UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CONTO DE FADAS: DESPERTANDO O IMAGINÁRIO INFANTIL Por: Geisy Castro de Araújo Oliveira Orientadora Prof.ª Maria Esther de Araújo Oliveira Goiânia Maio/2008 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CONTO DE FADAS: DESPERTANDO O IMAGINÁRIO INFANTIL Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Educação Infantil e Desenvolvimento. Por: Geisy Castro de Araújo Oliveira 3 AGRADECIMENTOS Agradeço inicialmente a Deus, por me dar força e inteligência; por não me deixar desanimar; por não me deixar à sensação de que não sou capaz; por não me deixar desistir nas horas difíceis; por deixar-me acreditar no possível, proporcionando desafios, coragem, força de vontade e fazer acreditar que procuro ser uma lutadora. Agradeço também à minha professora e orientadora Maria Esther de Araújo Oliveira, que me proporcionou este trabalho monográfico com o intuito de que eu saiba qual a importância da pesquisa e para que eu cresça cada vez mais através da busca do conhecimento. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, que me incentivaram na realização da aprendizagem e conhecimento. E por estarem ao meu lado, mostrando o quanto é importante o estudo, para que tenho um futuro mais digno e assim contribuir na construção de um mundo melhor. À minha avó (in memoriam), que sempre me deu força, carinho e me fez reconhecer a pessoa verdadeira que sou, mostrando o caminho correto que devo prosseguir. 5 RESUMO O presente estudo tem como objetivo abordar de que forma os Contos de Fadas podem despertar o imaginário de uma criança. Trabalhar a Literatura Infantil com prazer, emoção, dedicação é um dos papéis fundamentais do educador, pois através da mesma descobre-se um “mundo” de fantasias, alegrias, sonhos, mas também o confronto com um “mundo” real. Uma das razões que norteou o interesse desta pesquisa monográfica, foi o conjunto de práticas pedagógicas satisfatórias, que venho desenvolvendo ao longo da minha carreira como educadora. Desta forma, percebi que o universo literário é um dos melhores e mais significativos referenciais para o desenvolvimento integral da criança. “Por que contar estórias? Por vários motivos: para recrear, proporcionar prazer, mas não é só isso. Num conto, bem contado, aprecia-se a beleza da língua bem articulada, o vocabulário, a postura, aprende-se a ouvir e a se concentrar, estimula-se à imaginação, abre-se o caminho à leitura, se aprende a compartilhar emoções, descobre-se tradições culturais e tantas outras manifestações da vida intima e social dos homens”. (Autor desconhecido). 6 METODOLOGIA O objeto de estudo da presente pesquisa partirá das pesquisas e livros, textos, apostilas que abordam o tema a ser desenvolvido. O mesmo será estudado e pesquisado em casa, no trabalho, na biblioteca, e onde houver necessidade para que o trabalho seja construído de maneira significativa. Os principais autores que servem de referência a este estudo são: Fanny Abramovich, Bruno Bettelheim, Nelly Novais Coelho, Vera Maria Silva Tietzmann, entre outros. Para o desenvolvimento da pesquisa de campo, este estudo contará com a participação de aproximadamente quinze crianças de uma turma de Educação Infantil, que fará a construção de desenhos de histórias trabalhadas através dos clássicos literários. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8 CAPÍTULO I A FUNÇÃO DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO EDUCADOR NESSE PROCESSO ............................................................ 10 CAPÍTULO II A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL E A PRESENÇA DOS CONTOS DE FADAS ...................................................................................... 24 CAPÍTULO III ................................................................................................... 35 QUANDO OS CONTOS DE FADAS FALAM DE SENTIMENTOS... .............. 35 CONCLUSÃO .................................................................................................. 45 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46 ANEXOS .......................................................................................................... 48 8 INTRODUÇÃO Como educadora da educação infantil, um dos temas que mais tem despertado a atenção é questão da importância das histórias infantis na vida da criança. É inegável que “Os contos de fadas” estão cada vez mais inseridos no processo educativo. Por acreditar na fundamental importância deste trabalho, o tema desta pesquisa é “Conto de Fadas: despertando o imaginário infantil”. Frente a isto, como o educador poderá trabalhar os contos de fadas para despertar a imaginação de seus educandos? Para desenvolver esta reflexão, busquei neste trabalho “Contos de Fadas: despertando o imaginário infantil” analisar a forma de como as histórias estão presentes nos sentimentos das crianças e como estas fazem parte da vivência infantil. Assim, pode-se dizer que são objetivos desta pesquisa a compreensão de que forma a criança desperta sua imaginação, sua fantasia através dos contos de fadas, a identificação das formas de se trabalhar as histórias para que seja interessante para as crianças, o estimulo para que a criança possa recontar suas próprias histórias. No primeiro capítulo será apresentado “A função da literatura na formação da criança e o papel do educador nesse processo”. Atualmente vivemos em uma sociedade marcada pela informatização, onde há predominância dos meios de comunicação, então a literatura infantil tem um papel a cumprir nesta sociedade, que é a de servi como agente de formação. Este capítulo procura analisar também a forma de como o educador irá trabalhar para despertar na criança o gosto pela literatura. 9 O segundo capítulo discutirá a importância da literatura infantil e a presença dos contos de fadas que falam de medos, de amor, da dificuldade de ser criança, de carências, de autodescobertas, de perdas e buscas. O terceiro capítulo abordará. “Quando os contos de fadas falam de sentimentos”. 10 CAPÍTULO I A FUNÇÃO DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO EDUCADOR NESSE PROCESSO A Literatura Infantil é marcada pela fantasia, magia, imaginação, pelo sonho,... ”O maravilhoso” ainda continua sendo um dos elementos fundamentais na literatura que se destina às crianças, principalmente no que diz respeito aos contos de fadas, sendo decisivo na formação da criança, em relação a si mesma e ao mundo a sua volta. Atualmente a literatura infantil tem a função de fazer com que a criança encontre significado na vida, através das histórias e/ou dos contos maravilhosos que fazem parte de seu contexto cultural e que despertam o imaginário infantil. Pode-se dizer que a literatura infantil ocupa um espaço considerável dentro da educação formal, e com isso a escola assume a responsabilidade de fazer com que a criança sinta interesse pela leitura. A criança consegue perceber o cotidiano em que vive, diante do conto de fada, que fala das dificuldades, mas apresenta também as soluções, e nesse processo o papel do educador é de suma importância, pois este deve ter clareza de seu trabalho em busca de novos conhecimentos, sempre estimulando e motivando a realizarem suas leituras, apresentando-lhes o mundo encantado dos livros, e com isso as crianças poderão desenvolve-se dentro dos aspectos emocionais, sociais, intelectuais e afetivos, tornando-se sujeitos curiosos, críticos e criativos. A relação entre educador/educando deve ser amigável para que a criança sinta prazer pelos livros literários, pelos momentos das histórias, buscando interpretá-las cada vez mais, da forma em que acredita que esteja correto. A criança não pode sentir que está sendo obrigado a ler a história, o educador deve propiciar oportunidades para que esta cresça e, futuramente, 11 possa emitir suas próprias opiniões. A função do educador não é somente incentivar e despertar a atenção da criança à leitura, e sim, conhecer e gostar dos livros que serão utilizados na formação de seus educandos. “Na fase da oralidade, o professor se torna indispensável para a criança, pois neste momento é que desperta o gosto pela leitura e a fala se desenvolve. É nesta fase que as crianças estão descobrindo o mundo, abrindo novas portas para o conhecimento. Sendo assim, é importante que a leitura