Leia os textos ‘Perfis de Mulher’ e ‘Mulheres, Mulheres, Mulheres...’ e reflita sobre o
assunto traçando, se possível, paralelos com as mulheres que você convive nos dias atuais.
Pesquise, também, sobre as citadas nos textos.
Perfis de Mulher (14/05/2010), por Cidinha Baracat
Muitas mulheres compõem a galeria de personagens que enfeitam e enriquecem a Literatura
Brasileira. São retratos e perfis que resumem e exemplificam a mulher brasileira. Cada uma reflete
um pouco da alma de todas nós; marcaram sua presença em momentos e locais diferentes de nossa
história de povo, no sertão, no subúrbio, na cidade. São loiras, morenas, negras, mulatas e índias,
cultas, ignorantes, maliciosas, ingênuas, puras, devassas, sensuais, perversas algumas, angélicas
outras, todas inesquecíveis.
Lindoia se deixa envenenar para não se entregar a quem não amava. Moema, rejeitada, se
atira ao mar e nada até a exaustão, atrás do navio em que o amado se afasta. Marília, cujo amado é
condenado à prisão perpétua, mantém, na solteirice e na virgindade, a lembrança do idílio
interrompido.
Carolina, a moreninha, mantém e perpetua o sonho de um único e puro amor. Isaura, a
escrava, sofre sob o jugo dos caprichos de seu senhor. Inocência, borboleta ingênua, presa no
casulo das tradições machistas e patriarcais ainda vigentes. Aurélia, capaz de quebrar com seu ouro
(até no nome) o orgulho do macho interesseiro. Lucíola (a que brilha no escuro) sai da lama
purificada pelo amor. A doce e loira Ceci se funde ao índio corajoso no encontro amoroso de duas
grandes fontes de nossa nacionalidade; a guerreira Iracema, virgem dos lábios de mel, gera o
primeiro fruto e o entrega ao Brasil, repousando em seguida ao pé da palmeira em cujas frondes
canta a jandaia.
Abrindo e descortinando um novo panorama, de menos sacrifício e mais dinamismo, menos
sonho e mais ação, eis que chega Capitu, a dos olhos de ressaca, perspicaz e sutil, que, oblíqua e
dissimuladamente, deu um nó no juízo do desconfiado e inseguro companheiro. Rebolante e
colorida, toda pujança e alegria, Rita Baiana e seus tamanquinhos põem malucos os fortes e
atrevidos machões.
Na mesma linha de sedução e meiguice, ao calor estonteante da Bahia, dona Flor realiza o
sonho de toda mulher: um homem fogoso e atrevido na cama, e um marido comportado e exemplar
na sociedade. Tieta, a pastora de cabras convertida em ativista política e empreendedora. Completa
o famoso trio baiano a inigualável Gabriela, mulher de cama e fogão, tão quente numa quanto no
outro, cravo e canela no tempero a que nenhum homem resiste.
De Alagoas para o Rio vem Macabea, tão alienada e sem noção que sequer sabe quem é ou
o que deseja. Só passa a existir realmente atropelada. É sua hora de estrela.
Sinhá Vitória nem viveu de verdade. Tropicando pelo sertão nordestino, um único sonho a
embalava: ter uma cama de varas. Quantas ainda estão por aí, sonhando e perambulando...
Ousadas, corajosas, guerreiras, protestando contra a violência e o abuso sexual, duas grandes
heroínas em nossa história literária tiraram da dor e do sofrimento a força que as agiganta: Maria
Moura e Ana Terra, cada uma em seu tempo e lugar, desafiaram e enfrentaram preconceitos e
tabus. Violentadas, humilhadas, se levantam e transcendem a cruel realidade.
Grandes e belas mulheres, criações geniais de nossos escritores e escritoras. Vale a pena
conhecê-las! Nenhuma delas, que eu saiba, chegou a ser homenageada no Dia Internacional da
Mulher. É o que faço aqui agora, solidária e comovida, cúmplice que sou da sua glória e do seu
destino.
