Segunda-feira, 18 de junho de 2012
h
9
O GLOBO
RIO
Extorsão não dá folga
Sem repressão, flanelinhas aproveitam o fim de semana para explorar motoristas
Pedro Teixeira
Marcos Tristão
Mario Camelo
[email protected]
les não dão folga nem aos domingos. Pelo contrário: os
guardadores ilegais, que atuam livremente nas ruas da cidade, parecem se multiplicar durante os fins de semana, principalmente os ensolarados, com a missão de
extorquir motoristas. Ignorando a
fiscalização — ou aproveitando-se
da falta dela —, os flanelinhas tomam conta das ruas. Ontem, mesmo
dia em que uma reportagem do
GLOBO mostrou que as autoridades
empurram o problema entre si, era
possível ver a atuação dos guardadores por toda a Zona Sul, inclusive
em locais com Unidades de Ordem
Públicas e na Área Azul, única do
Rio Rotativo operada por uma empresa privada. Com a certeza da impunidade, um mesmo flanelinha que
fora flagrado na Área Azul durante a
semana passada atuava novamente,
ontem ,na Rua Ayres Saldanha, indicando vagas para os carros que se
aproximavam.
Sem qualquer receio, o guardador
irregular esperava os veículos apoiado em um carro da Polícia Rodoviária Federal,estacionado na via. Por
cada hora de estacionamento, ele
cobrava R$ 5. Na mesma rua, havia
um outro flanelinha, que dividia espaço com os agentes da Área Azul,
deixando motoristas confusos.
E
Ruas no entorno da orla
são as mais disputadas
As ruas que ficam no entorno das
praias são os locais preferido s pelos flanelinhas, já que as vias principais, como as avenidas Atlântica, Vieira Souto e Delfim Moreira, são
ocupadas em toda a sua extensão
pelos agentes da Área Azul. Quem
não encontra vaga na orla acaba refém dos guardadores, principalmente no Leme e em Copacabana.
Moradora de Niterói, Deise Medeiros foi ontem abordada na Avenida
Prado Júnior, em Copacabana, assim que estacionou seu carro. Obrigada a pagar R$ 3 para um guardador, não escondeu a revolta:
— Vou ficar menos de 15 minutos
em Copacabana e tive que pagar R$
3. Pode ser pouco dinheiro, mas
considero um insulto ter que passar
por isso toda vez que venho aqui. Os
guardadores da prefeitura, por
exemplo, cobram R$ 2, mas por um
período de duas horas — protestou.
Perto dali, na Rua Barata Ribeiro,
outros dois flanelinhas atuavam livremente. Um deles faz ponto em
frente ao APA Hotel e só sai do lugar
para sinalizar vagas. Entre as ruas
Siqueira Campos e Hilário de Gouveia, um flanelinha mostrou uma vaga para o carro da reportagem, mas,
ao perceber a presença de um guarda municipal que se aproximava do
local, fugiu discretamente.
No Leme, a Rua Gustavo Sampaio era loteada por diversos flanelinhas. Um deles, sentado num
banquinho de plástico, informava, por gestos, onde havia vaga e o
valor: R$ 3.
O arquiteto Renato Sampaio, morador de Laranjeiras, contou que
todo domingo de sol vai com a família até o bairro. Segundo ele, esta é
uma cena comum:
— Eu acabo optando por estacio-
DEPOIS DE TER sido flagrado
atuando durante a semana, na
Rua Ayres Saldanha, em
Copacabana (acima), flanelinha
continua no mesmo ponto sem
ser incomodado (ao lado)
Pedro Teixeira
Grandes eventos
acirram problema
Guardadores fazem ponto na Praça Mauá,
que abriga série de palestras da Rio+20
No Rio, parece não ter jeito: se
tem motorista, tem flanelinha. Em
eventos de grande porte, então, os
guardadores aproveitam para faturar ainda mais. Ontem, na Praça
Mauá, o Galpão da Cidadania, que
receberá uma programação especial de debates durante a Conferência das Nações Unidas Sobre
Desenvolvimento Sustentável, a
Rio+20, estava cercado por flanelinhas, que indicavam vagas perto
do Píer Mauá. Eles faziam sinais para motoristas em frente a tropas
do Exército convocadas para reforçar a segurança do evento. Sem
qualquer represália, eles loteavam
as vagas para carros.
— Foi assim o dia inteiro. Vim pa-
l
MOTORISTA É obrigada a pagar R$ 3 para parar 15 minutos em Copacabana
nar nas ruas transversais, mesmo
sabendo dos flanelinhas, pois a orla
está sempre lotada. Isso acontece
com muita gente. Infelizmente, temos que nos sujeitar a eles — disse.
Os flanelinhas que não descansam nem aos domingos costumam,
segundo relatos de motoristas, cobrar de R$ 3 a R$ 5. Mas o valor não
é fixo. O advogado americano Joel
Schwartz contou que foi obrigado a
pagar R$ 10 a um guardador irregular na última quarta-feira.
— Estacionei no início da Rua Ministro Viveiros de Castro, e um rapaz me cobrou R$10 na hora em
que fui embora. Meu carro ficou
apenas uma hora parado. Senti medo e achei melhor pagar o valor —
contou ele, com forte sotaque.
A Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop), por meio de sua assessoria de imprensa, reafirmou ontem
que, por se tratar de uma atividade
que envolve contravenção penal e
exercício ilegal da profissão de guardador, a repressão aos flanelinhas é
um caso de polícia. A secretaria informa ainda que vai continuar realizando operações diárias em parceria
com a Guarda Municipal para inibir e
repreender o estacionamento ilegal.
Ainda segundo o órgão, ao flagrar
a ação de flanelinhas durante as
operações, os agentes da Seop e da
Guarda Municipal os encaminham
para a delegacia da área. A Secretaria de Ordem Pública informou
que, de janeiro de 2009 ao dia 13
deste mês, levou, com apoio da polícia, 1.471 flanelinhas para a delegacia.
Já o comandante da Polícia Militar, Erir Ribeiro da Costa Filho, afirmou que o espaço público urbano e
o uso do solo da cidade são de tutela da prefeitura. Tanto a Secretaria
de Ordem Pública quanto a PM não
informaram se haverá reforço na
fiscalização.
ra participar da conferência e, como não pude deixar o carro lá dentro, acabei estacionando na vaga
que o flanelinha me indicou — contou a artista plástica Luciana Rêgo,
que completou: — Espero que não
continue assim, senão todo dia eu
e várias outras pessoas vamos ter
que arcar com um custo alto e indevido de estacionamento.
A Guarda Municipal afirmou que durante a conferência vai reforçar o contingente com a Operação Rio +20, com
aproximadamente 2.500 guardas (divididos em turnos e de acordo com a
programação). Eles atuarão nos locais
do evento, no entorno dos hotéis e em
corredores que registram intenso movimento de veículos. n
Pedro Teixeira
NA ZONA
Portuária, a
situação se
repete: flanelinha
indica vagas
"QUANDO SE É DETENTOR DO RECORDE
DE MERGULHO EM APNEIA, VOCÊ APRECIA
AS PERFORMANCES EXCEPCIONAIS
DO BREITLING SUPEROCEAN."
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Grandes eventos acirram problema