MANDADO DE SEGURANÇA 25.707-5 DISTRITO FEDERAL
RELATOR
IMPETRANTE(S)
ADVOGADO(A/S)
IMPETRADO(A/S)
: MIN. GILMAR MENDES
: SKYMASTER AIRLINES LTDA
: RITA DE CÁSSIA MIRANDA COSENTINO E
OUTRO(A/S)
: COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE
INQUÉRITO - CPMI DOS CORREIOS
Decisão: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida
liminar, impetrado por SKYMASTER AIRLINES LTDA., em face da Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito – CPMI dos Correios, na pessoa de seu Presidente,
Senador Delcídio Amaral.
A impetrante assim relata os fatos:
“Em face da veiculação de matéria, pela revista
Veja, Edição n° 1.905, de 18 de maio de 2005, do
flagrante de recebimento de propina, pelo então
Chefe do Departamento de Administração da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, Sr.
Maurício Marinho, foi criada a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito, com o objetivo de
investigar a ocorrência de possíveis
irregularidades no âmbito da ECT.
A indicada Comissão investigou e investiga todos os contatos, dirigentes
e contratos firmados pela ECT, dentre eles os da IMPETRANTE que,
após o preenchimento dos requisitos formais e legais, opera, para a
ECT, trechos da Rede Postal Noturna.
Por oportuno, registra-se que a Rede Postal Noturna tem por objetivo
fazer o transporte das cargas dos CORREIOS, consistente em
encomendas e correspondências.
Assim, no cumprimento de sua finalidade, a CPMI dos Correios
procedeu à oitiva dos Dirigentes da ECT, dos que mantiveram contratos
de áreas diversas com a ECT, solicitou e obteve a quebra dos sigilos
bancário, fiscal e telefônico das pessoas e das empresas que entendeu
cabível tal providência e fez uso de informações diversas, desde as
fornecidas pelas próprias empresas da iniciativa privada até as
oferecidas pelos órgãos públicos.
Com base em sua investigação, a CPMI divulgou em etapas as
conclusões a que se chegou.
Para o relatório que pertine à IMPETRANTE, designado “RELATÓRIO
PARCIAL SOBRE A SKYMASTER (DOC. 1), houve divulgação, em
22/11/2005, no site do Deputado José Eduardo Cardozo,
www.joseeduardocardozo.com.br, e em 23/11/2005, no site
www.cpidoscorreios.org.br.
Inobstante a divulgação, o referido relatório está pendente de
aprovação, uma vez que necessita ser levado ao Plenário da CPI, para
votação, ato que ocorrerá em 01.12.2005 (doc. 2)
No entanto, a aprovação do “RELATÓRIO PARCIAL SOBRE
SKYMASTER, fere direito líquido e certo da IMPETRANTE, posto que
estampa imprecisões crassas, passíveis de prejudicar a IMPETRANTE,
causando-lhe dano de difícil reparação, se não impossível.” (fls. 3-4)
Alega a impetrante que o Relatório Parcial sobre a
Skymaster contém diversos erros, dentre os quais a
indicação de dados incorretos quanto ao preço de aeronaves
e valores mensais de arrendamento, que estariam a viciar as
conclusões da CPMI.
Com base nesses dados, a autoridade coatora concluiu que a impetrante
“mascarou” pagamentos de arrendamentos de aeronaves, chegando a imputar-lhe a
prática de diversos crimes: sonegação fiscal, contra a ordem tributária e evasão de
divisas.
A impetrante afirma que esses dados “foram extraídos das edições
Summer/Winter 2004/2005 do Airline Price Guide, mas a impetrante realizou seu
primeiro contrato de leasing em 1997, de forma que os dados de 2004-2005 não podem
servir de parâmetro para avaliar um negócio realizado em 1997” (fl. 6).
Com o intuito de corrigir tal erro, a SKYMASTER informa que procedeu
à notificação judicial do Departamento de Aviação Civil - DAC, que forneceu os dados
à CPMI. Porém, sustenta que a correção dos dados somente ocorrerá após a aprovação
do Relatório Parcial sobre a Skymaster, marcado para o dia 1o de dezembro de 2005, às
11:00 hs (onze horas).
Assim, a impetrante requer a concessão de medida liminar “com a
finalidade de determinar a Autoridade Coatora que se abstenha de levar à aprovação
do Plenário da CPMI, o Relatório Parcial sobre a Skymaster, que contém erros que já
causam prejuízos à impetrante, mas que, com a aprovação, poderão perpetuar os
danos, tornado-os de irremediável reparação” (fl. 22).
Passo a decidir o pedido de liminar.
O fundamento do presente mandamus está na suposta incorreção de
dados, relativos a preços de aeronaves e valores de arrendamento, que estariam a viciar
o Relatório Parcial sobre a Skymaster, a ser aprovado no dia 1o de dezembro de 2005.
Às fls. 197-220 dos autos, a impetrante junta os documentos que
comprovariam a discrepância entre os valores ditos “corretos” e aqueles utilizados pelo
Relatório Parcial da CPMI dos Correios.
Portanto, a concessão da ordem está condicionada à comprovação da
autenticidade e da incorreção desses dados.
A concessão de medida liminar ocorre em casos excepcionais,
comprovados a plausibilidade jurídica do pedido (fumus boni iuris) e a urgência da
pretensão cautelar (periculum in mora).
Não vislumbro a ocorrência dos requisitos exigidos para a concessão da
medida cautelar.
Destarte, a aprovação do Relatório Parcial, pela Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito, com eventuais erros de análise de dados e de outras provas, não
impedirá que a impetrante postule à própria CPMI a correção do relatório. Averiguada a
real existência de vícios (discrepâncias em preços de aeronaves e valores de
arrendamento) no relatório parcial, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito poderá,
posteriormente, proceder às correções necessárias. Como informa a própria impetrante,
os dados corretos já se encontram sob o poder da CPMI (fl. 6).
Trata-se de Relatório Parcial, e não de Relatório conclusivo dos trabalhos
da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. O Relatório Parcial, conforme o disposto
no art. 36, inciso VI c/c o art. 37, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, é
elaborado e aprovado com o objetivo de relatar, separadamente, fatos que se relacionem
com o objeto central do inquérito. Até a elaboração e aprovação do Relatório
conclusivo, o relatório parcial pode sofrer alterações julgadas necessárias pela CPMI.
A impetrante alega que “a aprovação do relatório em pauta acarretará
na adoção de medidas junto ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, não só
para o indiciamento dos membros que compõe a impetrante, mas no que concerne ao
bloqueio de seus bens, fato notório, noticiado em todos os meios de comunicação” (fl.
21).
É preciso esclarecer, porém, que apenas o Relatório conclusivo dos
trabalhos da CPMI é enviado ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da União para
que promovam a responsabilidade civil ou criminal por infrações apuradas (art. 37 do
Regimento Interno da Câmara dos Deputados).
Dessa forma, com base nesses fundamentos, ressalvando melhor juízo
quando do julgamento do mérito, indefiro o pedido de medida liminar.
Comunique-se com urgência.
Publique-se.
Brasília, 1o de dezembro de 2005.
Ministro GILMAR MENDES
Relator
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íntegra da decisão