IMAGEM EM CEFALÉIA
Papiloma de plexo coróide: cefaléia primária ou
secundária?
Choroid plexus papilloma: primary or secondary headache?
Antônio Marcos da Silva Catharino,1,2,3 Fernanda Martins Coelho Catharino,1
Jorgete Haidar Sessim David Cosendey,2 Valéria Camargo Silveira,1,2 Carlos Henrique Melo Reis1,2
Hospital Geral de Nova Iguaçu, 2Universidade Iguaçu, 3Ambulatório de Cefaléias – HUGG-UniRio
1
Catharino AMS, Catharino FMC, Cosendey JHSD, Silveira VC, Reis CHM
Papiloma de plexo coróide: cefaléia primária ou secundária?
Migrâneas cefaléias 2007;10(3):86-87
RELATO DO CASO
Paciente com 47 anos, sexo feminino, queixa-se
de cefaléia pulsátil, esporadicamente em aperto,
hemicraniana, sempre à direita, de moderada intensidade, ocorrendo uma vez ao mês com duração de sete
dias, acompanhada de tontura e, eventualmente, por
vômitos. Não havia relato de foto e/ou fonofobia,
lacrimejamento, ou outros sintomas autonômicos. O
quadro teve início havia aproximadamente seis meses,
mantendo-se constante desde então. As crises não eram
desencadeadas ou agravadas por esforço, tosse ou
movimentação da cabeça. Não havia relato de despertares noturnos pela dor. O exame neurológico revelava hipoacusia sensorial à direita, porém não apresentava outras alterações objetivas e não havia edema
de papila óptica.
Havia história pregressa de hérnia de disco lombar e, na história familiar, referia uma filha com cefaléia.
A paciente foi orientada a utilizar antiinflamatórios
não esteroidais para as crises e foi iniciado o tratamento profilático com amitriptilina 25mg à noite, com redução da freqüência e intensidade das crises.
Foram solicitadas audiometria e tomografia
computadorizada (TC) de crânio. A TC de crânio (Figura
1) revelou lesão expansiva densa, captante de contraste,
localizada no plexo coróide do ventrículo lateral direito,
sem outras alterações. A audiometria demonstrou leve
perda auditiva neurossensorial no ouvido direito.
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O estudo tomográfico foi complementado com
ressonância magnética (RM) de crânio (Figura 2) que
revelou lesão ovalar com sinal semelhante ao córtex e
intenso realce após contraste, no interior do átrio/corno
posterior de ventrículo lateral direito, sugestiva de
papiloma de plexo coróide.
A paciente foi submetida à avaliação pela equipe
de neurocirurgia, que indicou a ressecção do tumor, e
aguarda procedimento cirúrgico.
DISCUSSÃO
A cefaléia é uma queixa extremamente freqüente
na população geral sendo na grande maioria das vezes uma condição primária. No entanto, pode ser um
sintoma secundário a diferentes condições, entre elas
as neoplasias intracranianas, cuja incidência fica em
torno de 1% dos pacientes que procuram clínicas de
cefaléia.1
Cerca de 40% a 53% dos pacientes com tumor
cerebral apresentam cefaléia, surgindo como primeira manifestação em aproximadamente 16% dos casos.1,2,3 Os tumores de plexo coróide são raros e freqüentemente afetam crianças, com predominância no
sexo feminino e localização preferencial nos ventrículos
laterais; geralmente se manifesta com hipertensão intracraniana.4,5
No caso relatado, apesar de algumas características, como a ausência de sinais de hipertensão intraMigrâneas cefaléias, v.10, n.3, p.86-87, jul./ago./set. 2007
PAPILOMA DE PLEXO CORÓIDE: CEFALÉIA PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA?
REFERÊNCIAS
1. Schoenen J, Sándor PS. Headache with focal neurological signs
or symptoms: a complicated differential diagnosis. Lancet Neurol.
2004;3:237-45.
2. Moreira-Filho PF, Souza JA, Jevoux CC, Brito CM, Sarmento EM.
Diagnóstico diferencial das cefaléias. Migrâneas cefaléias.
2003;6:125-8.
3. Bordini CA. Cefaléias associadas a neoplasias intracranianas.
Migrâneas cefaléias. 2003;6:56-8.
Figura 1. TC de crânio
4. Barreto ASCM, Vassallo J, Queiroz LS. Papillomas and carcinomas of the choroid plexus: histological and immunohistochemical studies and comparison with normal fetal choroid
plexus. Arq Neuropsiquiatr. 2004;62:600-7.
5. Agarwal A, Chopra S, Sehgal AD. Choroid plexus papilloma
associated with developmental delay. Indian J Pediatr.
2004;71:763-6.
Recebido: 23/07/2007
Aceito: 25/07/2007
Endereço para correspondência
Dr. Antonio Marcos da Silva Catharino
Travessa Capitão Zeferino, nº 56 - Apto. 803
24220-230 - Icaraí - Niterói/RJ
E-mail: [email protected]
Figura 2. RM de crânio – A (FLAIR) e B (T1) = Corte horizontal;
C = Corte sagital; D = Corte coronal
craniana, a boa resposta ao tratamento clínico e a
ausência de alterações no exame neurológico indicarem uma natureza primária, a cefaléia apresentada pela
paciente não preenche, de forma inequívoca, os critérios da IHS para uma cefaléia primária.
Por outro lado existem características que poderiam sugerir uma natureza secundária, como a unilateralidade (sempre à direita) e a idade de início dos
sintomas, porém ainda faltam indícios que corroborem
a relação de nexo causal entre a cefaléia e a lesão
tumoral encontrada. Sendo assim, colocamos em discussão a etiologia desta cefaléia: ela seria primária ou
secundária?
Migrâneas cefaléias, v.10, n.3, p.86-87, jul./ago./set. 2007
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