CENTRO HISTÓRICO EMBRAER
Entrevista: Arlindo de Figueiredo Filho
São José dos Campos – SP
Agosto de 2011
Apresentação e Formação Acadêmica
O meu nome é Arlindo de Figueiredo Filho, estou no momento..., completei
66 anos e sou nascido no Rio de Janeiro, capital. Minha família é de lá,
parte materna e parte paterna é de Minas Gerais, então eu sou misto e vivi
a maior parte da minha vida aqui em São Paulo. Então, eu tenho
naturalidade tripla. Meu estado civil no momento, eu estou vivendo em
união estável, a família da esposa é daqui de São José mesmo, a
coincidência... a gente se conheceu no Rio, mas ela é daqui e a família é
daqui, nada a ver com Embraer, nada, nada, curiosidade.
Em termos de hobby eu praticava aviação até pouco tempo, praticava
pilotagem no aeroclube e aí quando cruzou os sessenta anos, passaram a
exigir exame de saúde semestral e eu achei que era demais, parei... Agora
estou com vontade de voltar na área de ultraleve que o exame
normalmente passa a ser bianual ao que me consta, então... seria um
hobby que também seria um esporte, na realidade eu não pratico outro tipo
de esporte, não. O Aeroclube já demanda bastante da gente, de você
chegar cedo e caminhar muito e ajuda a rebocar, a puxar... no final do dia
você está cansado como se fosse um esporte mesmo. O lazer também é o
aeroclube, mas, além disso, eu gosto muito de leitura, especialmente leitura
de cunho científico ou histórico.
Características pessoais, eu não sei... talvez eu me julgue uma pessoa um
pouco germânica, talvez eu me sinta melhor assim... mais à vontade num
ambiente alemão do que aqui no Brasil, que a nossa sociedade mais
permissiva, é mais tolerante, isso até já me conseguiu alguns entraves de
relacionamento e eu até agradeço a Embraer por ter a paciência de ter me
aturado esses anos todos, de vez em quando eu tenho certos problemas de
relacionamento por essa característica que eu não julgo muito latina, fora
isso eu sou um camarada normal, não me julgo nada assim de excepcional.
1
Trajetória na Embraer
A formação minha é universitária, sou formado em engenharia mecânica
pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e toda a minha
especialização se deu em carreira profissional, eu nunca fiz mestrado, nem
doutorado. Talvez, aposentando eu faça um porque eu considero isso até
um desafio, mas no momento eu não sei.
O meu interesse pela aviação é de longa data porque eu fui criado em
aeroporto, meu pai era rádio operador de terra, de solo e nós moramos no
interior do Paraná, moramos no Nordeste e eu fui criado em aeroporto e
achava aquilo tudo muito bonito, aquela movimentação toda, mais tarde o
meu pai passou para tripulante, então eu fiquei mais obcecado pela idéia
até porque na época dele a aviação não era tão segura como é hoje, então
havia muitos acidentes e a gente vivia permanentemente sobressaltado. E
ele fazia aquelas incursões de uma semana lá pela Amazônia adentro,
ficava sumido uma semana, a gente sem contato com ele – antigamente
não havia telefonia por satélite – era muito difícil e aí me dava aquela
paixão de saber como é que é feito o avião, o que estava conduzindo meu
pai e felizmente ele terminou a carreira são e salvo. Mas houveram muitos
acidentes, ele perdeu vários colegas, inclusive isso hoje influencia em mim
porque eu trabalho na área de segurança, eu sou extremamente zeloso por
segurança, eu fico às vezes meio bravo, quando eu vejo pessoas
passando... – não que eles passem por cima – mas não olham com aquele
devido respeito e atenção esses aspectos, eu vou aos detalhes, sabe? E
gosto dos colegas que também vão nos detalhes, talvez seja por isso, talvez
uma psicóloga explique melhor, para mim, no momento, a explicação é
essa.
