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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 27 DE JUNHO DE 2010
Separados
pelo estreito
aliás J3
O jornal Washington Post publica reportagem
sobre a vida dos familiares de Elián González
nos EUA dez anos depois da decisão da Suprema
Corte de devolver o menino ao pai em Havana.
Com a morte da mãe, Elián se tornou o centro de
um impasse diplomático entre Cuba e EUA.
SEGUNDA, 21 DE JUNHO
CLAUDIA DAUT/REUTERS
Sem vestígios
do naufrágio
Dez anos após a saga do menino cubano Elián González captar a
atenção mundial, as relações Cuba-EUA mudaram muito pouco
PAUL WANDER
E
m novembro de 1999,
um garoto cubano de
5 anos chamado Elián
González foi descoberto flutuando numacâmaradearapouca distância da costa
americana, tendo sobrevivido por três
dias à travessia do Estreito da Flórida. Com a mãe morta no mar e
opai vivo, mas em Cuba, seguiu-seuma batalha de sete meses pela custódia do garoto
depois que autoridades dos EUA permitiram que Elián fosse reclamado por parentes
em Miami, em vez de ser devolvido ao pai.
Nos meses seguintes o governo americanopareceuhesitar, primeiro permitindoque
o menino ficasse em Miami, depois trazendo-o para Washington, enquanto o processo
tramitava no sistema judicial americano.
Por fim, Elián foi com o pai de volta a Cuba
em 28 de junho, onde Fidel Castro disse que
finalmente se fizera justiça. Muitos cubanoamericanos, por sua vez, acharam que Clinton se mostrara fraco por não se opor a Fidel.
Dez anos se passaram desde a saga de
Elián González e algumas variáveis que levaram ao impasse internacional mudaram,
mas a maioria permaneceu inalterada.
Elián cresceu longe das circunstâncias
normais.Recebeustatusdecelebridadeepôde contar com pelo menos um irmão Castro
em seu aniversário a cada ano. O governo
cubano chegou a criar um website, www.
elian.cu, para celebrar seu retorno, e o pai de
Elián, que já foi o mais famoso garçom em
Cuba, agora serve na Assembleia Nacional
do país. Em dezembro Elián fará 17 anos,
tendo passado a última década sob estrita
vigilância da liderança cubana.
A continuidade
colombiana
DOMINGO, 21 DE JUNHO
FidelCastroficoudoenteem2006eentregou o poder ao irmão mais novo, Raúl. Enquanto muitos saudaram a transferência comoo começo do fim da era Castro, o governo
cubanocontinuouseopondoareformaseconômicase políticase, soba liderança de Raúl,
repeliu gestos de boa vontade americanos.
Já o governo dos EUA manteve mais ou
menos a mesma linha ante Cuba durante as
gestões Clinton, Bush e Obama. A promoção
da democracia dirigiu os planos de Clinton
para a assistência direta à população cubana,
foi o elemento chave da Comissão de Ajuda
para uma Cuba Livre da era Bush e continua
sendo a espinha dorsal da política de Obama. Recentemente, o caso de AlanGross, um
fornecedor do governo americano encarcerado em Cuba por distribuir equipamentos
de comunicações eletrônicas, reflete a divisão persistente entre Washington e Havana.
A lei de migração americana que está na
raiz da saga de Elián continua intacta. Desde
1995 a política americana para a imigração
cubana dá status excepcional a migrantes
cubanos, permitindo a concessão de mais
vistos a oriundos de Cuba que a de qualquer
outro Estado caribenho. A cada ano, a Seção
de Interesses Americanos em Havana está
autorizada a conceder 20 mil vistos, em troca de uma promessa tácita do governo cubanodeque nãoencorajará amigraçãoem massa para praias americanas. Adicionalmente,
os cubanos também têm uma ajuda quando
se trata da migração legalizada pela política
do “pé molhado, pé seco”, em que os que são
apanhados pela Guarda Costeira dos EUA
no mar são devolvidos a Cuba, mas os que
conseguemchegarao soloamericanosãoencaminhados para a cidadania.
Nos últimos anos, a Guarda Costeira americana reportou uma queda na interdição de
migrantescubanosnoCaribeque poderefletirumamudançanatáticade imigração.Desde 2000, a Guarda Costeira deteve uma média de 1.600 cubanos por ano no mar, mas as
Padrinho. Elián fará 17 anos em dezembro e vive sob a tutela do governo cubano
autoridades interditaram apenas 220 em
2010. A imigração cubana mudou de feição
com embarcações que podem transportar
umadúziaou maisdepessoas a160quilômetros por hora. Além disso, muitos cubanos
atingem os EUA através do México, com a
ajuda de um corpo crescente de traficantes
depessoas. Emboraosmétodosde transporte possam ter mudado, os riscos permanecem, e enquanto persistir a atual lei de imigração americana sobre Cuba, os cubanos
serão encorajados a tentar chegar aos EUA.
De mais a mais, a comunidade cubanoamericana, a principal promotora da política EUA-Cuba por décadas, mudou pouco,
mas mudou. Dez anos atrás, o medo de Fidel
e seu tipo de comunismo se mostrava mais
CELSO M. PACIORNIK
✽
PAUL WANDER É COLABORADOR DO INTER-AMERICAN DIALOGUE, EM WASHINGTON
O candidato governista Juan Manuel Santos é
eleito presidente da Colômbia com 69% dos
votos. Na cerimônia de posse, Santos
prometeu melhorar as relações com os países
vizinhos, como Venezuela e Equador, e
continuar o combate às Farc.
