SERVIÇOS METROLÓGICOS
Vale a pena montar um
laboratório de metrologia
na sala ao lado?
A empresa deve montar um laboratório interno? A resposta geralmente é sim! A provocação maior é
que, por outro lado, também vale a pena terceirizar a estrutura metrológica. Resta a análise qualitativa
e quantitativa sobre o quê terceirizar e o que internalizar
[André Luiz Meira de Oliveira]
A
partir da década de 70, com o fim da era de ouro
do capitalismo e o desequilíbrio entre o mercado,
o estado e a sociedade, as empresas passaram a
promover mudanças significativas dentro de suas
organizações buscando tornarem-se mais competitivas, flexíveis
e empreendedoras [1]. A descentralização da gestão, a criação
de filiais inclusive em outros países e a organização em redes de
fornecedores ou com parceiros, foram favorecidas pela otimização
dos custos de transação [2] e motivadas ainda mais com a evolução
tecnológica das tecnologias de comunicação - TICs.
Estimulados por teorias administrativas ora emergentes,
diversas empresas desmontaram sua estrutura metrológica,
buscando redução de custos e focalização dos esforços em
suas competências essenciais. Em parte das vezes, não era a
solução errada, porém o desmonte da metrologia traz, com o
tempo, consequências também nos produtos desenvolvidos e
produzidos pelas empresas e muitas vezes uma inversão no
custo por não ter a competência metrológica internalizada. O
próprio conceito de competência essencial confunde-se com
a necessidade de absorção de tecnologias pré-competitivas,
como citam Prahalad e Hamel, competências essenciais
são aquelas que atribuem vantagens competitivas, geram
valor distintivo percebido pelos clientes e difíceis de serem
imitadas pela concorrência. Ora, para a demonstração ou
a conquista e manutenção de determinada competência é
necessária a sua medição.
É certo que a tecnologia exigida para a metrologia é cara,
não apresenta necessidades de uso contínuo de equipamentos,
exige ambientes controlados e capacitação diferenciada de
pessoal, mas há um ponto onde a economicidade em criar-se
uma estrutura laboratorial pode ser comprovada, tornando
a criação e manutenção de um laboratório de metrologia
sustentável internamente às organizações. Somente com
essa estrutura criada, a metrologia torna a atuar em vertentes
além da garantia da qualidade e segurança dos produtos, mas
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também nas fases de desenvolvimento de produto e no controle
e melhoria de processos.
Sustentabilidade pode ser definida como a conquista
da continuidade, ao longo do tempo, das condições
socioeconômicas e ambientais que visam a equidade intra
e interrelacional [4], ou seja, uma organização sustentável
possui o equilíbrio entre os impactos sociais, econômicos e
ambientais também para as gerações futuras. Esse tripé da
sustentabilidade (econômica, ambiental e social) pode ser
um entrave na determinação do ponto de equilíbrio (quando
receitas e despesas são equiparadas) em alguns negócios, vistas
as preocupações ainda não internalizadas.
Quando isso acontece, geralmente a sustentabilidade é
determinada com uma visão neoclássica, trazendo os impactos
para valores monetários. Somente dessa forma, ferramentas
como o ROI (return over investment) ou o PayBack, clássicos
da análises de investimentos, podem ser utilizadas para
comprovação da sustentabilidade dos investimentos. Porém, é
certo que uma parcela significativa dos custos continuem sendo
os tradicionais de um laboratório de metrologia e podem ser
segregados em [5]:
A criação de um laboratório de metrologia depende de
três grandes fatores: equipamentos suficientemente capazes,
ambiente controlado conforme necessidade das grandezas a
serem tratadas e colaboradores treinados em procedimentos
formatados para operar e interpretar os resultados obtidos
pela estrutura. Dependendo do nível de exatidão exigido e das
grandezas de interesse, o custo da implantação de estruturas de
refrigeração, equipamentos e padrões podem variar bastante,
além de que o conhecimento necessário para operá-los tende a
variar da mesma forma. Como exemplo a medição dimensional,
quando um jogo de blocos padrão para calibrar paquímetros
em um pequeno laboratório tem investimento irrisório quando
comparado à implantação de um laboratório de medição por
coordenadas para medição de peças padrão.
Aos custos fixos de um laboratório de metrologia, além
das tradicionais rubricas de salários e encargos, overhead da
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organização, dentre outras, incluem-se especificamente para
laboratórios as calibrações dos padrões ou sistemas de medição
(de acordo com as periodicidades definidas), as despesas com
acreditação — caso seja essa a opção — e as manutenções
dos sistemas de controle e atuação — refrigeração, controle de
umidade e poeira, dentre outros dependentes das grandezas a
serem medidas. Os custos variáveis são os dependentes do nível
de operação dos laboratórios, como os reagentes utilizados para
alguns ensaios, padrões em ensaios destrutivos, a eletricidade
extra de equipamentos de alto consumo, transportes e logística.
Esses custos somados, quando comparados diretamente
com o custo da terceirização da metrologia, não provêem
normalmente economia à empresa demandante se não em
casos de alta demanda por um mesmo ensaio, medição ou
calibração. Por outro lado, essa comparação pura não representa
o valor no ambiente complexo de uma empresa e esse valor que
deve ser encontrado.
• agilidade nas respostas na resolução de dúvidas durante o
processo de fabricação ou de desenvolvimento, não atrasando
Determinando o valor da metrologia
A possibilidade de trazer conhecimento metrológico
disponibilizado em todas as fases do desenvolvimento e
fabricação dos produtos pode trazer ganhos geralmente
não calculados em análises de viabilidade tradicionais,
como por exemplo:
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Figura 1
Critério
1
2
3
5
4
3
2
1
Custo do serviço
interno x
terceirização
Linha de corte
– custo de
internalização é
menor que o de
terceirização
linha de corte
– custo de
internalizar iguala
ao de terceirizar
custo de
terceirizar é pouco
menor
custo de
terceirizar é muito
menor
custo de
terceirizar
é proibitivo
atualmente
Influência da
competência na
resolução de
dúvidas durante
os processos da
empresa
medições
inprescindíveis
à qualidade do
processo e são
demandadas
regularmente
medições
inprescindíveis
à qualidade do
processo e são
demandadas
esporadicamente
medições
importantes à
qualidade do
processo e são
demandadas
regularmente
medições
importantes à
qualidade do
processo e são
demandadas
esporadicamente
medições
secundárias para
conferência de
outras medições
ou processo de
avaliação final
em sistema
qualificado
Quantidade de
equipamentos
substitutos (lucro
cessante)
não há
equipamento
substituto e sua
calibração demora
mais do que 1 mês
não há
equipamento
substituto e sua
calibração demora
menos do que 1
mês
não há
equipamento
substituto e sua
calibração demora
menos do que 1
semana
há equipamentos
substitutos, mas
não suficientes em
quantidade para
emergências
existem
equipamentos
substitutos de
sobra
Figura 2
Critério
Peso
1
5
2
2
3
3
n
p
Serviços Metrológicos
SM1
SM2
...
SM n-1
SM n
5
4
X
3
2
NA
NA
X
3
4
NA
NA
X
2
5
NA
NA
X
X
X
...
27
33
...
Analisar posteriormente
Analisar prioritariamente
Nota Fiscal (Soma de critérios
X * pesos p):
Decisão:
internalizar
internalizar
linhas de produção ou garantindo a continuidade da qualidade
dos processos;
• lucro cessante no envio de equipamentos para calibração,
perdido na logística de envio dos equipamentos e padrões;
• duplicação de equipamentos (e seus custos extras
relacionados) para cobrir ausências dos sistemas de medição
quando enviados para calibração;
• apoio interno no desenvolvimento e acompanhamento de
programas de confiabilidade de medições;
• criação de processos muito rígidos devido à falta de
conhecimento metrológico no projeto, planejamento e controle,
exigindo infraestrutura cara e dispendiosa, além da incidência
de não conformidades e refugos desnecessários;
• internalização de conhecimento, geração de empregos e
redução de transporte de equipamentos, reduzindo impacto
ambiental.
