833 EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: CONHECIMENTOS E PRÁTICAS DO ENFERMEIRO HEALTH EDUCATION IN THE FAMILY HEALTH STRATEGY: KNOWLEDGE AND PRACTICE OF NURSES Regina Lopes Oliveira Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. Email: [email protected] Márcia Elena Andrade Santos Mestre em Enfermagem pela UERJ. Especialista em Enfermagem de Saúde Pública pela UFMG. Especialista em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde pela FIOCRUZ. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Ipatinga-MG. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. Email: [email protected] RESUMO A educação em saúde é uma ferramenta importante para promoção da saúde e garantia dos direitos humanos fundamentais. O enfermeiro realiza essa prática associada ao cuidado prestado em todas as etapas da vida do ser humano. Objetivou-se com o estudo analisar o conhecimento e a prática de enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família em municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço, quanto à educação em saúde. Foi uma pesquisa descritiva que utilizou a abordagem quanti-qualitativa para análise dos dados. A coleta ocorreu por meio da aplicação de um questionário semi-estruturado a dez enfermeiros dos municípios selecionados. Os sujeitos da amostra, em sua maioria, definiram a educação em saúde como a articulação entre educação e saúde, que busca estimular mudanças individuais e coletivas, considerando as experiências e saberes de todos os envolvidos no processo educativo. Apontaram como principal fator facilitador deste processo, conhecer a realidade da população e, como dificultadores, os diversos valores culturais e a falta de adesão da população. Os enfermeiros realizavam as práticas educativas através de reuniões e palestras. Os recursos para a execução dessas ações foram considerados insuficientes à real demanda do serviço pela maioria deles. Conclui-se que a educação em saúde deve estar inserida junto às ações de assistência integral e culminar na produção de saberes coletivos, propiciando ao indivíduo autonomia e capacidade de cuidar-se, cuidar de sua família e dos que estão ao seu redor. PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde. Promoção da Saúde. Estratégia Saúde da Família. ABSTRACT Health education is an important tool for health promotion and guarantee of fundamental human rights. The nurse carries out the practice associated with the care provided at all stages of human life. The objective of the study to analyze the knowledge and practice of nurses working in Family Health Strategy in municipalities of the metropolitan area of the Steel Valley, and health education. Was a descriptive study that used quantitative and qualitative approach to data analysis. The collection was through the application of a semi-structured questionnaire to ten nurses in the municipalities. The subjects of the sample, mostly defined health education as the link between education and health, which seeks to encourage individual and collective changes, considering the experiences and knowledge of everyone involved in the educational process. Pointed as the main factor facilitating this process, know the reality of the population and as hindering the various cultural values and lack of adherence of the population. The nurses performed the educational practices through meetings and Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 834 lectures. The resources for implementing these actions were considered insufficient real demand to service the most. It is concluded that health education should be inserted on the actions of integral and culminate in the production of collective knowledge, allowing the individual autonomy and ability to take care of yourself, take care of his family and those around you. KEY WORDS: Health Education. Health Promotion. Family Health Strategy. INTRODUÇÃO Educar é uma exaustiva tarefa social, emancipatória, capaz de reorientar a humanidade. A educação transforma o homem em ser social e histórico e possibilita formar novas gerações através da transmissão de conhecimentos, valores e crenças. Permite o desenvolvimento de uma consciência crítica que o torna capaz de transformar a realidade. Assim, a educação deve chegar a todos, objetivando formar seres humanos que caminhem em busca de seus sonhos, da felicidade individual e social, lutando por mais qualidade de vida. Nesse contexto, um dos ramos da educação geral é a educação em saúde, que visa garantir a dignidade da pessoa humana através da promoção da saúde e da objetivação dos direitos humanos fundamentais, que se fazem presentes na autodeterminação e