UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARCIA BORGATO INAOKA ROSEMEIRE DE SOUZA DIAS SUSANA CORREIA DA SILVA APLICAÇÃO DO PEAD NA CONSTRUÇÃO CIVIL E ESTUDO DO SEU USO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL SÃO PAULO 2010 2 MARCIA BORGATO INAOKA ROSEMEIRE DE SOUZA DIAS SUSANA CORREIA DA SILVA APLICAÇÃO DO PEAD NA CONSTRUÇÃO CIVIL E ESTUDO DO SEU USO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: Prof. Me. Eng. Fernando José Relvas 3 MARCIA BORGATO INAOKA ROSEMEIRE DE SOUZA DIAS SUSANA CORREIA DA SILVA APLICAÇÃO DO PEAD NA CONSTRUÇÃO CIVIL E ESTUDO DO SEU USO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2010. ______________________________________________ Prof. Me. Eng. Fernando José Relvas ______________________________________________ Profª. Drª. Adir Janete Godoy dos Santos Comentários:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ SÃO PAULO ___________________________________________________________________ 2010 4 Dedico este trabalho a todos que acreditaram em mim, que não me deixaram esmorecer nas horas difíceis. Principalmente meu filho Felipe, pela compreensão e paciência nas minhas constantes ausências. Espero ter deixado para ele um exemplo de força de vontade e perseverança. Marcia Dedico este trabalho à família Souza Dias: órfã de filha, mãe, e esposa. Espero que esta conquista compense toda minha ausência. Rosemeire Dedico este trabalho primeiramente ao Senhor Jesus, sem Ele não saberia qual direção tomar, agradeço aos meus pais e minha irmã por sempre me incentivarem em tudo o que faço e agradeço às minhas Rosemeire. Susana amigas Marcia e 5 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste trabalho, em especial ao grande amigo Márcio Nery da Rocha que teve papel fundamental junto à empresa Impacto Protensão para obtenção do acervo da referência bibliográfica. À Empresa Impacto Protensão nas figuras da Sra. Marina Pessoa e do Engenheiro Joaquim Caracas sempre solícitos ao atendimento de nossas dúvidas e requisições. Aos nossos queridos professores Me. Fernando José Relvas e Wilson Shoji Iyomasa pela paciência, apoio e orientação. 6 "Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram." (GRAHAN BELL) 7 RESUMO O presente trabalho trata de um estudo da utilização da tecnologia de construção de habitações de interesse social em PEAD (Polietileno de Alta Densidade). São relatados também alguns dos conceitos relativos ao histórico, propriedades, e aplicação do plástico na construção civil. O problema da escassez de moradia da população brasileira, é um dos fatores de grande impulso ao estudo da viabilidade da utilização de novos materiais, para diminuir o custo e acelerar a produção das edificações. A utilização do material plástico na construção civil também visa sanar parte do problema causado pela geração de resíduos, já que o material empregado é provindo de reciclagem. Este trabalho apresenta os aspectos construtivos de habitações fabricadas em PEAD, sua funcionabilidade, vantagens e desvantagens, demonstrando de forma particularizada uma edificação construída em painéis de PEAD e cimbramento metálico. Palavras Chave: Habitação, PEAD, Interesse Social, Reciclagem. 8 ABSTRACT This present paper is a study of using technology to build social housing in HDPE (Polyethylene High Density). There are also reported the conception regarding the history, properties, and application of plastics in construction. Because housing for Brazilian population is scarce causes a great impetus to the study of the feasibility of using new materials to reduce cost and accelerate the building´s production. Use plastics in construction also will remedy part of the problem caused by waste generation, since the material used is coming from recycling. This document presents the constructive aspects of housing made from HDPE, its functionality, advantages and disadvantages, so particularized showing a building built in panels of HDPE and metal scaffolding. Keywords: Housing, HDPE, Social Interest, Recycling 9 LISTA DE FIGURAS Figura 5.1 – Cisterna em PEAD ................................................................................ 36 Figura 5.2 – Geomembrana em Aterro Sanitário....................................................... 37 Figura 5.3 – Lagoa de Vinhaça em usinas de cana de açúcar. ................................. 37 Figura 5.4 Geomembrana em lagoa para contenção de resíduos de animais. ......... 38 Figura 5.5 Revestimentos de Reservatórios enterrados. .......................................... 38 Figura 5.6 Requisitos Básicos previstos na Norma de Desempenho das Edificações ........................................................................................................................... 40 Figura 6.1 Estande projeto ECOELCE – 2008 .......................................................... 45 Figura 6.2 Vestiário na Petrobrás .............................................................................. 46 Figura 6.3 Vista Externa Refeitório Obra MPX – Integral Engenharia ....................... 46 Figura 6.4 Vista Interna - Refeitório Obra MPX - Integral Engenharia ....................... 47 Figura 6.5 Escola em Maracanaú.............................................................................. 47 Figura 6.6 Casa para certificação na Universidade Federal do Ceará ...................... 48 Figura 6.7 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada Frontal ................................. 49 Figura 6.8 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada dos Fundos.......................... 49 Figura 6.9 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada Lateral ................................. 49 Figura 6.10 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Varanda ............................................ 50 Figura 6.11 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Estar ................................................. 50 Figura 6.12 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Dormitório ......................................... 50 Figura 6.13 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Banho ............................................... 51 Figura 6.14 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Planta baixa ..................................... 51 Figura 6.15 Placas de Plasterit – Emprego em lajes ................................................. 53 Figura 6.16 Obra em Brasília utilizando o Plasterit e o cimbramento metálico.......... 54 Figura 6.17 Placa de Vedação Interna ...................................................................... 54 Figura 6.18 Cimbramento metálico ........................................................................... 55 Figura 6.19 - Estrutura Suporte e Malha Reticulada para Piso ................................. 56 Figura 6.20 – Encaixe das longarinas verticais e horizontais com as placas externas ........................................................................................................................... 57 Figura 6.21 – Encaixe final de longarinas e placas .................................................. 57 Figura 6.22 – Montagem da cobertura com treliças metálicas e telhas .................... 58 Figura 6.23 – Instalação de esquadrias ................................................................... 58 10 Figura 6.24 – Revestimento em Áreas de Estar e Dormitórios................................. 58 Figura 6.25 – Revestimento em Áreas Molhadas..................................................... 59 Figura 6.26 – Revestimento Externo com Textura ................................................... 59 Figura 6.27 – Vista do Deck ..................................................................................... 60 Figura 6.28 - Casa Guaramiranga – Acabamento finalizado ..................................... 60 Figura 6.29 - Casa Guaramiranga – Planta baixa ..................................................... 61 Figura 7.1 - Casa de Plástico montada no Campus da UFC ..................................... 65 Figura 7.2 – Paredes externas do protótipo .............................................................. 68 Figura 7.3 – Equipamento de ensaio para verificação da estanqueidade. ................ 68 11 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 – Surgimento Cronológico dos Materiais Plásticos (Modificada) ............. 23 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABPOL Associação Brasileira de Polímeros COELCE Companhia Energética do Ceará FINEP Financiadora de Estudos e Projetos J Joules NBR Norma Brasileira Regulamentadora PE Polietileno PEAD Polietileno de Alta Densidade PEBDL Polietileno de Baixa Densidade Linear PET Polietileno Tereftalato (Poliéster Saturado) PP Polipropileno PPI Plastic Pipe Institute PVC Cloreto de Polivinila UFC Universidade Federal do Ceará UV Ultra Violeta SVVE Sistemas de Vedação Vertical 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16 2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 19 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 19 2.2 Objetivo Específico ...................................................................................... 19 3. MÉTODO DE TRABALHO ................................................................................ 20 4 JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 21 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 23 5.1 Histórico do plástico na construção civil ................................................... 23 5.2 Definições ..................................................................................................... 24 5.2.1 Plásticos ...................................................................................................... 25 5.2.2 Reciclagem ................................................................................................. 25 5.3 Classificação dos plásticos ......................................................................... 26 5.3.1 Termoplásticos ............................................................................................ 26 5.3.2 Termofixos ou Termorrígidos ...................................................................... 26 5.3.3 Elastômeros ................................................................................................ 26 5.3.4 Polímeros naturais ...................................................................................... 27 5.4 Reciclagem dos plásticos ............................................................................ 27 5.5 PEAD – Polietileno de Alta Densidade........................................................ 29 5.6 Propriedades e características .................................................................... 30 5.6.1 Reologia ...................................................................................................... 