A hora da Colômbia?
Com sua votação esmagadora e mais jogo de cintura que o antecessor, Juan Manuel Santos, o
presidente eleito, pode fazer do país o próximo caso de sucesso econômico da América do Sul
JAIME SALDARRIAGA/REUTERS
ANDRES OPPENHEIMER
MIAMI HERALD
resteatençãonaColômbia! Com a esmagadora
vitória de Juan Manuel
Santos na eleição presidencial, a Colômbia pode seguir os passos do
Brasil, Chile e Peru e se
tornar a próxima históriadesucesso econômico da América do Sul.
Certamente, muitas coisas podem dar errado, como o ressurgimento da violência da
guerrilha marxista e novas tensões com os
vizinhosEquadore Venezuela.Mas observadores do país citam quatro fortes razões para a Colômbia decolar sob o novo governo.
Em primeiro lugar, Santos, ex-ministro da
Defesa do presidente que sai, Álvaro Uribe,
foi eleito com quase 70% dos votos e teve 2
milhões de votos a mais do que Uribe recebeu na última eleição. O que propicia ao novo presidente uma maioria sólida no Congresso e vai lhe permitir atrair investimentoscomagarantiadecontinuidadeeconômica e embarcar em grandes reformas nas
áreas energética, de saúde e educação.
De acordo comrecente estudo das Nações
Unidas,aColômbia já éo quartomaior beneficiáriode investimentosexternos naAmérica Latina – depois do Brasil, Chile e México.
Para muitos economistas, a promessa de
forte que os laços familiares. Mel Martinez,
destacado republicano da Flórida, se opôs
firmemente às medidas de Clinton durante
o caso Elián e chegou a financiar a famosa
viagem de Elián à Disney durante a estada do
garoto na Flórida. Em 2009, Martinez mudou de tom sobre o assunto. Quando Obama
retirou as restrições para viagens de cunho
familiar e remessas de dinheiro a Cuba, o
senador deu seu apoio dizendo que estava
contente de ver “o governo fora do caminho
da reunificação familiar”. / TRADUÇÃO DE
P
Pragmático. Novo líder não deverá se envolver tanto em disputas com ONGs
campanha feita pelo novo presidente, de levar o país a uma taxa de crescimento de 6%
em dois anos, será cumprida porque seu foco será na economia.
Aocontrário deUribe, advogadode profissão, Santos é economista, formado na Universidade do Kansas e na London School of
Economics. Começou sua carreira no governo como ministro do Comércio Exterior e
posteriormenteassumiu oMinistériodasFinanças. Não surpreende que sua primeira
indicação tenha sido a do próximo ministro
das Finanças, Juan Carlos Echeverry.
Santos teria mais chances de conseguir
que o Congresso americano ratifique o acordo de livre comércio assinado por Bush e
Uribe em 2006. Os democratas do Congressorecusam-searatificaroacordo, preocupados com as violações de direitos humanos
contra sindicalistas na Colômbia.
Em terceiro lugar, observadores acham
que Santos é menos polêmico que Uribe e
tem mais possibilidade de aplacar as tensões
tanto internas como com os vizinhos. “Já se
observa um novo clima no país, de menos
polarização”, disse Gaviria.
Em quarto lugar, Santos prometeu aprimoraras relações da presidência com o Judiciário, o que vai contribuir para melhorar a
situaçãodos direitoshumanos na Colômbia.
José Miguel Vivanco, chefe de assuntos latino-americanos do grupo Human Rights Watch e um dos mais vigorosos críticos da atuação de Uribe nessa área, disse-me que “Santos é um homem pragmático e isso significa
que,se receber os sinaiscorretos da comunidade internacional nessa questão dos direitos humanos, reagirá de modo mais positivo
do que o presidente que deixa o poder”.
Mas Vivanco acrescentou que grupos de
defesa dos direitos humanos estão apreensivos com promessas feitas por Santos duranteacampanha,dequepermitiráqueoExército se encarregue de processar seus membros
por violação de direitos humanos e subordinará o Ministério da Justiça à presidência.
Minha opinião: não acato a tese geralmente aceita na Colômbia de que Santos conseguirá melhorar as relações com Chávez. O
presidente da Venezuela precisa manter um
confronto permanente com a Colômbia paradesviaraatençãodosproblemaseconômicosdo país, que têm piorado,e para justificar
seu governo cada vez mais autoritário. Além
disso, Santos disse-me numa recente entrevista que ele e Chávez “são como água e
óleo”, dois elementos que não se misturam.
Masacho que háboas chances de Juan Manuel Santos conseguir elevar a Colômbia para um nível mais alto, diante da estabilidade
econômica que herdou, a vitória esmagadora nas urnas e seu foco na economia. Se fizer
um governo razoavelmente bom, a Colômbiapode setornar apróximanaçãoemergente da região. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
✽
ANDRES OPPENHEIMER É GANHADOR DO
PRÊMIO PULITZER E ANALISTA POLÍTICO
DA CNN. ESCREVEU, ENTRE OUTROS LIVROS,
CONTOS DO VIGÁRIO (RECORD)
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