Oftalmologia - Vol. 34: pp. 399 - 405 Retinopatia de Purtscher e Neuropatia Óptica Traumática Contralateral: – Caso Clínico Ana Miguel 1, Nádia Lopes 1, Mário Neves 1, Rui Andrês 1, Filipe Henriques 2, Roque Loureiro 3 1 – Interno Complementar de Oftalmologia 2 – Assistente hospitalar de Oftalmologia 3 – Director do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E. [email protected] RESUMO Introdução: A retinopatia de Purtscher (RPu) é uma rara vasculopatia hemorrágica e vasoclusiva. O diagnóstico é clínico, com história e fundoscopia típicas, sendo apoiado pela angiografia. O objectivo deste trabalho é reportar um caso clínico, infrequente de RPu, associado a neuropatia óptica traumática (NOT) contralateral, com consequente hipovisão. Faz-se uma revisão da literatura referente à RPu e à NOT, nomeadamente quanto a epidemiologia, patogenia, tratamento e prognóstico. Material e Métodos: Doente de 31 anos, sexo masculino; com súbita diminuição de visão bilateral após acidente de viação do qual resultaram múltiplas fracturas do maciço facial e da base do crânio. Apresentava acuidade visual (AV) de percepção de movimentos (PM) a 50 cm no olho direito (OD) e PM 5 cm no olho esquerdo (OE). OE com pupila de Marcus-Gunn e fundoscopia sem alterações. No OD, a fundoscopia revelou manchas algodonosas maculares, edema da retina, Purtscher flecken e hemorragias intrarretinianas. A angiografia apoiou o diagnóstico de RPu no OD. Após 6 meses de seguimento, apresentava AV OD: contagem de dedos a 2m e fundoscopia com regressão das lesões. No OE, apresentava AV de PM 1m, fundoscopia com palidez da papila e potenciais evocados visuais compatíveis com o diagnóstico de NOT. O doente está a ser orientado na Consulta de Hipovisão. Conclusão: Deve suspeitar-se de RPu na diminuição de acuidade visual após trauma (ou patologia sistémica associada). São necessários ensaios clínicos randomizados duplamente ocultados e metodologicamente rigorosos que avaliem todas as alternativas terapêuticas quer na RPu, quer na NOT. ABSTRACT Purtscher’s retinopathy with contralateral traumatic optic neuropathy: Case report Introduction: Purtscher’s retinopathy is a rare vasocclusive and hemorrhagic vasculopathy. The diagnosis is based on clinical settings and is supported by intravenous fluorescein angiography. The objective of this study is to report an unusual clinical case of Purtscher’s retinopathy with contralateral traumatic optic neuropathy (TON) which Trabalho apresentado como comunicação oral no 52.º Congresso Português de Oftalmologia, Dezembro de 2009, Vilamoura VOL. 34, ABRIL - JUNHO, 2010 399 Ana Miguel, Nádia Lopes, Mário Neves, Rui Andrês, Filipe Henriques, Roque Loureiro lead to hipovision. The authors review the literature about Purtscher’s retinopathy and TON about epidemiology, pathogenesis, treatment and prognosis. Material and methods: A 31-years-old male with sudden loss of vision after a car accident that caused him multiple facial and skull fractures. Ophthalmic examination found visual acuities of movement perception at 50 cm in the right eye (RE) and at 5 cm in the left eye (LE). Marcus-Gunn pupil in the LE with normal fundoscopy. RE’s fundoscopy with macular cotton-whool spots, whitening of retina with edema, Purtscher flecken and intrarretinal haemorrhages. Fluorescein angiography supported the diagnosis of right Purtscher’s retinopathy. At 6 months of follow-up, RE with visual acuity of couting fingers at 2meters, and fundoscopy with regression of the lesions. LE with visual acuity of MP 1m, fundoscopy with a pale disk, and evoked visual potentials compatible with left TON. The patient is being followed in a specific ophthalmic consultation for the vision-impaired. Conclusion: We should always consider Purtscher’s retinopathy in post-traumatic sudden visual loss (or systemic pathology). Further blind randomized clinical trials, methodologically sound, are necessary to evaluate all the therapeutic alternatives of Purtscher’s retinopathy and of TON. Palavras Chave: Retinopatia de Purtscher; Neuropatia Óptica Traumática; Corticoterapia; Trauma; Hipovisão. Keys Words: Purtscher’s Retinopathy; Traumatic Optic Neuropathy; Trauma; Vision Loss. Introdução A Retinopatia de Purtscher (RPu) é uma microvasculopatia oclusiva da retina associada a trauma. Foi descrita pela 1.