31 5.6.2 Propriedades Térmicas ............................................................................... 31 5.6.3 Propriedades Mecânicas ............................................................................. 32 5.6.4 Propriedades elétricas ................................................................................ 32 5.6.5 Tensão e deformação ................................................................................. 32 14 5.6.6 Resistência química, eletrolítica e à Abrasão ............................................. 32 5.6.7 Permeabilidade ........................................................................................... 33 5.6.8 Durabilidade ................................................................................................ 34 5.7 Aplicação do PEAD na Construção Civil .................................................... 34 5.7.1 Tubos e conexões ....................................................................................... 34 5.7.2 Cisternas ..................................................................................................... 35 5.7.3 Geomembranas .......................................................................................... 36 5.7.4 Casa Popular .............................................................................................. 38 5.8 Normatização ................................................................................................ 39 5.8.1 Requisitos gerais para o edifício habitacional ............................................. 41 5.8.2 Impactos de corpo mole .............................................................................. 41 5.8.3 Impactos de corpo duro .............................................................................. 42 5.8.4 Ensaio de Estanqueidade ........................................................................... 42 5.8.5 Desempenho térmico .................................................................................. 43 6 SISTEMA CONSTRUTIVO DE HABITAÇÕES EM PAINEL DE PEAD ............ 45 6.1 Aspectos gerais do projeto ......................................................................... 45 6.2 Local da construção ..................................................................................... 48 6.3 Limitações do Sistema Construtivo ............................................................ 52 6.4 Edificação em PEAD..................................................................................... 52 6.4.1 Componentes do Sistema Construtivo ........................................................ 53 6.4.2 Parâmetros de resistência .......................................................................... 56 6.4.3 Seqüência de Montagem da Casa .............................................................. 56 6.5 Avaliação e monitoramento da unidade de teste....................................... 61 6.6 Viabilidade econômica ................................................................................. 62 7 7.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................... 65 Avaliação e monitoramento da unidade de teste....................................... 65 15 7.2 Fatores técnicos, financeiros e administrativos determinantes dos desenvolvimentos alcançados............................................................................... 66 7.3 Avaliação de desempenho em Relação à estanqueidade à Água de Chuva das Vedações Verticais de paredes externa do sistema construtivo “Casa De Plástico” .................................................................................................. 67 8 CONCLUSÕES .................................................................................................. 70 9 RECOMENDAÇÕES.......................................................................................... 72 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 74 16 1. INTRODUÇÃO Na atualidade, a demanda necessária de habitações populares no Brasil suplanta o número de oferta existente, como podem ser verificadas nas notícias diárias publicadas nos jornais e comentários de analistas apresentados nas rádios e televisões. Os impactos negativos gerados no meio ambiente pelos métodos construtivos tradicionais de moradia são fatores de impulsão para o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas visando o emprego de novos materiais. E para tal é de suma importância avaliar a vida útil dos novos componentes, questionar a origem e disponibilidade de matéria-prima, manufatura, distribuição, aplicação, reuso e reciclagem (PROVENZANO e BARTH, 2006). Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil (2005), este setor da construção é reconhecido como propulsor do crescimento econômico e social. Todavia, é também grande gerador de impactos ambientais, tanto pelo dispêndio de recursos naturais, quanto pela transformação da paisagem e geração de resíduos. Portanto, um grande desafio a ser suplantado é a conciliação da execução das atividades da construção civil com desenvolvimento sustentável e consciente, tentando mitigar ou extinguir várias das agressões ao meio ambiente. Dentro deste contexto, diversas soluções inovadoras são introduzidas no mercado brasileiro. Contudo, há dificuldade em atender a relação de custo acessível com qualidade (KLEIN et al., 2004). De acordo com Nogueira e Barretos (2008), uma das maneiras de alcançar as metas supracitadas é buscar a racionalização e industrialização da construção, de tal maneira que a construção de edificações possa consagrar os melhores métodos tanto na fase de projeto como na execução. 17 A implementação de um sistema de linha de produção na construção de moradias deve ser baseada nos seguintes princípios: custo acessível; uso de materiais novos de ampla qualidade e resistência; métodos construtivos simplificados com características de processo industrial; que restrinjam o impacto ambiental com a diminuição do desperdício e o reaproveitamento de materiais; redução dos resíduos sólidos; baixo consumo de recursos naturais e energéticos; e produção de moradia aprazível ao usuário com relação à aparência, conforto acústico, térmico e de estanqueidade (KLEIN et al., 2004). Está em processo de viabilização a construção de habitações populares cujo objetivo principal é a utilização de materiais e elementos construtivos de baixo impacto ambiental. O projeto foi idealizado pelo engenheiro Joaquim Antônio Caracas Nogueira em conjunto com a Universidade Federal do Ceará e visa atender a necessidade básica de habitação com qualidade e conforto. Este protótipo utiliza placas de polietileno de alta densidade (PEAD) que embora esteja em fase de estudos, é uma proposta que promove a sustentabilidade, pois diminui os resíduos gerados, utiliza produtos recicláveis e emprega baixo número de recursos naturais, causando a redução nos impactos ambientais (NOGUEIRA e BARRETOS, 2008). Desde a sua descoberta em 1933, o polietileno tem se tornado um dos mais utilizado dentro da gama de materiais termoplásticos. A sua versatilidade é demonstrada por seus diversos usos e aplicações. Sendo comercializado a partir da década de 50, o polietileno de alta densidade na atualidade, é o quarto termoplástico mais vendido mundialmente, e também a segunda resina mais reciclada no mundo (PLASTIVIDA, 2002). Atualmente as resinas de polietileno são altamente trabalhadas para muitos empregos, como pressurização de gás, membranas, tanques e outras demandas de aplicação (PPI, 2010). 18 Na presente pesquisa estudou-se a possibilidade do emprego do PEAD na construção civil, em especial, para habitações simples que atendem populações de baixa renda. A edificação é construída utilizando placas modulares em PEAD tipo sanduiche que são preenchidas com espuma de poliuretano, para isolamento térmico e acústico. As juntas entre as placas são realizadas com perfis metálicos ou plásticos. Por serem mais leves, as estruturas em plástico são praticamente auto-portantes eliminando a necessidade de fundações e escavações, devido ao alivio de cargas, sendo executadas diretamente sobre o terreno limpo. Sendo assim, o processo construtivo de edificações em placas de PEAD, promove aumento da produtividade e conseqüente redução de custo pela rapidez de execução, diminuição de etapas construtivas (escavações, fundações, alvenarias, pilares e contrapiso), e uso de matéria prima provinda de reciclagem. Estes fatores além de garantir a sustentabilidade da construção, atende aos parâmetros econômicos para execução de uma habitação de interesse social. 19 2. OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo principal o estudo de materiais alternativos na construção civil, procurando incentivar o uso de materiais provindos do processo de reciclagem. 2.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho é pesquisar informações técnicas sobre as propriedades e características do Polietileno de Alta Densidade (PEAD), bem como o uso deste material aplicado na construção civil. Sendo assim, são descritas as vantagens e desvantagens do uso do material por meio de detalhamento de uma aplicação específica. 2.2 Objetivo Específico O objetivo específico é o estudo da aplicação do uso de PEAD em um projeto de habitação de interesse social. Visando, assim, mostrar a versatilidade do material, as questões econômicas, ambientais e sociais do emprego deste material para esta destinação específica. Abordou-se o método construtivo e a substituição das técnicas convencionais de construção, contribuindo com a discussão e banco de dados para possível normatização técnica. 20 3. MÉTODO DE TRABALHO A primeira etapa para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada por meio de pesquisas bibliográficas em livros, dissertações, portais da internet e catálogos técnicos sobre as características do material PEAD (Polietileno de Alta Densidade). Em seguida, foram consultadas normas técnicas para considerar a viabilidade de suas aplicações na construção civil. Ao término da fase de pesquisa, foi desenvolvido um estudo de caso referente à utilização do material na construção de uma habitação de interesse social (popular). Este estudo visa demonstrar a versatilidade do material, sua viabilidade econômica, técnica construtiva, aspectos ambientais e sociais do emprego do material para esta finalidade. Foi realizada visita a evento técnico (Concrete Show) onde foram colhidas, junto ao idealizador do projeto, que é objeto do estudo de caso, informações técnicas sobre a implantação do sistema construtivo, processo de fabricação, características, técnicas de montagem, execução de instalações e aplicação de acabamentos. Material fotográfico e vídeos sobre a construção da casa foram fornecidos pelo fabricante para anexar ao estudo de caso. O idealizador do projeto, objeto do estudo de caso, foi entrevistado para expressar sua visão sobre as perspectivas para a empregabilidade do material no setor da construção civil, e a importância do surgimento de novas tecnologias. 