DOCÊNCIA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, SABERES E FUNÇÕES Ana Zeli Nascimento José Augusto Victoria Palma Resumo O presente estudo, de cunho bibliográfico, teve por objetivo identificar quais são os saberes e funções do docente em Educação Física. Para tanto se faz necessário compreender como se dá o processo de profissionalização da docência, quais são seus saberes e de que forma são adquiridos e também qual percurso histórico da Educação Física. Buscamos em nosso estudo caracterizar a docência como ação profissional, ao mesmo tempo em que procuramos relacionar com o ensino da Educação Física. Identificamos que para o exercício da docência, de qualquer que seja a disciplina/matéria escolar, são necessários saberes pedagógicos e científicos. Além do que, outros saberes, extraídos da experiência, são construídos no cotidiano da sala de aula. Palavras-chave: Formação de professores, Saberes Docentes, Educação Física Introdução Sabe-se da necessidade de continuar a mudar os padrões pedagógicos que norteiam os professores de Educação Física. Entretanto, é preciso também entender o percurso da área desde a sua gênese para que possamos chegar à conclusão de qual Educação Física que queremos, e de fato quais, são os saberes e as funções profissionais do docente desta disciplina. Docência – processo de profissionalização (Princípios da formação inicial e contínua) As profissões têm surgido do desenvolvimento das ocupações, quando estas procuram um maior reconhecimento científico, reconhecimento da especificidade e da conquista de status social. (PALMA et al, 2007). Sobre isto, Nascimento e Farias (2012), dizem que: “A ocupação apresenta como característica a dedicação exclusiva, o recebimento do salário, a preocupação com a qualidade do serviço prestado à sociedade e a dependência ao método da tentativa e erro. A profissão é caracterizada como uma ocupação de elite que deve ter maior recompensa (salário) e status social, tendo a pesquisa como norteadora de seu campo de atuação.” (p. 63) Assim, entende-se a profissionalização como o processo de qualificação, no qual uma ocupação é organizada, obtendo o direito a exclusividade de execução de um tipo particular de trabalho. Aqui o exercício profissional é caracterizado por uma dimensão subjetiva que será percebida na postura profissional, ou seja, nas ações do indivíduo. Tardif (2000), por sua vez, considera como principais características profissionais: conhecimentos especializados e formalizados; esses conhecimentos devem adquiridos meio de uma longa formação de alto nível, a maioria das vezes de natureza universitária – pois através de um curso universitário é que o indivíduo terá um diploma, o qual lhe possibilitará um título profissional; os conhecimentos profissionais são pragmáticos; o profissional deve fazer uso de conhecimentos esotéricos; avaliar o trabalho de seus pares; ter autonomia e discernimento; os conhecimentos profissionais são evolutivos e progressivos e necessitam de uma formação contínua ou continuada; e os erros pode ser responsabilidade do profissional. Com relação a docência, sabe-se que o seu processo de profissionalização iniciou-se tardiamente, especificamente no final do século XX, desde então o professor vem buscando construir sua identidade profissional. Nas últimas décadas, a profissionalização docente tem como objetivo conseguir desenvolver e implantar características dentro da formação do ensino e na formação dos professores. Há uma tentativa de renovar os fundamentos epistemológicos do ofício de professor. A docência passa a entrar num processo reflexivo a respeito das práticas profissionais, considerando o docente como formador e pesquisador, há de considerar o professor como produtor de conhecimento. Lembrando que o seu papel é ensinar, e isto consiste numa ação intencional em um contexto sociocultural, e que pressupõe um conjunto de operações complexas que transformam o projeto pedagógico curricular da escola em prática real. (PALMA et al, 2007) A profissionalização docente no Brasil, segundo Nascimento e Farias (2012), pode ser caracterizada por três fases. A primeira tem início na década de 1960, com institucionalização da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Em meados de 1960, a segunda fase consolidou uma nova organização do ensino brasileiro e do seu corpo docente, aqui já uma preocupação com a qualificação do professor, bem como suas condições de trabalho. A terceira fase, na década de 1980, foi aquela na qual tornaram forma ás expectativas