Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área de Produção. Reinaldo Fagundes dos Santos PROPOSTA DE UM MODELO DE GESTÃO INTEGRADA DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: APLICAÇÃO NO SEGMENTO DE ELETRODOMÉSTICOS Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados: Prof. Celso Massaki Hirata Pró-Reitor de Pós Graduação e Pesquisa Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2010 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão de Informação e Documentação SANTOS, Reinaldo Fagundes dos Proposta de um modelo de gestão integrada da cadeia de suprimentos: aplicação no segmento de eletrodomésticos / Reinaldo Fagundes dos Santos. São José dos Campos, 2010. 202f. Tese de Doutorado – Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área de Produção Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2010. Orientador: Prof. Dr. João Murta Alves. 1. Administração da cadeia de suprimentos. 2. Teoria das restrições. 3. Aspectos organizacionais. I. Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial. Instituo Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Informação e Documentação. II. Título REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA – SANTOS, Reinaldo Fagundes dos Santos. Proposta de um modelo de gestão integrada da cadeia de suprimentos: aplicação no segmento de eletrodomésticos. 2010. 202f. Tese de Doutorado - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS – NOME DO AUTOR: Reinaldo Fagundes dos Santos TÍTULO DO TRABALHO: Proposta de um modelo de gestão integrada da cadeia de suprimentos: aplicação no segmento de eletrodomésticos TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese de Doutorado / 2010. É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta dissertação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação pode ser reproduzida sem a autorização do autor. iii PROPOSTA DE UM MODELO DE GESTÃO INTEGRADA DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: APLICAÇÃO NO SEGMENTO DE ELETRODOMÉSTICOS Reinaldo Fagundes dos Santos Composição da Banca Examinadora: Profa. Dra. Ligia Maria Soto Urbina Prof. Dr. João Murta Alves Prof. Dr. José Henrique de Souza Damiani Prof. Dr. Fernando Augusto Silva Marins Prof. Dr. Sílvio Roberto Ignácio Pires Presidente - ITA Orientador - ITA Membro Interno - ITA Membro Externo - FEG / UNESP Membro Externo - UNIMEP ITA iv DEDICATÓRIA: Dedico este trabalho aos meus pais: Javel e Jecélia; À minha esposa e amiga: Carmen; E aos meus filhos: Flávia e Bruno. v AGRADECIMENTOS A concretização do doutorado não é o resultado de um esforço individual. Este sonho se iniciou com o sacrifício de meus pais, que garantiram minha formação universitária. Um esforço conjunto de minha esposa e filhos, que abdicaram de inúmeros finais de semana e feriados para que eu pudesse me dedicar ao estudo. Portanto o mérito deste ideal deve ser compartilhado e agradeço imensamente pelo constante incentivo. Quero agradecer a imensurável colaboração e paciência de meu orientador e amigo, Professor João Murta Alves, sempre solicito e preciso em suas ponderações e intervenções. Agradeço aos professores do ITA que sempre de forma amável contribuíram, desde meu mestrado, para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Agradeço também aos meus colegas de curso pelo apoio. Um agradecimento especial aos meus amigos das empresas, onde eu realizei a pesquisa ação. Eles, de forma atenciosa, sempre colaboraram para conclusão deste intento. Também agradeço aos meus amigos: Agnaldo Martins Serra Júnior, pela gentil indicação de meu nome para o ingresso no programa de mestrado e posteriormente no doutorado do ITA e ao meu amigo e companheiro de doutorado, Arcione Ferreira Viagi, que sempre esteve presente nesta caminhada. vi “Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja simplesmente a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.” Domenico de Masi, Sociólogo Italiano vii RESUMO A investigação da mais recente literatura revela que o espectro da competitividade entre as organizações manufatureiras, numa economia cada vez mais globalizada, já não se limita a busca do desenvolvimento de vantagens competitivas pelo aprimoramento dos seus processos internos. Um novo cenário se instala, um novo desafio se apresenta: a necessidade de integração dos processos de negócio entre as organizações de uma cadeia de suprimento visando o desenvolvimento de novos ganhos competitivos. Diante deste cenário, a competitividade já não se limita ao jogo de forças entre as organizações concorrentes, seus fornecedores e clientes imediatos, mas acontece de fato entre cadeias de suprimentos. Entretanto, os atuais modelos de Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM – Supply Chain Management) não vêm cumprindo seu papel, havendo grande disparidade entre os potenciais benefícios e a prática. A presente tese tem como objetivo propor um modelo de SCM e seu método de implementação, visando aumentar a capacidade de resposta ao mercado consumidor das empresas manufatureiras, através do foco nos processos de negócio e particularmente na gestão da demanda, com conseqüente impacto na redução de inventário e lead time. O objetivo também inclui a preocupação com a sustentabilidade onde, em sintonia com o movimento Triple Bottom Line (3BL), busca o equilíbrio entre o resultado das empresas, o respeito às pessoas e a preservação do meio ambiente. O modelo proposto utiliza os conceitos do Pensamento Enxuto (Lean Thinking), da Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints) e do modelo SCOR (Supply-Chain Operations Reference), operando em um ambiente de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O modelo busca, minimizando as limitações e maximizando as vantagens de cada um dos conceitos incorporados, gerar um sistema robusto de gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos. A avaliação de sua eficácia é feita a partir de uma aplicação prática na cadeia de suprimentos do segmento de eletrodomésticos, permitindo sugerir a ampliação do escopo de sua utilização. viii Palavras-Chave: Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM); Teoria das Restrições (TOC); Pensamento Enxuto (Lean Thinking); Supply-Chain Operations Reference (SCOR); Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); VMI; Sustentabilidade, Triple Bottom Line (3BL). ix ABSTRACT The latest research literature reveals that the spectrum of competitiveness among manufacturing organizations, in an economy increasingly global, no longer limited to the search of the development of competitive advantages by improving their internal processes. A new setting is installed, a new challenge sets in: the need for integration of business processes among organizations of a supply chain for the development of new competitive gains. Facing this background, competitiveness is no longer limited to the competition among the organizations, their immediate suppliers and customers, although it occurs between supply chains. However, the current generation of Supply Chain Management (SCM) are not fulfilling their role, there is great disparity between the potential benefits and practice. This thesis aims to propose a model of SCM and its method of implementation, in order to increase responsiveness to consumer market of the manufacturing companies, by focusing on business processes and particularly in the demand management, with consequent impact on inventory and lead time reduction. The goal also includes concern for the sustainability which, in line with the movement Triple Bottom Line (3BL), it seeks a balance between the companies profit, the respect for people and environmental protection. The proposed model uses the concepts of Lean Thinking, Theory of Constraints (TOC) and the SCOR model (SupplyChain Operations Reference), operating in an environment of Information and Communication Technology (ICT) . The model aims, minimizing the limitations and maximizing the advantages of each incorporated concepts, to generate a robust supply chain management system. The evaluation of its effectiveness is made from a practical application in the supply chain of home appliances segment, which allows the expansion of the scope of their use. x Keywords: Supply Chain Management (SCM); Theory of Constraints (TOC); Lean Thinking; Supply-Chain Operations Reference (SCOR); Information and Communication Technology (ICT); VMI; Sustainability, Triple Bottom Line (3BL). xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Proposta Metodológica Figura 2 - Distribuição das Referências por Tipo e Ano da Publicação Figura 3 - Exemplo da Estrutura da Cadeia de Suprimentos de um Segmento Figura 4 - Cadeia de Suprimentos da Empresa Focal Figura 5 - Matriz de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Figura 6 - SCM: Integrando e Gerenciando os Processos de Negócio através da Cadeia de Suprimentos Figura 7 - Tipos Possíveis de Relações de Suprimento Figura 8 - Matriz de Resposta ao Risco Figura 9 - Amplificação da Demanda ou Efeito Chicote Figura 10- Ilustração dos sistemas: Convencional, VMI e Consignação Figura 11- Ilustração do 3BL (Triple Bottom Line) Figura 12- Processos de Negócios Básicos do Modelo SCOR Figura 13- Os 7 Desperdícios (MUDAs) do Lean Thinking Figura 14- Exposição dos Problemas em um Processo Enxuto Figura 15- O Mapa do Estado Atual Figura 16- O Mapa do Estado Futuro Figura 17- Demanda Versus Capacidade de Produção do Produto “A” Figura 18- Demanda Versus Capacidade de Produção do Produto “B” Figura 19- Lógica TPC – Destaque no RRC e Pulmão Figura 20- Lógica TPC – Tambor, Pulmão e Corda Figura 21- Comparação entre os modelos TPC tradicional e TPC – simplificado Figura 22- Evolução histórica dos Sistemas de Gestão Figura 23- Módulos de um ERP Figura 24- Arquitetura dos Sistemas de Comunicação entre Empresas com ERP Figura 25- Módulos de um APS Figura 26- APS Integrando múltiplos ERPs Figura 27- Sistema Público de Escrituração Digital - SPED Figura 28- Cadeia de Suprimentos de Ventiladores de Mesa e Preparadores de Alimentos Figura 29- Cadeia de Suprimentos da Montadora SmallGoods Figura 30- Fluxo de informações do ERP da SmallGoods Figura 31- Logística da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos Figura 32- Matriz Estratégica para Segmentação de Fornecedores Figura 33- Logística da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos Figura 34- Logística da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos Figura 35- Logística da MetalBase na Cadeia de Suprimentos Figura 36- Fluxo de Informações e Produtos da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods Figura 37- Matriz Estratégica para Análise de Risco de Fornecimento Figura 38- Estrutura do Modelo Proposto Figura 39- Operacionalidade do Modelo Proposto Figura 40- Lista de Figuras e Símbolos Utilizados Figura 41- Algoritmo para Identificação e Quebra das Restrições Figura 42- Etapas Físicas do Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods Figura 43- Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods Figura 44- Mapa do Estado Futuro da SC da SmallGoods 27 30 36 38 40 42 44 46 49 53 57 64 71 73 75 77 85 87 90 90 93 101 103 103 105 106 107 113 117 120 121 122 128 132 136 139 145 147 149 155 162 171 175 181 xii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comparativo entre o Pensamento Enxuto e a Teoria das Restrições 94 Tabela 2 - Avaliação do Risco de Fornecimento na Empresa SmallGoods 123 Tabela 3 - Interface entre Fases e Passos com os Pilares do Modelo Proposto 152 Tabela 4 - Resumo das Etapas Físicas 158 Tabela 5 - Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores 167 Tabela 6 - Resumo das Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores 170 Tabela 7 - Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores – Estado Futuro 177 Tabela 8 - Resumo das Etapas Físicas para Criar 1.000 Liquidificadores – Estado Futuro 179 Tabela 9 - Resumo dos Resultados Obtidos 182 xiii LISTA DE ANEXOS Anexo 1 - Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia à Montante Anexo 2 - Perguntas balizadoras relacionadas com a Fabricação Anexo 3 - Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia à Jusante Anexo 4 - Tabela com as Etapas Físicas para criar um Produto 198 200 200 202 xiv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 3BL Triple Bottom Line AA Account Ability ARF Árvore da Realidade Futura APS Advanced Planning and Scheduling ARA Árvore da Realidade Atual B2B Business to Business CD Centro de Distribuição CEPAA Council on Economic Priorities Accreditation Agency CPFR Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment CR Continuous Replenishment CRM Customer Relationship Management CSCMP Council of the Supply Chain Management Professionals eC Electronic Commerce ECR Efficient Consumer Response EDI Electronic Data Interchange EF Empresa Focal ERP Enterprise Resources Planning ETO Engineer to Order GRI Global Reporting Initiative ICT Information and Communication Technology ISO International Organization for Standardization JIT Just-in-Time MFV Mapeamento do Fluxo de Valor MRP Material Requirements Planning MRPII Manufacturing Resource Planning MTO Make-to-Order MTS Make-to-Stock NFe Nota Fiscal eletrônica OHSAS Occupational Health and Safety Management Systems OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas xv OPT Optimized Production Technology QR Quick Response OTIF On time in full PCP Planejamento e Controle da Produção PCS Planejamento e Controle de Suprimentos PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos PVP Planejamento de Vendas Produtivo RRC Recurso com Restrição de Capacidade SC Supply Chain SCC Supply Chain Council SCM Supply Chain Management SCOR Supply-Chain Operations Reference SPED Sistema Público de Escrituração Digital SRM Supplier Relationship Management STP Sistema Toyota de Produção SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats TIC Tecnologia da Informação e Comunicação TOC Theory of Constraints TPC Tambor-Pulmão e Corda TPCS Tambor-Pulmão e Corda Simplificado VMI Vendor-Managed Inventory WIP Work in Process xvi SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO 1.1- Apresentação do Problema em Estudo 1.2- Relevância do Assunto 1.3- Objetivos do Trabalho 1.4- Delimitação do Trabalho 1.5- Proposta Metodológica 1.5.1- Natureza da Pesquisa 1.5.2- Abordagem da Pesquisa 1.5.3- Objetivos da Pesquisa 1.5.4- Questões da Pesquisa 1.5.5- Procedimentos Técnicos da Pesquisa 1.5.5.1- Pela Pesquisa Bibliográfica 1.5.5.2- Pela Pesquisa Ação 1.5.5.3- Pela Pesquisa Participante 1.6- Conteúdo do Trabalho 20 20 23 25 26 27 28 28 28 29 29 30 30 31 32 2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1- Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM) 2.1.1- Panorama Histórico 2.1.2- Definições da Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM) 2.1.3- Pressupostos da Gestão da Cadeia de Suprimentos 2.1.4- Objetivos da Gestão da Cadeia de Suprimentos 2.1.5- O Projeto da Cadeia de Suprimentos 2.1.6- Gestão dos Processos na Cadeia de Suprimentos 2.1.6.1- Gestão de Relacionamento com os Clientes 2.1.6.1.1- Gestão do Poder na Cadeia de Suprimentos 2.1.6.1.2- Gestão do Risco de Desabastecimento na Cadeia de Suprimentos 2.1.6.2- Gestão da Demanda na Cadeia de Suprimentos 2.1.6.2.1- O Efeito Chicote 2.1.6.2.2- Gestão do Estoque na Cadeia de Suprimentos 2.1.7- Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos 2.1.7.1- Triple Bottom Line - 3BL 2.1.7.2- Política Nacional de Resíduos Sólidos 2.1.7.3- Indicadores e Normas Associadas à Sustentabilidade 2.1.8- Considerações Finais 2.2- O Modelo de Referência SCOR 2.2.1- Panorama Histórico 2.2.2- Definições e Princípios do Modelo SCOR 2.2.3- Os Processos de Negócios do Modelo SCOR 2.2.4- Considerações Finais 2.3- Manufatura Enxuta / Pensamento Enxuto 2.3.1- Panorama Histórico 2.3.2- Definições e Princípios do Pensamento Enxuto 2.3.3- Objetivos e Práticas do Pensamento Enxuto 2.3.4- O Fluxo de Valor 2.3.4.1- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Atual) 2.3.4.2- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Futuro) 2.3.5- O Mapeamento do Fluxo de Valor aplicado à Cadeia de Suprimentos 33 33 33 34 36 37 38 40 42 43 43 46 49 51 54 56 57 59 61 62 62 62 63 68 68 69 70 72 74 75 76 77 xvii 2.3.6- Considerações Finais 79 2.4- Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints) 79 2.4.1- Panorama Histórico 80 2.4.2- Conceitos da Teoria das Restrições (TOC) 81 2.4.3- Aplicação dos Cinco Passos da Teoria das Restrições (TOC) 83 2.4.3.1- Existência de gargalos e restrições físicas na empresa 84 2.4.3.2- Quando a restrição está na demanda do mercado, não havendo gargalos 87 2.4.4- Programação de Produção: Tambor, Pulmão e Corda (TPC) 89 2.4.5- Indicadores Globais de Desempenho 91 2.4.6- Extensão do Tambor, Pulmão e Corda para a Cadeia de Suprimentos 92 2.4.7-Considerações Finais 93 2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) 95 2.5.1- VMI e o uso de Ferramentas da TIC na Gestão da Demanda e Estoques 96 2.5.1.1- Eletrônica de Dados (EDI - Electronic Data Interchange) 96 2.5.1.2- Resposta Rápida (QR - Quick Response) 97 2.5.1.3- Resposta Eficiente ao Consumidor (ECR - Efficient Consumer Response) 97 2.5.1.4- Reabastecimento Contínuo (CR - Continuous Replenishment) 97 2.5.1.5- Planejamento, Programação e Reabastecimento Contínuos (CPFR Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment) 98 2.5.2- Internet 98 2.5.2.1- B2B (Business to Business) 99 2.5.2.2- Segurança 99 2.5.3- Evolução da TIC e os Sistemas de Gestão 100 2.5.3.1- Planejamento de Recursos Empresariais – ERP (Enterprise Resources Planning) 101 2.5.3.2- Planejamento e Programação Avançados (APS - Advanced Planning and Scheduling) 104 2.5.4- Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) 106 2.5.5- Considerações Finais 109 3- O MERCADO DE ELETRODOMÉSTICOS 3.1- O Mercado de Pequenos Eletrodomésticos Brasileiro 3.2- Estudo da Cadeia de Suprimentos Escolhida 3.2.1- Estruturação do Estudo de Caso 3.2.1.1- As Entrevistas e os Questionários 3.2.1.2- Os Entrevistados 3.2.2- Características Específicas dessa Cadeia 3.2.3- Tipo e Complexidade dos Produtos 3.2.4- Perfil do Mercado e Consumidor Final 3.2.5- Cultura e Relações Contratuais Predominantes 3.2.6- Estrutura da Cadeia de Suprimentos 3.2.7- Análise SWOT desta Cadeia 3.3- Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos da Empresa SmallGoods 3.3.1- Linha de Produtos 3.3.2- Gestão das Informações do ERP da SmallGoods 3.3.3- Logística da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos 3.3.3.1- A Cadeia à Jusante 3.3.3.2- A Cadeia à Montante 3.3.3.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos 3.3.3.4- Relacionamento com os Fornecedores 110 110 110 111 111 112 112 113 115 115 116 117 118 118 118 120 121 122 123 124 xviii 3.3.3.5- Tecnologia da Informação e Comunicação 124 3.3.3.6- Política de Estoques da Empresa 125 3.3.3.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 125 3.3.3.8- Fabricação 125 3.3.3.9- Abastecimento do Cliente 126 3.4 O Fornecedor de Primeira Camada, ElectroGoods 126 3.4.1- Linha de Produtos 126 3.4.2- Logística da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos 127 3.4.2.1- A Cadeia à Jusante 129 3.4.2.2- A Cadeia à Montante 129 3.4.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos 129 3.4.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 130 3.4.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação 130 3.4.2.6- Política de Estoques da Empresa 130 3.4.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 130 3.4.2.8- Fabricação 130 3.4.2.9- Abastecimento do Cliente 131 3.5 O Fornecedor de Segunda Camada MetalGoods 131 3.5.1- Linha de Produtos 131 3.5.2- Logística da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos 132 3.5.2.1- A Cadeia à Jusante 132 3.5.2.2- A Cadeia à Montante 133 3.5.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos 133 3.5.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 133 3.5.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação 133 3.5.2.6- Política de Estoques da Empresa 134 3.5.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 134 3.5.2.8- Fabricação 134 3.5.2.9- Abastecimento do Cliente 134 3.6- O Fornecedor de Terceiro Nível MetalBase 135 3.6.1- Linha de Produtos 135 3.6.2- Logística da MetalBase na Cadeia de Suprimentos 135 3.6.2.1- A Cadeia à Jusante 136 3.6.2.2- A Cadeia à Montante 137 3.6.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos 137 3.6.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 137 3.6.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação 137 3.6.2.6- Política de Estoques da Empresa 138 3.6.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 138 3.6.2.8- Fabricação 138 3.6.2.9- Abastecimento do Cliente 138 3.7- Limitações do Atual Modelo de Gestão da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods 138 3.8- Considerações Finais 140 4-O MODELO PROPOSTO E SUA OPERACIONALIDADE 4.1- Critérios para a Estruturação do Modelo Proposto 4.2- Estruturação do Modelo Proposto 4.3- Operacionalidade do Modelo 4.3.1- Interação entre a TOC, Lean e Cadeia de Suprimentos 4.3.2- Interação entre o SCOR, Lean e Cadeia de Suprimentos 141 141 146 148 149 150 xix 4.3.3- Interação entre a TOC, SCOR e Cadeia de Suprimentos 150 4.3.4- Suporte da TIC no processo de integração 151 4.4- O Método de Implementação 151 4.4.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 152 4.4.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 160 4.4.3- Terceira Fase: Implantação do mapa do estado futuro do fluxo de valor 164 4.5- Considerações Finais 165 5- APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO 5.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 5.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 5.3- Terceira Fase: O Processo de Melhoramento Contínuo 5.4- Considerações Finais 166 166 176 182 183 6- CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1- Conclusões 6.2- Respostas para as Questões da Pesquisa 6.3- Recomendações para Futuras Pesquisas 184 184 185 187 REFERÊNCIAS 189 ANEXOS 198 20 1- INTRODUÇÃO As organizações são freqüentemente impulsionadas pela necessidade de mudança de paradigma, porém, o novo desafio tem sido conseguir acompanhar estas transições que ocorrem a períodos cada vez mais curtos. A partir da Europa artesanal na Idade Média, os períodos de tempo entre essas mudanças estão diminuindo de forma cada vez mais acentuada. Na atualidade a economia é influenciada pela comunicação, em que as empresas industriais, e não apenas estas, têm enfrentado um ambiente complexo e de competição acirrada. Operações globalizadas onde as barreiras de entrada são reduzidas, tornando os clientes mais exigentes. Aliado a esses fatores, o processo de desverticalização vem sendo ampliado, fazendo com que as empresas dependam cada vez mais dos outros membros de sua cadeia de suprimento (PIRES et al., 2004). 1.1- Apresentação do Problema em Estudo O desenvolvimento da chamada “nova economia" está mudando substancialmente os modos pelos quais a economia em geral e o mundo dos negócios operam (CORRÊA, 2008). Esta nova economia está relacionada diretamente ao problema dos baixos preços asiáticos, o que têm imposto às empresas a necessidade de novas habilidades para gerir estes novos paradigmas (SRIVIDHYA e JAYARAMAN, 2007). Para Padilha e Marins (2005), a competição tem escalas globais, assim, acontecimentos em países distantes podem trazer conseqüências instantâneas para a indústria local. Stéen (2006) afirma que, para manter a competitividade, empresas como a Volvo, Ericsson e Electrolux dentre outras da indústria Sueca, decidiram montar suas fábricas produtivas em regiões de baixos valores de salário como o leste Europeu e Ásia. Diante desse cenário de crescentes desafios impostos pelo mercado, uma empresa já não concorre com outra individualmente, mas sim com as cadeias de suprimento de seus produtos ou de seus concorrentes (LUCENA e SILVA, 2008; 21 SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005; ALVES FILHO et al., 2004; PARRA e PIRES, 2003; GAZOLLA, 2002). A globalização criou mais riscos na cadeia de suprimentos do que propriamente benefícios e estes riscos impõem cada vez mais desafios à estabilidade das organizações (KUMAR e TEWARY, 2007). Gusmão (2004, p. 3) afirma que “o esgotamento da criação de vantagens competitivas através da competição interfirmas criou a necessidade de novas formas de organização e relacionamento, dentre as quais a mais evidente é a Cadeia de Suprimentos”. Como conseguir um resultado sustentável para uma empresa sem uma boa integração de sua cadeia de suprimentos? A busca de um trabalho mais coordenado e integrado dentro da cadeia de suprimento de qualquer setor é reconhecida hoje como mandatória para a busca da competitividade necessária, além do adequado atendimento ao consumidor final. Cresce a cada dia a consciência de que a falta de coordenação e integração na cadeia leva freqüentemente a custos altos, ou baixo nível de serviço prestado ao cliente (GAZOLLA, 2002). Simatupang, Wright e Sridharan (2004) afirmam que as empresas de uma cadeia de suprimentos devem dividir as responsabilidades e benefícios com seus parceiros à jusante e à montante, de forma a criar vantagens competitivas. Estas vantagens são conceituadas por Hansen e Mowen (2001) como sendo a criação de um valor mais adequado para o cliente, por um custo igual ou mais baixo do que aquele oferecido pelos competidores. Nesse cenário, esta vantagem só será obtida, de forma real e sustentável por empresas que estejam realmente integradas aos seus clientes e fornecedores, gerando um conceito de gestão enxuta em toda cadeia de suprimentos. Segundo Flores e Primo (2008), com a evolução dos sistemas produtivo e comercial, a preocupação com customização de serviços, redução de estoques e satisfação dos clientes tem levado o processo logístico a se tornar mais complexo e com altos 22 níveis de exigência, especialmente quando relacionado a alcançar uma vantagem competitiva. Pires et al. (2004) afirmam que a globalização faz crescer consideravelmente o número de competidores capazes de introduzir rapidamente novos produtos e serviços a preços cada vez menores e com melhor nível de serviço. Portanto, diante dos crescentes desafios impostos pelo mercado, torna-se premente a necessidade de ações que concorram para o incremento do grau de competitividade das organizações (LUCENA e SILVA, 2008). O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos vem se apresentando como uma tendência nesta busca, pois é uma filosofia de gerenciamento que propõe processos enxutos, eliminação de desperdícios e minimização de estoque (STÉEN, 2006). O SCM está em sintonia com o pensamento enxuto, que tem como meta a eliminação de qualquer perda na organização (SAURIN e FERREIRA, 2008). Womack, Jones e Roos (2004), também citados por Saurin e Ferreira (2008), afirmam que a produção enxuta possibilita produtos e serviços de alta qualidade, ao menor custo possível e atendendo da melhor forma às necessidades dos clientes. Segundo Scheuffele e Kulshreshtha (2007), na atualidade a principal preocupação tem sido a redução dos estoques, pois, eles conduzem a custos através dos fornecedores e redes de distribuição, porém a globalização tem conduzido às empresas a necessidade de maiores estoques devido aos problemas logísticos relativo às maiores distâncias entre fornecimento e consumo. Dentre os desafios para implantação dos princípios e práticas enxutas, o maior e mais importante deles se refere ao dilema de não permitir o excesso de estoque mantendo um excelente nível de serviço ao cliente. A eliminação desta perda (o excesso de estoque) não depende somente de uma boa gestão interna, e sim de um sincronismo entre a empresa, seus clientes e fornecedores (PIRES et al., 2004; SOUZA et al., 2004). Apesar das melhorias que vêm ocorrendo no desempenho das cadeias de suprimentos, diversas empresas ainda não alcançaram um sincronismo adequado nas operações, resultando em um nível de eficiência 23 não satisfatório. Na quebra de um paradigma podem-se criar novas oportunidades. Algumas empresas estão tendo dificuldade em se desenvolver à partir do paradigma de que o gerenciamento interno da produção na busca da excelência é o único caminho para atingir o sucesso. Na realidade, o projeto e análise da cadeia de suprimentos como um todo é fundamental para desenvolver o seu gerenciamento de forma eficiente (WANG, HUANG e DISMUKES, 2004), não bastando uma empresa adotar os melhores processos internos se os demais membros da cadeia não fizerem o mesmo. Desta forma, é importante, para que as organizações manufatureiras prosperem neste cenário, a utilização de um modelo que possibilite integrar as empresas participantes da cadeia de suprimentos, repensando os condicionantes que as auxiliem a enfrentar os desafios do dia-a-dia de forma eficiente e duradoura. Esta necessidade também se aplica, não se limitando a este segmento, à realidade competitiva das empresas pertencentes ao mercado brasileiro de eletrodomésticos, que se vêem na contingência de aprimorar o seu modelo de gestão e integração para suportar seus objetivos estratégicos de crescimento diante da concorrência globalizada. 1.2- Relevância do Assunto A única motivação que faz com que o investidor mantenha seu capital em uma determinada empresa é a esperança de que o retorno seja pelo menos igual ao custo de oportunidade do capital (ANDIA, 2008). As empresas brasileiras que queiram prosperar nesse novo cenário mundial, extremamente competitivo e fortemente influenciado pelos baixos preços asiáticos, devem buscar a integração de suas cadeias de suprimentos a fim de conservar os empregos locais e os investimentos por parte dos acionistas. Nesse cenário, passa a ser importante nos negócios visar lucros justos, pois somente com lucro razoável – nem grande, nem pequeno – uma empresa pode expandir e tornar-se mais útil a um maior número de 24 pessoas (MATSUSHITA, 1988). Esta relevância também foi constatada por Hansen e Mowen (2001, p. 31) na afirmação de que: A grande melhoria no transporte e na comunicação levaram a um mercado global para muitas empresas de manufatura e de serviços. Várias décadas atrás, as empresas não sabiam sobre, e nem se importavam com, o que empresas similares do Japão, França, Alemanha e Cingapura estavam fazendo. Estas empresas estrangeiras não eram concorrentes, já que os mercados eram separados por uma distância geográfica. Hoje, tanto as empresas grandes quanto as pequenas são afetadas pelas oportunidades oferecidas pela concorrência global. Desta forma, pesquisas vêm emergindo para propor novos modelos de gestão que possibilitem a integração e fortalecimento das cadeias de suprimentos de forma a atender a necessidade e aclamação das indústrias e da sociedade. Esta integração busca melhorar a resposta ao mercado consumidor, passa pela definição dos processos de negócio, com o foco particular na gestão da demanda, processo de negócio chave, com impacto direto na redução de inventário e lead time. A solução deste problema se torna mais relevante na busca de um ciclo virtuoso, em que uma maior integração da cadeia de suprimentos irá propiciar o surgimento de produtos melhores com preços mais atraentes. O aumento da satisfação do cliente aumentará o crescimento estratégico pela geração adicional da demanda e crescimento da participação de mercado (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005). Para Saab Junior e Corrêa (2008, p. 50), “o gerenciamento da cadeia de suprimentos visa primariamente oferecer valor adequado ao consumidor e o máximo retorno sobre ativos para os seus participantes por meio da administração efetiva do fluxo de materiais, informações e recursos financeiros”. A relevância do assunto é maximizada nesse cenário de competição global, onde, os atuais modelos de SCM não vêm cumprindo seu papel e freqüentemente há uma grande disparidade entre os potenciais benefícios e a prática (SIMATUPANG, WRIGHT e SRIDHARAN, 2004). Segundo Goldratt, Schragenhein e Ptak (2000) estes problemas ocorrem porque há muitas dificuldades relacionadas à SC que precisam ser solucionadas por uma gestão mais eficiente. Algumas destas dificuldades são: lead times muito longos, pedidos 25 atendidos com atraso e com utilização de horas-extras, alto nível de estoques desnecessários e/ou falta de material necessário, mudança costumeira na priorização dos pedidos, com conseqüentes conflitos de programação de recursos e muito mais. A prosperidade da manufatura depende basicamente de adaptação constante, implicando neste momento na forma com que as empresas irão evoluir em suas estruturas de gerenciamento da cadeia de suprimentos de forma a aumentar a visibilidade da demanda e manter baixos níveis de inventário (AZEVEDO, 2002). Neste cenário, a capacidade de uma empresa mobilizar e explorar tudo o que representa o seu conhecimento e tecnologia (seus ativos intangíveis) passou a ser mais decisiva do que investigar e controlar os ativos físicos (CAMPOS, 1998). Neste ambiente, a Tecnologia da Informação assume papel relevante como fonte de vantagem competitiva, baixando os custos das atividades que agregam valor ao cliente e gerando diferenciação para a empresa (FERREIRA e LAURINDO, 2008). Diferentemente da tripulação de um barco, os membros de uma cadeia de suprimentos não estão sentados juntos. Eles estão em múltiplas empresas, algumas vezes a milhares de quilômetros e em diferentes fusos horários (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005). Nesse contexto, dentre vários mercados, também estão inseridas as empresas manufatureiras pertencentes ao segmento de eletrodomésticos, em que melhorias internas não proporcionarão as vantagens competitivas necessárias para o atual ambiente globalizado de competição. A empresa SmallGoods, multinacional de grande porte desse segmento, que foi uma das empresas objeto da Pesquisa Ação (MIGUEL et al., 2010) a ser descrita, se viu também na necessidade de buscar, através de uma melhor gerenciamento e integração de sua cadeia de suprimentos, vantagens competitivas perante seus concorrentes. 1.3- Objetivo do Trabalho O objetivo geral deste trabalho é propor um modelo de SCM e seu método de implementação visando aumentar a integração entre as organizações de uma cadeia de 26 suprimento. O objetivo também inclui a preocupação com a sustentabilidade onde, em sintonia com o movimento Triple Bottom Line (3BL), busca o equilíbrio entre o resultado das empresas, o bem estar das pessoas e a preservação do meio ambiente. Para a consecução deste objetivo foram estabelecidos três objetivos específicos: Realizar uma investigação sobre os atuais modelos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM), incluindo o modelo SCOR com suas vantagens e limitações operacionais. Serão investigados os principais conceitos, vantagens e dificuldades que envolvem os sistemas de Manufatura Enxuta e da TOC. Esta análise será complementada com o estudo do atual estágio da utilização de ferramentas de TIC no processo de integração; Propor um modelo integrado de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos; Diagnosticar e aplicar o modelo proposto em um conjunto de empresas do segmento de pequenos eletrodomésticos brasileiro, abrindo um amplo campo de pesquisa para novos trabalhos. 1.4- Delimitação do Trabalho Este trabalho procura apresentar uma visão bem delimitada quanto a sua abordagem. O primeiro limite colocado se deve a opção por não utilizar de outras ferramentas de gestão e de TIC para, em conjunto, suportar possíveis mudanças culturais e os processos chaves de negócio. Um segundo limite se refere a não utilização de sistemas de TI voltados à simulação durante a implementação do modelo proposto. O terceiro limite colocado refere-se ao fato do modelo, ainda que concebido para o aprimoramento da cadeia como um todo, ter sido aplicado somente à montante da empresa focal. 27 O quarto limite se deve ao uso limitado do modelo SCOR devido ao custo elevado do mesmo para sua utilização plena. O quinto e último limite se deve ao fato de organizações de uma cadeia participar de outras cadeias de suprimento, até mesmo de cadeias concorrentes, gerando sistemas paralelos de gestão interna, incluindo o desafio de gerir conflitos culturais. Este trabalho se limita a apresentar um modelo de gerenciamento integrado para cadeia de suprimentos, dentre muitos outros possíveis, com foco no aprimoramento da gestão da demanda, processo de gestão chave para melhorar a resposta ao mercado consumidor. 1.5- Proposta Metodológica Para atender os objetivos deste trabalho, a metodologia de pesquisa utilizada foi estruturada sobre quatro pilares: quanto a sua natureza, abordagem, objetivos e procedimentos técnicos utilizados, como apresentado na Figura 1. A importância da escolha adequada da metodologia de pesquisa a ser utilizada é justificada pela necessidade de embasamento científico adequado, buscando a melhor abordagem de forma a endereçar as questões da pesquisa, pois a ciência é constituída da aplicação de técnicas, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos (MIGUEL, 2007). PESQUISA Natureza Aplicada Abordagem Qualitativa Objetivos Procedimentos Técnicos Exploratória Pesquisa Bibliográfica Descritiva Pesquisa Ação Pesquisa Participante Figura 1 – Proposta Metodológica 28 1.5.1- Natureza da Pesquisa Optou-se por um trabalho de natureza aplicada, buscando solucionar um problema real que surgiu recentemente nas organizações industriais. Segundo Filippini (1997) também citado por Miguel (2007), a gestão de operações é uma disciplina de natureza aplicada, desenvolvida a partir da necessidade de solucionar problemas concretos que surgem nas organizações industriais ou de serviços. 