21 4 JUSTIFICATIVA O uso do plástico vem se intensificando na engenharia civil, pois o material oferece aos profissionais do setor combinações de vantagens não encontradas em outros materiais, como baixo peso específico, flexibilidade, versatilidade, resiliência, resistência à deterioração por decomposição e ataque de microorganismos, resistência à corrosão, resistência mecânica, transparência, facilidade de processamento e baixo custo de manutenção. Além disso, algumas de suas propriedades podem ser melhoradas com a utilização de blendas poliméricas (mistura de polímeros de mesma família química) e adição de cargas minerais e fibras de elevado módulo de elasticidade e resistência. A possibilidade de reciclagem do material é um fator atrativo para a utilização do plástico como material construtivo, pois é de significativa importância nos termos ambientais, sociais e econômicos, contribuindo para geração de emprego e renda, preservação de fontes esgotáveis de matéria-prima e redução de gastos com a disposição final dos resíduos dentre outras vantagens (CANDIAN, 2007). Os plásticos mais utilizados para reciclagem são constituídos basicamente por termoplásticos (polímeros artificiais que, a uma dada temperatura, apresentam alta viscosidade podendo ser conformados e moldados), dentre eles encontra-se o PEAD (Polietileno de Alta Densidade) que é objeto do presente estudo. O tema é pertinente no cenário atual, pois expõe uma nova tecnologia a ser explorada com alto poder apelativo no aspecto da sustentabilidade. Há também o aspecto social, uma vez que o problema da escassez de moradia da população brasileira é uma realidade. Deste modo, é importante o estudo da viabilidade da utilização de novos materiais visando diminuir o custo e acelerar a produção das edificações. 22 O desenvolvimento deste trabalho visa apresentar os aspectos construtivos de habitações populares fabricadas em PEAD, para demonstrar sua funcionalidade, vantagens e desvantagens, expondo o uso do material aplicado à construção civil e incitar novas propostas para sua utilização. 23 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo serão explanadas todas as referências bibliográficas utilizadas para fundamentação do estudo de caso proposto neste trabalho. 5.1 Histórico do plástico na construção civil De acordo com Danieletto (2007), o aparecimento dos materiais plásticos, em geral, é um fenômeno relativamente recente. Para ilustrar tal fundamentação, segue a Tabela 5.1: Tabela 5.1 – Surgimento Cronológico dos Materiais Plásticos (Modificada) MATERIAL Resisna Fenólica (Baquelite)* Acetato de Celulose Cloreto de Polivinila Polimetil Metacrilato (Acrílico) Poliestireno Estireno-Acrilonitrila Acetato de Polivinila Poliamida (Nylon 6.6) Poliuretano** Melamina Formaldeído (Fórmica)* Polietileno de Baixa Densidade Politetrafluoretileno Poliéster Instaurado Reforçado com Fibra de Vidro* Resina Epóxo (Araldite)* Acrilonitrila-Butadieno-Estireno Polietileno Tereftalato (Poliéster Saturado) Polietileno de Alta Densidade Polibutileno Policarbonato Poliacetal Polipropileno Polietileno Reticulado Polibutileno Tereftalato (Poliéster Saturado) Polietileno MRS 80 Polietileno MRS 100 SIGLA PF CA PVC PMMA PS SAN PVA PA PU MF PEBD PTFE PRFV EP ABS PET PEAD PB PC POM PP PEX PBT PE 80 PE 100 1ª PRODUÇÃO 1909 1916 1927 1928 1930 1936 1936 1938 1938 1939 1939 1941 1941 1943 1948 1953 1955 1955 1958 1958 1959 1968 1970 início dos 80´s início dos 90´s Nota: * São Termofixos; os demais são termoplásticos ** O PU pode ser encontrado como termoplástico, elastômero ou termofixo Fonte: Danieletto (2007). 24 Pensando que os recursos naturais são finitos e estão cada vez mais escassos, a utilização de materiais sintéticos, como os plásticos, está se intensificando. Segundo Parente (2006), o uso do plástico na construção civil é mais freqüente em elementos não estruturais como, por exemplo, revestimento, iluminação, isolamento térmico e acústico, impermeabilização, adesivos e acessórios. Sendo a indústria da construção civil, segundo Menezes (1989) apud Parente (2006), a segunda maior consumidora de plásticos do mercado mundial. Apenas em países subdesenvolvidos, o uso do plástico não é tão significativo. Na década de 30, diversas casas modulares foram construídas com plástico, tanto nos Estados Unidos como no continente europeu, a título de experiência, conforme descreveu Quarmby (1976) apud Parente (2006). Contudo os protótipos não conseguiram se consolidar no mercado, principalmente devido à baixa resistência dos materiais plásticos da época. Em 1941, a empresa escocesa Buildings Plastics Research Corporations de Glasgow, desenvolveu o projeto de casas modulares de plástico que tinha um sistema de montagem rápida, contudo, exigiam precisão na montagem e no acabamento interno e externo. Vários modelos de construções modulares com plástico foram propostos e construídos posteriormente, mas todos sem a implantação da produção em larga escala, fazendo com que, à época, o sistema construtivo entrasse em desuso (PARENTE, 2006). 5.2 Definições Para um melhor entendimento do assunto, a seguir serão relatadas as definições de plástico e reciclagem. 25 5.2.1 Plásticos “A palavra plástico vem do grego plastikós, que, em latim, originou o adjetivo plasticus, que define a propriedade de um material de adquirir diversas formas, devido a uma ação exterior.” (PARENTE 2006, p. 1). Os plásticos são formados a partir de longas cadeias de macromoléculas, ou polímeros. Eles possuem propriedades que os tornam atrativos em relação a outros materiais por serem leves, resilientes (que resistem ao impacto sem se deformar definitivamente), não deteriorarem por decomposição e ataque de microorganismos, serem resistentes à corrosão, de fácil processamento e com baixo custo manutenção (PARENTE, 2006). 5.2.2 Reciclagem “A reciclagem é um processo industrial que converte o lixo descartado (matéria-prima secundária) em produto semelhante ao inicial ou outro. Reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que é jogado fora. A palavra reciclagem foi introduzida ao vocabulário internacional no final da década de 80, quando foi constatado que as fontes de petróleo e outras matérias-primas não renováveis estavam e estão se esgotando. Reciclar significa = Re (repetir) + Cycle (ciclo).“ (AMBIENTE BRASIL, 2010). A reciclagem pode ser dividida nas seguintes etapas: • Coleta: etapa ligada a políticas públicas de conscientização, campanhas de esclarecimento e infra-estrutura para coleta e armazenamento do resíduo a ser reaproveitado; • Separação ou triagem: triagem por tipos de material (papel, plásticos, madeiras, metais etc.). No caso dos plásticos, deve ser feita a triagem por tipo de plástico (PVC, polietileno, polipropileno etc.); • Revalorização: etapa intermediária que prepara o material coletado e separado para a comercialização e/ou etapa de transformação; • Transformação: processamento do material para a geração de novos materiais ou produtos (PARENTE, 2006). 26 5.3 Classificação dos plásticos O universo dos materiais plásticos é bastante amplo, podendo ser dividido em quatro categorias básicas (CRAWFORD, 1987 apud PARENTE, 2006): • Termoplásticos; • Termofixos ou termorrígidos; • Elastômeros; • Polímeros naturais. 5.3.1 Termoplásticos Conforme Parente (2006), termoplástico é um plástico (polímero artificial) que, quando aquecido a determinada temperatura, apresenta alta viscosidade tornandose flexível. É um material polimérico sintético, que se deforma facilmente quando aquecido e pode ser remodelado e novamente solidificado mantendo a sua nova estrutura. Este processo pode ser repetido inúmeras vezes, e, portanto, é um material altamente reciclável. Isto acontece devido ao aquecimento provocar o enfraquecimento das forças intermoleculares (que o torna flexível) e ao ser resfriado, voltam a ser estabelecidas as suas ligações intermoleculares. São exemplos de termoplásticos o polietileno (PE), cloreto de polivinila (PVC), poliestireno (PS), poliamida e polipropileno (PP), entre outros. 5.3.2 Termofixos ou Termorrígidos Diferente dos termoplásticos, os termofixos ou termorrígidos não podem ser amolecidos e moldados novamente devido ao seu processo de fabricação e moldagem. Os termofixos quando aquecidos queimam e se degradam. Exemplos: formaldeídos, resinas epóxicas e alguns poliésteres (PARENTE, 2006). 5.3.3 Elastômeros De acordo com Parente (2006), elastômeros são polímeros que possuem propriedades elásticas que permitem duplicar ou triplicar o seu comprimento, 27 recuperando o seu tamanho quando se interrompe a tensão. Possuem, portanto, a propriedade da elasticidade. Como exemplo de uso pode-se citar os pneus. 5.3.4 Polímeros naturais Conforme definido por Parente (2006), polímeros naturais são materiais que estão presentes na natureza, como a borracha (extraída da seringueira), a celulose e as proteínas. Eles fazem parte dos processos orgânicos responsáveis pela manutenção da maioria da vida vegetal e animal. 5.4 Reciclagem dos plásticos Segundo a Associação Brasileira de Polímeros (2010), o plástico é um polímero muito utilizado em produtos encontrados no dia-a-dia, com isso, a reciclagem é vantajosa por reutilizar essa demanda de produtos guardando as propriedades e características do plástico. Nos últimos anos, entre todo o resíduo sólido que é depositado nos aterros de São Paulo, apenas 5% deste é plástico. Embora encontrados em muitas lojas de materiais, inclusive de construção civil, itens fabricados de plástico reciclável sofre certa rejeição pelos consumidores finais, devido a sua procedência. Contudo, a maioria dos usuários destes produtos não possui conhecimento que a origem advém de reciclagem. Se houvesse uma melhor aceitação desse material, desenvolver-se-ia um processo sustentável, pois devido à grande produção de resíduo sólido na cidade, ter-se-ia grandes fontes, também seria valorizado o trabalho de muitos autônomos, e apoio a pequenas empresas que não tem apoio governamental para continuar no mercado (ABPOL, 2010). A melhor alternativa para a situação atual no país para diminuir os resíduos, e aumentar o tempo de vida útil dos aterros, é incentivar a utilização desses produtos. 