COLÉGIO PORTO ALVORADA
PORTUGUÊS 2 - PROFª PATRICIA
POESIA- VERSIFICAÇÃO
“Que é poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.”
(Cassiano Ricardo)
“ Poesia é a suprema forma
de beleza.” (Mallarmé)
“Aprendemos o que é poesia
lendo poesia.” (T. S. Eliot)
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
REFLETINDO SOBRE O TEXTO...
1. Em que gênero literário está
inserido esse texto?
2. Que características esse texto
apresenta?
3. Poema X Poesia. Existe diferença?
4. O que é eu-lírico?
5. O que é verso?
6. O que é estrofe?
7. Como se denominam as estrofes?
Poesia está em toda parte: nas
canções de ninar, nas cantigas de
roda, nas propagandas, nas letras
de
música,
em
uma
bela
paisagem...
A poesia encontra seu núcleo no
poema,
feito
e
trabalhado
precisamente para consegui-la. Ela
é indefinível, porém é definidora.
Poema é o gênero textual que se
constrói não apenas com idéias e
sentimentos, mas também por meio
do emprego do verso e seus
recursos musicais – a sonoridade e o
ritmo das palavras – , da função
poética da linguagem e de palavras
com sentido conotativo.
Poesia é o subjetivo, o abstrato
enquanto que poema é o concreto.
Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(Carlos D de Andrade)
Eu-lírico (eu-poético)
É a voz que fala no poema e nem
sempre corresponde à do autor
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa)
Observemos o lirismo dos versos
abaixo, em que o eu-lírico exprime
seus sentimentos em face do mundo
exterior.
“Fui sempre um homem alegre.
Mas depois que tu partiste,
Perdi de todo a alegria:
Fiquei triste, triste, triste.”
(Manuel Bandeira)
O eu-lírico pode aparecer na
forma feminina, mesmo o autor
sendo do sexo masculino
“(...)E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer(...)”
(Chico Buarque de Holanda)
Verso corresponde a cada linha
do poema. Os versos organizamse em estrofes.
Estrofe ou estância
agrupamento de versos.
é
um
Observe este poema de Manuel Bandeira, há
uma classificação para cada estrofe.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
A primeira estrofe chama-se
sextilha, pois apresenta seis
versos.
A segunda estrofe chama-se
terceto, pois apresenta três
versos.
A terceira estrofe
chama-se
monóstico, pois apresenta um
verso.
DENOMINAÇÃO DAS ESTROFES
QUANTO AO NÚMERO DE VERSOS
• MONÓSTICO: ESTROFE COM UM VERSO.
• DÍSTICO: ESTROFE COM DOIS VERSOS.
• TERCETO: ESTROFE COM TRÊS VERSOS.
• QUADRA OU QUARTETO: ESTROFE COM
QUATRO VERSOS.
• QUINTILHA: ESTROFE COM CINCO VERSOS.
• SEXTILHA: ESTROFE COM SEIS VERSOS.
• SÉTIMA OU SEPTILHA: ESTROFE COM SETE
VERSOS.
• OITAVA: ESTROFE COM OITO VERSOS.
• NONA: ESTROFE COM NOVE VERSOS.
• DÉCIMA: ESTROFE COM DEZ VERSOS.
MÉTRICA é a medida ou
quantidade de sílabas que um
verso possui.
A divisão e a contagem das
sílabas métricas de um verso são
chamadas de ESCANSÃO.
Essa contagem não é feita da
mesma forma que a divisão e
contagem de sílabas normais.
O número de sílabas poéticas
e
gramaticais
nem
sempre
coincidem.
A
contagem
das
sílabas
métricas faz-se auditivamente e
subordina-se às seguintes regras:
1. Só se contam as sílabas até a
última
sílaba
tônica
do
verso.
2. Quando duas ou mais vogais se
encontram no fim de uma palavra e
começo de outra, e podem ser
pronunciadas numa só emissão de
voz, unem-se numa única sílaba
métrica.
“A i/da/de aus/te/ra e/ no/bre a/
que/ che/ga/mos.”
(Alberto de Oliveira)
OBSERVAÇÕES:
• Para que tais uniões vocálicas
não sejam duras e malsonantes,
as vogais (pelo menos a primeira
delas) devem ser átonas e não
passar de três.
b) Não se unem vogais tônicas
(vi/ó/dios); (es/tá/úmido) nem se
juntam tônicas com átonas
(a/li/o/ve/jo).
3.