1.5.2- Abordagem da Pesquisa A diferença entre as abordagens quantitativa e qualitativa, segundo Miguel et al. (2010), é que a primeira tem como foco a estrutura e os elementos da estrutura do objeto de estudo, enquanto a segunda tem como foco os processos do objeto de estudo. Devido ao cunho das necessidades do trabalho, a abordagem deverá ser qualitativa e com a interação entre o pesquisador e seu objeto de pesquisa. Segundo Severino (2008), com a utilização desta abordagem, o trabalho fará referência mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades metodológicas, ou seja, relacionados ao conhecimento e gestão. As interpretações individuais são peças de um mosaico organizacional que o pesquisador qualitativo precisa capturar para entender a complexidade pesquisada (MIGUEL et al., 2010). 1.5.3- Objetivos da Pesquisa Optou-se pelo objetivo exploratório e descritivo para o desenvolvimento deste trabalho, de forma a balancear perspectivas baseadas em uma visão acadêmica aliada a uma visão industrial além da associação de uma perspectiva baseada no conhecimento gerado pelo autor e a partir da associação e análise das duas perspectivas anteriores (PIRES et al., 2004). A pesquisa exploratória foi escolhida para a busca dos atuais modelos apresentados pela literatura e utilizados na empresas. Segundo Forza (2002), a pesquisa exploratória pode 29 ajudar a determinar os conceitos a serem medidos em relação ao fenômeno de interesse e também, como melhor medi-los, além de possibilitar a descoberta de novas perspectivas do estudo. Segundo Cervo e Bervian (1983, p. 55), “a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. Optou-se pela utilização dessa metodologia para aumentar a possibilidade de êxito, pois possibilitará ao pesquisador entender a atual composição do mercado de pequenos eletrodomésticos, suas dificuldades e oportunidades a serem exploradas. 1.5.4- Questões da Pesquisa Para direcionar a condução da pesquisa, na busca dos objetivos estabelecidos, algumas questões mais específicas foram desdobradas: A) Contribuição teórica 1) Qual o atual estágio dos modelos de gerenciamento da cadeia de suprimentos? 2) É possível conseguir um resultado sustentável para uma empresa sem uma boa integração de sua cadeia de suprimentos? B) Contribuição empírica 3) A utilização dos conceitos da Manufatura Enxuta, da TOC e do modelo SCOR, suportados por um ambiente de TIC, contribuirá com o aumento da competitividade das empresas que optarem por sua utilização, aumentando sua capacidade de resposta ao mercado consumidor? 4) É possível contribuir para a obtenção de um Planeta mais sustentável através de um modelo de gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos? 1.5.5- Procedimentos Técnicos da Pesquisa Para os procedimentos técnicos, optou-se inicialmente por uma pesquisa bibliográfica, visita às empresas do setor estudado, seguida de pesquisa ação e pesquisa participante. 30 1.5.5.1- Pela Pesquisa Bibliográfica Strauss e Corbin (2008), citados por Freires e Guedes (2008), afirmam que a ciência é concebida como uma rede de jogos de idiomas, baseado em conceitos e regras subjetivamente determinadas, criadas e seguidas por cientistas. Através da pesquisa e leitura, será possível conhecer o valor estratégico da utilização dos sistemas de gerenciamento da cadeia de suprimento e seu impacto no resultado das empresas. Esta pesquisa, sobre o estado da arte dos modelos disponíveis na literatura, contribuirá para o entendimento dos mecanismos utilizados pelos gestores na tomada de decisão, além de propiciar a avaliação de suas vantagens e limitações. Após o estudo e verificação dos modelos existentes, será proposto um novo modelo de gerenciamento da cadeia de suprimentos. Ao todo foram consultadas 185 referências e foram citadas 134, sendo elas: 50 periódicos internacionais, 17 teses, 19 periódicos nacionais, 10 congressos internacionais e 38 referências entre livros e acessos a Internet. Foram 37 das referências publicadas após 2008, 48 entre 2004 e 2007, 22 entre 2000 e 2003 e 27 anteriores a 1999. A Figura 2 ilustra esta dispersão. A - Periódicos Internacionais B – Teses C - Periódicos Nacionais D - Congressos Internacionais E - Livros e Internet 1 - de 2008 até 2010 2 - de 2004 até 2007 3 - de 2000 até 2003 4 - até 1999 Total 134 A E B 1 2 3 C 4 D Figura 2 – Distribuição das Referências por Tipo e Ano da Publicação 1.5.5.2- Pela Pesquisa Ação Segundo Severino (2008), a pesquisa ação é aquela que, além de compreender, visa intervir na situação, com vistas a modificá-la. Para Miguel et al. (2010), a pesquisa ação pode 31 ser considerada uma variação do estudo de caso, porém no estudo de caso o pesquisador é um observador que não interfere no objeto de estudo. Nesta pesquisa ao mesmo tempo em que foi feito o diagnóstico e a análise das empresas estudadas, foram propostas mudanças que buscam o aprimoramento das práticas analisadas e desta forma caracterizando o procedimento técnico de pesquisa ação. Segundo Sampath (2007) identificar e eliminar enganos em uma atividade existente da cadeia de suprimentos pode resultar algumas vezes em grande melhoramento em um curto espaço de tempo. Há muitos desafios na condução de uma pesquisa, pois ela consumirá tempo e precisará de entrevistadores qualificados além de ser necessário cuidado ao se tirar conclusões. Porém apesar destes desafios, a pesquisa ação pode ter um impacto muito positivo na comprovação do resultado. Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) comparam as habilidades necessárias dos entrevistadores com a de um repórter investigativo e sugerem algumas habilidades necessárias para o entrevistador durante uma pesquisa: Estar preparado para fazer boas perguntas e interpretar as respostas. Ser um bom ouvinte e não se antecipar a interpretação da resposta. Ser adaptável e flexível, para descobrir nas novas situações encontradas uma oportunidade e não uma ameaça. Ter o domínio do assunto estudado. Ser imparcial através de conhecimento pré-concebidos, e assim receptivo e sensível a evidência contraditória. 1.5.5.3- Pela Pesquisa Participante O Pesquisador ao observar os processos, durante a pesquisa, também compartilhou a vivência dos pesquisados, participando, de forma permanente ao longo da pesquisa de todas as atividades, o que segundo Severino (2008) caracteriza uma pesquisa participante. 32 1.6- Conteúdo do Trabalho O presente trabalho está estruturado em seis Capítulos, cujo conteúdo é sucintamente apresentado a seguir: No Capítulo 2 é feita a fundamentação teórica, com uma análise sobre o estado da arte dos modelos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM – Supply Chain Management), incluindo os atuais mecanismos de proteção ao meio ambiente. Também são apresentados os conceitos da Manufatura Enxuta bem como sua extensão para a cadeia de suprimentos, o modelo SCOR e os conceitos da TOC. Finalizando a fundamentação teórica, são apresentados os conceitos da Tecnologia da Informação e Comunicação. O Capítulo 3 apresenta a estrutura do mercado de pequenos eletrodomésticos no Brasil. Deste mercado foi escolhida, como empresa focal, uma empresa multinacional de grande porte montadora de pequenos eletrodomésticos e fornecedores a três camadas à montante. Nestas empresas, serão detalhadas suas cadeias de suprimentos e atual estrutura de gestão, apresentando seus pontos fortes, limitações, oportunidades e riscos. Na empresa focal serão analisados, a luz da teoria, os possíveis resultados com a implantação do modelo que será proposto neste trabalho. No Capítulo 4 é proposto um modelo de Gerenciamento Integrado da Cadeia de Suprimentos na busca, de forma sustentável, do aprimoramento e aumento da capacidade de resposta das empresas manufatureiras ao mercado consumidor. Um método de implementação também é detalhado neste Capítulo. No Capítulo 5 é apresentada a aplicação do modelo proposto nas empresas estudadas, através de uma pesquisa ação. Finalmente, o Capítulo 6 apresenta as conclusões deste trabalho a partir da análise dos resultados obtidos na aplicação do modelo proposto, destacando a contribuição deste trabalho e sugerindo pesquisas para a continuidade do aprimoramento de sistemas de SCM. 33 2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este Capítulo apresenta os atuais modelos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM – Supply Chain Management), a estrutura do modelo de referência SCOR, o atual estágio de aplicação dos conceitos da Manufatura Enxuta na cadeia de suprimentos, a TOC e sua ferramenta de gerenciamento da produção: Tambor-Pulmão e Corda (TPC), além das ferramentas disponíveis da Tecnologia da Informação e Comunicação para gerenciamento da SC. 2.1- Gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM) Em um cenário de crescentes desafios impostos pelo mercado, uma empresa já não concorre com outra individualmente, mas sim com as Cadeias de Suprimento de seus produtos ou de seus concorrentes. Este ambiente de intensa competição exige das empresas uma clara definição do foco e das prioridades, como também o desenvolvimento e manutenção de competências que a cadeia do produto exige (PIRES, 1998). Gusmão (2004, p. 3) afirma ainda que “o esgotamento da competição interfirmas criou a necessidade de novas formas de organização e relacionamento, dentre as quais a mais evidente é a Cadeia de Suprimentos”. Na atualidade o SCM já é considerado como um importante modelo para alcançar vantagens competitivas entre as empresas manufatureiras (PARRA e PIRES, 2003; SOARES, NAVARRO e LIMA, 2008). 2.1.1- Panorama Histórico Após os movimentos intensos de reorganização interna que caracterizaram os anos 1980 e 1990, os “retornos decrescentes” levaram as corporações a voltar-se para o ambiente externo (SAAB JUNIOR e CORRÊA, 2008). Segundo Cooper, Lambert e Pagh (1997) o termo “Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos” é relativamente novo, tendo sido proposto 34 pela primeira vez na literatura em 1982. Alves Filho et al. (2004) complementam que, apesar disto, apenas nos anos 90 apareceram os primeiros relatos de empresas que, superando os tradicionais paradigmas de orientação dos problemas internos, focalizaram a gestão de suas relações com as demais empresas que compõem sua cadeia de suprimentos. Segundo Soares, Navarro e Lima (2008), a partir dos anos 90, o ambiente industrial têm estado em profunda reflexão sobre os paradigmas referentes ao desenvolvimento dos sistemas produtivos. A lógica entre produção industrial, compras, relação entre empresas e pessoas tem sido revista, expondo mudanças significativas nas Cadeias de Suprimentos (SC – Supply Chain) das indústrias. Neste contexto de gestão colaborativa e tecnológica, surgem novos conceitos empresariais, destacando-se, entre eles, o conceito de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. 2.1.2- Definições do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM) Diversas pesquisas diferenciam o termo rede e cadeia para o processo de suprimentos. Como exemplo, para Pires (2009) o termo cadeia (chain) é uma metáfora imperfeita para tratar das questões deste contexto e sugerem o uso de redes (network), mas reconhece que o termo cadeia de suprimentos se tornou muito popular. Nesta tese, cadeia e rede de suprimentos terão o mesmo significado com uma tendência para o uso da expressão mais popular na literatura “Cadeia de Suprimentos” (SC – Supply Chain). O CSCMP (Council of the Supply Chain Management Professionals) é bem detalhado em sua definição, onde o SCM é tido como a incorporação do planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas desde a origem das aquisições, conversão e todas as atividades da logística. Ele ainda inclui a coordenação e colaboração entre os membros da cadeia, que podem ser fornecedores, empresas intermediárias, provedores de serviços terceirizados até os clientes. Assim, o SCM integra o gerenciamento de fornecimento e demanda nas empresas de uma SC. Na essência, o SCM integra o gerenciamento do 35 fornecimento e da demanda dentro e através das empresas (SOARES, NAVARRO e LIMA, 2008). Pires et al. (2004), bem como Alves Filho et al. (2004), utilizam a definição de SCM adotada pelo Global Supply Chain Forum, ou seja, gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dos principais processos de negócios que produzem produtos, serviços e informações através de uma cadeia de suprimentos que agrega valor para os clientes e as demais partes interessadas e envolvidas (stakeholders). Para Cooper e Ellram (1993), bem como para Stéen (2006), a essência do SCM é que empresas independentes, ou parte de empresas, trabalham juntas para controlar, gerenciar e melhorar o fluxo de materiais, bem como dividem informações importantes. De forma mais genérica, Queiroz (2009) utiliza a definição de redes de suprimentos como um tipo de relacionamento inter-organizacional, ou melhor, é a forma pela qual as empresas estão ligadas entre si. Lummus e Vokurka (1999) catalogaram diversas definições para gerenciamento da cadeia de suprimentos de forma a montar um guia de estudo. Para Soares, Navarro e Lima (2008) a gestão da cadeia de suprimentos é considerada uma importante maneira para se obter vantagem competitiva, porém, segundo Guarniere et al. (2006) sua execução é uma tarefa complexa que envolve além do gerenciamento das atividades de forma integrada, estratégias de relacionamentos entre fornecedores e clientes através de parcerias baseadas na confiança e colaboração de forma a gerarem vantagens competitivas. Em suma, neste trabalho a Cadeia de Suprimentos é estruturada a partir de um segmento, produto ou empresa e se ramifica desde o consumidor final até a matéria-prima básica, porém seu gerenciamento ocorre somente a partir de uma empresa denominada “Empresa Focal”. Segundo Gazolla (2002), da mesma forma que organizações precisam de líderes, as cadeias de suprimento também precisam. Na prática, a prerrogativa e mesmo a 36 obrigação de ser líder na iniciativa de cooperação cabe ao participante da cadeia de suprimento com maior poder relativo. O diagrama da Figura 3 ilustra um exemplo da cadeia de suprimentos de um segmento genérico. Outros exemplos poderiam ser apresentados onde, com a utilização do mesmo raciocínio, a cadeia de suprimentos poderia ser mais restrita e exprimir a ramificação de um produto, ou ainda, de forma mais específica, uma empresa, como será apresentada na aplicação do modelo. FFn1 FF1 F1 M2 CM 1 FFn2 FF2 F2 M1 CM 21 FFnn FFn Fn Mn CMn CF Legenda: Enésimo Nível: Segundo Nível: Fornecedores Fornecedores Primeiro Nível Montadores de dos dos de Fornecedores Produtos Fornecedores Fornecedores Comércio: Consumidor Atacadistas e Final Varejistas Figura 3 – Exemplo da Estrutura da Cadeia de Suprimentos de um Segmento (Adaptado de Santos e Alves, 2009) 2.1.3- Pressupostos do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Segundo Alves Filho et al. (2004) a maior eficácia no Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos irá propiciar que atividades, processos, fluxos de materiais e informações estejam alinhados e integrados de modo a atender às necessidades de mercado, agregando valor aos produtos e serviços oferecidos. Para Parra e Pires (2003) o gerenciamento da cadeia de suprimentos tem emergido como uma nova e promissora maneira de obter vantagens competitivas no mercado. Simatupang, Wright e Sridharan (2004) lembram que as empresas de uma SC dividem responsabilidades e benefícios com todos os seus parceiros de forma a criar esta vantagem 37 competitiva. Quando todos os participantes de uma SC estão integrados e atuam como uma entidade única, o desempenho global é melhorado, havendo a conciliação entre fornecimentos e demandas por todos os elos da SC resultando na melhora do desempenho. Segundo Gazolla (2002) o processo inteiro de ressuprimento logístico está passando de uma postura "de empurrar" para uma postura "de puxar". Só quando os consumidores compram produtos é que o valor potencial da cadeia de suprimento se materializa. Outro pressuposto, apoiado por Alves Filho et al. (2004), é que os fluxos de materiais, serviços e informações devem ser bidirecionais, ocorrendo entre todas as empresas pertencentes à cadeia. Gazolla (2002) complementa afirmando que, na premissa básica da gestão de relacionamentos, a cooperação entre todos os participantes resultará, em última instância, em sinergia, que, conseqüentemente, propiciará maior nível de desempenho conjunto. 2.1.4- Objetivos do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Soares, Navarro e Lima (2008) afirmam que o objetivo do SCM é maximizar a sinergia entre todas as partes da cadeia para prover ao consumidor final mais efetividade, não somente reduzindo custo, mas também acrescentando mais valor ao produto. Saab Junior e Corrêa (2008) comentam que o gerenciamento da cadeia de suprimentos visa, primariamente, oferecer valor adequado ao consumidor e o máximo retorno sobre ativos para os seus participantes por meio da gestão efetiva do fluxo de materiais, informações e recursos financeiros. O principal objetivo de um gerenciamento da cadeia de suprimentos colaborativa é ganhar vantagem competitiva, melhorando o desempenho global através da escolha de uma perspectiva holística para a cadeia de suprimentos (ANGERHOFER, B. J. e ANGELIDES, 2006), ou seja, é cada vez maior a convicção de que a cooperação comercial entre clientes e fornecedores na cadeia de suprimento tem vantagens (GAZOLLA, 2002). Para viabilizar o 38 uso de uma perspectiva holística, Vivaldini, Souza e Pires (2008a) complementam que as empresas têm reduzido o número de fornecedores e concentrado um crescente número de atividades em poucos fornecedores. Esta visão é corroborada por Alves Filho et al. (2004, p. 277) que afirmam que “os fornecedores devem estar organizados hierarquicamente, com um número relativamente pequeno de fornecedores em cada nível da cadeia”. Segundo Aguilar (2004), o gerenciamento da cadeia de suprimentos compreende a utilização de tecnologia de informação, orientação ao processo e planejamento avançado onde, os aplicativos para o gerenciamento da SC consistem de várias aplicações integradas destinadas a automatizar todos os processos da cadeia. Colaboração, processamento de transações e informações entre os participantes são elementos chave para a coordenação da cadeia de suprimentos. 2.1.5- O Projeto da Cadeia de Suprimentos Para o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos é necessário o desenho da SC a partir de uma empresa focal (EF). Esta cadeia envolverá somente os clientes e empresas ligados a EF. A Figura 4 ilustra a cadeia de suprimentos e evidencia a empresa focal escolhida (M1). O sentido a ser percorrido numa cadeia de suprimentos a partir da empresa focal em direção aos seus fornecedores é denominado montante (upstream) e na direção dos clientes como jusante (downstream). Empresa Focal FFn2 FF2 F2 FFnn FFn Fn Sentido Montante (Upstream) M1 CM 1 CM 21 CMn Sentido Jusante (Downstream) Figura 4 – Cadeia de Suprimentos da Empresa Focal (Adaptado de Santos e Alves, 2009) CF 39 Caso outra empresa da rede seja escolhida como focal, a partir dela será identificada uma nova SC. Assim, a estruturação e o gerenciamento da cadeia de suprimentos serão sempre desenvolvidos a partir da Empresa Focal. No projeto da cadeia de suprimentos deverá haver uma reestruturação com foco no aumento do desempenho. Por reestruturação entende-se a simplificação da cadeia de suprimentos, com o objetivo de melhorar principalmente sua eficiência. Na maioria das vezes, a reestruturação da cadeia de suprimentos acaba incorrendo na redução do número de fornecedores e, eventualmente, do número de clientes (PARRA e PIRES, 2003). Queiroz (2009) afirma que os modelos de gerenciamento das cadeias de suprimentos ainda são vistos como sendo complexos, sem que se possa verificar com freqüência uma maior análise do seu sistema de implantação. Por outro lado, Souza Filho, Martins e Pereira (2008) identificaram em seus estudos, no segmento automotivo, uma nova configuração nas cadeias de suprimentos, onde as montadoras introduziram a figura dos sistemistas. Os sistemistas passaram a fornecer não somente peças, mas sistemas completos gerando uma convergência entre as montadoras e a primeira camada da cadeia de suprimentos. Se o projeto e gerenciamento da cadeia de suprimentos podem ser considerados competências essenciais de uma organização, cabe pesquisar então quais são os elementos determinantes que norteiam as mudanças nas cadeias. Dentre os elementos transformadores das indústrias nas últimas décadas está presente a Tecnologia da Informação (SANTOS, 2008). Taylor (2005) propõe a reestruturação da cadeia de suprimentos através de uma matriz de gerenciamento como é representado na Figura 5. A estruturação da cadeia, segundo o autor, está dividida em três níveis atravessando três grandes macro-processos da empresa: Suprimentos, Produção e Demanda. No nível estratégico deverá ocorrer o projeto do produto e simultaneamente, o projeto da cadeia de suprimentos. No nível tático serão executados os 40 planejamentos de materiais, de produção e distribuição partindo da gestão da demanda. Em um nível intermediário, entre planejamento e operação, ocorrerá a gestão dos estoques. Finalmente, no nível operacional ocorrerão os processos de compras, recebimento, gestão da produção, das vendas e entregas. Figura 5 – Matriz de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (Adaptado de TAYLOR, 2005, p.108) 2.1.6- Gestão dos Processos na Cadeia de Suprimentos Nas décadas de 1980 e 1990 as organizações manufatureiras concentraram esforços na mudança de gestão departamental para a gestão por processos. Esta mudança foi impulsionada pelo fortalecimento e disseminação das certificações ISO9000, que é uma norma sistêmica que prevê a gestão por processos através da empresa, desde o recebimento da matéria-prima até a expedição do produto acabado para o cliente. Segundo Pereira e Cruz (2007), O sistema de gestão da qualidade obteve grande reconhecimento através desta série de normas, que proporciona certificação através da ISO9001, atualmente na versão 2008. 41 No final da década de 90 surgiu um novo paradigma onde, os processos de negócio passaram a ser os processos da cadeia de suprimentos e não mais somente da organização. Para Pires et al. (2004) um SCM bem sucedido requer uma mudança do gerenciamento individual para a integração das atividades em processos de negócio na cadeia de suprimentos. Cooper, Lambert e Pagh (1997) propuseram uma nova forma conceitual para o gerenciamento da cadeia de suprimentos, incluindo três elementos: os processos de negócio, o gerenciamento dos componentes e a estrutura da cadeia de suprimentos. Para Cooper, Lambert e Pagh (1998), a sobrevivência e prosperidade das empresas dependem delas operarem suas cadeias de suprimentos como uma extensão de suas empresas, com relacionamento que contemple os processos de negócio desde a matéria-prima básica até o ponto de consumo. Lambert (2010) afirma que os oito macro-processos de negócio, que são apresentados na Figura 6, correspondem a um longo processo de desenvolvimento do próprio autor, iniciado em 1992, com um grupo de pesquisadores em conjunto com executivos de 15 empresas multinacionais participantes do “Global Supply Chain Forum” da universidade do Estado de Ohio. Em 1998 foi definida pelos membros do “Global Supply Chain Forum” que o gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dos processos chaves desde o usuário final através dos fornecedores originais que fornecem produtos, serviços e informações que agregam valor para os clientes e outros stakeholders (COOPER, LAMBERT e PAGH, 1998). Destes processos, os relacionados com o cliente e com a sustentabilidade têm sido considerados como o cerne para um eficiente gerenciamento da cadeia de suprimentos. 42 Figura 6 – SCM: Integrando e Gerenciando os Processos de Negócio através da Cadeia de Suprimentos (adaptado de Cooper, Lambert e Pagh, 1998, p. 2) 2.1.6.1- Gestão de Relacionamento com os Clientes O gerenciamento do relacionamento com os clientes já é um processo de negócio muito difundido entre as organizações. Conhecido como CRM (Customer Relationship Management), ele é definido como uma estratégia empresarial que permite às empresas selecionar e administrar seus clientes com a finalidade de maximizar seu valor a longo prazo (AZEVEDO, 2002). Na busca do conhecimento da demanda, o CRM vem se apresentando como um dos macro-processos chaves de grande importância nas empresas manufatureiras em tempos de globalização e competição acirrada, porém, segundo Azevedo (2002), muitas empresas ainda não conseguiram obter bons resultados do CRM, pois, restringiram seus esforços em 43 implantações pontuais como Call Center, ou banco de dados para marketing, acreditando que estão aplicando o gerenciamento do relacionamento com os clientes. O CRM deve ser entendido como sendo um conceito mais amplo que um conceito multi departamental ou multi empresarial. Ele pode, de forma preditiva, planejar cada um dos stakeholders (funcionários, acionistas, fornecedores, fornecedores dos fornecedores) de forma alinhada com a estratégia da empresa. Segundo os estudos de Azevedo et al. (2006), o processo CRM pode ser decisivo no suporte ao processo de Gestão da Demanda e, considerando o contexto apresentado, é possível notar o quão importante pode ser a compreensão de como estas novas ferramentas podem auxiliar as empresas nos seus processos de negócio. 2.1.6.1.1- A Gestão do Poder na Cadeia de Suprimentos O poder sofre mutações ao longo do tempo, como o exemplo citado por Gazolla (2002), onde na década passada, boa parte do poder passou dos fabricantes para os varejistas, em função do exercício de preferência do consumidor. No que tange a este poder, Parra e Pires (2003) reconhecem a assimetria como um dos cinco pontos importantes no estabelecimento e na consolidação do relacionamento entre parceiros comerciais. A assimetria reflete a habilidade de uma organização em exercer poder, influência ou controle sobre outra. Para Alves Filho et al. (2004), a dependência entre organizações reflete a diferença de poder entre elas, pois uma organização tem mais poder em relação às outras, à medida que controla os recursos disponíveis no mercado. Lucena e Silva (2008) destacam a importância do relacionamento entre os parceiros comerciais no gerenciamento de uma cadeia de suprimentos e apresentam a proposta de Mallmann (1995) para a avaliação deste relacionamento, como mostra a Figura 7. 44 Alta IMPOSSÍVEL “VOICE” Baixa “EXIT” ESTAGNADO Baixo Alto Troca de Informação Comprometimento Figura 7 - Tipos Possíveis de Relações de Suprimento Fonte: Adaptado de Lucena e Silva (2008, p. 59) Nas relações do tipo “EXIT” e “IMPOSSÍVEL”, onde o comprometimento é baixo, Mallman (1995) sugere que, o conflito seja resolvido pela troca do fornecedor. A relação caracterizada por um alto comprometimento e baixa troca de informações é uma relação “ESTAGNADA”, pois, sem a troca de informações, não pode haver sinergia e conseqüentemente não haverá potencial de melhoria. O tipo de relação mais promissor é a “VOICE”, na qual existe ao mesmo tempo grande troca de informações e grande comprometimento. 2.1.6.1.2- A Gestão do Risco de Desabastecimento na Cadeia de Suprimentos Gazolla (2002) lembra que o varejista incorre em risco em conseqüência da armazenagem de produtos do fabricante. A prática tradicional do atacadista é compensar este risco oferecendo aos clientes um sortimento de produtos de vários fabricantes, reduzindo, assim, a dependência de qualquer destes fabricantes e desta forma aumentando seu poder na cadeia de suprimentos. Já as indústrias são afetadas por diversos riscos de desabastecimento e interrupção que podem incorrer de várias formas e serem influenciados por diversos fatores. Srividhya e Jayaraman (2007) apresentam uma variedade de fatores que podem contribuir para as interrupções de fornecimento, variando desde uma instabilidade geopolítica em uma região fornecedora até fatores mais localizados como as greves nos fornecedores. Kumar e Tewary 45 (2007) acrescentam que, se a cadeia de suprimentos é global, o potencial de interrupções da operação se amplifica e pode vir de outras formas: desastres naturais de larga escala, ataques terroristas, incêndios nas fábricas, blackouts elétricos e desafios operacionais como embarcar uma mercadoria em portos pequenos que não comportam o volume necessário. Guarnieri et al. (2006) afirmam que os membros da cadeia devem avaliar a probabilidade de eventos que possam interromper a produção e, até que ponto podem tolerar estes riscos. Desta forma, entender a distribuição do poder passa a ser peça fundamental para minimizar os riscos criados pela globalização e, segundo Kumar e Tewary (2007), os riscos foram maiores que os próprios benefícios gerados nesta nova economia. Kumar e Tewary (2007) afirmam que, no atual ambiente dinâmico de negócios, serão necessários novos modelos de cadeia de suprimentos de forma a absorver os riscos globais impostos. Pires (2009) apresenta pelo menos três alternativas a estes riscos das indústrias: passar a produzir o componente ou realizar o serviço internamente, mudar para um fornecedor mais capacitado ou ajudar o fornecedor atual a melhorar sua capacidade. Srividhya e Jayaraman (2007) sugerem o gerenciamento do risco através da criação de um Perfil de Risco (PR) do fornecedor, apresentado na Figura 8. O PR é a multiplicação de um fator relacionado ao impacto que o fornecedor tem sobre o negócio (caso haja algum problema) pela probabilidade de ocorrência. [Ex.: Um fornecedor com alta probabilidade de interrupção e, no caso de ocorrência da interrupção o impacto no negócio será grande, o PR é 15, ou seja, 5 (alta probabilidade) multiplicado por 3 (impacto sério), PR= 5 * 3 = 15]. Os autores segmentam o perfil de risco dos fornecedores em quatro grupos, sendo, os mais críticos os que obtiveram um PR superior a 15, seguido dos PRs entre 10 e 14, sendo mais brando o risco dos demais grupos com valores entre: 5 e 9, e 1 e 4. 46 Impacto no Negócio Desprezível (1) Marginal (2) Sério (3) Crítico (4) Catastrófico (5) Alta Probabilidade (5) PR= 5 PR=10 PR=15 PR=20 PR=25 Provável (4) PR= 4 PR= 8 PR=12 PR=16 PR=20 Ocasional (3) PR= 3 PR= 6 PR= 9 PR=12 PR=15 Remoto (2) PR= 2 PR= 4 PR= 6 PR= 8 PR=10 Improvável (1) PR= 1 PR= 2 PR= 3 PR= 4 PR= 5 Figura 8 - Matriz de Resposta ao Risco (adaptado de Srividhya e Jayaraman, 2007) Contratos formais e relações cooperativas de longo prazo entre as empresas também são uma forma de amenizar os riscos. Segundo a pesquisa de Alves Filho et al. (2004), cerca de 69% das empresas mantêm compromissos por períodos relativamente longos, apoiados por contratos formais estabelecidos por prazo maior do que 1 ano. Complementando, Corbett e Decroix (2001) estudaram a existência de novos tipos de contratos entre fornecedor e cliente na cadeia de suprimento. Nestes novos contratos a base de pagamento muda da quantidade para o serviço oferecido, porém estes novos contratos não mitigam o risco. Kumar e Tewary (2007) afirmam que o gerenciamento do risco também deve ocorrer através de cada processo chave para identificar vulnerabilidades, definir gatilhos para estas vulnerabilidades, analisar probabilidades de ocorrência de forma a minimizar ou gerar atividades de transferência destes riscos. 2.1.6.2- Gestão da Demanda na Cadeia de Suprimentos Para Azevedo et al. (2006) a palavra “demanda” significa uma necessidade para um produto ou componente particular. Gestão da Demanda é a função de reconhecimento de todas as demandas por produtos e serviços para atender o mercado. Segundo estudos de 47 Aguilar (2004), um dos objetivos da gestão da demanda é melhorar as decisões que afetam a acurácia da demanda e o cálculo dos estoques de segurança necessários para o nível de serviço predefinido. A gestão da demanda é abordada pela literatura como um dos fatores de maior dificuldade para a administração da cadeia de suprimentos, pois sua gestão depende muito do envolvimento de todos os elos da cadeia (VIVALDINI, SOUZA e PIRES, 2008b). O processo de Gestão de Demanda assume uma importância maior quando o ambiente de produção é o de fabricação para estoque (MTS –Make-to-Stock) (AZEVEDO et al., 2006). Para Azevedo (2002) a demanda pode ser classificada em duas categorias, demanda dependente e independente. Em uma cadeia de suprimentos, somente a demanda gerada pelos consumidores finais no ponto de vendas é independente, ou seja, nenhum dos parceiros da cadeia de suprimentos tem controle sobre esses dados (KAIPIA e LAKERVI, 2005). Todas as demais demandas são consideradas dependentes, pois elas são derivadas da estrutura da lista de materiais dos produtos vendidos. Ao contrário da demanda independente, a demanda dependente não necessita ser prevista, pois esta é calculada através da previsão do item do qual depende (AZEVEDO, 2002). Para poder haver o gerenciamento da demanda é necessário entender os padrões de comportamento da mesma: • Tendência: movimento geral de aumento ou declínio do valor de uma variável sob o tempo. A tendência pode assumir os formatos linear, geométrico ou exponencial; • Sazonalidade: um padrão repetitivo de demanda de ano a ano que está relacionado com as quatro estações (primavera, verão, outono ou inverno). Como exemplo, a venda de ventiladores ocorre com mais intensidade no verão, portanto esta demanda é sazonal; • Variação randômica: ocorre quando vários fatores afetam a demanda durante períodos específicos e tal ocorre em uma base randômica. A variação pode ser pequena, com a 48 demanda atual caindo dentro do padrão, ou ela pode ser grande, com pontos largamente discrepantes; • Cíclico: sobre uma oscilação de vários anos ou mesmo décadas, os dados de demanda aumentam e diminuem em formato de ondas devido à influência de eventos. Como exemplo, a demanda tem um acréscimo no período Natalino, portanto este evento é considerado cíclico. Todo evento sazonal é conseqüentemente cíclico, porém nem todo evento cíclico pode ser considerado um evento sazonal (ligado as estações do ano). Variabilidade e incerteza são endêmicas em todos os sistemas, e certamente também são nas cadeias de suprimento (CHATFIELD, HARRISON e HAYYA, 2006). O principal foco do desenvolvimento da visibilidade na cadeia de suprimentos deveria estar no compartilhamento de informação de forma a aumentar o desempenho de todos os participantes da SC (KAIPIA e LAKERVI, 2005). Visibilidade completa é muito difícil e mesmo desnecessária, visto que, segundo Kaipia e Lakervi (2005), para haver visibilidade não necessariamente significa dividir todas as informações com todos os parceiros da cadeia de suprimentos, mas sim que o compartilhamento seja significante e útil. Os benefícios da informação compartilhada incluem melhoria no gerenciamento de estoques, maiores vendas, e melhor entendimento da demanda. Com o aumento da visibilidade aumentará o desempenho da cadeia de suprimentos, porém, Kaipia e Lakervi (2005) afirmam que normalmente a informação que consta nos fornecedores é muito diferente da demanda do consumidor final, pois existe uma associação entre a variabilidade da demanda final e uma carência de visibilidade desta demanda entre os membros da SC. O estudo do Efeito Chicote, que será abordado a seguir, busca analisar esta variabilidade. 49 2.1.6.2.1- O Efeito Chicote A tentativa de diminuir o impacto da variabilidade dos processos gera uma amplificação da demanda no sentido Montante (Upstream) do consumidor (LEE, PADMANABHAN e WHANG, 2004; DISNEY e TOWILL, 2003). Taylor (2005) ilustra o efeito chicote na Figura 9. Empresa Manufatureira 1 Empresa Manufatureira 2 Atacadista Consumidor Final Demanda por Matéria-Prima Figura 9 – Amplificação da Demanda ou Efeito Chicote (Adaptado de Taylor, 2005) O efeito chicote não é um fenômeno novo na cadeia de suprimentos, Disney e Towill (2003) fornecem uma avaliação histórica do problema, incluindo uma discussão sobre a preocupação da Procter e Gamble com este tema na década de 90. Porém McCullen e Towill (2002) afirmam que a tendência de amplificação dos sistemas de distribuição da produção foi descoberta inicialmente nos EUA por Forrester (1958). Cadeias de suprimentos tradicionais são extremamente propensas ao efeito chicote. Disney e Towill (2003) estudaram o Efeito Chicote em uma cadeia de suprimentos de vestuário. McCullen e Towill (2002) apresentam um histórico dos estudos feitos deste fenômeno nos últimos 40 anos que incluem: segmento de produtos eletrônicos; automotivo; papel; produtos do varejo; máquinas ferramentas e embalagens alimentícias. Taylor (2005, p. 38) afirma que “o exemplo clássico da amplificação da demanda é um estudo realizado pela Procter & Gamble no início da década de 90 para investigar as flutuações características na demanda de matérias-primas utilizadas para fabricar as fraldas da 50 marca Pampers”. Este efeito foi então apelidado pela P&G de bullwhip effect ou efeito chicote, que conforme Dias (2003) causa um impacto negativo, aumentando o nível dos estoques de segurança e/ou um prejuízo no nível de serviço aumentando a falta de produtos. McCullen e Towill (2002) descrevem a tendência geral de pequenas mudanças na demanda se amplifiquem em um sistema de distribuição de produção, por exemplo, 10% de aumento de vendas para o consumidor final pode gerar 40% de ampliação da produção à montante. McCullen e Towill (2002) afirmam que a incerteza é a maior causa do efeito chicote. Dias (2003), apoiado por Lee, Padmanabhan e Whang (1997), sugerem as principais causas do efeito chicote e reforçam a necessidade do combate a estas causas: 1- Processamento das variações na demanda – a distorção da demanda surge devido à falta de visibilidade que os fornecedores e fabricantes têm do real consumo de seus produtos. Uma forma de reduzir esse aspecto é compartilhando as informações de consumo com as empresas que atuam na cadeia de distribuição. Mesmo assim, as diferentes metodologias de previsão que são utilizadas entre as empresas vão manter o efeito chicote; 2- Racionamento (compras de prevenção à falta) – em situações em que há falta de produtos, a tendência é que as empresas peçam quantidades maiores do que sua real necessidade. Neste caso, a fim de evitar pedidos distorcidos, o fabricante deve compartilhar informações de estoque e produção; 3- Formação de lotes de compra e de produção – as causas para a utilização dos lotes são os custos fixos de pedido, produção e transporte e a utilização de „períodos de revisão dos estoques‟ sem que o fabricante tenha informações sobre o consumo de seu produto. Dessa forma, o combate ao efeito chicote se dá através da redução dos custos fixos de pedido; 51 4- Variações de preço – as distorções no fluxo de materiais, causadas pelas estratégias de variações no preço, devem ser evitadas com a utilização de outras políticas comerciais como, por exemplo, a política de preço baixo todo dia (every day low price). Outra alternativa é a desvinculação contratual entre a compra e a entrega dos produtos. Assim uma grande compra para obtenção de descontos pode ser dividida em várias entregas em períodos futuros. É muito mais difícil quantificar o impacto do Efeito Chicote na rentabilidade de uma companhia. Disney e Towill (2003) apresentaram estudos desse problema com a utilização de Programação Linear e afirmaram que a eliminação do Efeito de Chicote pode resultar em um aumento mínimo de 5% na rentabilidade das empresas. O Estoque Gerenciado pelo Fornecedor (VMI - Vendor-Managed Inventory) é apontado por Lee, Padmanabhan e Whang (2004) como um dos principais vetores que atuam no sentido da redução do efeito chicote e tem sido aplicado com sucesso neste sentido, porém sua difusão ocorreu somente entre as grandes redes varejistas. Em empresas manufatureiras sua implantação é mais complexa e requer alguns ajustes no modelo devido à maior complexidade da logística interna neste tipo de organização. 