se torne um hábito na vida desses pequeninos para que possam compreender melhor o mundo que os cercam, intensificando a sua capacidade de criticar, de perguntar, de pensar e questionar sobre as suas descobertas com os adultos”. (BAMBERGER, 1991, p. 74). Compreende-se que a leitura deve ser iniciada na infância, desde os primeiros meses de vida da criança, e que esta tenha contato, sentindo-os, tocando-os. É através da contação de histórias, que poderá conquistar um futuro leitor, e nesse momento quem está contando a história tem que ter o cuidado com a entonação da voz, com a escolha, e com a forma de trabalhálas. É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias, são através destas que se podem descobrir outros lugares, conhecer outros mundos, sem mesmo estar lá. Para que uma história seja significativa para a criança, é necessário que o livro já tenha sido lido pelo narrador, assim não haverá fragmentos e nem pausas durante os parágrafos. Para que a criança se interesse pelas histórias, faz-se necessário que o educador crie um clima de envolvimento, que saiba respeitar o tempo para os imaginários de cada uma. Quando se trata de contar histórias ás crianças menores, devem-se evitar as descrições imensas e repletas de detalhes, e deixar que elas ouçam mais as conversas, as ações, os acontecimentos. 12 Ao iniciar uma história, o educador e /ou narrador precisa escolher um jeito que chame a atenção dos ouvintes, fazer um certo suspense, utilizar argumentos que despertam o interesse destes, e ter este cuidado ao finalizá-la também. Ao terminar uma historia, é importante mostrar a criança que o que ouviu está impresso no livro, e fazer com que ela possa manusear sozinha, folhear, explorar. É fundamental que à criança comece a escutar histórias desde pequenina, numa relação adulto/criança, e mais tarde poderão escolher uma maneira aconchegante para ficarem, seja deitado, sentado, enrolando ou mesma em roda. “O ouvir historia pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma historia ou outra)” (ABRAMOVICH,1997,P.23). A criança quando estimulada pelo educador aprende a ouvir histórias, desenvolve a atitude de recontar do seu jeito, imagina, cria... O momento das historias não pode ser visto para “passar o tempo”, pois o educador precisa planejar e ter objetivos à contá-las. Percebe-se que em nosso país não há o hábito pela leitura, então, a responsabilidade do educador aumenta cada vez mais. Segundo estudiosos do assunto, a literatura infantil pode ser considerada uma arte, onde as pessoas podem desenvolver a criação, sentir emoções em suas vidas, observar o mundo com olhos da imaginação. Compreende-se que as histórias estão inseridas na vida da criança, assim, dizse que a educação pela história é uma educação total. As histórias são imprescindíveis na formação da criança, pois trabalhar aspectos internos, como: raciocínio, caráter, senso crítico, disciplina, imaginação, criatividade, entre outros. 13 Vivemos em uma sociedade em que a tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano de nossas crianças, seja através da mídia, do vídeo game, do computador. Portanto, não podemos deixar que o gosto pelas histórias se torne algo chato, desestimulante, desinteressante, é necessário que a criança perceba nas histórias o prazer, as emoções, as sensações, a imaginação, a fantasia, os sonhos, por isso, a necessidade de adequá-las de acordo com a faixa etária de cada uma delas. Os contos de fada ganham maior atenção das crianças, uma vez que parte da realidade, das emoções, dos conflitos. E através desses a criança pode se identificar com os personagens, transferindo os seus problemas para aqueles vividos nas histórias. O trabalho com a literatura infantil é de suma importância para o crescimento reflexivo e crítico da criança, pois através das histórias, ela pode viajar num mundo encantado, além de adquirir novos conhecimentos. Faz-se necessário que dentro de uma instituição educacional, o educador crie o “momento do conto”, para que assim a criança comece a ter o hábito de ler e ouvir histórias, e assim ter o cuidado na escolha do livro. Pode até ser histórias que estejam inseridas no projeto político pedagógico, desde que seja novidade para as crianças. Há alguns aspectos que devem ser ressaltados quando se trata do trabalho com as histórias infantis, como: interromper a leitura ao perceber que as crianças estão interessadas, criar suspenses; fazer questionamentos, onde cada uma apresentará sua própria opinião; fazer registro através de desenhos; escolhendo com as crianças o próximo livro a ser lido; confeccionar materiais para as apresentações, dramatizações; etc. É necessário respeitar a faixa etária da criança ao fazer a escolha das histórias, pois até quatro anos, a preferência é pelo gênero da vida real, textos curtos, gravuras grandes... Entre quatro e cinco anos, o interesse pela história 14 retrata sua vida (lar, família),... Entre cinco e seis anos, a preferência pelos bichinhos humanizados, o interesse pelo mundo da fantasia e histórias de encantamento. Ao ouvir uma história, a fantasia e a imaginação misturam-se á realidade, o que é predominante na faixa etária em que as crianças se encontram. Desde cedo, a criança sente a necessidade de ouvir histórias e quando esta o agrada pelo aos pais, á mãe, ao professor para repetir várias vezes. A criança sente prazer em ouvir histórias e se emociona com as personagens que estão presentes nas situações cotidianas de sua própria vida, e faz com que a criança possa desenvolver no sentida ético, estético e de formação. Para contar a história, o educador poderá levar á criança ao ar livre, debaixo de árvores, pedir que sentem ao chão, que fiquem á vontade. Depois que as crianças acomodarem, cada uma ao seu modo, o educador anuncia a história que vai contar, mostra a capa, fala o nome do autor, da história, mostra os personagens. Uma das atividades ricas que pode ser estimulada pelo professor e a dramatização, em que as crianças costumam demonstrar enorme prazer. “Ao assumirem o papel da personagem da história, as crianças expressam-se através da fala, dos movimentos, dos sons e encontram, assim, um novo modo de apreciar histórias.” (GRACÍOLA M. SORAGGI – A mãe Educando 87). Outras maneiras de se trabalhar as histórias são através de publicações sem texto, que são contadas com desenhos, sem que tenha nenhuma palavra. Para encantamento e fascínio da criança, existem livros em que as personagens movem-se, onde há figuras divertidas e cenárias das mais diversas formas. Outros possuem formato sanfonado, que permite que a história possa ser lida de várias maneiras, e é claro que estes são 15 confeccionados com papel duro,... Recentemente em nosso país surgiram livros onde toda a história é contada através de imagens, destaca-se aqui a autora Eva Furnari, que tem realizado coisas incríveis no gênero, utilizando cores diversas, diversão, figuras em movimentos, etc. Para que as histórias sem texto sejam significativas para as crianças, faz-se necessário uma construção harmônica, bonita, inteligente,... Este tipo de texto faz com que a própria criança oralize as histórias, reconte-a da sua maneira, dê nome aos personagens, etc. “E é tão bom saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro, tão denotador de tudo: a visão. Talvez seja um jeito de não formar míopes mentais...” (ABRAMOVICH, 1997, p. 33). O universo da literatura infantil diversifica-se cada vez mais no que diz respeito às ilustrações, que contribuem para a memorização da história e quando são interessantes aos olhos das crianças. Os leitores acreditam que as ilustrações interessantes são aquelas que estejam de acordo com o texto, onde há preocupação com as cores, que sejam perfeitas que não deformem a realidade. Muitas crianças escolhem os livros pelas suas ilustrações, sua capa, textura, cores, etc., e isto são realizadas com a maior tranqüilidade, pois faz parte de seu próprio desenvolvimento. Faz-se necessário que haja criatividade nos livros infantis, que a linguagem seja clara, as ilustrações cativantes,... As ilustrações não devem seguir um modelo padronizado, pois quando se trata de criatividade o que vale é a imaginação, daí a necessidade de fazer com que a criança crie seus próprios desenhos, façam seus primeiros rabiscos. A criança desenha