser educadores e entender que ensinar tem momentos glamorosos, mas muitos
outros são banais, assim a tentação da mediocridade é real, os anos vão passando e o professor
sem perceber se acomodou. O autor traz a trajetória de questões que costumam aparecer na
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experiência de muitos professores, mostrando que diante das crises muitos desistem, ou se
acomodam e outros buscam novos caminhos, melhorando e realizando-se.
A obra de MENEGOLLA, Maximiliano e SANT’ANA, Ilza Martins. Didática:
Aprender a ensinar. São Paulo: Edições Loyola, 1991, abrange todo um contexto sobre a
didática e a educação, a didática e a pedagogia, métodos de ensino, técnicas individualizantes
entre outros, que fazem parte do nosso dia a dia.
Na obra de FREIRE, P. GADOTTI, M. GUIMARÃES, S. Pedagogia: Diálogo e
Conflito. São Paulo: Cortez, 1989, verificamos a perspectiva de três educadores no do Brasil e
exterior respondendo a perguntas sobre a evolução da Educação do nosso país. Através das
inquietações lançadas em forma de perguntas, muitas reflexões são feitas apoiadas pelo
sentido da democracia e pelo socialismo. No capítulo V os autores procuram mostrar a
relação entre a Educação e a Cultura, os problemas relacionados ao setor tecnológico que
consequentemente envolve a tarefa de educar por esses meios, ou seja, com o uso da
Informática, e a relação entre a teoria e a prática. Também se perguntam como fazer acontecer
um ensino mais crítico e voltado para a sociedade. O livro termina com considerações a
respeito dos termos Pedagogia do Conflito e do Oprimido. Considerações e reflexões do livro
que são essenciais para os educadores e aqueles interessados em uma educação para todos e
com mais qualidade.
E por fim, CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a
prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, nos capacitou, a entendermos as diferenças entre os
métodos de alfabetização, analisando assim a prática da professora alfabetizadora.
Da investigação acerca deste processo, aprendemos como se deu a ação de boas
práticas pedagógicas de alfabetização, cuja trajetória percorrida nos oportunizou conhecer a
realidade de uma Escola Estadual de Ensino Fundamental que consideramos modelo de
educação.
Resultados
A coleta de dados foi organizada da seguinte maneira: descrição de boas práticas de
gestão de uma Escola Estadual de Ensino Fundamental, descrição de boas práticas de
alfabetização de uma professora regente da segunda série, descrição de boas práticas de
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reforço de duas professoras alfabetizadoras, e, descrição de como os projetos auxiliam nas
boas práticas de alfabetização.
Sistematização das boas práticas de gestão da Escola Estadual Ângelo Trevisan
As práticas de gestão observadas na Escola Estadual Ângelo Trevisan resultam de
uma administração educacional democrática, que prioriza a organização, acreditando ser esta
a maneira, para tornar-se referência no ensino fundamental com caráter de um centro de
excelência na melhoria da qualidade de ensino.
Segundo LUCK (1991, p. 7):
O clima emocional de trabalho, o estabelecimento de prioridades de ação, o tipo de
relacionamento professores-professores, professores-alunos, escola-comunidade,
dentre outros aspectos importantes da vida escolar, dependem, sobremaneira, da
atuação dos elementos que ocupam aquela posição.
A posição que o autor se refere está relacionada à gestão, e neste quesito a Escola
Estadual Ângelo Trevisan, sem dúvida é o norte que conduz a escola a ser uma referência no
Município de Curitiba. A gestão nessa escola prioriza o acompanhamento de todos os
processos no estabelecimento, de uma maneira democrática onde todos participam, são
exemplos de compromisso com o processo, onde a coordenação pedagógica se apropria de
todos os acontecimentos na escola como: cobrança de faltas, tarefas, uniforme, as agendas são
rigorosamente assinaladas diariamente, pontualidade com horários - seja de alunos,
professores ou equipe-pedagógica.
A equipe pedagógica se encontra presente em sala de aula tanto auxiliando, quanto
monitorando, e, exigindo qualidade de seus professores. Existe uma parceria entre equipepedagógica e os professores que refletem em um melhor rendimento escolar. Esta parceria se
dá através de muita amizade, cada um realizando seu trabalho com responsabilidade e
competência.