2.1.6.2.2- Gestão do Estoque na Cadeia de Suprimentos Ballou (2005) afirma que o objetivo do gerenciamento de estoques é assegurar que o produto esteja disponível no tempo e nas quantidades desejadas. Por outro lado Saab Junior e Corrêa (2008) afirmam que existe sobre o distribuidor uma grande pressão econômica para a redução do seu Estoque Médio. Não somente os distribuidores sofrem esta pressão, o esforço para manter estoques reduzidos é um dos fenômenos mais pronunciados nos últimos anos também no ambiente industrial. Sejam estoques de matérias-primas, de materiais em processo de produção, de componentes ou de produtos acabados, a pressão tem sido para a liberação do 52 capital neles aplicado, o que, conseqüentemente, reduz os custos de manutenção (PARRA e PIRES, 2003). Uma das principais preocupações de uma organização manufatureira na atualidade é a redução do inventário, pois o estoque gera custos através da cadeia de suprimentos por meio dos seus fornecedores (SCHEUFFELE e KULSHRESHTHA, 2007). Quanto mais próximo ao consumidor final, maior a necessidade de manutenção de estoques. Segundo Parra e Pires (2003) nos mercados de consumo, os clientes escolhem entre as marcas disponíveis no momento e, se a marca preferida não estiver no estoque, provavelmente será adquirida uma substituta. Taylor (2005) lembra que os sistemas empresariais apresentam uma variabilidade natural dos atributos, mesmo quando bem administrados. Quanto maior a variabilidade destes valores, mais complicado se torna o gerenciamento da cadeia de suprimentos, com conseqüente aumento dos estoques. Parra e Pires (2003) afirmam que não importa quão sofisticadas sejam as técnicas de previsão, a volatilidade dos mercados leva essas previsões a estarem sempre sujeitas a erros. Para McCullen e Towill (2002) o efeito chicote é ainda um grande e dispendioso problema no mundo real das cadeias de suprimentos. Guarnieri et al. (2006), salientam a necessidade de troca de informações entre fabricantes e fornecedores, principalmente no que tange a informações sobre demanda, pois assim é possível para o fabricante não manter ou reduzir níveis de estoque. Para a minimização dos estoques sem a redução do nível de serviço ao consumidor, as empresas varejistas vêm utilizando o VMI. Disney e Towill (2003) afirmam que o efeito chicote pode ser reduzido ou mesmo eliminado através do uso do VMI, que é um modelo de compartilhamento de informações de demanda e estoque em uma SC. 53 O VMI tem como inovação a forma como distingue controle e posse, os quais normalmente eram transferidos ao mesmo tempo. A Figura 10 apresenta um comparativo do VMI com os modelos, convencional e de consignação. Taylor (2005, p. 46) afirma que no VMI “o fabricante passa a receber atualizações constantes sobre o nível de estoque do varejista e o reabastece conforme necessário, sendo que o cliente mantém a posse dos produtos a serem entregues. Isso permite mais visibilidade aos fabricantes sobre a venda de seus produtos”. Fornecedor Convencional Pedido Programa VMI Consignação Cliente Pedido Pedido Posse dos Produtos Posse dos Produtos Posse dos Produtos Figura 10 – Ilustração dos sistemas: Convencional, VMI e Consignação (Adaptado de Taylor, 2005, p. 46) No modelo convencional, os clientes fazem os pedidos de compras sem a necessidade de informar o consumo ou a demanda futura e presente para o fornecedor. Neste modelo surge o efeito chicote, pois não existe visibilidade da demanda real na cadeia de suprimentos. O modelo consignação, teoricamente, se apresenta muito eficiente, visto que o fornecedor entrega os produtos aos clientes, porém sem a efetivação da venda (processo fiscal denominado consignação). No momento em que o cliente efetua a venda do produto, o fornecedor emitirá a nota fiscal de venda e neste momento ele entregará mais produtos de forma a repor o estoque do cliente. Entretanto este modelo apresenta diversos problemas, tais como: A legislação (em quase todos os países, incluindo o Brasil) não permite este tipo de procedimento, pois postergaria os impostos ao momento da venda. Os impostos são devidos no momento da emissão da nota fiscal; 54 Não é operacional efetuar entregas e faturamento a cada venda do cliente, o que leva a formação de fechamentos periódicos (normalmente mensais) para entrega e emissão da nota fiscal. Desta forma o processo beneficia somente o cliente, havendo a postergação da emissão da nota fiscal de venda e desta forma prejudicando o fluxo de caixa do fornecedor; Não existe melhora na visibilidade da demanda real, o que o fornecedor sabe é que ele deve naquele momento fornecer uma determinada quantidade de peças; Falha no sistema de controle de estoque no cliente levará a perda de credibilidade no relacionamento entre cliente fornecedor, pois o cliente retardou a informação da necessidade de faturamento por parte do fornecedor; Este modelo não incentiva a redução de estoques, somente penaliza o fornecedor com o retardamento de suas vendas. O VMI é um modelo de gestão de estoques onde há um compartilhamento de informações entre cliente e fornecedor. O cliente disponibilizará informações reais de seus estoques e de sua previsão de demanda, cabendo ao fornecedor a gestão das entregas. Neste modelo não existirão mais pedidos de compra, as quais passam a ser de responsabilidade do fornecedor. Os estoques passam a ser repostos em períodos menores e de forma automática, pelo fornecedor, para manter o atendimento à demanda do cliente. No VMI, ao contrário do modelo consignado, a emissão da fatura de venda ocorre em conjunto com a entrega do material ao cliente. 2.1.7- Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos Para Pedroso e Swicker (2007), o tema sustentabilidade vem chamando a atenção dos governos, empresas e pesquisadores nos últimos anos. Segundo Lages, Lages e França (2007), o termo desenvolvimento sustentável nasceu durante a Comissão Mundial sobre o Meio 55 Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em dezembro de 1983, e a publicação do relatório final – conhecido como Relatório de Brundtland – em 1987. Segundo Tayra e Ribeiro (2006), a partir do lançamento do conceito do desenvolvimento sustentável em meados da década de 1980, a sua popularização ocorreu somente após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) (AGENDA 21, 2010). A Agenda 21 se apresenta como um dos principais fundamentos da sustentabilidade, fortalecendo a democracia e a cidadania através da participação dos indivíduos no processo de desenvolvimento, combinando ideais de ética, justiça, participação, democracia e satisfação de necessidades (CATALISA, 2010). Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades (CATALISA, 2010). Nas empresas manufatureiras, após o reconhecimento da qualidade como gerador de vantagens competitivas, foram criados sistemas de gestão para atender a outras questões importantes, tais como o meio ambiente (PEREIRA e CRUZ, 2007). Para Giannetti et al. (2007), as empresas, como forma de assegurar a competitividade, têm incluído entre suas prioridades a preocupação com o meio ambiente. A atuação mais integrada das cadeias de suprimentos pode favorecer a gestão ambiental e proporcionar oportunidades importantes para o desenvolvimento de negócios alinhado com a sustentabilidade (PEDROSO e SWICKER, 2007). Barrella, Almeida e Giannetti (2005) comentam sobre a atual conscientização das empresas para a inclusão de prioridades relacionadas à proteção ambiental como forma de assegurar a competitividade. Segundo Pedroso e Swicker (2007), para as empresas adotarem a sustentabilidade corporativa devem buscar um equilíbrio entre o compromisso econômico, a preservação ambiental e o 56 desenvolvimento da sociedade, assumindo responsabilidades pelas condições de vida atuais e futuras. Estes objetivos são denominados 3BL. 2.1.7.1- Triple Bottom Line - 3BL Segundo Lages, Lages e França (2010), o termo Triple Bottom Line surgiu na década de 1990 e tornou-se conhecido do grande público em 1997, com a publicação do livro “Cannibals with Forks: the Triple Bottom Line of 21st Century Business” de John Elkington, e desde então organizações como o GRI (Global Reporting Initiative) e a AA (Account Ability) vêm promovendo o conceito. Segundo Elkington (2000), um negócio é sustentável se cumprir o 3BL, ou seja, garantir prosperidade econômica para a empresa, qualidade ambiental e justiça social. Kleindorfer, Singhal e Wassenhove (2005) destacam que um dos sintomas da atual pressão pela sustentabilidade é o movimento 3BL relativo à relação entre o lucro, as pessoas e o planeta atuando na cultura, estratégia e operação das empresas. As sociedades têm evoluído na direção do 3BL e as empresas que interpretarem de forma equivocada esta direção, correm o risco de perda de competitividade (ELKINGTON, 2000). Para Lages, Lages e França (2010), as iniciativas do Triple Bottom Line devem estar alinhadas com as diretrizes estratégicas das organizações para garantir uma implementação eficaz nas três dimensões básicas da sustentabilidade: econômica, ambiental e social. Linton, Klassen e Jayaraman (2007) afirmam que estas mudanças requerem gerenciamento não somente para endereçar novos assuntos, mas, para firmemente mudar práticas existentes e criar um novo sistema de produção e gerenciamento. As organizações que adotarem o conceito e as práticas do Triple Bottom Line tendem a ter uma gestão mais consciente e uma maior clareza quanto à própria missão (LAGES, LAGES e FRANÇA, 2010). A Figura 11 ilustra a iteração dos stakeholders com a relação entre as três dimensões para a sustentabilidade (3BL). 57 Fornecedores e Parceiros Equilíbrio entre o compromisso econômico e a preservação ambiental Clientes e Consumidores Funcionários e Colaboradores Equilíbrio entre o compromisso econômico e o desenvolvimento da sociedade Geração de Valor Econômico Viable Equitable Sustainable Responsabilidade Ambiental Bearable Responsabilidade Social Responsabilidade pelas condições de vida das gerações atuais e futuras Meio Ambiente Acionistas e Investidores Sociedade Figura 11 – Ilustração do 3BL (Triple Bottom Line) (Adaptado de: Pedroso e Swicker, 2007; Lages, Lages e França, 2010) A responsabilidade pelas condições de vida das gerações atuais e futuras é dada pela relação “suportável” (bearable) entre o meio ambiente e a sociedade. O equilíbrio entre o compromisso econômico e o desenvolvimento da sociedade é dado pela relação “equitativa” (equitable) entre a Sociedade e a Economia. O equilíbrio entre o compromisso econômico e a preservação ambiental é dado pela relação “viável” (viable) entre a Economia e o Meio Ambiente. O conceito da sustentabilidade está justamente no centro das três dimensões, onde é possível observar a convergência entre a geração de valor econômico, responsabilidade social e responsabilidade ambiental (PEDROSO e SWICKER, 2007; LAGES, LAGES e FRANÇA, 2010). 2.1.7.2- Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) Em Agosto de 2010, foi sancionada pelo Presidente do Brasil a lei referente à Política 58 Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Esta lei é o marco regulatório na área de resíduos sólidos, ela faz a distinção entre e lixo que pode ser reciclado e o que não e passível de reaproveitamento. Siena (2008) aponta a redução na geração de resíduos sólidos como um dos aspectos potenciais para avaliação da sustentabilidade. A PNRS apresenta inovações como à logística reversa, que determina que fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores realizem o recolhimento de embalagens usadas. Foram incluídos nesse sistema produtos como, agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, todos os tipos de lâmpadas e eletroeletrônicos. Brümmer (2010) resume alguns objetivos e a proposta da PNRS, que são sumarizados a seguir: Ela tem como objetivo a não-geração, redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos, bem como destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos. Redução do uso dos recursos naturais (água e energia, por exemplo) no processo de produção de novos produtos, intensificação de ações de educação ambiental, aumento da reciclagem no país, promoção da inclusão social através da geração de emprego e renda de catadores de materiais recicláveis. Sua proposta é instituir o princípio de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, abrangendo fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Ou seja, propõe atribuições compartilhadas, tanto das instituições públicas como das particulares, como também da sociedade em geral. Um dos pontos fundamentais da PNRS é a chamada logística reversa, que se constitui em um conjunto de ações para facilitar o retorno dos resíduos aos seus geradores para que sejam tratados ou reaproveitados em novos produtos. 59 2.1.7.3- Indicadores e Normas Associadas à Sustentabilidade Apesar do grande número de estudos publicados na década de 1990, pouca atenção foi dada ao desenvolvimento de indicadores a serem utilizados nas tomadas de decisão que envolve o aspecto ambiental (BARRELLA; ALMEIDA e GIANNETTI, 2005). Independentemente da diversidade de visões, é fato que o desenvolvimento sustentável está presente como questão fundamental nas políticas governamentais. Por isso, é cada vez mais importante a identificação de indicadores que permitam avaliar o desenvolvimento sustentável. Segundo Siena (2008), os indicadores devem ser desenvolvidos para fornecer base para as organizações no processo decisório em todos os níveis. Segundo Tayra e Ribeiro (2006), na atualidade, centenas de experiências de construção de indicadores, com diferentes modelos e abordagens, estão sendo conduzidas ao redor do mundo. Siena (2008) complementa que, apesar do desenvolvimento de vários indicadores de desenvolvimento sustentável, ainda não existe uma metodologia consolidada. Pereira e Cruz (2007) afirmam que a responsabilidade ambiental e social, da sustentabilidade, está associada com a iteração de três normas, ISO14001, OHSAS18001 e SA8000. Uma empresa sustentável deve ter a preocupação com o meio ambiente, através da certificação ISO14001, associada a uma preocupação com a segurança ocupacional, obtida através da certificação OHSAS18001, além da preocupação com a responsabilidade social, que pode ser comprovada pela certificação SA8000. A utilização da certificação segundo os requisitos de cada uma destas normas pode favorecer a geração de um indicador de sustentabilidade para as organizações. ISO14000 Sistema de Gestão Ambiental Na medida em que a população mundial cresce, os recursos passam a ser consumidos em maior escala e a forma pela qual usamos estes recursos do meio ambiente deverá ser cada vez mais criteriosa. 60 A ISO14000 é um Sistema desenvolvido para ajudar as empresas na proteção do meio ambiente, minimizando os riscos de violação da legislação ambiental. Publicada em sua primeira versão no ano de 1996 (ISO14001:1996), e na atualidade, em sua última revisão feita no ano de 2004 (ISO14001:2004), ela é reconhecida como o mais adequado sistema de gerenciamento ambiental para as organizações e governos. A certificação nestes padrões já é exigência em muitos segmentos e em diversos países. OHSAS18001- Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho Os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (OHSAS - Occupational Health and Safety Management Systems) têm como foco a prevenção de acidentes através de um gerenciamento eficaz, a OSHA18001 objetiva o aumento da eficácia dos programas gerenciamento da segurança e saúde no trabalho. Na busca da eliminação total dos acidentes de trabalho (zero acidentes) a OHSAS18001 busca o engajamento dos colaboradores nas ações preventivas e nas melhorias contínuas dos processos de trabalho. Publicada inicialmente em 1999 (OHSAS18001:1999), na atualidade, encontra-se na revisão publicada em 2007 (OHSAS18001:2007), que substituiu a anterior. Nesta nova revisão, que teve início em 2005 por um grupo de trabalho OHSAS, foram incluídas diversas mudanças refletindo a experiência adquirida através das empresas já certificadas (mais de 16.000 organizações certificadas em mais de 80 países). Qualquer empresa que deseje implantar um procedimento para reduzir os riscos associados à saúde e segurança do trabalhador pode adotar a OHSAS18001. SA8000 - Responsabilidade Social A SA8000 é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social para organizações. Ela é baseada em convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e em outras convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), com sua primeira versão publicada em outubro de 1997 pelo Órgão de Credenciamento do Conselho de Prioridades 61 Econômicas (CEPAA - Council on Economic Priorities Accreditation Agency), ligada a ONU, reunindo Organizações Não Governamentais (ONGs), empresas e sindicatos. Esta norma especifica requisitos de responsabilidade social que devem ser aplicados universalmente em relação à localização geográfica, setor da indústria e tamanho da empresa, possibilitando para as organizações: 1- desenvolver, manter e executar políticas e procedimentos com o objetivo de gerenciar aqueles temas os quais ela possa controlar ou influenciar; 2- demonstrar para as partes interessadas que as políticas, procedimentos e práticas estão em conformidade com os requisitos desta norma; 2.1.8- Considerações Finais A partir dos anos de 1990, no Brasil após a abertura dos mercados, o ambiente industrial tem estado em profunda reflexão sobre os paradigmas referentes ao desenvolvimento dos sistemas produtivos de forma sustentável. Desta forma, torna-se decisivo, para que as empresas manufatureiras prosperem neste novo cenário, a utilização de um sistema que possibilite integrar as empresas participantes da cadeia. Simatupang, Wright e Sridharan (2004) afirmam que os atuais modelos de SCM não vêm cumprindo seu papel e freqüentemente há uma grande disparidade entre os potenciais benefícios e a prática. Não deveriam existir, na cadeia de suprimentos, empresas vencedoras ou perdedoras (ALVES FILHO et al., 2004). Nesse cenário, passa a ser de grande importância a utilização de modelos de referência para apoiar na estruturação das cadeias de suprimentos. Dentre os modelos citados na literatura, foi escolhido o modelo SCOR, a ser discutido na próxima Seção. 62 2.2- O Modelo de Referência SCOR O SCOR (Supply-Chain Operations Reference-model) proporciona em um único modelo a conexão de processos de negócio, métricas, melhores práticas e características tecnológicas de forma a proporcionar suporte à comunicação entre os participantes da cadeia de suprimentos e melhorar efetivamente a sua gestão (SCOR 9.0 Version a, 2010; SCOR 9.0 Version b, 2010). Ele pode ser descrito como um modelo promissor de estruturação na cadeia de suprimentos (HUDSON, 2009). 2.2.1- Panorama Histórico Segundo Pires (2009), o modelo SCOR foi desenvolvido em 1996 por duas empresas de consultoria nos EUA, que no mesmo ano, 1996, fundaram o Supply Chain Council (SCC), com a participação voluntária de 69 empresas. Em 1997, após ter sido testado em diversos segmentos industriais, o modelo foi lançamento e está em contínuo desenvolvimento desde a versão inicial, 1.0, até a versão 9.0 disponível no ano de 2010. O SCC é um órgão independente, sem fins lucrativos, com cooperação global, aberto para todas as empresas e organizações interessadas em aplicar e desenvolver o estado da arte em práticas e sistemas de gerenciamento da cadeia de suprimentos. 2.2.2- Definições e Princípios do Modelo SCOR Segundo Hudson (2009) o modelo SCOR é uma ferramenta de gerenciamento usada para endereçar, melhorar e comunicar decisões no gerenciamento da cadeia de suprimentos dentro de uma empresa e com seus fornecedores e clientes. Pires (2009) descreve o SCOR como sendo um modelo composto por cinco processos de negócios básicos: planejar, abastecer, produzir, entregar e retornar. Para Kasi (2005) o SCOR é um modelo que também provê diretrizes padronizadas sendo indicado para a configuração e medição de desempenho das cadeias de suprimentos. Para Gonçalves e Marins (2006), o SCOR ajuda na escolha dos 63 Indicadores Chave de Desempenho colaborando, assim, com as empresas na busca de um processo que adote as melhores práticas (benchmarking). Comparações quantificam o desempenho da empresa com outras da mesma categoria e estabelece objetivos internos baseados no resultado “best in class” (ser o melhor da categoria) (GONÇALVES e MARINS, 2006). Kasi (2005) descreve como princípio básico do SCOR, capturar o estado atual do processo “as-is” (como está) e derivar para o estado futuro desejado “to-be” (como será). O SCOR proporciona em um único modelo a conexão de processos de negócio, métricas, melhores práticas e características tecnológicas de forma a proporcionar suporte à comunicação entre os participantes da cadeia de suprimentos e melhorar efetivamente o seu gerenciamento (SCOR 9.0 Version a, 2010; SCOR 9.0 Version b, 2010). Chatfield, Harrison e Hayya (2006), após a utilização do SCOR para modelar a cadeia de suprimentos, afirmaram que ele pode ser eficiente desde que a estrutura e detalhes da SC sejam conhecidas. 2.2.3- Os Processos de Negócios do Modelo SCOR Segundo Gonçalves e Marins (2006), o modelo SCOR objetiva ajudar as empresas na avaliação do desempenho da sua própria cadeia, identificando áreas fracas e desenvolvendo soluções de melhoria. Neste modelo, ilustrado na Figura 12, as atividades da empresa são divididas em cinco processos de negócios básicos, planejar; abastecer; fabricar; entregar e retornar. Cada um dos processos deve ser tratado de forma genérica e adaptado a realidade de cada empresa, servindo somente como ponto de partida para a obtenção de um SCM mais eficiente. 64 Planejar Planejar a Cadeia de Suprimentos Planejar Abastecer Planejar fabricar Planejar Entregar Planejar Retornos Abastecer Fazer Entregar Abastecer MTS Make-to-Stock Entregar MTS Abastecer MTO Make-to-Order Entregar MTO Abastecer ETO Engineer-to-Order Entregar ETO Retorno do Abastecimento SCOR Supply-Chain Operations Reference-model Retorno das Entregas (Logística Reversa) Realizar os Processos (Enable) Figura 12 - Processos de Negócios Básicos do Modelo SCOR (adaptado de Pires, 2009) 1- Planejar: Gerenciamento e Planejamento da Demanda/Fornecimento Equilibrar os recursos com as necessidades, estabelecer/comunicar os planos para toda a cadeia de suprimentos, incluindo a execução de processos de abastecimento, produção, expedição e retorno; Gerenciar as regras de negócio, o desempenho da cadeia de suprimentos, a coleta de dados, o inventário, os ativos fixos, o transporte, a configuração do planejamento, as exigências regulatórias e de conformidade, e os riscos da cadeia de suprimentos; Alinhar o planejamento da cadeia de suprimentos com o planejamento financeiro; Definir os indicadores de desempenho adequados ao resultado esperado. 65 2- Abastecer: Abastecer para Estoque, Abastecer para Fabricação sob Pedido ou Abastecer para Projeto e Fabricação sob encomenda Programar entregas, receber, verificar e transferir produtos, e autorizar o pagamento aos fornecedores; Identificar e selecionar as fontes de fornecimento quando não predeterminadas; Administrar as regras de negócio, avaliar o desempenho dos fornecedores, e manter os dados disponíveis; Administrar o inventário, ativos fixos, produtos recebidos, rede de fornecedores, exigências de importação e exportação, acordos de fornecedores e o risco de desabastecimento na cadeia de suprimentos. 3- Fabricar: Fabricar para Estoque, Fabricar sob Encomenda ou Projetar e Fabricar sob Encomenda. Programar atividades de produção, questionar, produzir e testar, embalar, organizar, e liberar para entrega. Com a adição da sustentabilidade, agora há processos específicos para evitar os desperdícios; Finalizar os projetos para produtos projetados sob encomenda; Gerenciar regras, desempenho, dados, material em processo (WIP- Work in Process), equipamento e instalações, transporte, rede de produção, normas de conformidade, e risco para a produção na cadeia de suprimentos. 4- Entregar: Pedidos, Depósito, Transporte, e Administração de Instalação para MTS, MTO ou ETO. Gerenciar todas as etapas de todos os pedidos; Remessa e seleção dos transportes; Administração de armazém desde o recebimento e escolha do produto até o carregamento e embarque; 66 Receber e verificar o produto na planta do cliente; Faturar para o Cliente; Administrar as regras de negócio para as entregas, desempenho, informação, inventários de produto acabado, ativos fixos, transporte, ciclo de vida de produto, exigências de importação e exportação, e risco para o embarque na cadeia de suprimentos. 5- Retornos: Matérias-Primas, Produtos Acabados e Embalagens Este processo de negócio não foi contemplado nas versões originais do modelo. Segundo Pires (2009), com as questões ambientais surgidas nos últimos anos aliado às necessidades de retorno de produtos, materiais e recipientes utilizados nos transporte, este processo de negócio tem ganhado alto grau de interesse e de importância dentro do SCM. Todo o Retorno de Material Defeituoso: vindo dos fornecedores – identificar a condição do material, decidir sobre a devolução, solicitar autorização para a devolução, planejar o embarque, e retornar o material defeituoso. – vindo dos Clientes – autorizar o retorno dos produtos, programar o recebimento, receber, e transferir os produtos defeituosos; Toda Devolução de Material para Manutenção, Conserto, e Revisão: vindo dos fornecedores - identificar a condição do material, dispor o material, solicitar autorização para a devolução, planejar o embarque, e retornar o material – vindo dos clientes autorizar retorno de produto, programar o recebimento, receber, e transferir os produtos defeituosos; Todo o Retorno referente à Excesso: vindo dos fornecedores - identificar a condição de material, dispor o material, solicitar autorização para a devolução, planejar o embarque, e retornar o material em excesso; vindo dos Clientes – autorizar o retorno dos produtos, programar o recebimento, receber, e transferir os produtos em excesso; Todo o Retorno de Produtos em Final de Vida Útil: vindo do mercado consumidor devido à consciência sustentável (programas para reciclar produtos fora de linha) ou à 67 legislação (caso de baterias automotivas, por exemplo) - identificar a condição do material, dispor o material, providenciar a reciclagem ou descarte adequado; Todo o Retorno de Embalagens Retornáveis: vindo dos clientes ou do mercado consumidor - identificar a condição de material, dispor o material, providenciar a reciclagem ou reutilização do mesmo; Administrar as Regras de Negócio dos Retornos, desempenho, coleta de dados, inventário do retorno, ativos fixos, transporte, configuração de rede, exigências regulatórias e de conformidade, e risco proveniente do processo de retorno na cadeia de suprimentos. O SCOR possui ainda 3 níveis de detalhamento dos processos, acrescido de um quarto nível de implementação, os quais serão sucintamente descritos: Nível 1 No nível 1 é definido o âmbito e conteúdo para o modelo SCOR, ou seja, serão definidas as referências para desempenho, os objetivos, etc.. Para a definição dos indicadores pode-se buscar as referências no mercado (benchmarking). Nível 2 O nível 2 é de configuração e dependendo de suas escolhas durante esta fase, serão configuradas as demais empresas de sua cadeia de suprimentos. Por exemplo, neste nível a empresa pode ser configurada para trabalhar sob encomenda (com uma produção puxada), ou seja, neste nível a empresa estará implementando sua estratégia de operações. Nível 3 No nível 3 serão decompostos os processos, definindo sua capacidade para competir com sucesso nos mercados que escolheu para atuar. Neste nível são definidos os elementos de cada processo, bem como suas entradas e saídas, além da análise do desempenho de cada 68 indicador escolhido e definição das melhores práticas (best practices). Nível 4 Nível de implementação das práticas de gerenciamento da cadeia de suprimentos, onde são definidas as práticas específicas para alcançar vantagem competitiva e para haver adaptação às condições no ambiente de negócio definido. 2.2.4- Considerações Finais O esgotamento da competição interfirmas criou a necessidade de novas formas de organização e relacionamento, dentre as quais a mais evidente é a Cadeia de Suprimentos, porém, as empresas em geral têm dificuldade em se desligar do paradigma de que o gerenciamento interno da produção é o único caminho para atingir o sucesso. Desta forma os modelos de referência, em particular o SCOR, vêm ganhando importância no processo de projeto das cadeias de suprimentos. Nesse cenário, a manufatura enxuta, a ser discutida na próxima Seção, antes direcionada às atividades produtivas internas, também vem se despontando como uma nova forma de gerenciamento da cadeia de suprimentos possibilitando o aumento da competitividade das organizações. 2.3- Manufatura Enxuta / Pensamento Enxuto O pensamento enxuto (lean thinking), uma expressão mais abrangente para o termo original “manufatura enxuta”, é apontado como um novo sistema de organização industrial, inspirado no Sistema Toyota de Produção (STP), que tem como meta a eliminação de qualquer perda de produção (SAURIN e FERREIRA, 2008). Este modelo vem se apresentando como uma boa ferramenta para as empresas alcançarem uma vantagem competitiva e auferirem um lucro justo que mantenha o investimento por parte de seus acionistas. Womack, Jones e Roos (2004), também citados por Saurin e Ferreira (2008) 69 afirmam que a produção enxuta possibilita produtos e serviços de alta qualidade, ao menor custo possível e atendendo da melhor forma às necessidades dos clientes. Dentre os desafios para implantação dos princípios e práticas “lean”, o maior deles se refere ao dilema de não permitir o excesso de inventário mantendo um excelente nível de serviço ao cliente. A eliminação desta perda (o excesso de estoque) é considerada um grande desafio, pois a minimização dos estoques não depende somente de uma boa gestão interna, e sim de um sincronismo entre a empresa, seus clientes e fornecedores (LUCENA e SILVA, 2008; SOUZA et al., 2004). 2.3.1- Panorama Histórico Para atender a um aumento de demanda na década de 1950, a Toyota começou a estabelecer um novo enfoque, de produção enxuta, para suprimento de componentes onde os fornecedores de primeiro nível participavam integralmente do desenvolvimento do novo produto pela equipe responsável (WOMACK, JONES e ROOS, 2004). Contrário a Buentello (2002) que afirma que o Just-in-Time (JIT) foi desenvolvido pela Toyota nos anos 70, Womack e Jones (1998) afirmam que, na verdade, o JIT foi uma inovação liderada pela Toyota já na década de 1950 e adotada pelas empresas ocidentais no início da década de 1980. Essa técnica foi imaginada por Taiichi Ohno como um método para facilitar o fluxo seqüencial. Particularmente as empresas japonesas, capitaneadas pela Toyota, estavam liderando a indústria mundial na época a partir da adoção deste revolucionário sistema de produção e de negócios (WOMACK, JONES e ROOS, 2004). Ohno foi o primeiro a identificar e apresentar os setes desperdícios da produção para o mundo, apoiando-se basicamente nas teorias e nos princípios de Henry Ford. Desperdício é a tradução para o português da palavra japonesa “muda” também utilizada em muitos livros (ANTICONA, 2009). 70 O lean é uma versão ocidental das práticas Just-in-Time (JIT) e do Sistema Toyota de Produção (STP). O termo “lean” foi definido pelo pesquisador John Krafcik e cunhado por Womack, Jones e Roos após o estudo da indústria automotiva detalhado no livro, “A Máquina que Mudou o Mundo” (SPECTOR, 2006; SAURIN e FERREIRA, 2008). O sistema JIT e seu sucessor o lean nasceram na indústria automobilística que tem servido como setor paradigmático nas questões relacionadas à Administração da Produção e o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, especialmente com o advento da Produção Enxuta (ALVES FILHO et al., 2004). Womack, Jones e Roos (2004) concluem afirmando que o mundo tem carência de capacidade competitiva de produção enxuta e excesso de capacidade não competitiva de produção em massa. 2.3.2- Definições e Princípios do Pensamento Enxuto Segundo Saurin e Ferreira (2008), a produção enxuta pode ser definida como um novo sistema de organização industrial que tem como meta a eliminação de qualquer perda do sistema de produção. Womack, Jones e Roos (2004) complementam que a produção enxuta é “enxuta” por utilizar menores quantidades de tudo em comparação com a produção em massa. Anticona (2009) resume os sete desperdícios (mudas) do pensamento enxuto: 1) Superprodução Produzir além da demanda 2) Transporte Transporte desnecessário de materiais 3) Inventário Estoque acima do limite de segurança 4) Espera Estações de trabalho aguardando peça 5) Defeito Produção de peças não conformes 6) Processo Excesso de processamento e sem valor agregado 7) Movimentação Movimentação desnecessária de empregados 71 O pensamento enxuto pode ser equiparado a uma grande roda, que quando gira representa um processo de melhoramento contínuo. Este processo é denominado na língua japonesa de “KAISEN”. A Figura 13 ilustra como o Kaisen busca a minimização dos sete “mudas” em um progresso contínuo e, de forma contundente, demonstra que a padronização do trabalho é o alicerce para garantir que os ganhos obtidos não sejam desfeitos pelo tempo (TRILOGIQ, 2010). Figura 13 – Os 7 Desperdícios (MUDAs) do Lean Thinking (Adaptado de Trilogiq, 2010) Womack e Jones (1998) ratificados por Spector (2006) afirmam que o pensamento enxuto é baseado em cinco princípios: valor, a cadeia de valor, fluxo, produção puxada e perfeição. Estes princípios foram sumarizados por Anticona (2009) como segue: 1. Especificar Valor - O valor deve ser especificado para cada produto com foco nas necessidades dos clientes; 2. Identificar a Cadeia de Valor - As companhias devem abandonar a tendência de se organizar por departamentos e funções, e buscar organização pelo fluxo de etapas que verdadeiramente agregam valor para cada produto; 3. Garantir o Fluxo – Nas empresas, as tarefas normalmente são agrupadas em lotes para serem processadas em cada departamento, tendo como conseqüência a formação de longas 72 filas de espera, o que dificulta o fluxo contínuo e compromete o tempo de resposta aos clientes. O pensamento enxuto leva a empresa a aceitar o desafio de criar um fluxo contínuo com produção de pequenos lotes, ou mesmo com produção unitária (uma peça por vez – one piece flow) e desta forma poder atender com rapidez a diversidade de produtos que os clientes necessitam. Alves (2001) afirma que as ferramentas lean constituem a base necessária para a produção de lotes pequenos, transformando a fabricação num sistema extremamente flexível; 4. Trabalhar com a Produção Puxada - Significa que um processo inicial não deve produzir um bem ou serviço sem que o processo posterior (o cliente) o solicite. Isto contribui para os ganhos de produtividade e redução do estoque. Segundo Alves (2001), a manufatura enxuta reduz os custos pelo combate aos desperdícios, especialmente pela redução dos estoques; 5. Buscar a Perfeição – A medida que o projeto de fluxo contínuo é implantado no chão de fábrica serão descobertos detalhes não vistos antes, e mais desperdícios podem ser eliminados. Mediante o kaizen (melhoramento contínuo) as equipes de produto, em diálogo direito com o cliente, devem procurar formas de melhorar continuamente o fluxo de valor. 2.3.3- Objetivos e Práticas do Pensamento Enxuto Alves (2001) acredita que os objetivos do sistema de manufatura enxuta são: 1. Integrar e otimizar o sistema de manufatura - A integração de todas as partes do processo de manufatura fazem parte da busca pela otimização do sistema como um todo. Este objetivo visa eliminar tudo o que não agrega valor ao produto e cliente, eliminando funções e sistemas desnecessários ao processo global da produção. 