Administrador 267 PROFISSIONAL ano XXI nº setembro 2008 ÓRGÃO INFORMATIVO DOS ADMINISTRADORES PROFISSIONAIS DE SÃO PAULO Os caminhos dA Administração Administrador Profissional - Setembro - 2008 1 2 Administrador Profissional - Setembro - 2008 Graças à versatilidade e facilidade de se adaptar às mais variadas situações, o administrador brasileiro é considerado um dos profissionais mais capacitados do mundo. Mais do que conduzilo aos principais postos das grandes organizações, esse reconhecimento enaltece a Administração e mostra porque ela é tão importante para o desenvolvimento do País. A criatividade e a competência adquiridas por esse profissional para fazer frente às instabilidades econômicas de 15, 20 anos atrás foi responsável pela criação de um novo estilo de administrar, o de apresentar constantemente novas soluções. Esse perfil se encaixou como uma luva no gerenciamento das “intermináveis” mudanças de mercado, a partir da globalização da economia, na qual as empresas têm de ser competitivas diante de recursos cada vez mais escassos. Esse novo estilo também é reflexo da interdisciplinaridade da Administração, que proporciona ao profissional uma visão mais integrada do ambiente corporativo. Ou seja, ao ser capaz de integrar os aspectos humanos e materiais com as práticas organizacionais, ele se torna peça-chave aos desafios impostos. E é isso que vem fazendo com que a boa Administração, seja ela pública ou privada, gere riquezas, melhore a distribuição de renda e preserve o meio ambiente e a cultura. EDITORIAL A IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO É claro que cultuar a boa Administração significa também imaginá-la dentro de conceitos éticos que, além de direcionar a atividade para o desenvolvimento, proporciona ao administrador as ferramentas necessárias para que o seu desempenho seja mais eficaz diante da sociedade. É com esse espírito que homenageio o administrador profissional, ou seja, o bacharel em Administração com o devido registro no CRA, cuja data é festejada em 9 de setembro. Ao mesmo tempo, conclamo para que participe do processo eleitoral que irá escolher, dia 15 de outubro, os novos conselheiros da entidade. Mais do que uma obrigatoriedade, o ato representa um passo de responsabilidade rumo ao fortalecimento da classe. Adm. Carlos Eduardo Uchôa Fagundes CRA-SP 21.929 - Presidente EXPEDIENTE CONSELHO EDITORIAL Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA-SP Presidente: Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Vice – Presidente Administrativo: Cid Nardy Vice – Presidente para Relações Externas: Antônio Geraldo Wolff Vice – Presidente para Assuntos Acadêmicos: Idalberto Chiavenato Vice – Presidente de Planejamento: Mauro Kreuz Diretor Secretário: Joaquim Carlos Dias Diretor Secretário: José Alfredo Machado de Assis Diretora Tesoureira: Teresinha Covas Lisboa Diretor Tesoureiro: Paulo Roberto Segatelli Câmara Conselheiros: Ademar Luiz Mendonça Júnior, Ana Josefina Guerra de Andrade, Anna Luiza do Amaral Boranga, Carlos Antônio Monteiro, Hamilton Luiz Corrêa, Luiz Carlos Vendramini, Luiz Eduardo Reis de Magalhães, Sílvio Augusto Minciotti Representantes no CFA Roberto Carvalho Cardoso e Walter Sigollo Entidade certificada NBR ISO 9001 pela SGS-ICS ________________________________________________________ ADM -Associação Brasileira de Administração Presidente: Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Vice-Presidente: Walter Sigollo 1º Secretário: Cid Nardy 2º Secretário: Marcio Gonçalves Moreira 1º Tesoureira: Ana Josefina Ferraz Guerra de Andrade 2º Tesoureira: Teresinha Covas Lisboa Conselho Fiscal: Joaquim Carlos Dias, Marcos Silveira Aguiar, Paulo Roberto Segatelli Câmara Suplentes: Ana Cristina Villares Barbosa, José Vicente Messiano e Roberto Gouveia Quartim Sindicato dos Administradores no Estado de São Paulo - SAESP Presidente: Roberto Carvalho Cardoso 1º Secretário: Marcio Gonçalves Moreira 2º Secretário: José Vicente Messiano 1º Tesoureiro: Mauro José Aita 2º Tesoureiro: Waldecy de Carvalho Suplentes: Edson José Diaféria, Dacio Penna César Dias e Francisco Sylvio de Oliveira Mazzuca Conselho Fiscal: Alain Florent Stempfer, Guilherme Quintanilha de Almeida, Milton Huppert Monte Carmelo Suplentes: Ralph Jordan, Roberto Gouveia Quartim e Ruy Marcello Gomes Pinto Entidade Certificada NBR ISO 9001 pela SGS-ICS ________________________________________________________ Sindicato das Empresas de Administração no Estado de São Paulo - SINDAESP Presidente: Carlos Eduardo Uchôa Fagundes 1º Secretário: Cid Nardy 2º Secretário: Joaquim Carlos Dias 1º Tesoureira: Ana Josefina Ferraz Guerra de Andrade 2º Tesoureira: Teresinha Covas Lisboa Conselho Fiscal: Ana Akemi Ikeda, Antônio Geraldo Wolff e Paulo Roberto Segatelli Suplentes: Hamilton Luiz Correa, Jorge Elias Aoni e Luiz Eduardo Reis de Magalhães Publicação do Conselho Regional de Administração de São Paulo CRA-SP, ADM - Associação Brasileira de Administração, Sindicato dos Administradores no Estado de São Paulo – SAESP e Sindicato das Empresas de Administração no Estado de São Paulo - SINDAESP Marketing e Comunicação: Gláucia Pascoaleto Araújo Coordenação Editorial: Notas e Notícias Edit. 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Estados Unidos, 889 – CEP 01427-001 – São Paulo, SP CRA-SP - Tel (11) 3087-3200 - www.crasp.gov.br - [email protected] ADM - Tel (11) 3087.3200 - www.admbrasileira.com.br [email protected] SAESP – Tel (11) 3086-3476 – www.saesp-sp.com.br [email protected] SINDAESP - Tel (11) 3087.3200 - www.sindaesp.com.br [email protected] Administrador Profissional - Setembro - 2008 3 SUMÁRIO Destaque Em pouco mais de dez anos, Chieko Aoki transformou a Blue Tree Hotels numa das maiores operadoras de hotéis do País. Um dos segredos do sucesso é oferecer um serviço que atende os conceitos de qualidade a preços competitivos 5 Carreira Ao falar sobre os caminhos que o levaram a ser dono da primeira empresa de trabalho temporário do País, Jan Wiegerinck afirmou que o sucesso passa pela consciência das responsabilidades 8 Mercado Com cerca de 85 marcas em seu portifólio, a Hypermarcas se transformou, em seis anos, numa das mais diversificadas companhias brasileiras de bens de consumo 10 Administração Pública Administração faz a diferença Palestras no CRA-SP discutiram o papel das agências reguladoras e o da televisão pública 12 Gestão de Pessoas Para o administrador Jorge Fornari Gomes, ninguém escapa do seu lado incompetente, responsável por insucessos, infelicidades e inefetividade de gestão 4 Administrador Profissional - Setembro - 2008 14 18 Empreendedorismo . Eleições . Atividades do Conselho Espaço do Administrador Livros . Canal Aberto - 20 22 23 24 25 26 destaque A hotelaria faz parte de sua vida Chieko Aoki sabe transmitir o que deseja que as pessoas entendam. Esse é o segredo do sucesso dos hotéis que comanda Conhecida como a dama da hotelaria brasileira, pela inovação e talento, Chieko Aoki transformou, em dez anos, a Blue Tree Hotels numa das maiores operadoras de hotéis do País. Sob seu comando estão 25 estabelecimentos, dos quais dois na Argentina (Buenos Aires e Bariloche), que comportam mais de cinco mil apartamentos e empregam cerca de dois mil funcionários. Parte desse sucesso vem do tempo em que era diretora de Marketing e de Vendas do Caesar Park São Paulo e depois como presidente da Caesar Park Hotels & Resorts e da Westin Hotels & Resorts, a mais antiga e uma das mais tradicionais companhias hoteleiras dos Estados Unidos. Mas também por ter identificado uma oportunidade de criar hotéis de categoria superior, com riqueza em serviços personalizados. “Víamos muitos hotéis de luxo ou sem bandeira, que não tinham padrões. Nesse sentido, minha experiência na hotelaria internacional foi fundamental para a criação de um serviço que atendesse aos conceitos de qualidade demandados pelos clientes, a preços competitivos”, afirma. Para aplicar o “DNA” da excelência na prestação de serviços, Chieko Aoki diz que teve de focar na elaboração de manuais de procedimentos dentro dos padrões que estava criando, além de selecionar e treinar profissionais que compreendessem a nova linguagem e que desejassem compartilhar do estilo de se levar alto nível de satisfação aos hóspedes, investidores e colaboradores. “O mais dif ícil foi estabelecer e homogeneizar a cultura única, própria da Blue Tree, ou, como dizem, trocar o motor do avião em pleno vôo”, ressalta. Apesar de sua bagagem internacional, Chieko disse que quando abriu o hotel, não era vantajoso para ela investir nesse ramo no exterior. “O Brasil tinha e tem grande potencial de crescimento em segmentos como luxo, negócios e lazer. Também é onde está a raiz da hotelaria que conheço. O País tem muito a desenvolver e isso é o que instiga e incentiva. O meu perfil inquieto está sempre buscando oportunidades e criações, o que me levou a expandir a rede e a internacionalizá-la. A Argentina foi o primeiro passo e já fechamos outros projetos de expansão na América Latina”. Além de trabalhar no exterior, os estudos Administrador Profissional - Setembro - 2008 5 destaque Questão de tempo Uma das atividades de Chieko é presidir o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais, o Lidem, que luta para que mais mulheres ocupem altas posições nas empresas. Ela lembra que apesar de estarem há menos tempo no mercado de trabalho, as mulheres já ocupam praticamente 50% dos níveis gerenciais. Chegar ao topo é uma questão de tempo. No entanto, alerta que o equilíbrio entre homens e mulheres é fundamental para o sucesso. “A mulher faz a diferença com sua sensibilidade e foco nas pessoas. Gosta e tem facilidade de trabalhar em equipe, de comunicar adequadamente. Tem aguçado senso de justiça, emociona e sabe emocionar, além de ter visão holística e outras qualidades que se compatibilizam com o estilo dos homens. As empresas que sabem distribuir essas competências, ganham mais confiança e crescimento sólido de suas equipes”. 