o que vê, sabe, imagina e afinal aquilo de que ela gosta. As ilustrações dos contos de fadas quando são significativas, se instalam fortemente na nossa memória de criança, através das personagens de 16 príncipes, princesas, mocinha,... Estas imagens são internalizadas no conceito da criança, em que as personagens são belas, fortes, altas, de pele clara, etc. diante desta situação, o educador deve trabalhar a questão do preconceito que está enraizado no que refere ao negro e a outros povos. Uma das intenções de se trabalhar com imagens é fazer com que a criança apaixone-se pelas mesmas, no sentido de apresentar ilustrações que possam fugir das tradicionais. É poder brincar com as cores, com as palavras, com o texto, sem deixar que as histórias percam sua essência, vale lembrar que nem tudo de que a criança gosta é educativo e a recusa permite observações interessantes. A esperteza e a criatividade são características comuns da infância, acredita-se que “a criança tem que ouvir histórias, imaginar, ver as ilustrações e depois até comparar sua criação com elas, sem aquela tradição de rotular em certo ou errado” (VALDEZ, 2000, p.64). ...”Queremos ilustrações que, juntamente com os textos, permitam as nossas crianças e a nós mesmos ampliar os diferentes significados que o mundo rico da literatura infantil nos apresenta. Que os nossos autores e autoras pensem com muito cuidado a ilustração de seus textos, e que os ilustradores usem e abusem das diferentes técnicas que a arte plástica nos oferece. Que nós, contadores de histórias, passemos a citar o ilustrador ou ilustradora, que sem dúvida também é autor, e tão importante como quem escreveu e quem editou o texto escrito.” (VALDEZ, 2000, p.64 - 65). A Literatura Infantil surge diante do pensamento mágico que dominava em lugar da lógica que conhecemos. Por entender que a natureza mágica consegue atrair espontaneamente as crianças. A Literatura Infantil torna-se privilegiada quando é reconhecida pelo trabalho dos Irmãos Grimm, na 17 Alemanha; de Hans Christian Andersen, na Dinamarca; Garret e Herculano em Portugal; etc. Segundo estudiosos do assunto, “o maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada às crianças”. A criança consegue compreender alguns valores de convívio social, através das personagens, independentes de suas características, sejam estas boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. A Psicanálise explica que a criança identifica-se com o herói, com o bom e o belo, por sentir neste a própria personificação de seus problemas infantis. Por ter uma linguagem próxima ao pensamento mágico das crianças, o maravilhoso, a fábula, os mitos e as lendas apresentam facilidade no que diz respeito à comunicação. Compreende-se que a sociedade contemporânea é marcada pelo passado, por releituras de historias antigas, pela retomada de clássicos universais e brasileiros, por contos de fadas tradicionais, etc, onde tais tendências marcaram a produção brasileira pra crianças e jovens. Com a ascensão da “era tecnológica”, o homem sente a necessidade de reencontrar seu lugar no mundo, e para isso, é preciso buscar no passado referências para entender o presente. Daí a importância de ter contato com livros, de relembrar das histórias na infância, de se autoconhecer. “A arte de contar histórias é uma atividade humana primitiva, possivelmente uma das primeiras manifestações artísticas do homem”. (Coletânea de textos, p.9).Os contos têm histórias marcadas na idade média, mas é na modernidade que estes contos ganharam o mundo através da oralidade, com os Irmãos Grimm e Charles Perraut. Estes contos tinham a finalidade de divertir, encantar e levar o ouvinte ao mundo da fantasia e imaginação. Antes de trabalhar uma historia com a criança, o educador precisa compreendê-la, levando em consideração o ponto de vista literário, a faixa 18 etária, as condições sócio-econômicas, etc. Outro aspecto relevante é o fato do narrador gostar da história que irá contar, pois esta precisa despertar a sensibilidade, a emoção,... O cuidado que se deve ter é na infância: escolher a história certa para a fase correta da infância. Ao escolher a história, o contador não pode omiti-la quando esta trata de momentos de dor, angústia, violência, dúvidas, etc, pois a criança perceberá um mundo imaginário “perfeito”, o que não é verdade. O educador/contador de história deve ter um olho de leitor crítico e também ler com o coração.” As crianças sempre perceberão nas histórias dois pontos: o conflito e a solução. E poupá-las, poderá provocar-lhes o desinteresse em resolver seus próprios conflitos e até, se ao ler ou ouvir histórias - que não tenham esse conflito- poder-se á causar danos a elas e, ao invés de ajudá-las, nós as prejudicaremos, como também desmistificaremos sua capacidade de compreensão.” (Coletânea de textos, p.11). Muitos pais ainda não compreendem a fundamental importância que os contos de fadas representam para a vida de seus filhos, a preocupação está nos conteúdos que serão ensinados durante o ano letivo. Eles querem que as cabeças de suas crianças funcionem como a deles, sem perceber que ainda não há maturidade para tal, pois esquecem que a exploração dos sentimentos é um ingrediente indispensável para a formação do caráter humano. A sabedoria é algo que se constrói desde os primeiros anos da infância, assim aprendemos a lidar com nossos próprios sentimentos, tentamos nos conhecer e a buscar respostas para o sentido da vida. Pode-se ressaltar que os contos de fadas cumprem papel relevante no que se diz respeito à magia, ao envolvimento, ao despertar das crianças, na conquista de seus valores e no desenvolvimento seu intelecto. Os contos de fada encontram-se espalhados por todas as civilizações, e faz parte da cultura humana, onde há séculos atrás já se contavam histórias, 19 e mais histórias...”A primeira coleção de contos, porém, com motivos do folclore europeu, denominada Gesta Romanorum, só surgiria no século XIV, escrita em latim”.(Coletânea de textos, p.16). Os contos de fadas têm o poder de impressionar os leitores e ouvintes, uma vez que suas histórias conseguem nos instigar, fazer com que despertamos nossos sentimentos. A criança começa perceber a si mesma e ao mundo que a cerca, começa a “despertar seu imaginário infantil”. Diante do mistério que acontece nos contos de fada, a criança pode abordar os fatos da forma que acredita ser possível e, mais tarde, conseguirá compreendê-la sem esquecer sua verdadeira essência. Neste mundo de transformação dos valores básicos da sociedade, quando se faz urgente dinamizar a Educação, a partir de suas bases, os estudos sobre a Literatura Infantil adquirem uma fundamental importância. Segundo Novaes (1991), os seres humanos através de sua consciência cultural se desenvolvem e se realizam de maneira integral. Desta forma é fácil compreendermos a importância do papel que a Literatura pode desempenhar para os seres em formação. É ela, dentre as diferentes manifestações da arte, a que atua de maneira mais profunda e duradoura no sentido de divulgar os valores culturais que dinamizam uma sociedade. Ao estudarmos a história das culturas e o modo pelo qual elas foram transmitidas de geração para geração, verificamos que, na transmissão de seus valores, a Literatura foi o seu principal veículo. Daí, a importância que se atribui, hoje, a orientação a ser dada a criança, no sentido de que, ludicamente, sem tensões ou traumatismos, elas consigam estabelecer relações fecundas, entre o universo literário e seu mundo interior, para que se forme, assim, uma consciência que facilite ou amplie suas relações com o universo real que ela esta descobrindo dia-a-dia e onde ela precisa aprender a se situar com segurança, para nele agir. 20 De acordo com a Psicanálise o “maravilhoso” ainda continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura que destina-se às crianças, pois os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados ao amadurecimento emocional do homem. É nesta fase que a literatura infantil pode ser decisiva na formação da criança, e aí está a literatura para servir de mediadora para tal tarefa. Ao selecionar um livro para trabalhar com as crianças, o educador deve ter o cuidado com a escolha para que este não esteja defasado e que faça parte da realidade de seu educando. Os livros