28 Com isso, aumentar-se-ia a oferta e procura, e conseqüentemente ampliação de produção. O método de reaproveitamento ou reciclagem dos produtos advindos dos aterros e de processos industriais está dividido em 3 tipos: mecânica, química e energética. Todos esses métodos trazem auxilio na redução de resíduos sólidos, com a reciclagem dos polímeros. O procedimento mais utilizado no país é a reciclagem do tipo mecânica: 15% dos reciclados são realizados dessa maneira, que é a combinação de moagem, aglomeração, granulação (denominado de grânulos a matéria prima usada para reciclagem). O resíduo sólido urbano, em especial o industrial, é atualmente uma das maiores fontes de plástico para processo de reciclagem. Em muitos locais ainda não existe a coleta seletiva, e sem ela, o material a ser reciclado recolhido é encontrado muito sujo e impróprio para ser reciclado diretamente. Além de outras dificuldades como: • Dificuldade de seleção e limpeza do resíduo sólido; • Muitos impostos cobrados para essa categoria no mercado; • O preço do plástico sofre muitas alterações; Depois de separado, ele pode passar pela reciclagem sem maiores problemas. E depois da reciclagem é classificado em rígido e flexível, e pode ser dividido em três grupos: rígido, flexível e plastisol (no processo de reciclagem essa não aparece, prevalece então, rígido e flexível) (ABPOL, 1999). Segundo estudos realizados pela Universidade Estadual do Maringá (UEM-PR) em conjunto com a Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC-RS), os plásticos reciclados mantêm um ótimo desempenho em relação às propriedades mecânicas. Um destes estudos apontou que o PEAD se apresenta bastante estável, pois, mesmo sem o acréscimo de aditivos, suas propriedades mecânicas permaneceram relativamente constantes. O uso do polietileno reciclado gera benefícios de redução do consumo de energia em 33%, redução na emissão de dióxido de carbono de 66%; redução de 33% na 29 emissão de dióxido de enxofre; de 50% na de óxido nitroso e redução no consumo de água de 90% (PETECH, 2010). 5.5 PEAD – Polietileno de Alta Densidade O PEAD (Polietileno de Alta Densidade) pode ser chamado de um termoplástico (plástico, ou polímero artificial, que, a uma dada temperatura, apresenta alta viscosidade podendo ser conformados e moldados). Na atualidade seu maior uso é em embalagens. Foi introduzido no mercado, em meados de 1950, sendo hoje um dos mais vendidos do mundo e mais reciclados. Possui alta resistência ao impacto mesmo em baixas temperaturas e resiste à agentes químicos (ABPOL, 1999). O Polietileno é quimicamente inerte e é considerado o polímero quimicamente mais simples. Segundo Danieletto (2007), o Polietileno é obtido pela polimerização (reação química que dá origem aos polímeros) do gás eteno e do propileno, respectivamente, na presença de catalisadores (substância que acelera a reação) e sob determinadas condições de temperatura e pressão. A estrutura molecular dos plásticos é de átomos de carbono, segundo Danieletto, 2007. “As cadeias de átomos de carbono apresentam ramificações ou cadeias laterais, em maior ou menor quantidade. O grau de ramificação e o comprimento dessas cadeias laterais exercem considerável influência sobre as características do material, por constituírem um obstáculo à formação dos cristais.” (DANIELETTO, 2007, p. 9). Quando se varia os parâmetros de pressão, temperatura, catalisadores e quantitativos na polimerização, são obtidos diferentes pesos moleculares, densidade, ou seja, diferentes produtos com maior ou menor flexibilidade e resistência mecânica. 30 No caso específico do PEAD o etileno deve ser polimerizado a baixa pressão e basicamente por dois tipos de processo: o processo ZIEGLE e PHILIPS. No processo ZIEGLE a polimerização é feita com pressão de 3 a 4 bar e temperatura entre 50°C e 75°C, e no processo PHILIPS a pressão é da ordem de 30 a 40 bar e temperatura entre 120°C e 175°C (DANIELETTO, 2007). De acordo com Danieletto 2007, o Polietileno tende a se cristalizar quando resfriado. A cristalização dos polímeros depende da quantidade de ramificações da macromolécula sendo mais cristalino e com maior densidade, rigidez, maciez e flexibilidade na proporção de menor ramificação. PEAD - Polietileno da Alta Densidade: “Macromoléculas com estrutura linear com poucas ramificações curtas, grau de cristalização de 60 a 80% e densidade de 0,941 a 0,965 g/cm³.” (DANIELETTO, 2007 p. 13). O PEAD é um material de fácil reciclagem, que não causam problemas ambientais e de saúde. Possui importante resistência à água sem segurar o oxigênio ou o gás carbônico. Atualmente procura-se aumentar o leque de atuação do PEAD no mercado melhorando o processo produtivo, aumentando então sua fabricação. Segundo a Associação Brasileira de Polímeros (2010), a construção civil participa com 15% do consumo geral de produtos em PEAD. 5.6 Propriedades e características Segundo o Plastics Pipe Institute (2010), o PEAD é um material que oferece uma gama de propriedades que podem ser trabalhadas para aperfeiçoar o desempenho de certas características dentro da engenharia. Abaixo seguem algumas descrições das propriedades do material como reconhecidas pelas normas especificas da ASTM para PEAD. Sendo que uma das mais importantes propriedades é a resistência. 31 5.6.1 Reologia Para entendimento de alguns fenômenos descrito nos próximos parágrafos, é necessária a definição de alguns termos importantes sobre as propriedades dos plásticos. Em primeiro lugar, definir a reologia, que segundo Danieletto (2007), é a ciência que estuda comportamento de deformação e do fluxo de matéria que estão sob tensões, em certas condições termodinâmicas em um intervalo de tempo. Compreende as propriedades tais como: elasticidade, viscosidade e plasticidade. A viscosidade é a medida da resistência interna ou fricção interna de uma substância ao fluxo quando submetida a uma tensão. E quanto mais viscosa a massa, maior será a dificuldade de escoamento, significando maior coeficiente de viscosidade. 5.6.2 Propriedades Térmicas Acréscimo e decréscimo de temperatura induzem a respectivo aumento e diminuição no comprimento de elementos constituídos de PEAD, podendo ocasionar tensão entre elementos devido ao aumento de temperatura, e no caso de resfriamento, ocorrerá constrição incidindo na ruptura do material. Se comparado ao metal, o PEAD possui um coeficiente de dilatação 10 vezes maior, por isso ambos os efeitos, devem ser considerados no projeto, instalação, e operação de peças de PEAD. Em contrapartida a capacidade de condução termal dos materiais em PEAD é cerca de um centésimo em relação ao cobre e ferro (PPI, 2010). Segundo Danieletto (2007), estas propriedades são influenciadas pela cristalinidade do polímero. O aumento da densidade é proporcional ao acréscimo do ponto de fusão e a condutância térmica, e decréscimo do calor específico, no intervalo de temperatura abaixo do seu ponto de fusão. 32 5.6.3 Propriedades Mecânicas Sob o aspecto de resistência, o PEAD, assim como os demais plásticos, não se comporta como a maioria dos materiais na construção civil que seguem a Lei de Hook. Neles a deformação não é proporcional ao esforço, nem independente do tempo de duração de aplicação da carga. A resistência dos elementos em PEAD diminui com o tempo e por isso a tensão de projeto depende da vida útil desejada (DANIELETTO, 2007). 5.6.4 Propriedades elétricas De acordo com o Plastics Pipe Institute (2010), elementos metálicos são melhores condutores elétricos porque suas estruturas atômicas e cristalinas disponibilizam mais elétrons livres para participar do processo de condução. O PEAD é um mau condutor elétrico, e também não dissipa facilmente cargas resultantes de eletricidade estática. Os plásticos em geral são bons isolantes, eles tendem a acumular uma carga estática através do atrito. As fontes de fricção podem ser simplesmente pelo manuseio, carregamento ou instalação. 5.6.5 Tensão e deformação Segundo Haddad (1995) apud Parente (2006), vários materiais na construção civil, como os polímeros, sob altas temperaturas, escoam quando tensionados ou deformados. Esta fluidez é seguida de uma dissipação de energia que se deve a algumas estruturas internas de perdas das ligações, formações e subestruturas. A este comportamento denomina-se viscoelasticidade. 5.6.6 Resistência química, eletrolítica e à Abrasão O polietileno é uma escolha vantajosa para transporte de granulares, pois possui grande resistência ao desgaste. As propriedades elásticas do PEAD, que sob 33 condições normais, permitem que as partículas saltem fora da sua superfície. Esta característica combinada com a resistência dos polietilenos resulta em uma vida útil que excede a muitos materiais metálicos. A resistência química é um fator importante a ser estabelecido para o uso do PEAD. A reação entre este material e outros depende de vários fatores, particularmente ao efeito químico e físico da sua concentração, temperatura de operação, tempo de contato e tensão de operação. Como dito anteriormente, o polietileno é um mau condutor de eletricidade, portanto, é imune à corrosão eletrolítica tais como as causadas por sais, ácidos e álcalis. Contudo, agentes oxidantes podem atacar as moléculas do material diretamente e levar a um grau de deterioração das propriedades. Alguns produtos orgânicos químicos poder ser gradualmente absorvidos pelo polietileno, até causar um processo chamado solvatação. A solvatação causa diminuição da resistência em longo prazo que depende muito da configuração química do material orgânico (PPI, 2010). 5.6.7 Permeabilidade A permeabilidade é a propriedade referente à passagem de uma substancia de um lado ao outro da membrana. O Polietileno é muito pouco permeável a vapores de água e outros. Como uma regra geral as moléculas de vapor são maiores que as do polietileno, por isso a baixa permeabilidade (PPI, 2010). Outros fatores que afetam a permeabilidade: • A diferença entre a concentração, ou na pressão parcial do permeante entre os dois lados de uma membrana; • A espessura da membrana; • Temperatura; • Área total disponível para permeação. 34 5.6.8 Durabilidade Todos os polímeros estão suscetíveis a deterioração gradual quando continuamente expostos a radiação dos raios ultravioletas (UV). Ataques biológicos como causados por microorganismos como bactérias e fungos são inertes em componentes de plásticos. 5.7 Aplicação do PEAD na Construção Civil O PEAD está sendo empregado largamente na construção civil como alternativa a materiais convencionais, devido as suas propriedades e resistência. 5.7.1 Tubos e conexões A utilização do PEAD em conexões e tubulações está sendo ampliada na substituição de redes de água e esgoto construídas em material ferroso. O PEAD para este uso oferece vantagem aos materiais mais comuns, pois suas propriedades físicas e químicas promovem resistência à corrosão. Dentre as vantagens de construção com tubos de polietileno pode-se citar a combinação do baixo peso, flexibilidade e uso de juntas de mecânicas que permitem uma redução no custo e tempo de execução comparado a outros materiais. A sua capacidade de fluxo interna permite um uso de diâmetros menores de tubos em relação aos feitos de ferro dúctil, gerando economia de materiais, além das suas paredes serem menos rugosa. A durabilidade também é um fator que impulsiona a utilização de tubos de PEAD. Dentro de boas condições de projeto, instalação e operação, sua vida útil pode ser estimada de 50 a 100 anos (PPI, 2010). 