responsabilidade pela própria vida, tendo uma visão total de sua existência e das necessidades humanas (SHIRATORI et al., 2004). Educar para saúde é ir além da assistência curativa, priorizando ações preventivas e promocionais, reconhecendo os usuários dos serviços de saúde como sujeitos portadores de saberes e condições de vida, estimulando-os a lutarem por mais qualidade de vida e dignidade (ALVES, 2005). As intervenções necessárias para a promoção da saúde devem estar centradas num trabalho coletivo e garantidas através de políticas sociais que possibilitem uma assistência humanizada e resolutiva. Essas intervenções devem permitir o planejamento e o desenvolvimento de ações educativas onde as famílias e as comunidades sejam o foco central da atenção à saúde (COSTA et al., 2009; SERAPIONE, 2005). Para promover saúde deve-se refletir sobre o objeto saúde, considerando-a um conceito em construção que depende de valores sociais, culturais e históricos, e que permita viver com qualidade. As ações de promoção à saúde propõem reorientar os serviços de saúde, indo em busca de atenção integral às pessoas em suas necessidades, visando construir saúde em seu sentido mais amplo, e lutando contra as desigualdades através da construção de cidadania (BRASIL, 2006a). Essas ações estão contempladas na Política Nacional de Promoção da Saúde, aprovada pela portaria n.º 687, de 30 de março de 2006 (BRASIL, 2006b). No intuito de fortalecer os vínculos com a população, e visando integrar profissionais e comunidade na busca de maior atuação e atenção aos usuários, foi criado pelo Ministério da Saúde, em 1994, a Estratégia Saúde da Família (ESF). Ela vem estruturar os sistemas municipais de saúde pública, e tem a finalidade de reordenar o modelo de atenção no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2004). Dentre as inúmeras atribuições dos profissionais da ESF estão as ações educativas, que fazem destes, agentes de mudanças individuais e coletivas no contexto biopsicossocial de atenção à família. Fica assim atribuído aos profissionais da atenção à família o papel de facilitador do processo de educação em saúde Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 835 (MACHADO et al., 2007). A ESF é uma estratégia operacionalizada por uma equipe multiprofissional, na qual o enfermeiro está inserido e tem papel fundamental. A ação educativa é um dos princípios norteadores das ações do enfermeiro, e se concretiza nos vários espaços de realização das práticas de enfermagem, em geral (ACIOLI, 2008). A imagem do enfermeiro é vista sempre associada ao papel de cuidador e, ao cuidar, ele educa e busca criar a co-responsabilização com o outro, aumentando a autonomia do sujeito sobre sua saúde. Sendo assim, a educação pode ser considerada uma forma de cuidar e o cuidado uma maneira de educar (FERRAZ et al., 2005). Diante dessa premissa, esta pesquisa propôs como questão de estudo: Qual é o conhecimento e a prática dos enfermeiros da ESF de municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), Minas Gerais, quanto à educação em saúde? A disseminação do conhecimento e o ato de educar, em si só, têm um papel importante no cotidiano das práticas em saúde, atuam como facilitadores das ações de atenção e de promoção da saúde, como norteadores da prevenção e da redução dos danos, podendo interferir positivamente na realidade local e fortalecer o vínculo entre o profissional e a comunidade que ele assiste. Sendo assim, o presente estudo buscou despertar nos enfermeiros a necessidade de refletir sobre a inserção ou incrementação das atividades de educação em saúde na sua prática diária junto à população adscrita da ESF. Nesse sentido, o estudo objetivou analisar o conhecimento e a prática de enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família em municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço, quanto à educação em saúde. METODOLOGIA A investigação caracteriza-se como descritiva e utilizou a abordagem quantiqualitativa para análise dos dados. O método escolhido foi, particularmente, importante para o que se propôs nesse estudo, pois possibilitou associar a estatística descritiva à investigação das relações humanas, no intuito de compreender melhor o tema estudado e facilitar a interpretação dos dados (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). A pesquisa foi realizada em dois municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), Minas Gerais, mediante autorização prévia das Secretarias Municipais de Saúde. Após a autorização, os enfermeiros foram contactados e os horários para realização da investigação foram agendados, buscando respeitar a disponibilidade do grupo e não