infantis tem sido um dos mediadores mais eficazes nas relações de prazer e de conhecimento que a criança traz de mundo. A Literatura Infantil pode ser trabalhada também através das estóriasem-quadrinhos, que tem sido considerado como processo de leitura acessível ou mesmo adequado às crianças pequenas. As crianças menores demonstram maior interesse pelos livros ilustrados, pela facilidade que estes “falam” à mente infantil, e por fazer parte das necessidades especificas da criança. As imagens do livro infantil são essenciais no processo de comunicação e é característico da infância. “Daí o fascínio da meninada pelas estórias-em-quadrinhos não resulte apenas no fato de gostarem desse tipo de literatura “fácil”, mas porque essa literatura corresponde a um processo de comunicação que atende mais facilmente à sua própria predisposição psicológica.” (COELHO, 1991:194). A literatura em quadrinhos oferece uma grande riqueza de propostas para serem exploradas em beneficio das crianças, embora seja atacada por uns e defendida por outros. Mesmo assim, esta modalidade vem se firmando cada vez mais na indústria cultural contemporânea. Em nosso país, ainda não 21 há uma produção de estória-em-quadrinhos que represente o nacional, mas vem crescendo continuamente e a maior parte de que circula em nosso mercado ainda é de matrizes estrangeiras. E dentro desse novo contexto, não podemos deixar de citar Maurício de Souza que criou A Turma da Mônica, que tornou-se a mais famosa e bem sucedida família de personagens de estóriasem-quadrinho do Brasil. Para que os contos de fadas sejam importantes no desenvolvimento infantil, é necessário que o educador proporcione a grupos de crianças momentos de contação de historias, sejam estas: clássicas, educativas, inventadas, contos de fadas. Através dessas histórias, as crianças podem viajar num mundo imaginário e criar as suas próprias fantasias. O educador precisa transformar sua prática pedagógica, atualizando e pesquisando conteúdos novos para diversificar suas exposições em relação às histórias infantis. Ao contar as histórias para as crianças, o educador precisa observar o envolvimento que elas demonstram com estas e com as personagens, suas reações fazem com que a criança relacione as personagens com sua própria personalidade. Para que a história tenha vida, é necessário que o papel do contador, que este coloque emoção, entonação. O educador pode utilizar diversos meios para trabalhar uma história, como por exemplo, narração oral sem o auxílio de livro de imagens, narração oral com auxílio de imagens, fantoches e dedoches, fitas de vídeo, CD, DVD, e a narração acompanhada de livros com imagens. É necessário que haja uma preparação antes de se contar uma história, o educador deve preparar e orientar o seu educando para participar da atividade: sentar as crianças em circulo, conversa sobre o silencio, fazer certo suspense sobre o enredo. Há histórias que chamam uma maior atenção das crianças, então o educador poderá contar diversas vezes, explorando-as de 22 maneiras diferentes. Uma das historias que as crianças gostam de escutar muito é dos três porquinhos, pois elas se identificam com os porquinhos e com o lobo. Solicitar às crianças que narrem à história é um momento de encantamento, pois estas ficam fascinadas em representar os personagens. “A importância das histórias de fadas cultivadas na infância é primordial na vida adulta: as crianças elaboram seus conceitos e resolvem seus conflitos mais intrínsecos. A fantasia dos contos dá asas à imaginação e proporciona a descoberta de meios para se defender na vida real.” (Pátio Educação Infantil, 2005:32). Pode-se dizer que muitas experiências vividas na infância permanecem no consciente do indivíduo por toda a vida, uma vez que as sensações trazidas pelos órgãos dos sentidos podem ser revividas se forem despertadas. O trabalho com os contos de fadas, para ser trabalhado de forma positiva, não pode limitar-se a uma atividade apenas rotineira. Após contar uma história, o educador precisa deixar que a criança transporte a magia das histórias para o faz-de-conta, e isso acontecerá através das brincadeiras livres, auxiliadas por materiais e objetos postos á disposição. Para formar futuros leitores, é fundamental que a leitura faça parte da rotina diária das crianças, que as salas tenham espaço reservado para livros, revistas e demais materiais impressos. Estes materiais precisam estar disponíveis, onde todos possam manuseá-los livremente e comecem a entender o sentido do mundo letrado. Um dos segredos de realizar as leituras com as crianças está na entonação, pois ao utilizá-la em voz alta, o educador consegue benefícios diversos, como: permitir a socialização da criançada com as praticas de leitura, fazer com que as crianças se aproximem e familiarizem com a linguagem escrita, aumentar a curiosidade pelos livros e materiais impressos, ampliar as 23 referências literárias, mostrar que a leitura é sempre fonte de prazer e entretenimento, dentre outros. 24 CAPÍTULO II A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL E A PRESENÇA DOS CONTOS DE FADAS Os contos de fadas vivem até hoje porque estão envolvidos no maravilhoso, dentro de uma realidade na qual a criança já viveu. Os contos de fadas. Acontecem em lugares onde qualquer um possa caminhar, através da imaginação, da fantasia... Os autores desses contos têm o cuidado em transmitir à criança a idéia de que não pode viver somente num mundo fantástico, uma vez que necessitam assumir o real. A criança procura buscar soluções no plano da fantasia, utilizando elementos mágicos (fadas, bruxas, anões, duendes, gigantes etc). Nem sempre as histórias que tem personagens com fadas, bruxas, gigantes e outros, podem ser considerados contos de fadas, depende da forma de como estes personagens-chave serão apresentados no contexto da história. Faz-se necessário valorizar os elementos dos contos de fadas, uma fez que estes têm função significativa e importante na compreensão da historia pela criança. Muitos autores da literatura infantil condenam a Walt Disney, ao retirarem dos contos os conflitos, estes perderam sua essência. Estes autores acreditam que não adianta conservar o título, se não se mantém a integridade da história. O adulto deve ter condições emocionais para contar uma história, respeitando os elementos que existe dentro da mesma, se este não se encontra preparado é mais viável oferecer outro livro para que a criança possa folhear, manusear. Isso porque a história não pode perder sua integridade, sua inteireza, a totalidade da narrativa, pois para muitos autores, seria crime a mutilação de uma obra alheia. 25 “Os contos de fadas são tão ricos que têm sido fonte de estudo para psicanalista, sociólogos, antropólogos, psicólogos, cada qual dando sua interpretação e se aprofundando no seu eixo de interesse...” (ABRAMOVICH, 1997,p.121). Segundo Bruno Bettelheim, um estudioso importante e fecundo da literatura infantil, alerta que não se pode dar explicação a uma criança porque o conto de fadas é tão interessante para ela, pois esta perderá o encantamento que há nas histórias, uma vez que a criança se encontra maravilhada pelas mesmas. É importante que o adulto ofereça possibilidades para que as crianças façam suas próprias interpretações, seja de uma situação difícil ou não, onde mais tarde conseguirá resolver seus problemas, suas dificuldades por conta própria, sendo mais seguras de si e dando mais sentido á vida. Podemos destacar os autores mais famosos dos contos, como, Perrault, um erudito e acadêmico francês, que construiu suas histórias junto ao povo, respeitando as características de cada um; Os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, estudiosos e pesquisadores, que usaram seu material fantástico, valorizando a sensibilidade, a ingenuidade, a fantasia e o poético; e Andersen que é considerado o poeta da infância. Os contos de fadas falam de medos...E através das histórias percebese que o que pode provocar o medo é diferente para cada um, que depende da percepção, do enfrentamento, do que assusta de verdade ou não. O medo é visto de forma diferente por parte de autores que escrevem os contos de fadas, pois estes falam de medo da perda, da morte, da solidão, do escuro,... “Pois medos – os mais variados – estão presentes no cotidiano