35 As características físicas químicas das tubulações e conexões de PEAD promovem também uma alta resistência a mudanças de temperaturas. A baixa rugosidade das superfícies de conexões e tubulações de PEAD promove um aumento da resistência à proliferação de materiais orgânicos tais como algas, bactérias e fungos que causam doenças e odores (PETECH, 2010). A ductibilidade, que consiste na capacidade de deformação de um material em resposta a tensão sem ocorrer fratura, ou ruptura, é uma característica presente em tubos de PEAD. Tornando-o atrativo para uso em serviços subterrâneos. As conexões e tubos em PEAD são fabricados em diâmetros de 1/4” (6 mm) até 120” (3050 mm) para aplicação em redes pressurizadas ou não. Para o sucesso da instalação de redes em PEAD é necessária a combinação de diversos fatores, que vão desde a escolha de fornecedores idôneos com material de qualidade até as boas praticas de engenharia (DANIELETTO, 2007). 5.7.2 Cisternas Cisternas são reservatórios enterrados destinados principalmente à armazenagem da água de chuva, água potável e outros líquidos. As constituídas em PEAD (Figura 5.1) levam vantagem por oferecer resistência às pressões exercidas pelo solo. Entre outras vantagens podem-se citar: • Inertes à proliferação de microorganismos como algas e bactérias; • Impermeáveis, sem risco de contaminação da água ou vazamentos; • Duráveis e resistentes; • Fáceis de limpar; • Não deixam cheiro e sabor na água; • Baixa manutenção. 36 Por seu baixo peso especifico, o PEAD oferece leveza e praticidade para a instalação (ECOCASA, 2010). Figura 5.1 – Cisterna em PEAD Fonte: Acqualimp (2010). 5.7.3 Geomembranas As geomembranas são mantas de impermeabilizantes empregadas para contenção de resíduos sólidos, de mineração e água. Sua constituição é feita de politileno de alta densidade (PEAD) e polietileno de baixa densidade linear (PEBDL). São fabricadas em cores e texturizadas variadas de acordo com o seu uso específico. São amplamente utilizadas para atendimentos à necessidade de uma proteção para impedir que o vazamento contamine as águas subterrâneas, e solos (GSE, 2010). Dentre os seus principais empregos podem-se destacar: • Embasamento e cobertura de aterros sanitários (Figura 5.2); • Lagoas de vinhaça (Figura 5.3); • Embasamento e cobertura de lagoas para tratamento de resíduos industriais (base e cobertura de lagoas); • Canais de irrigação e adução; • Lagos ornamentais; 37 • Reservatórios para a água enterrados ou elevados; • Lagoas para piscicultura (Figura 5.4); • Mineração; • Reservatórios subterrâneos para tanques de combustíveis (Figura 5.5); • Fundo ou base de tanques de combustível; • Revestimento de túneis; • Barragens de terra e de concreto; • Revestimentos especiais de estruturas de aço e de concreto. Figura 5.2 – Geomembrana em Aterro Sanitário. Fonte: AGETEC (2010). Figura 5.3 – Lagoa de Vinhaça em usinas de cana de açúcar. Fonte: MPZ (2010). 38 Figura 5.4 Geomembrana em lagoa para contenção de resíduos de animais. Fonte: AGETEC (2010). Figura 5.5 Revestimentos de Reservatórios enterrados. Fonte: Koerner (1994) apud MPZ (2010) Possuem um alto desempenho contra a corrosão e intemperismo, e também oferecem fácil manuseio para instalação por se tratar de um material altamente flexível. 5.7.4 Casa Popular A casa popular é uma moradia modulada composta de painéis de PEAD e cimbramento metálico ou plástico. Todas as suas características e propriedades são explanadas no capítulo 6 a seguir. A avaliação da edificação de PEAD pode ser embasada na NBR 15575 (ABNT, 2008), norma que se refere ao desempenho de edifícios de até cinco pavimentos. 39 Algumas definições e parâmetros a serem adotados relativos a esta normatização está explanado no próximo item 5.8. 5.8 Normatização A norma que estabelece parâmetros de desempenho para habitações até cinco pavimentos é a NBR 15575 (ABNT, 2008), que entrou em vigor em maio de 2010, mas passará a ser exigida em empreendimentos com projetos protocolados nas prefeituras a partir de 12 de novembro de 2010. Esta legislação avalia a edificação independentemente dos materiais constituintes ou do sistema construtivo utilizado (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2010). A organização da NBR 15575 (ABNT, 2008) é realizada em 6 divisões como citado abaixo: • Parte 1: Requisitos gerais; • Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais; • Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos internos; • Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas; • Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas; • Parte 6: Sistemas hidrosanitários. O sistema elétrico não é avaliado por integrar um conjunto mais amplo de normas específicas. Dos itens avaliados nesta legislação, destaca-se nos aspectos de saúde e salubridade, a estanqueidade à água de chuva e à umidade do solo e o conforto termoacústico no interior das edificações. O projeto deve atender às singularidades climáticas da região e bem como as condições do entorno. A transmissão sonora de um ambiente para outro também deve ser considerada. 40 A nova normatização não sugere método construtivo que deva ser utilizado, ela se concentra no desempenho do conjunto, servindo como guia para o desenvolvimento de novos produtos que obtenham o desempenho exigido. A norma estabelece um limite oficial contra a redução de metragem, visando garantir a realização de atividades essenciais do usuário com o nível mínimo de conforto. A norma não determina a área mínima para cada ambiente nem para cada unidade, mas exige dimensões apropriadas para comportar móveis e equipamentos de tamanho padrão (GAZETA DO POVO, 2010). A Figura 5.6 resume os requisitos básicos da legislação: (NBR 15.575:2008) Figura 5.6 Requisitos Básicos previstos na Norma de Desempenho das Edificações Fonte: Gazeta do Povo (2010) 41 5.8.1 Requisitos gerais para o edifício habitacional De acordo com o item 7.2 da NBR 15575 (ABNT, 2008), o sistema construtivo deve atender durante a sua vida útil de projeto, sob diferentes níveis de exposição, tais como ação de vento, sobrecarga, peso próprio e outras, às seguintes condições gerais: a) não causar ruína ou perda da estabilidade de seus elementos; b) providenciar segurança na sua utilização, sob solicitações decorrentes da utilização normal da edificação; c) não incitar insegurança aos usuários devido às deformações dos elementos do edifício (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2010). Para assegurar estes parâmetros especificados, a norma NBR 15575 (ABNT, 2008) propõe a realização de ensaios para teste do desempenho da edificação sob diversos aspectos. No caso da edificação em PEAD referida no estudo de caso foram realizados os testes de resistência mecânica, estanqueidade e conforto térmico, cujos critérios são mencionados no item 5.8 a seguir. 5.8.2 Impactos de corpo mole De acordo com o item 7.4.1 da NBR 15575 (ABNT, 2008), o Ensaio de Impacto de Corpo Mole é realizado com o choque de um saco de couro com massa de 40 kg, lançado de alturas variando de 30 cm a 240 cm, provocando acréscimos de energias de impacto, de 120 a 960 J, com a variação do lançamento. O objetivo deste ensaio é simular os choques causados por pessoas e objetos contra as paredes da edificação. 42 No resultado deste teste o sistema construtivo não deve sofrer qualquer tipo de fissura (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2010). 5.8.3 Impactos de corpo duro De acordo com o item 7.4.2 da NBR 15575 (ABNT, 2008), o Ensaio de Impacto de Corpo Duro é realizado com o choque de esferas de aço de 0,5 e 1 kg, lançadas a partir do repouso em queda livre de alturas variáveis. O objetivo deste ensaio é verificar a resistência localizada da parede da edificação. No resultado deste teste o sistema construtivo não deve sofrer traspassamento ou ruptura. É tolerável neste ensaio a ocorrência de lascas, fissuras e outras avarias em impactos de segurança (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2010). 5.8.4 Ensaio de Estanqueidade De acordo com a seção 10, Partes 1 e 4 da NBR 15575 (ABNT, 2008), o Ensaio de Estanqueidade consiste em verificar se o sistema é estanque à água, provinda de chuvas incidentes ou de outras fontes. Durante a realização do ensaio a face externa da parede é submetida, durante um tempo determinado, à uma vazão de água, criando uma película contínua e homogênea, empregando simultaneamente uma pressão pneumática sobre essa face. A especificação da pressão varia de acordo com a região geográfica de implantação da edificação. No resultado deste teste o sistema construtivo deve permanecer estanque e não apresentar infiltrações que ocasionem escorrimentos, borrifamentos, ou formação de gotas de água aderentes na face interna da parede (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2010). 43 5.8.5 Desempenho térmico A NBR 15575 (ABNT, 2008) permite que o desempenho térmico seja avaliado para a edificação como um todo, ou considerando-se o sistema construtivo como parte constituinte da edificação para finalidade de aprovação deste. A edificação habitacional deve agrupar características que atendam às exigências de desempenho térmico, considerando-se que dentro do edifício isto depende da interação comportamental entre piso, fachada e cobertura. Segundo a NBR 15575 (ABNT, 2008), podem ser realizados três procedimentos para avaliar a adequação do desempenho térmico das habitações: a) Procedimento 1 – comprovação do atendimento aos critérios e requisitos para os sistemas de vedação e para os sistemas de cobertura; b) Procedimento 2 – averiguação do atendimento aos critérios e requisitos estabelecidos, pela simulação computacional do desempenho térmico do edifício; c) Procedimento 3 – verificação do atendimento aos critérios e requisitos estabelecidos, pela realização de medições ou protótipos ou edifícios construídos. Na norma NBR 15575 (ABNT, 2008) foram definidas oito zonas bioclimáticas a partir de dados reais do clima brasileiro. É apresentada em forma de gráficos de temperatura relacionados às cidades que representam cada zona bioclimática. Devem ser verificados os atendimentos do desempenho térmico da edificação em seu interior em situações limítrofes de frio e calor. Para isto são aplicados os seguintes parâmetros: 44 a) Desempenho térmico da edificação no inverno: No interior dos ambientes de permanência prolongada (dormitórios, salas e etc) os valores mínimos diários de temperatura do ar devem ser maiores ou igual à temperatura mínima externa acrescentada de 3°C. A verificação deve ser realizada através dos procedimentos 2 e 3 referidos anteriormente. b) Desempenho térmico da edificação no verão: No interior dos ambientes de permanência prolongada (dormitórios, salas e etc), com ausência de fontes internas de calor (lâmpadas, equipamentos em geral e ocupantes), os valores diários de temperatura do ar devem ser menores ou iguais à temperatura máxima externa. A verificação deve ser realizada através dos procedimentos 2 e 3 referidos anteriormente. 