interferir na rotina de trabalho. A amostra foi composta por 10 dos 16 enfermeiros que atuavam na Atenção Primária à Saúde destes municípios, pertencendo 6 a um dado município e, 4 ao outro. Foram incluídos na amostra os enfermeiros que atuavam, exclusivamente, na ESF dos municípios, que estavam presentes nos dias da coleta de dados e que concordaram em participar, voluntariamente, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O termo foi feito em duas vias de igual teor, e após assinado pelo enfermeiro, uma via ficou de posse do mesmo e a outra, da pesquisadora. Os enfermeiros que não trabalhavam na ESF, ou não se encontravam presentes nos dias da aplicação do questionário foram excluídos da amostra. Houve Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 836 perda de um sujeito, pois o mesmo desligou-se do quadro de funcionários de uma das cidades, nos dias da coleta. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário elaborado pela pesquisadora, contendo questões fechadas e abertas sobre o tema. A coleta foi realizada nos respectivos locais de trabalho dos profissionais, no período de 27 de agosto a 16 de setembro de 2010. Após a coleta, os resultados obtidos foram analisados através da estatística descritiva simples e comparados com a literatura pesquisada para sua discussão. Os sujeitos da pesquisa foram tratados e respeitados em sua dignidade e autonomia, sendo que foi garantido o direito ao anonimato. As respostas das questões abertas quando utilizadas no estudo, foram identificadas pela vogal E, seguida do número do questionário correspondente. A pesquisa atendeu, em sua totalidade, as exigências éticas e científicas fundamentais preconizadas pela Resolução n.º 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, respeitando e protegendo os indivíduos da amostra (BRASIL, 1996). Estes foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos e possíveis riscos e/ou benefícios inerentes aos participantes e as instituições envolvidas na pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização da amostra A amostra constituiu-se por nove (90%) enfermeiros do sexo feminino e um (10%) do masculino. Possuíam a idade média de 27,7 anos, sendo a mínima de 23 e a máxima de 42 anos. A maioria dos profissionais, nove (90%), graduou-se em instituições privadas e, somente um (10%), em instituição pública. Em relação ao tempo de formação, dois (20%) dos enfermeiros alegaram que se graduaram há cerca de cinco anos, seis (60%), há dois anos e dois (20%), há um ano. Educação em Saúde: conhecimentos e práticas do enfermeiro Em relação aos vários conceitos de educação em saúde, a TAB. 1 mostra as opções escolhidas pelos enfermeiros da amostra. TABELA 1 - Definição de educação em saúde na concepção dos enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010. CONCEITOS É um conjunto de práticas voltadas à promoção da saúde É uma forma de difusão do conhecimento científico É uma importante vertente à prevenção, e se preocupa em melhorar as condições de vida e saúde da população É a articulação entre educação e saúde que envolve experiências e saberes, buscando estimular mudanças individuais e coletivas Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N 01 0 % 10,0 0,0 01 10,0 07 70,0 01 10 10,0 100 De acordo com os resultados da TAB. 1, sete (70%) enfermeiros optaram pela definição de que a educação em saúde é uma “Articulação entre educação e saúde Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 837 que envolve experiências e saberes, buscando estimular mudanças individuais e coletivas”, um (10%) optou em defini-la como “Conjunto de práticas voltadas à promoção da saúde”, e um (10%), que “É uma importante vertente à prevenção, e se preocupa em melhorar as condições de vida e saúde da população”. Estes dados corroboram com o estudo de Acioli (2008), que afirma que é necessário pensar a educação em saúde como a articulação entre esses dois campos, abordando as experiências e saberes dos sujeitos envolvidos neste processo, compreendendo-os como detentores de um determinado conhecimento e não apenas receptores de informações. Essa interação possibilita a construção compartilhada de conhecimento e a busca individual e coletiva por mudanças. Diante dessas considerações, vale mostrar a resposta de um enfermeiro, que complementa as reflexões sobre a importância da prática da educação em saúde na ESF como uma forma de criar ou ampliar o vínculo com a população adscrita. É uma maneira de colocar os indivíduos como co-participantes e responsáveis de todo processo saúde-doença, individual e coletivo (E1). Quanto aos principais fatores que interferem no processo de educação em saúde, os 