Em termos de aviação, eu comecei minha carreira fora da Embraer, eu
passei pela Varig, pela Vasp acumulei cinco anos nas duas e trabalhei na
área de engenharia de operações que ela reúne assuntos operacionais,
assuntos de manuais e também tem muita coisa a ver coma minha segunda
fascinação que é a área de análise de sistemas e informática, de
desenvolver grandes sistemas de computador na área de despacho
operacional e essa bagagem foi muito importante aqui na Embraer até pela
coisas que eu vou falar mais tarde aí, sabe? Então, não foi perdido não, foi
muito bom. Eu acabei vindo aqui para São José (dos Campos) na época de
2
78, fui contratado pelo Paulo Serra que eu já conhecia de uma época que eu
tinha passado aqui para um estágio e ele foi ser meu chefe, eu só tenho
palavras elogiosas para ele, ele foi muito importante na minha carreira,
excelente profissional, pessoa muito boa particularmente falando, muito
competente profissionalmente e sempre que eu posso eu agradeço muito
por isso, foi muito importante na minha carreira. Ele me contratou naquela
época... eu vim trabalhar com ele, a motivação de vir para cá... eu já
trabalhava na aviação – na Varig e na Vasp – mas eu queria mexer com
hardware, com equipamentos e lá na engenharia de operações, é tudo
análises numéricas, manuais, procedimentos, então aqui eu vim mexer com
equipamento, isso me deixou bastante satisfeito e a adaptação aqui foi boa
porque o Paulo Serra criava um ambiente muito favorável e na cidade foi
bom porque minha patroa é daqui, então ela me dava todos os detalhes de
onde ir, todos os recantos aqui da cidade, arredores, então foi tudo muito
fácil, segunda família era daqui e transcorreu tudo bem.
Bom, então é isso aí... entrei aqui em 78, a motivação foi esta trabalhar
com hardware e as atividades..., naquela época eu trabalhava com sistemas
mecânicos na área de hidromecânica e ambientais junto com Paulo Serra...
Passado algum tempo o Paulo Serra foi para a França em 84, eu entrei aqui
em 78, e em 84 ele foi para a França trabalhar na EAI (Embraer Aviation
International), aquela sucursal da Embraer na França e aí me elegeram
como chefe de seção no lugar dele, quer dizer, eu fui herdeiro do Paulo
Serra. Mas, o setor daí para frente deu cria, a Embraer começou a crescer,
os projetos da engenharia foram crescendo e acabou formando uma seção
separada da nossa, que foi a de “Sistemas de Comando de Voo” que foi
chefiada pelo Luís Carlos Affonso, que hoje é vice-presidente aqui da
Embraer, ele passou a ser chefe desse setor, aí meu setor encolheu que
ficou hidromecânica ambientais até que houve aquela crise de 90 e muita
gente saiu, eu saí também naquela época, houve várias demissões de
pessoal, alguns voluntariados, outros não voluntários, de forma a que a
Embraer encolheu de doze mil funcionários, mais ou menos, para uns três
mil e quinhentos, ela encolheu bastante, muito mais do que essas duas
últimas crises que houve em 2001 e 2008, aquela lá foi bem pior, ela
encolheu muito, então saiu muita gente, eu também saí e fiquei fora aqui
da Embraer durante dez anos até receber um convite para voltar em 2001 e
3
estou aqui até hoje. Totalizando então, dá vinte e dois anos de empresa,
mas em dois períodos.
Cultura Embraer
Comparação de ambientes passado e futuro, eu tenho vinte e dois anos
acumulado na Embraer, com dez anos de hiato dá trinta e dois anos, então
eu conheço a Embraer desde trinta e dois anos atrás, ela evoluiu bastante e
eu acho que não dá para ficar com saudosismo, eu ainda gosto daquela
Embraer antiga, pequenininha, onde as pessoas se conheciam mais, mas
isso é fatal, não tem como a não ser que ela se dividisse em empresas
menores, não sei se isso é aplicável. Existem coisas novas também como o
PEE (Programa de Especialização em Engenharia), esses programas de
sustentabilidade, antigamente não se falava nisso, então é muito difícil
comparar, é como querer comparar laranjas com bananas, é muito difícil,
eu acho que a gente tem, psicologicamente, certa tendência à nostalgia,
então... eu gostava do tempo do passado... não havia PEE, não havia essas
coisas, não havia nada, mas a gente se relacionava mais estreitamente.
