REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 11 - Número 1 - 1º Semestre 2011
Produção de substâncias envolvidas no fenômeno de antagonismo bacteriano
Flávio Henrique Ferreira Barbosa1; Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa2; Leandro Henrique Silva Bambirra3; Flávia
Figueira Aburjaile4
RESUMO
O termo “microbiota normal ou indígena” refere-se à população de microrganismos que habita a pele e
as mucosas de pessoas normais e sadias. Em geral, os membros da microbiota transitória exercem
pouco impacto no hospedeiro, enquanto a microbiota residente normal permanece intacta. Entretanto,
se a microbiota residente for perturbada, os microrganismos transitórios podem colonizar e proliferar,
produzindo doença. A utilização pelo homem de produtos naturalmente fermentados por bactérias
ácido-láticas constitui um hábito alimentar milenar em algumas culturas. Estas bactérias, que têm papel
fundamental na produção de alimentos fermentados, podem inibir o desenvolvimento de
microrganismos patógenos e de microrganismos causadores de deterioração de alimentos. Esta inibição
ou habilidade conservativa pode ocorrer através da competição entre os microrganismos ou por ação de
metabólitos antimicrobianos, nos quais se incluem ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio,
compostos de baixo peso molecular e bacteriocinas.
Palavras-chave: Antagonismo, Lactobacillus, Bacteriocinas, Microbiota Indígena.
Involved substance production in the phenomenon of bacterial antagonism
ABSTRACT
Normal or indigenous “microbiota” mentions the population of microorganisms that inhabits the skin
and the mucosae of normal and healthy people. In general, the members of microbiota transitory exert
little impact in the host, while microbiota resident normal remains unbroken. However, if microbiota
resident will be disturbed, the transitory microorganisms can colonize and proliferate, producing
illness. The use for the acid-lactic products constitutes a millenarian alimentary habit in some cultures.
These bacteria, that have basic paper in the production of fermentation food, can inhibit the
development of pathogens microorganisms and .causing microorganisms of food deterioration. This
inhibition or conservative ability can occur through the competition between the microorganisms or for
action of antimicrobial metabolic, in which if they include acid organic, hydrogen peroxide,
bacteriocins composites of low molecular weight.
Keywords: Antagonism, Lactobacillus, Bacteriocins, Indigenous Microbiota.
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Microbiota Indígena do Corpo Humano
O termo “microbiota normal ou indígena”
refere-se à população de microrganismos que
habita a pele e as mucosas de pessoas normais e
sadias. A existência de uma microbiota viral
normal nos seres humanos é duvidosa.
A pele e as mucosas sempre abrigam uma
variedade de microrganismos que podem ser
classificados em dois grupos: (1) a microbiota
residente, que consiste em tipos relativamente
fixos de microrganismos encontrados com
regularidade em determinada área e em
determinada idade; sendo que se perturbada,
recompõe-se prontamente; e (2) a microbiota
transitória, que consiste em microrganismos não
patogênicos ou potencialmente patogênicos que
permanece na pele ou nas mucosas por horas, dias
ou semanas; provém do meio ambiente, pode ou
não provocar doença e não se estabelece de forma
permanente na superfície. Em geral, os membros
da microbiota transitória exercem pouco impacto
no hospedeiro, enquanto a microbiota residente
normal permanece intacta. Entretanto, se a
microbiota residente for perturbada, os
microrganismos transitórios podem colonizar e
proliferar, produzindo doença (TANNOCK, 1995;
NICOLI & VIEIRA, 2004).
1.2 Funções da Microbiota Indígena
Os
microrganismos
que
estão
constantemente
presentes
nas
superfícies
corporais são comensais. A colonização destes,
em determinadas áreas depende de fatores
fisiológicos, como temperatura, umidade e
presença de certos nutrientes e substâncias
inibitórias. Sua presença não é essencial à vida do
hospedeiro, visto que os animais “livres de
germes” podem ser criados na ausência completa
de uma microbiota normal. Contudo, a microbiota
residente de certas áreas desempenha um papel
bem definido na manutenção da saúde do
hospedeiro (TANNOCK, 1995; NICOLI &
VIEIRA, 2004).