ª vez em 1910 por Otmar Purtscher após traumatismo crânio-encefálico por queda de uma árvore num homem de meia idade 1. É uma patologia rara, sendo a incidência estimada de 0,24 casos por milhão por ano, segundo um estudo prospectivo realizado no Reino Unido 2 ; todavia alguns autores sugerem que esta incidência é maior 3. O atingimento é bilateral em 60% dos casos 3. Há diversas etiologias, quer traumáticas (a mais frequente, maioritariamente por trauma cefálico ou por compressão torácica), quer não traumáticas (designadas por retinopatia Purtscher-like), nomeadamente pancreatite aguda, insuficiência renal, anestesia retrobulbar, patologias linfoproliferativas, patologias auto-imunes, manobra de Valsalva, pós-parto e até bungee jumping 4-7. A apresentação clínica consiste em diminuição súbita da acuidade visual monocular ou binocular, que pode ser ligeira a severa (com acuidade visual de percepção de movimentos) 400 e que pode ocorrer imediatamente após a patologia sistémica causal ou dias depois 8. Ocasionalmente, há também escotoma central, paracentral ou arqueado 9. Oftalmoscopicamente, os dois sinais principais são as manchas algodonosas e as hemorragias intrarretinianas em pequeno número, presentes respectivamente em 92% e 83% dos casos 10 . Pode haver hemorragias profundas punctiformes, contidas dentro de uma zona de 10 diâmetros papilares11. As Purtscher flecken (literalmente: manchas de Purtscher) são patognomónicas mas ocorrem apenas em 50% dos casos. Consistem num embranquecimento da retina interna, entre as arteríolas e as vénulas ou entre as artérias e as arteríolas retinianas pré-capilares com limites bem definidos e com uma zona característica poupada sem embranquecimento retiniano, que vai desde os vasos até aproximadamente 50 µm de distância10,12. Ocasionalmente também se identifica: edema da retina, pseudo-mácula em cereja (quando há atingimento macular) ou alterações do disco óptico (como papiledema). Atrofia do epitélio pigmentar da retina (EPR), atrofia retiniana e palidez do disco óptico são sinais tardios. OFTALMOLOGIA Retinopatia de Purtscher e Neuropatia Óptica Traumática Contralateral: Caso Clínico O objectivo deste trabalho é reportar um caso clínico analisado prospectivamente, infrequente de retinopatia de Purtscher com atingimento grave, associada a provável neuropatia óptica traumática contralateral e com hipovisão bilateral sequelar. Caso clínico Doente do sexo masculino, 31 anos, que foi levado ao SU após acidente de viação do qual resultou traumatismo crânio encefálico e facial. Encontrava-se hemodinamicamente estável, com alteração do estado da consciência (Glasgow 11). Com defeito pupilar aferente esquerdo (pupila de Marcus-Gunn), equimose e edema periorbitário bilateral, epistaxis e otorragia à direita. Efectuou-se RX tórax (sem alterações) e TC crânio encefálica (CE) e de órbitas. A TC CE revelou ligeiro edema cerebral difuso. A TC órbitas permitiu identificar múltiplas fracturas do maciço facial e da base do crânio, sendo o lado esquerdo mais atingido. O doente foi avaliado por Neurocirurgia (que após vigilância, melhoria clínica e repetição da TC às 48h, decidiu não intervir), Cirurgia Maxilo-Facial (que programou cirurgia para 4 dias depois) e Oftalmologia. Na avaliação por Oftalmologia, o doente apresentava quadro de baixa súbita de visão bilateral que se manifestou imediatamente após recuperar a consciência, o que aconteceu 12h após o acidente. Não havia antecedentes sistémicos ou oftalmológicos relevantes. Apresentava