MULHERES, MULHERES, MULHERES... (17/01/2013), por Pedro César Alves
Em novembro do ano passado a Academia Araçatubense de Letras completou vinte anos e
foi lançado, na ocasião, a Revista Plural de número catorze com participação dos acadêmicos, dos
membros do Grupo Experimental e de convidados. Esta semana, a folheá-la com mais atenção, li
novamente o texto ’Perfis de mulher’, da acadêmica professora Cidinha Baracat, e comecei a pensar
carinhosamente sobre o assunto.
Antes, uma breve explicação: escrever sobre a mulher é um caminho muito interessante –
pelo menos para este que vos escreve. São dóceis, amargas, alegres, tristes, quietas, inquietas – e
poderia colocar muitos outros adjetivos, mas o interessante é que são mulheres e cada uma com a
sua personalidade formada ao longo de cada existência. E, continuando a explicação, o texto citado
acima é tão interessante que faz uma viagem pela literatura, pelos personagens femininos da
literatura brasileira. Vale lê-lo e com gosto de quero mais – pelo menos para o leitor mais
interessado na produção brasileira.
Lendo-o comecei a me intrigar com tais personagens. Eu os conhecia de longa data, mas o
que mais me chamou a atenção foi a maneira como foram colocados pela acadêmica. Questioneime, olhei ao meu redor, procurei-as e as encontrei – talvez um pedacinho em cada mulher e passei a
fazer uma pequena montagem. Pode até parecer estranho, mas ao longo de minha existência
trabalho com adolescentes e em cada uma posso ver partes do que nossos escritores retrataram em
suas obras. É sabido que a literatura, como qualquer texto de menor valor literário, apóia-se na
realidade que os cercam.
Voltando ao texto – tudo por causa do amor! Esta pequena palavra, de significado não muito
entendido ainda, é o causador de tudo. Tanto para o bem, como para o mal. Tanto para a alegria,
como para a tristeza e assim vai fazendo seu andar. E a acadêmica aponta Lindoia, personagem do
poema épico O Uraguaia, de Santa Rita Durão, que se deixa envenenar para não se entregar a quem
não amava. Também do mesmo autor, é apontada a personagem Moema, do poema épico
Caramuru, que nada até a exaustão atrás de amor e morre afogada no mar – romântico!
A acadêmica ainda cita: Marília – de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga;
Carolina – de A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo; Isaura – de A escrava Isaura, de
Bernardo Guimarães; Inocência – de Inocência, de Visconde de Taunay. Aurélia – de Senhora,
Lucíola – de Lucíola, Ceci – de O Guarani e Iracema, a virgem dos lábios de mel – de Iracema,
personagens de José de Alencar; Capitu – de Dom Casmurro, de Machado de Assis; Rita Baiana –
de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo; dona Flor – de Dona Flor e seus dois maridos, Tieta – de
Tieta do agreste, Gabriela – de Grabriela, cravo e canela, personagens de Jorge Amado; Macabea –
de A hora da estrela, de Clarice Lispector; Sinhá Vitória – de Vidas Secas, de Graciliano Ramos;
Maria Moura – de Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz; Ana Terra – da trilogia O
tempo e o Vento, de Érico Veríssimo.
Quanto romantismo! Romantismo, mas recheado de ironias que a vida nos prega – e
corremos sempre atrás do tal amor, e não queremos saber se estamos certos ou não, queremos
apenas viver. Viver intensamente. Viver, viver, viver. E nesse viver descobrimos nas mulheres que
nos cercam durante a nossa vida, desde o nosso nascer até o nosso morrer, o carinho, o amor, a
vida! Essa vida que elas nos proporcionam leva-nos ao passo seguinte: a vitória do amor sobre as
possíveis frustrações que constantemente nos rodeiam. Mais uma vez, mulheres, vocês são
vitoriosas! E, aos estudantes, conheçam-nas, pois vale muito a leitura de cada obra!
Download

Leia os textos `Perfis de Mulher` e `Mulheres, Mulheres, Mulheres