Ditongos
crescentes
valem,
geralmente, uma só sílaba métrica:
“O/pe/rá/rio/mo/des/to/, a/be/lha
pobre”
Às vezes, porém, poetas dissolvem
ditongos crescentes em hiatos. Esta
dissolução denomina-se diérese:
“Nem/ fez/ cas/te/los/gran/di/o/sos”
DENOMINAÇÃO QUANTO AO
NÚMERO DE SÍLABAS POÉTICAS
UMA SÍLABA: Monossílabo
DUAS SÍLABAS: Dissílabos
TRÊS SÍLABAS: Trissílabos
QUATRO SÍLABAS: Tetrassílabos
CINCO SÍLABAS: Pentassílabos ou
Redondilha menor
SEIS SÍLABAS: Hexassílabo
SETE SÍLABAS: Heptassílabo ou
Redondilha maior
OITO SÍLABAS: Octossílabos
NOVE SÍLABAS: Eneassílabos ou
Jâmbicos
DEZ SÍLABAS: Decassílabos ou
Heróicos
ONZE SÍLABAS: Hendecassílabos
DOZE SÍLABAS: Dodecassílabos ou
Alexandrinos
MAIS DE DOZE SÍLABAS: Bárbaros
OBSERVE O EXEMPLO
DIVISÃO DE SÍLABAS GRAMATICAIS
MI NHA
1
2
AL MA DE
3
4
5
SO NHAR
6
7
TE
AN
DA
PER
8
9
10
11
DI
12 13
DIVISÃO DE SÍLABAS POÉTICAS
MI NH’ AL
1
2
MA
3
DE SO NHAR TE AN DA PER DI
4
5
* ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA
6
7
8
9
*
10
DA
DA
VEJA OUTRO EXEMPLO
DIVISÃO DE SÍLABAS GRAMATICAIS
A MES
1
2
MA
HIS
3
4
TÓ RIA TAN TAS
5
6
7
VE
ZES
LI
DA
9
10
11
12
8
DIVISÃO DE SÍLABAS POÉTICAS
A
1
MES
2
MA HIS
3
TÓ
4
RIA
5
* ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA
TAN
6
TAS
7
VE
8
ZES
LI
9
*
10
DA
RITMO
Resulta da regular sucessão de
sílabas átonas ou fracas e de
sílabas tônicas ou fortes.
Os acentos tônicos, ou as sílabas
tônicas, devem repetir-se com
intervalos regulares, de modo a
cadenciar o verso e torná-lo
melodioso.
Observe o ritmo nas estrofes a seguir,
sempre na 2ª sílaba poética.
“Quem dera
Que sintas
as dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
Eu vi!...” (Casimiro de Abreu)
Agora observe estes versos que
apresentam acentuação na 3ª, na 6ª e
na 9ª sílabas.
“Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.”
(Hino à Bandeira – Olavo Bilac)
Manuel Bandeira
Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)
(Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã" 1936)
RIMA
São coincidências sonoras que
podem ocorrer em qualquer lugar
dos versos, dependendo da escolha
do poeta.
Obedecem a diversas classificações.
As rimas de dentro do verso são
chamadas internas e as rimas nas
últimas palavras do verso são
chamadas de finais.
QUANTO À TERMINAÇÃO
DO SOM
1) PERFEITAS:
sereno e moreno; neve e leve
2) IMPERFEITAS:
Deus e céus; estrela e vela
QUANTO À TONICIDADE
1) AGUDAS (oxítonas)
feroz e atroz; amor e clamor
2) GRAVES (paroxítonas)
festa e manifesta; flores e cores
3) ESDRÚXULAS (proparoxítonas)
mágico e trágico; lírico e onírico
QUANTO AO VOCABULÁRIO
POBRES
Mesma classe gramatical
Ex: Coração e oração
RICAS
Classe gramatical diferente
Ex: Prece e adormece
RIMA INTERIOR
Veja alguns exemplos:
“Como são cheirosas as primeiras
rosas” (A. de Guimarães)
“Donzela bela, que me inspira a lira
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca arranca-lhe a terrível dor.”
(Castro Alves)
DISPOSIÇÃO DAS RIMAS
NAS ESTROFES
RIMAS EMPARELHADAS (AABB)
“Ele deixava atrás tanta recordação! A
E o pesar, a saudade, até no próprio chão, A
Debaixo dos seus pés, parece que gemia, B
Levanta-se o sol, vinha rompendo o dia(...)” B
(A. de Oliveira)
RIMAS ALTERNADAS (ABAB)
“Tu és um beijo materno! A
Tu és um riso infantil, B
Sol entre as flores de inverno, A
Rosa entre as flores de abril! ” B
( J. de Deus)
RIMAS INTERPOLADAS
OU OPOSTAS (ABBA)
“ Saudade! Olhar de minha mãe rezando A
E o pranto lento deslizando em fio...
B
Saudade! Amor dminha terra... O rio
B
Cantigas de águas claras soluçando. “ A
(Da Costa e Silva)
VERSOS BRANCOS
São os versos sem rima.
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
(Mário Quintana)
VERSO LIVRE
São
os versos que não
obedecem
aos
preceitos
da
versificação
tradicional,
em
relação à métrica e ao ritmo.
Observe este poema de
Gullar
Ferreira
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
Está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
O homem sem estômago
a mulher de nuvens
A fruta sem preço
O poema, senhores,
Não fede
nem cheira.
AS FORMAS FIXAS
Há poemas que têm forma fixa, isto é,
submetida a regras quanto à combinação
dos versos, das rimas e das estrofes. Assim,
há, por exemplo, o soneto, cujos versos
são agrupados em dois quartetos e dois
tercetos; a balada (três oitavas e uma
quadra); o rondó (somente quadras ou
quadras combinadas com oitavas); o haicai
(um terceto em que o 1º e o 3º versos são
pentassílabos e o 2º é heptassílabo).
DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NO
SONETO
As rimas das quadras são as mesmas. Um par
de rimas serve a ambas, segundo o
esquema abba-abba ou abab-abab.
Nos tercetos podem combinar-se duas ou,
mais frequentemente, três rimas.
Quando há apenas duas rimas, dispõem-se
elas normalmente de forma alternada: cdcdcd.
Se as rimas são três, distribuem-se em
geral nos esquemas: ccd-eed, cdc-ede, cde-cde.
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
a
b
b
a
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
a
b
b
a
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
c
c
d
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
e
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros, e
Que tu és como Deus: princípio e fim!…” d
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Versificação - Colégio Porto Alvorada