45 6 SISTEMA CONSTRUTIVO DE HABITAÇÕES EM PAINEL DE PEAD O presente estudo de caso refere-se ao sistema construtivo de habitações em painel de PEAD, solução proposta pelo Engenheiro Joaquim Caracas, para execução de uma construção sustentável de interesse social. 6.1 Aspectos gerais do projeto O projeto inicial foi desenvolvido durante o ano de 2006, e foi exposto ao público pela primeira vez no mês de novembro, na cidade de Fortaleza – Ceará, na Feira do Empreendedor. Desde a sua primeira versão, o projeto executivo sofreu melhoria contínua para atender as necessidades do público alvo em relação aos parâmetros de conforto, estéticos, econômicos e técnicos. A introdução do produto no mercado está sendo realizada gradualmente e em pequena escala principalmente para prover atividades temporárias que demandam instalações provisórias, como canteiros, estandes e outros. A figura a seguir mostra um dos estandes executados para o projeto social Ultralimpo da COELCE (Companhia Energética do Ceará), que realiza a coleta de lixo reciclável em troca de bônus na conta de energia (Figura 6.1). Figura 6.1 Estande projeto ECOELCE – 2008 Fonte: Impacto Protensão (2010) 46 A versatilidade do método construtivo estende-se também a execução de áreas molhadas, inclusive vestiários e sanitários (Figura 6.2). Figura 6.2 Vestiário na Petrobrás Fonte: Impacto Protensão (2010) Outro exemplo de uso foi a utilização da edificação em PEAD para execução do refeitório para funcionários dentro do canteiro de obra MPX da empresa Integral Engenharia ilustrado nas Figura 6.3 e Figura 6.4. Figura 6.3 Vista Externa Refeitório Obra MPX – Integral Engenharia Fonte: Impacto Protensão (2010) 47 Figura 6.4 Vista Interna - Refeitório Obra MPX - Integral Engenharia Fonte: Impacto Protensão (2010) A tecnologia está sofrendo constante aperfeiçoamento, podendo as placas nas versões atuais ser executadas com pigmentação, proporcionando uma boa aceitação pelo aspecto estético. Uma sala de aula na cidade de Maracanaú, Ceará, foi construída utilizando esta versão sem revestimento nas paredes externas (Figura 6.5). Figura 6.5 Escola em Maracanaú Fonte: Impacto Protensão (2010) Atualmente, estão sendo realizados testes de avaliação e desempenho em uma unidade padrão montada dentro do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (Figura 6.6). Foram iniciados no ano de 2009, para adequar-se aos parâmetros para obtenção do Certificado da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A certificação possibilitará a aquisição do imóvel através de sistemas de financiamentos por órgãos como a Caixa Econômica Federal. 48 Figura 6.6 Casa para certificação na Universidade Federal do Ceará Fonte: Impacto Protensão (2010) Nesta versão não foram realizados acabamentos internos, ou externos, e as instalações hidráulicas e elétricas foram executadas aparentes. Estima-se que as alterações necessárias para que o protótipo atenda a todos os requisitos para a certificação sejam concluídas até o ano de 2011. 6.2 Local da construção Em 2008, foi exposto ao público, no evento da Casa Cor do Ceará uma versão da habitação em PEAD, com proposta de acabamento e revestimentos mais nobres. A proposta da amostra era apresentar edificações sustentáveis (Figura 6.7 à Figura 6.14). A unidade foi montada com cobertura de madeira de reflorestamento, revestimentos de mármore, pedra e gesso, e instalações elétricas e hidráulicas embutidas. 49 Figura 6.7 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada Frontal Fonte: Impacto Protensão (2010) Figura 6.8 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada dos Fundos Fonte: Impacto Protensão (2010) Figura 6.9 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Fachada Lateral Fonte: Impacto Protensão (2010) 50 Figura 6.10 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Varanda Fonte: Impacto Protensão (2010) Figura 6.11 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Estar Fonte: Impacto Protensão (2010) Figura 6.12 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Dormitório Fonte: Impacto Protensão (2010) 51 Figura 6.13 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Banho Fonte: Impacto Protensão (2010) Varanda Quarto Estar Banho Cozinha Figura 6.14 Protótipo Casa Cor Ceará 2008 – Planta baixa Fonte: Impacto Protensão (2010) Após uma semana de exposição, o protótipo foi desmontado e reaproveitado no sítio do Engenheiro Caracas, na cidade de Guaramiranga, no estado do Ceará. A casa térrea, objeto do estudo de caso, foi reerguida com layout diferente, e segundo o proprietário existe pretensão de ampliação. A seqüência de montagem desta edificação está explanada no item 6.4.3. 52 6.3 Limitações do Sistema Construtivo Devido a composição do sistema modular ser feita de placas de PEAD e juntas com perfis metálicos ou de plástico, a resistência estrutural do conjunto comporta somente a execução de edificações térreas. Como o intuito principal do sistema construtivo é execução em curto prazo e com custo acessível, sua empregabilidade primordial é para uso em unidades temporárias. E como avanço tecnológico e social a utilização em habitações populares. 6.4 Edificação em PEAD O enfoque principal do projeto da edificação em PEAD é a utilização de resíduos, abundante em todo país, que são empregados na produção de elementos construtivos como as placas de plástico produzido com plástico 100% reciclado, os perfis de apoio em plástico reciclado com estrutura interna em aço e telhas ecológicas produzidas com fibras naturais ou de materiais reciclados. A edificação é composta por peças com conexão feitas por parafuso, sendo possível expandir ou diminuir as dimensões dos cômodos com facilidade e praticidade. Em caso de demolição os custos são minimizados, pois não há necessidade de destruir as estruturas existentes. É possível também transportar a edificação e montar em outro local. Por ser fabricada em processo industrial, é possível construí-la em apenas um dia, podendo ser útil em casos de enchentes recebendo rapidamente a população desabrigada. Na construção de habitação de interesse social, além do baixo valor econômico como impulsionador, o espaço interno é maior comparado às construções convencionais devido a menor espessura das paredes, gerando maior conforto. Em uma residência de 35 metros quadrados, por exemplo, o ganho de espaço interno é da ordem de 12% ou quatro metros quadrados. 53 Com relação ao isolamento térmico e acústico, devido à sobreposição de materiais (placas intercambiáveis lisa e nervurada, onde uma delas é preenchido com material isolante térmico e acústico: isopor ou espuma de poliuretano) a sensibilidade às variações de temperatura e a sons diminui. Quanto à durabilidade, levando em conta que o plástico leva pelo menos 100 anos para se degradar no meio ambiental, projeta-se a mesma durabilidade para a edificação (DIÁRIO DO NORDESTE, 2006). 6.4.1 Componentes do Sistema Construtivo São fabricadas placas em PEAD o que resulta em peças de grande rigidez e baixa deformação. São módulos intercambiáveis de fácil manuseio e montagem, resistentes, seguros atendendo os requisitos de ergonomia, qualidade, baixo custo e ambientalmente sustentável. As placas de PEAD são denominadas comercialmente como “plasterit” cujo emprego usual é substituir a madeira na execução de lajes nervuradas e lajes maciças (Figura 6.15 e Figura 6.16). Figura 6.15 Placas de Plasterit – Emprego em lajes Fonte: Impacto Protensão (2010) 54 Figura 6.16 Obra em Brasília utilizando o Plasterit e o cimbramento metálico Fonte: Impacto Protensão (2010) As faces das placas possuem um lado liso e outro nervurado. Este último é preenchido de material isolante térmico e acústico (isopor ou espuma de poliuretano) promovendo proteção térmica e acústica sem alterar a resistência. É aplicada também uma camada de gesso resultando num projeto que atende leveza e conforto. As placas de vedação (Figura 6.17) são montadas em estrutura com perfis de material plástico e um reforço estrutural em aço (Figura 6.18). Figura 6.17 Placa de Vedação Interna Fonte: Impacto Protensão (2010) 55 Figura 6.18 Cimbramento metálico Fonte: Impacto Protensão (2010) Os sistemas hidráulicos e elétricos serão montados de forma convencional. O hidráulico, com tubos de PVC de alta rigidez alocados entre as placas. O sistema elétrico pode ser embutido entre as placas, em canaletas aparentes ou embutidas em acabamento em gesso quando houver. Quanto ao telhado, este pode ser executado de forma convencional e com qualquer material de fechamento, como telhas coloniais, de madeira, de plástico, etc., contudo, o propósito deste projeto é a utilização de material reciclado, sendo opção, as telhas fabricadas com fibra de coco ou de madeiras de reflorestamento. Em relação ao acabamento, é colocada uma camada de gesso que permite a aplicação de textura, aplicação de papel de parede, pintura convencional e colocação de revestimento cerâmico. O sistema construtivo também permite a utilização de placas de gesso acartonado para paredes internas. 56 6.4.2 Parâmetros de resistência Por serem produzidas em Polietileno de Alta Densidade Reciclado (PEAD) as peças possuem grande rigidez e baixa deformação. As placas possuem uma das faces de aparência lisa e a outra nervurada, para aumentar a resistência. Não foram realizados ensaios para comprovação dos valores de resistência das placas de PEAD. 6.4.3 Seqüência de Montagem da Casa A casa em questão foi assentada diretamente sobre o terreno, sem execução de escavações. O local da construção necessitou apenas de limpeza, sem nivelamento, sendo desenvolvida uma estrutura suporte que elevou o piso de forma a adaptar-se à declividade natural (Figura 6.19). Nesta primeira etapa da montagem foi executada também a malha reticulada metálica galvanizada para instalação das placas do piso Estrutura Suporte Malha Reticulada Figura 6.19 - Estrutura Suporte e Malha Reticulada para Piso Fonte: Impacto Protensão (2010) A segunda etapa do processo construtivo se deu com o encaixe das longarinas verticais na malha reticulada do piso, em seguida, acomodação das placas externas em PEAD, intercaladas por longarinas horizontais (Figura 6.20). 