2. Produzir produtos de qualidade - Todo o processo de manufatura enxuta, incluindo a redução de inventário depende do atendimento deste objetivo. A qualidade inicia junto às necessidades dos clientes, seguida do projeto do produto, porém para obtenção de produtos 73 de qualidade todos os processos, desde a matéria-prima, deverão seguir as especificações dos clientes descritas no projeto. A Figura 14 ilustra a criação de estoques, representado pelo nível da água, que encobrem os problemas estruturais das organizações (refugos, setups com tempos elevados, problemas com o abastecimento, etc.) e, à medida que os problemas são resolvidos existe espaço para redução dos estoques (representado pela redução do nível de água). PROBLEMAS: Refugos Setups Abastecimento ESTOQUES Figura 14 – Exposição dos Problemas em um Processo Enxuto (Adaptado de Corrêa e Gianesi, 1993) 3. Produzir somente em função da demanda - No pensamento enxuto, produzir somente em função da demanda representa reduzir os estoques ao mínimo necessário para proteger a empresa das oscilações da demanda. A Figura 14 reforça o fato de que, para se atingir este objetivo, os problemas devem ser eliminados ou reduzidos. 4. Reduzir o custo de produção - Com a declaração de guerra aos desperdícios, este objetivo se torna o mais evidente e concretizável. Cada um dos desperdícios eliminados, ou reduzidos, representa diretamente uma redução nos custos da empresa. 5. Desenvolver flexibilidade de produção - Com a redução dos desperdícios, tais como o tempo de troca de ferramental, problemas de qualidade, dentre outros e conseqüente redução dos estoques, as organizações ganham mais flexibilidade. 6. Manter os compromissos assumidos – A alta administração deve conduzir o negócio sempre com definições claras relativo aos objetivos e participação de cada uma das partes 74 envolvidas, clientes, fornecedores, funcionários e demais stakeholders. Manter os compromissos é decisivo e serve de elo entre as partes envolvidas nos processos da empresa. Segundo Saurin e Ferreira (2008), dentre diversas práticas apresentadas em trabalhos clássicos sobre o tema, tais como os de Womack, Jones e Roos (2004), Rother e Shook (1999), foram escolhidas 12 dessas práticas para suportar os objetivos e princípios do pensamento enxuto: 1) Produção puxada e fluxo contínuo; 2) Integração da cadeia de fornecedores; 3) Nivelamento da produção; 4) Balanceamento da produção; 5) Operações padronizadas; 6) Flexibilização da mão-de-obra; 7) Controle da qualidade zero defeitos; 8) Manutenção Produtiva Total; 9) Troca rápida de ferramentas; 10) Gerenciamento visual; 11) Melhoria contínua; 12) Mapeamento do fluxo de valor. 2.3.4- O Fluxo de Valor Rother e Shook (1999 p. 3) definiram fluxo de valor como sendo “toda ação (agregando valor ou não) necessária para trazer um produto por todos os fluxos essenciais a cada produto”, desde a matéria-prima até os braços do consumidor. Saurin e Ferreira (2008) ratificam Rother e Shook (1999) salientando que o Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) desempenha uma dupla função no contexto de uma 75 avaliação da implantação de práticas da Manufatura Enxuta. Além da prática de MFV, ele pode cumprir papel importante como fonte de evidências para a avaliação da implantação dos princípios e práticas lean ao longo do fluxo de valor. 2.3.4.1- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Atual) Segundo Rothet e Shook (1999), citados por Anticona (2009), a representação do estado atual do fluxo de valor é obtida através da coleta de informações da demanda dos clientes e definição da família de produtos que será representada. Em seguida, são mapeados os processos produtivos que fazem parte dessa família de produtos. Os processos ao serem mapeados são representados em um diagrama e as informações coletadas representadas em caixas dispostas adequadamente ao lado dos processos. A Figura 15 é uma representação clássica de mapeamento de fluxo de valor, onde, de forma ilustrativa está representando o estado atual de uma empresa. Figura 15 – O Mapa do Estado Atual (Adaptado de Smalley, 2004 ) Após o recebimento do pedido do cliente, o sistema de gestão da produção prepara a 76 programação diária de entregas e planeja os diversos processos de produção. Nas caixas abaixo de cada processo são indicados os dados “reais” coletados, incluindo: o tempo de ciclo do processo, tempo de troca, tempo efetivo da operação, tamanho de lote de produção, disponibilidade por turno, número de operadores, ppm (peças defeituosas por milhão) do processo, dentre outras informações que sejam relevantes. Os triângulos representados entre os processos são os estoques existentes na produção e acima deles é representado a forma de comunicação entre os processos. Na parte inferior são resumidos os dados indicando o lead time da produção e o tempo de processamento (neste trabalho, lead time de produção é o tempo de atravessamento do material na produção, ou seja, a soma dos tempos de processamento com os tempos de estoque de fábrica). O objetivo maior desta prática é a redução do lead time e conseqüentemente a redução dos estoques em processo. Anticona (2009) afirma que os pontos de estoque são importantes, pois indicam onde o fluxo de material esta sendo interrompido. O mapa do fluxo de valor apresenta de forma mais simplificada o local dos desperdícios, contribuindo desta forma para que os participantes do programa de melhoramento contínuo possam fazer sugestões e redesenhar o mapa para um estado melhorado, denominado “Estado Futuro”. Para Anticona (2009), o desenho do estado atual e futuro não ocorrem de forma seqüencial e separada, eles se complementam. Quando se representa o mapa do estado atual, pode-se pensar em melhorias para o estado futuro e provavelmente mudar ou adicionar algo. 2.3.4.2- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Futuro) Rother e Shook (1999) afirmam que o objetivo de mapear o fluxo de valor atual é identificar as fontes de desperdício nos processos produtivos e eliminá-las através da implantação de um fluxo de valor em um estado futuro. Desta forma, com o mapeamento do estado atual concluído, inicia-se o desenho do mapa do estado futuro, ou seja, com as 77 melhorias esperadas nos processos atuais. De vital importância é a preparação conjunta de um plano de ações para tornar realidade o mapa de estado futuro. Anticona (2009) reflete sobre o processo de melhoramento contínuo, afirmando que ao se atingir o estado futuro, mesmo que parcialmente, este passará a ser novamente o estado atual e todo o processo deve ser reiniciado propiciando o aprimoramento contínuo dos processos da empresa. A Figura 16 ilustra o estado futuro, representando as melhorias sugeridas no estado atual. O processo de melhoria pelo mapeamento de fluxo de valor deve ser suportado por outras práticas e/ou ferramentas. Figura 16 – O Mapa do Estado Futuro (Adaptado de Smalley, 2004 ) 2.3.5- O Mapeamento do Fluxo de Valor aplicado à Cadeia de Suprimentos Os grandes dilemas apresentados pelas empresas de produção em massa, não pareceram tão importantes para a Toyota. A preocupação da produção tradicional relativa a comprar ou fabricar não pareceu um problema para a produção enxuta que se preocupou com 78 a questão real de como as empresas e seus fornecedores poderiam colaborar entre si, para reduzir custos e melhorar a qualidade (WOMACK, JONES e ROOS, 2004). Um fluxo de valor estendido é uma adaptação da tradicional prática enxuta aplicada à cadeia de suprimentos. Womack e Jones (2004) o definiram como sendo simplesmente toda ação (agregando ou não valor) para levar um produto desde a matéria-prima até os braços dos consumidores, ou seja, constitui um circuito fechado entre a demanda e o suprimento. Souza Filho, Martins e Pereira (2008) afirmam que os produtores enxutos japoneses envolvem em torno de 300 fornecedores em cada projeto. Este número de fornecedores equivale a até um oitavo do número de fornecedores das companhias de produção em massa. Para obter esta redução, os produtores enxutos criaram a imagem dos “sistemistas”, que são empresas de primeiro nível que produzem sistemas completos e não mais componentes individuais. Novas idéias emergem de um conjunto de condições em que as velhas idéias parecem não mais funcionar (WOMACK, JONES e ROOS, 2004). Kunti, Dias e Jeksani (2007) afirmam que estendendo o JIT para a cadeia de suprimentos resulta sempre em melhor controle de inventário e melhora na resposta para a variação da demanda. Usando o sistema de manufatura japonesa, empresas estão habilitadas a se deparar com variação da demanda dos clientes, com menos estoque em um período de tempo menor. Como no mapa do fluxo de valor tradicional, no mapeamento estendido a cadeia de suprimentos, será preparado o mapa do estado atual (representando a situação atual do fluxo de valor na cadeia de suprimentos) e o mapa do estado futuro (representando as possíveis melhorias sobre o mapa do estado atual). Os processos internos, do mapeamento tradicional, serão substituídos pelas empresas da cadeia de suprimentos e, da mesma forma que ocorre no modelo tradicional, após as melhorias nos processos atuais será obtido o fluxo enxuto. 79 2.3.6- Considerações finais A redução de estoques tem um papel significante na jornada lean. Nada mais do que por uma grande razão: menos estoque na cadeia de suprimentos faz uma organização mais ágil e mais suscetível às, sempre crescente, necessidades dos clientes (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005). Porém, o pensamento enxuto aplicado à cadeia de suprimentos ainda não apresentou resultados significativos neste sentido e o mapeamento de valor estendido se torna complexo ao envolver centenas de empresas de uma SC. Womack e Jones (2004) afirmam que hoje se fala muito em parceria e cooperação da cadeia de suprimentos, contudo, ao se fazer o mapeamento do fluxo de valor estendido serão descobertas falhas enormes, mostrando uma confusão generalizada e ações contraproducentes entre as empresas. Diversos trabalhos vêm utilizando a Teoria das Restrições (TOC) em conjunto com o pensamento enxuto de forma a evidenciar melhorias significativas na cadeia de suprimentos. Este é o assunto que será apresentado na próxima Seção. 2.4- Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints) As organizações produtivas iniciaram a década de 1970 com muitas dificuldades na tomada de decisão gerencial. Santos (2005) acredita que, quando os gerentes se vêem diante de uma situação na qual uma decisão deve ser tomada entre uma série de alternativas conflitantes e concorrentes, eles têm duas opções: ou usar a intuição gerencial ou modelar a situação. Inconformado com as deficiências gerenciais na tomada de decisão motivadas pelos paradigmas existentes até a década de 1970, Eliyahu Goldratt desenvolveu um novo sistema de gestão denominado “Teoria das Restrições” (TOC – Theory of Constraints). Na tentativa de quebra dos paradigmas utilizados até então, Goldratt desenvolveu, dentro da TOC, a 80 contabilidade de ganhos que quebra um dos maiores paradigmas da gestão financeira e contábil das organizações: a substituição do custeio pela análise do ganho de cada produto. 2.4.1- Panorama Histórico Segundo Corbett Neto (1997), a teoria das restrições teve início na década de setenta quando o físico israelense Eliyahu Goldratt, mesmo sem conhecimentos de administração, utilizou os métodos de solução de problemas da Física para tentar resolver os problemas de uma linha de produção. Guerreiro (1999) afirma que Goldratt desenvolveu a formulação matemática para o planejamento da fábrica de um amigo que produzia gaiolas para aves. Santos (2005) complementa afirmando que essa formulação tornou-se a base do software OPT (Optimized Production Technology) voltado à programação de produção. Goldratt (2002) lembra que, em 1982, apesar de ser o presidente e acionista de uma bem sucedida empresa, ele estava extremamente frustrado. Sua frustração se dava pela impossibilidade de atingir e conseguir ajudar milhares de empresas com as mesmas limitações que o levaram a desenvolver a TOC. Neste momento ele decidiu que se apresentações convencionais não eram eficientes para quebrar a barreira, talvez uma abordagem não convencional atingisse seu objetivo. Goldratt então imaginou que se pessoas lêem livros sobre advogados e médicos, por que não leriam um livro sobre gerentes de fábrica? E então iniciou o romance “A Meta” (GOLDRATT e COX, 2002). Este romance foi o precursor da difusão da TOC, tornando-se um sucesso em vendas e sendo incluído no currículo de diversas escolas de administração e engenharia. Com uma visão mais ampla, Goldratt incorporou à TOC uma quebra de paradigma no custeio de produtos, denominado contabilidade de ganhos. Sempre como um grande crítico da utilização da contabilidade de custos como ferramenta gerencial, ele provocou e vem provocando mudanças nas práticas contábeis das organizações, sugerindo a troca da gestão de custos pela gestão dos ganhos, evitando-se assim diversos equívocos nas decisões. 81 2.4.2- Conceitos da Teoria das Restrições (TOC) Sinisgalli (2004, p.45) afirma que “a TOC vê a empresa como um sistema que para atingir sua meta deve focar as restrições”, porém Goldratt (1992) não vê a TOC como um processo de administração de restrições e gargalos, ou mesmo uma técnica mecânica de otimização da produção. Ele acredita que a teoria das restrições deve ser encarada como uma nova filosofia de gerenciamento global. Para Corbett Neto (1997), a TOC é baseada no princípio de que existe uma causa comum para muitos efeitos e os fenômenos que vemos são conseqüências de causas mais profundas. Esse princípio nos leva a uma visão sistêmica da empresa. Para Gaither e Frazier (2001), ratificados por Santos, Marins e Moellmann (2007), a TOC, também conhecida como manufatura síncrona ou tambor-pulmão-corda, é fundamentalmente um processo de melhoramento contínuo baseado em uma metodologia composta de cinco etapas onde a gestão das restrições leva a empresa a uma visão sistêmica global. Os cinco passos da TOC são: 1- Identificar a(s) restrição(ões) do sistema; 2- Explorar a(s) restrição(ões) do sistema; 3- Subordinar tudo mais as decisões tomadas na etapa dois; 4- Elevar a(s) restrição(ões) do sistema; 5- Se, em um dos passos anteriores, uma restrição for quebrada, voltar para a etapa um. Mas não permita que a inércia se torne uma restrição no sistema. A seguir, os cinco passos do processo de melhoramento contínuo são detalhados com o apoio dos trabalhos de Hsu e Sun (2005) e Carrigo (1998): 1- Identificar a restrição do sistema: Significa identificar as restrições que limitam o desempenho do sistema, estas restrições podem ser físicas, de mercado ou de natureza política da organização. O 82 importante é desenvolver estratégias que mostrem onde estão as limitações impostas pela restrição. É necessário realizar um diagnóstico da situação, tentar encontrar o problemaraiz do sistema. O pressuposto por trás dessa análise é de que há poucas causas comuns que explicam os muitos efeitos de um sistema. Aceito este pressuposto, não se deve atacar os sintomas do sistema, mas sim as suas causas comuns. Goldratt (2000) explora bem o uso de ferramentas estratégicas como a Árvore da Realidade Futura (ARF) e a Árvore da Realidade Atual (ARA) para conectar causa e efeito, porém outros modelos podem e devem ser testados. 2- Explorar a restrição do sistema: Se existirem múltiplas restrições, a gerência deverá decidir qual restrição atacar primeiro, e então desenvolver uma estratégia que minimize ou elimine o impacto adverso desta restrição. Por exemplo, se um recurso restritivo físico impede a empresa de produzir alguma coisa que possa ser vendida, a capacidade disponível deste recurso deve ser sabiamente alocada para gerar o maior nível de contribuição total. Infelizmente nem sempre a solução é tão aparente, pois na maioria das vezes as restrições são políticas da empresa, que após serem encontradas devem ser re-definidas. Para que isso ocorra é necessário entender por que essas políticas restritivas ainda existem. A maioria das políticas restritivas das organizações são doenças crônicas, isto é, são doenças causadas por um conflito interno, portanto nestes casos, o início está no entendimento destes conflitos (GOLDRATT, 1994). 3- Subordinar tudo mais as decisões tomadas na etapa dois: Todos os recursos não restritivos devem seguir o ritmo da restrição, eles e todo o sistema da empresa devem estar completamente sincronizados para suportar totalmente a nova estratégia que explora a restrição. Este passo pode ser um tanto difícil de ser implementado, pois requer uma significativa mudança cultural na empresa. 83 4- Elevar a restrição do sistema: Este passo é muito direto. A restrição é quem limita a habilidade da empresa em melhorar o desempenho e aumentar o lucro. Então, a gerência deverá decidir como melhor relaxar a restrição (exemplo: aumentar a capacidade, caso a restrição seja um recurso, ou aumentar os pedidos, caso a restrição seja uma limitação na demanda). 5- Se, em um dos passos anteriores, uma restrição for quebrada, voltar para a etapa 1. Mas não permita que a inércia se torne uma restrição no sistema: Este passo é muito crítico e procura estabelecer um processo de melhoria contínua ao invés de uma série de mudanças descompassadas. Esta também é a etapa mais fácil de ser negligenciada ou violada. Por exemplo, caso a capacidade de um recurso restritivo seja aumentada para um ponto onde ele não seja mais restrição. Obviamente isto sugere um retorno para o Passo 1, a fim de se verificar a nova restrição. Então qual é o problema? O problema é que todas as políticas e procedimentos estabelecidos no Passo 2 e 3 são baseados na restrição anterior. Muitas dessas políticas não serão, então, mais válidas para a nova restrição, portanto, todas as políticas inválidas devem ser revistas e mudadas. 2.4.3- Aplicação dos 5 Passos da Teoria das Restrições (TOC) As políticas internas representam o maior problema das empresas, elas comumente não aparecem, pois, normalmente são configuradas como sendo restrições de mercado ou mesmo físicas. Goldratt (1990, p. 6) conclui que “dificilmente se encontra uma empresa com uma real restrição de mercado, e sim, com ruinosas restrições de políticas de marketing”. Desta forma duas situações serão aqui estudadas: ou o mercado é a restrição, e neste caso não existirão gargalos na empresa, pois as vendas estarão abaixo da capacidade produtiva, ou a restrição está internamente na empresa, e sua produção não consegue atender a demanda do mercado, porém sempre se observando a real causa da restrição. Dois exemplos 84 irão explorar a solução proposta por Goldratt representando as duas situações acima. Estes exemplos reforçam a diferença entre gargalo e restrição. Segundo Umble e Umble (1998, p. 5), “na TOC uma restrição é qualquer elemento que limite a performance de uma organização em relação às suas metas. Restrições podem ser físicas, de mercado ou da política da organização”. Já os gargalos são descritos por Salafatinos (1995, p. 59) “como sendo todos os recursos que são requisitados além de sua capacidade”, ou seja, “o recurso gargalo, por definição, fica ocupado durante todo o tempo de sua disponibilidade” (CORRÊA e GIANESI, 1993, p. 143). Estas colocações identificam os gargalos como prioridade, pois “a capacidade de gerar ganho é restringida pelos gargalos” (LUTHER e O´DONOVAN, 1998, p. 17). “Todo sistema tem que ter, pelo menos, uma restrição que é explicada pelo fato de que se não houvesse algo que limitasse o desempenho do sistema, este seria infinito. Se uma empresa não possuísse uma restrição, seu lucro seria infinito” (CORBETT NETO, 1997, p.40). O mesmo não acontece com os gargalos, que somente ocorrerão quando a demanda do mercado for superior a capacidade produtiva. Para Oliveira, Marins e Almeida (2010), o mérito da TOC está em enfatizar a importância do gargalo de uma forma estruturada e abrangente, segundo o pressuposto da racionalização de não se investir naquilo (recursos, esforços) que não agrega valor, mas tão somente despesas. Nos próximos dois exemplos as diferenças conceituais entre restrição e gargalo serão evidenciadas, facilitando a utilização dos 5 passos do processo de melhoramento contínuo da TOC. 2.4.3.1- Existência de Gargalos e Restrições Físicas na Empresa O exemplo 1, na Figura 17, apresenta a confrontação entre a demanda e capacidade para a fabricação do produto “A”. A coluna dois apresenta às capacidades produtivas de cada recurso, a coluna três, a demanda do mercado e a coluna quatro a diferença entre a demanda 85 do mercado e a capacidade produtiva de cada recurso. As próximas duas colunas, cinco e seis, apresentam respectivamente os recursos gargalos, ou seja, aqueles que não atendem a demanda, e o recurso restritivo, ou seja, o recurso com menor capacidade dentre os gargalos. Intuitivamente ocorre a comprovação da afirmação de Goldratt onde melhorias locais não se refletem necessariamente em melhorias globais, pois: se for investido, por exemplo, no recurso 1 e, sua capacidade for aumentada para 30 peças por dia, não resultará em nenhuma melhoria global, pois a capacidade de produção total ainda estará limitada à restrição (recurso- 3). Goldratt e Cox (2002) destacam que uma hora ganha num recurso não gargalo é nada, é só uma miragem. Demanda do Mercado: 10 peças / dia Recurso Capacidade peças / dia Demanda peças / dia Diferença 1 22 10 12 2 8 10 -2 gargalo 3 5 10 -5 gargalo 4 9 10 -1 gargalo 5 13 10 3 6 15 10 5 Gargalo Restrição restrição Figura 17 - Demanda Versus Capacidade de Produção do Produto “A” (Adaptado de Santos, 2005) A aplicação dos cinco passos da TOC no exemplo ilustrado na Figura 17 resultará: 1- Identificar a restrição do sistema: No exemplo fica claro que o que restringe o sistema em sua melhora é uma restrição física (um dos recursos de produção), e apesar de existirem 3 gargalos, somente o de menor capacidade é a restrição, pois somente ao aumentar sua capacidade pode-se aumentar a capacidade total de vendas da empresa. 86 O recurso restrição é o número 3 com capacidade de 5 peças por dia contra uma demanda de 10 peças por dia, este recurso será denominado RRC, ou seja recurso com restrição de capacidade. 2- Explorar a restrição do sistema: Neste caso existe somente um recurso restritivo, o de número 3, portanto ele deve ser sabiamente utilizado pela empresa. Gerenciar o recurso restrição representa utilizá-lo em todos os momentos da jornada de trabalho, inicialmente promovendo o trabalho nos três turnos ou no máximo número de turnos permitido pela legislação e aí sim, sempre que possível, utilizá-lo em hora extra. Outra forma de exploração da restrição é garantir que todas as peças processadas lá estejam aprovadas, evitando-se rejeições posteriores à restrição com conseqüente perda de venda, para isto a programação de produção utilizando o método Tambor, Pulmão e Corda (TPC), componente da TOC, passa a ser muito eficiente. Este método será estudada mais à frente. 3- Subordinar tudo mais as decisões tomadas na etapa dois: Todos os outros recursos devem estar completamente sincronizados às decisões tomadas no passo anterior, ou seja, se no passo anterior foi decidido a execução de horas extras, do recurso número 3 (o qual se totalmente explorado , as horas extras produzam 6 peças por dia), os demais recursos deverão produzir também 6 peças por dia, e não mais, independentemente da disponibilidade de capacidade desses recursos. 4- Elevar a restrição do sistema: Neste passo a gerência deverá decidir por investimentos no recurso 3, de forma que a capacidade do mesmo supere a capacidade do próximo recurso gargalo, ou seja, 8 peças por dia que foi imposta pelo recurso 2. 87 5- Se, em um dos passos anteriores, uma restrição for quebrada, voltar para a etapa 1. Mas não permita que a inércia se torne uma restrição no sistema: Caso no passo anterior tenha ocorrido um investimento, no qual foi duplicada a capacidade de produção do recurso 3, a restrição não será mais este recurso, ou seja, a restrição foi quebrada e deve-se retornar ao Passo 1. Isso, porém, deve ser realizado com muita cautela, pois todos os passos seguintes (2, 3, 4) utilizavam os dados da primeira restrição e necessitam agora mudar de estratégia com a nova referência restritiva. O importante é não deixar que a inércia se torne uma restrição do sistema. 2.4.3.2- Quando a Restrição está na Demanda do Mercado, não havendo Gargalos O exemplo 2, na Figura 18, apresenta a confrontação entre a demanda e capacidade para a fabricação do produto “B”. Neste exemplo a restrição não é física, ela está aparentemente no mercado, eventualmente uma política errada de marketing ou de precificação de produto, gerando uma demanda abaixo da capacidade produtiva da empresa. Aqui é evidenciada a diferença entre gargalo e restrição, ou seja, todo sistema tem uma restrição, porém nem sempre um gargalo. Este exemplo mostra a restrição sendo o mercado ou política interna da empresa, e não de recursos. Demanda do Mercado: 15 peças / dia (Restrição) Recurso Capacidade peças / dia Demanda peças / dia Diferença 11 22 15 7 12 18 15 3 13 25 15 10 14 20 15 5 15 30 15 15 16 22 15 7 Gargalo Restrição Figura 18 - Demanda Versus Capacidade de Produção do Produto “B” (Adaptado de Santos, 2005) 88 A aplicação dos cinco passos da TOC no exemplo ilustrado na Figura 18 resultará em: 1- Identificar a restrição do sistema: Neste exemplo, fica claro que o que restringe o sistema em melhorar não é uma restrição física (um dos recursos de produção), e sim a demanda do mercado ou uma política interna de marketing que limita a venda em 15 peças por dia. Nesse caso não um recurso físico com restrição de capacidade (RRC). 2- Explorar a restrição do sistema: Para explorar a restrição deve-se atuar de forma mais eficiente nas vendas, com mais agressividade, analisando o mercado e corrigindo as miopias existentes na atual política de marketing. 3- Subordinar tudo mais as decisões tomadas na etapa dois: Todos os recursos devem estar completamente sincronizados às decisões tomadas no passo anterior, ou seja, se no passo anterior foi conseguida a ampliação das vendas para 16 peças por dia, os demais recursos deverão também produzir, no máximo, 16 peças por dia, independentemente da disponibilidade do recurso. 4- Elevar a restrição do sistema: No caso da restrição estar no mercado ou em uma política interna da empresa, as decisões gerenciais se torna mais complexas e demandarão outras ferramentas. Para forçar as vendas, geralmente há a requisição de redução de preço (descontos) e o aumento dos gastos com vendedores, propaganda e itens promocionais, neste caso Goldratt (1990) criou uma ferramenta adicional para esta análise, a contabilidade de ganhos que será estudada à frente. 5- Se, em um dos passos anteriores, uma restrição for quebrada, voltar para a etapa 1. Mas não permita que a inércia se torne uma restrição no sistema: 89 Da mesma forma, caso no passo anterior tenha ocorrido a quebra da restrição, devese retornar ao Passo 1, porém com muita cautela, e neste caso, com muito mais cautela que no exemplo 1. Se a restrição for quebrada, ela passará de uma restrição de mercado ou de política para uma restrição física, envolvendo políticas internas da empresa. O importante é não deixar que a inércia se torne uma restrição do sistema. 2.4.4- Programação de Produção: Tambor, Pulmão e Corda (TPC) O TPC, segundo Corrêa e Gianesi (1993), constitui o cerne da teoria das restrições aplicada à produção e é de fácil entendimento quando se explica o sentido das três palavras que formam seu nome: Tambor – com a mesma analogia dos tambores que definem a cadência das marchas militares, no TPC o recurso restritivo é o tambor, ou seja, o ponto que deve ditar a cadência de todo o sistema produtivo. Por exemplo, a aplicação do conceito de “tambor” no caso apresentado na Figura 17, o recurso 3 que é o RRC será o tambor, ditando a cadência dos demais recursos. Em sistemas TPC, se a restrição do sistema é a capacidade limitada de um recurso, então este recurso atuará como tambor para o sistema (UMBLE, UMBLE e DEYLEN, 2001). Pulmão – o pulmão é a representação da proteção do RRC contra possíveis incertezas que podem pôr em risco a chegada dos materiais para o cumprimento da seqüência de trabalho que o RRC vai executar. Outro tipo de pulmão que pode ser criado na TPC é o pulmão secundário, que é um artifício para poder sincronizar os recursos que não estão ligados diretamente ao recurso restritivo. A Figura 19 exemplifica uma situação onde existe o pulmão de proteção do RRC e o pulmão secundário (PS) que será utilizado para sincronizar os recursos R5 até R11 que não estão ligados diretamente ao RRC, garantindo o fluxo e protegendo a montagem final de eventuais problemas nos ramos onde não possuem restrições. Outro possível pulmão é o de proteção à demanda (PD), ou seja, antes do embarque é 90 mantido um tempo de segurança contra variações estatísticas entre a restrição do sistema e o final da linha de produção (WALKER, 2002). R1 P R2 R4 RRC MF PD Demanda PS R5 em and a por Pro dut o Ac aba do R6 R7 R - Recursos não Restritivos P - Pulmão de Proteção da Restrição PS - Pulmão Secundário PD - Pulmão de Proteção da Demanda RRC- Recurso com Restrição Capacidade M - Montagem Intermediária MF - Montagem Final R8 M R9 R10 R11 Figura 19 – Lógica TPC – Destaque no RRC e Pulmão (Adaptado de Corrêa e Gianesi, 1993, p. 157) Corda – representa a sincronização entre a necessidade de chegada de materiais no estoque protetor (pulmão) e a admissão de matérias-primas no sistema, garantindo assim um sistema com o mínimo de estoques intermediários e sempre com a programação de produção puxada. A Figura 20 ilustra uma situação mostrando a corda, que dispara a entrada de matéria-prima no sistema, garantindo um fluxo sempre contínuo de acordo com a demanda e subordinada a restrição. Walker (2002) complementa afirmando que o ganho da empresa é otimizado quando o Tambor, o Pulmão e a Corda trabalham juntos. Corda Pulmão I R1 Tambor RRC P R2 R4 MF Demanda Corda I Pulmão PS Secundário R5 R6 R7 R8 M I R9 R10 R11 Corda R - Recursos não Restritivos P - Pulmão de Proteção da Restrição PS - Pulmão Secundário RRC- Recurso com Restrição Capacidade M - Montagem Intermediária MF - Montagem Final Figura 20 – Lógica TPC – Tambor, Pulmão e Corda (Adaptado de Corrêa e Gianesi, 1993, p. 157) 91 2.4.5- Indicadores Globais de Desempenho Aceitando-se a premissa de que a empresa deve ganhar dinheiro sempre, no presente e no futuro, surge a necessidade de indicadores que meçam a capacidade global da empresa de ganhar dinheiro, indicadores que serão utilizados pelos administradores para avaliarem a eficácia da estratégia implementada. Para Goldratt (1992), os administradores necessitavam ter respostas para três perguntas: 1- Quanto dinheiro é gerado pela empresa? 2- Quanto é capturado? 3- Quanto é necessário para operá-la? Para estas respostas ele sugere a utilização de dois indicadores: o Lucro Líquido (LL) e o Retorno Sobre o Inventário (RSI) e para calcular estes indicadores também será necessário conceituar o ganho, o inventário e as despesas operacionais. Lucro Líquido (LL) – este indicador é conceitualmente o mesmo da contabilidade de custos, porém sua equação é essencialmente diferente, pois a base da TOC é a maximização do ganho, e em segundo plano a redução da despesa operacional. O Ganho (G) segundo Goldratt (1992, p. 17) “é índice pelo qual o sistema gera dinheiro através das vendas” e a Despesa Operacional (DO) é segundo Goldratt (1992, p. 16) “todo dinheiro que é colocado constantemente dentro da máquina para mover suas engrenagens”. A Equação (1) apresenta o cálculo do LL e é representada a seguir: LL = G – DO ...(1) Retorno sobre o Inventário (RSI) – a principal função deste indicador é a verificação, de forma macro, do fluxo de caixa da empresa. Ele demonstra a capacidade de crescimento com utilização de capital próprio, bem como possibilita a tomada de decisão gerencial sobre a redução dos estoques, sem comprometimento do caixa. O RSI é representado pela divisão do Lucro Líquido (LL) pelo Inventário (I). As Equações (2) e (3) apresentam o cálculo do RSI e são representadas a seguir: 92 RSI = LL / I ...(2) RSI = (G – DO) / I ...(3) Esses indicadores não devem ser medidos de forma incremental, e sim globalmente, caso contrário seriam confundidos com os indicadores da contabilidade de custos e seus rateios, que são duramente criticados por Goldratt (1990). Para tratar esses indicadores Goldratt (1990) apresentou a Contabilidade de Ganhos que será tratada a seguir. Balakrishnan e Cheng (2005) também demonstraram a importância do uso da contabilidade de ganhos na decisão entre comprar ou fabricar internamente um item. Segundo eles, o método convencional, nesta aplicação, pode resultar em decisões pobres porque ignora aspectos relativos à capacidade. 2.4.6- Extensão do Tambor, Pulmão e Corda para a Cadeia de Suprimentos O tema comum nas histórias de implantação do gerenciamento da restrição é como os resultados são atingidos tão rapidamente. Isto é porque o foco na restrição é, de fato, o foco nas áreas onde há o maior potencial de melhoramento (SPECTOR, 2006). O uso do TPC abrange muitos outros desafios quando estendida para o gerenciamento da cadeia de suprimentos. Segundo Souza et al. (2004), uma vez que o ganho de toda a cadeia é controlado pelo recurso restritivo, localizado em uma das empresas da cadeia de suprimentos, os programas mestres de produção de cada empresa deveria ser submetidos à capacidade limitada daquela empresa. Este programa mestre seria o tambor da SC, determinando o ritmo de produção de todas as companhias da cadeia. Porém, esta proposta se apresenta extremamente complexa onde, o TPC originalmente proposto por Goldratt (1992) não se apresentaria como uma ferramenta eficaz neste ambiente (MOELLMANN, 2010). Para resolver a dificuldade em subordinar centenas de empresas a um elo restritivo, Moellmann (2010) remete a uma proposta de simplificação do TPC onde, a subordinação do 93 sistema passa a ser através da demanda. Este modelo foi denominado Tambor, Pulmão e Corda Simplificado (TPC-S), a Figura 21 compara a estrutura do TPC com a do TPC-S. A operação do TPC-S é basicamente a mesma do TPC normal, porém nele os recursos serão planejados de forma que os mesmos tenham capacidade superior à demanda e desta forma, a restrição passará a ser o mercado. Esta proposta se mostra muito útil na aplicação do TPC para o gerenciamento da cadeia de suprimentos, pois, no TPC-S ocorre uma grande simplificação no processo de subordinação dos recursos, onde, são eliminados os pulmões internos. O pulmão de proteção à demanda passa a ser o único pulmão no sistema e, através da corda, passa a promover a entrada de material no sistema com total subordinação da produção das empresas da SC à demanda. Programação de Entrada de Material Capacidade 1.200 unidades/dia Pulmão da Restrição Capacidade unidades/dia 800 Capacidade 1.000 unidades/dia RRC Não-restritivo Não-restritivo Corda Pulmão Pulmão da Expedição Programação de Embarque Demanda 1.000 unidades/dia Tambor O TAMBOR-PULMÃO-CORDA TRADICIONAL Programação de Entrada de Material Capacidade 1.200 unidades/dia Capacidade unidades/dia 1.000 Capacidade 1.000 unidades/dia Não-restritivo Não-restritivo Não-restritivo Pulmão da Expedição Programação de Embarque Demanda 1.000 unidades/dia Corda Tambor O TAMBOR-PULMÃO-CORDA SIMPLIFICADO Figura 21 – Comparação entre os Modelos TPC Tradicional e TPC - Simplificado (Adaptado de Srinivasan, Srinivasan e Choi 2005) 2.4.7- Considerações Finais A aplicação da TOC representa a quebra dos paradigmas que vêm propiciando decisões gerenciais equivocadas, propondo uma verdadeira revolução nos modelos de gestão 94 empresarial, gerando uma visão sistêmica da organização com foco no resultado global e não local. Muitas organizações têm embarcado na jornada lean em conjunto com a Teoria das Restrições. A Tabela 1 apresenta o comparativo dos princípios básicos, método, foco e objetivos primários entre o lean e a TOC. Há muitas diferenças entre as duas filosofias, entretanto, estas diferenças podem ser resolvidas muito facilmente de forma as duas abordagens se complementarem (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005). Segundo os mesmos autores, a TOC pode identificar nos processos chaves, os passos que provêem a maior alavancagem relativa à perspectiva global. Subseqüentemente, as ferramentas oferecidas pelo pensamento enxuto removem as atividades que não agregam valor. O resultado é a redução dos lead-times, representando uma correspondente redução nos estoques através das cadeia de suprimentos. Tabela 1 – Comparativo entre o Pensamento Enxuto e a Teoria das Restrições (Adaptado de Spector 2006) Princípios Básicos Método Lean Gerenciamento das Restrições Eliminar Desperdício (Muda) Gerenciar as Restrições 1. Definir Valor 1. Identificar a Restrição 2. Identificar o Fluxo de 2. Explorar a restrição Valor 3. Subordinar tudo mais a 3. Fazer o Valor Fluir 4. Produção Puxada pela 4. Elevar a restrição demanda do cliente 5. Voltar ao passo 1 caso 5. Perseguir a perfeição restrição uma restrição seja quebrada Foco Processo Sistema Objetivos Primários Simplificação Foco no que mais interessa Qualquer abordagem utilizada para se obter um gerenciamento eficaz da cadeia de suprimentos necessitará do uso da Tecnologia da Informação e Comunicação para que ocorra 95 a distribuição da informação em tempo real. Os principais aspectos da TIC serão abordados na próxima Seção. 