PEJA: ações,desafios,
limites e possibilidades
Trabalhando e pesquisando em
uma escola do PEJA na Zona
Oeste da cidade do Rio Janeiro
Proposta pedagógica do PEJA:
 a. organização do trabalho em dias-aulas
substituindo as horas-aulas;
 b. avaliação participativa e contínua, feita pelo
coletivo de professores: os alunos seriam avaliados
em todos os momentos do processo e suas
aquisições e mudanças de comportamento levadas
em conta, tendo as escolas autonomia para criar
formas diferenciadas de avaliação;
 c. ausência de reprovação convencional: os alunos
avançam à medida que atingem os objetivos
previstos, sem uma época preestabelecida para
concluir etapas;
 d. cada bloco se constituiria de três unidades de
progressão a serem vencidas pelo aluno
independentemente do calendário do ano letivo.
 e. manutenção do mesmo professor nas três
unidades de progressão da cada bloco,
garantindo assim a continuidade do trabalho com
o aluno;
 f. recuperação paralela diária para todos os
alunos que apresentem alguma dificuldade;
 g. elaboração de material próprio para cada
componente curricular, sendo este material
reproduzido para cada aluno;
 h. implantação do centro de estudos para os
professores, sem suspensão de aula.
(FÁVERO, Osmar.; ANDRADE, Eliane R.; BRENNER, Ana K. Programa
de Educação de Jovens e Adultos (Peja). In: HADDAD, S. (coord.).
Novos caminhos em educação de jovens e adultos – EJA: Um
estudo de ações do poder público em cidades de regiões
metropolitanas brasileiras. São Paulo: Global, p.77-110, 2007)
[Contexto do diálogo: Após uma resposta em que o entrevistado elogiava a
relação que os professores do PEJA mantinham com os alunos, questionei-o:
Nas outras escolas você percebia essa boa vontade dos professores ou era
diferente?]
[...] a boa vontade do professor até tinha, só que era pouco tempo
para cada professor, entendeu? O professor dava aula de 50 minutos,
quando era dois tempos, 100 minutos. Era pouco tempo para o professor
passar uma matéria, “tu não entendeu?”, tem que voltar a matéria toda,
acabou o tempo da aula, não era bem até a culpa dos professores, não era
culpa do aluno também, era o tempo. (Ricardo, 19 anos, turma 162/2008,
não era aluno do PEJA 1, entrevista individual)
[Pergunta: O que foi mais importante para que você não desistisse de estudar aqui
no Peja? A escola, a turma, as amizades, os professores, o que você achou
que foi assim mais importante?]
[...] Porque na M [faz referencia a uma tentativa de voltar a estudar, há
aproximadamente 20 anos, em uma escola estadual de Ensino Supletivo] é
totalmente diferente. Lá, lá é vários professores... é o 2º tempo, tem o 3º
tempo é o 1º tempo, aquele negócio todo...e ali, os professores dali não são
iguais a vocês. Vocês conversam com a gente. Se a gente não entendeu,
vocês explicam várias vezes para a gente e passa a semana toda o mesmo
trabalho até “encaixar” na nossa mente. Lá não. Lá eles dá a matéria nova,
assim ó...naquela hora, naquela hora mesmo eles te passam um trabalho,
quem entendeu, entendeu. Quem não entendeu, não entendeu, que se
dane. [...] Vocês se preocupa mais... com os alunos, não se preocupa
[apenas] em eles aprenderem não, se preocupa assim também com o
comportamento deles, como eles...como pessoa.
(Rita, 50 anos, turma 162/2008, não era aluna PEJA 1, entrevista
individual)
“No mesmo barco, um ajuda o
outro a não desistir” – Estratégias
e trajetórias de permanência na
Educação de Jovens e Adultos
22/03/2009
Questões iniciais:
Por que desistem?
 Turma 151
 Em 27 de fevereiro
de 2008: 33 alunos.
 Turma 161
 Em 26 de junho de
2009: 16 alunos.
 8 alunos PEJA 1.
Por que permanecem?
 Turma 152
 28 de fevereiro de
2008: 26 alunos.
 Turma 162
 26 de junho de 2009:
13 alunos.
 8 alunos PEJA 1.
A desistência / evasão, como
mais um momento de negação
do direito à educação, é uma
característica “natural” da EJA?
Proposta inicial de pesquisa:
Como a prática docente no
PEJA poderia influenciar os
processos de permanência ou
de desistência?