57 Longarina vertical Assentamento das placas externas Figura 6.20 – Encaixe das longarinas verticais e horizontais com as placas externas Fonte: Impacto Protensão (2010) Após este processo foram executadas, no interior das placas externas e longarinas, as instalações elétricas e hidráulicas, em seqüência, realizado o seu preenchimento com espuma de poliuretano e o fechamento do sanduiche com o encaixe das placas internas (Figura 6.21). Figura 6.21 – Encaixe final de longarinas e placas Fonte: Impacto Protensão (2010) A etapa seguinte foi composta pela montagem da cobertura com estrutura de treliças metálicas e telha em madeira de reflorestamento (Figura 6.22). 58 Figura 6.22 – Montagem da cobertura com treliças metálicas e telhas Fonte: Impacto Protensão (2010) Foram instaladas portas e janelas de madeira encomendadas sob medida adequadas às dimensões dos módulos das placas (Figura 6.23). Figura 6.23 – Instalação de esquadrias Fonte: Impacto Protensão (2010) Os acabamentos internos nas áreas de estar e dormitórios foram executados com placas de gesso acartonado nas paredes e teto (Figura 6.24). Figura 6.24 – Revestimento em Áreas de Estar e Dormitórios Fonte: Impacto Protensão (2010) 59 As placas em PEAD dos pisos receberam revestimento cerâmico em áreas molhadas e piso laminado nas áreas de estar e dormitórios (Figura 6.25). Figura 6.25 – Revestimento em Áreas Molhadas Fonte: Impacto Protensão (2010) Os revestimentos externos foram executados com textura aplicada diretamente na placa (Figura 6.26). Figura 6.26 – Revestimento Externo com Textura Fonte: Impacto Protensão (2010) Externamente à casa, e para suprir a necessidade de nivelamento, foram executados decks de madeira e de placas em PEAD sem revestimento, na lateral e na entrada social da casa (Figura 6.27). 60 Figura 6.27 – Vista do Deck Fonte: Impacto Protensão (2010) A casa ficou totalmente habitável e finalizada incluindo acabamentos e revestimentos no prazo total de quatro dias (Figura 6.28 e 6.29). Figura 6.28 - Casa Guaramiranga – Acabamento finalizado Fonte: Impacto Protensão (2010) 61 Quarto A. Serviço Sala Cozinha Varanda Figura 6.29 - Casa Guaramiranga – Planta baixa Fonte: Impacto Protensão (2010) 6.5 Avaliação e monitoramento da unidade de teste O projeto da “Casa de plástico” da Universidade Federal do Ceará (UFC) está sendo financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que é uma agência pública responsável pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro por meio da provisão pública à ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas. A primeira versão da Casa de Plástico foi executada com as placas de plásticos denominada “Plasterit”, projeto patenteado pela Impacto Protensão, ainda em 2007. O sistema possibilita o acabamento somente da parte externa da parede. Na parte interna foi usado gesso acartonado. 62 A Casa foi montada no pátio do Centro de Tecnologia da Faculdade de Arquitetura da UFC e teve como objetivo verificar a facilidade de montagem e funcionalidade do sistema. Como já havia a previsão de modificações no sistema, não foi realizado nenhum ensaio técnico nesta primeira versão. Foram realizados e finalizados os testes de estanqueidade e desempenho térmico na versão atualizada e a discussão de seus resultados está explanada no Capítulo 7. 6.6 Viabilidade econômica Como o método construtivo ainda está em fase de testes e ainda não está sendo comercializados para edificações residenciais, não é possível realizar uma comparação consistente de valores de implantação do sistema em relação aos métodos convencionais. Porém é esperado que seja realizada uma economia de mais de 50% em relação aos sistemas construtivos em alvenaria cerâmica, ou em concreto. Além do aspecto econômico, a viabilidade do sistema é realizada pelas vantagens significativas sobre o sistema construtivo convencional, dentre as quais podemos elencar: • Variedade no projeto arquitetônico: A tecnologia do uso de placas de PEAD proporciona ao usuário certo grau de variedade na montagem do sistema modular. • Maior área útil: Devido à esbelteza das seções das paredes dos painéis em PEAD, em relação aos sistemas convencionais em alvenaria de cerâmica ou concreto, ocorre um melhor aproveitamento do espaço interno e ganho da área útil da edificação. 63 • Flexibilidade: A estrutura em PEAD é indicada para casos onde ocorra a necessidade de ampliações adaptações, reformas e alteração da ocupação das edificações ou e transporte da estrutura, podendo ser desmontada e reaproveitada em outros locais. Bem como, torna mais fácil a passagem dos sistemas de água, esgoto, eletricidade, ar condicionado, telefonia, informática, e outros, pois os mesmos podem ficar aparentes ou embutidos. • Compatibilidade com outros materiais para cobertura: O sistema construtivo em PEAD é compatível com qualquer tipo de material para cobertura, adaptando desde os materiais convencionais como telha cerâmica até materiais de tecnologia mais recentes provindos de produtos reciclados (telhas de plástico reciclado, telhas de fibra de coco e etc). • Menor prazo de execução: O tempo de execução é reduzido em até 80%, comparando-se aos métodos tradicionais, pois a fabricação da estrutura ocorre em paralelo com a execução das fundações. Existe a possibilidade de se realizar diferentes frentes de trabalho simultâneo, há redução de escoramentos e formas. Sendo que uma edificação com 42 m2 pode ter sua estrutura executada em três dias. • Racionalização de mão-de-obra e materiais: Utilizando-se os processos construtivos convencionais, o desperdício de materiais pode chegar a 25% em peso. Pelo fato da estrutura em PEAD ser industrializada a geração de resíduos é reduzido, evitando-se desperdícios. • Alívio de carga nas fundações: Devido à baixa densidade, o PEAD proporciona pequena solicitação e as estruturas são praticamente auto-portantes de forma a não haver necessidade de fundações. 64 • Garantia de qualidade: Por serem fabricados dentro de uma indústria, os elementos em PEAD sofrem processo de controle de qualidade, contando com mão-de-obra altamente qualificada. • Antecipação do ganho: O ganho adicional é obtido pela ocupação antecipada do imóvel em função da maior velocidade de execução da obra e consequentemente pela rapidez no retorno do capital investido. • Organização do canteiro de obras: Pelo fato dos componentes do sistema construtivo em PEAD serem totalmente préfabricados, existe uma melhor organização do canteiro devido, entre outros, à ausência de grandes depósitos de madeiras, ferragens, areia, brita cimento, e amortizando também o inevitável desperdício desses materiais. Em relação à redução de desperdício, o ambiente limpo com menor geração de entulho, oferece ainda melhores condições de segurança ao trabalhador contribuindo para a diminuição dos acidentes na obra. • Precisão construtiva: Em uma estrutura de painéis de PEAD pré-fabricados a precisão obtida é medida em milímetros, enquanto nas estruturas de concreto a precisão é medida em centímetros. Sendo assim, pode-se garantir uma estrutura perfeitamente aprumada e nivelada, facilitando a execução das atividades como assentamento de esquadrias, bem como diminuição no custo dos materiais de revestimento. • Reciclabilidade: O PEAD, como já exposto, é um material 100% reciclável e as estruturas podem ser desmontadas e reaproveitadas em outros locais. 65 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste capítulo serão expostos os resultados obtidos dos ensaios realizados na unidade de teste montada no Centro de Tecnologia da Universidade do Ceará. 7.1 Avaliação e monitoramento da unidade de teste A segunda versão da Casa de Plástico foi executada com novas placas, com dimensão de 84 x 53 cm. As alterações foram realizadas para promover a facilidade de montagem, melhoria no acabamento interno e externo, e inserção no interior das placas de plásticos de elementos isolantes térmicos (isopor). A Casa foi montada no Centro de Tecnologia da UFC, e pode ser visualizada na Figura 7.1. Figura 7.1 - Casa de Plástico montada no Campus da UFC Fonte: Impacto Protensão (2010) A fabricação dos componentes não foi avaliada, visto que houve aproveitamento dos moldes para injeção desenvolvida na primeira versão do projeto. A equipe da UFC realizou somente visita as empresas fabricantes para conhecimento dos processos utilizados. 66 Os ensaios técnicos realizados na segunda versão do produto constataram que a edificação em PEAD apresenta bom desempenho em relação à resistência a impactos externos, conforto térmico e aparência visual. Contudo, os resultados relativos à estanqueidade não foram satisfatórios. Foram realizados ensaios diários para medição de temperatura no interior da edificação, sob diferentes condições: i. Sem nenhuma intervenção na habitação; ii. Após a instalação do forro; iii. Após a pintura externa das paredes. Os resultados obtidos demonstraram que a primeira versão da habitação não atendia aos critérios de desempenho térmico, de acordo com a NBR 15575 (ABNT, 2008), para as condições de verão, apresentando temperatura internas maiores que as do exterior para a zona bioclimática do local onde está montado o protótipo. As primeiras modificações propostas e introduzidas apresentaram resultados satisfatórios, ocorrendo uma redução no valor da temperatura do ar no interior da edificação, aproximando-se dos parâmetros de desempenho mínimo normativos. Os resultados obtidos serão avaliados para proposição de novas alterações no projeto, que serão executados na terceira versão da Casa. 7.2 Fatores técnicos, financeiros e administrativos determinantes dos desenvolvimentos alcançados A participação de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará - UFC resultou na incorporação de inovações para o seu reforço estrutural e melhoria do conforto térmico. A equipe de especialistas da UFC já propôs modificações para aperfeiçoar o sistema, com modificação das abas de fixação das placas (para aumentar a estanqueidade e resistência mecânica), introdução de aletas nas placas inferiores e 67 superiores, para promover a circulação e aumentar o aproveitamento térmico do sistema. Os projetos dos novos moldes já estão prontos e deverão ser construídos na segunda etapa do projeto. A nova versão da edificação em PEAD foi montada no Campus da UFC, com área de 49 m2, com 2 quartos, 1 sala/cozinha e 1 banheiro. O sistema foi projetado e simulado através de softwares de engenharia e projeto, e foi submetido a ensaios de resistência mecânica, estanqueidade e conforto térmico. No momento, está em estudo o projeto do molde para extrusão do plástico para produção das longarinas, com plástico reciclado, em substituição ao metalon. Também, está sendo discutida a possibilidade de utilizar a circulação do ar através das placas para geração de energia. Da mesma forma, será analisada a pertinência de utilização de painéis solares e pequenos aerogeradores para suprimento de energia da casa. Embora não tenha relação direta com o projeto Casa de Plástico, após a conclusão dos ensaios de conforto térmico, ela será mobiliada com móveis e acessórios confeccionados com material reciclado de PET, através de um projeto de extensão desenvolvido pela UFC. 7.3 Avaliação de desempenho em Relação à estanqueidade à Água de Chuva das Vedações Verticais de paredes externa do sistema construtivo “Casa De Plástico” O ensaio de estanqueidade à água de sistemas de vedações verticais foi realizado no dia 15 de janeiro de 2010 e regido pelos critérios de avaliação da NBR 15575 (ABNT, 2008). 