Nas mucosas e na pele, a microbiota
residente pode impedir a colonização por
patógenos e o possível desenvolvimento de
doença por meio de “interferência bacteriana”. O
mecanismo da interferência bacteriana não está
bem esclarecido. Pode envolver a competição por
receptores ou sítios de ligação (adesão) nas
células do hospedeiro, a competição por
nutrientes, a inibição mútua por produtos
metabólicos ou tóxicos, a inibição mútua por
substâncias antibióticas ou bacteriocinas ou
outros mecanismos. Além dos mecanismos já
citados, pode-se observar também que a
microbiota
normal
possui
função
imunomoduladora, fazendo com que o organismo
do hospedeiro esteja preparado para o combate
efetivo de patógenos. A supressão da microbiota
normal cria claramente um local parcialmente
vazio que tende a ser preenchido por
microrganismos provenientes do ambiente ou de
outras partes do corpo. Estes microrganismos
comportam-se como oportunistas e podem tornarse patógenos (GIBSON & ROBERTFROID,
1995; NICOLI & VIEIRA, 2004).
Por outro lado, os próprios membros da
microbiota normal podem provocar doença em
certas circunstâncias. Estes microrganismos estão
adaptados ao modo de vida não-invasivo, definido
pelas limitações do meio ambiente. Se forem
retirados à força das restrições desse ambiente e
introduzidos na corrente sanguínea ou em tecidos,
esses
microrganismos
podem
tornar-se
patogênicos. De forma geral, os microrganismos
da microbiota residente normal são inócuos e são
benéficos na sua localização normal no
hospedeiro e na ausência de anormalidades
concomitantes (GORBACH & SIMON, 1987;
NICOLI & VIEIRA, 2004).
1.3 O Fenômeno de Antagonismo Bacteriano
São várias as evidências experimentais e
clínicas,
como
citado
anteriormente,
demonstrando a produção de ácidos, peróxido de
hidrogênio e bacteriocinas antagônicas ao
crescimento de patógenos, por parte da
microbiota residente. Sem dúvida, essas
interações e os seus produtos contribuem para
2
evitar um crescimento exagerado da microbiota
do hospedeiro. Os metabólitos produzidos por
microrganismos que interferem no crescimento de
outros microrganismos incluem:
1.3.1 Ácidos Orgânicos
Ácidos graxos de cadeia curta não-voláteis
e voláteis são encontrados no trato digestivo.
Estes compostos são tóxicos para alguns tipos
bacterianos alóctones que entram no trato
gastrointestinal de mamíferos, especialmente em
“habitats” do intestino grosso onde o potencial de
óxido-redução é baixo. Além disso, tais ácidos
podem ser importantes fatores na sucessão
autogênica da microbiota de animais recémnascidos. Em camundongos, durante a sucessão
que acontece na segunda semana após o
nascimento, ácidos graxos voláteis produzidos por
bactérias anaeróbias estritas podem reprimir os
níveis populacionais das bactérias anaeróbias
facultativas (SAVAGE, 1977, 1987, 1999;
MCFARLAND, 2000).
A fermentação dos carboidratos pelos
microrganismos resulta na produção de ácidos
orgânicos. A produção de ácidos, principalmente
ácido láctico, torna o ambiente intestinal bastante
desfavorável à proliferação de microrganismos
patógenos ou putrefativos. O ácido lático inibe
organismos transientes que colonizam “habitats”
gástricos por diminuir o pH do estômago. O pH
gástrico em suínos recém-nascidos é muito baixo
logo após o nascimento, principalmente porque os
Lactobacillus que colonizam superfícies epiteliais
no estômago do animal produzem e liberam ácido
lático no lúmen. Além disso, em mamíferos
adultos de algumas espécies, o ácido lático
microbiano produzido no estômago e ácidos
graxos voláteis produzidos no ceco influenciam o
pH do lúmen nestas áreas (SAVAGE, 1977;
1987).
A atividade antimicrobiana destes ácidos é
decorrente de vários fatores, entre os quais a
drástica redução de pH do meio a valores
incompatíveis com o crescimento da maioria dos
microrganismos patogênicos, sendo que as
bactérias láticas, por serem acidofílicas, resistem
bem a estes baixos valores. A acidez do conteúdo
intestinal parece ser também importante para
favorecer o peristaltismo intestinal, combatendo
assim a constipação intestinal. Ela é responsável
pelo pequeno número de bactérias no intestino
delgado proximal, sobrevivendo apenas os cocos
e bacilos Gram-positivo mais tolerantes à acidez
(NARDI et al., 1999).
