Ritmos
poemas
Cada época tem seu ritmo

A própria origem da palavra arte implica
uma atividade transformadora realizada
pelo homem. Esta atividade, por sua
vez, traz sempre, direta ou
indiretamente, certas marcas das
condições concretas em que ela se
efetua.
Simetria

A vida das pessoas, no século passado
e nos anteriores, era mais padronizada,
talvez mais calma. Nesse período, o
ritmo era simétrico e regular. Ele
correspondia à vida que as pessoas
levavam. A regularidade - de vida e de
ritmo poético - prevaleceu até fins do
século passado e início deste.
Assimetria

A partir da segunda década deste
século, a vida das pessoas tornou-se
mais liberta de padrões e mais
imprevisível. O ritmo dos poemas
acompanhou o processo: tornou-se
mais solto, mais livre, menos simétrico.
“Remorso”, Manuel Bandeira
“Sinto o que esperdicei na juventude;
 Choro neste começo de velhice,
 Mártir da hipocrisia ou da virtude.”

Métrica

Para verificar a métrica do poema,
vamos fazer a (escansão) do primeiro
verso. Escandir significa dividir o verso
em sílabas poéticas. Note que nem
sempre as sílabas poéticas
correspondem às sílabas gramaticais.
Escansão

O leitor pode juntar ou separar sílabas,
quando houver encontro entre vogais, de
acordo com a melodia do verso.
 Ao escandir, isto é, dividir um verso em
sílabas métricas, em português, deve-se
parar na última sílaba tônica. Se houver
outra(s) depois dela, não se conta(m) para
efeito métrico.
“Remorso”, Manuel Bandeira
Sin-to o - que es-per-di-CEI-na-ju-venTU (de).
 Cho-ro-nes-te-co-ME-ço-de-ve-LHI (ce)
 Már-tir-da-hi-po-cri-SI-a ou-da-vir-TU
(de)

A Rima
Perceba a repetição de sons
semelhantes no final dos versos:
 juventUDE e virtUDE

Análise
No verso retirado do poema Remorso,
de Manuel Bandeira, podemos observar
que algumas sílabas aparecem grifadas
em letras maiúsculas. São as sílabas
fortes.
 É um verso com 10 sílabas poéticas

Assimetria

A partir das primeiras décadas de
nosso século, o ritmo dos poemas
começa a ser cada vez mais solto e
distanciado das regras da métrica
tradicional.
“O Poeta come amendoim”, de
Mário de Andrade






O Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu
braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço de minhas cantigas amores e
dansas
Brasil que eu sou porque é a minha
expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento
Porque é o meu geito de ganhar dinheiro, de
comer e de dormir.
Análise

Percebemos um poema completamente
diferente do anterior. Vamos começas
pelo vocabulário, pelas palavras
empregadas em cada texto. No primeiro
poema: “esperdicei”, “mártir”,
“hipocrisia”, “virtude”, “timidez”, “tolice”,
termos cultos, próprios da linguagem
escrita.
Análise

No segundo poema, (“engraçado”,
“pachorrento”, expressões simples,
frequentes na linguagem falada.
Algumas palavras como (dansas) e
(geito) são percebidas também.
Métrica
Bra-sil-que eu-a-mo-por-que e o-rit-modo-meu-bra-ço a-ven-tu-RO (so).
 O primeiro verso apresenta 16 sílabas
poéticas. Os acentos podem variar
porque se trata de um poema de versos
livres, cuja acentuação não obedece às
regras métricas clássicas.Os acentos
não são fixos, com exceção do da
última sílaba.

Conclusão

Não basta analisar o ritmo, apenas. É
preciso associá-lo aos demais aspectos
do texto. Deve-se ainda, relacionar a
obra ao contexto sociocultural em que
ela foi produzida. O modo de compor
associa-se à temática do poema para
traduzir um modo de vida, um conjunto
de valores, uma visão de mundo.
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