de profissionalização. (p. 66) O que foi possível perceber é que a profissão docente se desenvolveu em meio a uma crise geral do profissionalismo e das profissões, e esta crise, que teve seu início na década de 1980, está associada á crise da perícia profissional, impacto da formação profissional; crise do poder profissional; e crise da ética profissional. (TARDIF, 2000) Esta crise acaba por atingir os professores, o qual estes apresentam uma desmotivação pessoal, insatisfação profissional, ausência e também o abandono da carreira. Mais tarde, na década de 1990, temos a Era da profissionalização, a qual surgiu várias discussões e debates relacionado as instituições formadoras, entre elas faculdades e universidades. E para resolver tais dilemas, Nóvoa (1999) diz que é necessário incentivar uma maior identificação pessoal dos professores, aumentar o tempo de presença nas escolas, além da importância da formação inicial e continuada – o que irá auxiliar na carreira docente. Vale ressaltar, que boa parte da discussão sobre a formação de professores se faz da perspectiva de a educação se realiza por meio da escolarização, o que implica considerar em que consiste a atividade principal do professor do professor e quais conhecimentos teóricos e técnicos são necessários à realização dessa atividade. Aqui a educação tem como objetivo principal o ensino de conteúdos científicos de cada área de conhecimento. E é no domínio desses conhecimentos e no modo de torná-los acessíveis aos educandos que está o núcleo da atividade do professor, a promoção da aprendizagem. (SFORNI, 2012) Saberes e Funções da Docência É no final do século XX que o papel do professor é resgatado e são desenvolvidos estudos que utilizam uma abordagem metodológica que da voz ao professor. E que o considera em sua própria formação, é assim que os saberes vão se constituindo a partir de uma reflexão na e sobre a prática, saberes estes que irão caracterizar a profissão docente e serão desenvolvidos durante todo o processo de formação, e também nas atividades cotidianas deste futuro docente, e também passam a integrar a identidade do professor. Para a construção desta identidade profissional é necessário caminhar junto com as características da socialização com a realidade, com o processo de formação, ou seja, a identidade é um verdadeiro processo de negociação. Sobre isto Tardif (2000) vem nos falar sobre uma epistemologia da prática profissional, a qual procurará estudar o conjunto de saberes utilizados pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar suas tarefas. “A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar esses saberes, compreender como são integrados concretamente nas tarefas dos profissionais e como os incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes ás suas atividades de trabalho. Ela também visa a compreender a natureza desses saberes, assim como o papel que desempenham tanto no processo de trabalho docente quanto em relação à identidade profissional dos professores.” (TARDIF, 2000 p. 11) Partindo desta finalidade é os saberes dos professores são caracterizados como temporais, por seres adquiridos com o tempo, sendo assim, boa parte do que os professores ensinam ou como ensinam provém da sua própria história. Os saberes podem ser também são plurais e heterogêneos, pois provêm de diversas fontes; e os saberes profissionais dos professores podem ser personalizados ou situados, pois se tratam de saberes apropriados, incorporados, subjetivados, saberes que é difícil dissociar das pessoas, da sua experiência ou situação de trabalho; Há várias pesquisas no Brasil, no que dizem respeito aos saberes da docência, tais pesquisas vêm tendo muita influencia da literatura internacional, que passam a considerar o professor como um profissional que adquire e desenvolve conhecimentos a partir da prática e no confronto com as condições da profissão. Por este motivo o saber docente é heterogêneo, possui varias tipologias, sendo eles mobilizados na pratica pelo professor em sua pratica pedagógica. (NUNES, 2001). Sobre isso Tardif et al (1991) diz que, “...quanto mais um saber é desenvolvido, formalizado, sistematizado, como acontece com as ciências e os saberes contemporâneos, mais se revela longo e complexo o processo de aprendizagem que exige, por sua vez, uma formalização e uma sistematização adequada.” (p. 219) Ou seja, procura-se entender a prática pedagógica a partir de toda complexidade que a envolve, tanto no que diz respeito á própria atividade de ensinar, quanto no fato de os agentes são pessoas, com histórias, memórias, trajetórias, expectativas, experiências e singularidades. Dentre os autores que inspiram pesquisadores brasileiros, temos o norte-americano, Lee Shulman, que fez um estudo importante sobre os conhecimentos que os docentes possuem em sua matéria de ensino. Tendo em vista três tipos de conhecimento: conhecimento da matéria; conhecimento pedagógico; e o conhecimento do currículo. E ainda temos sete categorias que formam o conhecimento de base do ensino, sendo eles: conhecimento do currículo; conhecimento pedagógico do conteúdo; conhecimento do aluno e de suas características; conhecimento do contexto educacional; e conhecimento das finalidades educativas. Tais conhecimentos, segundo Shulman (1987), são originados de quatro fontes, as disciplinas, os programas escolares, as ciências da educação e a prática docente. Observa-se que Shulman não tem preocupação em compreender como a matéria torna-se acessível ao aluno e também quais saberes o docente mobiliza para ensinar o aluno uma determina disciplina. Tardif (2002) considera, como colocado anteriormente, que o “saber docente é um saber plural formado de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana” (p. 54), saberes estes constituídos em um âmbito sociocultural que pode ir se modificando com tempo. E junto de outros autores Tardif, Lessard e Lahaye (1991) por sua vez, propuseram uma tipologia diferente da apresentada por Shulman, ou melhor, eles ampliaram sua categorização. Segundo estes autores são quatro os saberes que implicam na atividade docente sendo eles os: • Saberes da formação profissional (inicial ou continuada): também se constituem estes saberes da formação profissional conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e métodos de ensino (saber-fazer),ou seja, são ideologias pedagógicas encontradas na formação dos professores; • Saberes disciplinares: são reconhecidos e identificados como pertencentes aos diferentes campos do conhecimento, também são produzidos e acumulados pela sociedade ao longo da história da humanidade; • Saberes curriculares: apresentam-se sob forma de programas escolares (objetivos e metodologias) que os professores devem aprender e aplicar; • Saberes da experiência: são os saberes que resultam do próprio exercício da atividade profissional dos professores, estes saberes são produzidos pelos docentes por meio da vivência de situações específicas relacionadas ao espaço da escola e as relações com alunos e colegas de profissão. Tardif (2002) se preocupa em evidenciar que o processo de constituição do profissional professor não se restringe ao presente. Isso significa aceitar que as fontes de aquisição dos saberes dos professores se referem igualmente às experiências do presente e as do passado e que conhecimentos adquiridos no contexto da sua vida pessoal e familiar, assim como em toda a sua trajetória escolar, são decisivos também na constituição de sua identidade profissional, justificando, portanto, a característica temporal dos saberes dos professores. Estes saberes são transformados e passam a integrar a identidade do professor, constituindo-se em elemento fundamental nas práticas e discussões pedagógicas, sendo assim caracterizados como um saber original (NUNES, 2001). Gauthier (2006), também, partindo do princípio de Tardif, que o saber é algo plural, é contra a ideia de senso comum que muitos docentes têm em relação aos saberes, o qual para ensinar basta conhecer o conteúdo, ter talento, bom senso, seguir a intuição, ter experiência e cultura. Partindo destas premissas a docência seria um ofício sem saberes. Ao contrário disto e complementando ou apresentando semelhança dqueles saberes já apresentados por Tardif (2002), Gauthier apresenta uma classificação de saberes docentes, os quais são: • Saberes Disciplinares: são aqueles saberes produzidos pelos pesquisadores e cientistas envolvidos com atividades de pesquisa nas diferentes áreas de conhecimento. Sendo que para ensinar é necessário entender profundamente o conteúdo; • Saberes Curriculares: são aqueles referentes aos conhecimentos a respeito dos programas escolares; • Saberes das Ciências da Educação: seria aqueles saberes produzidos sobre a escola, estaria eles relacionados a própria profissão docente, o qual o professor deve conhecer a instituição em que está atuando; • Saberes da Tradição Pedagógica: estes referem-se as representações que os docentes têm a respeito da escola, seja do aluno, do professor ou da instituição; • Saberes Experienciais: referem-se aos conhecimentos construídos pelos professores, sendo estes resultados de uma construção individual; • Saberes da Ação Pedagógica: estes, por fim, seriam os saberes experienciais dos professores a partir do momento em que se tornam públicos e são validados por meio de pesquisas realizadas tendo como cenário empírico a sala de aula. O objetivo principal dos estudos desenvolvidos por Gauthier et al é argumentar no sentido de que a profissionalização da docência está estreitamente relacionada à legitimação e institucionalização dos saberes profissionais dos professores que, a partir desse processo, passariam a controlar a utilização e a reprodução desses saberes pelas instituições destinadas à formação de novos docentes. (CARDOSO et al, 2012 – p. 10) O que se pode notar é que a prática profissional de um docente é resultado da relação existente entre os seus diferentes saberes, adquiridos não somente na sua preparação profissional, cursada em instituições destinadas à formação de professores. Os saberes dos professores são, da mesma forma, resultantes dos conhecimentos e ensinamentos aprendidos na sua vida familiar e social, no decorrer de sua trajetória escolar como aluno, no seu próprio lugar de trabalho, por meio das relações estabelecidas com alunos e colegas de profissão. Educação Física e seu Contexto Histórico Ao buscarmos entender a Educação física na escola na atualidade, se faz necessário conhecer um pouco da sua história e a que interesse ela busca atender. Se relacionarmos a Educação Física como sendo apenas movimento ou locomoção, podemos dizer que ela tem seu início desde os primórdios. A história da Educação Física confunde-se com a Ginástica, no entanto, esta última está presente desde a Antiguidade Clássica até os dias atuais. Foi na Idade Moderna que ouvimos pela primeira vez a terminologia Educação Física, a qual surgiu graças a um corte epistemológico com a Ginástica. (PEREIRA, 2007) O paradigma predominante de ação dos professores que atuavam com a Educação Física, em sua maioria, era o paradigma simplista dualista cartesiano, que surgiu graças ao então filósofo e matemático René Descartes (1596 – 1650). No qual tem-se como característica principal a separação ontológica do homem em corpo e alma. A res extensa (corpo) e a res cogitans (alma), que são consideradas, no cartesianismo, dimensões distintas de modo que a mente é considerada como o principal elemento humano, e o corpo é morada da alma. Descartes via o corpo como objeto/matéria, em que sua natureza podia ser explicada por meio das leis da mecânica e em função da organização e do movimento de suas partes (BORELLI; PEREIRA; MORTARI – 2013), sendo o corpo uma máquina perfeita governada por essas leis a serviço da razão. Podemos dizer que o paradigma simplista dualista cartesiano é pensamento clássico da humanidade, os princípios desse paradigma acabam por rejeitar as contradições, não permite olhar o todo, mas vê esse todo de forma fragmentada, acaba por decompor o todo em elementos simples. Já no Brasil, a Educação Física tem início em 1851, mas não estava inserida na escola em todos os estados, apenas no Rio de Janeiro, especificamente em escolas militares. A Educação Física, fora entendida como uma maneira de forjar o homem forte, saudável, indispensável a implementação do processo de desenvolvimento do país. Nesse momento a influência é totalmente do militarismo e de médicos higienistas - isso ocorreu em decorrência do alto índice de mortalidade infantil, e as condições de saúde da população em geral. (CASTELLANI, 1988) Outra questão que vale ressaltar foi a participação da mulher nas práticas da Educação Física. As alunas eram proibidas, pelos seus pais, de participarem das práticas, por considerarem as práticas corporais inferiores as intelectuais. Essa situação alterou-se gradativamente o que viria mudar com um parecer de Rui Barbosa que data em torno de 1882, entretanto com várias restrições. Tal liberação se fazia necessária, para que mulher frágil se tornasse forte e sadia para gerar filhos saudáveis. O qual colocava o físico a favor do intelectual, assim como Descartes já apontava em suas teorias. Rui Barbosa, dizia a esse respeito: “A Educação Física da mulher deve ser, portanto, integral, higiênica e plástica, e, abrangendo com os trabalhos manuais os jogos infantis, a ginástica educativa e os esportes, cingir-se, exclusivamente aos jogos e esportes menos violentos e de todo compatíveis com a delicadeza da mãe.” (CASTELLANI, 1988 – pg. 45) Somente mais tarde graças a algumas reformas educacionais realizadas em vários estados brasileiros - dentre eles estão Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco - entre 1920 e 1928, foi que esses estados contemplaram a Educação Física como componente curricular do ensino primário e secundário (CASTELLANI, 1988). Mas em 1922, o Ministério de Guerra do Brasil, cria o Centro Militar de Educação Física, com o objetivo de dirigir, coordenar e difundir, este método militarista e algumas aplicações desportivas, porém este centro só passou a existir, alguns anos mais tarde quando do funcionamento do curso provisório de Educação Física – somado a outros fatos, como a presença de militares na formação dos primeiros professores civis de Educação Física. Com a Constituição do Estado Novo, em 1937, com o golpe de Getúlio Vargas, a Educação Física tinha por finalidade promover a disciplina moral e o adestramento físico dos estudantes, isto pensando na economia do país e na defesa da nação. Mais tarde em 1942, com a Reforma de Capanema, ela passou a ser obrigatória nos estabelecimentos de ensino, o motivo da obrigatoriedade é que se tenha uma mão de obra adestrada, forte e obediente. Em 1945, com o fim do Estado Novo, para se tornar professor de Educação Física, diferente das outras licenciaturas, era necessário apenas, ao interessado, um curso técnico, de nível secundário, com duração de dois anos (CASTELLANI, 1988). Nessa época, a questão pedagógica, na formação inicial e durante a atuação não era levada em consideração. Afinal era apenas a educação do físico tão só que era valorizado. Já na década de 1960, a Educação Física tinha um caráter mais tecnicista, um tanto competitivo. Neste período ocorre o Golpe Militar de 1964, no qual havia censura a artes, música e literatura. Assim poder-se-ia dizer que o único objetivo que a Educação Física poderia ter, era formar atletas, para se apresentarem nos grandes eventos e trazerem resultados para o país. Era um período de desenvolvimento para o país, tanto na área de comunicação como na urbanização, e também as indústrias, o objetivo da Educação Física aqui era também que os alunos fossem obedientes às regras. (CASTELLANI, 1988) A década de 1970 foi marcante para os brasileiros e principalmente para a Educação Física. Foi, exatamente, em 1970 que o hino da seleção brasileira de futebol – “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a Seleção” – composta por Miguel Gustavo e Raul de Souza, teve como objetivo inicial apoiar a Seleção. Entretanto, por trás de toda essa alienação havia vários crimes políticos. Mas tarde, ainda nos anos 1970, criou-se o movimento “Esporte Para Todos” (EPT), tal movimento surgiu com o intuito, dos governantes da época, de convencer à sociedade a brasileira de que o desenvolvimento econômico, do início da década, correspondia ao desenvolvimento social da sociedade brasileira, sendo demonstrado através das atividades físicas de lazer realizadas pela população. Nas décadas de 1980, do século passado houve, dos professores e pesquisadores da área, um movimento renovador da Educação Física, a qual passou a ter várias discussões envolvendo o campo crítico e progressista da pedagogia. Nessa época, e ainda hoje podemos observar que, a Educação Física tinha dificuldade em romper como paradigma da aptidão física – a qual o conhecimento advém das ciências naturais. Para tal rompimento, via-se a necessidade de que o corpo docente se qualificasse através de programas de pós-graduação, no qual viria a ser incorporada as questões pedagógicas, e as ciências humanas, como a sociologia e a filosofia da educação. Várias propostas pedagógicas foram originadas, dentre as quais temos: • Abordagem desenvolvimentista - a qual tem como objetivo inicial, oferecer à criança a oportunidade de experiência de movimento, garantindo seu desenvolvimento motor. Através de um processo de aprendizagem de natureza biológica, utilizando movimentos padronizados e com fases determinadas. Tem como defensor Go Tani; • Abordagem construtivista-interacionista – que trata do desenvolvimento cognitivo por meio dos jogos e brincadeiras infantis. Esta abordagem faz crítica a escola, pois, segundo seu defensor, a escola desconsidera a cultura infantil. Não há padronização de movimentos, porque estes são organizados e construídos pelo próprio sujeito. Seu principal defensor é João Batista Freire; • Abordagem crítico superadora – esta é oposta a perspectiva tradicional de Educação Física e traz uma reflexão com sentido e significado, e intencionalidade, discutindo