Isso dentre outros de acordo com o negócio a ser analisado,
perfazendo então a mudança no cenário da sustentabilidade buscada.
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É certo que a determinação exata dos valores acima listados
é difícil em um ambiente complexo, onde combinações de
situações trazem resultados completamente imprevisíveis.
Ainda, a tarefa complica-se mais quando é necessário trazêlos para valores monetários (visão neoclássica), pois muito
possivelmente nem toda a cadeia de rastreabilidade consegue
ser implementada com economicidade na empresa, restando
saber o que será ou não internalizado.
O método proposto para análise da definição de quais
serviços metrológicos devem ser internalizados:
1º passo: Analisar meios de medição a serem calibrados
e as tarefas metrológicas que são normalmente terceirizadas
diretamente pelo custo dessa terceirização somada aos custos
de logística, comparando-os frente aos custos de criar e manter
um laboratório de metrologia, como exposto. Essa conta traz
uma linha de corte e todos os serviços que compensarem devem
ser internalizados. É importante considerar que a infraestrutura
ambiental pode servir para diversas operações metrológicas.
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2º passo: Criar uma Matriz de Decisão para demais serviços
metrológicos visualizados, considerando critérios como os
apontados no item 3 desse artigo, criar escalas e atribuir notas e
pesos esses critérios, avaliando-os
3º passo: Executar alguns dos serviços listados como mais
sustentáveis para a organização de acordo com a matriz de decisão
4º passo: Buscar otimização e expansão progressiva dos
serviços metrológicos, criando valor em todas as áreas da
empresa e todo o ciclo do produto.
Um exemplo de escala por ser visto na figura 1, inclusive
com critérios subjetivos.
Uma aplicação da matriz pode ser considerada na figura 2
simplificadamente.
Assim, para o exemplo acima, a empresa deve internalizar
os serviços metrológicos 1 e 2, analisar a possibilidade da
internalização do serviço n, vista sua importância na resolução
de dúvidas e os problemas para conseguir serviços terceirizados
rapidamente. Enfim, certo de que o assunto não finaliza com a
proposta, é notável que a sustentabilidade de um investimento em
infraestrutura metrológica para a empresa deva sair do contexto da
sustentabilidade econômica simplesmente pela diferença entre o
que seria gasto com a manutenção de um laboratório versus o que
é gasto com a terceirização das calibrações e medições.
Com essa visão, a internalização da competência
metrológica pode trazer toda uma mudança de
direcionamentos e perspectivas para a empresa. E agora
responda: vale mesmo a pena você montar um laboratório
interno? A resposta geralmente é sim! A provocação maior
é que, por outro lado, também vale a pena terceirizar
a estrutura metrológica. Resta a análise qualitativa e
quantitativa sobre o quê terceirizar e o que internalizar.
Referências
[1] Castells, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.
[2] Cheung, Steven N. S. (1987), Economic organization and
transaction costs, The New Palgrave: A Dictionary of Economics v. 2,,
pp. 55–58
[3] Prahalad, C. K. & Hamel, Gary. (1990) - The competence of the
corporation. Harvard Business Review, Boston, p. 79-91, May – June.
[4] Montibeles-Filho, Gilberto, O Mito do Desenvolvimento Sustentável
– Meio Ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de
mercadorias. Editora da UFSC, Florianópolis, 2001, 306 pgs.
[5] Giágio, M. A., Gerenciamento Técnico e Econômico de Laboratório
de Calibração Credenciado, Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal de Santa Catarina, Pós-Graduação em Metrologia Científica
e Industrial, Florianópolis, SC, Maio de 2001, pgs 47 à 52.
André Luiz Meira de Oliveira é gerente do CMI –
Certi - [email protected]
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Vale a pena montar um laboratório de metrologia na sala ao lado?