acuidade visual (AV) no olho direito (OD) de percepção de movimentos (PM) a 50 cm e no olho esquerdo (OE) de PM a 5 cm. Com hematoma e edema periorbitário bilateral mais marcado à esquerda. Revelava pupila de Marcus-Gunn à esquerda, tensão intra-ocular (TIO) no OD 12mmHg e no OE 14 mmHg e motilidade ocular conservada bilateralmente. O segmento anterior não apresentava alterações à biomicroscopia no OD e apresentava extensa hemorragia subconjuntival no OE. À fundoscopia, o olho direito apresentava edema da retina, manchas algodonosas, Purtscher VOL. 34, ABRIL - JUNHO, 2010 flecken e algumas hemorragias intrarretinianas maculares (Fig. 1). A fundoscopia do OE não apresentava alterações. A clínica e a fundoscopia permitiram fazer o diagnóstico de Retinopatia de Purtscher no OD. Às 48h, repetiu-se TC CE e órbitas que revelou nervo óptico sem atingimento por estruturas ósseas, nem alterações dos tecidos moles. Visualizou-se, todavia, fractura perto do canal óptico esquerdo (Fig. 2). Fig. 1 – Fundoscopia do olho direito imediatamente após o acidente. Retinopatia de Purtscher no OD: Purtscher-flecken perifoveais (de limites bem definidos, com região poupada a ≈50 µm dos vasos-patognomónicas), manchas algodonosas confluentes na mácula (de limites mal definidos e localizados superficialmente em relação aos vasos; particularmente visíveis superiormente à papila óptica), edema da retina, pseudo-mácula em cereja, e ainda algumas hemorragias intrarretinianas. Fig. 2 – TC órbitas às 48h. Múltiplas fracturas das paredes das órbitas; fractura da grande asa do esfenóide a cerca de 1 cm da extremidade anterior do canal óptico esquerdo (assinalada com um círculo). 401 Ana Miguel, Nádia Lopes, Mário Neves, Rui Andrês, Filipe Henriques, Roque Loureiro Iniciou-se corticoterapia oral, 60mg/dia durante 4 semanas e 20mg/dia durante 8 semanas, após elucidar o doente quanto a efeitos laterais e relação risco-benefício. No 4.º dia de internamento, o doente foi submetido a cirurgia Maxilo-Facial, sem intercorrências; teve alta 4 dias depois. Após seguimento de um mês, apresentava discreta melhoria da AV OD: contagem de dedos a 1 metro (CD 1m); AV OE: percepção de movimentos a 1 metro (PM 1m). A fundoscopia no OD apresentava diminuição notória dos achados retinianos e no OE subtil mas evidente palidez da papila a nível nasal. A 1.ª angiografia fluoresceínica foi realizada nessa altura (após normalização da creatinina e da ureia) e permitiu identificar no OD: bloqueio da fluorescência causado pelas hemorragias intrarretinianas e derrame tardio de contraste inframacular e peripapilar (Fig. 3). A angiografia do OE revelava impregnação fluoresceínica peripapilar. Seis meses após o acidente, o doente apresentava AV OD de CD a 2m e AV OE de PM 1m. A fundoscopia do OD evidenciava resolução praticamente total (Fig. 4) enquanto que no OE havia palidez difusa da papila (Fig. 5). O OCT revelou extensa atrofia da retina neurossensorial com desorganização das camadas e perda da arquitectura foveal no OD; no OE evidenciou-se discreta diminuição da espessura da camada de fibras nervosas. Os potenciais evocados visuais permitiram identificar no OD latência normal e baixa amplitude de resposta (PEVr-pattern reversalcom estímulos de 60’: onde P100 com latência de 111.9 mseg e amplitude de 2,8uV; estímulos de flash vermelho: onde P2 com latência de 100.0mseg e amplitude de 3,4V); no OE, latência aumentada e amplitude muito baixa (PEVr: P100 indefinida; P2 com latência de 141.3 mseg e amplitude 1,1uV), apoiando assim a hipótese de neuropatia óptica traumática do OE. Actualmente, após 7 meses de seguimento, a acuidade visual permanece inalterada; o doente está a ser orientado pela Consulta de Hipovisão. 