XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 PROFISSIONALIDADE DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: TECENDO REFLEXÕES Profª Ms. Maria da Conceição Valença da Silva - Faculdade Asces Profª Dra. Maria da Conceição Carrilho de Aguiar – UFPE RESUMO Considerando a pertinência de estudos acerca da profissionalidade docente, o presente trabalho tem como objeto de análise o debate dessa temática, situando-o no cenário da Educação Superior. Nesse sentido, discute noções de profissionalidade docente enquanto uma das categorias analíticas da pesquisa em andamento no curso de doutorado, com o objetivo de evidenciar contribuições de estudiosos/pesquisadores que discutem processos de constituição da profissionalidade docente. Para tanto, busca refletir evidências do ressurgimento de interesses voltados para a educação e, nesse contexto, a atenção à formação e à atuação dos professores, cujos processos se configuram enquanto espaços/tempos de construção da profissionalidade. No ínterim das reflexões tecidas são evidenciados possíveis desafios a serem enfrentados neste processo, com foco naqueles relacionados aos professores que não tem formação pedagógica, necessária, ao exercício da docência. No âmbito da análise proposta, os dados relativos ao debate sobre a temática apontam que ainda são escassos os estudos que tratam dos descritores da profissionalidade docente. Esse aspecto, quando relacionado à docência na Educação Superior, ratifica limites das Instituições no reconhecimento do seu papel no processo de profissionalização dos seus docentes; bem como a busca solitária do professor pelo conhecimento didático-pedagógico como elemento constituinte da profissionalidade docente. Entende-se, contudo, a necessidade do professor refletir sua prática docente e a construção de sua profissionalidade, no sentido de possibilitar a sua ressignificação frente às exigências e demandas sociais de (re)construção de conhecimentos em prol da formação humana/cidadã e da qualidade da educação. Palavras-chave: Profissionalidade Docente, Formação de Professores, Educação Superior. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004493 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 1. INTRODUÇÃO Desafios societais, científicos e tecnológicos desse início de século, trazem novos requerimentos para a educação, dentre os quais, a exigência de um processo permanente de (re)construção da formação humana/profissional dos educadores. Nesse processo, vê-se a necessidade de se fortalecer uma dimensão ética no sentido de viabilizar a educação enquanto meio para a construção humana do ser humano, na busca de sua vocação ontológica de “ser mais”(FREIRE, 1987); uma dimensão técnica capaz de integrar conhecimentos, competências e habilidades que qualifiquem a atuação docente; e uma dimensão política para possibilitar, a partir da reflexão dos fenômenos educacionais, entender e explicar a realidade, tomar decisões, assumir posições críticas diante de situações conjunturais e, finalmente, intervir no processo de transformação da sociedade e de nós mesmos, enquanto sujeitos inconclusos, históricos, políticos, críticos, criadores, numa palavra, sujeitos culturais. No conjunto de tais requerimentos, ganha relevo a questão da constituição da profissionalidade docente entendida no sentido atribuído por Cunha (2007): a profissão em movimento, em ação, em processo. A autora comenta ser essa expressão mais apropriada do que o termo profissão, no que se refere à formação profissional, já que o trabalho docente não é estático, é sempre processo. No que pese o reconhecimento da importância da apropriação do saber pedagógico como exigência de qualidade para a formação e prática docentes, demonstrado em diversos estudos, a exemplo dos de: Sacristán (1995); Cunha (1998; 2007); Aguiar (2004; 2006); Melo (2004; 2008); Ramos (2010), dentre outros, a realidade educacional brasileira realça as limitações dos professores bacharéis, aqueles que não possuem licenciatura e que ensinam na Educação Superior. Os impactos nefastos dessa ausência de formação pedagógica na prática docente desses professores motivaram a luta pela valorização do magistério da educação superior e suas conseqüentes conquistas expressas nos dispositivos do ordenamento jurídico-educacional brasileiro. Como conseqüência da desvalorização do ensino e, consequentemente, da formação pedagógica, o que se observa, de modo geral, é a reprodução de práticas de professores que sem essa formação terminam por repetir modelos profissionais dos seus professores, vivenciados ao longo da sua formação estudantil. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004494 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 Diante dessa problemática, indagamos: que noções de profissionalidade docente os pesquisadores da área tem tomado como referência em seus estudos/pesquisas? O que caracteriza a profissionalidade docente? Considerando as indagações evidenciadas, buscamos nesse trabalho evidenciar contribuições de estudiosos/pesquisadores acerca do processo de construção da profissionalidade docente, estabelecendo relação com o contexto da Educação Superior. Pretende-se que esse estudo possa sinalizar alguns elementos que favoreçam as discussões acerca do processo de formação e atuação de professores, enquanto aspectos imprescindíveis na busca permanente da qualidade da Educação Superior. 2. DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: EXIGÊNCIAS PARA O SÉCULO XXI Entendemos que a educação visa a criar condições favoráveis à construção do ser humano por meio de diversos segmentos sociais. A Instituição de Educação Superior é uma dessas instâncias viabilizadoras do processo educacional, em cujas práticas são reveladas as visões axiológicas que as fundamentam. No estudo sobre A Identidade do Ensino Superior (2004, p.36), Magalhães destaca que “os sistemas de ensino superior são modernos na sua substância, que o projeto de regulação e de emancipação da modernidade constitui a essência da educação superior enquanto produtora, guardiã e difusora do conhecimento”. Sabemos, contudo que a modernidade caracterizou-se por vários fatores, principalmente pela centralidade da razão, e este paradigma deu sustentação enquanto fundamento da organização e constituição da educação superior. Com efeito, pesquisadores, a exemplo de Sacristán (1995), Nóvoa (1995), Cunha (1998), Ramalho (2004), Zabalza (2004), Roldão (2005), Veiga (2008), Ramos (2010), dentre outros, têm chamado à atenção, em estudos sobre a profissionalidade docente, para a necessidade de ruptura do paradigma linear, tecnicista da atuação docente e da construção do conhecimento no contexto da educação superior. No documento da Conferência Mundial do Ensino Superior (1998), de onde emergem as Tendências para a Educação Superior para o Século XXI, estão externadas as missões e funções desse nível de educação, como contribuições ao desenvolvimento e melhoramento da sociedade como um todo. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004495 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 No que concerne à constituição de uma nova visão da educação superior, o documento supracitado, em seu Art. 10 trata do pessoal da educação superior e estudantes como agentes principais e dispõe que devem ser estabelecidas políticas claras relativas a docentes de educação superior; que atualmente devem estar ocupados sobretudo em ensinar seus estudantes a aprender e a tomar iniciativas, ao invés de serem unicamente fontes de conhecimento. Devem ser tomadas providências adequadas para pesquisar, atualizar e melhorar as habilidades pedagógicas, por meio de programas apropriados de desenvolvimento de pessoal, estimulando a inovação constante dos currículos e dos métodos de ensino e aprendizagem, que assegurem as condições profissionais e financeiras apropriadas ao profissional, garantindo assim a excelência em pesquisa e ensino (Ibidi. p.28). Tais disposições reforçam a necessidade de preparação pedagógica de professores desse nível educacional, corroborada por Ramos (2010) quando ressalta a responsabilidade docente neste nível de ensino, apontando para o requerimento de novas aproximações didáticas e pedagógicas que facilitem a aquisição de conhecimento. Diante desse contexto de discussões e exigências, urge uma atenção maior das instituições de educação superior, bem como dos seus professores, às questões inerentes à docência, consideradas a formação e a construção da profissionalidade docente como fatores relevantes do ser professor. Temos como pressuposto que a profissionalidade que se configura na Educação Superior está referendada, principalmente, pela lógica disciplinar, tradicional, num processo de transmissão e recepção de conhecimento, e que esse processo está, também, diretamente ligado à formação do professor. Assim, passaremos a tecer algumas reflexões acerca da relação entre a atuação do professor e a formação docente. 3. FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE: QUE RELAÇÕES? As diferentes condições de escolarização, de desigualdade social, bem como as demandas para formação pessoal e profissional dos estudantes no atual contexto educacional, tem tornado a ação docente muito mais complexa. Diante das exigências da atual conjuntura é requerido do professor que construa conhecimentos, atitudes, valores úteis à sociedade; que perceba que a educação é uma forma de intervenção no mundo, “intervenção que além dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento” (FREIRE, 1996, p.110). Com efeito, ensinar é uma prática social, Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004496 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 não só porque se concretiza na interação entre professores e alunos, mas também porque esses atores refletem a cultura e contextos sociais a que pertencem (SACRISTÁN, 1995). Diante desse contexto desafiador, espera-se