68 O ensaio verificou a estanqueidade à água de chuva, considerando ação de ventos, no sistema de vedação vertical externa (fachadas) do sistema construtivo “Casa de Plástico”. O ensaio foi realizado nas paredes externas do protótipo como mostra a Figura 7.2. Sendo que neste ensaio a parede não recebeu pintura. A área escolhida da parede propiciou que o dispositivo de ensaio submetesse o encaixe de dois painéis, simulando a pior situação. Figura 7.2 – Paredes externas do protótipo Fonte: Impacto Protensão (2010) O equipamento utilizado para o ensaio mostrado na Figura 7.3, conforma com as especificações indicadas no anexo C da NBR 15575-4 (ABNT, 2008). Figura 7.3 – Equipamento de ensaio para verificação da estanqueidade. Fonte: Impacto Protensão (2010) 69 O equipamento que consiste de uma câmara de formato prismático foi fixado por parafusos atravessando a parede ensaiada. Na parte interna da câmara foi introduzido um tubo dispersor de água cuja vazão foi de 3,0 dm3/min. A pressão pneumática aplicada através de orifício lateral foi de 20 Pa, com o auxílio de um compressor de ar. A área de contato da parede com o equipamento foi de aproximadamente 0,49 m2 (0,70 m x 0,70 m), cuja película de água foi aplicada continuamente por 7 horas. O ensaio foi executado somente uma vez, e o acompanhamento realizado para detecção do aparecimento de manchas de umidade ou outras ocorrências. Após a realização do ensaio, observou-se o vazamento na face interna, oposta à incidência da água sob pressão, especificamente no encaixe do painel. Conforme o item 10.1.1 da NBR 15575-4 (ABNT, 2008), que trata do critério adotado para avaliação de estanqueidade à chuva em Sistemas de Vedação Vertical - SVVE, a parede deve “permanecer estanques e não apresentar infiltrações que proporcionem borrifamentos, ou escorrimentos ou formação de gotas de água aderentes na face interna.” Em função dos resultados obtidos, o sistema de vedação vertical ensaiado não atende aos requisitos mínimos sem o recebimento de pintura. A avaliação de desempenho que está sendo realizada no sistema construtivo da edificação em PEAD é regida pelos critérios da NBR15575 (ABNT, 2008). Dessa maneira, esse ensaio será realizado novamente considerando o sistema de pintura e as novas tipologias de painéis resultante do desenvolvimento deste componente. Após a pintura externa das paredes do protótipo, o mesmo ficou submetido a intempéries e não se observou nenhuma infiltração na parte interna da parede. Isso aponta que possivelmente o sistema de pintura será suficiente para que se atenda aos critérios de norma, o qual será verificado em um novo ensaio com esta situação. 70 8 CONCLUSÕES A construção convencional de casas populares utiliza-se de vários sistemas que abrangem desde tipologias pré-fabricadas de concreto, constituídas de pilares, sapatas, e fechamentos em painéis de concreto, até outras, utilizando estrutura metálica ou de madeira, com fechamento no mesmo ou outro material adequado. Contudo, mesmo com esta variedade de sistemas construtivos disponíveis, o custo da infra-estrutura de habitações populares é considerado alto. A redução de custo de uma edificação em painel de PEAD, em relação a uma construção convencional, na qual seria necessário executar escavações, fundações, alvenarias, pilares, contrapiso e etc., se dá principalmente pelo ganho de produtividade. Analisando uma construção de 42 m2 de área, executadas pelos métodos convencionais, o tempo estimado de finalização mínima seria de 35 dias contra 03 dias da casa em PEAD. O aumento da produtividade e a conseqüente redução de custos são perceptíveis, pois devido a rápida execução, ocorre diminuição do cronograma da obra e em cadeia os gastos com aluguel de equipamentos, transporte, alimentação, e mão de obra. Como são custos indiretos não são facilmente quantificados, todavia têm significativo valor econômico e financeiro. A redução do custo hora / homem considerando o tempo abreviado de montagem é da ordem de 80% em relação aos métodos tradicionais. Os custos com materiais podem ser diminuídos em cerca de 40% dos preços diretos dos componentes empregados. Outro fator relevante é a redução da geração de resíduos pelo desperdício de materiais nos métodos convencionais que podem chegar a 25% em peso. 71 Todos estes itens expostos tornam a edificação em PEAD um sistema construtivo com alto apelo sustentável. Decorrente dos problemas sociais existentes em nosso país, a busca pela solução da habitação popular de baixo custo, boa qualidade e sustentável é o objetivo do desenvolvimento de um sistema de construção modular empregando material alternativo como o PEAD. Além das vantagens que apresenta como material construtivo, o plástico proporciona inúmeros atrativos econômicos em relação a fundações, racionalização do canteiro de obras, facilidade de montagem e acabamento, rapidez de construção e exploração do edifício, facilidade de ampliações e reformas, além da possibilidade de desativação e reaproveitamento da estrutura utilizada, sendo tarefa para o usuário explorar esteticamente as características próprias da estrutura em plástico para obtenção do melhor aproveitamento do material disponível. Os conceitos de Coordenação Modular, a utilização da construção sustentável e a racionalização dos materiais e mão-de-obra são fatores fundamentais para a excelência do processo construtivo. Os principais componentes do sistema são em placas moduladas, produzidas em plástico 100% reciclado, o que permite uma melhor racionalização das estruturas, minimizando desperdícios e gerando conseqüente benefício ambiental. A utilização desses módulos de encaixe possibilita uma maior velocidade à obra, gerando qualidade e economia ao produto final. 72 9 RECOMENDAÇÕES Verificou-se com a elaboração do presente trabalho que a questão da habitação popular no Brasil requer uma integração maior entre os principais setores envolvidos: privado, público e sociedade. Ao setor privado, cabe a constante pesquisa e formulação de uso de materiais e métodos de construção que promovam sustentabilidade, e reciclagem de outros já existentes. Por parte do setor público, criar mecanismos para incentivo à pesquisa de sistemas construtivos inovadores que atendam às necessidades da população alvo nos aspectos econômico, conforto e usabilidade. À sociedade cabe a educação ambiental para aceitação de métodos diferentes aos sistemas convencionais, e a consciência da importância do emprego destes para a preservação do meio ambiente. Para promover esta interação entres os setores seria necessária uma reformulação da política habitacional brasileira, com finalidade de diminuir o déficit de moradias no Brasil. Apesar dos avanços tecnológicos relativos aos sistemas construtivos, principalmente nos modulares, e em específico em painéis de PEAD, para habitação de interesse social, ainda existem pendências a serem sanadas tanto na área do conhecimento dos métodos, quanto da efetivação das ações para a sua implantação. É fato que existem muitos interesses em cada um dos intervenientes da cadeia produtiva da construção, o que cria relutância na utilização de novas técnicas e regressão nos avanços já obtidos. Portanto, cada integrante da questão habitacional, seja no âmbito privado (profissionais e empresas de engenharia) ou setor público (governantes e outros), 73 devem estar mobilizados e interessados quanto ao uso de sistemas modulares e dos seus benefícios, apesar dos ajustes necessários, principalmente relativos à fabricação dos componentes. Para promulgar a inserção deste tipo de sistema dentro do setor da construção civil é necessária a criação de legislação que crie parâmetros e critérios específicos para utilização deste tipo de sistema construtivo. Com a padronização das dimensões dos componentes construtivos, o consumidor poderá ter maior segurança na aquisição do produto e tornar-se mais atrativo. A comparação realizada pelo consumidor será facilitada pela uniformidade das características dimensionais e o diferencial será encontrado em outros quesitos, principalmente no setor econômico, que é fator decisivo para uma moradia destinada a uso popular. Portanto, seria necessária a implantação, ou projeto de norma que estabelecesse a uniformalização da execução de sistemas construtivos modulares em painéis de PEAD, parâmetros de ensaios necessários para a obtenção de certificação, e obrigatoriedade para a obtenção de financiamento público. A utilização dos sistemas construtivos modulares em geral na engenharia civil no Brasil na atualidade não é usual. Dentro deste cenário, os profissionais e estudantes das áreas de Engenharia e Arquitetura têm papel fundamental, e devem estar conscientes e participantes de todo o processo. É necessária a conscientização que a coordenação modular é fundamental para a racionalização da construção, desde a etapa de estudo, projeto até a utilização da edificação. Bem como o estudo do uso de materiais alternativos para a redução dos impactos gerados no setor de construção civil deve ser constante. 74 REFERÊNCIAS ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2008), Ensaio de Estanqueidade. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2008). NBR 15575-4:2008: “Ensaio de Estanqueidade”. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1975), Síntese da Coordenação Modular. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1977). NBR 5706: “Coordenação Modular da construção – procedimento”. ACQUALIMP. Cisterna. Disponível em: <http://www.acqualimp.com/produtos_detalhes.asp?prd_codigo=21>. Acesso em: 20 abr. 2010. AGETEC. Geomembranas em PEAD: Impermeabilização de Solos e Estruturas. Disponível em: <http://agetec.com.br/uploads/Anexos/Geomembranas/Geomembranas-emPEAD.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2010. AMBIENTE BRASIL. Reciclagem. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/reciclagem/reciclagem.html?query =CYCLE>. Acesso em: 16 abr. 2010. ABPOL, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE POLIMEROS. A Reciclagem de PVC no Brasil. Revista Polímeros, São Carlos, SP, v. 9, n. 4, p.195-200, 01 out. 1999. Trimestral. 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