de todos... Medo de escuro, de injeção, de cachorro, de lobisomem, de ladrão... Medo de dentista, de ser reprovado na escola, de levar cascudo, de encontrar um vampiro ou de ter de enfrentar a polícia... Temores reais ou imaginários 26 relacionados à escola, temor dos mais fortes, dos que agem nas sombras ou descoberto, das punições da igreja, do grupo, do próprio ridículo... Medos com os quais todos convivem, dum jeito ou de outro, numa intensidade ou noutra, que se aprende a enfrentar, a desviar, a superar, a substituir, com os quais se aprende a conviver ou a lidar...” (ABRAMOVICH, 1997, p.125). Os contos de fadas falam de amor... Estes abordam sofrimento, descobertas, encantos, possibilidades, entregas, início e término,... O sentimento é marcado nos contos de fadas, e as crianças conseguem demonstrar suas emoções, sensações, através da representação de cada personagem, sejam estes de alegria ou tristeza. Há autores que tratam do amor de diversas formas, com humor, com sofrimento, com poesia, com renúncias, com dores, entre outros. Os contos de fadas falam da dificuldade de ser criança... Ao tratar-se desse assunto, podemos destacar os irmãos Grimm, que em sua trajetória recolheram as mais diversas histórias sobre o assunto. Em suas obras há o respeito pela criança, que é vista como um ser único, especial, inteligente. Existe narrativas que até hoje encantam os corações de pessoas de todo o mundo, como por exemplo, em Peter Pan que não queria crescer, tornase adulto, ou seja, queria ser para sempre um menino. As crianças acreditam nos três desejos que estão na lâmpada de Aladim, ou mesmo nos super poderes do Super-Homem, que procura salvar o Planeta, e a criança sabendo que ainda é um ser frágil imagina que tais forças estarão ao seu lado para conseguir enfrentar o mal. Através de histórias como Branca de Neve e Cinderela, as crianças procuram despertar sua imaginação, como estas gostariam de ser como tais personagens, as meninas sonhando em torna-se princesas, e os meninos como príncipes, heróis. Assim surge a magia, o encanto, a sedução,... As 27 crianças acreditam nos conselhos das “fadas” existentes nos contos, por compreenderem que estas mostram o caminho certo, falam a verdade. Nas histórias há também momentos de aflição, de angústia vividos por personagens infantis, o que não deixa de retratar a realidade em que vivem nossas crianças, seja na família, na comunidade, na escola, na igreja,... A criança se familiariza com algum personagem na busca de encontrar solução para os seus problemas, por isso, a necessidade de valorizar o pensamento de cada uma. Através das histórias as crianças vão buscando formas para lidarem com seus medos, sua fragilidade, seus sentimentos, e ao tornarem-se adultos invocam proteção daqueles nos quais crêem, fazem pedidos para que nada de mal aconteça em sua vida. Os contos de fadas falam de carências... Destacam-se nesses contos carências de afetividade, de perda (morte), a falta de comida (pobreza), separação (família). Para representar estas carências, podemos citar a história de “Joãozinho e Maria, contada pelos irmãos Grimm”. Estes contos retratam o dia-a-dia das crianças, adultos, idosos que vivem nas ruas passando fome, frio e que já perderam a esperança de uma vida digna. Através destas histórias surge à necessidade de reflexão com as nossas crianças, em fazê-las pensar sobre o modo de vida de cada pessoa, e assim trabalhar a valorização por aquilo que possuem, ou mesmo, mostrar gestos de solidariedade, compaixão para com o outro. “Tão parecido com nossos pivetes, com nossas crianças esfomeadas, vendendo seus objetos em esquinas e praças, de dia ou de madrugada, querendo também – como qualquer criança – comida, agasalho, proteção, teto... querendo estar dentro duma casa e não apenas enxergando seu interior pela janela e sendo protagonistas de uma situação social injusta, cruel, desumana... Querendo ser recebidas com carinho, com amor, por sua família – como acontece com aquelas mais ricas 28 – e desejando apenas que isso suceda enquanto ainda estão vivas, e não depois de sua morte...” (ABRAMOVICH, 1997, p. 133). Os contos de fadas falam de autodescobertas... Aqui se destaca a descoberta da própria identidade, o que é fundamental para o desenvolvimento do sujeito. Um exemplo que podemos citar é a história do “Patinho Feio”, que no inicio sente-se descriminado, maltratado por ser considerado feio, e depois se descobre junto à sua espécie (cisnes). Diante desses contos podemos descobrir quem somos, perceber o quanto desejamos, com quem contamos, e lutar com nossas próprias forças, na tentativa de vencermos nossos adversários, conforme nossos valores, percepções, noção de justiça ou injustiça, etc. Acredita-se em forças poderosas, em que podemos enfrentar todo mal existente, como todos os heróis dos contos populares. Os contos de fadas falam de perdas e buscas... Retratam-se também abandonos, esquecimentos, de quem um dia foi significativo para nós, mas que com o tempo nossas lembranças sejam queimadas, sepultadas, e deixamos que isso aconteça com nossos ídolos, nossos sábios,... Esses contos falam também de crescimento, de buscas, como por exemplo, “Bela Adormecida”, que mexe com conteúdos emocionais, sexuais, sociais, entre outros. ...”Pois imaginar é também recriar realidades... Pois é só estarmos atentos ao nosso processo pessoal, às nossas relações com os outros e com o mundo, á nossa memória e aos nossos projetos, para compreender que a fantasia é uma das formas de ler, de perceber, de detalhar, de raciocinar, de sentir... o quanto à realidade é um impulsionador (e dos bons!) para desencadear nossas fantasias...”. 29 A poesia também é uma forma de se trabalhar a imaginação, a fantasia, uma vez que fala, sobretudo de emoções, sentimentos vividos, sentidos, provocados. Fala de amor, de tristeza, de horror, conquistas,... O mundo mágico que a criança pode criar é tão belo, tão colorido, tão iluminado, tão divertido! Para que haja um trabalho significativo com a poesia, faz-se necessário a leitura de um poema com voz alta, emoção, o despertar dos sentidos, como a escolha destes. Saber musicá-los, enfatizando o que mais chamou a atenção da criança, brincar com o sentido das palavras. É importante que a professora respeite o ritmo de cada um, despertando na criança o gosto, o prazer pela leitura, a apreciação pelo livro, o interesse em ouvir histórias e a motivação para que futuramente a recontem. Os contos de fadas encaminham a criança para a descoberta de sua própria identidade e para aquilo que esta pretende “ser” futuramente, e assim poderá passar por experiências que são necessárias para o desenvolvimento de seu caráter. Atualmente, percebe-se que muitas crianças são privadas da oportunidade de conhecer os contos de fadas, pois muitas versões são enfeitadas e simplificadas, o que roubam o significado destas como, por exemplo, nos filmes e espetáculos de tv. Segundo autores que descrevem a respeito da literatura infantil, dizem que durante a história da humanidade, as crianças já possuíam contato com os contos de fadas, e assim eram alimentadas a fantasia e imaginação. A importância dos contos de fadas para o individuo em crescimento está acima de tudo interligado ás maneiras corretas de se comportar neste mundo. As histórias de fadas não pretendem descrever o mundo tal como é, pois o conteúdo escolhido não tem nada a ver com a vida exterior do sujeito, mas muito a ver com seus problemas interiores. Algumas histórias de fadas se desenvolveram a partir dos mitos, outras foram a eles incorporadas. 