A atividade antimicrobiana dos ácidos
lático e acético é, em parte, devido ao fato de que
estes ácidos na forma não dissociada podem
atravessar a membrana celular microbiana
reduzindo o pH intracelular, o que irá interferir
com importantes funções metabólicas como a
translocação de substratos e a fosforilação
oxidativa (NAIDU et al.,1999). Por outro lado, o
ácido acético apesar de ser produzido em menores
concentrações do que o ácido lático possui um
efeito inibitório mais acentuado, uma vez que sua
constante de dissociação é maior do que a do
ácido lático (PIARD & DESMAZEAUD, 1992).
1.3.2 Peróxido de Hidrogênio
O crescimento de alguns microrganismos
(por exemplo, Lactobacillus spp.) em condições
de aerobiose leva á formação de metabólitos do
oxigênio como o ânion superóxido (O2-), o
peróxido de hidrogênio (H202), e radicais
hidroxila (OH-), que constituem os principais
fatores responsáveis pela toxicidade do oxigênio.
Como alguns destes microrganismos não
sintetizam catalase, o H202 produzido acumularse-á, podendo, então, inibir os microrganismos
que não possuem esta enzima. Embora a
toxicidade seja um fato comprovado, os
mecanismos de ação não foram claramente
elucidados (PIARD & DESMAZEAUD, 1991).
Algumas das possíveis ações deletérias
podem incluir a oxidação dos compostos
sulfidrílicos celulares, além da peroxidação dos
lipídeos de membrana e injúrias nos ácidos
nucléicos
bacterianos
(PIARD
&
DESMAZEAUD, 1991, VANDENBERG, 1993).
1.3.3 Substâncias Antimicrobianas de
Natureza Não-Protéica
3
Os compostos de natureza protéica
produzidos por alguns microrganismos que foram
purificados e caracterizados compartilham
algumas características comuns. Dentre estas, o
pequeno tamanho com massa molecular menor do
que 1 KDa e a estrutura química heterocíclica ou
aromática, além do amplo espectro de ação
antimicrobiana frente às bactérias Gram-positivo,
Gram-negativo e fungos.
ABDEL-BAR et al., em 1987, purificaram
e caracterizaram um composto aromático de
massa molecular menor do que 700 Da
sintetizado por Lactobacillus bulgaricus, capaz de
inibir Pseudomonas fragi e S. aureus.
Das substâncias de natureza não-protéica
descritas na literatura destaca-se a reuterina (hidroxipropanaldeído)
produzida
por
Lactobacillus reuteri procedente do trato
gastrointestinal de seres humanos e animais. Sua
atividade antimicrobiana é ampla, sendo capaz de
inibir diversos microrganismos de interesse em
saúde pública, como Salmonella spp., Shigella
spp., Clostridium spp. Staphylococcus spp.,
Listeria spp., leveduras, fungos filamentosos e
protozoários (TALARICO et al., 1988; NARDI et
al., 2005).
1.3.4 Bacteriocinas
Certas substâncias macromoleculares são
importantes fatores tóxicos que impedem a
colonização de microrganismos transientes em
“habitats” gastrointestinais. Estas substâncias, as
bacteriocinas, são proteínas produzidas por
linhagens bacterianas de um grupo taxonômico
que pode matar ou inibir a multiplicação de outras
linhagens sensíveis de um mesmo grupo
taxonômico e, algumas vezes, de outros grupos,
ou até mesmo controlar seu próprio crescimento
de uma maneira auto-regulatória (SIMON 
GORBACH, 1982, 1984; SAVAGE, 1987). A sua
atuação in vivo, contudo, parece ainda não ter sido
definitivamente estabelecida.
Existe uma extensa gama de substâncias
inibidoras que podem ser produzidas por
microrganismos Gram-positivo (como a nisina) e
Gram-negativo (como as colicinas produzidas por
E. coli). Dentre estas substâncias produzidas, as
bacteriocinas são, atualmente, as mais estudadas,
devido à grande potencialidade de sua aplicação
biotecnológica na indústria de alimentos. As
bacteriocinas constituem um grupo heterogêneo
de peptídeos ou proteínas que variam muito
quanto ao seu espectro antimicrobiano,
propriedades bioquímicas, mecanismo de ação e
características genéticas (JACK et al., 1995;
PIARD & DESMAZEAUD, 1992; BONADÈ et
al., 2001).
As bacteriocinas produzidas por bactérias
são sintetizadas pelo ribossomo bacteriano, e se
distinguem dos antibióticos que possuem um
largo espectro de atividade, por serem peptídeos e
terem seus genes estruturais freqüentemente
presentes em plasmídios e transposons. (JACK et
al., 1995). Os antibióticos peptídicos de origem
microbiana têm origem da condensação
enzimática de aminoácidos livres, como a
gramicidina S, bacitracina A e polimixina
(KOLTER & MORENO, 1992).
Considera-se, ainda que, para a
caracterização das bacteriocinas produzidas por
bactérias, é necessário seguir pelo menos dois
critérios: o composto deve ser de natureza
protéica e não deve ser letal a célula produtora
(KONISKY, 1982).
O espectro de atividade antimicrobiana
das bacteriocinas varia. Algumas espécies
produzem a bacteriocina contra linhagens da
mesma espécie ou contra bactérias relacionadas,
que competem pelo mesmo nicho ecológico,
enquanto outras possuem um espectro de
atividade antimicrobiano mais amplo incluindo
bactérias de gêneros não tão próximos com
relação a sua classificação filogenética
(KLAENHAMMER,
1988,
1993;
SCHILLINGER & LÜCKE, 1989).
O mecanismo de ação das bacteriocinas,
em geral, deve-se a desestabilização funcional da
membrana citoplasmática das células sensíveis.
Este processo é constituído por três etapas:
interação e inserção na membrana, formação de
poros e morte celular (JACK et al., 1995).
A biossíntese de bacteriocinas ocorre
durante ou no final da fase exponencial do
crescimento bacteriano e é modulada de acordo
com as condições ambientais (fatores nutricionais
4
e físico-químicos) (TAGG et al., 1976). A
máxima produção é obtida suplementando-se o
meio de cultura com fatores limitantes de
crescimento, tais como: açucares vitaminas e
fontes de nitrogênio (PARENTE & HILL, 1992).
A amplitude do espectro de espécies e
linhagens inibidas depende de cada bacteriocina e
varia entre aquelas de um espectro muito restrito,
limitado a certas linhagens taxonomicamente
muito próximas (por exemplo, a lactocina A), e as
que possuem um espectro de ação amplo, que
incluem microrganismos deteriorantes de
alimentos e patogênicos, como Listeria
monocytogenes,
S.
aureus,
Clostridium
botulinum, e Clostridium perfringens (por
exemplo, nisina e pediocina PA-1) (MAGRO et
al., 2000 a).
Geralmente as bacteriocinas possuem
atividade contra um grande número de bactérias
Gram-positivo. Já existem alguns trabalhos que
descrevem o efeito antimicrobiano das
bacteriocinas sobre Gram-negativo (JACK et al.,
1995). As bactérias Gram-negativo, por
possuírem uma membrana externa, têm maior
proteção à ação das bacteriocinas (MAGRO et al.,
2000 b).
A produção de bacteriocina foi muito
pouco estudada em bactérias anaeróbicas.
Podemos citar, também, alguns estudos relevantes
quanto à produção de bacteriocinas por
microrganismos anaeróbios estritos, como o
Ruminococcus gnavus. A habilidade de algumas
linhagens de bactérias do grupo Bacteroides
fragilis, isoladas da cavidade oral e intestino de
pequenos primatas, para produzir bacteriorina foi
demonstrada por FARIAS et al., em 1992. Nesta
pesquisa, observou-se atividade antagonista em
52% dos isolados intestinais, sendo que três
mostraram a atividade de auto-antagonismo. Uma
atividade mais elevada, avaliada pelo tamanho do
halo da inibição, foi observada no ágar BHI-S, e a
inibição maior foi obtida após 72 horas de
incubação (FARIAS et al., 1992).
Outro estudo seria o de uma bacteriocina
intracelular produzida por um Bacteroides ovatus,
isolado da microbiota fecal humana. Esta
bacteriocina se mostrou estável em uma escala de
pH de 3-10, em 60 °C por 24 horas, e em -70 °C
por 6 meses. Observou-se também, que a mesma
era inativada por enzimas proteolíticas. Das
cinqüenta linhagens do grupo Bacteroides fragilis
que foram isoladas das amostras fecais, quarenta e
um produziam uma substância antagonista
(MIRANDA et al., 1993).
FARIAS et al., em 1994, descreveu
também, a produção de uma bacteriocina
(fragilicina) produzida por uma linhagem de
Bacteroides fragilis, isolada de um pequeno
primata (Callithrix penicillata). Duas frações
ativas (36 e 150 KDa) foram isoladas por
cromatografia. A substância se apresentou estável
entre pH 3 e 10 e em 60 °C por 24 horas. Testes
de susceptibilidade a enzimas proteolíticas como
a tripsina e proteinase-K mostraram-se efetivas na
inativação da bacteriocina, dando a evidência de
sua natureza protéica.
Em uma pesquisa com Fusobacterium,
OLIVEIRA et al. (1998), constataram que num
total de 167 isolados de microrganismos deste
gênero e que foram testados para a produção de
bacteriocina (70 obtidos da cavidade oral dos
pacientes com doença periodontal, 47 foram
recuperados de cavidades orais saudáveis de
humanos e 50 da cavidade oral de Callithrix
penicillata), observou-se auto-antagonismo e o
iso-antagonismo quando os mesmos foram
testados contra si mesmo. Hetero-antagonismo foi
detectado quando os isolados de Fusobacterium
foram testados frente a 14 linhagens de referência
e a duas linhagens de Actinobacillus
actinomycetemcomitans. Estes fenômenos de
hetero-antagonismo observados neste estudo
sugeriram um papel ecológico importante na
manutenção do ambiente oral.
As bactérias produtoras de bacteriocinas
são insensíveis a suas próprias bacteriocinas,
devido à síntese concomitante de proteínas de
imunidade (SARIS et al., 1996). As proteínas de
imunidade da segunda classe são usualmente
pequenas, compostas de 51 a 150 aminoácidos,
que mostram um baixo grau de homologia entre
si, particularmente quando as bacteriocinas
correspondentes são intimamente relacionadas ou
idênticas, o que sugere que elas não interagem
diretamente com a bacteriocina (NES et al.,
1996).
5
As bacteriocinas são geralmente estáveis
no pH ácido ou neutro, indicando que são
substâncias bem adaptadas ao ambiente de
produção das mesmas. Existem algumas exceções
como, a solubilidade e estabilidade da Nisina em
pH 2 são máximas (57 mg/mL) e esses
parâmetros vão decrescendo à medida que
aumentamos o pH até 6 (1,5 mg/mL) (PIARD &
DESMAZEAUD, 1992).
A prova de difusão em ágar é,
provavelmente, o bioensaio mais utilizado para a
detecção da atividade bacteriocinogênica (JACK
et al., 1995). A natureza química e a resistência
térmica dos sobrenadantes obtidos das linhagens
presumidamente
bacteriocinogênica
são,
geralmente, pesquisadas utilizando-se de diversos
tratamentos enzimáticos (proteases, lipases e
amilases) e diferentes tratamentos térmicos
(SOBRINO et al., 1992).
As quatro classes distintas são:
Classe I => É formada por peptídeos
contendo
aminoácidos
modificados,
os
lantibióticos. Os lantibióticos são peptídeos
menores do que 5 kDa, que se caracterizam por
conterem aminoácidos modificados como a
lantionina e a -metil lantionina, 2,3didesihidroalanina
(Dha)
e
2,3didesihidrobutirina(Dhb), bem como a presença
de anéis intra-moleculares. São sintetizados na
forma de pré-peptídeos, sofrendo modificações
pós-tradução
para
formar
peptídeos
biologicamente ativos. Em função de aspectos
químicos e estruturais, os lantibióticos
subdividem-se em peptídeos do tipo A e B
(JUNG, 1991). Os lantibióticos do tipo A são
peptídeos que desencadeiam a formação de poros
na membrana celular, sendo esse um dos seus
principais modo de ação inibitória, estando entre
eles a nisina, sintetizada por Lactococcus lactis
subsp. lactis e a ruminococcin A (Rum A),
sintetizada
por
membros
do
gênero
Ruminococcus (MORTVEDT et al., 1991;
TURNER et al., 1999; DABARD et al., 2001;
CHEN et al., 2004). Os lantibióticos do tipo B são
peptídeos globulares imunologicamente ativos,
que inibem as atividades enzimáticas celulares
(JUNG, 1991).
Classe II => A classe II compreende um
grande número de peptídeos termoestáveis
compostos por aminoácidos não modificados. Por
sua vez podem subdividir-se em quatro
subclasses:
IIa- Caracterizam-se por possuírem alto
grau de homologia entre suas seqüências de
aminoácidos, principalmente na parte N-terminal
dos peptídeos. São peptídeos pequenos,
termoestáveis e sintetizados na forma de
precursores, os quais saem processados depois da
adesão de dois resíduos de glicina. Essas
bacteriocinas e seus organismos produtores são de
interesse considerável como bioconservantes
devido a sua alta atividade antimicrobiana contra
Listeria spp. Ex: pediocin PA-1, sakacinas A e P,
curvacina A, leucocina A.
IIb- Estão aqui agrupadas as bacteriocinas
cuja atividade depende da ação complementar de
dois peptídeos. Estes dois peptídeos são diferentes
na seqüência, sugerindo que eles originam-se de
duas
bacteriocinas
independentes
e
provalvemente diferentes (NES & HOLO, 2000).
O primeiro relato de bacteriocina desta classe, a
lactococcina G, foi isolada de Lactococcus lactis
e possui cadeias  e  consistindo
respectivamente de 39 a 35 resíduos de
aminoácidos (NISSEN-MEYER et al., 1992;
MOLL et al., 1996).
IIc- Incluem as bacteriocinas que são
transportadas utilizando um sistema secdependente e necessitam de resíduos de cisteína
na forma reduzida para a atividade biológica da
molécula, como a lactocina B (CINTAS et al.,
2001; NES et al., 1996).
Classe III => São bacteriocinas com peso
superior a 30 kDa, termolábeis e sem aminoácidos
modificados em sua estrutura primária. Por suas
características protéicas e sensibilidade ao
aquecimento são a classe de bacteriocinas que
possuem menor interesse industrial na atualidade
(MAGRO et al., 2000 a). A helveticina J foi a
primeira bacteriocina desta classe a ser purificada
6
e caracterizada em nível genético (JOEGER &
KLAENHAMMER, 1990).
bacteriocin produced by Lactobacillus helveticus.
Lett. Appl. Microbiol., v. 33, p. 153-158, 2001.
Classe IV => A classe IV é compreendida
por aquelas bacteriocinas complexas que, além de
proteína, requerem carboidratos ou lípideos para
exercer
a
sua
atividade
biológica
(KLAENHAMMER, 1993). A grande maioria
destas bacteriocinas é de natureza hidrofóbica, o
que pode levar a uma interação com os lípideos
ou outros materiais celulares, além do fato de
terem sido só parcialmente purificadas e
caracterizadas apenas pelo uso de enzimas como
proteases, amilases e lipases. Ex.: plantaricin S
(JIMÉNEZ-DÍAZ et al., 1993). A indústria de
alimentos utiliza, há vários anos, a nisina, uma
bacteriocina da classe I, sintetizada por
Lactococcus lactis subsp. lactis. Até o momento,
esta é a única bacteriocina autorizada legalmente
como conservante alimentício no Brasil e em
mais de cinquenta países. O seu emprego é
permitido nos Estados Unidos da América desde
1988 (MAGRO et al., 2000 b). Entretanto, outras
bacteriocinas da classe II já foram patenteadas na
Europa e EUA, e estão em fase de testes
(MAGRO et al., 2000 a , b, CLEVELAND et al.,
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2 CONCLUSÃO
Pelo fato da microbiota intestinal
constituir um ecossistema altamente competitivo,
a produção de substâncias antagonistas por seus
componentes, representa uma vantagem ecológica
no controle dos níveis populacionais de outras
espécies patogênicas ou não.
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________________________________________
1 – Flávio Henrique Ferreira Barbosa, PhD
Professor Adjunto I – Ciências Farmacêuticas
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
[email protected]
2 – Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa, BSc
Bióloga / Consultora
Real Biológica Ltda
[email protected]
3 – Leandro Henrique Silva Bambirra , BSc
Médico Veterinário / Estudante de Iniciação Científica
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
4 – Flávia Figueira Aburjaile, BSc
Biomédica / Estudante de Iniciação Científica
Universidade FUMEC
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