6 Administrador Profissional - Setembro - 2008 também enriqueceram o currículo de Chieko. Natural de Fukuoka, Japão, chegou ao Brasil aos seis anos, lá pelos idos da década de 50, indo morar num tradicional reduto da comunidade japonesa, a cidade de Bastos, no interior paulista. Logo que se formou em Direito, pela Faculdade do Largo de São Francisco (USP), voltou ao Japão. Lá cursou Administração na Universidade de Sofia, em Tóquio. Depois rumou para os Estados Unidos, onde estudou Administração Hoteleira na Cornell University. A partir daí, como ela define, a hotelaria passou a fazer parte de sua vida. Premissas A vivência no exterior permitiu que aprendesse a respeitar e a conviver com culturas diferentes – a oriental e a ocidental. “Mas, acima de tudo, aprendi a me comunicar, a saber transmitir o que desejo que as pessoas entendam. Isso favorece a familiarização com diferentes hábitos, costumes e valores. A hotelaria está intrinsecamente relacionada a essas premissas. Em um hotel, recebemos pessoas de todas as partes do mundo e temos de saber nos relacionar para atendêlas da melhor forma. Além disso, sempre fui detalhista, perfeccionista, crítica e sensível à percepção das coisas. Aprendi também que é preciso fazer isso com a alma e o coração. É isso que faz a diferença e o estilo de gestão da rede Blue Tree”, define. Como legítima representante da colônia japonesa no Brasil, Chieko acredita que muitos ingredientes da cultura oriental podem influenciar positivamente o mundo dos negócios. Cita entre eles: disciplina, credibilidade, seriedade, responsabilidade, qualidade, organização, método, dedicação e compromisso. Outro aspecto valioso que menciona é o tempo que os japoneses levam para “amadurecer” uma idéia. “Os brasileiros são mais impetuosos, querem tudo para ontem e, às vezes, acabam fazendo sem a perfeição e a certeza necessárias”, afirma, ao dizer que na empresa aplica ao atendimento e à administração conceitos baseados na cultura japonesa. “Isso fortalece o padrão de excelência”, afirma. Chieko acredita que não existe negócio próspero sem clientes satisfeitos. “Crescer sem esse foco é ilusão”, enfatiza, ao dizer que somente produtos excelentes, que encantam os clientes, têm condições de sobreviver. E esse encantamento, ela ressalta, não pode ser estático porque as pessoas estão cada vez mais informadas e conhecedoras dos produtos que consomem, e chegam a propor mudanças que as satisfaçam. “Hoje, a relação é de parceria. O produtor deve estar sempre à frente do cliente em conhecimentos e experiências para surpreendêlo e ser referencial para suas novas demandas”, ressalta. Sol escaldante e leões Para a senhora Aoki, como é carinhosamente chamada por seus funcionários, os empreendedores têm como característica a coragem, por estarem sempre enfrentando leões ao mesmo tempo em que estão expostos ao sol escaldante. “Comigo não é diferente. Além das dificuldades do mercado interno, dependemos de uma economia e de uma situação mundial estáveis e de paz. Porém, não adianta reclamar que poderíamos ter melhor infra-estrutura, como estradas, aeroportos e segurança. Se assim fosse, quem sabe não teríamos tantas oportunidades de construir e de fazer acontecer”, enfatizou, ao lembrar que não teve problemas com a estruturação da empresa, porque sempre esteve cercada por um grupo administrativo que complementasse as suas competências. coisa dar certo’ ficou no passado”, ressalta. Na sua visão, o Brasil tem administradores extraordinários e que fazem grandes negócios pelo mundo. “São profissionais talentosos que conseguem ser melhores do que muitos expoentes internacionais. Por isso, as empresas brasileiras bemadministradas – e que são muitas – são comparáveis às melhores do mundo”, afirma. No entanto, chama a atenção para o fato de que ainda muitas organizações não possuem governança nem administração profissional. “Elas precisam mudar para não serem banidas do mercado. A lei de sobrevivência no mundo dos negócios é séria e cada vez mais não tem espaço para incompetência em administração. O tempo de ‘qualquer “Ouvir o sinal interno” e fazer o que se deseja com conhecimento, profissionalismo, determinação, responsabilidade e dedicação é o recado que dá aos interessados em abrir negócios próprios. A bem da verdade, esclarece Chieko, cada profissional desenvolve processos distintos durante a caminhada, mas que levam aos mesmos objetivos: atingir metas quantitativas e qualitativas. “Portanto, assim como não tenho receita para felicidade, não tenho para o sucesso profissional”. De qualquer forma, recomenda seguir as palavras de Madre Thereza de Calcutá: “não deixe jamais que alguém que achegou-se de ti vá embora sem sentir-se melhor ou mais feliz”. Administrador Profissional - Setembro - 2008 7 carreira QUEM MANDA SÃO AS CIRCUNSTÂNCIAS Ele queria ser missionário para ajudar a mudar o mundo. Conseguiu por meio de uma empresa de trabalho temporário Não conseguimos mudar a nossa personalidade, mas somos transformados pelas circunstâncias. São elas que fazem a nossa história. Dessa forma, Jan Wiegerinck, iniciou um “bate-papo” no CRA-SP promovido pelo Comitê Jovens Admistradores, da entidade, no qual falou sobre os caminhos que o levaram a ser dono da primeira empresa de trabalho temporário do País, a Gelre. Lembrou que, quando criança, queria ser missionário, por entender que dessa forma poderia resolver os problemas do mundo. Em vez da carreira religiosa, as circunstâncias o levaram a fazer Direito. Holandês de nascimento, chegou ao Brasil em 1955, depois de passar pela Guiana Holandesa, onde trabalhou por um ano e meio na embaixada brasileira. O seu primeiro emprego no País foi em um banco, onde ficou até 1961. Foi dispensado por insubordinação, por não aceitar ser transferido de São Paulo para Santos. Depois, foi parar em uma empresa de exportação e importação. Ao se desligar, dois anos depois, passou a enviar cartas para empresas do País e do exterior a procura de emprego. Uma das respostas que recebeu era de uma organização americana. Só que em vez de emprego, a oferta era a de uma franquia. Se pagasse, poderia aprender como implantar um sistema de trabalho temporário. Foi o que fez. Assim nasceu a empresa, que este ano completa quatro décadas e meia. “Nesse período, cerca de 4 milhões de brasileiros já receberam um cheque da Gelre, pelo menos uma vez. Eu que estudei Direito para ajudar o mundo, não consegui por esse meio, mas faço o 8 Administrador Profissional - Setembro - 2008 que posso dentro das circunstâncias a que fui direcionado”, orgulha-se. O caminho das pedras, de acordo com Wiegerinck, passa pela consciência das responsabilidades que, a seu ver, se dividem em quatro estágios: a própria pessoa; a família; a profissão; e a sociedade. Para ele, as pessoas não devem sacrificar o que está perto em função do que se encontra longe. “Ninguém pode pagar impostos, se para isso tem de deixar a família passar fome. A responsabilidade com a família vem antes da que se deve ter com a sociedade”, justificou. Ser responsável consigo mesmo, explicou Wiegerinck, é cuidar do próprio corpo, desenvolver o intelecto, por meio de leituras, estudos e outras artes, alimentar relacionamentos com pessoas e a sociedade. “Faz parte do ser humano gostar de alguém ou de alguma coisa. Do contrário, é abandonar um aspecto importante da vida. Por isso, acredito não fazer sentido alguém dizer que sacrifica a família em detrimento da carreira”, enfatizou, ao lembrar ser preciso também ter disciplina. Na vida profissional, destacou a importância de participar de entidades. Além de ter presidido a Câmara de Comércio BrasilHolanda, Wiegerinck é fundador da Associação das Empresas de Trabalho Temporário e presidente do sindicato patronal da classe. “No Brasil há uma carência muito grande desse tipo de envolvimento. Os brasileiros são muito cordiais, o que enfraquece as associações. Como dirigente da Associação Cristã de Empresas, entidade espalhada por vários países, participei de um almoço na Argentina, com 250 empresários. Em São Paulo, em evento semelhante conseguimos reunir 70, com muita dificuldade”. Para ele, o ser humano faz basicamente três coisas: aprende, trabalha e se diverte. “Para aprender é necessário curiosidade. Cito uma frase de Humberto Campos, que diz: Existem três tipos de pessoas: as inteligentes, que aprendem com as experiências dos outros; os normais, que aprendem com a sua própria experiência; e os burros, que não aprendem. Todos