30 Na visão de Bettelheim, pode-se afirmar que: “Os mitos e os contos de fadas têm muito em comum. Mas, nos mitos, muito mais do que nas histórias de fadas, o herói civilizador se apresenta ao ouvinte como uma personagem que, tanto quanto possível, ele deve emular em sua própria vida”. (BETTELHEIM, 2007:37). As histórias tornam-se significativas também a partir do momento que os pais a contam para seus filhos, uma vez que estes passam segurança para estas crianças. E que estes pais possam compreender e transmitir de forma prazerosa e até mesmo através de brincadeiras estas histórias que desenvolvem criatividade, fantasia, imaginação,... Platão acreditava que as experiências intelectuais contribuem para a verdadeira humanidade. Então sugeriu que os futuros cidadãos de sua república começassem a educação literária. Outros investigadores mostram que há diferenças entre os sonhos e os contos de fadas. No primeiro, a realização de desejo quase sempre é disfarçada, enquanto no outro, surge o alívio para as pressões encontradas, e não só oferece caminhos para resolver os problemas como promete uma solução “feliz” para eles. “... Os contos de fadas deixam que a própria fantasia da criança a decisão de se e como aplicar a si própria aquilo que a história revela sobre a vida e a natureza humanas”. (BETTELHEIM, 2007). A criança consegue adquirir um certo conforto através de um conto de fadas do que acreditar num ponto de vista dos adultos, pois a criança confia no que o conto de fadas diz porque a visão de mundo aí apresentada está de acordo com a sua. 31 Além de encantar, os contos de fadas também instruem, pois tem o poder de falar diretamente às crianças de maneira clara e compreensível. Os contos de fadas podem ser e são úteis para as crianças, sendo inclusive capazes de transformar uma vida insuportável numa vida digna de ser vivida, desde que a criança não saiba o que eles significam psicologicamente para ela. Desde cedo, a criança começa a fantasiar sobre algo da realidade, que pode despertar nela certas necessidades ou angústias de sua vivência, e que mais tarde poderá procurar uma forma para resolver os problemas encontrados, buscando soluções para diversas situações. A mal esboçada capacidade da criança para raciocinar logo é dominados por angústias, esperanças, medos, desejos, amores e ódios-que se misturam a qualquer coisa a respeito da qual ela tenha começado a pensar. Torna-se imprescindível que a criança tenha contato com as histórias de fadas, pois assim desenvolverá sua imaginação, fantasias , compreendendo então seus próprios sentimentos. Assim, afirma BETTELHEIM: “A criança que esta familiarizada com os contos de fadas percebe que estes lhe falam na linguagem dos símbolos e não na da realidade cotidiana. O conto de fadas nos transmite desde o início, ao longo da trama e no final que aquilo que nos é narrado não são fatos tangíveis ou pessoas e lugares reais. Quanto a própria criança, os acontecimentos reais se tornam importantes pelo significado que ela lhes atribui, ou que neles encontra.” (BETTELHEIM, 2007: 90). Por mais simples que seja um conto de fadas, este se lança em acontecimentos fantásticos, fazendo com que a criança sonhe, uma vez que o processo da história não se perde. O conto tem o poder de encaminhar a criança numa viagem a um mundo de fábulas, mas no final consegue devolvê- 32 la á realidade, de maneira tranqüila. Percebe-se que as nossas crianças não podem ficar privadas daquilo que as histórias podem oferecer, pois estas ajudam a solucionar em fantasia pressões inconscientes. Os livros devem ser oferecidos para as crianças desde os primeiros meses de vida, quando conseguem interagir com os livros de borracha e de tecido. No primeiro momento as crianças tocam estes matérias como se fossem brinquedos, que podem ser colocados na boca, e que são produzidos com materiais especiais, incapazes de machucar ou oferecer riscos para as crianças. Estes livros devem apresentar imagens e objetos que favorecem o reconhecimento por parte das crianças. O sentido de ler ou contar histórias para as crianças bem pequenas diz respeito em realizar a leitura em voz alta, que é fundamental nesta fase de desenvolvimento. A leitura em voz alta estimula a habilidade da audição, e importante para a sua criatividade. Para crianças menores de três anos, a importância das ilustrações é imprescindível, pois estes se interessam especialmente pelas imagens. ...”por isso, é necessário que os livros para os pequenos leitores sejam muito claros e simples, de um ponto de vista gráfico, enquanto a clareza e caráter definido do signo representam à garantia de uma melhor compreensão.” (Pátio educação Infantil, 2005:23). As imagens dos livros infantis devem ser coerentes com o texto escrito, levando em conta que as crianças lêem as ilustrações e estão condicionadas por sua prioridade quando se trata da compreensão da história que lemos para elas. As crianças que vivem em experiência diária com livros melhoram sua produção lingüística. A leitura baseia-se no hábito de encontrar um sentido para as imagens e para os signos, no hábito de reconstruir uma história. 33 ...” Justamente por isso, nos primeiros seis anos de vida, a leitura parece essencial. Conscientes de sua importância, tanto os educadores quanto com os pais devem propô-la, respectivamente, na escola e na família.” (Pátio educação Infantil, 2005:24). Faz-se necessário que desde cedo à criança seja estimulada pelos diversos meios de comunicação, primeiramente a TV, pois estes desenvolvem precocemente uma competência perceptiva que lhes permite conhecer os signos da leitura e da escrita. A interação precoce com os livros está ligada a um desenvolvimento lingüístico rico e articulado da criança, e o conhecimento destes deve acontecer no ambiente familiar. O encontro precoce da criança com o livro gera o hábito da leitura e configura-se como garantia de sucesso para sua aprendizagem. O incentivo ao desenvolvimento de “futuros” leitores deve acontecer desde a Educação Infantil, a estas crianças poderão ser comentado ou recomendados algum tipo de texto, compartilhar a leitura de um livro, desencadeando o confronto de idéias e opiniões sobre diversas noticias, desta forma, a criança começa a estabelecer gostos, e reconhecer materiais escritos. No mundo todo, pode-se perceber que as crianças que vivem em ambientes alfabetizadores possuem uma maior oportunidade de construir esse conhecimento naturalmente ao imitar as ações dos parentes e ate mesmo dos amigos. Daí a importância de se trabalhar a literatura infantil ainda na Educação Infantil. “ Além de aproximar as crianças do mundo letrado, a leitura alimenta o imaginário e incorpora essa experiência à brincadeira, ao desenho e ás histórias que todos os pequenos gostam de contar.” (Nova escola Educação Infantil, 2007:17). 34 As crianças pequenas manuseiam materiais impressos diversos, isso é mais uma prova de que é possível formar comportamentos leitores desde muito cedo. Ler e contar histórias para as crianças é importante para elas se familiarizarem com o hábito da escuta, e a escolha dos temas devem estar de acordo com os interesses e a faixa etária destas crianças. 35 CAPÍTULO III QUANDO OS CONTOS DE FADAS FALAM DE SENTIMENTOS... Ao envolver-se com os contos de fadas, a criança começa a viver como aqueles personagens que mais lhe interessam, e este processo faz parte do imaginário, da fantasia, que são despertados durante a contação de história. Os contos de fadas se aproximam das crianças por que envolvem sentimentos diversos, onde os assuntos tratados fazem parte da sua realidade. Através dos contos, a criança consegue a conviver com o medo, e mais tarde passa a enfrentá-los. Não podemos deixar de citar os contos que trabalham os amores, as raivas, as invejas, as ambições, mais também a beleza, a bondade, a justiça, o perdão e o amor. Para que as histórias sejam interessantes para as crianças é necessário que haja um pouco de humor quando estas são trabalhadas. Existem diversos autores na nossa literatura infantil que consegue criar personagens que nos fazem sorrir, rir, dar gargalhadas e para que isto ocorra, a obra deve ser inteligente, inesperada, engraçada. Quando se trabalha questões que envolvem os sentimentos, as crianças pedem ao contador / pais / educador para repetirem a mesma história várias vezes, ampliando assim os significados aprendidos ou substituindo-os por outros mais eficazes. Faz parte natural da criança querer saber do nascimento até a morte, sobre o que acontece na vida das pessoas e com a sua própria vida, a descoberta de seu corpo, sua sexualidade, as relações familiares, sobre 36 aflições, tristezas, dúvidas,... Daí a necessidade de escrever histórias sobre se identificar, concordar ou não, etc. e o autor tem que ter a sensibilidade em abordar o tema, sem fugir das questões principais ou fazer de conta que não existem. Ao falarmos de literatura, são abordados nas histórias os vários problemas que a criança está passando ou mesmo que podem ser do seu interesse, assuntos esses que