que a formação, seja ela inicial ou continuada, viabilize uma formação qualitativa do professor, profissional este aqui entendido como um dos principais construtores do processo de humanização dos sujeitos. No dia a dia do exercício da docência temos observado que os saberes utilizados pelos professores que não dispõem de uma preparação pedagógica são, prioritariamente, aqueles que provêm da experiência, das lembranças e registros da memória da época que eram alunos, sem evidência de um aporte teórico que dê sustentação à atividade docente. A esse respeito Pimenta e Anastasiou (2002, p.79) comentam que os professores, quando chegam à docência universitária, trazem consigo inúmeras e variadas experiências do que é ser professor. Experiências que adquiriram como alunos de diferentes professores ao longo de sua vida escolar. (...) o desafio, então, que se impõe é o de colaborar no processo de passagem de professores que se percebem como ex-alunos da universidade para ver-se como professores nessa instituição. Isto é, o desafio de construir a sua identidade de professor universitário, para o que os saberes da experiência não bastam. Também sobre a docência como experiência Tardif e Lessard (2007, p.51) dizem que quando se interrogam professores a respeito de suas próprias competências profissionais, é na maioria das vezes a essa visão de experiência que eles se referem implicitamente, para justificar seu “saber ensinar”. A formação de professores universitários, no sentido de qualificação científica e pedagógica, parece apresentar-se como um dos aspectos básicos da qualidade da universidade (ZABALZA, 2004). Essa afirmação nos remete à reflexão de que, apesar das diferentes formações da maioria dos professores de cursos de bacharelado, todos têm em comum a função docente e as questões próprias da docência no que concerne ao planejamento, à avaliação, à metodologia, dentre outros aspectos que conformam a organização do trabalho docente, são comuns a todos. Assim, entendemos ser essa formação/atualização pedagógica do corpo docente, uma responsabilidade que deve ser partilhada entre a Instituição e o professor, reconhecido o papel deste no processo de formação dos estudantes. Maria Izabel da Cunha (2007, p.19) nos ajuda nessa reflexão ao comentar sobre a articulação do campo da pedagogia com os conhecimentos específicos das diversas Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004497 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 áreas de conhecimento, destacando ser esse um “campo de diálogo epistemológico que exige humildade intelectual e parcerias interdisciplinares”. A formação do professor universitário, na contemporaneidade, é percebida como condição necessária ao exercício da docência (MELO & CORDEIRO, 2008). Destacam as autoras ser a formação docente um processo em construção permanente que se dá ao longo da trajetória de vida pessoal e profissional, nas múltiplas relações que o professor estabelece com os outros sujeitos na prática social mais ampla e pedagógica escolar, entendida aqui, o lugar do ensino sistematizado, e com a sua própria tarefa de ensinar na qual, a sala de aula é lugar privilegiado e especializado de realização dessa prática (Ibid. p.27). As autoras corroboram com a necessidade de formação pedagógica dos professores bacharéis que atuam na Educação Superior. Tal formação requer estudos de fundamentos e concepções educacionais, de um embasamento teórico-metodológico acerca do fazer pedagógico, bem como do trabalho de articulação do professor no processo de ensino aprendizagem, dentre outros fatores, que requerem conhecimento, competência, disposição, vontade, comprometimento com a educação por parte do docente. Tal processo requer, ainda, uma qualificação profissional, numa busca permanente de formação/atualização pedagógicas. Considerando que a formação, as experiências, os saberes dos professores, dentre outros elementos, vão configurando a construção da profissionalidade docente, prosseguiremos tecendo discussões e reflexões, no sentido de evidenciar noções de profissionalidade situando-as no contexto da Educação Superior, ressaltando nesse ínterim contribuições de estudiosos da área. 4. PROFISSIONALIDADE DOCENTE: O QUE DIZEM OS ESTUDIOSOS? No atual cenário de investigação, a docência, a profissionalização docente, articuladas ao processo de construção identitária do professor emergem como temáticas significativas, cujos focos de estudo envolvem a constituição do ser professor. Autores, tais como: Hoyle (1980); Bourdoncle (1991); Ramalho (2004); Roldão (2005); Cunha (2007); Ramos (2010), dentre outros, tem diferentes e relevantes contributos acerca da noção de profissionalidade docente. No processo de busca do entendimento da profissionalidade docente, tratamos inicialmente de entendê-la no contexto mais amplo do conceito de profissionalização. Em Ramalho (2004, p.50) a profissionalização é entendida como o Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004498 