O horário de permanência dos professores é usado visando um momento de pesquisa,
de organização, de comprometimento e também, como um horário disponível na escola para
troca de idéias e experiências.
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A escola também tem desenvolvido e aplicado com propriedade um sistema de autoavaliação de trabalho, que está auxiliando na implementação do Projeto Político Pedagógico.
Essa instituição conta com participação constante e presente da APMF, que exerce
uma grande liderança que junto à Direção, se encarregam de prover e gerir recursos
financeiros, de aplicar e prestar contas dos mesmos, visando suprir a escola em suas
necessidades fundamentais. A participação da comunidade na escola é muito grande, a
comunidade interage com a escola promovendo um ensino de qualidade.
As famílias dos alunos da Escola Estadual Ângelo Trevisan participam de encontros
pedagógicos, eventos e de decisões estratégicas. São responsáveis pelas festas, mas também,
e, principalmente são responsáveis em ajudar a decidir as questões pedagógicas. Com as
festas a escola consegue melhorar os recursos para adquirir equipamentos e os reparos na
estrutura física.
A gestão dessa escola prioriza valores como: generosidade, transparência, honestidade,
comprometimento, além de outras, cujo exercício diário e constante favorece a construção de
um ambiente saudável e aprazível, motivador e entusiasmado. Também se incentiva o diálogo
e o elogio como formas de se estabelecer atitudes construtivas, evitando-se a crítica pela
crítica, a reclamação e todo comportamento negativo e destrutivo.
Não resta dúvida que a eficiência da Escola em todos os seus aspectos é resultante do
atual modelo de gestão, que possibilita o envolvimento e participação de todos nos processos
pedagógicos, propiciando o desabrochar da inteligência coletiva e das capacidades
individuais.
Boas práticas de Ensino de uma Professora Alfabetizadora
A partir das experiências vivenciadas nesse programa observamos que o papel do
professor é desequilibrar, ser pesquisador investigar a realidade. A teoria só adquiriu
significado quando vivenciamos problemas originados da prática, observando a resolução dos
mesmos e seus resultados efetivamente.
A Professora observada foi a Regente da 2ª série do Ensino Fundamental, que mostrou
buscar práticas pedagógicas que fogem do modelo imposto, uma professora reflexiva.
Essa professora a princípio utilizou como norte de suas ações em sala, o aluno como
foco principal, mas percebemos em sua prática uma nova direção, seu foco tornou-se a
interação dos sujeitos com a realidade.
14105
A direção dessa escola auxilia essa professora informando todas as diretrizes adotadas
pela escola e todos os documentos que necessariamente nortearão sua prática pedagógica. A
professora possui atendimento individual pela equipe pedagógica e recebe uma agenda com
todas as informações sobre o decorrer do ano letivo.
A Professora mostrou-se contra o currículo linear e confessa que se sente desmotivada
com o fato da imposição dos temas, ela gosta de integrar os conteúdos sempre em pauta com
os problemas e curiosidades levantados pelas crianças.
Com relação a sua prática alfabetizadora, observamos vários trabalhos, os mais
significativos foram: 1) Atividade com rótulos de produtos: as crianças trouxeram rótulos de
casa e discutiram a finalidade do produto e suas informações nutricionais; 2) O alfabeto: a
professora não tinha na sala um alfabeto pronto, como encontramos na maioria das turmas de
alfabetização, esse alfabeto foi construído com a turma, elegendo 4 objetos para cada letra do
alfabeto, alguns trouxeram rótulos, figuras, outros o próprio objeto, as crianças ficaram muito
atentas e participativas. 3) A caixa surpresa: tinha vários textos diferenciados, como bulas de
remédios, cartas, rótulos de objetos, receitas, textos informativos de saúde, jornal, convite de
aniversário, etc. A professora discutia data, o tipo da letra, a finalidade e diversas informações
que haviam nos textos, etc. 4) O supermercado: A professora trouxe uma caixa enorme com
várias embalagens vazias e mandou as crianças às compras, ela fez uma lista de compras com
cada um na sala depois, todos foram ao supermercados de brincadeira, essa atividade integrou
alfabetização e conteúdos matemáticos. Também presenciamos outras atividades que não
estão relacionadas à alfabetização, mas que contribuíram muito com a nossa prática
profissional.
Analisadas a luz da teoria percebemos que essa professora respeita o interesse das
crianças, sendo ponto de partida a realidade, o que torna as atividades significativas.