mexem com a realidade, podendo partir de uma linguagem dura, crua, mas também poética, suave, tristonha, humorada, divertida... As questões existentes numa história não podem ser abordadas de maneira superficial, por mais que a criança viva num conto de fadas, diante da fantasia, magia, imaginação, não pode esquecer que vive dentro de um mundo real, cercado de alegrias, tristezas, conquistas, derrotas, buscas, perdas, sonhos, angústias, bem, mal, belo, feio... O assunto a ser discutido numa história precisa ser do interesse da criança, para que haja um maior envolvimento com aquilo que será tratado, os temas deverão ser esclarecedores, e ao mesmo tempo respeita o ético e o estético. É fundamental que o escritor esteja convencido da importância da questão a ser desenvolvida, pois qualquer que seja o tema escolhido, que ele seja trabalhado com verdade, sentimento, vivência, clareza. As histórias abordam as relações familiares, tão presentes na vida da criança e que são vistas de formas diferentes, o que depende do contexto cultural / social em que está inserida. Nestas histórias há relações da criança com os avós, o carinho que as crianças desejam dos pais (principalmente daqueles que trabalham excessivamente), das filhas que se comportam como as mães,... “Assim, uma relação humana é tão bonita, com suas idas e vindas, suas tentativas e desacertos, pra chegar a uma descoberta fundamental!” (ABRAMOVICH, 1997, p. 102). 37 Os escritores mostram através de seus trabalhos, os momentos em que há contação de histórias por parte dos pais, ao relembrarem de sua infância, suas brincadeiras, o que hoje é substituído pela TV, computador, videogame, brinquedos eletrônicos,... Estas histórias tratam também do ciúme que uma criança sente da relação entre o pai e a mãe, mas que mais tarde compreenderá sobre este amor. As relações entre famílias são vistas de diversas formas, umas são estruturadas socialmente, mas desestruturadas emocionalmente, e vive-versa, o importante é trabalhar as histórias de acordo com a realidade de cada criança. Outra questão que é abordada nas histórias é a separação entre os pais, por isso a necessidade de criar personagens que passam por esta situação, assim a criança se identificará ou não com a maneira como reagem / sonham / choram... As crianças passam por momentos de dor, sofrimento, mas ao mesmo tempo sonham com a reconciliação dos pais, fazem planos do final de semana que irá passar ao lado de um deles. Há histórias que demonstram que homem também chora,... “Homem chora claro. E também admite que não sabe muitas coisas, que desconhece muitas respostas sobre algumas emoções e sentimentos seus”. (ABRAMOVICH, 1997, p. 106). Uma questão que podemos ressaltar também é a do crescimento pessoal, em que as histórias narram às dificuldades da criança quando está em fase de amadurecimento. Nestas histórias percebe-se o enfrentamento de problemas pessoais, que envolvem a solidão, a tristeza, a aflição, a angústia,... Segundo autores sobre o assunto, a criança tem maior facilidade em compreender tal situação, uma vez que o adulto finge não se dar conta desta. Trata-se também da construção da identidade da criança, a partir do momento em que ela passa a conhecer seu próprio eixo, e saiba diferenciar o 38 que difere o menino da menina, e vice-versa. O livro deve demonstrar que existem situações diversas na vida, e assim a criança começa a situar-se no tempo e no espaço, buscando respostas para suas interrogações. Em nossa literatura infantil a morte é colocada como se não fizesse parte da vida, e com as histórias a criança escuta a falar sobre o assunto através de notícias, comentários, lamentações, indignações, ou seja, desde cedo a criança começa a conviver com estas perdas. Daí a necessidade de trabalhar histórias que abordam esse tema, tão difícil de ser encarado e aceito pelas pessoas. São poucos autores em poucas histórias que abordam o assunto. As histórias ressaltam a morte de culturas. “É fundamental discutir com a criança, de modo verdadeiro, honesto, aberto, como isso acontece e como poderia não acontecer”. (ABRAMOVICH, 1997, p.114). As histórias falam também sobre as formas do poder, do domínio político, e precisam deixar claro para as crianças como as pessoas exercem seus cargos, quem manda, quem é mandado,...O poder está muito próximo da vida de cada um, seja como cidadão, como aluno de uma escola, etc. A criança pode se inteirar de tantas verdades, de uma forma bonita, poética, crítica, irônica, envolvente. “Ou quando ele mesmo reivindica condições para que haja uma ampliação da visão que a criança tem do mundo, pelas quais deveriam se responsabilizar todos aqueles que se preocupam com a formação do ser humano”: Se eu pudesse dava um globo terrestre a cada criança... Se possível até um globo luminoso, na esperança de alargar ao máximo a visão infantil e de ir despertando interesse e amor por todos os Povos, todas as raças, todas as línguas, todas as religiões!...” (ABRAMOVICH, 1997, p.118). 39 A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, para organizar seu “mundo mágico” seu universo possível, onde ela é a dona absoluta. Neste seu mundo ela constrói e destrói, realizando tudo o que deseja. Desta maneira a Literatura Infantil vai oferecer à criança condições de enriquecimento de sua imaginação. Querer saber sobre as aflições, tristezas, dificuldades, conflitos, dúvidas, sofrimentos que outras pessoas enfrentam, para poder compreender melhor as suas próprias, faz parte das interrogações de qualquer ser humano em crescimento... A criança, dependendo de sua vivência, poderá estar atravessando problemas como estes, levando-a a ter conflitos. Através de uma “boa” Literatura, estes temas são abordados de maneira natural, sem medo, sem reservas, sem fugir das questões principais ou fazer-de-conta que não existem. Por este caminho a literatura se aproximará pouco a pouco da criança, sem com isso perturbar, levando-a a compreender e até resolver seus conflitos e dúvidas. Segundo alguns autores, todos as histórias de fadas para serem completas precisam ter um” final feliz”e assim, afirma Bettelheim: “É compreensível, portanto, que, quando se pede ás crianças para nomear alguns de seus contos de fadas prediletos, dificilmente há um conto moderno entre suas escolhas. Muitas dessas novas histórias têm finais tristes, que não conseguem prover o escape e o consolo que os eventos amedrontadores no conto de fadas tornam necessários, de modo a fortalecer a criança para enfrentar os caprichos de sua vida. Sem tais conclusões encorajadoras, a criança, após ouvir a história, 40 acharia que de fato não há nenhuma esperança de se livrar dos desesperos de sua vida”. (BETTELHEIM, 2007: 203). Ao ouvir histórias, a criança por ser inocente deseja que haja justiça para aqueles personagens considerados “vilões” ou “anti-heróis”, e quando as histórias não possuem este final, elas ficam frustradas. As crianças acreditam que os malfeitores serão castigados, pois é necessário que se elimine a maldade do mundo do herói, uma vez que as crianças se espelham nos heróis que costumam “viver feliz para sempre”. A criança percebe que em sua própria vida há perigos, dependendo das circunstâncias de sua vivência, como ocorre na vida dos heróis, em certos momentos ela sente-se segura, sem preocupar-se com as questões do mundo, mas quando tudo isto modifica num instante, a criança sente-se ameaçada, entra em desespero, choram ou procuram um refúgio. Uma grande dificuldade percebida nos contos de fadas é a angústia de separação, ou seja, o abandono, que é notável em várias histórias infantis. Ao perceber que será abandonada, a criança sente-se desprotegida e sem cuidados, daí o consolo que não será abandonada de forma alguma. A felicidade e a realização podem ser consideradas o consolo máximo do conto de fadas. Em muitas histórias, a criança percebe um mundo de paz, felicidade, consolo, sucesso, bem-aventurança, por isso, a necessidade de se comparar aos heróis, onde as forças do mal serão extintas e nunca mais ameaçarão sua paz de espírito. “Os contos de fadas embelezados ou expurgados são rejeitados, com razão, por qualquer criança que os tenha ouvido na forma original”. (BETTELHEIM, 2007: 207). Para que os contos de fadas sejam significativos, faz-se necessário que estes sejam narrados