402 Fig. 3 – Fundoscopia e angiografia no olho direito após um mês. Fundoscopia com redução dos achados prévios: resolução praticamente total das manchas algodonosas (seta grossa), hemorragia intrarretiniana macular (seta), vestígios de Purtscher-flecken infrafoveais (asterisco). Angiografia OD: bloqueio da fluorescência e derrame tardio de contraste inframacular e peripapilar. Fig. 4 – Fundoscopia e angiografia do olho direito aos 6 meses. A fundoscopia revela alterações de remodelamento do epitélio pigmentar da retina perifoveal, confirmado angiograficamente. OFTALMOLOGIA Retinopatia de Purtscher e Neuropatia Óptica Traumática Contralateral: Caso Clínico Fig. 5 – Fundoscopia e angiografia do olho esquerdo aos 6 meses. A fundoscopia OE aos 6 meses (imagem central) revela palidez difusa da papila, por oposição à fundoscopia OE no 1.º mês (à esquerda) com palidez nasal da papila. A angiografia aos 6 meses (à direita) apresenta derrame tardio de contraste peripapilar. Discussão O diagnóstico de retinopatia de Purtscher (RPu) é clínico, podendo bastar diminuição da acuidade visual pós-traumática associada a fundoscopia típica 9,11; tal como foi o caso deste doente. Todavia, os casos descritos na literatura são geralmente caracterizados recorrendo a diversos exames complementares de diagnóstico, nomeadamente angiografia, OCT, PEV, entre outros. A angiografia apoia o diagnóstico, evidenciando oclusão pré-capilar, com áreas de hipofluorescência coroideia devido às hemorragias e às Purtscher flecken. Pode haver território de não perfusão capilar e extravasamento de corante tardiamente, na região peripapilar 11. Várias patologias pertencem ao diagnóstico diferencial, como Retinopatia Purtscher-like (sem história de trauma), commotio retinae (sem Purtscher flecken), ou oclusão da artéria central da retina ou da artéria cíliorretiniana (também com mácula em cereja mas sem hemorragias superficiais e com atraso de preenchimento da respectiva artéria na angiografia). Estudos histopatológicos evidenciam áreas de oclusão vascular retiniana com edema das camadas internas da retina, espaço cistóide sub-retiniano e transição abrupta para a retina normal 12,13. Quanto à patogenia, várias teorias surgiram desde a teoria mecânica inicial 1, mas ainda é assunto de debate. Uma das hipóteses mais VOL. 34, ABRIL - JUNHO, 2010 aceite é a de microembolização que causa oclusão pré-capilar arteriolar e respectivo enfarte microvascular da camada de fibras nervosas da retina (manchas algodonosas) 12,14, podendo ser um êmbolo de gordura (tipicamente descrito na fractura de ossos longos 15) ou associado a proteases pancreáticas libertadas na circulação sistémica na pancreatite aguda 16,17. Outro mecanismo é a leucoembolização por agregação leucocitária e activação do complemento C5 com extravasamento linfático secundário 18 (apoiado por alguns trabalhos experimentais 19). Também se postulam: dano endotelial capilar (apoiado pelo derrame tardio angiográfico14 ), aumento súbito da pressão intracraniana (gerando oclusão pré-capilar na lâmina cribosa 17,20) ou expansão súbita das veias retinianas 9. Pensa-se que estes mecanismos não são mutuamente exclusivos; há algum consenso quanto ao mecanismo final comum: oclusão das arteríolas pré-capilares por alteração da permeabilidade microvascular retiniana 3,9,10. O diagnóstico de neuropatia óptica traumática (NOT), que ocorre em 0,5-5% dos doentes que sofrem traumatismo contuso da cabeça 21, é apoiado por 22-25: • Diminuição da AV do OE associada a defeito aferente pupilar relativo do OE (condição sine qua non da NOT unilateral) após trauma; • Fundoscopia do OE normal (sem palidez da papila) logo após o traumatismo; • TC: fracturas orbitárias e do maciço facial à esquerda (o facto de não haver fractura do canal óptico nem anomalias no nervo óptico não excluem NOT 22); • Palidez progressiva da papila do disco óptico (DO) OE, indicando atrofia óptica, notada inicialmente após 4 semanas (o que está de acordo com a literatura 25); • PEV típicos. No diagnóstico diferencial de NOT, deve considerar-se trauma retiniano (excluído por fundoscopia e OCT normais), perda