Colaborando com isso Carvalho (2005, p. 32) sintetiza que:
Conhecer e respeitar as necessidades e interesses da criança; a partir da realidade do
aluno e estabelecer relações entre a escola e a vida social são diretrizes do
pensamento escolanovista. Métodos ativos – aprender fazendo -, liberdade para criar
e participação da criança no planejamento do ensino são algumas das estratégias
recomendadas.
A partir de nossas observações, percebemos que a professora se utiliza dos métodos
globais de alfabetização, ou seja, aprender a ler a partir de histórias ou orações. Dentre os
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métodos globais, mais precisamente a prática da professora se remete a metodologia da base
lingüística ou psicolingüística.
Carvalho (2005, p. 40) explica como aplicar esse método:
A aplicação do método é dividida em unidades didáticas. Uma unidade é um
conjunto integrado que começa pela criação de um clima propício à expressão
verbal, prosseguindo pela escolha das frases, das palavras-chave e de estratégias
para o reconhecimento das relações entre sons e letras. Concluída uma unidade,
outra começa, com novas orações e outras palavras-chaves.
As etapas podem ser assim destacadas: 1) Produção do tema, a partir de situações
criadas pela professora, ou surgidas do cotidiano; 2) Seleção das frases e palavras-chave; 3)
Escrita de frases selecionadas, usando-se a letra script ou bastão; 4) Leitura natural e fluente
das frases; 5) Análise da frase como um todo, por meio de operações sintáticas orais; 6)
Reconhecimento das palavras-chave em outro contexto; 7) Descoberta de semelhanças e
diferenças gráficas e auditivas, entre as palavras; 8) Formação de palavras novas, pela
recomposição de sílabas e fonemas das palavras-chave; 9) Produção oral e escrita de novas
frases (Carvalho 2005, p 40-41).
Após visualização de sua prática percebemos que é bem-sucedida por sua preocupação
em ser transparente, ética, demonstrando sempre atitudes dignificantes, autônoma e uma boa
expectativa com relação aos seus alunos. Colaborando com isso Moran (2007, p. 79) afirma
que:
[...] Os professores de sucesso não se preparam para o fracasso, mas para o êxito em
seus cursos. Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com os alunos e
para isso os aceitam afetivamente antes de os conhecerem, predispõem-se a gostar
deles antes de começar um novo curso. [...].
As práticas dessa professora resumiram-se em: 1º) Colocar-se no lugar dos alunos para
compreender quais são suas dificuldades; 2º) Pesquisar sobre essas dificuldades; 3º) Buscar
estimulá-los com atividades significativas, fazendo relação entre a atividade e a realidade.
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Dinâmica do Reforço Paralelo de recuperação na Etapa Alfabetizadora
Algumas crianças possuem um aprendizado mais lento, o que remete maior atenção e
cuidado para que elas possam compartilhar das mesmas possibilidades, que se sintam
valorizadas, e que no futuro não apresentem lacunas em seus aprendizados.
Nas palavras dos autores MENEGOLLA e SANT’ANA (1991, p. 32 -33) entendemos
as ações que o professor deve tomar em relação ao seu ato pedagógico, vivenciando na
prática essa teoria:
Toda a ação educativa visa sempre propósitos definidos. Qualquer atividade deve ser
dirigida e orientada em função daquilo que se quer alcançar. As ações, docente e
discente devem agir em função dos objetivos que devem ser alcançados
Toda ação didática deve estar diretamente relacionada com os objetivos, e a
eficiência da ação educativa vai depender do conhecimento e da plena
conscientização que as pessoas envolvidas no processo educativo têm dos objetivos
propostos. Tudo está diretamente ligado aos objetivos. O primeiro passo a ser dado
na ação educativa é a definição dos resultados e propósitos que se quer alcançar. A
eficiência da ação educativa que se processa no ambiente escolar depende da
definição de metas. Daí a importância da conscientização do pessoal com relação
aos objetivos.
Após as observações em sala de aula, passamos a observar a dinâmica da sala de
reforço, onde as crianças em recuperação estão cadastradas, contendo ainda informações
sobre suas dificuldades, o que deve ser ensinado ou reforçado.
A partir desse procedimento as crianças são convidadas a comparecer ao reforço,
recebem um caderno especificamente para essa finalidade, onde realizam as atividades. Os
exercícios são passados para serem resolvidos por elas.