têm um pouco dos três tipos e é burrice imaginar que ao fazer as coisas sempre da mesma maneira teremos resultados diferentes. Mas é o que fazemos”, salientou. Para Wiegerinck, é preciso ter consciência de que o homem não foi feito para trabalhar. “Se assim fosse, nosso corpo seria diferente e seríamos mais eficazes”, justifica, ao ressaltar que embora essa prática seja necessária, não pode ser o objetivo da vida. “Porém, não se pode tirar de ninguém o direito nem a possibilidade de laborar”, disse. Lembrou que o Brasil tem muitas leis que dificultam a entrada das pessoas no mercado de trabalho. Sua empresa, por exemplo, já foi autuada por ter arrumado colocação para uma pessoa que não tinha inscrição no INSS. “Por que não pode? Entendo que trabalhar é um direito das pessoas e nenhuma lei pode derrubar isso”. De acordo com seus ensinamentos, também não se deve lutar pela vida, mas trabalhar para ela. “Luta quer dizer que um ganha, outro perde. E isso precisa ser mudado, porque para ter uma atividade laboral não se tira nada de ninguém. Outro conceito que não pode ser cultivado é o de classificar o concorrente como inimigo. Na nossa empresa temos sete públicos que merecem o nosso respeito. Um deles é o concorrente. Não lutamos contra, porque tem lugar para todos”. O trabalhar para a vida, explica Wiegerinck, é servir, fazer algo para os outros. “Quem trabalha em uma fábrica de carros não produz veículos, mas utilidades para as pessoas usufruirem”. Confiança Uma pesquisa do instituto Gallup com mais de 3 milhões de trabalhadores em todo o mundo, sobre o que querem de seus chefes, aponta para uma resposta quase unânime: confiança. “Assim, ter confiança, autocontrole, não ser agressivo, irradiar bom humor, ser conciliador, paciente, cortês e generoso, são itens que contribuem para que as pessoas encontrem o caminho”, sentenciou. Sobre as pedras no caminho, diz que quem atrapalha as pessoas são elas mesmas, já que o homem é preguiçoso por natureza e pouco faz para combatê-la. Outro mal é o medo. “Temos funcionários que tremem quando os fiscais visitam as filiais. É o medo do estranho”, justifica. No entanto, continua, o pior defeito é o orgulho. “Um padre argentino disseme que os empresários não têm motivo para roubar ninguém, por já terem dinheiro suficiente nem devem desejar a mulher do próximo, por já terem passado da idade. No entanto, têm a tentação da vaidade. Querem ser bajulados, elogiados. Ou, em outras palavras: quem é vaidoso, orgulhoso ou prepotente, está se atrapalhando.” Daí, ele entender ser preciso que essas pessoas formem equipes e se socorram de pessoas melhores que elas. Mas, no contexto geral, não é o que acontece. Os chefes não querem pessoas que saibam mais que eles, para não se sentirem ofuscados. com maior índice de reclamações trabalhistas do mundo. “Mas por que isso?”, pergunta. E responde: “os empresários brasileiros não são melhores nem piores do que os demais. O problema está no investimento social, mal utilizado e deficiente. Para se entrar em um prédio, é preciso preencher fichas, deixar documentos, ser fotografado. Isso não existe em lugar algum. É sinal de falta de confiança”. A ética também é mal explorada. “Para muitos, é não sonegar impostos. É claro que faz parte, mas é mais que isso. Do contrário, bastaria pagar impostos em dia para adquirir essa condição. Não acho ética, por exemplo, a atitude de um policial que multa um motorista de táxi que, para facilitar o desembarque de uma pessoa com deficiência, pára em local proibido”, diz. E conclui: “para mim, ética é o que está na consciência”. A falta de capital social é outro estorvo ao desenvolvimento. Wiegerinck diz que o Brasil é o país Administrador Profissional - Setembro - 2008 9 MERCADO Colecionadora de marcas Por meio de marcas “adormecidas”, a Hypermarcas se tornou uma das mais diversificadas companhias de bens de consumo Leite de Colônia, Extrato de Tomate Etti, Zero-Cal, Detergente em pó Assim, Cenoura & Bronze, Melhoral, Estomazil, Monange, Sabonete Rastro, Palho de Aço Assolan. Muita gente conhece esses produtos. No entanto, o que a maioria não sabe é que são apenas alguns dos nomes que fazem parte de um portifólio com 85 rótulos, que se encontra sob o guarda-chuva da Hypermarcas, do empresário João Alves de Queiroz, o Júnior. A relação vai de amaciantes a desorizadores sanitários, de gelatina a maionese e de palhas-de-aço a xampus. A empresa é tida como uma das maiores e mais diversificadas companhias de bens de consumo, com capital 100% nacional. Considerado um dos mais bem-sucedidos empreendedores brasileiros, Júnior ficou conhecido por ter criado a Arisco e depois tê-la vendida em 2000 para a norte-americana Bestfoods por US$ 760 milhões. Dois anos depois dessa negociação, estava no mercado novamente com a Prátika Industrial. O reinício se deu com um investimento 10 Administrador Profissional - Setembro - 2008 de US$ 30 milhões utilizados na aquisição da então pequena Assolan, na época detida pela Unilever, e de pequenas fábricas de lã de aço em estado pré-falimentar. Depois de consolidar a marca, que em pouco tempo passou de 5% para 25% do mercado, a empresa ganhou nova denominação: Hypermarcas. Estavam abertas as portas para investimentos em diversos segmentos. A idéia era criar um conglomerado diversificado, sempre a partir de marcas “adormecidas”. Atualmente, com quatro unidades de negócios - higiene e limpeza, beleza e higiene pessoal, alimentos e medicamentos sem prescrição médica –Júnior, que raramente cria rótulos – os sabões em pó Sim e Assim são exceções -, quer continuar investindo na ressuscitação de marcas. No ano passado, por exemplo, após um ano e meio de negociação, adquiriu a DM por cerca de R$ 1,4 bilhão. Com o negócio, incorporou aos seus produtos nomes como Biotônico Fontoura, Gelol, Melhoral, Monange e Vitasay. Ainda como parte de seu projeto de comprar nomes “adormecidos”, recentemente a empresa anunciou a compra de quatro marcas da multinacional americana Revlon, entre elas a Bozzano, e das marcas de gel para cabelo NY Looks e NY Radical. Com a ampliação do leque de produtos, o objetivo é deixar a Hypermarcas menos exposta ao ataque de rivais. Um executivo da concorrência diz que a empresa pode até perder rentabilidade nos segmentos de higiene, limpeza ou alimentos, nos quais os oponentes são muito fortes, mas pode compensála na área de medicamentos. De fato, as empresas que não atuam de forma global levam desvantagem pela disputa no mercado de bens de consumo, que se dá, invariavelmente, via preço. Para competir é preciso atingir a escala das multinacionais. Esse é o tipo de contenda que Júnior, um aficcionado por competição, terá daqui para frente. O modelo por ele empregado na construção da Hypermarcas – oferecer produtos que atendam de modo completo o pequeno e o médio comércio, de forma rápida -, na opinião de consultores econômicos, entre eles Nelson Barrizelli, professor de Marketing da Universidade de São Paulo, funciona bem em economias inflacionárias. Motivo: a “corrosão” do dinheiro não pode esperar pelo abastecimento das gôndolas. Vai melhor ainda em tempos de estabilidade, pois a variedade de produtos e a garantia de entrega e de preços são convites para a fidelização de pequenos e médios clientes. Daí a preferência por empórios e redes médias de supermercados, o que não significa que seus produtos deixem de ocupar espaços nas prateleiras dos grandes varejistas. Nas avaliações de analistas especializados em empresas de bens de consumo, a Hypermarcas, que em abril deste ano abriu o capital na bolsa, vale entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões. O dinheiro que virá da emissão das ações será utilizado na expansão dos negócios, contribuindo assim para transformar em realidade o sonho de Júnior: criar uma espécie de “Unilever brasileira”. Em 2007, a receita da empresa foi de R$ 1,1 bilhão. Nos últimos três anos, a companhia cresceu a uma taxa média de 52,3% ao ano, graças principalmente ao alto volume de aquisições – 15 em seis anos – e a uma estratrégia agressiva de Marketing. E para quem acha que as coisas vão parar por aí, a empresa anunciou que ainda tem R$ 400 milhões em caixa para gastar. Ou seja, deverá ir às compras sempre que surgirem oportunidades. Cultura da simplicidade A direção da Hypermarcas é composta por profissionais que saíram das melhores universidades, entre elas a conceituada Harvard Marcas milionárias Com um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão, a Hypermarcas opera cinco complexos industriais com 13 diferentes linhas de produção, localizados nos Estados de Goiás, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. Principais marcas que fazem parte do portifólio: • Alimentos: Etti, Finn e Zero Cal • Higiene Pessoal: Monange, Cenoura & Bronze, Avanço e Leite de Colônia • Medicamentos: Gelol, Doril, Engov, Melhoral e Biotônico Fontoura • Limpeza: Assolan, Assim e Sim Business School. “Júnior não quis repetir erros cometidos na Arisco, por ter atrasado o processo de profissionalização”, diz Nelson Mello, presidente da empresa e um dos homens de confiança do “chefão”. Todos foram entrevistados por Júnior e só permaneceu quem mostrou que, além do conhecimento