10 (100%) enfermeiros que fizeram parte desse estudo consideraram como fator facilitador “Conhecer a realidade da população”. Dentre os fatores dificultadores da prática de educação, três (30%) optaram pelos “Valores culturais da população”, dois (20%) pelos “Fatores político-administrativos”, três (30%) pela “Falta de adesão da população”, e um (10%) considerou como principal fator dificultador o “Nível de escolaridade da população”. Essa questão teve uma resposta anulada, devido a preenchimento incorreto por parte do sujeito da amostra. A TAB. 2 apresenta esses dados. As opiniões dos enfermeiros (TAB. 2), relativas aos fatores facilitadores, fortalecem o que diz Alencar (2006), quando este afirma que para se atuar de maneira efetiva perante os problemas de saúde, deve-se conhecer a realidade das famílias, identificando os agravos e as situações de risco de cada comunidade, possibilitando planejar e prestar assistência, favorecendo o desenvolvimento de ações educativas. Os fatores dificultadores apontados pelos enfermeiros, e também apresentados na TAB. 2, condizem com o estudo de Silva, Dias e Rodrigues (2009), que consideram necessário o profissional agregar valores socioculturais às ações de educação em saúde, com o objetivo de minimizar as diferenças, através do reconhecimento de que as pessoas da comunidade têm valores diferentes e estes devem ser considerados na escolha dos meios para se desenvolver as práticas educativas cotidianas. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 838 TABELA 2 - Fatores que interferem no processo de educação para saúde, segundo a visão dos enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010. FATORES Facilitadores Conhecer a realidade da população Nível de alfabetização da população Capacidade crítica da população Renda da população Total Dificultadores Condições demográficas da população Valores culturais da população Fatores político-administrativos Adesão da população Escolaridade da população Resposta anulada Total FONTE: Dados da pesquisa. N % 10 0 0 0 10 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0 03 02 03 01 01 10 0,0 30,0 20,0 30,0 10,0 10,0 100 No que se refere à percepção da educação em saúde dentro da ESF, cinco (50%) enfermeiros a compreendem como “Atribuição de todos os profissionais da equipe”, dois (20%) que ela “Engloba todas as ações de saúde, e deve estar inserida na prática diária do enfermeiro”, e dois (20%) a consideraram como “Fundamental à assistência integral e contínua às famílias”. Esses dados são apresentados na (TAB. 3). TABELA 3 - Percepção dos enfermeiros da amostra quanto à educação em saúde dentro da Estratégia Saúde da Família. Ipatinga, MG. 2010. OPÇÕES É atribuição de todos os profissionais da equipe Engloba todas as ações de saúde, e deve estar inserida na prática diária do enfermeiro Vem a ser facilitada, devido ao conhecimento e contato que o profissional possui de toda a população por ele assistida É fundamental à assistência integral e contínua às famílias Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N 05 % 50,0 02 20,0 0 0,0 02 01 10 20,0 10,0 100 Os resultados acima corroboram com os estudos de Alves (2005), onde o autor aponta que a educação em saúde deve ser vista como uma prática atribuída a todos profissionais da ESF e incluída nas ações de assistência integral e contínua às famílias, facilitando a identificação de situações de risco à saúde e enfrentando, em parceria com a comunidade, os determinantes do processo saúde-doença. Pode-se ressaltar o que um (10%) dos enfermeiros da amostra definiu como sendo percepção sobre educação em saúde dentro da ESF: É um dos focos da atenção à saúde, promove a orientação e inserção da comunidade (E1). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 839 Considerando os resultados que a prática educativa é capaz de proporcionar aos indivíduos, seis (60%) sujeitos da amostra acreditam que as ações educativas são capazes de proporcionar “Novos hábitos e condutas de saúde, incluindo melhorias no autocuidado”, um (10%), capaz de “Promover a participação popular nos serviços de saúde”, um (10%) acredita que permite “Aprofundar as intervenções na vida cotidiana das famílias e sociedades”, e um (10%) que a educação em saúde é capaz de proporcionar “Formação crítica–cidadã, através de conhecimento emancipador”. As respostas declaradas pelos enfermeiros do estudo estão dispostas na (TAB. 4). TABELA 4 - Resultados que a prática educativa é capaz de proporcionar, na visão dos enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010. OPÇÕES Novos hábitos de condutas de saúde, incluindo melhorias no autocuidado Promover a participação popular