Pouco a pouco e didaticamente as crianças recebem as orientações de como resolver
os exercícios e chegar ao aprendizado, utilizando-se de materiais adequados que incentivam e
abrem oportunidades de reflexão.
A didática se faz necessária para conduzir os alunos da melhor forma, para atingirem
os objetivos de aprendizagem com tranqüilidade, o que favorece a motivação para aprender.
É gratificante poder sentir a felicidade de uma criança que aprende algo que não
conseguia.
Segundo a professora do 2º ano, as crianças retornam do reforço, confiantes sentindose capazes e valorizadas para prosseguir com as atividades escolares.
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A estratégia dos projetos como recurso na alfabetização e letramento
A Escola Estadual Ângelo Trevisan apresenta um diferencial significativo em sua
metodologia de alfabetização e letramento, que é o trabalho com projetos nas séries iniciais.
Para Gadotti (apud Veiga, 2001, p. 18):
[...] Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se,
atravessar um período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto
educativo pode ser tomado como promessa frente determinadas rupturas.
Neste sentido a escola considera que o trabalho com projetos educacionais propiciam
para os alunos um diferencial em sua aprendizagem de leitura e escrita. Para os professores é
uma forma de tornar sua prática em sala de aula mais dinâmica, onde pode se aliar o conteúdo
a ser estudado, ao meio relacional e a aprendizagem significativa.
Como objetivos para a realização do trabalho com projetos a escola busca: ampliar a
visão de mundo dos alunos ampliando a vivencia de emoções, o exercício da fantasia e da
imaginação, expandir o uso da língua oral e escrita, utilizar diferentes formas de registros,
conhecer e respeitar as diferenças do Português falado, compreender os textos orais e escritos,
valorizar a leitura e valer-se da linguagem para melhorar as relações pessoais.
Os projetos investigados nesse processo de alfabetização e letramento são: Literatura
Infantil: a escola partiu da idéia de aproximar e facilitar o contato das crianças com os livros.
Optou-se pela forma mais acessível e praticamente sem custos. Uma caixa de madeira com
livros do acervo da escola e mais as doações dos alunos constituem uma espécie de biblioteca
em cada sala de aula. As crianças são incentivadas para semanalmente, levarem um volume
para ser lido em casa com a ajuda e participação dos pais ou outro familiar. Caso deseje, pode
levar mais de um volume, desde que se comprometa a ler todos na semana. Semestralmente é
feito um rodízio das caixas de livros entre as turmas, sempre observando se o nível dos
alunos, para oferecer títulos novos e manter o interesse pela leitura. A avaliação é feita através
de Fichas de Leitura adaptadas a cada nível que são preenchidas pela criança após a leitura do
livro. A professora avalia a leitura e a compreensão do texto através de perguntas orais
referentes às respostas dadas na Ficha.
14109
Projeto Mensagens Ler e Pensar: apóia seu desenvolvimento na Lei de Diretrizes e
Base (LDB - Lei 9394/96, Art. 10, parágrafo 1) que diz: “... a educação escolar deverá
vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social."
Para seu desenvolvimento o professor através do jornal apresenta as notícias
(informação), sob diferentes pontos de vista, valorizando a interpretação, oferecendo
propostas didáticas que possam ser trabalhadas simultaneamente por professores de todas as
áreas do conhecimento, tendo como referência as notícias veiculadas na Gazeta do Povo. Para
a avaliação busca-se a partir do trabalho com o jornal observar mudanças significativas no
comportamento das crianças. Os alunos podem apresentar melhora nas notas e conceitos, nas
diferentes disciplinas, podem aprimorar bastante as habilidades de leitura, escrita e
interpretação ao longo do processo de aprendizagem.
Projeto Coquetel na Escola Ediouro: O programa Coquetel nas Escolas, criado na
Bienal do Livro em 2001 representa um sucesso em todo o país. É um programa aprovado
pelo MEC e utilizado por mais de 10.000 escolas, com a finalidade de aumentar o rendimento
dos alunos em sala de aula. Este projeto oferece a um preço pequeno para as despesas do
correio, revistas de palavras-cruzadas e passatempos para as escolas públicas e particulares de
todo o Brasil. Em parceria com o Grupo Coquetel, o projeto justifica-se pelo fato de que as
palavras cruzadas e outros passatempos proporcionam conhecimento e diversão. Tornando as
aulas lúdicas e permitindo a fixação do conhecimento de forma mais efetiva. Para avaliação
os alunos podem apresentar melhora nas notas e conceitos, nas diferentes disciplinas, podem
melhorar bastante as habilidades de leitura, escrita e interpretação ao longo do processo de
aprendizagem, pode-se identificar em sala de aula, lideranças através de iniciativas
socializadoras, como o trabalho em grupo.