2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação - TIC Se o projeto e gerenciamento da cadeia de suprimentos podem ser considerados competências essenciais de uma organização, cabe pesquisar então quais são os elementos determinantes que norteiam as mudanças nas cadeias. Dentre os elementos transformadores de todas as indústrias nas últimas décadas está presente o setor de Tecnologia da Informação (TI) (SANTOS, 2008). Para Moellmann (2008), a evolução e o aprimoramento dos modelos de SCM demandaram um conseqüente aumento da necessidade em se utilizar os sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) como suporte às suas operações. Ferreira e Laurindo (2008) reconhecem que a tecnologia da informação assume papel relevante como fonte de vantagem competitiva não só por facilitar a decisão e ação dos gestores, mas também por agregar valor aos produtos e serviços da organização. Vivaldini, Souza e Pires (2008b) complementam com a idéia de que a utilização de tecnologia de informação e comunicação é um forte capacitador para o processo de integração. Para Lima (2004), se a globalização dos mercados possibilita a obtenção de materiais através de compras globais, a TI facilita a intercomunicação entre as empresas e estimula novas formas de comprar. Alves Filho et al. (2004) ressaltam que a TI é uma ferramenta importante para o aumento e para a melhoria do fluxo de informações e materiais. Stéen (2006) acredita que uma importante característica das empresas com as melhores práticas é que elas entenderam que para gerenciar eficientemente cadeias de suprimentos complexas, elas precisam de ajuda de softwares de integração. Scavarda, Ribeiro e Batalha (2008) complementam afirmando que, para capturar e dividir informações em tempo real tem sido essencial para aumentar o desempenho da cadeia de suprimentos. 96 Em suma, as atividades empresariais suportadas nas redes digitais abrem um novo leque de oportunidades para melhorar a competitividade, criar novos produtos e serviços e conquistar novos mercados, culminando com o que se convencionou chamar de comércio eletrônico (SILVA FILHO, 2000). 2.5.1- VMI e o uso de Ferramentas da TIC na Gestão da Demanda e Estoques Com a evolução da TIC foi possível a evolução dos processos de gestão e não foi diferente com o VMI. Disney e Towill (2003) afirmam que o VMI não é uma estratégia nova, uma vez que ele vem sendo discutido desde 1958. Muitos autores conceituam o VMI como sendo uma ferramenta, porém ele pode ser considerado uma filosofia de gestão. Disney e Towill (2003) apresentam ferramentas oriundas desta filosofia tais como: Quick Response (QR), Continuous Replenishment (CR), Efficient Consumer Response (ECR), Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR). O autor afirma que estas ferramentas são aplicadas dependendo do setor, porém, na essência, todos eles são sempre uma aplicação do VMI. 2.5.1.1- Troca Eletrônica de Dados (EDI - Electronic Data Interchange) Em 1968 o emergente Intercâmbio Eletrônico de Dados (Electronic Data Interchange - EDI) permitiu a realização de negócios entre diferentes companhias. Porém, não havia garantia que o formato EDI fosse usado por toda e qualquer empresa. Com o padrão ASC X12, surgido em 1984, isso se tornou possível (SILVA FILHO, 2000). O EDI tem como finalidade a troca eletrônica de dados entre computadores de empresas que se relacionam comercialmente ou estão envolvidas na cadeia. Sua utilização tende a manter a operação mais coordenada entre supridores e clientes. Guarniere et al. (2006) complementam com a informação de que o EDI é um formato padrão para trocar dados de negócios e foi criado pelo American National Standard Institute (Instituto Nacional Americano para Padronizações - ANSI). 97 O EDI teve um papel muito importante na evolução e viabilização do VMI e das ferramentas oriundas dele. 2.5.1.2- Resposta Rápida (QR - Quick Response) Com a ferramenta QR, fornecedores recebem os dados coletados referentes a vendas aos clientes e usam essas informações para sincronizar sua operação produtiva e seu estoque com as vendas reais. Esta ferramenta é utilizada freqüentemente pelos varejistas para evitar a propagação do efeito chicote em sua cadeia de suprimentos. 2.5.1.3- Resposta Eficiente ao Consumidor (ECR - Efficient Consumer Response) A Resposta Eficiente ao Consumidor é a união entre supermercados, atacadistas e fornecedores na busca de ferramentas que permitam responder, de forma efetiva, às necessidades crescentes e variadas dos consumidores. Tais ferramentas abrangem desde check outs automatizados, códigos de barras, até a integração da cadeia de suprimento (GAZOLLA, 2002). Sua implementação quase sempre requer investimento adicional em TIC, como código de barras, scanner, EDI, etc. A lógica desse sistema baseia-se no ponto de reposição do estoque e no JIT, dado que a demanda e/ou a reposição do item é sempre puxada pelo ponto de consumo (VIVALDINI, SOUZA e PIRES, 2008b). 2.5.1.4- Reabastecimento Contínuo (CR - Continuous Replenishment) O reabastecimento contínuo tem como diferencial a utilização da previsão de vendas e demanda histórica no gerenciamento dos estoques. Nesta ferramenta o fornecedor também recebe as informações reais de vendas dos varejistas o que promove uma redução no efeito chicote. 98 2.5.1.5- Planejamento, Programação e Reabastecimento Contínuos (CPFR - Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment) Tido como a mais moderna e mais completa ferramenta para gestão colaborativa do estoque na cadeia de suprimentos, o CPFR é uma prática multi-empresas que utiliza a conectividade da Internet entre parceiros de negócios em uma cadeia de suprimentos para compartilhar informações e coordenar operações (BOWERSOX, CLOSS e STANK, 2000). Vivaldini, Souza e Pires (2008b) afirmam que o CPFR tem por objetivo, ajudar as empresas a administrar e compartilhar informações conjuntamente. Sua intenção é equilibrar a relação na cadeia mediante controle de estoque em todos os elos. 2.5.2- Internet “A revolução da tecnologia da informação é um evento histórico, pois introduziu um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura” (NOVAES, 2004, p. 802). Segundo Stefansson (2002, p. 135), a troca eletrônica de dados tem aproximadamente 30 anos, porém não alcançou de forma significativa as pequenas e médias empresas, que corriam o risco de serem definitivamente excluídas da integração de seus sistemas logísticos da cadeia de suprimentos. Porém, o advento da Internet e os conceitos de negócio eletrônico mudaram estas perspectivas para estas empresas. A Internet nasceu em 1969, sob o nome de ARPANET, resultado de um projeto de interconexão dos computadores de instituições de pesquisa, de ensino e governamentais. Em 1994 surgiu a Netscape, que expandiu o acesso ao e-commerce e serviu de precedente para o desenvolvimento de software de baixo custo aos consumidores (SILVA FILHO, 2000). Hoje, devido à tecnologia da comunicação vive-se um momento histórico na tecnologia da Informação. Os Web-Services estão mudando radicalmente o cotidiano das pessoas e a maneira das empresas trabalharem. 99 Novaes (2004) lista os quatro principais elementos despendidos em uma transação: o dinheiro, o tempo, a tensão e o esforço no transporte, lembrando que a Internet ajudou a reduzir o tempo das transações e a tensão gerada durante este processo. Na atualidade, a Internet de alta velocidade (banda larga) está disponível em grande parte das empresas de pequeno porte e na maioria das empresas de médio porte, o que, ajuda na inclusão destas empresas no mundo da comunicação digital, viabilizando a implementação de sistemas de comunicação eletrônica. 2.5.2.1- B2B (Business to Business) B2B é uma forma popular de representar a expressão Business to Business, que se refere à realização de negócios entre duas empresas através da Internet. Mason et al. (2002) afirmam que o comércio eletrônico integrado ao B2B mudou o modo de operação nas SC. A Internet habilitou a troca de informações comerciais entre as empresas, vinculando almoxarifados e garantindo um melhor nível de informação em toda a SC. Com a Internet de alta velocidade foi possível a comunicação em tempo real dos dados entre as empresas que disponibilizam, em portais, sistemas de troca de informações referentes ao negócio em andamento entre as partes envolvidas. 2.5.2.2- Segurança Em fevereiro de 2000 ocorreu um grande ataque aos gigantes da web, primeiro a Yahoo, depois foram lançados uma série de ataques coordenados a grandes empresas do setor de e-commerce, como Amazon, Buy.com e eBay (SILVA FILHO, 2000). Segundo Scavarda, Ribeiro e Batalha (2008), segurança é um dos aspectos fundamentais da TI e são definidas como: Confidencialidade: revelação de informação confidencial; Integridade: modificação de informação; 100 Disponibilidade: retenção de recursos. Silva Filho (2000) apresenta alguns mecanismos de segurança na área de TI: Barreiras físicas (firewall) Criptografia de chave única Criptografia de chave pública Protocolos (regras) de autenticação Certificados digitais Assinaturas digitais Selos digitais Segundo o autor os firewalls são os mais eficientes, porém eles têm desvantagens no comércio eletrônico, pois limitam os usuários aos acessos permitidos pelo equipamento. 2.5.3- Evolução da TIC e os Sistemas de Gestão A evolução da TIC associada aos sistemas de gestão é ilustrada na Figura 22. Com início na década de 1960, apareceram as listas de materiais mecanizadas, denominadas BOM (Bill of Materials), na década de 1970 a evolução da informática propiciou o surgimento do Planejamento de Necessidade de Materiais (Material Requirements Planning - MRP), nos anos 1980 o MRP evoluiu para o Planejamento dos Recursos da Manufatura e foi denominado MRPII (Manufacturing Resource Planning). Este modelo foi sobreposto, nos anos 1990, pelo ERP (Enterprise Resources Planning), que passou a planejar todos os recursos da empresa e não somente a manufatura. Neste novo século, com a evolução da comunicação de alta velocidade está surgindo um novo sistema para se sobrepor ao ERP, um modelo de Planejamento e Programação Avançados (APS - Advanced Planning and Scheduling). Taylor (2005) afirma que o APS apresenta uma série de vantagens em relação ao ERP. O APS é um sistema de programação mais flexível, capaz de enfrentar as necessidades mais diversificadas do gerenciamento da 101 cadeia de suprimentos. Isso é corroborado por Bowersox, Closs e Cooper (2007) que afirmam que os sistemas ERP em geral não avaliam estratégias alternativas ou auxiliam a tomada de decisões. MRP BOM Anos 60 BOM MRPII MRP ERP MRPII MRP BOM BOM Anos 70 Anos 80 Anos 90 APS ERP MRPII MRP Evolução dos Computadores e da Comunicação BOM Anos 00 Figura 22 – Evolução histórica dos Sistemas de Gestão 2.5.3.1- Planejamento de Recursos Empresariais – ERP (Enterprise Resources Planning) Após a última década a tecnologia da informação, especificamente a Web, tem revolucionado o projeto, gerenciamento e controle da cadeia de suprimentos (SCAVARDA, RIBEIRO e BATALHA, 2008). Em meio a essa reorganização das empresas em torno de seus processos de negócios, surgiram os sistemas ERP (Enterprise Resources Planning) como uma das mais importantes ferramentas da tecnologia da informação impulsionadoras para tal mudança (DAVENPORT, 1998; AZEVEDO et al., 2006). Segundo Padilha e Marins (2005), os sistemas ERP, também chamados no Brasil de Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, controlam e fornecem suporte a todos os processos operacionais, produtivos, administrativos e comerciais da empresa. Koch, Slater e Baatz (2010) ratificados por Azevedo et al. (2006) complementam afirmando que um eles têm 102 a finalidade de integrar todos os departamentos e funções dentro de uma empresa por meio de uma ferramenta computacional única, com capacidade para suportar as necessidades dos departamentos. O ERP é uma evolução dos primeiros sistemas desenvolvidos na tentativa de estruturar os dados a fim de obter as informações necessárias para a gestão das empresas. Para Padilha e Marins (2005), muitas empresas estão optando pelos pacotes ERP devido a vários motivos, tais como: frustrações com sistemas incompatíveis, departamentos de tecnologia de informação desabilitados a prover integrações entre estes sistemas e outros que influenciam diretamente na obtenção de maior competitividade. Azevedo et al. (2006) afirmam que, esta falha na integração dificultava o sincronismo das tarefas. Para resolver os problemas de inconsistência e redundância se fez necessário integrar os sistemas entre si, levando ao compartilhamento de dados e homogeneização de conceitos entre as áreas. A integração requereu maior capacidade de processamento e maior complexidade, levando a necessidade de tecnologia mais avançada de informação e comunicação, disponíveis somente na década de 1990, quando surgiram os primeiros sistemas ERP. Segundo Taylor (2005), o coração do sistema ERP, ilustrado na Figura 23, é um conjunto de módulos de planejamento que transforma a demanda antecipada em planejamentos de gerenciamento do suprimento, produção e distribuição. Segundo o autor, o sistema ERP não atua no nível estratégico das organizações e sua atuação atravessa três grandes macro-processos da empresa: Suprimentos, Produção e Demanda. Ao nível tático serão executados, a partir das vendas, os planejamentos da distribuição e planejamento mestre que se desdobra no planejamento de materiais e da capacidade da produção. A um nível intermediário, entre planejamento e operação, acorrerá a. Ao nível operacional ocorrerão os processos de compras, recebimento, gestão da produção, gestão dos estoques e entrega aos 103 clientes, finalizando na contabilidade que supre, além da área fiscal e contábil, as informações de desempenho da organização. Figura 23 – Módulos de um ERP (Adaptado de TAYLOR, 2005, p.109) Moellmann (2010) afirma que o ERP se dedica primordialmente a empresa, e no que diz respeito ao gerenciamento da cadeia de suprimentos são limitados aos parceiros comerciais imediatos, estando limitados a somente um elo da cadeia, como ilustra a Figura 24. Figura 24 – Arquitetura dos Sistemas de Comunicação entre Empresas com ERP (Adaptado de Santos e Alves, 2009) Neste novo século, 21, a globalização acompanhada da melhora da comunicação em diversos níveis da cadeia de suprimentos propiciou o surgimento de novos sistemas de gestão para complementar os atuais ERPs, estes sistemas foram denominados de Planejamento e Programação Avançados (APS). Segundo Guarnieri et al. (2006), estas novas tecnologias da 104 informação visam maior integração da cadeia de suprimentos e vêm complementar os sistemas ERPs. 2.5.3.2- Planejamento e Programação Avançados (APS - Advanced Planning and Scheduling) Com arquitetura voltada para a coleta e gestão dos dados nos processos internos das empresas, o ERP atua como fonte para o acompanhamento das atividades e para a identificação dos problemas relacionados com materiais, capacidade produtiva e financeira, entre outras, visando à integração das atividades internas e controladas pela organização. Quando o escopo é ampliado para tratar das questões além das fronteiras da empresa, se faz necessário utilizar outras ferramentas que ajudem na integração da empresa com seus fornecedores e clientes e para esta finalidade vem se despontando o sistema APS. Um dos desafios neste sentido tem sido a integração entre o ERP e o APS, pois, o APS utiliza a base de dados obtida através do sistema ERP. Segundo Stéen (2006), o uso do APS melhora a precisão no tempo de entrega, aumenta a flexibilidade da empresa, bem como ajuda na redução dos custos de produção. Para Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003) é comum que algumas empresas adotem outras descrições e siglas para o APS, podendo também ser denominado como “sistema de apoio à decisão” (SAD), ou ainda “sistema avançado de planejamento e seqüenciamento”. Taylor (2005) afirma que a configuração de um sistema APS envolve a utilização do módulo de projeto de rede, no nível estratégico da organização, para inserir uma descrição detalhada da cadeia, incluindo suas instalações, elos de transporte e outras características. Segundo o autor, o APS não atua no nível operacional, onde o ERP tem bom desempenho e seus processos estratégicos e táticos atravessam três grandes macro-processos da empresa: Suprimentos, Produção e Demanda. A Figura 25 ilustra os processos executados pelo APS, que a partir do planejamento da demanda promove um planejamento mestre que coordenará 105 os demais planejamentos: da distribuição e atendimento aos clientes; macro planejamento da produção e programação; planejamento da necessidade de materiais e compras. Figura 25 – Módulos de um APS (Adaptado de TAYLOR, 2005, p.111) Segundo Stéen (2006), os ERPs não consideram algumas importantes restrições em sua operação e que na atualidade este problema pode ser resolvido. Segundo o autor, planejamento com capacidade finita é a solução e é a base para o planejamento e programação avançados (APS). Segundo Moellmann (2008), o atual estágio da tecnologia da informação e comunicação pode viabilizar, através de uma comunicação integrada entre os ERPs de duas ou mais empresas, a utilização do planejamento e programação avançados (Advanced Planning and Scheduling – APS). Na atualidade, sistemas como o VMI e o B2B geralmente se limitam a interações com parceiros comerciais imediatos, ou seja, cada um engloba apenas um único elo na cadeia de suprimentos. A Figura 26 ilustra a arquitetura do APS operando através de um portal na internet. Nessa arquitetura as empresas pertencentes a uma cadeia de suprimentos podem compartilhar, de forma on-line, às informações necessárias para a operação, que será estruturada e gerenciada pela empresa focal dessa SC. 106 Figura 26 – APS Integrando múltiplos ERPs (Adaptado de Santos e Alves, 2009) Segundo Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003), os principais processos de negócio gerenciados através do portal são o planejamento da demanda e o planejamento de suprimentos. A evolução da comunicação dessa década propiciou a viabilização da arquitetura ilustrada na figura 26, visto que, esta estrutura de comunicação já faz parte do cotidiano das empresas brasileiras através do SPED que será detalhado a seguir. 2.5.4- Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) O Brasil serve novamente de vitrine para o mundo com relação à evolução da TIC. No passado, o Brasil inovou com a implantação da urna eletrônica nas eleições e, neste início do século 21, o governo federal brasileiro conseguiu englobar todos os estados e municípios da federação com um grande projeto tecnológico denominado SPED. Este ambicioso projeto consumiu um alto investimento em supercomputadores de forma a haver um maior controle fiscal das empresas brasileiras através da WEB. Associado a isso um moderno e robusto sistema de segurança permitiu à receita federal manter as informações no mais completo sigilo, visto que não foram divulgadas invasões ao sistema em vigor. Através do SPED (2010), o governo e as empresas estão conectados em um portal na Internet, na busca da desburocratização do sistema tributário e contábil e conseqüentemente 107 minimizando significativamente a sonegação fiscal. Este modelo abriu uma grande oportunidade para a comunicação digital entre as empresas. O SPED, ilustrado na Figura 27, é composto de três grandes módulos: SPED contábil, SPED fiscal e nota fiscal eletrônica (NFe). Figura 27 – Sistema Público de Escrituração Digital - SPED (Adaptado de SPED, 2010) O SPED contábil substitui os livros da escrituração mercantil pelo equivalente digital. O SPED fiscal é o conjunto de escriturações digitais de documentos fiscais, registro de apuração de impostos e de outras informações de interesse do fisco e unifica informações das secretarias estaduais e da Receita Federal. A nota fiscal eletrônica (NFe) é o documento emitido e armazenado eletronicamente para documentar operações comerciais, cuja validade jurídica é garantida pela assinatura digital do emitente e a autorização dos contribuintes, antes mesmo da saída da mercadoria do estabelecimento que emite a nota. As informações ao fisco passam a ser on-line. Segundo SPED (2010), o Projeto Nota Fiscal Eletrônica (NFe) está sendo desenvolvido, de forma integrada, pelas Secretarias de Fazenda dos Estados e Receita Federal 108 do Brasil, a partir da assinatura do Protocolo ENAT 03/2005, de 27/08/2005, que atribui ao Encontro Nacional de Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais (ENCAT) a coordenação e a responsabilidade pelo desenvolvimento e implantação do Projeto NF-e. A integração e a cooperação entre Administrações Tributárias têm sido tema muito debatido em países federativos, especialmente naqueles que, como o Brasil, possui forte grau de descentralização fiscal. Atualmente, as Administrações Tributárias despendem grandes somas de recursos para captar, tratar, armazenar e disponibilizar informações sobre a emissão de notas fiscais dos contribuintes. Os volumes de transações efetuadas e os montantes de recursos movimentados crescem num ritmo intenso e, na mesma proporção, aumentam os custos inerentes à necessidade do Estado de detectar e prevenir a evasão tributária. Assim, o projeto justifica-se pela necessidade de investimento público voltado para integração do processo de controle fiscal, possibilitando: Melhor intercâmbio e compartilhamento de informações entre os fiscos; Redução de custos e entraves burocráticos, facilitando o cumprimento das obrigações tributárias e o pagamento de impostos e contribuições; Fortalecimento do controle e da fiscalização. O projeto possibilitará os seguintes benefícios e vantagens às partes envolvidas: Eliminação do papel e conseqüente preservação do meio ambiente; Aumento na confiabilidade da Nota Fiscal; Melhoria no processo de controle fiscal, possibilitando um melhor intercâmbio e compartilhamento de informações entre os fiscos; Redução de custos no processo de controle das notas fiscais capturadas pela fiscalização de mercadorias em trânsito; Diminuição da sonegação e aumento da arrecadação; 109 Suporte aos projetos de escrituração eletrônica contábil e fiscal da Receita Federal e demais Secretarias de Fazendas Estaduais; Fortalecimento da integração entre os fiscos, facilitando a fiscalização realizada pelas Administrações Tributárias devido ao compartilhamento das informações das NF-e; Rapidez no acesso às informações; Aumento da produtividade da auditoria através da eliminação dos passos para coleta dos arquivos; Possibilidade do cruzamento eletrônico de informações. Em suma, além dos benefícios citados acima, o projeto SPED possibilitou a possibilidade de maior integração entre as empresas, viabilizando projetos on-line com o uso da Internet, onde, a partir de primeiro de abril de 2010, quase cem mil empresas estarão obrigadas a emitir a NFe em substituição a nota fiscal em papel. 2.5.5- Considerações Finais A TIC vem contribuindo para a melhora da comunicação entre clientes e fornecedores propiciando a minimização do efeito chicote. Srinivasan, Srinivasan e Choi (2005) afirmam que dentre as vantagens das ferramentas de TIC, especialmente nas aplicações da Internet, está a obtenção de informações relevantes e seguras através dos processos inter empresas na cadeia de suprimentos. Fisher (1997) argumenta que apesar do estágio atual da TIC e dos possíveis benefícios, muitas cadeias de suprimento ainda apresentam resultados aquém do esperado em termos de desempenho. Como motivos principais são apontados as relações conflituosas entre os elos da cadeia, bem como a não consideração da natureza da demanda dos produtos. Esta realidade também se aplica as empresas manufatureiras e mais especificamente ao mercado brasileiro. 110 3- O MERCADO DE ELETRODOMÉSTICOS O mercado de eletrodomésticos está dividido em três grandes segmentos: pequenos eletrodomésticos, linha branca e linha marrom. Os pequenos eletrodomésticos, também conhecidos como eletro portáteis, são representados pelos utensílios elétricos de uso doméstico de pequeno porte, tais como: liquidificadores, batedeiras, espremedores de frutas, processadores de alimentos, ventiladores, secadores de cabelo, dentre outros, a linha marrom é representa pelos produtos de áudio e vídeo, tais como: televisores, rádios, tocadores de DVDs, etc.. A linha branca é composta pelos eletrodomésticos de grande porte, tais como: máquinas de lavar e secar roupas, fogões, geladeiras, freezers, micro-ondas, dentre outros. 3.1- O Segmento de Pequenos Eletrodomésticos Brasileiro No mercado de eletrodomésticos, os produtos mais afetados pela globalização são os pequenos eletrodomésticos, pois o valor agregado aos produtos é baixo e são de fácil importação. Este trabalho elegeu este segmento, com foco específico nos fabricantes de ventiladores de mesa e nos eletro portáteis utilizados na preparação de alimentos (processadores, liquidificadores, batedeiras, etc.), para estudo e aplicação do modelo que será proposto. Durante os anos 2007, 2008 e 2009 foram feitas visitas a diversas empresas deste setor, de forma a eleger um dos fabricantes desses produtos como empresa focal para a aplicação do modelo proposto nesta tese. 3.2- O Estudo da Cadeia de Suprimentos Escolhida A aplicação foi feita em 4 camadas, iniciando em um fabricante (montadora) de produtos, como empresa focal, e mais três camadas à montante. No que se refere à jusante da cadeia não foi possível realizar entrevistas nas empresas. Portanto foram feitos estudos somente com os dados fornecidos pela empresa focal. 111 A montadora escolhida como empresa focal solicitou a não divulgação de sua identidade, portanto neste trabalho ela receberá o nome fantasia de “SmallGoods” (SG). Um fornecedor direto da SG, de componentes eletrônicos, recebeu o nome de “ElectroGoods” (EG) e o fornecedor da ElectroGoods estudado foi denominado “MetalGoods” (MG). Na última camada estudada foi selecionado um fornecedor estratégico da MetalGoods, a empresa “MetalBase” (MB). A busca de um trabalho mais coordenado da cadeia de suprimento de qualquer setor é reconhecida hoje como necessária para a busca da competitividade necessária além do adequado atendimento ao consumidor final. Portanto, é fundamental o estudo de suas particularidades para o desenvolvimento de um modelo que possa vir ao encontro de sua real necessidade. 3.2.1- Estruturação da Pesquisa Ação A Pesquisa Ação foi fundamentada em visitas às unidades fabris e entrevistas aos funcionários das empresas estudadas. A base estrutural das entrevistas foi à escolha correta dos entrevistados e a geração de um questionário utilizado como guia para deixar as entrevistas mais produtivas. 3.2.1.1- As Entrevistas e os Questionários Os questionários, utilizados como roteiro das entrevistas, são apresentados nos Anexos 1, 2 e 3, estruturados conforme os processos do modelo SCOR. Durante as entrevistas não foram utilizadas gravações de voz sugeridas por Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002), pois a utilização das mesmas mostrou desconforto por parte dos entrevistados e dificultaram o relaxamento no ambiente da entrevista. 112 3.2.1.2- Os Entrevistados Na empresa SmallGoods (focal do estudo de caso e de grande porte) a pessoa chave para coordenar a pesquisa foi o diretor de suprimentos (principal coordenador das atividades estratégicas relacionadas à cadeia de suprimentos do grupo na América Latina). Nas duas camadas intermediárias da cadeia da SmallGoods, empresas de médio porte, foram utilizados os Diretores Presidente para esta tarefa e na MetalBase, de grande porte, a pessoa chave foi o gerente de suprimentos. Na SmallGoods houve a participação de outros dois executivos, para assuntos específicos: o diretor de vendas, para questões relacionadas aos clientes, e o diretor de engenharia, pesquisa e desenvolvimento, para uma visão da estratégia global de crescimento. Além das visitas para obter informações gerais sobre as empresas deste segmento, foram feitas mais vinte e quatro entrevistas com uma média de duração de 4 horas cada, em um total aproximado de cem horas de entrevistas realizadas entre janeiro e dezembro de 2009. Na empresa SmallGoods foram feitas oito entrevistas com o diretor de suprimentos, uma com o diretor de vendas e duas com o diretor de engenharia, pesquisa e desenvolvimento; na ElectroGoods foram seis entrevistas com o diretor presidente; na MetalGoods foram quatro entrevistas também com diretor presidente; finalizando com três entrevistas com o gerente de suprimentos da MetalBase. 3.2.2- Características Específicas dessa Cadeia São 7 (sete) os principais fabricantes nacionais de eletro portáteis e ventiladores de mesa (excluídos os importadores). Eles fabricam juntos mais de 20.000.000 (vinte milhões) de produtos por ano. Na Figura 28 é possível observar que este segmento apresenta uma uniformidade à jusante, ou seja, todos os montadores (denominados na figura pelas letras M) têm os mesmos canais de vendas, ou seja, os Atacadistas (ATs), Grandes Varejistas (GVs), Pequenos Varejistas (PVs), além das Lojas Virtuais (LVs). Os ATs distribuem os 113 eletrodomésticos para os PVs que também podem adquirir diretamente das montadoras. Os grandes varejistas (GVs), em torno de 20, são os principais clientes deste segmento, tendo como grande volume de vendas o atendimento em lojas, porém eles têm diversificado o atendimento para as vendas na Internet através do conceito de comércio eletrônico (eCelectronic Commerce) e desta forma tentar segurar seus novos competidores, as lojas virtuais da Internet (LVs). Outros canais, muito específicos e insignificantes com relação a volume, foram suprimidos, pois eles buscam mais a propaganda e difusão institucional do que propriamente a venda (vendas na TV, lojas dos próprios fabricantes, etc.). LVs M1 eC eC FFF1 FFF2 FFF3 FF1 FF2 FF3 F1 F2 F3 FFFn FFn Fn M2 M3 M4 M5 M6 M7 GVs PVs CF Atacadistas (ATs) Legenda: LV – Lojas M1 Primeira Virtuais Terceira Montadora Segunda Consumidor Camada de ATs GV – Grandes Camada de Focal Camada de Final Fornecedores Fornecedores Fornecedores M2...M7 Atacadistas Varejistas PV – Pequenos Demais Varejistas Montadoras Figura 28 – Cadeia de Suprimentos de Ventiladores de Mesa e Preparadores de Alimentos 3.2.3- Tipo e Complexidade dos Produtos Produtos com baixo grau de complexidade e baixo valor agregado são as principais características dessa cadeia. Os produtos são normalmente segmentados em sete grandes grupos: motor, conjunto interruptor, cabo de força, peças plásticas de grande porte, peças plásticas de pequeno porte, embalagem e outros componentes. a) Motor – sistema com produção totalmente automática e grande parte de seu custo baseado nas matérias-primas cobre e aço. O abastecimento deste item está dividido em manufatura 114 interna na empresa focal ou importação da Ásia. b) Conjunto Interruptor – Fabricado internamente nas décadas de 60 e 70, passou a ser comprado a partir da década de 1980 seguido na década seguinte de um processo de desenvolvimento de sistemistas (empresas fabricantes de sistemas completos, incorporando ao produto partes que antes eram integradas internamente nas montadoras). Na atualidade a maior parte destes itens é fabricada por sistemistas nacionais ou multinacionais estabelecidos no Brasil. A empresa ElectroGoods participante do estudo de caso é uma das fabricantes locais destes sistemas. c) Cabo de Força – Também conhecido como cordão com plug, é o cabo elétrico com um plug em sua extremidade para conectar o eletrodoméstico em uma tomada residencial. Este componente é fabricado por empresas especialistas estabelecidas no Brasil e fornecido para as montadoras, porém por um processo de triangulação fiscal são enviados diretamente aos sistemistas que incorporam este componente ao conjunto interruptor. d) Peças Plásticas de grande porte – São as peças plásticas grandes que compõem os eletrodomésticos (carcaça, tampa, etc.) e por motivos logísticos são freqüentemente fabricadas internamente pelas montadoras ou produzidas em condomínios industriais localizado aos arredores das mesmas. e) Peças plásticas de pequeno porte – de forma geral, estes componentes são comprados no mercado nacional de empresas especialistas em injeção de plástico, porém algumas montadoras mantém sua fabricação internamente. f) Embalagem – Neste sistema estão inclusos: a lista de assistência técnica, outros documentos e manuais necessários, folhetos diversos, cartuchos individuais e acessórios de suporte. As embalagens também englobam as caixas de transporte coletivo e proteções contra danos. Este sistema, em geral, representa um grande volume de armazenamento e vulnerabilidade no manuseio o que tem requerido uma especial estratégia das montadoras. 115 g) Outros Componentes – Todos os demais componentes estão agregados neste sistema, incorporando parafusos, amortecedores, suportes e demais componentes de uso interno do produto não inclusos nos sistemas acima. Apesar dos eletro portáteis serem produtos de alto consumo e gerarem milhares de empregos em sua cadeia, este setor não recebe a devida atenção dos meios de comunicação e do governo no que refere a benefícios fiscais nos momentos de incentivo ao consumo. Atualmente as cadeias de maior destaque nos incentivos são a automotiva e linha branca pois possuem um maior valor agregado e maior visibilidade junto a população. Segundo os fabricantes, na década de oitenta e princípio dos anos noventa, os pequenos eletrodomésticos eram o principal chamariz do varejo, onde estes produtos eram expostos em pontos de destaque de forma estratégica para o varejo atrair o público consumidor. Nos anos noventa esta posição de destaque foi ocupada pelos celulares, na seqüência vieram os computadores e na atualidade estão em destaque os “Note Books”, “Net Books” e os televisores. 3.2.4- Perfil do Mercado e Consumidor Final Com sazonalidade elevada, o mercado de ventiladores é incentivado pelo calor do verão. Sua produção e distribuição têm início no mês de julho (ainda inverno) para atender a demanda que inicia em agosto e setembro. Este produto tem sua produção forte até novembro com redução sucessiva em dezembro, janeiro e fevereiro e praticamente interrupção da produção de março até julho, onde se inicia novamente o ciclo. Os eletro portáteis têm demanda cíclica focada em datas festivas (dia das mães e Natal), e nos demais períodos se mantém razoavelmente constante, exceto nos meses de dezembro e janeiro onde ocorre uma redução. 3.2.5- Cultura e Relações Contratuais Predominantes Em um ambiente com poucos players, sete montadoras ao todo, existe uma cultura de 116 rivalidade muito bem definida. De forma geral todas as montadoras de produtos finais são empresas de grande porte, administradas através de ERP, porém dentre elas existem algumas que são multinacionais, onde a cultura do país de origem também influencia a gestão brasileira. Com produtos de baixo valor agregado, não é possível trabalhar com fornecedores e desenvolvimento de produtos exclusivos, e neste segmento não existe a cultura de formalização de contratos de fornecimento. As empresas desse segmento trabalham com fornecimento não garantido a longo e médio prazo, sendo que as cadeias se volatizam a medida que surgem dificuldades no fornecimento, qualidade ou preço. 3.2.6- Estrutura da Cadeia de Suprimentos A Figura 29 ilustra a cadeia de suprimentos da SmallGoods, que conta com três mil e duzentos clientes no total, porém 70% de suas vendas estão concentradas em apenas cinqüenta clientes dos quais vinte deles representam quase 50% das vendas da organização. Todas as vendas, para os 3200 clientes, são feitas de forma direta através de equipe própria de vendas. À montante de sua cadeia são 165 fornecedores diretos dos quais foi escolhida a empresa ElectroGoods para participar do estudo de caso pois, a ElectroGoods é uma empresa estratégica na visão da diretoria da SmallGoods. Continuando à montante, dos 49 fornecedores da empresa ElectroGoods foi escolhida seu fornecedor estratégico a MetalGoods. Na terceira camada de fornecimento, dentre os 45 fornecedores da MetalGoods, foi escolhida a empresa MetalBase como membro estratégico da cadeia estudada. Desta forma foram estudadas 4 camadas, a montadora SG e mais três camadas à montante. 117 FFFF1 FFFF2 FFFFn Metal Base (44) Demais Fornec. (n) Fornec. Metal Goods (48) Demais Fornec. (n) Fornec. Electro Goods (164) Demais Fornec. SmallGoods (20) Maiores Clientes (30) Outros Grandes Clientes (3150) Demais Clientes CF Figura 29 – Cadeia de Suprimentos da Montadora SmallGoods (M1) 3.2.7- Análise SWOT dessa Cadeia A ferramenta de analise das Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) foi desenvolvido na Universidade de Stanford, em um projeto de pesquisa ocorrido na década de 60 e 70 do século 20. Segundo Amin, Razmi e Zhang (2010), SWOT é uma ferramenta de gerenciamento que identifica os fatores internos (as forças e fraquezas) e externos (oportunidades e ameaças) que são favoráveis ou desfavoráveis para alcançar o objetivo estratégico da organização. SWOT procura maximizar as forças e oportunidades, e minimizar as ameaças e fraquezas, ou seja, procura transformar fraquezas em forças, e ameaças em oportunidades. Utilizando esta ferramenta para análise da cadeia de suprimentos estudada têm-se: Forças – A empresa focal possui uma estrutura de gestão suficiente para gerenciar sua cadeia de suprimentos e suportar mudanças de paradigma. Outra vantagem é a baixa complexidade na estrutura dos produtos versus a estrutura de engenharia disponível na cadeia de suprimentos, propiciando grande potencial para a capacidade de reação e flexibilidade. Fraquezas – A principal fraqueza está no alto nível de informalidade no relacionamento entre as empresas, com praticamente inexistência de contratos de parceria de longo prazo, refletindo na falta de visibilidade da demanda ao longo da cadeia. Outra fraqueza é o baixo valor agregado dos produtos, que ocasiona dificuldade na estruturação de exclusividades de fornecimento. 118 Oportunidades – A regulamentação do setor de eletrodomésticos (legislação compulsória referente à qualidade) pode ser encarada como uma oportunidade para a empresa focal firmar, com seus fornecedores, contratos de parceria de longo prazo. Esta oportunidade irá minimizar a fraqueza apontada e proporcionar maior poder (positivo) sobre a cadeia e minimização dos riscos de interrupção. A falta de visibilidade da demanda e os grandes estoques existentes também são uma grande oportunidade de melhoria. Ameaças – As ameaças deste mercado são inerentes às fraquezas apresentadas e se referem ao surgimento de novos entrantes, principalmente devido à globalização com produtos asiáticos de baixo custo. 