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 “desenvolvimento sistemático da profissão fundamentada na prática e na mobilização/atualização de conhecimentos especializados e no aperfeiçoamento das competências para a atividade profissional”. Em seus estudos a autora destaca que a profissionalização da docência se configura como um paradigma emergente, uma vez que o professor passa a ser considerado construtor de sua identidade, ao contrário de um técnico, executor de tarefas planejadas por especialistas. Complementando essa discussão acerca do ser professor, Veiga (2008) esclarece que há uma relação direta entre a construção da identidade e da profissionalização docentes, ressaltando que a constituição da identidade docente se caracteriza como uma das condições para a profissionalização do professor. Diz-nos, a autora, que a identidade docente vai se configurando com base no “significado dos movimentos reivindicatórios dos docentes e no sentido que o profissional confere a seu trabalho, definindo o que quer, o que não quer e o que pode como professor” (Ibid. p.17). Tal entendimento é reforçado pelas contribuições de Aguiar (2004; 2006) quando diz que a construção da identidade é passível de mudança, uma vez que se efetiva num processo historicamente situado, e nesse sentido, lembra a autora, a profissão docente surge num dado contexto e momento históricos, como resposta às necessidades que são colocadas pelas sociedades, adquirindo estatuto e legalidade. Com efeito, Cunha (2007, p.13) destaca que “a possibilidade de profissionalização passou a ser discutida no âmbito da formação e da recuperação do status social, defendendo-se a necessidade de se investir na qualidade da educação”. Parece-nos, então, que tais entendimentos sugerem ao professor requerer reconhecimento e qualificação da profissão docente. Para uma melhor compreensão da profissionalização e nela a noção de profissionalidade docente, passamos a contar com reconhecidos estudos de autores dessa área. Em seu texto - La professionnalisation des enseignants: analyses sociologiques anglaises et amériaines (1991), Bourdoncle afirma que a profissionalização abrange três processos: profissionismo, profissionalismo e profissionalidade. a) O profissionismo, termo utilizado para designar as estratégias coletivas de transformação da atividade em profissão. b) O profissionalismo compreende o estado dos militantes e ativistas da profissão, que procuram fazer reconhecer o valor do serviço que estão a prestar e aumentar sua autonomia, seu controle e seu monopólio. c) A profissionalidade remete Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004499 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 para a natureza, mais ou menos elevada e racionalizada dos conhecimentos e das capacidades utilizadas no exercício profissional, desenvolvimento profissional. Numa perspectiva aproximada da de Bourdoncle, Hoyle (1980) entende que a profissionalização se constitui a partir de duas dimensões: em busca da melhoria do (1) estatuto e da (2) prática. A melhoria do estatuto, para ele, envolve: período de formação/corpo qualificado; controle sobre as atividades da profissão (mais controle, mais relevo); a melhoria da prática, melhoria contínua do conhecimento e da competência dos práticos. Tais dimensões vão constituir outras duas noções: a de (a) profissionalismo (como compromisso entre os membros duma ocupação em relação à melhoria do estatuto); e a de (b) profissionalidade (reservado para as atitudes em relação à prática profissional entre os membros duma ocupação; grau de conhecimento e de competência que eles aplicam nessa tarefa). Em Ramalho (2004) a profissionalidade é entendida como estado e processo é o “conjunto de características de uma dada profissão que tem uma natureza mais ou menos elevada segundo os tipos de ocupação. É a racionalização dos saberes e das habilidades utilizadas no exercício profissional” (Ibid., p.53). Nessa mesma linha de discussão Roldão (2005) apresenta uma noção de profissionalidade como um conjunto de atributos, socialmente construídos, que permite distinguir uma profissão de outros tipos de atividade. A autora no mesmo estudo apresenta alguns atributos da profissionalidade, dos quais destacamos: o reconhecimento da especificidade da função; o saber específico – relacionado à atividade e a sua natureza; o poder de decisão sobre a atividade e a autonomia do seu exercício. Estabelecendo uma relação entre a docência e as noções de profissionalidade desses autores, percebemos estar implícita a idéia de que ser professor requer conhecimentos, habilidades, saberes próprios da docência (diferentemente da maioria dos professores bacharéis que não tem preparação pedagógica), uma vez que esta tem características específicas e apenas o domínio do conteúdo científico/disciplinar não basta para o exercício da docência. Em Ramos (2010) identificamos observação onde a autora destaca a natureza teórico-prática da profissionalidade e a pertinência de um corpo de conhecimentos que apóiem o desenvolvimento de competências profissionais na prática docente, nomeadamente no sentido de saber ensinar para o desenvolvimento da aprendizagem do estudante. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004500 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 Ainda no contexto das investigações e estudos acerca dessa temática, Cunha (2007, p.16) chama a atenção para o processo de construção da profissionalidade, afirmando que a ação de ensino não pode se isolar do espaço/tempo onde se realiza, pois está ligada de maneira intensa a determinações que gravitam em torno dela. Ele (professor) não mais representa o tradicional transmissor de informações e conhecimentos – ação quase impensável, em virtude da revolução tecnológica – mas assume uma nova profissionalidade de caráter interpretativo, sendo uma ponte entre o conhecimento sistematizado, os saberes da prática social e a cultura onde acontece o ato educativo, incluindo as estruturas sociocognitivas do aluno. Percebemos no atual cenário de discussões e reflexões educacionais que a noção de profissionalidade docente tem recebido, cada vez mais, a atenção de estudiosos/pesquisadores, considerando a pertinência de sua constituição nos diversos espaços educacionais, particularmente no âmbito da Educação Superior, e suas implicações no processo de busca da qualidade da educação. 5. CONSIDERAÇÕES (IN)CONCLUSIVAS: ENTRE DISCUSSÕES E REFLEXÕES, QUE CONTRIBUTOS? Enquanto considerações (in)conclusivas evidenciamos alguns desafios, entendidos como elementos/contribuições sinalizadas pelos autores que utilizamos como referência para esse estudo. Um aspecto evidente da análise dos dados referentes ao debate sobre a temática é que ainda são escassos os estudos que tratam dos descritores da profissionalidade docente. Diante das noções de profissionalidade e reflexões tecidas nesse trabalho, a partir de estudos de alguns autores/pesquisadores da temática, outras reflexões e provocações emergem considerando a realidade, particularmente, de Instituições de Educação Superior onde a profissionalidade docente vai se configurando. Dentre os desafios identificados destacamos a necessidade de um olhar, em especial, das Instituições de Educação Superior (IES) acerca do professor, no sentido de perceber se este se reconhece como construtor de sua profissionalidade docente, diferentemente da de um técnico, executor de tarefas. Considerando a possibilidade de que a profissionalização perpassa a discussão da formação, cabe às IES reconhecerem os interesses ou não dos docentes com relação à formação pedagógica, além da necessidade de uma autoavaliação institucional sobre esse aspecto, no sentido de identificar a postura da instituição quanto à atenção e às Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.004501 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 condições para a formação e atuação dos docentes, enquanto política de investimento na qualidade da Educação Superior. A análise desse estudo ratifica limites das Instituições no reconhecimento do seu papel no processo de profissionalização dos seus docentes. Importantes aspectos também identificados como contribuições nesse estudo, são os atributos referidos, enquanto descritores da profissionalidade (reconhecimento da especificidade da função; saber específico da atividade e a sua natureza; poder de decisão sobre a atividade; autonomia do seu exercício), como elementos a serem discutidos com profundidade, uma vez que ao que parece ainda não se tem clareza das especificidades da docência. Outro relevante aspecto destacado nesse trabalho é o de saber ensinar para o desenvolvimento da aprendizagem do estudante, ou seja, uma profissionalidade que contemple o papel do professor como mediador do processo de ensino e aprendizagem. Assim, compreendemos que o atual cenário educacional requer uma particular atenção das Instituições de Educação Superior e dos professores no que concerne à formação e a atuação docente, bem como que o professor exercite a reflexão acerca da prática docente e da construção de sua profissionalidade, no sentido de possibilitar a sua ressignificação frente às exigências e demandas sociais de (re)construção de conhecimentos em prol da formação humana/cidadã e da qualidade da educação. REFERÊNCIAS AGUIAR, M. da Conceição Carrilho. A Formação Contínua do Docente como Elemento na Construção de sua Identidade. Tese de Doutorado – Universidade do Porto, 2004. BOURDONCLE, Raymond. La professionnalisation des enseignants: analyses sociologiques anglaises et amériaines, Revue Française de Pedágogie, 94,1991 p.7392. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O ENSINO SUPERIOR (1998: Paris, França). Tendências de Educação Superior para o Século XXI/UNESCO. Brasília: UNESCO/CRUB, 1999. CUNHA, Maria Izabel da. 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