administrativo, tem flexibilidade para atuar numa empresa que cultiva uma cultura de simplicidade. Essa cultura é herança de seu pai, que chegou a trabalhar, quando jovem, como carregador de sacos em Ipameri, interior de Goiás. De seus ensinamentos, dois foram de grande utilidade durante as negociações das empresas incorporadas pela Hypermarcas. O primeiro: “nunca se deixe irritar durante uma negociação”. O segundo: “só compre de quem quer vender, só venda para quem quer comprar”. Administrador Profissional - Setembro - 2008 11 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Equilíbrio entre o público e o privado Um dos objetivos das agências reguladoras é manter regras e contratos de longo prazo O Brasil sempre lutou contra a falta de recursos para investimentos em infraestrutura. Essa situação começou a mudar, a partir da década de 90, com o processo de desestatização implantado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Parte do que representava ônus pesados e poucos serviços ao contribuinte foi privatizada, casos das empresas de telecomunicações e siderúrgicas. Outra parcela também foi para as mãos da iniciativa privada, só que por meio de concessões: as rodovias, por exemplo, as quais continuam como bens do governo, que dita as melhorias que devem ser feitas. Em ambos casos, porém, o Estado deixou de ser o responsável pelo desenvolvimento, porém assumiu a regulação dos serviços. Em palestra no CRA-SP, a convite do Grupo de Excelência “Administração Pública”, Alcides José Saldanha, presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Acergs), falou sobre a importância das agências reguladoras. “Foram criadas com o objetivo de gerar salvaguardas institucionais e de manter regras e contratos de longo prazo”, disse. Não são órgãos governamentais. Estão acima do governo e representam o Estado. São independentes, uma vez que buscam o equilíbrio das relações entre o poder público e o agente privado, com o objetivo de assegurar ao cidadão serviços com qualidade, atualizados e modicidade tarifária. Saldanha, que já ocupou o cargo de ministro dos Transportes (1996/97), lembrou que as pessoas 12 12 Administrador Administrador Profissional Profissional -- Setembro Setembro -- 2008 2008 criticam os preços dos pedágios, que são liberados pelas agências reguladoras. “São caros, mas, graças a eles, a qualidade das estradas aumentou”. Aproveitou para criticar o fato de os governantes investirem apenas em um só tipo de transporte nos últimos 30 anos, o rodoviário. “Carrega-se toda a safra de soja de caminhão. Não há estrada que agüente nem dinheiro que chegue a tempo para consertá-la”. Ação preventiva Ao explicar que a independência das agências não significa liberdade, lembrou que elas são a garantia que os bancos necessitam na hora de liberar créditos para as concessionárias. Funcionam como uma ação preventiva quanto às instabilidades governamentais. Por isso, os mandatos das agências não coincidem com o governamental – geralmente pega a metade de um governo e a metade de outro. Além disso, de acordo com Saldanha, o processo regulatório tem início na elaboração do edital que define os parâmetros da contratação dos potenciais candidatos. É responsável também pela análise do plano de viabilidade econômicafinanceira, pela informação que possibilita o usuário conhecer direitos e deveres sobre o serviço concedido, bem como exigir do concessionário eficiência e qualidade. “Não se trata de dizer se a concessão é um bom ou mau negócio. Só lembro que quando deixei o ministério, o Brasil tinha 55 mil quilômetros de rodovias federais asfaltadas. De lá para cá, a população aumentou e só foram acrescidos 4 mil quilômetros à malha. Não é preciso dizer que o governo está correndo atrás da máquina”, concluiu. Governo paulista reduz investimentos e Fundação Padre Anchieta busca recursos no mercado Para manter uma programação de qualidade, a Rádio e Televisão Cultura (RTC) tem um orçamento de R$ 200 milhões. Até aí, nada demais. O problema é que nos últimos anos, a liberação de recursos pelo governo paulista para a sua manutenção vem diminuindo. Hoje é de 38%, o que obriga a Fundação Padre Anchieta, mantenedora das emissoras, a buscar a diferença na iniciativa privada, sob a forma de patrocínio, ou por meio da prestação de serviços para várias instituições, como a Assembléia Legislativa, Tribunal Superior Eleitoral e Secretaria da Cultura. “Esse é o caminho”, afirmou Paulo Markun, presidente da fundação, também em palestra promovida pelo Grupo de Excelência “Administração Pública”. No Brasil, de acordo com Markun, a televisão pública nasceu com a expectativa de ser uma emissora educativa. Com o passar do tempo, porém, o modelo se revelou ineficiente. A Cultura sobressai-se das demais emissoras mantidas pelo governo, por seguir à risca o que determina o estatuto da fundação: contribuir para a formação crítica do homem e para o exercício da cidadania. “Dessa forma, sua programação busca apresentar entretenimento de qualidade, formação cultural, debate, pluralismo, inovação, experimentação, novos personagens e produtores”, destacou, ao lembrar que é a segunda televisão mais admirada no País, a de maior rentabilidade e a que mais contribui para a educação e cultura. “O ponto-chave é convencer a sociedade de que precisa pagar pelos serviços prestados pela comunicação pública”, disse Markun. Porém, lembrou que diante das circunstâncias econômicas não existe essa possibilidade, como ocorre com a BBC (British Broadcasting Corporation), de Londres. A emissora é mantida pelo dinheiro de uma taxa específica paga pelo contribuinte inglês. “É chover no molhado falar sobre o desafio que é montar uma estrutura de gestão numa instituição que estava acostumada a ser uma espécie de repartição pública. Como 62% dos recursos vêm do mercado, gastar bem é muito mais crítico do que em uma instituição cujo custeio é visto como uma obrigação do governo”, finalizou. Administração Pública TV pública? Administrador Profissional - Setembro - 2008 13 CAPA EM CONSONÂNCIA COM O MUNDO MODERNO Imprescindível em qualquer organização, a Administração ganha espaços por contribuir para que as transformações sejam absorvidas pela sociedade A contribuição da Administração para a modernização do mundo atual é inequívoca. Sem ela, as mudanças econômicas, sociais, políticas e, principalmente, tecnológicas, que tanto colaboram para alterar o comportamento da sociedade, não seriam absorvidas com rapidez. Nesse contexto, o mérito do administrador está em acompanhar essa evolução, como forma de manter viva as empresas e de promover a integração do homem no espaço em que trabalha. Mas, para que ele chegue a este patamar, não basta estar preparado para identificar e solucionar problemas, ter conhecimento e determinação, saber planejar, organizar, dirigir e controlar. É preciso ser ágil, criativo, ousado e ter em mente que as decisões impostas pela internacionalização da economia não devem considerar apenas os interesses internos da companhia, como o lucro e a distribuição de dividendos aos acionistas, mas também os externos, como a promoção do bem-estar das comunidades locais e a preocupação constante com a sustentabilidade. Esse é o perfil que faz a diferença na arte de gerenciar. 14 Administrador Profissional - Setembro - 2008 Se antes a tarefa de administrar era decorrência de uma qualificação conseguida por meio de análises baseadas no conhecimento científico, agora faz parte de uma corrida que busca com insistência soluções para problemas cada vez mais complexos, em que as análises mercadológicas e financeiras são praticamente instantâneas. A nova situação reforça o papel do administrador como agente de mudanças e de transformações, principalmente depois que as empresas perceberam que o caminho para o sucesso passa pela colocação de “pessoas certas” nos “lugares certos”. Ou seja, os cargos administrativos e de negócios passaram a ser preenchidos por administradores, principalmente com os dotados de visão estratégica. Essa percepção começou a ganhar força em meados dos anos 80, com o fenômeno da globalização. As empresas foram obrigadas a incorporar ferramentas que as auxiliassem a definir estratégias criativas e a otimizar resultados para fazer frente às imposições econômicas. O cenário fortaleceu a carreira do administrador que, em virtude de sua formação ampla e heterogênea, tem condições de apresentar diagnósticos, que rendam maiores resultados em menor tempo, para todos os setores da organização, principalmente diante de desafios e incertezas. Responsável pelo planejamento de estratégias e de seu gerenciamento geral, pelos processos admissionais até a organização de planos de carreira e programas de benefícios, pela operacionalização das áreas de custos, orçamentos, fluxos de caixas e investimentos, pelas estratégias de Marketing, entre outras atividades, o administrador prova que se antes sua participação era importante para a sobrevivência das organizações, agora ela se tornou vital. Essa realidade explica porque a Administração é o curso de graduação com a maior oferta anual de vagas no País e, de longe, a que mais atrai estudantes. De acordo com o Censo da Educação Superior, são ofertadas anualmente 520 