Primeiros passos metodológicos na
pesquisa: levantamento dos diários
de classe das turmas 151 e
152/2006.
A disparidade nos percentuais de
permanência das turmas 151 e
152/2006:
50
45
40
35
30
151
152
25
20
UP 1 UP 3
151 49
15 (30,6%)
152 30
15
10
5
0
UP 1
UP 3
21 (70%)
Características das turmas 151 e
152/2006:
 Turma 151 (permanência 30,6%):
 57,1% alunos com menos de 24 anos
(permanência de 17,9%);
 42,9% maiores de 24 anos (permanência
de 47,6%);
 75,5% alunos externos (permanência de
29,7%);
 24,5% ex-alunos do PEJA 1 (permanência
de 33,3%).
Turma 152/2006 (permanência
70%):
 73,3% alunos maiores de 24 anos
(permanência de 72,7%);
 26,7% alunos menores de 24 anos
(permanência de 62,5%);
 50% ex-alunos do PEJA 1 (permanência
de 66,7%);
 50% alunos externos (permanência de
73,3%).
Redirecionamento da pesquisa:
 Superação de uma perspectiva “pedagocêntrica” e




monocausal (disposição em permanecer):
percentuais diferentes em turmas com o mesmo
grupo de professores;
Educação como processo social amplo, no qual as
relações pedagógicas não estão limitadas às ações
de iniciativa dos professores;
Trajetórias escolares anteriores como fator
incidente nos processos de permanência;
Estratégias para a permanência e conclusão no
PEJA.
Identidades como alunos da EJA, possibilitando
ações comunitárias como sujeitos coletivos.
(Re) construção do objeto:
 Trajetórias e estratégias de permanência.
 A especificidade de um objeto constituído por
sujeitos, impõe a percepção da complexidade
e dinamismo.
 Quais variáveis, além da prática docente,
incidiram sobre os processos de permanência
/ desistência?
O “objeto” (re)construído e os
objetivos da pesquisa:
 Objetivo: a compreensão dos processos
sociais que constituíram os alunos
“permanentes”.
 A conversão do olhar (Bourdieu, 2007):
questionar a “naturalização” da
desistência na EJA e privilegiar a
compreensão sobre como foram
construídos os processos de
permanência no PEJA.
Procedimentos metodológicos:
 Levantamento dos percentuais de
permanência e desistência nos diários de
classe e no sistema de controle acadêmico;
 Observações no campo;
 Entrevistas individuais e coletivas:
- entrevistas piloto:11 alunos entrevistados
(maio 2008).
- 2ª fase: 30 alunos entrevistados (nov/dez.
2008).
Trajetória escolar anterior como
fator incidente sobre os processos
de permanência: Turmas 151 e
152/2007 - Alunos PEJA 1 (60,7%);
Alunos externos (23,9%)
90
80
70
Total
60
50
Alunos PEJA 1
Alunos externos
40
30
20
Alunos
PEJA 1
Perm.
Desist.
28
17
11
(24,1%) (44,7%) (14,1%)
Alunos
88
21
67
externos (75,9%) (55,3%) (85,9%)
10
0
Total
Perm
Desist
“No mesmo barco...”
 Relação entre a construção de identidades e
ações como sujeitos coletivos e os processos
de permanência e conclusão do Ensino
Fundamental no PEJA.
 Valorização do sentido de pertencimento
comunitário, materializadas em
comportamentos solidários e cooperativos
pelos alunos que, metaforicamente, autopercebem-se como estando “no mesmo barco”.
Considerações finais:
 As ações pedagógicas, incluem as iniciativas dos professores,




mas são ampliadas, abrangendo o conjunto de interações dos
sujeitos que ocupam posições no espaço social da escola
pesquisada.
Trajetória escolar anterior no PEJA 1 favoreceu a construção
estratégias de permanência constituídas por vínculos de
solidariedade e cooperação, formando redes de sociabilidade
capazes de agregar também os alunos externos.
Destaque para a presença de mulheres que zelavam pelo
capital social intensificando os vínculos afetivos na
organização de atividades de confraternização.
Relação diretamente proporcional entre a permanência /
conclusão do PEJA 2 e a trajetória escolar anterior no PEJA 1
e/ou a participação em redes de socialibidade fundamentadas
na solidariedade e na cooperação.
Desafio à sensibilidade dos educadores da EJA em perceber
e compreender o que a escola tem a aprender com os alunos.
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“No mesmo barco, um ajuda o outro a não desistir” – Estratégias e