Mas é questão de gosto, eu acho que essa evolução é irreversível, é que
nem a evolução dos aviões, isso é irreversível... os aviões hoje são mais
automatizados, dependem menos dos tripulantes, eu acho que isso é
irreversível, uma tendência irreversível, as coisas na vida são irreversíveis,
o progresso é irreversível, então, não adianta querer ficar com saudosismo.
Mas, comparando eu acho isso a empresa hoje está mais profissionalizada e
está mais setorizada, cada pessoa quer ser especialista naquilo onde atua.
Agora, uma grande dificuldade que eu vejo hoje é a questão dos
integradores, porque como as coisas estão todas divididas em quadradinhos
ficam todas as pessoas, a tendência é cantar aquele rap “Ado, ado, ado,
cada um no seu quadrado” e para integrar você tem que tirar as pessoas do
quadrado ou as fazer conversarem, eu acho que esse é um grande desafio
para a Embraer, fazer as pessoas se conversarem mais porque cada uma
quer ser especialista no seu quadrado... Eu não vou dizer que isso é um
defeito, isso é uma tendência que eu recomendaria que fosse observada e
trabalhada: fazer as pessoas saírem um pouco dos seus quadrados.
Eu me lembro de alguns seminários que a gente fez, de alguns workshops,
muitas vezes as pessoas, o orientador fazia de trocar de papel de propósito,
4
as vezes você fazia o papel do entrevistador, do especialista, aí ele fazia
trocar quem era especialista, virava entrevistador que é para sair do
quadrado, a tendência normal da pessoa humana é ser do quadrado o
ferreiro trabalha com ferro, o marceneiro trabalha com madeira, o
marceneiro não quer saber de ferro e o ferreiro não quer saber de madeira,
então a tendência normal é ficar no quadrado, mas eu acho que de vez em
quando tem que tirar a pessoa de lá, sei lá fazer um seminário, uma coisa
assim, fazer as pessoas trabalharem ou estagiarem um pouco no setor do
outro para ver o drama lá do outro, sei lá... algo assim, não sei, deixo para
os especialistas de administração pensarem nisso.
Embraer e Futuro
E finalmente, para encerrar dicas para quem está iniciando a carreira. É
difícil resumir, mas eu acho que... – eu vou falar da engenharia não de
fabricação nem nada que é o ramo em que eu atuo – eu acho que é
interessante a pessoa ter curiosidade de querer saber sempre além da área
em que ele atua, é o tal da saída do quadrado. Uma tendência, eu diria que
quase uma pragazinha que está pegando é o pessoal querer ficar muito no
seu quadrado, eu quero atuar no meu quadrado porque é essa a minha
responsabilidade, não vou me meter com mais coisa nenhuma, não é assim
não, eu acho que ele tem que ter curiosidade e pular fora do quadrado dele
não para trabalhar, mas para se informar pelo menos, ter relacionamento
com
as
outras
áreas,
eu
daria
essa
dica.
Para
ele
poder
subir
profissionalmente, senão eles vão ficar naquele quadradinho dele o tempo
todo ou então vai virar um administrador, nós precisamos de técnicos,
administradores nós já temos bastante..., precisamos de técnicos... então
um bom técnico tem que abrir os horizontes, seria a dica que eu dou... abra
seus horizontes porque o avião ele é uma coisa só, ele não é dividido por
partes, você não sai voando um trem de pouso, depois sai um motor,
depois sai o “aviônico”, sai tudo junto, tudo funciona junto, então não
adianta quere dividir por pedacinhos, para trabalhar tudo bem, mas no final
tem que se interessar... Essa é a dica que eu dou, resumindo... porque eu
acho que uma dica dessa já vale, já é suficiente.
5
Download

Fazer o da transcrição em formato para impressão