mil vagas em mais de 2.800 cursos. Além de refletir o avanço da economia do País, a crescente procura pelos cursos de Administração – em 1970, cinco anos após a regulamentação da profissão (ver página 17), haviam 247 cursos; em 2000, 1.462 -, é resultado de um processo de modernização que transformou a profissão de burocrática em estratégica. A estrutura dos cursos tem acompanhado as necessidades das empresas, que deixaram de ser geridas por imposições hierárquicas para serem comandadas por processos. Assim, a exemplo do que ocorre no mundo desenvolvido, a Administração brasileira passou a explorar uma infinidade de segmentos, daí chamar a atenção dos jovens que desejam ascensão profissional. Novos modelos Quando se fala em Administração, o que vem à mente é que sua função é a de cuidar de todas as operações de uma empresa, desde a organização dos recursos humanos, mercadológicos, materiais e financeiros. Nos últimos anos, por exemplo, não se pode esquecer de sua importância na implantação de medidas radicais visando a manutenção da competitividade das empresas, como os processos de reengenharia, uma espécie de reformulação do modo de fazer negócios, de conduzir atividades, tarefas ou processos, ou de downsizing, prática que prevê o “enxugamento” de pessoal, delegando maior responsabilidade a gerentes e funcionários mais baixos. Ou, ainda, dos programas de qualidade, sinônimo de melhoria contínua que, além de levar em conta a adequação do uso, observa critérios como custos, controles internos, prazos e satisfação do cliente. Na condução dos processos de fusão, incorporação, aquisição – e até mesmo de internacionalização das empresas -, a Administração desempenha papel principal ao analisar e impor novos modelos de gestão, como também é útil na implementação e reformulação das culturas organizacionais. Atentos a essa realidade, os investidores globais passaram a considerar o administrador brasileiro como uma “solução inteligente” para a gestão dos negócios no País. Ter um executivo local, mas com senso global de realização, ajuda a entender o ambiente cultural e as questões básicas necessárias para os negócios. As empresas também modernizaram a gestão com olhos direcionados para a atração de investidores. Para isso, tiveram de abrir e modificar suas estruturas societárias, ou seja, se adaptar às regras da governança corporativa, que estabelece como as sociedades devem ser geridas, envolvendo relacionamentos entre acionistas, Conselhos de Administração, diretoria e demais partes interessadas. O fenômeno, que foi acelerado pelos processos de globalização, privatização e desregulamentação da economia, se revela como um dos pontos mais altos da Administração, ao proporcionar um ambiente corporativo mais competitivo e garantia de confiabilidade da empresa para os seus acionistas. que tais atitudes podem representar economias e resultados financeiros de curto prazo. “Outro avanço, em tempos de produtividade, qualidade, eficiência e competitividade, que deve ser atribuído à área de Recursos Humanos é o de tratar as pessoas como diferenciais para tornarem as empresas competitivas. Em outras palavras: em vez de recursos, se tornam parceiras do negócio”, afirma Walter Sigollo, superintendente de Recursos Humanos e de Qualidade da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo, exconselheiro do CRA-SP e ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional São Paulo. Segmentação A Administração ganhou espaço porque soube se segmentar. Hoje, praticamente não há uma área em Na área de Recursos Humanos, a administração moderna deixou para trás o conceito de cuidar apenas das relações entre empresas e funcionários e de criar mecanismos para atrair e reter talentos para desempenhar papel estratégico para as tomadas de decisões das empresas. Se antes, o RH era “massacrado” por conta da adoção de programas severos de redução de despesas, que acabavam resultando em demissões, hoje tem a missão de provar Administrador Administrador Profissional Profissional - Setembro - Julho - 2008 15 CAPA Michael Cayne: “Copa pode atrapalhar o sonho das Olimpíadas” que ela não seja imprescindível, ou que não esteja presente. Nesse processo, destaca-se o papel do Conselho Regional de Administração de São Paulo, que por meio de Grupos de Excelência em Assuntos da Administração, promove o debate sobre as tendências do campo de atuação do administrador, com a participação de profissionais renomados. Algumas dessas áreas foram desenvolvidas no Conselho, caso da Administração Legal, que tem a administradora Anna Luiza do Amaral Boranga, conselheira da entidade, como uma de seus principais expoentes. “A Administração Legal surgiu em decorrência do crescimento da demanda por serviços jurídicos. Diante da necessidade de constantes aprimoramentos e investimentos no conhecimento, os advogados deixaram de ter tempo para se dedicarem às atividades administrativas. Além disso, a advocacia, ao deixar de ser um ‘bom negócio’, por conta da concorrência 16 Administrador Profissional - Setembro - 2008 acirrada, passou a conviver com o achatamento dos lucros, obrigando-a a uma nova forma de gerenciamento dos recursos. Assim a Administração Legal tem como finalidade supervisionar e proporcionar o adequado suporte administrativo e financeiro desse tipo de escritório, analisar o seu desempenho, fornecer subsídios e informações aos sócios para a tomada de decisões”, afirmou Anna Luiza. Outro exemplo é o da administração de um hospital. “Se já era difícil, em função de abrigar um conjunto de ‘empresas’ como lavanderia, restaurante, farmácia, clínicas médicas, consultórios e pronto-socorro, ficou ainda mais complexa com a incorporação dos contínuos avanços tecnológicos conquistados pela Medicina. Dessa forma, a profissão de administrador hospitalar, embora já exista há cerca de três décadas, teve significativo crescimento”, destaca o administrador Paulo Roberto Segatelli Câmara, presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares e conselheiro do CRA-SP. Lembrou que os hospitais perceberam que a obtenção da eficiência e do aumento da satisfação de seus clientes estão diretamente ligados à gestão eficaz. Nessa esteira, reveste-se de importância também a Administração Hoteleira, ao permitir que esses clientes tenham o mesmo tratamento que receberiam em um hotel. É um conceito que vem ganhando força nas principais instituições de saúde do Brasil e, sem dúvida, um campo que pode ser amplamente explorado pelo administrador. A Administração também se mostra promissora nas empresas familiares. Para continuarem competitivas, cada vez mais elas “acordam” para a necessidade da profissionalização da gestão. Quem ainda resiste teme perder o controle gerencial. Na realidade, é falta de visão, pois empresa e família são assuntos que não podem ser misturados, principalmente quando o objetivo é fazer com que a organização se perpetue. O profissional da área deve saber administrar conflitos, preservar a privacidade, conquistar a confiança dos acionistas e ter habilidade política. Futuro promissor Com o setor de agronegócios em pleno desenvolvimento – responde por cerca de 1/3 do Produto Interno Bruto – e o setor rural cada vez mais dependente de novos conhecimentos, a Administração Rural ou de Agronegócios também mostra a sua força. Esse crescimento impõe a contratação de um especialista na área. A profissão é nova e em um universo de 142 milhões de toneladas de grãos – safra brasileira prevista para 2008 -, é preciso entender de produção, tecnologia, marketing, finanças, saber avaliar o mercado, ajustar o negócio agrícola às mudanças tenológicas e analisar custos de produção. Cabe ainda a esse profissional a definição de insumos e dos serviços necessários às lavouras e à criação de rebanhos, como número de empregados, horas de trabalho e rotinas de serviço. Além das fazendas, pode atuar também em indústrias. Outra área que impõe a contratação de um especialista é a de Comércio Exterior. Com os sucessivos recordes das exportações brasileiras não se pode prescindir de um profissional que efetue trabalhos administrativos e comerciais voltados para o mercado de bens e de serviços, que tenha familiaridade com as normas mercantis, algandegárias e fiscais de cada país, e que saiba planejar, organizar e controlar os setores de exportação e importação. Também é nova e alvissareira a área da gestão ambiental. Premissas como a de proporcionar qualidade aos clientes deixaram de ser diferenciais para se tornarem obrigações. Hoje, os consumidores querem quem respeita o meio ambiente, o que estabelece um novo tipo de relacionamento entre as empresas e as organizações. Por ser uma área estratégica, a gestão ambiental concilia os negócios com o desenvolvimento sustentável, contribuindo para o menor impacto possível na natureza, redução dos custos, aumento da competitividade e melhoria da imagem da empresa. De acordo com o administrador Itamar Revoredo Kunert, presidente da Associação dos Administradores de Santos e representante do CRA-SP naquela cidade, uma área que está em alta é a do perito judicial. Lembra que o seu campo de atuação é múltiplo, desde gestor de massa falida, em caso de falências, ou de acompanhante ou