HISTÓRIA 1ª QUESTÃO Leia o texto a seguir, escrito pelo Padre Antonil em 1711. Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição com reparo e escolha, e não às cegas. No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de que se não usa nem com os brutos animais... (Adaptado de: ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p.89. Coleção Reconquista do Brasil. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.) a) Considerando o Período Colonial brasileiro, explique a afirmativa “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho”. b) Qual a posição assumida pelo Padre Antonil frente ao tratamento dispensado aos escravos? Resolução: a) O candidato deve relacionar a noção de que os escravos são as mãos e os pés dos senhores de engenho com os trabalhos na propriedade rural, do plantio ao fabrico do açúcar. Isto é, constituem as bases fundamentais da economia colonial. b) Em relação ao tratamento dispensado aos escravos, Antonil observa que, embora seja recomendado que se empreguem os PPP, muitas vezes os castigos são mais abundantes que a vestimenta e a alimentação, ou seja, Antonil indica o desequilíbrio no tratamento dado aos escravos. Em outras palavras, recomenda aos senhores que castiguem os escravos na “medida correta”, sem exageros. 2ª QUESTÃO Outra preocupação da Coroa foi a de estabelecer limites à entrada na região das minas. Nos primeiros tempos da atividade mineradora, a Câmara de São Paulo reivindicou, junto ao rei de Portugal, que somente aos moradores da Vila de São Paulo, a quem se devia a descoberta do ouro, fossem dadas concessões de exploração do metal. Os fatos se encarregaram de demonstrar a inviabilidade do pretendido, diante do grande número, não só de portugueses, mas também de baianos, que chegava à região das minas. FAUSTO, Bóris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2004, p. 100. O texto acima refere-se aos precedentes de um conflito ocorrido entre 1708 e 1709. a) A qual conflito se refere o autor? Quais foram as motivações desse conflito? b) A economia colonial era caracterizada pela produção de gêneros voltados ao mercado externo. No entanto, o exemplo da economia mineradora pode ser lembrado para evidenciar a existência de um mercado interno na colônia portuguesa? Justifique sua resposta. Resolução: a) Guerra dos Emboabas. O candidato poderia apontar, entre outras, as seguintes motivações: a insatisfação dos primeiros descobridores das minas com a chegada de forasteiros, pernambucanos, baianos, portugueses etc.; a imposição, por parte dos forasteiros, os emboabas, do controle sobre a área mineradora. b) A partir da atividade mineradora, no século XVIII, embora a economia brasileira continuasse basicamente exportadora, o crescimento do poder aquisitivo na área das minas e o crescimento da vida urbana lançaram as bases de um nascente mercado interno que pode ser exemplificado pelo desenvolvimento da pecuária sulina para atender às necessidades da região. Também poderia ser citado o crescimento de grupos médios e de outras atividades econômicas (comércio de artigos secos e molhados, termos da época) que abasteciam a região, gerando circulação de capital e de pessoas, sendo que estes artigos eram voltados para consumo interno. 1 3ª QUESTÃO Leia abaixo o poema "Perguntas de um operário letrado", de Bertold Bretch: Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilônia, tantas vezes destruída, Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio Só tinha palácios Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida Na noite em que o mar a engoliu Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Índias Sozinho? César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ninguém mais? Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou? Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins? Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histórias Quantas perguntas. A partir da análise do texto, a) analise a concepção de História criticada pelo autor. b) apresente uma outra maneira de se produzir História enquanto conhecimento científico. Resolução: a) A história positivista pode ser concebida como uma narrativa de fatos passados. Conhecer o passado dos homens é, por princípio, uma definição de história, e aos historiadores cabe recolher, por intermédio de uma variedade de documentos, os fatos mais importantes, ordená-los cronologicamente e narrá-los. Essa tendência passou a ser dominada de historicismo, cuja metodologia foi conhecida como positivista, por basear-se nos princípios da objetividade e da neutralidade no trabalho do historiador. Conhecer o passado da humanidade tal como ocorreu constitui uma definição de história característica da ciência positivista do século XIX. Os historiadores dessa corrente de pensamento baseavam suas análises em perspectivas deterministas, isto é, ressaltavam, por intermédio de uma variedade de documentos oficiais escritos, os fatos mais importantes; ordenavam-nos seguindo uma ordem cronológica e linear de apreensão do tempo e descreviam-nos com a perspectiva de reviver o passado real da humanidade. Por isso, receberam o estigma de “metódicos” ou “historiadores narrativos”, pelos historiadores do século XX. A intenção dos historiadores positivistas era ressaltar a importância dos grandes heróis nacionais, assim como evidenciar no Estado Nacional em consolidação, o verdadeiro sujeito das transformações em curso. Além disso, enaltecer o auge da civilização europeia em ritmo acelerado de desenvolvimento após as novas tecnologias advindas da Segunda Revolução Industrial. Nota-se uma preocupação com assuntos de ordem política e social, porém resgatando uma sociedade “abstrata”, pois se centralizava na figura dos grandes líderes nacionais, estes sim, responsáveis pelas transformações estruturais de sua Nação. Os diversos grupos sociais estavam esquecidos, ou “à margem” do desenrolar histórico. 2 b) o aluno poderia escolher entre duas: A Filosofia marxista configurou, de fato, um novo enfoque teórico de análise da História. Enquanto os historiadores positivistas baseavam seus estudos na “genealogia da Nação Moderna”, por intermédio dos documentos oficiais escritos, compondo uma história das elites políticas, “reacionária” do ponto de vista teórico, Marx afirmava ser a Luta de classes o verdadeiro fundamento de uma História em movimento. Para Marx, o “trabalho” (categoria fundante de sua filosofia), entendido como as múltiplas relações entre os homens e a natureza, relação esta que ocorre como condição material da vida em sociedade, representa o estágio ou modelo de produção de organização social e econômica de um determinado espaço e período histórico. O “acontecimento” e “as ações individuais” (fundamentais para os historiadores positivistas), provocadores de transformações e mudanças, são, para os historiadores marxistas, consequências naturais do estágio do modo de produção em curso. Essa corrente do pensamento historiográfico surgiu com a inauguração da revista: “Analles de História Econômica e Social”, fundada em 1929 pelos historiadores Marc Bloch (1886-1944) e Lucién Febvre (1878-1956) (ambos professores da Universidade de Estrasburgo). A intenção era promover estudos relativos às estruturas econômicas e sociais, favorecendo possíveis contatos interdisciplinares no seio das Ciências Sociais. Os horizontes de ação do historiador ampliavam-se e possibilitavam recuperar o passado por intermédio de questões colocadas pelo tempo presente, assim como a ampliação da noção de fonte. A História deixa de ser “narrativa” para ser “problema”: Na história-problema, o historiador escolhe seus objetos no passado e os interroga a partir do presente. Ele explicita a sua elaboração conceitual, pois reconhece a sua presença na pesquisa: escolhe, seleciona, interroga, conceitua. A noção de tempo é encarada da seguinte forma: A divisão entre “tempo do acontecimento, da conjuntura e da longa duração ou estrutura” (BITTENCOURT, 2004, p. 146) possibilitou uma ampliação da noção de tempo à História e definiu novos aportes metodológicos para apreensão da memória histórica. 