Conclusão
Precisamos nos inspirar em quem tem algo de valor para oferecer. Tudo o que
enriquece o nosso aprendizado foi se somando e fazem parte de nossas conquistas. Cada
experiência vivenciada na escola Estadual Ângelo Trevisan significou mais um degrau rumo a
um novo aprendizado, que foi se concretizando através das práticas educativas observadas.
A Escola Estadual Ângelo Trevisan adota efetivamente o modelo de gestão
democrático. Esse trabalho influencia na condução de uma instituição voltada para o
14110
desenvolvimento intelectual das crianças, onde os esforços se somam para que os ideais de
uma boa educação se consolidem. A liderança é exemplo de conduta e dinamismo
preocupando-se sempre em atender os anseios da comunidade escolar que em contrapartida se
faz presente e atuante. Percebemos uma acolhida aos professores de maneira tal que esses
sentem-se provocados a participar e comprometer-se com o aprendizado.
Acreditamos que aprender a ler e a escrever é tornar-se usuário da leitura e da escrita.
Verificamos que a alfabetização não se constitui apenas em copiar palavras, fazer letra bonita
ou saber o nome das letras. Infelizmente nossos alunos muitas vezes sabem os conceitos
gramaticais, mas estão desconectados do fundamental.
Conscientizamo-nos, a partir das experiências vivenciadas nesse programa, que o
papel do professor é desequilibrar, ser pesquisador investigar a realidade. A teoria só adquiriu
significado quando vivenciamos os problemas originados da prática, observando a resolução
dos mesmos e seus resultados efetivamente.
Observamos que para ser uma Professora bem-sucedida, além de uma boa formação, é
fundamental que esse profissional traga em si atitudes como disciplina, comprometimento,
organização, iniciativa, generosidade, afetividade e principalmente ter uma boa expectativa
com relação aos alunos.
Com relação ao reforço escolar as professoras dedicam-se integralmente para esse fim,
comprometidas para que o aprendizado aconteça de forma organizada utilizando materiais
concretos. O compromisso e as boas práticas no reforço estão relacionados com o
compromisso que a equipe tem em não deixar lacunas no aprendizado. Para tanto orientam as
crianças partindo das dificuldades relatadas pelas professoras regentes.
Com relação aos projetos educacionais observamos que estes surgem a partir das
necessidades reais da escola e das brincadeiras das crianças. O conhecimento aliado com a
diversão também propicia o envolvimento maior de aluno, torna o aprendizado mais atraente
e significativo, por ser de forma diferenciada, consegue ligar os conteúdos estudados com
dados e fatos da realidade com o mundo fora dos muros da escola. O trabalho também facilita
o contato maior com os livros. E consequentemente aumenta o interesse pela leitura e escrita,
ajuda a formar diferentes pontos de vista, valorizando a interpretação, melhorando as
habilidades de leitura, escrita e interpretação. Tornando as aulas lúdicas e permitindo a
fixação do conhecimento de forma mais efetiva.
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Concluímos que não existe nada tão diferente na Metodologia dessa escola, que as
outras escolas não possam realizar, o que existe é uma direção comprometida, onde cada um
realiza seu trabalho com responsabilidade e competência. Sendo tudo isso, reflexo de um
trabalho em conjunto entre direção, coordenação pedagógica, professores e demais elementos
que contribuem para que a escola caminhe em direção ao sucesso.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/96.
CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
FREIRE, P. GADOTTI, M. GUIMARÃES, S. Pedagogia: Diálogo e Conflito. São Paulo:
Cortez, 1989.
LUCK, Heloísa. Ação integrada: administração, supervisão e orientação educacional.
Petrópolis: Vozes, 1996.
MENEGOLLA, Maximiliano e SANT’ANA, Ilza Martins. Didática: Aprender a ensinar.
São Paulo: Edições Loyola, 1991.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. São
Paulo: Papirus, 2007.
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