fiscal dos planos de negócios de empresas em recuperação, até no auxílio da Justiça Trabalhista no que se refere a elaboração de laudos sobre isonomia salarial e cálculos trabalhistas. A Administração esportiva também é ampla. Além de clubes esportivos, em que o profissional pode participar das ações administrativas de planejamento, gestão econômico-financeira e comercial dos departamentos e nos processos de compra e venda de atletas, seu campo de atuação pode ser estendido às federações, associações, empresas de marketing esportivo e de consultoria. Nesses espaços têm a função de analisar as tendências de mercado, procurar novas áreas para a prática de esportes, promover e organizar torneios, buscar incentivos fiscais para empresas que investem em esportes, entre outras atribuições. Muitos são os caminhos da Administração. Alguns deles, apesar da eficácia comprovada ainda não decolaram. Mas é uma questão de tempo, já que nada sobrevive à desorganização administrativa. Em 4.000 a.C.,os egípcios também não se importavam com a administração, até descobrirem que para serem fortes era necessário ter planejamento, organização e controle. Em outras palavras: a milenar herança egípcia serviu de base para que os empreendimentos ao longo do tempo fossem bem-sucedidos. Breve história da Administração profissional brasileira A preocupação com a administração profissional no Brasil teve início em 1941, quando o padre Sabóia de Medeiros trouxe dos Estados Unidos, em plena Segunda Guerra Mundial, as receitas e os gabaritos colocados em prática pela “Graduate School of Business”, da consagrada Universidade de Harvard, e fundou a Escola Superior de Administração de Negócios, a Esan. O ensino da “Administração Científica”, como se dizia na época, durava dois anos, com mais um de especialização. A primeira turma formou 41 administradores em uma época em que os Estados Unidos já tinham cerca de mil cursos e formavam 50 mil bacharéis, 4 mil mestres e cem doutores por ano, em Administração. Em 1954, a Fundação Getúlio Vargas criava, em São Paulo, a primeira escola com graduação universitária em Administração de Empresas. Além do marco histórico, a escola fez do Brasil o primeiro país a ter um curso específico em Administração fora da América do Norte. Na Universidade de São Paulo, o curso surgiu apenas em 1963. Ainda assim, para fazê-lo, era preciso cursar Economia e depois optar pela modalidade ao término do segundo ano. A criação dessas escolas nasceu da necessidade de se formar profissionais adequados ao processo de industrialização que se instalava no País. O Brasil já havia registrado em sua história nomes de empreendedores de sucesso, caso de Francesco Matarazzo, que ao morrer em 1937 deixou uma fortuna estimada em US$ 10 bilhões. Porém, apesar do brilhantismo na condução dos negócios, esses empreendedores não tinham qualquer formação que os fizessem analisar profundamente os campos em que atuavam. A colocação da profissão no “bloco de elite” se deu apenas em 9 de setembro de 1965, data em que se comemora o “Dia do Administrador”, quando a promulgação da Lei 4.769 regulamentou a profissão de “Técnico em Administração”. No artigo 3.º, ficava claro que o exercício é “privativo dos bacharéis em Administração Pública ou de Empresas diplomados no Brasil, em cursos regulares de ensino superior, oficial, oficializado ou reconhecido, conforme currículo mínimo fixado pelo Conselho Federal de Educação, nos termos da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961”. Com a promulgação da Lei 7.321, de 13 de junho de 1985, a denominação da profissão foi alterada para Administrador. Era uma antiga aspiração da classe, que coincidiu com o vigésimo aniversário de sua regulamentação. Administrador Profissional - Setembro - 2008 17 GESTÃO DE PESSOAS TODOS POSSUEM UM LADO INCOMPETENTE Para consultor, traços pessoais negativos podem comprometer a atuação profissional É inegável a importância das capacitações técnicas e funcionais para quem quer crescer na carreira profissional. Porém, para chegar ao topo não basta apenas cuidar das competências. É preciso controlar as incompetências. O ensinamento é do administrador Jorge Fornari Gomes, professor de Cultura Organizacional na Escola Superior de Propaganda e Marketing e consultor na área de gestão de pessoas. Para ele, o desenvolvimento gerencial está atrelado aos dois lados da mesma moeda. A incompetência, explica, são traços pessoais negativos, como medo, vaidade, arrogância e tantas outras coisas que “derrubam” as pessoas no seu dia-a-dia. “Ninguém escapa do seu lado incompetente, responsável por insucessos, infelicidades e inefetividade de gestão. Cada um de nós tem um painel interno no qual anota as bobagens que atrapalham a vida”, afirma. Fornari diz que entrar em uma “roda de incompetência” pode ser um jogo dif ícil de ser vencido. Isso se dá basicamente quando o lado emocional começa a interferir nas competências profissionais. Cita o exemplo de um jogador futebol que, embora seja reconhecido como um dos melhores atletas do mundo, de uma hora para outra passa a apresentar baixo rendimento e, por mais que se esforce, não consegue voltar ao patamar em que se encontrava. 18 Administrador Profissional - Setembro - 2008 “Ele esqueceu de como se pratica o esporte? Não. Apenas se envolveu com besteiras que prejudicam sua carreira e vida pessoal”. O termo que melhor define esse descompasso, diz o consultor, é descarrilar, sair dos trilhos. A origem das incompetências pode ser genética, ou seja, as pessoas nascem com elas, ou advém de traumas adquiridos na infância. Podem também ser oriundas do ambiente em que vivem ou das culturas que lhe são impostas. A principal conseqüência é a infelicidade, pois não conseguem gerenciar a si mesmas. “Muitas, por exemplo, não se sentem bem em ambientes políticos. Quando estão em espaços como esses, ficam incompetentes porque não são capazes de serem úteis, seja pelos rituais a que não estão acostumados, seja por coisas que nem sempre sabem explicar”, ressaltou. Algumas empresas suportam a incompetência por conta dos resultados positivos que os seus portadores proporcionam. Em outras palavras: as qualidades superam os defeitos. Em ambientes assim, a vaidade, por exemplo, deixa de ser importante. Mas, se ela se exarcebar em lugares pouco dominados, é natural que todas as qualidades individuais sejam anuladas. “O gestor precisa ter essa consciência e ajudar as pessoas a gerenciar os traços pessoais improdutivos, se possível com o De acordo com Fornari, os indivíduos têm dois sistemas que os dirigem: o emocional e o racional. O emocional, diz, não tem barreiras, “permite” que sejam cometidas várias besteiras em seu nome. O racional, que pondera o certo e o errado, não muda a maneira de ser, mas favorece a possibilidade de controle. Mosaico Ele lembrou que as pessoas têm três competências que precisam ser desenvolvidas, daí ter escrito o livro “A terceira competência” (Editora Qualitymark). A técnica, que determina os conhecimentos necessários para a atuação profissional; a humana, que prega o bom relacionamento, a liderança, o trabalho em equipe; e a conceitual ou organizacional. Essa última, segundo Fornari, é pouco percebida pelos líderes gerenciais, apesar de possibilitar que se tenha uma concepção da organização. “Muitos levam a gestão de forma intuitiva, quando ela deveria ser mais parametrizada, estudada, planejada, premeditada. Da mesma forma que ao fazer um projeto de uma casa, tenho de premeditar quantos andares ela terá, qual o peso que as fundações terão de suportar, os processos de gestão têm de ser mais arrumados. A terceira competência é justamente isso. Desenvolve no gestor uma qualidade melhor de gerenciamento”, enfatizou. A terceira competência, segundo Fornari, ajuda também os gestores a entender e construir organizações. Para isso, sugere a quem observar uma empresa, que o faça como se fosse um mosaico. “Como todo mosaico, quando visto de longe parece perfeito. É assim que as empresas são analisadas. Mas, quando é visto de perto, é possível notar que faltam pedaços e as ligações não são boas”, disse, ao ressaltar que a mesma observação se aplica às pessoas. Entende que todos têm um mosaico pessoal, que precisa ser melhorado para que se produza um efeito fotográfico mais preciso. E concluiu: “o gestor não é um sábio, um antropólogo, um sociólogo. É apenas gestor que, por ter visão fragmentada das coisas, atua de forma intuitiva. Se conseguir organizar melhor seu pensamento, certamente irá fazer um trabalho melhor”. CRA-SP perde o seu primeiro administrador emérito O Conselho Regional de Administração de São Paulo registra, com pesar, o falecimento de Olavo Egydio Setúbal ocorrido em 27 de agosto último, aos 85 anos. Primeira personalidade a receber a láurea de “Administrador Emérito”, concedida por este Conselho em 1982, Setúbal era dotado de forte espírito empreendedor. Após juntar US$ 10 mil, fundou com um amigo a Deca, fabricante de fechaduras e de torneiras. Em 1953, a empresa adquiriu uma indústria de válvulas de descarga. O sucesso fez com que seu tio Alfredo Egydio Souza Aranha, do qual tinha como referência desde a morte de seus pais, aos 14 anos, o convidasse para dirigir o