4ª QUESTÃO “Salve, oh! Osiris! Touro do Amenti! Eis que Thoth, Príncipe da Eternidade, fala pela minha boca ! Na verdade, eu sou o grande deus que acompanha em sua rota a Barca celeste ! pois chego agora para lutar ao teu lado, oh, Osíris ...” (Trecho retirado do Livro dos Mortos do Antigo Egito, capítulo I, p. 23, Ed. Hemus.) A mitologia de uma civilização influencia a sua sociedade, em termos políticos, sociais e econômicos. No Antigo Egito, esclareça o que era a sociedade do regadio e o compromisso da casa faraônica. Resolução: REFERÊNCIA As primeiras civilizações surgem na região do chamado Crescente Fértil, ou seja, sociedades que dependiam das cheias periódicas dos rios, no caso do Egito, o Nilo, que tinha suas constantes cheias, certas anualmente, possibilitando a produção em suas margens e posteriormente o uso de técnicas de irrigação. A servidão coletiva, ou como chamou Marx, modo de produção asiático, no qual o campesinato (felás), servia ao Estado, e em troca o Faraó, que era visto como divindade (teocracia), tinha o papel, junto aos sacerdotes e os guerreiros, de proteger, dar manutenção às obras, armazenar os alimentos nos silos e distribuí-los para todas as camadas da sociedade. COMENTÁRIO O aluno deve acrescentar a introdução e, durante o desenvolvimento, não esquecer as palavras-chave do conteúdo tratado, concluindo o texto. 5ª QUESTÃO Nada é mais na vida cotidiana da coletividade do que a oratória [...]. A civilização da Atenas clássica é uma civilização do debate. As reações dos atenienses na Assembleia eram influenciadas por sua experiência como público do teatro e vice-versa. Trata-se de uma civilização substancialmente oral. (Adaptado de Agostino Masarachia, “La prosa greca del V e del IV secolo a.C.” In: Giovanni D.Anna (org.). Storia della letteratura greca. Roma: Tascabile Economici Newton, 1995, p. 52) a) Estabeleça uma diferença entre a participação política vigente na Atenas clássica da época de Sólon (594a. C. ) para a época de Clístenes ( 510 – 507 a.C.). b) Explique por que Péricles foi considerado o “consolidador da democracia” da Atenas clássica. 3 Resolução: a) valor 1.0 ponto. O século VI a C. foi marcado por inúmeras divergências políticas entre grupos demus e grupos aristói. Nesse cenário de discórdias entre os cidadãos de Atenas destacam-se legisladores que tentaram dar contornos mais harmônicos à vida política da Cidade- Estado em questão. Sólon (594 a C.) ampliou a participação política de esferas demus abrindo espaços para aqueles que, a partir da expansão mercantil, confortaram suas vidas privadas e portanto, possuíam certos graus de renda. Tal medida rompe a tradicional dinâmica política até então dominada por grupos que membravam as camadas mais conservadoras da Pólis, constituiída por aristói. Sólon criou Boulé e a Eclésia. A Boulé, constituída à época por quatrocentos (400) membros escolhidos anualmente a partir de quatro (04) tribos que indicavam por ano cem(100) representantes para a composição da casa que tinha o papel de elaborar leis. A Eclésia – assembleia popular de Atenas – abrigava a todos que correspondiam aos níveis censitários definidos pelo legislador tinha o poder de vetar ou aprovar as leis elaboradas pelo Conselho dos Quatrocentos. Atribui-se a Clístenes (510 aC – 507 aC) o reconhecimento da modelação democrática de Atenas. Sua legislação rompeu as definições censitárias do legislador anteriormente tratado e definiu contornos mais amplos na participação política da Cidade uma vez que não haviam mais restrições que não fossem as estabelecidas pelos conceitos de cidadania da Pólis. A Boulé passava a ser constituída por quinhentos (500) membros mantendo seu papel legislativo. A Eclésia passava a ter maior representação numérica e funcional: a casa passava a ter o poder de definir o ostracismo – medida política que poderia definir o exílio daqueles que fossem entendidos como uma ameaça aos preceitos democráticos da Pólis. b) Valor 1.0 ponto. Embora Clístenes no século VI aC. tenha ampliado a participação política por não restringir nenhuma esfera cidadã das dicisões na Pólis, a abertura de fato não tinha o valor formal uma vez que nem todos os grupos, especialmente demus, guardavam de confortos em suas vidas privadas que pudessem possibilitálos à efetiva dedicação à vida pública. Com Péricles (461 aC- 429 aC), a democracia ateniense atingiu sua plenitude. O legislador ao definir o misthoy – medida política que definia remuneração para cargos publicosgarantia a participação política efetivamente, tendo em vista que com a remuneração assegurada, os cidadãos, independente de sua realidade privada, poderiam atuar na vida pública. 4