principalmente os temas da cultura corporal, Seus principais representantes são Carmen Lúcia Soares, Lino Castellani Filho, Valter Bratch, dentre outros. • Abordagem crítico emancipatória – também faz crítica a Educação Física tradicional, ela constitui um sentido/significado no movimentar e intencionalidade, buscando superar o tradicional. Eleonor Kunz, o principal defensor desta abordagem, diz que deve haver equilíbrio entra a identidade pessoal e a social, ele também faz crítica ao termo “cultura corporal”, pois segundo ele, tal termo pressupõe que há outras formas de cultura como a intelectual, retomando dicotomia mente/corpo – a qual busca romper. O melhor seria dizer “cultura do movimento” (DAOLIO, 2004). Através do se movimentar há uma forma de comunicação com o mundo. O objetivo das propostas pedagógicas é dar subsídios ao professor no momento da sua ação em sala de aula e por meio dela introduzir o estudante no universo da cultura de movimento de forma crítica, sendo esta a tarefa da escola. A Educação Física tem vários desafios como, por exemplo, se legitimar no campo pedagógico. Fazer uma leitura adequada da política do corpo, entendendo o percurso histórico do mesmo, e por fim, temos o desafio epistemológico, a qual a pedagogia crítica terá a pretensão de superar o tradicional, fazendo uma leitura crítica da realidade. (BRATCH, 1999) Segundo Benites e Neto (2006), “no presente momento o que se tem, como grande referência, no âmbito escolar, são os Parâmetros Curriculares Nacionais, apresentando como objetivos: Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, respeitando características físicas e o desempenho de si próprio e dos demais; Conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestação de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais e étnicos; Adotar hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria da saúde coletiva; solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, dando possibilidades a todos e também condições para que todos conheçam os seus corpos para explorarem suas dimensões; Reivindicar melhores condições de trabalho e Promover um ensino crítico e contextualizado, etc.” Vale dizer que o objeto da Educação Física é o movimentar-se humano como fenômeno histórico cultural, e isso só se firmará quando as ciências naturais e humanas, juntas, formarem um referencial para a Educação Física. Conclusão Podemos dizer, por fim, que as propostas pedagógicas tem por objetivo dar subsídios aos professores no momento de sua ação em sala de aula e por meio dela introduzir o estudante no universo da cultura de movimento de forma crítica, sendo esta a tarefa a escola. Sendo os professores profissionais, os saberes vão se constituindo desde a sua formação, a partir de uma reflexão na e sobre a prática, saberes estes que irão caracterizar a profissão docente e serão desenvolvidos durante todo o processo de formação, e também nas atividades cotidianas deste futuro docente, e também passam a integrar a identidade do professor. Referências Bibliográficas BORELLI, C. V. J.; PEREIRA, A. M.; MORTARI, K. S. M. Manuel Sérgio: Precursor da Ciência da Motricidade Humana. Texto aceito para o IX SIEFLAS Seminário Internacional de Educação Física, Lazer, Saúde – Braga. BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física. Cadernos Cedes, ano XIX, nº 48, Agosto/99 DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FILHO, Lino Castellani. Educação Física no Brasil: A História que não se conta. Campinas, SP; Papirus; 1988. NASCIMENTO, J. V.; FARIAS, G. O. Construção da identidade profissional em educação física: da formação a intervenção.. Florianópolis: Ed. da UDESC, 2012 NÓVOA, Antônio. Profissão Professor. Porto, Portugal, Porto Editora, 1999. NUNES, C. M. F.; Saberes Docentes e Formação de Professores: Um breve Panorama da Pesquisa Brasileira. Educação & Sociedade, ano XXII, nº 74, Abril/2001. PALMA, Ângela P. T. V. at al.. Educação Física e a organização curricular – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Londrina : EDUEL, 2010. Sobre a docência. In LIBÂNEO, J.C. e ALVES, N. (orgs) Temas de Pedagogia: diálogos entre didática e currículo. São Paulo : Cortez, 2012. SFORNI, M. S. de Faria. Formação de professores e os conhecimentos teóricos TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ. : Vozes, 2002. Universidade Estadual de Londrina Ana Zeli Nascimento ([email protected]) Orientador: José Augusto Victória Palma ([email protected]) Linha: Formação de professores em Educação Física