3.3- Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos da Empresa SmallGoods A SmallGoods é uma empresa multinacional de grande porte, presente em diversos países, que atua no mercado de eletro portáteis além de outros negócios em outros segmentos. A gestão da empresa no Brasil é feita com o apoio de um ERP além de outros sistemas legados, que dão suporte a áreas especificas. Estes sistemas legados são integrados de forma total ou parcial ao ERP. Sua boa maturação no modelo de gerenciamento da cadeia de suprimentos foi o desafio deste trabalho na apresentação de um modelo que pudesse ser aplicado a ela, com a possibilidade de significativos benefícios além de servir como referência para as demais empresas deste segmento ou mesmo de outros segmentos manufatureiros. 3.3.1- Linha de Produtos Especificamente no segmento estudado a SmallGoods fabrica no Brasil: liquidificadores, batedeiras e ventiladores de mesa. A linha de montagem tem capacidade de produção para aproximadamente 70 produtos diferentes, distribuídos nas voltagens 220 e 110. 3.3.2- Gestão das Informações do ERP da SmallGoods A empresa SmallGoods utiliza um conceituado ERP de mercado de forma a integrar e 119 suportar todos os seus departamentos, incluindo neste processo o gerenciamento de sua cadeia de suprimentos imediata. A empresa optou, quando da compra do ERP, pela não aquisição dos módulos disponíveis de gerenciamento do relacionamento com o cliente (CRM Customer Relationship Management), gerenciamento do relacionamento com fornecedores (SRM – Supplier Relationship Management ) e do módulo APS. A Figura 30 ilustra o fluxo de informações do ERP dividido em três grandes blocos: demanda, produção e suprimentos. O planejamento da demanda é baseado no histórico de vendas associado ao ambiente de sazonalidade e das tendências de mercado. A empresa não utiliza de ferramentas estatísticas ou de informática para esta função, a previsão é montada com base na experiência dos vendedores e dados coletados no ERP. A previsão inicial é feita para um ano (mês a mês) com três revisões durante este período, porém mensalmente são feitos detalhamentos dessas previsões para suportar o planejamento e controle da produção em um ambiente MTS. Os pedidos dos 50 maiores clientes chegam semanalmente e dos demais clientes mensalmente, sendo os mesmos recebidos através de fax, e-mail ou por meio eletrônico (EDI - Electronic Data Interchange), alimentando o ERP. O planejamento de demanda é a base para a preparação do planejamento da distribuição, coordenado pelo departamento comercial, em um modelo de produção empurrada (MTS) e venda dos produtos estocados. Com a expectativa gerada pelo planejamento da distribuição, o ERP, através de seu módulo MRPII, prepara o planejamento mestre para uma produção empurrada, aliado ao planejamento de materiais a serem comprados. O departamento de suprimentos repassa estas informações aos fornecedores de primeira camada, através de reuniões ou e-mails. 120 Planejamento de Suprimentos Planejamento de Materiais Planejamento da Produção Planejamento Mestre Planejamento da Capacidade Compras Recebimento Planejamento da Demanda Produção Planejamento da Distribuição Vendas Estoques Entregas Contabilidade Figura 30 – Fluxo de informações do ERP da SmallGoods A informação de compras propriamente dita é transmitida aos fornecedores diretamente do sistema MRPII. Semanalmente são transmitidas informações detalhadas da previsão de suprimentos para os próximos 30 dias e confirmação do pedido de compra para as próximas duas semanas. O departamento de produção é planejado com base na produção MTS e, ao término de cada dia, a movimentação dos estoques é informada através do ERP ao departamento comercial, de forma a detalhar e planejar as vendas e entregas aos clientes. Finalmente todas as informações são concentradas na contabilidade que além de cumprir os aspectos tributários, prepara os relatórios gerenciais do resultado do período analisado. 3.3.3- Logística da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos A Figura 31 apresenta de forma ilustrativa a estrutura logística para o processo de comunicação e movimentação de materiais na cadeia de suprimentos interna e externa da 121 SmallGoods. A SmallGoods utiliza a gestão de suprimentos focada exclusivamente na camada imediata da cadeia. No modelo atual da SmallGoods as informações recebidas dos clientes não estão diretamente conectadas aos fornecedores, justificando a geração de estoques tanto de produto acabado com o de matéria-prima. Outro aspecto importante é que mesmo com altos estoques de produto acabado (69 dias), segundo eles, a empresa apresenta um nível de serviço ao cliente entre médio e bom. Na representação gráfica da Figura 31, fornecedores, clientes e processos internos são representados em caixas retangulares. O processo de comunicação eletrônica é representado por setas em forma de raio com uma caixa sobreposta informando a freqüência da comunicação. A movimentação física de materiais é representada por setas largas com caixas sobrepostas de forma a representar sua freqüência. Nos subitens a seguir serão apresentados os detalhes referentes a cada processo. ERP SmallGoods Semanal Fornecedores de Primeira Camada MRPII (MTS) Semanal Semanal 2x Semana Gestão de Materiais Semanal 20 Maiores Clientes Mensal 30 Grandes Clientes Demais 3.150 Clientes Gestão da Produção (MTS) Diário Diário 29 dias Estoque SmallGoods Produção (MTS) 0,27 dias WIP Diário Diário CD SmallGoods 69 dias estoque Figura 31 – Logística da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos 3.3.3.1- A Cadeia à Jusante A SmallGoods tem cerca de 3.200 clientes divididos em dois grupos: os 50 maiores clientes (com um destaque para os 20 principais) e os demais 3.150. Para os 3.150 clientes 122 menores, ocorre uma segmentação por canal de distribuição, tamanho do negócio, região e importância estratégica. O nível de serviço ao cliente, mesmo com um estoque de 69 dias, é de médio a bom, sendo melhor para os principais clientes. Ocorrem duas reuniões mensais da alta administração que avaliam, dentre outros tópicos, o nível de serviço. Diariamente caminhões a serviço da SmallGoods remetem os produtos aos diversos clientes, atendendo aos pedidos de compra. Os materiais são enviados a partir do centro de distribuição (CD) que mantém 69 dias de estoque para proteção à demanda. 3.3.3.2- A Cadeia à Montante A empresa SmallGoods segmenta seus 165 fornecedores pelo risco de interrupção no fornecimento e impacto financeiro na empresa em caso de falha. A Figura 32 apresenta a segmentação dos fornecedores em quatro quadrantes: crítico, estratégico, não critico e alavancável. Risco Alto Risco Baixo Risco 52 27 CRÍTICO ESTRATÉGICO 74 12 NÃO CRÍTICO ALAVANCÁVEL Impacto no Negócio ($) Baixo Impacto Alto Impacto Figura 32 – Matriz Estratégica para Segmentação de Fornecedores (adaptada da empresa SmallGoods, 2008) Os críticos são os fornecedores que apresentam baixo impacto financeiro nos negócios da SmallGoods em caso de falha, porém um alto risco de interrupção. Os estratégicos apresentam alto risco e simultaneamente alto impacto. Os não críticos não apresentam nem 123 risco, nem impacto. Os alavancáveis apresentam baixo risco de interrupção, porém o impacto em caso de falha é grande. Na Tabela 2 são indicados os parâmetros para classificar os fornecedores quanto ao risco de interrupção de fornecimento. Apesar de haver mapeamento e analise dos riscos, nenhum tipo de contrato de parceria é construído entre a SmallGoods e seus fornecedores. Srividhya e Jayaraman (2007) apresentaram um modelo muito semelhante de classificação de risco. Os 10 principais fornecedores recebem um acompanhamento diferenciado nas negociações e no atendimento das metas, pois, representam 60% das compras. Porém, todos os fornecedores recebem semanalmente uma confirmação dos pedidos para as próximas duas semanas e previsão de consumo para o próximo mês. As previsões são reajustadas de acordo com a revisão mensal de demanda do departamento de vendas da SmallGoods. Tabela 2 – Avaliação do Risco de Fornecimento na Empresa SmallGoods Alto Risco Fornecedores com processos especiais, patentes, etc. Fornecedores que utilizam os Ativos Fixos da SmallGoods (Ferramental/Maquinário). Ativos Fixos (Ferramental/Maquinário) pertencente ao fornecedor e são difíceis de serem duplicados (alto custo ou tecnologia) Baixo Risco Fornecedores que utilizam processos comuns. Utilizam ativos próprios. Ativos pertencentes ao fornecedor, porém são de fácil duplicação 3.3.3.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos Anualmente é transmitido, através de reuniões ou e-mails, a previsão de consumo mês a mês de cada componente para cada fornecedor. Esta informação é originária do ERP da SmallGoods na explosão dos dados vindos do planejamento das vendas. Três revisões são feitas ao longo do ano e são repassadas aos fornecedores no mesmo procedimento. 124 A operação de compras propriamente dita é detalhada pelo MRP a partir de comunicações semanais aos fornecedores. Os pedidos de compra contemplam duas semanas de ordens firmes (teoricamente não poderão ser canceladas) seguidos de mais quatro semanas de previsões. As previsões são reajustadas de acordo com as revisões mensais da demanda feitas pelo departamento comercial da SmallGoods. Foram observados erros significativos e freqüentes no planejamento da demanda onde, o departamento de suprimentos desempenha o papel de amortecedor dos impactos negativos desses erros nos fornecedores. Os entrevistados relataram que 80% dos problemas relativos à entrega e desconforto junto aos fornecedores diz respeito aos erros de planejamento versus a demanda real. 3.3.3.4- Relacionamento com os Fornecedores Os fornecedores da SmallGoods são selecionados com base na melhor alternativa de qualidade desde que esteja alinhada com o preço objetivo. Existe uma pressão grande para redução de custo junto aos fornecedores, um dos objetivos da reunião da alta administração de planejamento de atendimento à demanda é buscar redução de custo nos fornecedores através de suprimentos. Outro aspecto na empresa é que atualmente não são feitos investimentos desnecessários e caso exista uma empresa no mercado que já dispõe dos equipamentos necessários para a produção dos componentes a serem desenvolvidos, será optado por comprar desta empresa, porém sempre analisando o custo total do fornecimento. A empresa SmallGoods não utiliza de contratos de fornecimento. É feito o desenvolvimento dos fornecedores que recebem planejamentos anuais de compra, porém na ocorrência de problemas, a empresa tem a possibilidade de troca do fornecedor. 3.3.3.5- Tecnologia da Informação e Comunicação A empresa utiliza os sistemas básicos de comunicação com seus clientes e fornecedores, através de telefone, fax e e-mail. A empresa é totalmente integrada através de uma Intranet 125 (rede interna) pelo seu ERP, porém, módulos de comunicação mais sofisticados (portais de comunicação com fornecedores e clientes, módulo CRM, módulo SRM ou mesmo o módulo APS) não são utilizados. 3.3.3.6- Política de Estoques da Empresa Como pode ser observado na Figura 32, o estoque da SmallGoods é medido em dias e no ano de 2009, o estoque de produtos acabados foi de 69 dias, o material em processo (WIP) 0,27 dias e para as matérias-primas 29 dias. O estoque contábil de material em processo é de 11 dias, porém se refere à importação de produtos e matérias-primas que, após embarque no país de origem, se transformam em WIP até seu desembaraço no Brasil. Os executivos da empresa são constantemente pressionados para reduzir os estoques. A meta, para 2009, foi de redução de 7 dias (10%) no estoque de produtos, 1 dia (10%) no o material em processo e 1 dia (3,5%) para as matérias-primas. 3.3.3.7- Poder na Cadeia de Suprimentos O poder na cadeia de suprimentos é avaliado indiretamente através de uma matriz de riscos, porém nenhuma estratégia ou ação específica foi observada. 3.3.3.8- Fabricação Semanalmente o ERP atualiza o módulo MRPII com as informações da demanda. O planejamento de produção para estoque (MTS) recebe do MRPII revisões diárias. A atual estrutura da produção tem uma grande flexibilidade na mudança de linhas e em caso de alteração de demanda ou problemas com abastecimento dos fornecedores, o que ocorre com freqüência em períodos de aquecimento. Diariamente os produtos são despachados pelo modal rodoviário para o Centro de Distribuição (CD). 126 3.3.3.9- Abastecimento do Cliente A entrega dos pedidos aos clientes é em atendimento a uma “ordem de compra” que é recebida dos clientes por meios variados: EDI, fax, e-mail, etc.. A empresa não trabalha com comodato (em nenhuma situação), não controla o estoque dos clientes (VMI) e não utiliza nenhum outro modelo de compartilhamento de informação para este fim. Basicamente o transporte para abastecimento dos clientes é rodoviário ou marítimo no caso das exportações, com varias distâncias para o transporte, porém a fase de transporte de responsabilidade da SmallGoods é em torno de 150 km. 3.4 O Fornecedor de Primeira Camada, ElectroGoods Empresa de porte médio, com matriz e uma filial no estado de São Paulo e futuras instalações na região de Fortaleza, CE, atua no mercado de sistemas eletro-mecânicos e eletro-eletrônicos direcionados para a linha de eletrodomésticos e automotiva. A ElectroGoods foi escolhida como participante do estudo de caso por estar posicionada na primeira camada à montante da cadeia de suprimentos estudada e devido a sua classificação como estratégica no modelo de gestão da SmallGoods. Ela fornece os sistemas de ligação elétrica dos eletrodomésticos para todo o mercado de eletro portáteis e é também administrada com o apoio de um ERP. 3.4.1- Linha de Produtos Com uma linha de produtos ampla, especificamente para a SmallGoods, a ElectroGoods fabrica o conjunto interruptor para os liquidificadores, batedeiras e ventiladores de mesa em diversas versões. Esses componentes são freqüentemente segmentados em quatro grandes grupos: Metálicos, Plásticos, Cabos e Componentes Eletrônicos. a) Metálicos – Sub partes metálicas tais como: terminais, contatos, molas, rebites e outros. 127 Cerca de 80% destes componentes são comprados da empresa MetalGoods. b) Plásticos – referente a todos os componentes plásticos, tais como: base, tampa, suporte, etc.. A empresa ElectroGoods fabrica internamente 30% dos itens e compra no mercado os demais itens de empresas especializadas. c) Cabos – são os cabos elétricos que farão a conexão do interruptor ao eletrodoméstico. Este componente também é fabricado por empresas especialistas estabelecidas no Brasil. d) Componentes Eletrônicos – São as partes eletrônicas dos interruptores (triacs, diodos, etc.) e são importadas em sua maior parte da China. 3.4.2- Logística da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos A empresa ElectroGoods utiliza um ERP para integrar e suportar todos os seus departamentos e cadeia de suprimentos imediata. O sistema utilizado possui módulos específicos de relacionamento com seus clientes e fornecedores imediatos através doVMI. A Figura 33 apresenta de forma ilustrativa a estrutura logística para o processo de comunicação e movimentação de materiais da cadeia de suprimentos interna e externa da ElectroGoods. Na representação gráfica da figura, a gestão da empresa é baseada na TOC com suporte de um modelo de suprimentos baseado no VMI, suportado por um ambiente B2B na Internet. A previsão da demanda é baseada no histórico de vendas associado ao desenvolvimento de novos produtos, sazonalidade de mercado e demanda imediata. Esta previsão é iniciada com um planejamento anual, detalhado mês a mês, cliente por cliente, produto por produto, com três a quatro revisões por ano. Semanalmente são feitos os detalhamentos para suportar o planejamento e controle da produção em um ambiente puxado (MTO). Os pedidos de compras de seus 15 clientes chegam semanalmente através de fax, email ou através de seu portal na Internet em um ambiente B2B. O ERP monitorado pelo 128 departamento comercial gera o PVP (Planejamento de Vendas Produtivo) em substituição ao convencional PCP (Planejamento e Controle da Produção) e PCS (Planejamento e Controle de Suprimentos), onde o foco principal passa a ser o cliente e não a produção ou os fornecedores. Fluxo de Informações Corda/VMI Corda/VMI F O R N E C E D O R E S Tambor I Corda/VMI R1 I R2 RRC P R4 MF Rope/VMI I I PS R5 R6 R7 R8 I M I B 2 B Corda/VMI I N T E R N E T R9 R10 R11 Corda/VMI R – Recurso não Restritivo P – Pulmão Proteção Restrição RRC– Recurso Restritivo (Tambor) M – Montagem MF – Montagem Final PS – Pulmão Secundário I – Processamento Inicial B 2 B I N T E R N E T C L I E N T E S Fluxo de Material Figura 33 – Logística da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos (Adaptado de Santos e Alves, 2009) O PVP é a base para a preparação do planejamento da distribuição, através de uma decomposição de todas as necessidades de material, mão de obra e equipamento. O módulo do PVP utiliza o conceito de Tambor Pulmão e Corda (TPC) em substituição ao MRPII. O sistema VMI do ERP provê desde o ano 2000, em um portal na Internet, um ambiente B2B de forma que os fornecedores passaram a administrar os estoques da ElectroGoods utilizando o conceito de produção puxada associado a subordinação à restrição do sistema (RRC). O departamento de produção é planejado com base no PVP em processo online e, após o lançamento de cada lote produzido, a movimentação dos estoques é informada através do ERP ao departamento comercial de forma a detalhar e planejar as vendas e entregas aos clientes. 129 Ao final, as informações são concentradas na contabilidade que além de cumprir os aspectos tributários, prepara os relatórios gerenciais do resultado do período estruturadas com base na contabilidade de ganhos da TOC. 3.4.2.1- A Cadeia à Jusante Com um total de 15 clientes, a empresa pratica uma política para evitar uma concentração maior que 15% das vendas totais em um único cliente. Atualmente existem clientes com uma participação acima deste objetivo, porém não chegando a 20%. Além do mercado de pequenos eletrodomésticos e ElectroGoods atua na linha branca e no setor automotivo. Em geral seu nível de serviço ao cliente é bom nos períodos normais, porém piora quando ocorrem variações bruscas na demanda em um ou mais segmentos. A expedição dos produtos ocorre diretamente de suas plantas sem a utilização de CD. 3.4.2.2- A Cadeia à Montante A empresa ElectroGoods tem 49 fornecedores segmentados por metálicos, plásticos, cabos, componentes eletrônicos e outros. A empresa não avalia o risco de interrupção de fornecimento e não atua neste sentido. 3.4.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos Os fornecedores recebem anualmente uma previsão de consumo para cada item, divididas por trimestres do ano. A cada trimestre ocorre uma revisão deste planejamento, seguido de uma avaliação das previsões anteriores versus o ocorrido. Desde o ano 2000 seu estoque é controlado pelos fornecedores em um modelo VMI administrado através de uma B2B na Internet. Seu ERP, baseado na teoria das restrições, define uma corda (vide Seção da TOC) para entrada de material no sistema e apresenta aos fornecedores 12 semanas de planejamento de produção (referentes ao PVP). Na empresa ElectroGoods o departamento de suprimentos (apenas um comprador) é responsável pela compra de todos os materiais 130 indiretos (material de escritório, limpeza, etc.) e pela gestão da operação do VMI. Todo o sistema trabalha integrado ao ERP. 3.4.2.4- Relacionamento com os Fornecedores Os fornecedores da ElectroGoods são selecionados com base na melhor alternativa de custo final, levando-se em conta o preço, logística de abastecimento, estoques, qualidade e sustentabilidade. Seu processo de seleção é caracterizado por uma auditoria inicial seguida de auditorias anuais para manutenção da certificação. A empresa ElectroGoods não utiliza contratos de fornecimento, sendo que a gestão é feita através do VMI. 3.4.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação A empresa utiliza recursos da Internet para que seus fornecedores administrem seu estoque além de manter no portal um link que permite aos clientes acompanhar o planejamento e desenrolar da manufatura. 3.4.2.6- Política de Estoques da Empresa O estoque da SmallGoods é medido em dias e no ano de 2009, o estoque de Produtos Acabados estava em 15 dias, o Material em Processo (WIP) 0,34 dias e para as MatériasPrimas 13 dias. Existe uma meta de redução de estoque geral de 10% ao ano. 3.4.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos A ElectroGoods não analisa ou mapeia o poder na sua cadeia de suprimentos. 3.4.2.8- Fabricação O planejamento da produção é feito pelo departamento comercial através do PVP com suporte do TPC pertencente ao ERP utilizado. A produção é feita sempre para atendimento a um pedido (puxado) e 100% em células “TOYOTA” de produção do tipo “uma peça por vez”. 131 Foi observada grande flexibilidade nas células de produção com relação às alterações de demanda, que são muito freqüentes. 3.4.2.9- Abastecimento do Cliente A entrega dos pedidos dos clientes é sempre em atendimento a uma “ordem de compra” e basicamente o transporte para abastecimento dos clientes é rodoviário duas vezes por semana. A distância entre a ElectroGoods e a SmallGoods é de 120 km. 3.5 O Fornecedor de Segunda Camada MetalGoods Multinacional de porte médio e unidade fabril no estado de São Paulo atua no mercado de peças estampadas de precisão direcionadas para diversos segmentos, tais como: automotiva, eletroeletrônica, eletrodomésticos, moveleira dentre outras. A MetalGoods foi escolhida como participante do estudo de caso devido a sua classificação como fornecedora estratégica, além de estar entre os cinco maiores fornecedores da ElectroGoods. A MetalGoods está posicionada na segunda camada à montante da cadeia de suprimentos estudada. Sua gestão é feita com o apoio de um ERP destinado a empresas de porte médio. 3.5.1- Linha de Produtos Especificamente para a ElectroGoods a MetalGoods fornece as peças metálicas tais como: terminais, contatos, lâminas, etc. Esses componentes são segmentados em dois grupos: componentes de metais ferrosos e não ferrosos. a) Metais Ferrosos – são as peças que utilizam matéria-prima baseada no ferro, tais como: aço alto carbono, aço inox, aço baixo carbono, etc.; b) Metais não Ferrosos – são as peças que utilizam matéria-prima baseada nos metais não ferrosos, tais como: alumínio, cobre, latão, bronze, etc.. 132 3.5.2- Logística da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos A empresa MetalGoods é gerenciada com o apoio de um ERP de mercado, direcionado a empresas de médio porte, para integrar e suportar todos os seus departamentos e cadeia de suprimentos imediata. O sistema utilizado não possui módulos específicos de relacionamento com seus clientes e fornecedores, somente os modelos convencionais de gestão interna e da cadeia de suprimentos de primeira camada. A Figura 34 apresenta de forma ilustrativa a estrutura logística para o processo de comunicação e movimentação de materiais da cadeia de suprimentos interna e externa da MetalGoods com a utilização de uma gestão de produção parte puxada (MTO), pois sua produção ocorre somente após os pedidos dos clientes e parte empurrada (MTS), pois seu longo tempo de setup exige produção de lotes mínimos que não são repassados aos clientes, ou seja se tornam estoques. Corda/VMI ERP MetalGoods Semanal Fornecedores de Primeira Camada MRPII (MTS) Mensal ElectroGoods VMI 2 Clientes Semanal 27 Clientes Semanal 1x trimestre Gestão de Materiais Gestão da Produção (MTS) Diário Diário 90 dias Estoque MetalGoods Produção (MTS/MTO) 0,9 dias WIP Semanal Diário Estoque 30 dias estoque Figura 34 – Logística da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos 3.5.2.1- A Cadeia à Jusante Com um total de 30 clientes, a empresa pratica uma política para evitar uma 133 concentração maior que 20% das vendas totais em um único cliente. A empresa produz somente sob encomenda e apesar de produzir lotes econômicos (devido ao longo setup de máquina), não os repassa aos clientes. O nível de serviço ao cliente é muito bom e a busca de redução de lead time de fornecimento é considerada como uma das necessidades para se obter a excelência no atendimento. A empresa expede os materiais semanalmente, direto de sua planta. 3.5.2.2- A Cadeia à Montante A empresa MetalGoods possui 45 fornecedores segmentados por ferrosos e não ferrosos. A empresa não avalia o risco de interrupção de fornecimento e não atua neste sentido. 3.5.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos De um lado é pressionada pelos clientes com correções de demanda de última hora e por outro lado, fornecedores de grande porte impõem lead times de pedido chegando a mais de seis meses e lotes econômicos correspondentes a até noventa dias de consumo. Desta forma o MRPII foi configurado para atender um modelo de produção para estoque com geração de estoques de matéria-prima. 3.5.2.4- Relacionamento com os Fornecedores Os fornecedores da MetalGoods são selecionados com base na melhor condição entre custo e logística de abastecimento, de forma a gerar o mínimo de estoque. A empresa MetalGoods não utiliza contratos de fornecimento. 3.5.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação A empresa utiliza os sistemas básicos de comunicação com seus clientes e fornecedores, através de telefone, fax e e-mail. A empresa tem boa integração através de uma Intranet (rede 134 interna) com seu ERP, porém, módulos de comunicação mais sofisticados (portais de comunicação) estão limitados a somente três clientes que trabalham com VMI. 3.5.2.6- Política de Estoques da Empresa O estoque da MetalGoods é medido em dias e no ano de 2009, o estoque médio mensal de Produtos Acabados estava em 30 dias, o Material em Processo (WIP) 0,9 dias e para as Matérias-Primas 90 dias. Apesar da consciência da alta administração da necessidade de redução de estoque, nenhum objetivo foi traçado. 3.5.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos A MetalGoods não analisa ou mapeia o poder na sua cadeia de suprimentos. A empresa não tem nenhum tipo de contrato de fornecimento com seus clientes ou fornecedores. 3.5.2.8- Fabricação O planejamento da produção é feito pelo PCP com a utilização do módulo MRPII do ERP utilizado. A produção é feita a partir de um pedido de cliente, porém planejada para um lote econômico definido pela própria produção com referência aos grandes tempos de preparação da máquina (normalmente os tempos de preparação de máquina são desproporcionais ao consumo dos clientes). Uma máquina é capaz de produzir em um único dia o volume necessário para 15 dias e os tempos de preparação de máquina variam de quatro a quinze horas. Os tempos de preparação de máquina são os grandes limitadores da flexibilidade da produção. 3.5.2.9- Abastecimento do Cliente O atendimento aos pedidos dos clientes sempre é em atendimento a uma “ordem de compra” e basicamente o transporte para abastecimento dos clientes é rodoviário uma vez por semana. No caso de três clientes específicos, dentre eles a ElectroGoods, a MetalBase faz a 135 administração dos estoques do cliente através de um portal na Internet (VMI). A distância entre a ElectroGoods e a MetalGoods é de 50 km. 3.6- O Fornecedor de Terceira Camada MetalBase Empresa nacional de grande porte atua no mercado de matérias-primas metálicas ferrosas e não ferrosas para diversos segmentos no Brasil e exterior, tais como: autopeças, montadoras automotivas, bens duráveis, ferragens e utensílios, ferramentas de alto carbono, máquinas e equipamentos, eletroeletrônica, eletrodomésticos dentre outras. A MetalBase foi escolhida como participante do estudo de caso devido a sua classificação como fornecedora estratégica, além de estar entre os maiores fornecedores da MetalGoods. A MetalBase está posicionada na terceira camada à montante da cadeia de suprimentos estudada e sua gestão é feita com o apoio de um ERP. 6.6.1- Linha de Produtos Especificamente para a MetalGoods, a MetalBase fornece as bobinas e chapas metálicas de metais ferrosos e não ferrosos. Essas matérias-primas são segmentados em dois grupos: metais ferrosos e não ferrosos. a) Metais Ferrosos – são as bobinas, chapas e arames com base nos metais ferrosos, tais como: aço alto carbono, aço inox, aço baixo carbono, etc.; b) Metais não Ferrosos – as bobinas, chapas, arames, fios ou vergalhões com base nos metais não ferrosos, tais como: alumínio, cobre, latão, bronze, etc.. 3.6.2- Logística da MetalBase na Cadeia de Suprimentos A empresa MetalBase utiliza um ERP de mercado para integrar e suportar todos os seus departamentos e cadeia de suprimentos imediata. O sistema utilizado não possui módulos 136 específicos de relacionamento com seus clientes e fornecedores, somente os modelos convencionais de gestão interna e da cadeia de suprimentos de primeira camada. A Figura 35 apresenta de forma ilustrativa a estrutura logística para o processo de comunicação e movimentação de materiais da cadeia de suprimentos interna e externa da MetalBase com a utilização de uma gestão de produção empurrada (MTS). ERP MetalBase Fornecedores de Minério e outros Insumos Mensal 1000 Clientes Semanal MRPII (MTS) Mensal Semanal Mensal Gestão de Materiais Semanal Gestão da Produção (MTS) Diário Diário 36 dias Estoque MetalBase Produção (MTS) 2,5 dias WIP Diário Estoque 32 dias estoque Figura 35 – Logística da MetalBase na Cadeia de Suprimentos 3.6.2.1- A Cadeia à Jusante Com um total de quase 1.000 clientes, a empresa não tem política definida para evitar concentração de vendas nos clientes e afirma que esta concentração existe em alguns clientes. A empresa produz para estoque baseado no histórico dos clientes e segmento projetados para os próximos quatro meses. O nível de serviço ao cliente é médio, pois existem problemas de abastecimento nos momentos de aquecimento. A empresa exige de seus clientes uma programação de quatro meses, sendo dois meses firmes e dois com possibilidade de reprogramação, porém existe também uma exigência de lote mínimo, caso contrário a empresa MetalBase trabalha com distribuidores que compram em lotes mínimos e repassa 137 (por um preço maior) em lotes menores. A empresa expede os materiais semanalmente, direto de sua planta. 3.6.2.2- A Cadeia à Montante A empresa MetalBase possui em torno de sete fornecedores primários e os mesmos não são segmentados, ou seja, não estão classificados por tamanho, tipo de produto fornecido, etc.. A empresa não faz contrato de fornecimento e não avalia o risco de interrupção de fornecimento e não atua neste sentido. 3.6.2.3- A Previsão da Demanda de Suprimentos A empresa repassa aos seus fornecedores a programação do ERP com uma programação de quatro meses de previsão através de pedidos firmes de compras. Desta forma o MRP foi configurado para atender um modelo de produção para estoque com geração de estoques de matéria-prima. 3.6.2.4- Relacionamento com os Fornecedores Os fornecedores da MetalBase são selecionados com base na melhor condição de preço, porém sem desprezar a qualidade. A empresa MetalBase não utiliza contratos de fornecimento, ela trabalha com pedidos de compras firmes por quatro meses. O transporte da matéria-prima comprada é feita pelo modal rodoviário ou ferroviário. 3.6.2.5- Tecnologia da Informação e Comunicação A empresa utiliza os sistemas básicos de comunicação com seus clientes e fornecedores, através de telefone, fax e e-mail e em alguns casos EDI com os clientes. A empresa apresenta uma integração básica através de uma Intranet (rede interna) com seu ERP, sem módulos de comunicação mais sofisticados (portais de comunicação). 138 3.6.2.6- Política de Estoques da Empresa O estoque da MetalBase é medido em dias e no ano de 2009, o estoque médio mensal de produtos acabados estava em 32 dias, o material em processo (WIP) 2,5 dias e 36 dias para as matérias-primas. Existem objetivos, não abordados na entrevista, para a redução de estoque. 3.6.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos A MetalBase não analisa ou mapeia o poder na sua cadeia de suprimentos. A empresa não tem nenhum tipo de contrato de fornecimento com seus clientes ou fornecedores. 3.6.2.8- Fabricação O planejamento da produção é feito, através do ERP, pelo PCP com a utilização do módulo MRPII. A produção é feita para estoque com planejamento baseado na média de aquisição de cada cliente ou segmento aliado à posição dos concorrentes e disponibilidade de material e preço das matérias-primas utilizadas. Os elevados tempos de preparação de máquina é um dos grandes empecilhos da empresa para a redução de estoque. 3.6.2.9- Abastecimento do Cliente O atendimento aos pedidos dos clientes sempre é em atendimento a uma “ordem de compra” e basicamente o transporte para abastecimento dos clientes é rodoviário em períodos variáveis. A distância entre a MetalBase e a MetalGoods é de 150 km. 3.7- Limitações do Atual Modelo de Gestão da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods Apesar das empresas, pertencentes à cadeia estudada, terem atingido, individualmente, um bom desempenho em seus processos internos, este resultado não é refletido na cadeia como um todo. A Figura 36 ilustra o fluxo de informação, que ocorre de forma unidirecional e isolado entre as empresas e sua cadeia imediata, sem a preocupação de integração ou mesmo a 139 utilização da gestão unificada dos processos de negócio chaves que norteiem o funcionamento da cadeia. Loja Varejo CD Small Goods Metal Metal Base Base Informação Estoques MP 36 dias EP 2,5 dias PA 32 dias Produtos Consumidor Metal Metal Base Goods Informação Estoques MP 90 dias EP 0,9 dias PA 30 dias Produtos Informação Metal Small Base Goods Metal Electro Base Goods Estoques MP 13 dias Produtos EP 0,34 dias PA 15 dias Estoques MP 29 dias EP 0,27 dias PA 69 dias Figura 36 – Fluxo de Informações e Produtos da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods Podem-se listar algumas das características relativas à atual estrutura desta cadeia de suprimentos e às conseqüências no resultado das empresas participantes. Características: Não foi utilizado nenhum modelo de referência no projeto da cadeia; Não houve um projeto planejado da cadeia de suprimento, sendo que, a sua estruturação ocorreu de forma natural através dos relacionamentos par a par (fornecedor cliente) das empresas participantes; O relacionamento entre os parceiros comerciais é informal, isento de contratos de longo prazo, baseados apenas em previsões de abastecimento e pedidos firmes para curto prazo; Ausência do suporte da TIC na integração dos membros da SC; A utilização de processos lean ficou restrita à gestão interna das empresas participantes, não se estendendo para a gestão da cadeia. 140 Conseqüências no desempenho das empresas: Produção empurrada; Geração de estoques; Descompasso da demanda real em cada uma das camadas (efeito chicote); Insegurança entre os membros da SC pela inexistência de contratos de longo prazo; Limitação no investimento nas empresas pela inexistência de contratos de longo prazo; Nível de serviço inadequado mesmo com manutenção de altos estoques. 3.8- Considerações Finais A situação ideal seria a empresa focal (neste caso a SmallGoods) informar todos os fornecedores, em todas as camadas, sobre a real demanda. Esta situação não é tecnologicamente e politicamente possível no atual ambiente, pois prover uma comunicação entre todos os players da SC representaria algumas centenas de empresas a serem contatadas e gerenciadas. Como melhorar a gestão da cadeia de suprimentos para reduzir custos e aumentar a capacidade de resposta ao mercado consumidor? No próximo Capítulo propõe-se um modelo que busque responder a esta e as demais questões da pesquisa. 141 4- O MODELO PROPOSTO E SUA OPERACIONALIDADE Em uma economia globalizada, onde a cadeia de suprimentos se tornou complexa e desafiadora, passa a ser importante a utilização de um modelo de gestão que seja capaz de integrar as informações em todas as camadas da SC e não somente entre os parceiros imediatos. A dificuldade encontrada pelos modelos atuais para a integração da cadeia de suprimentos tem como um dos principais motivos a necessidade da confiança entre seus membros, o que costumeiramente não é possível em todas as camadas. O objetivo desta seção é propor um modelo de SCM que atue de forma integradora, independente da necessidade de confiança entre as empresas envolvidas. 4.1- Critérios para a Estruturação do Modelo Proposto Após a revisão bibliográfica pode-se inferir que, dentre os esforços das organizações, o gerenciamento da cadeia de suprimentos vem se despontando como uma necessidade para manter a competitividade das organizações manufatureiras. As empresas estudadas demonstraram que, apesar de conhecerem esta necessidade, não estão conseguindo garantir o crescimento e manutenção dos resultados necessários. O problema saiu do campo técnico para o de gestão. Existe uma carência de modelos de SCM que atuem de forma comprometida com os objetivos estratégicos de todas as organizações integrantes da cadeia, em especial da empresa focal. O modelo proposto deverá buscar atender esta necessidade para que possa alcançar o anseio dos diversos segmentos do mercado consumidor. Para tanto é possível enumerar alguns critérios que valorizem as necessidades do consumidor final e estejam alinhados com os objetivos estratégicos das empresas envolvidas: Gestão da Demanda na Cadeia de Suprimentos A incerteza e falta de visibilidade da demanda foram indicados na literatura como 142 sendo um dos causadores da formação de estoques ao longo da cadeia, gerando o efeito chicote. A amplificação da demanda tem início no varejo, se desdobrando, através da montadora, ao longo da cadeia até a última camada à montante. Para minimizar o efeito chicote o gerenciamento do estoque pelo fornecedor (VMI) deve estar incluído no modelo. O fornecedor passará a receber atualizações constantes, sobre o nível de estoque e necessidade do cliente, de forma a reabastecê-lo conforme necessário. Isso permitirá mais visibilidade aos fabricantes sobre a demanda de seus produtos. Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos Desde a década de 1990, as empresas, como forma de assegurar a competitividade, têm incluído entre suas prioridades a preocupação com o meio ambiente. Uma atuação mais integrada das cadeias de suprimentos pode favorecer a gestão ambiental e proporcionar oportunidades importantes para o desenvolvimento de negócios. Um dos sintomas da atual pressão pela sustentabilidade é o movimento 3BL relativo à relação entre o lucro, as pessoas e o planeta. As organizações têm evoluído neste sentido e as empresas que interpretarem de forma equivocada esta direção, correm o risco de perda de competitividade. Porém, as organizações que adotarem suas diretrizes e estratégias de forma alinhada ao 3BL tendem a ter uma gestão mais consciente e uma maior clareza quanto à própria missão. Portanto, o modelo proposto deve considerar a sustentabilidade na cadeia de suprimentos em sua estruturação. Dentre os usais indicadores, a manufatura vem utilizando a certificação ou adequação da empresa aos quesitos de três normas (ISO14001 - meio ambiente, OHSAS18001 – saúde e segurança no trabalho e SA8000 – responsabilidade social). Nesta tese, este indicador será denominado Indicador Geral de Sustentabilidade (IGS) e será pontuado entre 0 (zero) e 100 (cem). 143 - Poder na Cadeia de Suprimentos O poder exercido entre os membros da SC tem um forte apelo na geração dos estoques devido à imposição de prazos para colocação de pedidos de compra bastante dilatados, associado a quantidades mínimas de fornecimento. As montadoras de produto final (para venda ao consumidor) são comumente empresas de grande porte e com grande poder sobre seus parceiros à montante. O efeito contrário ocorre no final da cadeia, onde grandes empresas dominam a produção e comercialização das matérias-primas básicas (plásticos, metálicos, produtos químicos, etc.) e têm grande poder sobre seus parceiros à jusante. O efeito desta estrutura de SC é a ocorrência de dois pontos de poder sobre as empresas do centro da cadeia, normalmente de médio porte, de um lado os clientes à jusante e de outro os fornecedores de matéria-prima à montante. Portanto o poder exercido na cadeia de suprimentos é um critério que deve ser considerado na estruturação do modelo proposto. A gestão do poder será de incumbência da empresa focal através da assinatura de contratos de parceria de longo prazo com seus fornecedores imediatos pertencentes à cadeia estudada. Estes contratos devem ser claros e bem redigidos no que diz respeito às regras de abastecimento, qualidade e preço, apresentando multas compatíveis com as situações e tamanho das organizações envolvidas, bem como garantias de longo prazo para garantir investimentos ao longo do tempo. Para garantir o equilíbrio na cadeia, a empresa focal deve também assinar contratos de parceria com os fornecedores de matéria-prima básica (a empresa focal estará representando diversas empresas de sua cadeia de suprimentos). Da mesma forma os contratos de parceria devem ser claros e definir as quantidades que serão consumidas e principalmente quais serão as empresas consumidoras. 144 - Risco na Cadeia de Suprimentos O risco se encontra em todas as camadas da cadeia, desde o varejista, como lembrado por Gazolla (2002), até o último nível de fornecimento e, ocorre por uma variedade de motivos, tais como: instabilidade geopolítica, greves, ataques terroristas, incêndios, blackouts elétricos além de desastres naturais dentre outros de menor proporção (SRIVIDHYA e JAYARAMAN, 2007; KUMAR E TEWARY, 2007). Neste ambiente dinâmico e globalizado, este item deve estar presente no modelo que será proposto. Usando a ferramenta proposta por Srividhya e Jayaraman (2007), ilustrada na Figura 37, deverá haver, durante o projeto ou reestruturação da SC, uma análise das empresas envolvidas e classificação das mesmas em um dos quadrantes da matriz proposta na mesma figura. Os autores segmentam os fornecedores em quatro grupos de risco através do cálculo de um Perfil de Risco (PR). O PR é a multiplicação de um fator relacionado ao impacto que o fornecedor tem sobre o negócio (caso haja algum problema) versus a probabilidade de ocorrência. [Ex.: Um fornecedor com alta probabilidade de interrupção e, no caso de ocorrência da interrupção o impacto no negócio seja sério, o PR é 15, ou seja, 5 (alta probabilidade) multiplicado por 3 (impacto sério), PR= 5 * 3 = 15]. As empresas da SC devem ser classificadas de acordo com seu PR, sendo: estratégica (PR entre 15 e 25), crítica (PR entre 10 e 14), alavancável (PR entre 5 e 9) e não crítica (PR entre 1 e 4). As classificadas como estratégicas necessitam de maior atenção. 145 Impacto no Negócio Desprezível (1) Marginal (2) Sério (3) Crítico (4) Catastrófico (5) Alta Probabilidade (5) PR= 5 PR=10 PR=15 PR=20 PR=25 Provável (4) PR= 4 PR= 8 PR=12 PR=16 PR=20 Ocasional (3) PR= 3 PR= 6 PR= 9 PR=12 PR=15 Remoto (2) PR= 2 PR= 4 PR= 6 PR= 8 PR=10 Improvável (1) PR= 1 PR= 2 PR= 3 PR= 4 PR= 5 Probabilidade Alta Probabilidade CRÍTICO ESTRATÉGICO Baixa Probabilidade NÃO CRÍTICO ALAVANCÁVEL Impacto no Negócio ($) Baixo Impacto Alto Impacto Figura 37 – Matriz Estratégica para Análise de Risco de Fornecimento (adaptada de Sviridhya e Jayaraman, 2007) - Parceria na Cadeia de Suprimentos A parceria não significa necessariamente confiança total entre os parceiros. A negociação de contratos de longo prazo, o estabelecimento dos deveres e obrigações de cada uma das partes, clareza nos requisitos: qualidade, preço e prazo, serão primordiais para a conquista dos resultados almejados no modelo. As parcerias visam primordialmente minimizar os riscos e aumentar a visibilidade da demanda entre os parceiros comerciais. Segundo Kaipia e Lakervi (2005), parceria não necessariamente significa dividir todas as informações com todos os parceiros da cadeia de suprimentos, e sim compartilhar somente informações que sejam significantes e úteis. Gazolla (2002) afirma que na premissa básica da gestão de relacionamentos, a cooperação entre todos os participantes resultará, em última instância, em sinergia, que, 146 conseqüentemente, propiciará maior nível de desempenho conjunto. Desta forma, o incentivo a parceria formal deverá fazer parte do modelo proposto. 4.2- Estruturação do Modelo Proposto Este modelo foi concebido pela integração entre os conceitos e princípios da Teoria das Restrições (TOC), os princípios e ferramentas do pensamento enxuto (lean), as ferramentas da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e o modelo de referência SCOR. A Figura 38 ilustra a estrutura básica do modelo proposto, que tem por objetivo aumentar a integração entre as organizações de uma cadeia de suprimento. Esta integração busca melhorar a resposta ao mercado consumidor, proporcionando produtos de melhor qualidade, preço justo e com entregas mais rápidas. O objetivo também inclui a preocupação com a sustentabilidade onde, em sintonia com o movimento 3BL (Triple Bottom Line), busca o equilíbrio entre o resultado das empresas, o respeito às pessoas e a preservação ambiental. A base do modelo é a reconfiguração da SC com base no modelo SCOR associado a contratos de parcerias de longo prazo. É fundamental que os contratos apresentem uma clara definição de controles, para que todos os membros possam promover, de forma segura, investimentos em produtos, gestão e processo. Esta base sustenta os objetivos do modelo através de quatro pilares: a Teoria das Restrições, o Pensamento Enxuto, a Tecnologia da Informação e Comunicação e o modelo de referência SCOR. 147 Objetivo: Aumentar a Responsividade ao Mercado Consumidor Visão Sistêmica Subordinação Restrição TOC Melhorar a Responsividade ao mercado consumidor Desperdício Comunicação Fluxo de Valor Sincronização Demanda Velocidade LEAN TIC Referência Estruturação Documentação SCOR Parcerias de Longo Prazo através de Contratos bem Estruturados e com Clara Definição dos Controles Figura 38 – Estrutura do Modelo Proposto - TOC Com a visão sistêmica que lhe é intrínseca, apoiará na identificação das restrições além de disponibilizar o seu método de melhoria contínua. A ferramenta TPC-S buscará a subordinação dos membros da cadeia à demanda do mercado, além da identificação de possíveis restrições que possam aparecer e desta forma contribuirá para a minimização dos riscos de falta de suprimento e para a identificação das prioridades nas parcerias e contratos de fornecimento. - LEAN Disponibilizará a cultura e as ferramentas para a identificação e eliminação dos desperdícios em todos os players da cadeia de suprimentos. Uma das ferramentas a ser utilizada é o Mapeamento do Fluxo de Valor aplicado a SC (MFV estendido), disseminando a cultura da busca da perfeição. O Kaisen, para eliminação de desperdícios, utiliza a padronização associado à disciplina como suporte para evitar retrocessos das conquistas. A 148 integração dos conceitos da TOC com os princípios e ferramentas Lean promoverá a minimização dos estoques. - Modelo SCOR O modelo SCOR servirá de base na reconfiguração da SC para atingir o mapa do estado futuro do fluxo de valor, referenciando a estrutura e documentando os processos de negócio, além de associar as métricas, as melhores práticas e as características tecnológicas. Portanto, o modelo SCOR proporcionará a derivação para o estado futuro, comparando e quantificando o desempenho de cada empresa com outras da mesma categoria, no mercado, para estabelecer objetivos baseados no resultado “best in class”. Outra função é a de proporcionar uniformidade à comunicação entre os participantes da cadeia de suprimentos e melhorar efetivamente o seu gerenciamento, evitando que as empresas identifiquem e nomeiem seus próprios processos, gerando problemas durante de comunicação. - TIC Com a atual complexidade do mercado e em um ambiente globalizado, passa a ser de grande importância o uso de ferramentas de informação, comunicação e sincronização de alta velocidade. A TIC terá papel fundamental na integração sistêmica das empresas participantes da cadeia de suprimentos. O uso da tecnologia de informação e comunicação passa a ser, neste trabalho, um forte capacitador para o processo de integração, pois, capturar e dividir informações em tempo real é essencial para aumentar o desempenho da cadeia de suprimentos. 4.3- Operacionalidade do Modelo Proposto Quando todos os participantes de uma SC estão integrados e atuam como uma entidade única, havendo a conciliação entre fornecimento e demanda por todos os elos, o resultando deverá ser a melhora do desempenho. A Figura 39 ilustra a proposta de integração 149 entre os pilares do modelo proposto na busca dos objetivos, que em um ambiente de TIC atuam de forma sincronizada nas empresas da cadeia. Figura 39 – Integração dos Subsistemas do Modelo Proposto 4.3.1- Interação entre a TOC, Lean e Cadeia de Suprimentos As diferenças entre as culturas da TOC, que tem foco sistêmico, e Lean, que tem foco no processo, podem ser resolvidas de forma às duas abordagens se complementarem. A TOC, com objetivo primário a restrição, pode identificar os processos chaves que provêm uma maior alavancagem relativa à perspectiva global. Subseqüentemente, a cultura e as ferramentas oferecidas pelo pensamento enxuto, com objetivo primário a simplificação, podem remover as atividades que não agregam valor. O resultado é a redução dos lead-times, representando uma correspondente redução nos estoques através das cadeia de suprimentos. A disseminação dos cinco princípios Lean onde, o processo kaisen buscando, de forma contínua, a minimização ou eliminação dos sete desperdícios, juntamente com a ferramenta de 150 mapeamento do fluxo de valor proporcionam ao modelo a busca da perfeição e sincronismo à demanda. O processo de melhoramento contínuo da TOC baseado em uma metodologia de cinco passos, com sua visão sistêmica, foco na restrição e subordinação dos recursos à restrição proporcionam ao modelo a operacionalização do mapeamento de fluxo de valor quando estendido à cadeia de suprimentos. 4.3.2- Interação entre o SCOR, Lean e Cadeia de Suprimentos O modelo SCOR proporciona em um único modelo a conexão de processos de negócio, métricas, melhores práticas e características tecnológicas de forma a proporcionar suporte à comunicação entre os participantes da cadeia de suprimentos, melhorando efetivamente o seu gerenciamento. Porém, sua eficiência está ligada no conhecimento detalhado da estrutura da SC, papel designado ao Lean através do MFV estendido. O modelo SCOR ainda oferece, através dos questionários (Anexos 1, 2 e 3), uma estrutura formal ao Lean na captura do estado atual. O modelo SCOR, juntamente com o MFV estendido, também proporcionará a derivação da cadeia de suprimentos para o estado futuro, comparando e quantificando o desempenho de cada empresa com outras da mesma categoria, de forma a estabelecer objetivos baseados no resultado “best in class”. 4.3.3- Interação entre a TOC, SCOR e Cadeia de Suprimentos Na derivação para o estado futuro, proporcionada pelo SCOR, a aplicação da TOC no modelo representa a quebra de paradigmas, gerando uma visão sistêmica da organização com foco no resultado global e não local. A TOC é baseada no princípio de que existe uma causa comum para muitos efeitos e os fenômenos que vemos são conseqüências de causas mais profundas. Nesta interação, a função da TOC é a de identificar possíveis restrições que estão impedindo a cadeia de suprimentos de atingir seus resultados. Ao serem quebradas as restrições internas do sistema, a restrição passará a ser a demanda e desta forma pode-se utilizar a ferramenta TPC-S. 151 4.3.4- Suporte da TIC no Processo de Integração A TIC terá papel fundamental como facilitador na operação dos outros pilares durante a integração sistêmica das empresas participantes da cadeia de suprimentos, capturando e dividindo informações em tempo real de forma a aumentar o desempenho do modelo. APS, ERP, Internet, VMI e B2B Com a Internet de alta velocidade é possível a implementação de sistemas de comunicação eletrônica em diversas camadas da cadeia de suprimentos. Uma B2B promoverá a troca de informações de demanda entre as empresas, vinculando os diversos ERPs e garantindo um melhor nível de integração em toda a SC. Na Internet, portais promoverão, de forma segura e em tempo real, a comunicação entre as organizações envolvidas. Os ERPs dos integrantes da SC se integram a empresa focal através da captura dos dados disponibilizados pelo APS. Na empresa focal, através do APS, haverá a substituição do modelo de planejamento MRPII pelo TPC-S. Os fornecedores imediatos (de primeira camada) passarão a gerenciar os estoques da empresa focal através do modelo VMI em um portal B2B na Internet. O APS também sincronizará os fornecedores de matéria-prima básica, que serão informados, também no portal, sobre a necessidade de matéria-prima. Desta forma, a empresa focal poderá subordinar toda a cadeia de suprimentos à sua demanda. 4.4- O Método de Implementação A implementação deste modelo está estruturada em 20 passos divididos em três fases: “O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos”, “O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos” e “O Processo de Melhoramento Contínuo”. A Tabela 3 apresenta o detalhamento dos 20 passos em cada uma das três fases e sua sustentação através de cada um dos pilares do modelo proposto. 152 1 2 3 1- Escolher o gerente para o fluxo de valor 2- Selecionar uma família de produtos 3- Mapear os riscos de abastecimento para a Cadeia de Suprimentos da família selecionada 4- Delimitar um campo de visão gerenciável 5- Montar uma equipe 6- Padronizar os símbolos a serem utilizados 7- Definir os indicadores de desempenho 8- Listar as etapas físicas para criar o produto no estado atual 9- Desenhar as etapas físicas do mapa do estado atual 10- Verificar o IGS (Indicador Geral de Sustentabilidade) de cada empresa da cadeia 11- Listar o fluxo de informação para criar o produto no estado atual 12- Completar o mapa do estado atual com o fluxo de informações 13- Projetar a nova cadeia utilizando como referência o SCOR e buscando transferir a restrição para a demanda 14- Dimensionar o pulmão e as cordas e subordinar os parceiros imediatos e fornecedores da última camada (contratos de parceria) 15- Listar as novas etapas físicas e fluxo de informações para criar o produto no estado futuro 16- Desenhar o mapa do estado futuro do fluxo de valor 17- Elaborar e implementar contratos de parceria de longo prazo 18- Implementar o mapa do estado futuro do fluxo de valor 19- Análises dos resultados obtidos 20- Voltar ao Passo 1 e não deixar a inércia se tornar uma restrição no sistema X X X X X X X X X X X X X X X X SCOR TIC LEAN Passo TOC Fase Tabela 3 – Interface entre Fases e Passos com os Pilares do Modelo Proposto X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 4.4.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos Passo 1: Escolher o gerente para o fluxo de valor A empresa focal, utilizando o conceito de mapeamento de fluxo de valor estendido, deverá nomear um gerente para o processo. Diferentemente de um fluxo de valor convencional, onde o gerente do fluxo de valor seria um bom técnico, para o fluxo de valor 153 estendido ele deverá ser um gerente de negócios, pois estará administrando conflitos em culturas diferentes, onde nem sempre ele terá o controle. O gerente para o fluxo de valor deverá ser um funcionário da empresa focal, evitando-se cometer o erro apontado por Womack e Jones (2004, p. 8) quando afirmam que, “uma inclinação compreensível em qualquer empresa, com gerentes de linha muito ocupados – e isso engloba quase todas as empresas – é delegar a tarefa do mapeamento do fluxo de valor para consultores externos ou para grupos internos de funcionários dos departamentos de planejamento de operações ou de melhoria de processo”. Passo 2: Selecionar uma família de produtos O gerente do fluxo de valor deverá inicialmente determinar uma família de produtos para iniciar os trabalhos. Normalmente, uma família de produtos inclui um grupo de vários itens que passam por uma mesma cadeia de suprimentos, tanto à montante como à jusante. É recomendável escolher inicialmente uma família de produtos menos complexa e com uma cadeia de suprimentos que possa apresentar ganhos de forma mais rápida e fácil. À medida que a equipe fortalece seus conhecimentos, então é possível buscar desafios maiores. Passo 3: Mapear os riscos de abastecimento para a Cadeia de Suprimentos da família selecionada Mapear os riscos de abastecimento na SC utilizando a ferramenta proposta por Srividhya e Jayaraman (2007) ilustrada na Figura 37. Classificar as empresas em um dos quatro quadrantes apresentados na mesma Figura. Passo 4: Delimitar um campo de visão gerenciável O ideal seria estudar para cada componente da família de produtos selecionada a cadeia de suprimentos em sua totalidade, desde o consumidor final na compra ao varejo, passando pelos varejistas, atacadistas até chegar ao último nível de fornecimento, o minério 154 sendo extraído da natureza. Contudo, tentar mapear todos os componentes ou tentar analisar todas as camadas da cadeia de suprimentos será inviável. É recomendável a segmentação da família de produtos selecionada em subsistemas de forma a delimitar o campo de ação do gerenciamento. Também é recomendável limitar as camadas à montante até o fornecedor da matéria-prima e analisar uma linha de fornecimento única a cada trabalho, ou seja, um subsistema do produto com seu principal fornecedor, um fornecedor importante na segunda camada e assim por diante até chegar à matéria-prima em sua primeira forma industrializada (as bobinas de aço, os termoplásticos para produção de componentes, etc). O gerente do fluxo de valor deve buscar estudar inicialmente a linha da SC onde estão os fornecedores classificados como “estratégicos” na avaliação de risco do Passo 3. Caso não existam fornecedores nesta categoria, os próximos serão os “críticos” e caso também não existam fornecedores neste grupo deve-se escolher os “alavancáveis” e de finalmente os “não críticos”. Passo 5: Montar uma equipe O gerente de fluxo de valor selecionado deverá montar sua equipe de trabalho. A equipe de fluxo de valor necessita incluir representantes de todas as empresas e plantas que compartilhem dados e decisões inerentes ao fluxo de valor. A equipe não deve ser muito grande para evitar improdutividade nas operações além de possibilitar a inviabilização do projeto. A recomendação é um elemento de cada planta e empresa envolvida. À medida que a equipe vai sendo montada, inicialmente na primeira camada, os participantes de cada empresa devem auxiliar na execução dos Passos 2 e 3 para delimitar o campo de visão à montante de suas empresas até chegar à última camada de fornecimento a ser estudada. Passo 6: Padronizar os símbolos a serem utilizados A Figura 39 apresenta os símbolos usuais sugeridos para o trabalho. O mais 155 importante é que estes símbolos tenham o reconhecimento claro por todos os membros. Ícones do Fluxo de Material Pulmão MP 36 dias EP 2,5 dias PA 32 dias OTIF=92 IGS=97 Seta de Puxar R Seta de Empurrar Caixa de Dados Met al Empresa Base Envio Produto Acabado CD Centro de Distribuição Logística Reversa 1x Trimestre Loja Varejo Transporte Rodoviário Loja Varejo Ícones do Fluxo de Informação C Possível RRC Alerta Contratos de Parceria S S Sustentável NÃO Sustentável Corda - VMI Centro de Controle Subordinação TPC - TOC Fluxo Informação Eletrônica OTIF Bom OTIF Médio Semanal Informação IN Pedidos OTIF Ruim Fluxo Informação manual Figura 40 – Lista de Figuras e Símbolos Utilizados (adaptada de Womack e Jones, 2004) O fluxo de valor é desenhado de forma ilustrativa, o que torna muito importante a padronização dos símbolos a serem utilizados. A equipe de fluxo de valor pode fazer customizações, adaptações e inclusões de forma a facilitar o entendimento nas empresas envolvidas. Passo 7: Definir os indicadores de desempenho A representatividade e significância dos indicadores de desempenho, no que tange à obtenção das metas, variam com a realidade e paradigmas do momento, portanto a definição destes indicadores é de competência exclusiva da equipe de fluxo de valor. 156 Sob a luz dos atuais paradigmas, esta tese sugere a utilização de três indicadores: o nível de estoque, o nível de serviço ao cliente e o grau de sustentabilidade na cadeia de suprimentos. Segundo Alves (2001), a redução do lead time, com conseqüente redução dos estoques, se distribuídos ao longo da cadeia de suprimentos, podem proporcionar uma vantagem competitiva real e duradoura, desde que mantendo um bom nível de serviço ao cliente. Para Giannetti et al. (2007), as empresas, de forma a assegurar a competitividade, têm incluído entre suas prioridades a preocupação com o meio ambiente. Passo 8: Listar as etapas físicas para criar o produto no estado atual A equipe de fluxo de valor deverá iniciar as visitas às plantas pela empresa focal, pois ela é a razão da existência destes processos de melhoramento contínuo. As consultas à documentação, acompanhamento de processos e entrevistas devem estar estruturados de forma a direcionar os trabalhos, evitando dispersão no processo. Os Anexos 1, 2 e 3 apresentam uma sugestão dos questionários que podem ser utilizados para este fim, sendo que os mesmos foram montados com base do modelo de referência SCOR. A seguir são apresentadas algumas considerações feitas por Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002), que podem ser muito úteis ao time responsável pela cadeia de valor: Triangulação, ou seja, o uso e combinação de métodos diferentes para estudar o mesmo fenômeno. Devem-se usar questionários para antecipação das informações necessárias, entrevistas, observação direta, análise de documentos, além de comparação entre as perspectivas dos clientes versus seus fornecedores através da utilização de múltiplas fontes de dados; Consultar nas empresas a serem estudadas, profissionais que possam abrir as portas, onde necessário, para saber quais serão as melhores pessoas a serem entrevistadas de 157 forma a obter os dados necessários e prover apoio sênior para que a pesquisa seja melhor conduzida; Manter um equilíbrio entre a eficiência e a riqueza dos dados. Mesmo representando um grande consumo de tempo buscando a máxima descontração durante as entrevistas, podendo incluir almoços e evitando o registro digital da voz; Para as entrevistas utilizar o modelo funil. Iniciando com perguntas amplas e abertas e progredindo para questões mais específicas chegando aos detalhes no final; Preparar e enviar antecipadamente os questionários com todos os tópicos, de forma a preparar os entrevistados e evitar esquecimento ou divagação sobre tema o que tornaria as entrevistas improdutivas (executivos dispõem de agenda com tempo limitado e bem controlado). Após coletados os dados, os mesmos devem ser analisados pela equipe e transcritos para uma Tabela denominada lista das etapas físicas necessárias para criar o produto escolhido, a estruturação desta tabela é sugerida no Anexo 4. O preenchimento desta Tabela deve obedecer às seguintes orientações: 1) A coluna “etapas” deve ser preenchida de forma seqüencial, iniciando-se pelo “1”. 2) A coluna “etapas agregam valor” deve ser preenchida também de forma seqüencial, porém somente pelas atividades que agregam valor para o cliente. Etapas de transporte, estocagem, reprocessamento, etc. não agregam valor ao produto e portanto não serão enumeradas. 3) A coluna “Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa” deve ser preenchida para todas as etapas, tanto as que agregam como para as que não agregam valor. 4) A coluna “tempos de execução das etapas (minutos)” deve conter o tempo total para execução de cada etapa e deve ser expressa em minutos. 158 5) A última coluna “tempos agregam valor (minutos)” será preenchida com o mesmo tempo da coluna anterior, porém somente para as etapas que agreguem algum valor para o cliente e indicadas na segunda coluna. O somatório destes tempos deve ser consolidado na Tabela 4, destacando-se o total de etapas e tempos que agregam valor além da distância percorrida pelos materiais para sair da empresa inicial até chegar ao centro de distribuição da empresa focal. Tabela 4 - Resumo das Etapas Físicas (adaptada de Womack e Jones, 2004, p. 17) Total Agregação de Valor Etapas Tempo (minutos) Distância Percorrida (km) Passo 9: Desenhar as etapas físicas do mapa do estado atual A lista de etapas físicas, as etapas que agregam valor e as que não agregam valor, proporcionará ao grupo uma visão motivadora das possíveis e significantes melhorias no processo. Para facilitar a visualização e proporcionar a possibilidade de racionalizações o grupo deve iniciar o desenho do mapa do estado atual de forma bastante simples com desenhos manuais e utilizando os símbolos sugeridos nas etapas anteriores ou definindo novos símbolos, porém, é muito importante a documentação dos mesmos para evoluções futuras. O gerente do fluxo de valor, acompanhado por seu time, deve pessoalmente iniciar o desenho do fluxo de valor, partindo da empresa focal em sentido jusante até o consumidor final e na seqüência à montante em direção a matéria-prima básica. Deve-se representar cada etapa descrita com os símbolos adequados ao tipo de processo que foi executado. Nesta fase o grupo deve observar os processos que não agregam valor e fazer discussões preliminares para o desenho do estado futuro do fluxo de valor. O seqüenciamento da preparação do mapa deve ser como segue: 159 Desenhar as unidades físicas de fabricação, estoque e transbordo de material, iniciando da empresa focal no sentido jusante até chegar ao cliente final; Continuar agora na direção contrária, à montante da cadeia; Desenhar as caixas de dados alocados imediatamente abaixo de cada planta; Acrescentar as conexões e modais de transporte, com as linhas de tempo e etapas Passo 10: Verificar o IGS (Indicador Geral de Sustentabilidade) de cada empresa da cadeia Neste momento a equipe de fluxo de valor deverá avaliar cada uma das empresas da cadeia de suprimentos com relação à sustentabilidade. O indicador sugerido para ser utilizado é o IGS (Indicador Geral de Sustentabilidade) que pode assumir valores entre 0 (zero) e 100 (cem). Este indicador é pontuado de forma balanceada, através da certificação ou mesmo uma simples adequação da empresa analisada aos quesitos de cada uma das três normas comumente utilizadas como referência para a verificação da sustentabilidade (ISO14001 meio ambiente, OHSAS18001 – saúde e segurança no trabalho e SA8000 – responsabilidade social). Passo 11: Listar o fluxo de informação para criar o produto no estado atual Até este momento não apareceu o principal motivo da existência dessas empresas, o pedido do cliente. Sem a necessidade de um cliente não haverá a necessidade da existência das empresas como tão pouco de uma cadeia de suprimentos, portanto nesta etapa devem ser listados todos os pedidos vindos do cliente imediato e explodir estas informações internamente de forma a atender ao pedido recebido. Em resumo nesta fase serão listadas todas as etapas lógicas das empresas envolvidas. Devem ser incluídas as descrições e as freqüências de execução de cada informação. Nesta etapa também deverá ocorrer à verificação, em cada uma das empresas da 160 cadeia, do nível de serviço ao cliente. O nível de serviço ao cliente, OTIF (On time in full), será considerado bom para valores entre 90 e 100. Para OTIF entre 80 e 90 o nível de serviço será considerado médio e OTIF abaixo de 80 representará um nível de serviço ao cliente ruim. O OTIF representa o desempenho das entregas, considerando-se a pontualidade associada à quantidade. A pontuação “100 (cem)” representa que a entrega foi entregue no prazo e na quantidade correta. A pontuação “0 (zero)” representa que a entrega foi feita fora do prazo ou na quantidade incorreta (quantidade abaixo ou acima da necessidade). A soma das pontuações “100 ou 0” de cada entrega, dividida pela quantidade de entregas resultará no OTIF. Passo 12: Completar o mapa do estado atual com o fluxo de informações O gerente do fluxo de valor e sua equipe devem iniciar o desenho das etapas lógicas do processo, iniciando novamente pela empresa focal à jusante seguida do mesmo processo à montante até chegar ao primeiro nível. Da mesma forma, o grupo deve buscar possibilidades para melhorar o processo atual já com foco no desenho do estado futuro do fluxo de valor. 4.4.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos Passo 13: Projetar a nova cadeia utilizando como referência o SCOR e buscando transferir a restrição para a demanda Neste momento a equipe de fluxo de valor, que já concluiu o mapa do estado atual, deve se perguntar: “O que deve ser feito e em que seqüência de forma a criar um estado futuro melhor?”. Utilizando o modelo SCOR e ferramentas da TOC, a equipe de fluxo de valor deve reorganizar cada um dos cinco processos (planejar, abastecer, fabricar, entregar e retornar) na direção da melhora dos indicadores. Para tanto o mesmo deve ser trabalhado nos três níveis de detalhamento do modelo SCOR: 161 Nível 1 Neste nível deverão ser traçados as referências de desempenho, os objetivos, podendo para tanto, analisar, junto ao mercado, quais as referências a serem seguidas (benchmarking). Nível 2 O nível 2 é de configuração e dependendo de suas escolhas durante esta fase, serão configuradas as demais empresas de sua cadeia de suprimentos. Neste nível a equipe de fluxo de valor deve deixar clara sua posição pela escolha de um modelo puxado de produção, ou seja, produção sob pedido. Nível 3 No nível 3 serão decompostos os processos, definindo sua capacidade para competir com sucesso nos mercados que escolheu para atuar. Neste nível são definidos os elementos de cada processo, bem como suas entradas e saídas. Para tanto a equipe deve identificar possíveis restrições que estão impedindo a cadeia de suprimentos de atingir seus resultados, a restrição não necessariamente será física e, na maior parte das vezes ela é política. A Figura 41 apresenta um algoritmo de gerenciamento deste modelo, onde o objetivo é aumentar a capacidade dos recursos restritivos (empresas) através do uso de horas extras, etc., no curto prazo (explorar a restrição) e elevá-la no médio e longo prazo através de investimentos, desenvolvimento de novas fontes de fornecimento, etc.. Quebrando-se as restrições internas do sistema a restrição passará a ser a demanda e desta forma pode-se utilizar a ferramenta TPC-S. 162 Identificar a Demanda Não deixar que a INÉRCIA seja a próxima restrição Identificar a Capacidade dos Recursos do Sistema Explorar o Recurso Existe Restritivo Sim Recurso (Horas-Extras, Etc..) Restritivo? Curto Prazo (Temporariamente) Restrição foi Quebrada? Não Manter Modelo TPC-S Não Não Sim Investimentos para Aumentar a Capacidade da Restrição. Médio/Longo Prazo (Definitivamente) Restrição foi Quebrada? Sim Figura 41 – Algoritmo para Identificação e Quebra das Restrições Passo 14: TPC-S: Dimensionar o pulmão e as cordas e subordinar os parceiros imediatos e fornecedores da última camada (contratos de parceria) Os dimensionamentos do pulmão e das cordas estão relacionados exclusivamente ao fluxo de informação, com reflexo posterior na redução de etapas físicas que não agregam valor ao produto. Segundo Womack e Jones (2004), baixos níveis de estoque com alta variabilidade de demanda e baixa capacidade do processo representam a figura do caos. Portanto, é muito importante para a equipe de fluxo de valor avaliar qual será a real necessidade do pulmão de proteção da demanda (na empresa focal) e qual o tamanho da corda para disparar a entrada de material no sistema (em que ponto do pulmão deve haver a solicitação dos materiais). Neste momento deve-se analisar a viabilidade de assinatura de 163 contratos de parceria de longo prazo entre a empresa focal e seus fornecedores diretos, além de contratos com os fornecedores de última camada. Na empresa focal haverá a substituição dos modelos MRPII pelo TPC-S de forma a alimentar o seu próprio sistema produtivo com a necessidade de produção. Os fornecedores imediatos (de primeira camada) passarão a gerenciar seus estoques através do sistema VMI em um portal B2B na Internet. Os fornecedores de matéria-prima básica serão informados, também em seu portal na Internet, sobre a necessidade de matéria-prima, subordinando assim todo o sistema. Outras ferramentas de TIC, tais como, sistemas de APS (Planejamento e Programação Avançados) e sistemas para simulação de desempenho dos indicadores podem ser utilizados pela equipe, porém, o uso destas ferramentas não foi abordado neste trabalho. Passo 15: Listar as novas etapas físicas e fluxo de informação para criar o produto no estado futuro A equipe de fluxo de valor deverá, baseada nos melhoramentos analisados nas etapas anteriores, listar as novas etapas físicas e de fluxo de informação que constituirão o mapa de fluxo de valor do estado futuro. Passo 16: Desenhar o mapa do estado futuro do fluxo de valor As ações executadas nos Passos 13, 14 e 15 devem ser incluídas no desenho do mapa do estado futuro. Além dessas ações, possivelmente a equipe de fluxo de valor também já identificou diversos pontos de melhoria no sistema e estas melhorias também devem ser desenhadas no mapa do estado futuro. A mudança de paradigma começa pelos contratos de parceria de longo prazo que proporcionarão uma possibilidade enorme de redução dos estoques e de etapas que no estado atual do fluxo de valor estavam presentes. Outro paradigma a ser quebrado é a identificação e eliminação das restrições (físicas e políticas) da cadeia de suprimentos de forma que a demanda passe a ser a restrição. Desta forma pode-se 164 aplicar o método TPC-S na gestão dos estoques, disparando as cordas a partir de um pulmão de proteção da demanda localizado na empresa focal. 4.4.3- Terceira Fase: O processo de melhoramento contínuo Passo 17: Elaborar e implementar contratos de parceria de longo prazo A empresa focal deve promover contratos de parceria de longo prazo com seus fornecedores imediatos pertencentes à cadeia estudada. Estes contratos devem ser claros e bem redigidos no que diz respeito às regras de abastecimento, qualidade e preço, apresentando multas compatíveis com as situações e tamanho das organizações envolvidas, bem como garantias de longo prazo para garantir investimentos ao longo do tempo. Os fornecedores de matéria-prima básica são freqüentemente empresas de grande porte e costumam deter grande poder sobre seus clientes, normalmente de médio porte. Para garantir o interesse destas empresas no processo de otimização proposto neste modelo, a empresa focal deve também propor contratos de parceria com estas empresas (a empresa focal estará representando diversas empresas de sua cadeia de suprimentos). Da mesma forma os contratos de parceria devem ser claros e definir as quantidades que serão consumidas e principalmente quais serão as empresas consumidoras. Passo 18: Implementar o mapa do estado futuro do fluxo de valor A equipe está se deparando com o Nível 4 de detalhamento do SCOR, o nível de implementação das práticas de gestão da cadeia de suprimentos. Esta é a fase mais difícil, envolvendo problemas políticos (os problemas deverão ser muitos devido a se tratar de culturas diferentes entre diversas organizações independentes), porém a equipe de fluxo de valor deverá estar preparada para enfrentar os desafios. Passo 19: Análise dos resultados obtidos O gerente e sua equipe devem fazer um resumo comparativo dos indicadores, 165 mostrando sua evolução entre o mapa do estado atual, o objetivo proposto no mapa do estado futuro e quais foram realmente os ganhos obtidos. A partir deste quadro resumo, o gerente acompanhado de sua equipe pode fazer uma análise crítica do desempenho do trabalho e apresentar para cada uma das empresas participantes. Passo 20: Voltar ao Passo 1 e não deixar a inércia se tronar uma restrição no sistema O vigésimo e último passo é o início de um processo de melhoria contínua, onde a equipe de fluxo de valor colocou em prática todos os estudos feitos nas fases anteriores de forma a vencer as dificuldades existentes. Neste momento a equipe estará se deparando com um mapa do estado futuro implantado e no Passo anterior foram analisados os resultados atingidos. Agora a empresa deve reiniciar o processo de melhoramento, fechando assim um ciclo virtuoso de melhoramento contínuo. 