Banco Federal de Crédito Memória auxílio de um coaching (consultor cujo foco é o desenvolvimento e o autodesenvolvimento de pessoas e de empresas, visando o crescimento profissional), que pode entrar em aspectos mais profundos”. e a Companhia Ítalo-Brasileira de Seguros Gerais, que deram origem ao Grupo Itaú. Setúbal dirigiu o banco entre os anos 1964 e 1988, quando passou a presidir a Investimentos Itausa, holding do grupo. Foi prefeito de São Paulo de 1975 a 1979 e uma de suas marcas era falar frases de efeito. Ao tomar posse disse que “gerir São Paulo é a mesma coisa que gerir uma Suíça e uma Biafra ao mesmo tempo”. Durante 11 meses, no governo de José Sarney, foi Chanceler do Ministério das Relações Exteriores. À família Setúbal, condolências de toda a classe profissional dos Administradores Administrador Profissional - Setembro Administrador Profissional - Agosto -- 2008 2008 19 19 EMPREENDEDORISMO A necessidade do empreendedorismo corporativo Esse tipo de gestão é indispensável, principalmente em organizações que tendem a se tornar complexas A burocracia nas empresas desmotiva e sufoca os profissionais talentosos e inovadores, deixandoas despreparadas para enfrentar os momentos de crises. A organização competitiva é aquela cujos gerentes dão espaço à criatividade de suas equipes e incentivam o surgimento de empreendedores corporativos como agentes de inovação. Alguns estudiosos de Administração alegam que as empresas de pequeno e médio portes podem ser mais empreendedoras que as grandes, mesmo considerando que o tema não é exclusividade dela. A verdade é que todas, de uma forma ou de outra, adotam o empreendedorismo corporativo, ainda que não estejam conscientes disso. A análise é do administrador Álvaro Mello, co-coordenador do Grupo de Excelência em Empreendedorismo e Inovação, do CRA-SP. Mas será que esse modelo de gestão é realmente verdadeiro? As empresas têm realmente se preocupado em incentivar o lado empreendedor e, conseqüentemente, inovador de seus executivos? Como fazem isto, ou como estimulam e implantam o empreendedorismo corporativo? As lições destas organizações e de suas congêneres menores, particularmente brasileiras, podem também ajudar outras empresas a se tornarem empreendedoras e inovadoras? Para responder essas perguntas, Mello recorre a Gifford Pinchot, criador do termo Intrapreneuring, no início da década de 80 nos Estados Unidos, para designar os profissionais que agem como verdadeiros empreendedores, assumem riscos, persistem na defesa de seus projetos e criam fórmulas alternativas para a solução de desafios. “São pessoas que cultivam sonhos, brigam por eles e têm a capacidade de fazer as coisas acontecerem”, destaca, ao lembrar que foi dessa maneira que surgiram o Post it (bloquinhos de papel), da 3M, e o PC (computador pessoal), da IBM. Segundo Mello, os empreendedores corporativos são indispensáveis, principalmente em organizações que tendem a se tornar complexas. “Uma diretoria não pode estar a par de tudo e é preciso delegar poderes. A grande questão é que limites impor ao instaurar maior liberdade de ação para esses 20 Administrador Profissional - Setembro - 2008 profissionais. Esse é um dos grandes desafios da Administração. Os gerentes precisam se conscientizar que devem assumir a postura de patrocinadores dos empreendedores, além de dar-lhes direção”, ressalta. Fronteiras Ele lembra que não adianta cobrar conceitos ouvidos pelos funcionários em seminários ou palestras comandados por gurus da Administração, por entender que as fronteiras impostas aos potenciais empreendedores corporativos são atribuições das empresas. Por exemplo: no estabelecimento dos limites de divisão do mercado em que atuam, nos impulsos à questão da liderança tecnológica e sustentável, na descoberta de um novo canal de distribuição ou no desenvolvimento de uma nova fórmula de fazer negócios. A implantação de modelos de gestão que permitem o surgimento dos intra-empreendedores, na avaliação de Mello, deve ser feita observandose uma série de medidas. “As empresas devem procurar casos de sucesso, em que esses profissionais tiveram participação decisiva e transformá-los em referências. Se a cultura da empresa não for favorável ao empreendedorismo, as chances de surgirem mudanças para a sustentação do negócio são pequenas”, diz. Outra ação neste sentido é recompensar a inovação como fruto das ações dos empreendedores internos, não necessariamente por meio de aumentos salariais, mas por verbas extras (bônus), que teriam como recompensas pelos projetos bemsucedidos. Mello surgere a criação de um fundo para projetos ainda não aprovados. Essa medida coloca ao dispor dos que pretendem empreender uma maneira alternativa e formal para quebrar a hierarquia e, assim, darem continuidade aos projetos. “Quando essa quebra se difunde e se torna prática comum, os intraempreendedores passam a ser mais tolerados pelos seus pares. Quando se dá a chance para o desenvolvimento de suas ações, sem que para isso tenham de assumir os riscos de um negócio próprio, a empresa ganha, já que há uma descentralização nas instâncias de poder decisório, além de se tornar mais ágil”. Não é necessário que todos os funcionários tenham esse perfil. Porém, é fundamental que alguns possuam características diferenciadas, ou seja, saibam empreender. Pinchot diz que toda empresa tem bolsões de criatividade e de inovação, o que significa que a maioria das melhorias é resultado da ação de empreendedores que criam bolhas de proteção para suas equipes e projetos. “Saber incentivar o surgimento dessas bolhas pode determinar o futuro e o sucesso de uma organização, seja ela qual for”, finaliza Mello. Perfil do empreendedor corporativo O empreendedor corporativo é um sonhador guiado pela visão e orientado para ação. Estabelece objetivos, pensa no futuro e vê onde quer chegar. Tem sua própria concepção do que é bom e do que é mau, do que é certo e do que é errado. Baseado nos resultados que obtém, consegue assimilar as reações do mercado, ajustando-se a ele. Sabe, também, vender idéias, aceitar riscos moderados e não é totalmente intuitivo ou analítico. Em princípio, todo profissional pode ser um empreendedor. No entanto, algumas características são essenciais para que consiga levar um projeto adiante, tais como: • ser capaz de sonhar; • não seguir somente as rotinas de trabalho, mas acreditar nas novas idéias; • saber verificar o que é preciso fazer para que o sonho vire realidade; • “apreciar” os canais informais. O burocrata só se volta aos canais formais; • saber definir objetivos de longo prazo e os passos para alcançá-los; • não “jogar” sozinho. O empreendedor sempre trabalha em equipe; • preocupar-se com a empresa de modo global, e não somente com seu trabalho. Esse novo padrão de comportamento organizacional já é realidade em algumas empresas, principalmente nas que entenderam que a era industrial está cedendo espaço para a da informação. “Esse tipo de relacionamento entre pessoas e organizações proporciona maior liberdade e capacidade de promover a ordem em mercados complexos, que se caracterizam por mudanças rápidas. Ou seja, o papel do empreendedor corporativo é fundamental para a sustentabilidade das instituições”, acredita Mello. Administrador Profissional - Setembro - 2008 21 ELEIÇÕES CRA-SP TEM ELEIÇÕES DIA 15 DE OUTUBRO Escolhidos passarão a integrar o quadro de conselheiros da entidade. O voto é obrigatório, exceto para maiores de 65 anos Os administradores registrados no Conselho Regional de Administração de São Paulo e que estão em pleno gozo de seus direitos (quite com as anuidades ou, na hipótese de parcelamento de débitos, quite com a última parcela com vencimento até o dia 26 de agosto de 2008), estão obrigados a participar, no dia 15 de outubro, do processo eleitoral que definirá a renovação de um terço do quadro de conselheiros. A votação será feita exclusivamente pela Internet nos endereços: www.votaadministrador.org.br www.votaadministrador.com. br, mediante senha individual que será fornecida pelo Conselho Federal de Administração (CFA), por meio de correspondência. A cédula eleitoral será apresentada, virtualmente, na tela do computador, com todas as informações dos candidatos. No caso de o eleitor não dispor de computador, o CRA-SP disponibilizará em sua sede (Rua Estados Unidos, 865/869, em São Paulo) equipamento conectado com a Internet para receber a votação. 22 Administrador Profissional - Setembro - 2008 Chapas Concorrentes ao CRA-SP Chapa 1 Chapa 2 Efetivos - Mandato 2009/2012 Efetivos - Mandato 2009/2012 Adm. Walter Sigollo Adm. Arlindo Vicente Junior Reg. 8094 - 2 Reg. 2286 - 7 Adm. Cid Nardy Adm. Carlos Alberto da Silva Reg. 5448 - 8 Reg. 25799 - 0 Adm. Roberta de Carvalho Cardoso Adm. Jair Roberto da Silva Reg. 41300 - 3 Reg. 46537 - 2 Suplentes - Mandato 2009/2012 Suplentes - Mandato 2009/2012 Adm. Marcio Gonçalves Moreira Adm. Júlio Simões Junior Reg. 7213 - 3 Reg. 4405 - 9 Adm. Alberto Emmanuel de Carvalho Adm. Júlio Seikyu Zakime Reg. 2724 - 3 Reg. 15635 - 3 Adm. Alexandre Uriel Ortega Duarte Adm. Sergio Antonio Teixeira Reg. 65374 - 8 Reg. 56223 - 8 Suplente - Mandato 2009/2010 Suplente - Mandato 2009/2010 Adm. Milton Luis Milioni Adm. Armando Meira Alves Junior Reg. 40221 - 4 Reg. 33565 - 7 Chapas Concorrentes ao CFA Vaga Especial - Mandato 2009/2010 Vaga Especial - Mandato 2009/2010 Adm. Mauro Kreuz Adm. Itamar Revoredo Kunert Reg. 85.872 - 2 Reg. 6184 - 0 Atividades do conselho Atividades do conselho Para representá-lo em diversos eventos, o CRA-SP destacou os seguintes administradores: • Antônio Carlos Cassarro - Participou da solenidade comemorativa do 89.º aniversário de fundação do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindicont); da solenidade de colação de grau da Universidade Paulista, campus Anchieta (São Paulo); e do programa de férias promovido pelo Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, no qual proferiu a palestra “A importância da informação contábil para a tomada de decisões”. • José Alfredo Machado de Assis Participou da reunião do Colegiado de Presidentes das Comissões Permanentes Eleitorais dos CRAs, no Conselho Federal de Administração, em Brasília (DF). Participaram de solenidades de colação de grau: • Eldir Paulo Scarpim - Faculdade Birigui • Gianpaolo Filizzola - Universidade do Oeste Paulista, em Presidente Prudente • João Batista Pereira Júnior Faculdade de Educação e Ciências Gerenciais de Indaiatuba • Jorge Elias Aoni - Associação Internacional de Educação Continuada; Universidade Paulista, campus Tatuapé, ambas em São Paulo • José Carlos Simões - Faculdade de Ilha Solteira • Marcos Silveira Aguiar - Faculdade de Administração e Negócios de Monte Alto . Mérito Acadêmico O CRA-SP entregou o diploma de Mérito Acadêmico aos seguintes formandos: Ana Lúcia Rojas Sampaio (Faculdade de Educação e Ciências Gerenciais de Indaiatuba); Eliete de Souza (Faculdade de Ilha Solteira); Jaime Luiz Shervis (Universidade Paulista, campus Tatuapé); Kelem Aparecida Marques (Faculdade de Birigui); Nathalia Miguel Cezar (Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo); Nilmaer Souza da Silva (Universidade do Oeste Paulista, de Presidente Prudente); Selma de Oliveira Abril (Faculdade de Administração e Negócios de Monte Alto); e Vanessa de Paula Nones (Universidade Paulista, campus Anchieta). Fórum: A oportunidade de trabalho para os PCDs Uma proposta para o Brasil a América Latina Dia 29 de setembro, das 14hs às 18hs, no CRA-SP Realização: Centro de Desenvolvimento e Difusão do Conhecimento do CRA-SP Grupo de Excelência Convergência Tecnológica e Mobilidade Corporativa Informações: www.crasp.gov.br Administrador Profissional - Setembro - 2008 23 ESPAÇO DO ADMINISTRADOR A Convenção 158 no Brasil “Mais uma vez estamos envolvidos entre o certo e o duvidoso. O País precisa crescer, gerar empregos, produzir, criar riquezas e diminuir as diferenças sociais. Precisa também se fortalecer mundialmente para atrair investimentos estrangeiros, dinamizar o turismo e ter mais autonomia, e não pode se dar o luxo de criar obstáculos que impeçam seu desenvolvimento. ESCREVA PARA O ESPAÇO DO OR ADMINISTRAD cias serão As correspondên r cerca de te avaliadas, devem dem ser po e 1.650 caracteres . as editad para Favor enviá-las asp.com.br cr @ as relacoes.extern Nos últimos 25 anos, as empresas passaram a carregar um fardo pesado, em virtude da expansão e do fortalecimento do sindicalismo. A ratificação da Convenção 158 não deixa dúvidas que os sindicatos tirarão mais proveito, o que obrigará as empresas a buscar fórmulas mágicas para contornar a situação e, com isso, converter a obrigação em prática viável e natural de convivência. Ser contra ou a favor da ratificação da Convenção 158 não é o caso. A falsidade de seus efeitos hipócritas é que incomoda. Se tudo fosse feito em benef ício do trabalhador, já estaria aprovada desde 1982, quando entrou em vigor. Ocorre que o trabalhador não é o objetivo maior. Ele quer apenas trabalhar com dignidade para sustentar a família e colaborar para o desenvolvimento do País. Não está preocupado se seu emprego é vitalício, mas se tem trabalho. Chega de empregos vitalícios e de tapar o sol com a peneira. Há coisas mais importantes para serem discutidas, modificadas, alteradas, aprimoradas, do que criar mecanismos para tornar o emprego permanente. O emprego está na relação direta da necessidade da produção, do crescimento, do progresso. O trabalho sem rompimento contratual, é retrocesso. Os grandes empregadores, exceto o governo, querem liberdade para que o seu capital não corra risco e, dessa forma, proporcione mais trabalho, renda e progresso. A bem da verdade, o que todos querem é ver o esperado espetáculo do crescimento, ser a grande locomotiva mundial, ter a liberdade de escolher os próprios caminhos. As grandes conquistas se conseguem com o diálogo, trocas e riscos, mas especialmente com bom-senso e sem ideologias”. Adm. Antonio Geraldo Wolff Vice-Presidente de Relações Externas e Conselheiro do CRA-SP CRA-SP 12.784 Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não retratam necessariamente a opnião da revista nem do CRA-SP. 24 Administrador Profissional - Setembro - 2008 curso de ética em administração Félix Ruiz Alonso, Francisco Granizo López e Plínio de Lauro Castrucci, Editora Atlas O texto começa enfatizando os fundamentos éticos da pessoa e prossegue aplicando-os no campo da Administração de Empresas. Contempla uma visão crítica dos sistemas macroeconômicos e das empresas e o preparo do administrador para suas freqüentes e importantes questões de cunho ético. Alonso é advogado empresarial e ex-conselheiro do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP; López é mestre em Administração de Empresas, com experiência na área de Recursos Humanos; e Castrucci é engenheiro pela Epusp e autor de diversos livros. FINANÇAS INTERNACIONAIS Marcelo Cabus Klotzle, Antonio Carlos Figueiredo Pinto e andré Cabus Klotzle, Editora Saraiva Em nove capítulos, a obra discute a prática administrativo-financeira em mercados internacionais, a partir de suas definições mais importantes: balanço de pagamentos, mercado cambial, teoria de mercado cambial, financiamento internacional de capitais, swaps, opções de moedas, mercados a termos (forward) e futuros, política macroeconômica e economias abertas, diversificação internacional. Marcelo Klotzle é professor nos cursos de doutorado, mestrado, graduação e MBAs na Escola de Negócios da PUC-Rio; Figueiredo Pinto é doutor em Economia pela FGV-RJ; e André Klotzle é analista financeiro. LIVROS Livros de interesse do Administrador TGA - TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO Rui Otávio Bernardes de Andrade e Nério Amboni, M. Books Editora Destinado aos que necessitam de uma base conceitual e teórica indispensável à prática administrativa e ao aprendizado da Teoria Geral da Administração. Os autores são mestres em Administração. Mais informações Editora Atlas www.editoraatlas.com.br [email protected] Fone 0800 17 1944 Editora Saraiva www.saraiva.com.br Fone (11) 3335.2957 M. Books Editora www.mbooks.com.br [email protected] Fones (11) 3645.0409/0410 Administrador Profissional - Setembro - 2008 25 CANAL ABERTO Mercado de trabalho “Para apoiar os administradores da região de São José do Rio Preto, desenvolvemos alternativas que visam facilitar o acesso ao mercado de trabalho. Esse apoio tem sido efetivado através de melhorias na capacitação individual e de uma cooperativa de trabalho sob a coordenação de profissionais de renome na região. s Associação do sé Sã ores de o Jo Administrad o do Rio Pret nio da a Ru Luiz Antô 89 , ra Silvei o José do Rio 15025-020 – Sã Preto, SP 34-1676 Tel/Fax: (17) 32 .br [email protected] A capacitação individual está sendo implementada por nossa associação através do CEA – Centro de Estudos do Administrador, criado há cerca de um ano. São oferecidos cursos de reciclagem profissional e de extensão nas áreas de Perícias, Finanças, RH, Gestão Empresarial e Estratégica, Marketing, Matemática Financeira, entre outras. Os cursos são essencialmente práticos e disponíveis aos profissionais registrados no Conselho e alunos de terceiro e quarto anos de Administração. Os resultados obtidos são animadores, pois boa parte dos administradores capacitados tem encontrado novos espaços no mercado de trabalho. O curso de Perícia do Administrador, por exemplo, já capacitou cerca de 100 profissionais. A instituição de um sistema de cooperativa, em fase de conclusão, também deverá produzir frutos, por contar com bons profissionais na região, dispostos a colaborar e a apoiar os novos colegas na fase inicial de suas carreiras. A cooperativa opera no sistema de hora técnica padrão, definida pela gestora, e deverá funcionar com o apoio de profissionais que tenham atuação nos diversos campos de atividade da profissão, os quais trabalharão auxiliados pelos colegas recémformados sob a forma de treinamento. Esta iniciativa, tenho certeza, atende as expectativas dos administradores, em especial as dos recém-formados”. Adm.José Carlos Simões Delegado CRA em São José do Rio Preto CRA-SP 24.592 Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não retratam necessariamente a opnião da revista nem do CRA-SP. 26 26 Administrador Administrador Profissional Profissional -- Setembro setembro - 2008 Administrador Profissional - Setembro - 2008 27 28 Administrador Profissional - Setembro - 2008