nos serviços de saúde Aprofundar as intervenções na vida cotidiana das famílias e sociedades Formação crítica-cidadã, através de conhecimento emancipador Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N % 06 60,0 01 10,0 01 10,0 01 10,0 01 10 10,0 100 Segundo as respostas dos enfermeiros da amostra e os estudos de Ferraz et al. (2005), pode-se afirmar que, uma educação em saúde bem sucedida é capaz de estimular os indivíduos, famílias e comunidade a buscarem conhecimentos que permitam a reflexão e conscientização, proporcionem autonomia e autocuidado, de maneira a contemplar as necessidades dos sujeitos e de suas famílias. Deve-se, ainda, de acordo com os autores, buscar um processo educativo através do diálogo e da interação entre educador e educando e, não apenas, através de um simples ato de transmitir informações. A visão dos enfermeiros da amostra quanto ao envolvimento destes com as ações de educação em saúde pode ser demonstrada através da (TAB. 5). TABELA 5 - Envolvimento dos enfermeiros da amostra em ações educativas. Ipatinga, MG. 2010. OPÇÕES É uma forma de expressar o cuidado Baseia-se na construção compartilhada de saúde Fundamenta-se no vínculo e no compromisso com a população assistida Busca beneficiar a população para esta viver melhor Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N 0 01 % 0,0 10,0 04 40,0 04 01 10 40,0 10,0 100 Diante das respostas obtidas, observa-se que, quatro (40%) dos enfermeiros consideraram que seu envolvimento “Fundamenta-se no vínculo e no compromisso com a população assistida”, quatro (40%) na “Busca de beneficiar a população para esta viver melhor” e um (10%) “Baseia-se na construção compartilhada de saúde”. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 840 De acordo com Costa et al. (2009) a ESF é um modelo de saúde coletivo, multi e interprofissional, que visa integrar profissionais e a comunidade, buscando estabelecer vínculos através de práticas de saúde humanizadas para garantir maior atuação e atenção aos usuários. A educação para saúde é uma estratégia que deve ser utilizada pela equipe na busca da humanização das práticas de saúde junto a população. Em relação ao que é buscado através das práticas educativas, cinco (50%) enfermeiros definiram que buscam “Construir, junto à população, melhores condições de vida e saúde”, três (30%) que procuram “Interferir de maneira positiva na realidade social de uma população, em busca de mais dignidade e saúde”. Os resultados estão demonstrados na (TAB. 6). TABELA 6 - O que os enfermeiros da amostra buscam através de práticas educativas em saúde. Ipatinga, MG. 2010. OPÇÕES Instruir a população Diminuir a incidência de doenças Construir, junto à população, melhores condições de vida e saúde Interferir, de maneira positiva, na realidade social de uma população, em busca de mais dignidade e saúde Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N 0 0 05 % 0,0 0,0 50,0 03 30,0 02 10 20,0 100 Essas respostas ilustram as afirmativas de Oliveira e Gonçalves (2004) sobre a importância da educação em saúde. Para eles a prática educativa em saúde deve ser compreendida como uma ação essencial à prevenção, voltada para melhoria das condições de vida e saúde da população. Relaciona-se à aprendizagem e deve atender os indivíduos de acordo com sua realidade, provocando conflito e oportunidades de refletir a sua cultura, fazendo com que ele próprio transforme sua realidade. Além dessas considerações, um (10%) enfermeiro da amostra acrescenta pontos relevantes sobre o intuito de se realizar as ações educativas em saúde junto à população: Trabalhar, dentro da realidade da comunidade, a conscientização desta, com criatividade e dinamismo, para que tais ações sejam efetivas e gerem resultados perceptíveis, pois as ações precisam e devem surtir efeitos na comunidade (E7). Os principais meios utilizados, de acordo com a opinião de nove (90%) enfermeiros, para desenvolver ações educativas foram as “Reuniões e palestras”, conforme as respostas dispostas na (TAB. 7). Porém, de acordo com Acioli (2008), torna-se necessário uma reorientação das ações educativas através de um processo de planejamento dinâmico, onde o enfermeiro deve avaliar as ações a serem desenvolvidas, observando a realidade e o interesse da população assistida para definir o melhor método educativo. Sendo assim, as ações de educação em saúde devem ser abordadas como expressão do cuidado em enfermagem, numa proposta de construção compartilhada de saberes que busque interdisciplinaridade, autonomia e cidadania. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 841 Silva, Dias e Rodrigues (2009) complementam as afirmativas acima ao afirmarem que existe uma grande identificação profissional dos enfermeiros com a pedagogia e que essa assume um papel relevante no trabalho em enfermagem. Porém, é necessário reavaliar e aperfeiçoar as práticas educativas realizadas atualmente, identificando suas falhas e propondo formas de melhor efetivá-las. Para esses autores, a capacitação e educação permanente dos profissionais seria uma opção viável para tornar as ações educativas mais adequadas às necessidades da população. TABELA 7 - Principal meio educativo utilizado pelos enfermeiros, e descrição da oferta de recursos voltados para ações educativas, na concepção dos enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010. OPÇÕES Meio educativo Consultas de enfermagem Reuniões e palestras Visitas domiciliares Resposta anulada Total Oferta de recursos Os serviços não oferecem materiais nem condições para execução de ações educativas Os recursos oferecidos são insuficientes à real necessidade O serviço oferece materiais e condições plenas para realização de ações educativas Outros Total FONTE: Dados da pesquisa. N % 0 09 0 01 10 0,0 90,0 0,0 10,0 100 02 20,0 05 50,0 02 20,0 01 10 10,0 100 De acordo com a TAB. 7, cinco (50%) dos enfermeiros declararam que a oferta de recursos para ações educativas no município onde atuam são “Insuficientes à real necessidade”, três (30%) que “O serviço oferece materiais e condições para a realização de ações educativas”, e dois (20%) consideraram que “O serviço não oferece materiais e nem condições para a execução de ações educativas”. Os estudos de Souza et al. (2005), apontam desafios que os profissionais de saúde enfrentam no dia a dia dos serviços de saúde no Brasil, dentre esses, destacam-se a distribuição desigual de recursos material, financeiro, físico e humano. Para os autores, diante desses desafios, torna-se necessário que a equipe da ESF busque estratégias para superar os obstáculos e atingir um objetivo real para desenvolver uma assistência diferenciada, que proporcione o crescimento da comunidade e melhorias na qualidade de vida da população, garantindo cidadania e dignidade às famílias assistidas. CONCLUSÃO Educar é uma maneira de construir cidadania, formar indivíduos conscientes de seus direitos e deveres e capazes de lutar por eles. Além disso, a educação é capaz de proporcionar ao homem a compreensão de sua realidade, permitindo-lhe desafiá-la em busca de soluções para o enfrentamento dos problemas individuais e coletivos. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011. 842 O presente estudo permitiu analisar o conhecimento e a prática dos enfermeiros da ESF nos municípios selecionados, quanto às ações de educação em saúde. Os sujeitos da amostra definiram a educação em saúde como a articulação entre educação e saúde que busca estimular mudanças individuais e coletivas, considerando as experiências e saberes de todos os envolvidos no processo educativo. Apontaram como principal fator facilitador deste processo, conhecer a realidade da população e, como dificultadores, os diversos valores culturais e a falta de adesão da população às práticas educativas. Os enfermeiros pesquisados compreendem a educação em saúde, dentro da ESF, como atribuição de todos os profissionais da equipe. E que as ações educativas devem ser realizadas com o intuito de construir, junto à população, vínculo e compromisso, buscando beneficiá-la, de forma mais efetiva, com melhorias nas condições de vida e saúde, através de um envolvimento fundamentado na coresponsabilização. Eles consideraram que a prática educativa é capaz de proporcionar aos indivíduos, novos hábitos e condutas de saúde, incluindo melhorias no autocuidado. A prática educativa é desenvolvida pelos profissionais do estudo, principalmente, através de reuniões e palestras. Os recursos oferecidos pelos municípios para a execução de ações educativas, de acordo com a opinião da maioria dos sujeitos, são insuficientes à real demanda do serviço. Diante dos resultados encontrados e dos fatores dificultadores apontados pelos profissionais da amostra, torna-se necessário ressaltar que as práticas educativas em saúde nos municípios estudados, devem ser planejadas pela equipe e gestores, devem estar inseridas junto às ações de assistência integral e culminar na produção de saberes coletivos, propiciando ao indivíduo autonomia e capacidade de cuidar-se, cuidar de sua família e dos que estão ao seu redor. E ainda, que a capacitação e educação permanente dos profissionais constituem uma opção viável para tornar as ações educativas mais adequadas às necessidades da população. REFERÊNCIAS ACIOLI, S. 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