visual não 403 Ana Miguel, Nádia Lopes, Mário Neves, Rui Andrês, Filipe Henriques, Roque Loureiro fisiológica (excluída por presença de defeito pupilar aferente) ou outras etiologias cuja TC permitiu excluir neste caso: lesão assimétrica do quiasma óptico, hematoma da bainha do nervo óptico, hematoma subperiósseo, espícula óssea no nervo óptico, lesão compressiva, etc. Quanto à patogenia da NOT, a lesão do nervo óptico pode ser directa (por hemorragia, compressão, …), por cisalhamento (forças de aceleração/desaceleração no canal óptico, porção em que no nervo está fortemente aderente à dura mater) ou por ondas de choque através da órbita. O tratamento da RPu e da NOT é controverso. O doente fez corticoterapia oral apenas após aceitar os seguintes factos sugeridos pela evidência actual: 1 – Várias revisões sistemática (entre outros artigos) afirmam que não existe tratamento comprovadamente eficaz nem na RPu 1,11,2 nem na NOT 23,24,25; sendo o tratamento conservador (tratar afecções associadas) uma boa opção terapêutica e com menos efeitos laterais. 2 – Em alguns casos e séries de casos, a corticoterapia (CCT) oral e a endovenosa (ev) associaram-se a recuperação visual acelerada 2,26. Contudo, há na literatura um caso clínico associado a atraso de recuperação visual após CCT ev 27; os autores até à data não identificaram relatos semelhantes perante CCT oral. 3 – Das 4 principais opções terapêuticas da NOT (conservadora, CCT, cirurgia, CCT + cirurgia), não se demonstrou diferença na recuperação visual, segundo algumas revisões sistemáticas de casos e séries de casos 23,24,28. 4 – Os estudos NASCIS II 29 e NASCIS mostraram benefício na CCT ev de alta dose se administrada menos de 8h após traumatismo inicial. III 30 5 – O estudo CRASH 31 avaliou a efectividade e segurança da CCT ev após NOT (Vs tratamento conservador) e concluiu que aos 6 meses a mortalidade foi maior no grupo que recebeu CCT. 6 – A melhor opção terapêutica não é consensual; há estudos discordantes. 404 Geralmente o prognóstico da RPu é bom, com melhoria da AV aos 6 meses de > 2 linhas de Snellen em 50% dos casos (e > 4 linhas em 23%) 9. O enfarte macular central é um conhecido factor de mau prognóstico 9 que, associado ao atingimento extenso da retina e a atrofia retiniana demonstrada pelo OCT, podem explicar a má recuperação visual do OD. Quanto ao prognóstico da NOT, afirma-se que pode haver recuperação espontânea em pelo menos 30-40% dos doentes 32. Neste caso, a severa hipovisão do OE está associada provavelmente a NOT grave após traumatismo crânio-facial extenso (ressalve-se que a severidade do trauma e a severidade da perda visual nem sempre se correlacionam32). Em conclusão, deve sempre suspeitar-se de RPu na diminuição de acuidade visual após trauma (ou patologia sistémica causal), pois o prognóstico pode ser severo apesar de se tratar de uma patologia rara. É necessária articulação interdisciplinar e avaliação completa do doente para evitar litigações. Perante a ausência de evidência comprovadamente eficaz quanto ao tratamento desta patologia, são necessários ensaios clínicos randomizados duplamente ocultados e metodologicamente rigorosos que avaliem comparativamente todas as alternativas terapêuticas. Bibliografia 1. PURTSCHER O.: Noch unbekannte befunde nach nach schadeltrauma. Ber Dtsch Ophthalmol Ges 36:294-301, 1910 2. AGRAWAL A et al.: Purtscher’s retinopathy: epidemiology, clinical features and outcome. BJO. 2007; 91(11): 1456-9 3. HOLLÓ G.: Frequency of Purtscher’s retinopathy. Br J Ophthalmol. 2008;92(8):1159 4. TABANDEH H, et al.: Purtscher-like retinopathy associated with pancreatic adenocarcinoma. Am J Opht. 1999; 128(5):650-2 5. D’ALESSANDRO L et al.: [Retinopathy associated with acute pancreatitis]. Medicina (B Aires). 1994;54(4):340-2 6. LIM BA, A NG CL.: Purtscher-like retinopathy after retrobulbar injection. 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