com emoção, pois se acredita que narradores 41 sucessivos adaptam a história de acordo com as perguntas que as crianças faz, e que estas demonstram medo e prazer. As crianças também convivem com fracasso, assim afirma BETTELHEIM: ... ‘Nesse fracasso também não conseguimos lhe dar a convicção de que, depois de todos os seus esforços, um mundo maravilhoso a está aguardando _e só essa crença pode lhe dar a força para crescer bem, com segurança, autoconfiança e auto–respeito “. (BETTELHEIM, 2007: 220)”. Por mais que a criança viva em um mundo de fantasia, magia, sonhos, onde tudo é perfeito, termina em final feliz, não podemos deixar de trabalhar o fracasso, que está presente em nossas vidas. Trabalhar a conseqüência dos fatos que surgem de maneira positiva para que a criança possa crescer e entender que nem tudo é do jeito que ela espera que seja. Há histórias em eu as crianças sentem agonias, rejeição, sentimentos de inferioridade, angústia, e estas questões precisam ser trabalhadas desde cedo, assim esta criança poderá ter compreensão dos acontecimentos que surgem no nosso cotidiano. Além dos contos de fadas, há outras formas de trabalhar os sentimentos, quando se diz respeito ao aprendizado de nossas crianças. A instituição educacional que se preocupa com a formação da mente da criança, acredita que seja essencial humanizá-la pela sensibilidade e alargá-la pela imaginação, pois compreende-se que a cabeça aprende melhor quando é o coração. A linguagem da arte pode prover o imaginário infantil de símbolos que alimentam a visão mágica da vida, onde os contos fabulosos, a música fertiliza a fantasia e a alma da criança, com ritmo, musicalidade, de forma lúdica que é da infância. 42 A linguagem da arte pode prover o imaginário infantil de símbolos que alimentam a visão mágica da vida, onde os contos fabulosos, a música fertilizam a fantasia e a alma da criança, com ritmo, musicalidade, sonoridade, de forma lúdica que é da infância. “Dar o livro à criança como brinquedo é cultivar nela uma relação prazerosa, agradável e afetiva com o que ele veicula de valioso, em emoções e fantasias, para a interioridade humana.” (RESENDE, 1993:122). Ao se tratar das crianças menores, o sonho é mais intenso que a realidade, uma vez que as mesmas não concebem o real racionalmente. Um dos caminhos para armazenar imagens, sensações e sentimentos está no ler, ver, ouvir, tocar o livro com todos os sentidos, entrar nele para vislumbrar encantos e novidades, tecer surpresas, imaginar irrealidades e viver emoções reais. Faz-se necessário que haja o estímulo sentidos, e assim em sintonia com os olhos, ouvidos, mãos, onde a mente e o coração estarão sempre alerta. Outra forma a ser utilizada para despertar os sentidos positivamente estão nas cantigas de ninar e na vez dos próprios pais através de conversas afetuosas e das brincadeiras infantis. Ao contar histórias para os filhos, seja no colo ou na cama, cresce uma proximidade pela sonoridade das palavras, que muitas vezes são capazes de fazer a criança dormir. “A afetividade que existe na relação da professora com as crianças menores, na escola, é decisiva para introduzi-las no mundo fantasioso e emocionante das histórias, dos poemas, dos jogos, das cantigas, dos brinquedos folclóricos e de músicas acessíveis à sensibilidade infantil. Educador e crianças farão parte de uma mesma realidade, que integra os 43 sentidos, as idéias, as fantasias e as emoções.” (RESENDE, 1993:123). Há diversas maneiras de contar histórias que despertam os sentimentos, tais como: brincar com as crianças, contar histórias oralmente e com o apoio do livro, ler poemas várias vezes e cantá-los com a participação das crianças, ouvir histórias e vivenciá-las em jogos dramáticos, imaginar e criar histórias individuais e coletivas para livros de imagens, entre outros. A literatura infantil possui uma linguagem lúdica (brincar, jogar, arte) que permite a criança interagir, através de seu senso crítico, que contribui para o processo de educação para do mundo. A literatura possui todos os conteúdos das disciplinas, sem a pretensão didática, possibilitando que a criança brinque, e depois aprenda. Assim como os contos de fadas, a poesia também aborda questões que estão relacionadas a sentimentos, uma vez que mexe com a emoção, com as sensações, com os poros. Esta pode ser trabalhada de modo prazeroso, divertido, triste, sofrente, gostoso, lúdico, brincante, se for a intenção do autor. Para alguns autores, a poesia não é mais do que uma brincadeira com as palavras. A poesia também fala de como o amor,o carinho, afeta e modifica os afetos e o jeito de ser e de sentir década um. ‘’Uma lindeza fazer com que a mesma palavra, escrita de forma diferente – uma de trás pra frente, outra de frente para trás – permita tantas aproximações, imagens, relações, descobertas... que um poeta encontra e que fazem com que o leitor se encante.” (TIETZMANN, 1994:48). Diversos poemas retratam os sonhos, os desejos, as vontades, os sentimentos, e fazem com que apareça no leitor a visualidade de seus próprios 44 anseios, desejos ou idéias de felicidade. A poesia também fala de sentimentos vividos, sentidos, provocados, e ate mesmo de lembranças... A poesia fala do sentimento de amor-ternura, de admiração pela simplicidade, pela beleza, forma de relacionar. Há também o sentimento de tristeza, de perda de algo muito querido, presente em tantos momentos da vida. Percebe-se o quanto é importante trabalhar relações que envolvem os sentimentos, sendo que estes estão tão presentes na vida do ser humano, e quando apresentados de maneira positiva, faz com que a criança compreenda a diferença entre o certo e o errado, bom e mal, e assim por diante. A instituição educacional é considerada um dos melhores lugares, e essencialmente primordial para se trabalhar as questões de valores, atitudes e o local e que as crianças possam expressar seus sentimentos, seus, desejos, suas vontades. E através da literatura infantil, pode-se trabalhar tais questões de maneira prazerosa, lúdica, encantadora, e incentivar as crianças a se expressarem cada vez mais. 45 CONCLUSÃO Ao término deste trabalho monográfico, após leituras, pesquisas e reflexões, podemos chegar a algumas conclusões. A literatura é um dos instrumentos essenciais para o indivíduo construir seu conhecimento e exercer a cidadania. Ela alarga nosso entendimento do mundo, propicia o acesso à informação com autonomia, permite o exercício da fantasia e da imaginação, estimula a reflexão crítica, o debate e a troca de idéias. Através da literatura infantil, o educador terá um suporte mediador no trabalho com a criança, levando-o a desenvolver-se como uma pessoa inteira, com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica e sua criatividade, ampliando assim seus referenciais de mundo. No trabalho com a literatura, é primordial que o educador tenha interesse e prazer em realizá-lo traçando objetivos que conduza as crianças, ao hábito de ler com naturalidade, mostrando a elas de forma transparente e seu amor pela literatura. Desta forma, a criança estará motivada a valorizar o livro, e fazer dele algo indispensável ao seu desenvolvimento. Por fim, podemos afirmar que, esta pesquisa proporcionou-nos momentos de reflexão, ampliando a concepção que temos da literatura infantil. Foi um estudo que nos levou ainda mais à certeza de que, como educadores podemos levar a criança através da literatura, a aprender a ler de forma crítica, tornando-se um agente construtor de novas perspectivas, face aos desafios que surgirão nos seus horizontes. 46 BIBLIOGRAFIA ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, Gostosuras e bobices. São Paulo, Scipione, 1997. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo, Paz e Terra, 2007.21° edição revista. CURSOS de Pós-Graduação “Lato Sensu”/ Projeto “A vez do mestre”. Apostila: Educação da criança de 0 a 6 anos, módulo VII- A Literatura na vida da criança, 2007. LISBOA, de Mello Ana Maria, Zaira, Turchi Maria. Tietznann, Silva Vera Maria. Literatura Infanto Juvenil: Prosa e Poesia. Coleção Horus, 1995. NOVAES, Coelho Nelly. O Conto de Fadas, 2° edição, Ática , 1991. NOVAES, Coelho Nelly. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 5ª edição, Ática, 1991. RESENDE, Maria Vânia. 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