4.5- Considerações Finais O modelo proposto procura, a partir dos critérios identificados, maximizar as vantagens de cada um dos sistemas estudados e ao mesmo tempo minimizar os efeitos das suas limitações. Seu método de implementação busca apresentar, de forma simples e harmônica, ferramentas que possam atender a necessidade das empresas na busca do aumento da competitividade e desta forma, responder às questões desta pesquisa. Esta proposta foi desenvolvida para atender empresas manufatureiras, não se limitando a nenhum segmento ou mercado específico, podendo ser aplicado à cadeia como um todo. No próximo Capítulo é apresentada uma aplicação prática do mesmo em uma cadeia de suprimentos do segmento de eletrodomésticos. 166 5- APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO Para ilustrar a aplicação do modelo proposto foi escolhida a empresa SmallGoods do segmento de eletrodomésticos, já caracterizada anteriormente, porém, o modelo não se restringe somente a esta empresa ou a este segmento. Se tratando de um modelo de complexa implementação, pois envolve em sua aplicação diferentes culturas em diversas empresas, não foi possível estender os testes em outras cadeias e em outros segmentos. 5.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos Passo 1: Escolher o gerente para o fluxo de valor Para a aplicação do modelo proposto neste trabalho foi escolhido o próprio pesquisador, autor desta tese, como gerente para o fluxo de valor. Passo 2: Selecionar uma família de produtos Foi selecionada a família de liquidificadores por ser a família mais representativa na produção da empresa focal. Passo 3: Mapear os riscos de abastecimento para a Cadeia de Suprimentos da família selecionada Após a aplicação do modelo proposto por Sviridhya e Jayaraman (2007), foram classificadas, como estratégicos, 27 dos fornecedores da SmallGoods. Passo 4: Delimitar um campo de visão gerenciável Dentre os 27 fornecedores estratégicos da SmallGoods, foi escolhida a empresa ElectroGoods, fornecedora do conjunto interruptor para mapeamento do fluxo de valor. Ela possui alta probabilidade de interrupção no fornecimento (fornece com exclusividade e possui patente em todos os componentes fornecidos) e em caso de interrupção o impacto no negócio da SmallGoods seria catastrófico (ela fornece itens para todos os liquidificadores da empresa). 167 Passo 5: Montar uma equipe Foi montada uma equipe de trabalho composta somente por funcionários da SmallGoods e gerenciada pelo próprio pesquisador. Simultaneamente a aplicação do modelo, o pesquisador, autor desta tese, treinou a equipe de forma a preparar futuros gerentes de fluxo de valor. Passo 6: Padronizar os símbolos a serem utilizados Serão utilizados os símbolos propostos na Figura 40 deste trabalho. Passo 7: Definir os indicadores de desempenho Nesta tese serão utilizados três indicadores de desempenho: O nível de inventário, o nível de serviço ao cliente (OTIF) e o Indicador Geral de Sustentabilidade (IGS). Passo 8: Listar as etapas físicas para criar o produto no estado atual Após quase 100 horas de entrevistas, consulta a documentos e acompanhamento de processos, foi possível estruturar a Tabela 5, detalhando todas as etapas físicas para criar conjunto interruptor para 1.000 liquidificadores e a Tabela 6 com o resumo destas etapas. Tabela 5 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores - Estado Atual Etapas Etapas Agregam Valor Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa MetalBase (Terceira Camada - Montante) 1 Descarregamento da Matéria-Prima Básica 2 Recebimento e Conferência Física 3 Verificação da Qualidade 4 Devolução de Material não Conforme Movimentação da Matéria-Prima Básica para 5 Armazenamento 6 Armazenamento da Matéria-Prima 7 Preparação da Prensa (setup) Movimentação das Matérias-Primas Básicas 8 para o Processamento Produção de Matérias-Primas Metálicas Não 9 1 Ferrosas Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) 50 30 60 40 51.660 600 40 2 2 168 Tabela 5 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores (Continuação) Etapas Etapas Agregam Valor 10 11 Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) 2.880 50 Espera para Formação de Lote Econômico Verificação da Qualidade Movimentação das Bobinas para 12 28 Armazenamento antes da Expedição 13 Armazenamento das Bobinas 46.050 Carregamento e Expedição das Bobinas (1 vez 14 30 por Trimestre) Transporte de Caminhão 150 km (Carga 15 360 Consolidada) MetalGoods (Segunda Camada - Montante) 16 Descarregamento das Bobinas 30 17 Recebimento e Conferência Física 40 18 Verificação da Qualidade 40 19 Devolução de Material não Conforme Movimentação das Bobinas para 20 20 Armazenamento 21 Armazenamento das Bobinas 129.470 22 Preparação da Prensa (setup) 480 23 Movimentação das Bobinas para Prensa 20 24 2 Prensagem dos componentes 3 25 Espera para Formação de Lote Econômico 480 Processo de Limpeza e Tamboreamento das 26 3 240 Peças 27 Verificação da Qualidade 40 Movimentação das Peças para Armazenamento 28 33 antes da Expedição 29 Armazenamento das Peças 43.170 Carregamento e Expedição das Peças (1 vez 30 30 por Semana) Transporte de Caminhão 50 km (Carga 31 90 Exclusiva) ElectroGoods (Primeira Camada - Montante) 32 Descarregamento dos Componentes 10 33 Recebimento e Conferência Física 20 34 Verificação da Qualidade 40 35 Devolução de Material não Conforme Movimentação dos Componentes para 36 15 Armazenamento 37 Armazenamento dos Componentes 18.635 38 Preparação da Célula (setup) 240 39 Movimentação dos Componentes para a Célula 50 40 4 Montagem do Conjunto Interruptor 113 41 Verificação da Qualidade 60 3 240 113 169 Tabela 5 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores (Continuação) Etapas Etapas Agregam Valor Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) Movimentação dos Interruptores para 25 Armazenagem antes da Expedição 43 Armazenamento dos Interruptores 21.560 Carregamento e Expedição dos Interruptores 44 40 (1 vez por Dia) Transporte de Caminhão 120 km (Carga 45 270 Exclusiva) SmallGoods (Empresa Focal) 46 Descarregamento dos Interruptores 10 47 Recebimento e Conferência Física 20 48 Verificação da Qualidade 30 49 Devolução de Material não Conforme Movimentação dos Interruptores para 50 25 Armazenamento 51 Armazenamento dos Interruptores 41.675 Preparação da Célula de Produção dos 52 240 Liquidificadores (setup) 53 Movimentação dos Componentes para a Célula 30 Montagem do Liquidificador (Verificação da 54 5 96 Qualidade dentro do Processo) 55 6 Embalagem Final dos Liquidificadores. 1 Devolução das Embalagens Retornáveis para a 56 7 40 ElectroGoods Carregamento e Expedição dos 57 30 Liquidificadores (1 vez por Dia) Transporte de Caminhão 90 km (Carga 58 180 Exclusiva) 59 Armazenamento dos Liquidificadores 99.320 Auditoria da Qualidade para os Produtos 60 10 Armazenados. Carregamento e Expedição dos 61 Liquidificadores (1 vez por Dia - com 30 concentração no final do mês) Transporte de Caminhão com Distâncias 62 Variadas (1 vez por Dia - Carga Exclusiva e Variado Carga Consolidada) 42 96 1 40 170 Tabela 6 – Resumo das Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores Agregação Total de Valor Etapas 62 7 Tempo (minutos) 458.881 495 Distância Total Percorrida 410 km Passo 9: Desenhar as etapas físicas do mapa do estado atual A lista de etapas físicas da Tabela 5 foi representada na Figura 42. Nesta etapa são mostrados: o cliente; as plantas com as caixas de dados, as conexões de transporte, entregas, retornos e linha de tempo e etapas. 171 Figura 42 – Etapas Físicas do Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods 172 Passo 10: Verificar o IGS (Indicador Geral de Sustentabilidade) de cada empresa da cadeia 1- IGS da SmallGoods: A empresa é certificada ISO14001 e está se certificando OHSAS18001, o que facilitou o trabalho da equipe. A avaliação da SA8000 seguiu os requisitos da norma e a pontuação final foi: ISO14001 - 100 (certificada) OHS18001 - 98 (verificada a partir das auditorias internas da empresa) SA8000 - 96 (verificada a partir dos requisitos da norma SA8000) Média IGS - 98 A empresa SmallGoogs tem seus processos considerados sustentáveis pelos critérios deste trabalho. 2- IGS da ElectroGoods: A empresa não é certificada em nenhuma das normas de sustentabilidade, o que dificultou o trabalho da equipe. A direção da empresa SmallGoods direcionou uma verba para contratação de uma empresa especializada para fazer a auditoria de sustentabilidade e a pontuação final foi: ISO14001 - 92 OHS18001 - 94 SA8000 - 90 Média IGS - 92 A empresa ElectroGoogs tem seus processos considerados sustentáveis pelos critérios deste trabalho. 3- IGS da MetalGoods: A empresa não é certificada em nenhuma das normas de sustentabilidade, o que dificultou o trabalho da equipe. A equipe utilizou a experiência adquirida durante a auditoria feita na ElectroGoods para pontuar o nível de sustentabilidade dos processos da MetalGoods e a pontuação final foi: 173 ISO14001 - 93 OHS18001 - 86 SA8000 - 91 Média IGS - 90 A empresa MetalGoogs tem seus processos considerados sustentáveis pelos critérios deste trabalho. 4- IGS da MetalBase: A empresa não é certificada em nenhuma das normas de sustentabilidade, o que dificultou o trabalho da equipe. A equipe utilizou somente dados recebidos dos questionários e a pontuação final foi: ISO14001 - 77 OHS18001 - 79 SA8000 - 84 Média IGS - 80 A empresa MetalBase NÃO tem seus processos considerados sustentáveis pelos critérios deste trabalho. Passo 11: Listar o fluxo de informação para criar o produto no estado atual O fluxo de informação necessário para o gerenciamento do fluxo de valor é: Etapas Tempo Espera SmallGoods 1- Fila de pedidos recebido mensalmente dos clientes 30 dias 2- Transmissão semanal de necessidades de produção 3- Transmissão diária da programação de produção para planta 4- Transmissão semanal de pedidos para ElectroGoods ElectroGoods 5- Fila de pedidos recebido semanalmente da SmallGoods 6- Transmissão online das necessidades de produção 7- Transmissão online da programação de produção para planta 15 dias 174 8- Transmissão online dos estoques e previsão de demanda para MetalGoods MetalGoods 9- Transmissão semanal de necessidades de produção 10- Transmissão diária da programação de produção para planta 11- Transmissão mensal de pedidos para MetalBase MetalBase 12- Fila de pedidos recebido mensalmente da MetalGoods 90 dias 13- Transmissão diária de necessidades de produção 14- Transmissão diária da programação de produção para planta Neste passo também foi apurado o OTIF de cada uma das empresas como segue: 1- OTIF da SmallGoods: Este indicador é considerado pela empresa entre médio e bom, portanto, como ele não é quantificado pela empresa, foi considerado OTIF = 85 (médio) para os liquidificadores. 2- OTIF da ElectroGoods: A SmallGoods verifica o nível de serviço de todos os seus fornecedores e a ElectroGoods está pontuada com um OTIF = 71 (ruim) para os produtos analisados. 3- OTIF da MetalGoods: A ElectroGoods também verifica o nível de serviço de todos os seus fornecedores e a MetalGoods está pontuada com um OTIF = 100 (bom) para os produtos analisados. 4- OTIF da MetalBase: A MetalGoods também verifica o nível de serviço de todos os seus fornecedores e a MetalBase está pontuada com um OTIF = 90 (bom) para os produtos analisados. Passo 12: Completar o mapa do estado atual com o fluxo de informações Os dados e fluxo de informações que foram apresentados nos passos anteriores estão representados na Figura 43. Nesta etapa é mostrado o fluxo de informações sobreposto à Figura 42. 175 Figura 43 – Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods 176 5.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos Passo 13: Projetar a nova cadeia utilizando como referência o SCOR e buscando transferir a restrição para a demanda Neste passo, a equipe de fluxo de valor iniciou as avaliações para tentar identificar o que deveria ser feito para criar um estado futuro melhor. Foram detalhados os três níveis do SCOR e fixado as metas para busca de um estado futuro melhor e também foram definidos valores mínimos aceitáveis para os indicadores de sustentabilidade (IGS) e nível de serviço ao cliente (OTIF). Também foi utilizado o algoritmo proposto na Figura 41 para identificar possíveis restrições no sistema. Não apareceram gargalos visto que, a demanda é de 8.000 produtos por dia e a capacidade de produção das plantas é superior a este número, portanto a restrição é a demanda sendo possível a gestão da cadeia através do TPC-S. Empresa ElectroGoods tem uma capacidade levemente superior a demanda, o que demandará preocupação durante a gestão pois, em casos de flutuação da demanda, certamente este recurso emergirá como gargalo e conseqüentemente como restrição. Passo 14: Dimensionar o pulmão e as cordas e subordinar os parceiros imediatos e fornecedores de última camada (contratos de parceria) A equipe de fluxo de valor, verificou que parte do resultado negativo do OTIF da SmallGoods era decorrente do mau desempenho de seu fornecedor ElectroGoods e desta forma chegou-se ao consenso uma redução dos estoques da SmallGoods e um aumento dos estoques de produtos acabados da ElectroGoods. Com a previsão de assinatura de contratos e subordinação do fornecedor de primeira camada MetalBase, foi possível esperar uma redução nos estoques de matéria-prima da MetalGoods sem afetar seu ótimo desempenho quanto ao OTIF. A empresa SmallGoods decidiu pela aquisição do módulo APS de seu ERP, 177 aumentando assim a possibilidade de sucesso do trabalho, pois, a aplicação do TPC-S foi facilitada. Passo 15: Listar as novas etapas físicas e fluxo de informação para criar o produto no estado futuro A equipe de fluxo de valor listou as novas etapas físicas e de fluxo de informação de forma a atingir o mapa do estado futuro do fluxo de valor. As etapas físicas foram detalhadas na Tabela 7 e consolidadas na Tabela 8. Tabela 7 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores - Estado Futuro Etapas Etapas Agregam Valor Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa MetalBase (Terceira Camada - Montante) 1 Descarregamento da Matéria-Prima Básica 2 Recebimento e Conferência Física 3 Verificação da Qualidade 4 Devolução de Material não Conforme Movimentação da Matéria-Prima Básica para 5 Armazenamento 6 Armazenamento da Matéria-Prima 7 Preparação da Prensa (setup) Movimentação das Matérias-Primas Básicas 8 para o Processamento Produção de Matérias-Primas Metálicas Não 9 1 Ferrosas 10 Espera para Formação de Lote Econômico 11 Verificação da Qualidade Movimentação das Bobinas para 12 Armazenamento antes da Expedição 13 Armazenamento das Bobinas Carregamento e Expedição das Bobinas (1 vez 14 por Trimestre) Transporte de Caminhão 150 km (Carga 15 Consolidada) MetalGoods (Segunda Camada - Montante) 16 Descarregamento das Bobinas 17 Recebimento e Conferência Física 18 Verificação da Qualidade 19 Devolução de Material não Conforme Movimentação das Bobinas para 20 Armazenamento Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) 50 30 60 40 51.660 600 40 2 2.880 50 28 46.050 30 360 30 40 40 20 2 178 Tabela 7 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores – Estado Futuro (Continuação) Etapas Etapas Agregam Valor 21 22 23 24 25 Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa Armazenamento das Bobinas Preparação da Prensa (setup) Movimentação das Bobinas para Prensa 2 Prensagem dos componentes Espera para Formação de Lote Econômico Processo de Limpeza e Tamboreamento das 26 3 Peças 27 Verificação da Qualidade Movimentação das Peças para Armazenamento 28 antes da Expedição 29 Armazenamento das Peças Carregamento e Expedição das Peças (1 vez 30 por Semana) Transporte de Caminhão 50 km (Carga 31 Exclusiva) ElectroGoods (Primeira Camada) 32 Descarregamento dos Componentes 33 Recebimento e Conferência Física Movimentação dos Componentes para 34 Armazenamento 35 Armazenamento dos Componentes 36 Preparação da Célula (setup) 37 Movimentação dos Componentes para a Célula 38 4 Montagem do Conjunto Interruptor Devolução das Embalagens Retornáveis para a 39 5 MetalGoods 40 Verificação da Qualidade Movimentação dos Interruptores para 41 Armazenagem antes da Expedição 42 Armazenamento dos Interruptores Carregamento e Expedição dos Interruptores 43 (1 vez por Dia) Transporte de Caminhão 120 km (Carga 44 Exclusiva) SmallGoods (Empresa Focal) 45 Descarregamento dos Interruptores 46 Recebimento e Conferência Física Movimentação dos Interruptores para 47 Armazenamento 48 Armazenamento dos Interruptores Preparação da Célula de Produção dos 49 Liquidificadores (setup) Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) 86.400 480 20 3 3 480 240 240 40 33 43.170 30 90 10 20 15 18.635 240 50 113 113 50 50 60 25 36.000 40 270 10 20 25 28.800 240 179 Tabela 7 – Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores – Estado Futuro (Continuação) Etapas Etapas Agregam Valor 50 51 6 52 7 53 8 54 55 56 57 58 59 Tempos de Tempos Descrição da Etapa e Local de Execução da Execução Agregam Etapa das Etapas Valor (minutos) (minutos) Movimentação dos Componentes para a Célula 30 Montagem do Liquidificador (Verificação da 96 96 Qualidade dentro do Processo) Embalagem Final dos Liquidificadores. 1 1 Devolução das Embalagens Retornáveis para a 40 40 ElectroGoods Carregamento e Expedição dos 30 Liquidificadores (1 vez por Dia) Transporte de Caminhão 90 km (Carga 180 Exclusiva) Armazenamento dos Liquidificadores 64.800 Auditoria da Qualidade para os Produtos 10 Armazenados. Carregamento e Expedição dos Liquidificadores (1 vez por Dia - com 30 concentração no final do mês) Transporte de Caminhão com Distâncias Variadas (1 vez por Dia - Carga Exclusiva e Variado Carga Consolidada) Tabela 8 – Resumo das Etapas Físicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores – Estado Futuro Agregação Total de Valor Etapas 59 8 Tempo (minutos) 382.806 545 Distância Total Percorrida 410 km Passo 16: Desenhar o mapa do estado futuro do fluxo de valor As ações executadas nos Passos 13, 14 e 15 foram incluídas no desenho do mapa do estado futuro, ilustrado na figura 44. As principais alterações projetadas no estado futuro são: 1- Aumentado o OTIF da SmallGoods e da ElectroGoods para 95; 180 2- Foram mantidos os IGS das empresas. A equipe encontrou dificuldade na atuação do IGS da MetalBase e como esta não é um fornecedor direto, ficou decidido pela manutenção temporária do indicador; 3- Redução nos estoques da SmallGoods e na Metal Base e leve aumento nos estoques da ElectroGoods; 4- Inclusão do processo de utilização de embalagens retornáveis da ElectroGoods para a MetalGoods; 5- Definição do pulmão de proteção a demanda; 6- Subordinação da ElectroGoods através do TPC-S, com o uso do novo módulo de APS da SmallGoods, utilizando VMI - B2B; 7- Subordinação da MetalBase através do TPC-S, com o uso do novo módulo de APS da SmallGoods, utilizando VMI – B2B; 8- Proposta de contratos de fornecimento de longo prazo com a MetalBase e ElectroGoods; 9- Opção pelo planejamento da produção (puxado pelo pulmão) através do TPC-S em substituição ao MRPII utilizado anteriormente; 10- Eliminação dos processos de verificação da qualidade de recebimento para estes itens, tanto na SmallGoods quanto na ElectroGoods. 181 Figura 44 – Mapa do Estado Futuro da SC da SmallGoods 182 5.3- Terceira Fase: O Processo de Melhoramento Contínuo Passo 17: Elaborar e implementar contratos de parceria de longo prazo Foram elaborados, pela SmallGoods, contratos de fornecimento de longo prazo e apresentados para a ElectroGoods e para a Metal Base (ainda em fase de análise e negociação ao final desta tese). O objetivo foi definir regras claras de abastecimento, qualidade e preço, apresentando multas compatíveis com as situações e tamanho das organizações envolvidas, bem como garantias de longo prazo para garantir investimentos ao longo do tempo. Passo 18: Implementar o mapa do estado futuro do fluxo de valor Ao término desta tese, grande parte da implementação já havia ocorrido e grande parte dos problemas políticos contornados. Passo 19: Análise dos resultados obtidos Os resultados obtidos, após 7 meses desde o início das verificações e 1,5 meses de análise do resultado após implementação, foi representativo como mostra a Tabela 9. A apresentação dos resultados foi bem aceita pela alta administração das empresas estudadas. Tabela 9 – Resumo dos Resultados Obtidos Indicador Estado Atual do Fluxo de Valor Estado Futuro do Fluxo de Valor Resultado após Implementação do Estado Futuro OTIF (médio) OTIF (mínimo) Nível Estoque IGS (médio) IGS (mínimo) 86,5 média 71 318,01 dias 90 80 95 media 90 265,01 dias 90 80 91 86 293,8 dias 90 80 Passo 20: Voltar ao Passo 1 e não deixar a inércia se tornar uma restrição no sistema A equipe já se encontra preparada para dar continuidade aos trabalhos, sem a necessidade da participação do pesquisador, autor desta tese. 183 5.4- Considerações Finais Os resultados obtidos com a aplicação do modelo proposto foram positivos. Este modelo deverá ir ao encontro das atuais necessidades das organizações manufatureiras em aumentar a competitividade. Sendo o SCM um tema emergente, este trabalho se apresenta como um esforço inicial na busca da integração e gerenciamento das cadeias de suprimentos. A necessidade de outros testes, através de outras aplicações, não descaracteriza os bons resultados obtidos na cadeia de suprimentos estudada, que melhorou seu desempenho. 184 6- CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente foi caracterizado o problema referente à deficiência dos modelos atuais de SCM, diante da real necessidade das empresas manufatureiras tomarem decisões alinhadas com o ganho global de todos os membros da SC. 6.1- Conclusões Operando em um ambiente globalizado e competitivo, as empresas manufatureiras, em sua maioria, ainda não conseguiram implementar um modelo de SCM capaz de suprir suas necessidades de forma a garantir o desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis. Estas considerações permitem elaborar algumas conclusões deste trabalho: Em um ambiente cada vez mais competitivo e globalizado, torna-se imprescindível, para as empresas manufatureiras, a manutenção de um sistema de SCM que proporcione aos gestores uma visão alinhada à melhoria global de todos os membros da SC. O novo ambiente, com sistemas de informação e comunicação mais sofisticados, requer novos modelos de gestão que consigam proporcionar vantagens competitivas duradouras. Nesse contexto também estão inseridas as empresas manufatureiras pertencentes ao segmento de eletrodomésticos, não se restringindo a estas, em que somente melhorias internas não estão proporcionando as vantagens competitivas necessárias para o atual ambiente competitivo global. A empresa SmallGoods, multinacional de grande porte desse segmento, que foi o objeto de uma Pesquisa Ação aqui descrita, se viu também na necessidade de buscar, através de uma melhor gestão e integração de sua cadeia de suprimentos, vantagens competitivas perante seus concorrentes. A utilização da TOC, Lean, TIC e SCOR em um modelo de gestão, podem ajudar na melhoria global da cadeia de suprimentos por meio do foco em poucas restrições que limitam o sistema de crescer, busca incessante da eliminação dos desperdícios, utilização dos novos 185 recursos de informação e comunicação em um ambiente padronizado com contratos de parceria de longo prazo. É possível, portanto, a estruturação de um modelo de SCM como uma proposta para obtenção de êxito de empresas manufatureiras. O modelo resultou em um sistema de informações e conhecimento que busca, de forma global, a melhoria dos resultados de todos os membros da SC. O modelo proposto procura maximizar as vantagens de cada um dos sistemas estudados e ao mesmo tempo minimizar as limitações apresentadas pelos mesmos e, desta forma, apresenta ferramentas, de simples utilização, que buscam atender às necessidades dos gestores. Uma maior integração da cadeia de suprimentos estudada foi comprovada através da redução do estoque associado à melhoria do nível de serviço ao cliente. 6.2- Respostas para as Questões da Pesquisa Esta tese foi estruturada em torno de quatro questões que direcionaram todas as atividades da pesquisa. As conclusões referentes a cada uma destas perguntas são descritas a seguir: 1- Qual o atual estágio dos modelos de gestão da cadeia de suprimentos? Operando em um ambiente globalizado e competitivo, muitas empresas manufatureiras, principalmente as que fabricam produtos de baixo valor agregado, ainda não conseguiram implementar um modelo de SCM capaz de integrar de forma eficiente seus membros e desta forma, suprir suas necessidades para garantir o desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis. Apesar das melhorias que vêm ocorrendo no desempenho de muitas cadeias de suprimentos, muitas delas ainda têm dificuldade com relação à integração onde, os membros 186 da Cadeia de Suprimentos só consideraram os problemas e as restrições locais (os próprios problemas). 2- É possível conseguir um resultado sustentável para uma empresa sem uma boa integração de sua cadeia de suprimentos? O esgotamento da criação de vantagens competitivas através competição interfirmas criou a necessidade de novas formas de organização e relacionamento, dentre as quais a mais evidente é a Cadeia de Suprimentos. Diante desse cenário de crescentes desafios impostos pelo mercado, uma empresa já não concorre com outra individualmente, mas sim com as cadeias de suprimento de seus produtos ou de seus concorrentes. Desta forma, torna-se decisivo para que as organizações manufatureiras prosperem neste novo cenário, a utilização de um modelo que possibilite integrar as empresas participantes da cadeia de suprimentos, repensando as condicionantes que auxiliam as empresas a enfrentarem os desafios do dia-adia de forma eficiente e duradoura. 3- A utilização dos conceitos da Manufatura Enxuta, da TOC e do modelo SCOR, suportados por um ambiente de TIC, contribuirá com o aumento da competitividade das empresas que optarem por sua utilização, aumentando sua capacidade de resposta ao mercado consumidor? O modelo proposto resultou em um sistema de informações e conhecimento que busca, de forma holística, a melhoria dos resultados de todos os membros da SC. O modelo proposto procurou maximizar as vantagens de cada um dos sistemas estudados e ao mesmo tempo minimizar as limitações apresentadas pelos mesmos e, desta forma, apresenta ferramentas, de simples utilização, que procuram atender as necessidades dos gestores na busca do sucesso para suas empresas. Sua aplicação, na empresa SmallGoods, resultou em geração de vantagem competitiva para as empresas estudadas. Mesmo com pouco tempo de implementação, os resultados foram 187 positivos com relação aos três indicadores de desempenho analisados, tanto com relação ao indicador de sustentabilidade, como relativo à redução do estoque, com significativa redução do efeito chicote, em quase 10%. Mesmo com a redução dos estoques, o principal indicador, pois dele deriva a responsividade ao cliente, o OTIF melhorou em mais de 5% com relação à média da cadeia. Uma maior integração da cadeia de suprimentos estudada foi comprovada através da redução do estoque associado à melhoria do nível de serviço ao cliente. 4- É possível contribuir para a obtenção de um Planeta mais sustentável através de um modelo de gestão integrada da cadeia de suprimentos? A aplicação do modelo proposto demonstrou o alinhamento dos resultados com o movimento Triple Bottom Line, garantindo prosperidade econômica e aumento da vantagem competitiva para as empresas estudadas, aliado com a busca de preservação ambiental e respeito às pessoas. A redução dos estoques evidencia, além das certificações ligadas à sustentabilidade, a contribuição para a obtenção de um Planeta mais sustentável. O conjunto de indicadores, incluindo o OTIF, demonstra um maior respeito ao consumidor final que terá acesso a produtos com preços justos, melhor qualidade e com entregas mais rápidas. 6.3- Recomendações para Futuras Pesquisas Sendo esta tese apenas um esforço inicial na busca de ganho de vantagens competitivas para as organizações manufatureiras, através de um sistema de SCM, novos trabalhos científicos podem e devem abrir novas oportunidades, aprimorando seu desempenho e ampliando o leque de aplicação do modelo para outros segmentos e empresas. Apesar de ter demonstrado eficiência em sua aplicação prática, na cadeia de suprimentos da SmallGoods, uma maior contribuição matemática com o aprofundamento dos estudos sobre os modelos APS, bem como, a utilização de ferramentas de pesquisa operacional para simulações podem contribuir para a tomada de decisão das equipes de fluxo 188 de valor. A validação do modelo e a ampliação de sua aplicação devem ocorrer através de estudos de caso em outras empresas e em outros segmentos abrangendo também o setor aeronáutico. Bem, os desafios são grandes! 189 REFERÊNCIAS AGENDA 21. Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura= 18. Acesso em: 12 out. 2010. AGUILAR, G. G. Análise de Sistemas de Planejamento Avançado (APS): conceituação e avaliação. 2004. 107 f. Dissertação (Mestrado em Ciência no Curso de Engenharia Industrial) - PUC – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. ALVES, J. M. Proposta de um Modelo Híbrido de Gestão da Produção: aplicação na indústria aeronáutica. 2001. 236 f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) - Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001. ALVES FILHO, A. G.; CERRA, A. L.; MAIA, J. L.; SACOMANO NETO, M.; BONADIO, P. V. G. 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Existem metas de redução de estoques? 10 Existe atrelamento da redução de estoques com o bônus dos executivos da empresa? (É parte integrante do índice de todos os executivos ou somente da área de Suprimentos?) 11 Como a demanda dos seus clientes influencia no processo de suprimentos? 12 Existe política de redução de custos na área de suprimentos? Como são perseguidas as metas? 199 Anexo 1 – Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia à montante (Continuação) Seqüência Pergunta SCOR – Planejar Abastecer 13 É analisado o poder de sua empresa em seus fornecedores? 14 É analisado o poder de seus fornecedores no mercado deles? 15 Como é a política de número de fornecedores para o mesmo item? 16 É analisada a concentração de vendas de seus fornecedores? 17 Como são administrados os itens importados? Existe tendência da empresa em substituir fornecedores locais por importação ou viceversa? SCOR – Planejar Retornar / Retornar (Abastecimento) 18 Qual a importância que vocês dão para a Qualidade em seus fornecedores? 19 Qual a importância que vocês dão para a Sustentabilidade em seus fornecedores? 200 Anexo 2 – Perguntas balizadoras relacionadas com a fabricação Seqüência Pergunta SCOR – Planejar Fazer 1 Como é feito o Planejamento da Produção? 2 É feita a produção para estoque (MTS) ou segundo pedido dos clientes (MTS), ou seja, a produção é puxada ou empurrada? SCOR – Fazer 3 Como erros na previsão de demanda influenciam a produção? 4 Existem muitas mudanças inesperadas no mix de produção? 5 Como é a verificação da qualidade dos produtos finais? 6 Existem muitos problemas de qualidade com os fornecedores? 7 Como são gerenciadas as oscilações de demanda no curto prazo? Anexo 3 – Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia à jusante Seqüência Pergunta SCOR – Planejar Entregar 1 Qual o número de Clientes? 2 Como são segmentados/classificados os Clientes? 3 Vocês têm concentração de vendas em algum cliente? Existe política relativa a este tema? 4 Qual o Nível de Serviço da SmallGoods? Como é medido? 5 Como é a distribuição, vocês trabalham com Centros de Distribuição (CDs)? Eles são próprios ou terceirizados? 6 Como é feita a previsão de demanda? Quais variáveis são utilizadas? 201 Anexo 3 – Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia à jusante (Continuação) Seqüência Pergunta SCOR – Planejar Entregar 7 Vocês compram serviço externo de previsão da demanda? Existe alguma estratégia para a gestão da demanda? 8 Como é a comunicação dos pedidos de compra recebidos de seus clientes? Os Clientes utilizam VMI, comodato ou outro sistema diferenciado? SCOR – Entregar 9 Vocês fabricam pedidos especiais para determinado cliente? (com algum diferencial, tipo, cor, marca, etc.?) 10 Vocês têm contrato com algum cliente para manter estoques de segurança? 11 Quais os mercados de atuação? (não aplicada à empresa SmallGoods para preservar sua identidade.) 12 Qual o meio de transporte utilizado para fazer a distribuição dos produtos para os clientes? Qual a distância dos clientes ao centro de distribuição? 13 Quais são as estratégias de Mercado para fortalecer a empresa? 14 Qual o maior desafio enfrentado para manter e ampliar os negócios? SCOR – Planejar Retornar / Retornar (Entregas) 15 Qual a importância da Qualidade perante seus clientes? 16 Qual a importância da Sustentabilidade perante seus clientes? 202 Anexo 4 – Tabela com as Etapas Físicas para criar um Produto Etapas Etapas Agregam Valor Descrição da Etapa e Local de Execução da Etapa Nome da empresa da última camada, à montante, a ser estudada 1 Descrição da primeira etapa 2 Descrição da segunda etapa 3 Descrição da terceira etapa 4 1 Descrição da quarta etapa n Descrição da enésima etapa Nome da próxima empresa da cadeia de suprimentos Nome da empresa focal estudada Tempos de Tempos Execução Agregam das Etapas Valor (minutos) (minutos) 40 70 1.500 3 2.980 3 FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO 1. CLASSIFICAÇÃO/TIPO TD 5. 2. DATA 3. REGISTRO N° 14 de dezembro de 2010 DCTA/ITA/TD-016/2010 4. N° DE PÁGINAS 202 TÍTULO E SUBTÍTULO: Proposta de um modelo de gestão integrada da cadeia de suprimentos: aplicação no segmento de eletrodomésticos 6. AUTOR(ES): Reinaldo Fagundes dos Santos 7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES): Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA 8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR: Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM); Teoria das Restrições (TOC); Pensamento Enxuto (Lean Thinking); Supply-Chain Operations Reference (SCOR); Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); VMI; Sustentabilidade; Triple Bottom Line (3BL). 9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO: Administração da cadeia de suprimentos; Teoria das restrições; Aspectos organizacionais; Produção enxuta; Desenvolvimento sustentável; Responsabilidade corporativa social; Gestão de processos de negócios; Engenharia de produção; Administração 10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional ITA, São José dos Campos. Curso de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica. Área de Produção. Orientador: Prof. Dr. João Murta Alves. Defesa em 25/11/2010. Publicada em 2010. 11. RESUMO: A investigação da mais recente literatura revela que o espectro da competitividade entre as organizações manufatureiras, numa economia cada vez mais globalizada, já não se limita a busca do desenvolvimento de vantagens competitivas pelo aprimoramento dos seus processos internos. Um novo cenário se instala, um novo desafio se apresenta: a necessidade de integração dos processos de negócio entre as organizações de uma cadeia de suprimento visando o desenvolvimento de novos ganhos competitivos. Diante deste cenário, a competitividade já não se limita ao jogo de forças entre as organizações concorrentes, seus fornecedores e clientes imediatos, mas acontece de fato entre cadeias de suprimentos. Entretanto, os atuais modelos de Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM – Supply Chain Management) não vêm cumprindo seu papel, havendo grande disparidade entre os potenciais benefícios e a prática. A presente tese tem como objetivo propor um modelo de SCM e seu método de implementação, visando aumentar a capacidade de resposta ao mercado consumidor das empresas manufatureiras, através do foco nos processos de negócio e particularmente na gestão da demanda, com conseqüente impacto na redução de inventário e lead time. O objetivo também inclui a preocupação com a sustentabilidade onde, em sintonia com o movimento Triple Bottom Line (3BL), busca o equilíbrio entre o resultado das empresas, o respeito às pessoas e a preservação do meio ambiente. O modelo proposto utiliza os conceitos do Pensamento Enxuto (Lean Thinking), da Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints) e do modelo SCOR (Supply-Chain Operations Reference), operando em um ambiente de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O modelo busca, minimizando as limitações e maximizando as vantagens de cada um dos conceitos incorporados, gerar um sistema robusto de gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos. A avaliação de sua eficácia é feita a partir de uma aplicação prática na cadeia de suprimentos do segmento de eletrodomésticos, permitindo sugerir a ampliação do escopo de sua utilização. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO