A HISTÓRIA DO CLUBE GINÁSTICO DE JUIZ DE FORA (1909-1979)
Jakeline Duque de Moraes Lisboa
Carlos Fernando Ferreira Cunha Junior
Universidade Federal de Juiz de Fora/MG
CNPq
Rede Cedes – Ministério do Esporte
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Palavras-chaves: História; Ginástica; Juiz de Fora
Introdução
As inovações historiográficas recentes têm contribuído de forma significativa para a
melhora de ferramentas de trabalho, ampliando desta forma a possibilidade de estudo de
novas temáticas. Uma delas se refere ao estudo da História das Instituições Educativas,
inserindo-se num novo campo da História da Educação, que procura refletir sobre as mais
diversas categorias de análise: espaço, atores envolvidos, saberes, práticas, normas, clientela,
entre outros.
Um dos aspectos metodológicos fundamentais nos trabalhos de História diz respeito à
questão das fontes. Diversos historiadores, de várias correntes, têm discutido o assunto.
Independente da postura teórica, todos são unânimes em não discordar: não existe história
sem fontes.
Ciro Flamarion Cardoso, chama a atenção afirmando que “efetivamente, a ausência de
fontes impede que um historiador possa realizar plenamente a sua função: como comprovar,
sem elas, as suas hipóteses de trabalho?” (1994, p.51).
Em nossa visão, apoiados nos estudiosos da chamada História Nova, consideramos
como fonte tudo aquilo que se presta a contar a história, ou seja, todos os vestígios que nos
permitam ampliar a compreensão historiográfica dos fatos: documentos, relatos orais, a
iconografia, a literatura, entre outros.´
É com esta perspectiva que trabalhamos com a história do Primeiro Clube de Ginástica
do estado de Minas Gerais. Mas, trabalhar com a História das Instituições Escolares
necessariamente implica
“em não permanecer na presencialidade, no hoje da instituição, mas,
descrever, compor narrativas de seus diferentes momentos de existência.
Todos os fatos educativos são históricos. Configurações específicas os
precedem, tramas de encaminhamento são tecidas ao longo do tempo”
(Werle; Britto; Colau, 2007).
Para acessar o passado das instituições nos valemos das fontes de pesquisa, em
especial, daquelas que possuem relação direta com o objeto, ou seja, as fontes primárias. No
entanto, o trabalho nos arquivos é difícil diante da falta de identificação precisa das fontes e
também por vários locais não serem adequados à coleta de informações. Neste sentido, Carlos
Bacellar (2006) nos dá dicas e sugestões para o trabalho historiográfico realizado a partir dos
arquivos, tais como: descobrir onde se encontram os papéis que podem ser úteis para a
pesquisa; localizar as fontes no arquivo com base em instrumentos de pesquisa; manusear os
papéis com cuidado, respeitando seus limites; observar as regras existentes para transcrições e
edições; cruzar fontes; cotejar informações; estabelecer constantes; identificar mudanças e
permanências.
Nesta pesquisa, que se encontra em fase inicial, procuramos analisar a história do
Clube Ginástico de Juiz de Fora, instituição criada na cidade por imigrantes alemães em 1909.
Nossa preocupação está em analisar o seu contexto de criação, os atores envolvidos, a
clientela de alunos, seus espaços e as práticas ali efetivadas até o período de 1979. Nossas
fontes são atas, documentos, jornais, fotografias e depoimentos orais.
A cidade de Juiz de Fora: sua história
Operamos com a idéia de que o intervalo entre o último quartel do Século XIX e as
primeiras décadas do Século XX foi um período fundamental no processo histórico de
construção do gosto pelas práticas corporais de parte da população brasileira. A modernização
de nossas cidades é um movimento típico destes anos, especialmente pós-República, e guarda
relações diretas com a identificação das práticas corporais enquanto hábitos a serem
apreendidos e praticados pelos novos cidadãos. Os ventos europeus, especialmente os de
Paris, induziram dirigentes de cidades brasileiras a se empenharem pela sua modernização. É
o caso do Rio de Janeiro que neste período viveu um intenso processo de reforma,
saneamento e urbanização tendo como figura emblemática o Prefeito Pereira Passos
(Benchimol, 1990).
Fenômeno semelhante, mas com particularidades, aconteceu em Juiz de Fora no início
do Século XX. A cidade, na data de sua elevação de Vila a Município, 1850, chamava-se
Santo Antônio do Paraibuna, nome que seria alterado somente em 1865. Durante o último
quartel do Século XIX, Juiz de Fora viveu o início de um período de transformações
econômicas, políticas, sociais e culturais. Alguns dados neste sentido: a inauguração da
Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1871; o bonde de tração animal, em 1881; o telefone, em
1883; o telégrafo, em 1884; a água a domicílio, em 1885; o Banco Territorial Mercantil, em
1887; o Banco de Crédito Real, a Academia de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora e a
chegada da energia elétrica em 1889; a criação do Instituto Metodista Granbery, 1890; a
Academia de Comércio em 1894; os Grupos Escolares, em 1907; a Academia Mineira de
Letras, 1909 (Lessa, 1985; Andrade, 1987; Christo, op. cit.).
A cidade de Juiz de Fora, localizada na Zona da Mata Mineira, tem na sua história o
reconhecimento de vários autores como um lugar singular. Segundo esta corrente, a cidade
pouco se identificou em sua história com a mineiridade, diante de sua proximidade com o Rio
de Janeiro, durante tempos o centro cultural e político do país. Segundo Maraliz Christo
(1994), “enquanto as cidades barrocas se formam e se guiam pelos sinos das igrejas, a
população de Juiz de Fora teve sua vida normatizada pelos apitos das fábricas de estilo
neoclássico e o bater dos tamancos de seus operários de ambos os sexos e diversas
nacionalidades” (p.10).
O desenvolvimento de Juiz de Fora foi motivado, entre outros fatores, pelo fluxo
imigratório que ocorreu na cidade a partir do século XIX. Seu surgimento enquanto cidade
próspera ocorreu a partir do estabelecimento de um núcleo colonizador, de onde se teria
irradiado um surto industrial, ainda na segunda metade do século XIX, que transformou o
pequeno povoado na mais importante cidade industrializada de Minas Gerais, posição que
desfrutou até as três primeiras décadas do século XX. Vários grupos sociais foram
responsáveis para a construção da história da cidade, dando a ela um perfil pioneiro no Estado
de Minas Gerais nas áreas comercial, industrial, educacional, cultural e esportiva.
O progresso de Juiz de Fora se liga à expansão geral da economia cafeeira no período
do Segundo Reinado, fator de prosperidade do Império, de cuja capital e principal pólo
econômico na época estava relativamente próximo, viabilizando a idéia da construção de uma
estrada moderna. Além da cafeicultura como fonte geradora de riquezas, o crescimento de
Juiz de Fora se liga a outros fatores como: desbravamento da região; a localização que
resultará na necessidade de escoamento da produção; a Estrada União e Indústria que
propiciará os meios para isto. Nesse contexto surgiram os fatores determinantes para a vinda
dos imigrantes, com destaque aos germânicos.
Os imigrantes alemães e sua contribuição
A população brasileira ao longo de sua história, tem como característica a pluralidade
étnica. Segundo KREUTZ (2005), entre 1819 e 1947, o Brasil recebeu em torno de 4.900.000
imigrantes de várias etnias que vieram por vários motivos, incentivados pelo governo
brasileiro.
“Ao longo do tempo, os grupos étnicos foram se constituindo
pelas especificidades de língua, religião, costumes, tradições,
sentimentos e pertencimentos relacionados a lugares. Nesta
caminhada histórica instituíram gradativamente modos de ser
distintos, através da forma diferente de reagir aos desafios do dia-adia, a partir de todo um conjunto de situações e inter-relações”
(op.cit ).
Um dos principais grupos sociais que se instalaram em Juiz de Fora e que
contribuíram significativamente para a cidade foi o imigrante germânico. Sua presença
começa quando da abertura do Caminho Novo, realizada no século XVIII por Garcia Paes,
responsável pelo povoamento de nossa região. Posteriormente tornou-se a Estrada do
Paraibuna, aberta em meados do XIX pelo engenheiro alemão Henrique Guilherme Fernando
Halfeld, o que já provocou a origem de um núcleo urbano. Mariano Procópio Ferreira Lage
trabalhou na organização da denominada Estrada União e Indústria que trouxe para a cidade
um contingente significativo de imigrantes germânicos que constituíram a então Colônia
Alemã Dom Pedro II.
A Estrada União e Indústria foi uma das primeiras estradas construídas com
características modernas no Brasil e significou para Juiz de Fora o início de uma etapa de
desenvolvimento. De pequeno povoado, Juiz de Fora paulatinamente se tornou a cidade mais
importante da Província de Minas Gerais.
Os primeiros alemães que chegaram à cidade de Juiz de Fora, em 1856, vieram
contratados pela Companhia União e Indústria para a construção da Estrada que deveria ligar
a Província de Minas Gerais ao Rio de Janeiro. O contingente da Colônia Dom Pedro II
começa a ser formado em 1858. Em 1860, a Colônia já contava com uma população de 1.144
pessoas (508 homens e 636 mulheres), das quais 88 nascidas no Brasil. Estes números
compreendiam toda a Colônia D. Pedro II, subdivida em: Colônia de cima (agrícola), depois
chamada de S. Pedro; Colônia de baixo (industrial), que depois se chamou Vilagem. Entre
uma e outra Colônia formou-se a Borboleta, povoação que floresceu com facilidade
(OLIVEIRA, op. cit.).
Assim como aconteceu em diversas partes do Brasil, estes imigrantes também tiveram
seus problemas e desilusões com a tão sonhada terra, problemas estes de ordem política,
econômica e social. No entanto, temos que ressaltar a importância dos alemães na cidade, um
dos grupos responsáveis por seu desenvolvimento e progresso. Neste sentido, destacamos a
criação de estabelecimentos industriais e comerciais, a execução de melhorias no espaço
urbano, a introdução dos bondes de tração animal, do telégrafo, do telefone, a oferta de água a
domicílio, a iluminação pública, a fundação de escolas de ensino primário e secundário, a
criação de espaços de lazer, de clubes, entre outros. Segundo Paulino de Oliveira (1967):
“Se Mariano Procópio, ao iniciar as obras da Rodovia União e Indústria, não
tivesse estabelecido em Juiz de Fora uma colônia de imigrantes é certo que à
cidade não teria se beneficiado tão rapidamente do surto do progresso que a
nova estrada lhe deu, transformando uma simples aldeia como tantas outras
existentes na província, num empório para o qual convergiam logo as
atenções da metrópole e dos estrangeiros que a visitavam”.
Além das contribuições para a sociedade juizforana nos setores políticos e
econômicos, estes imigrantes trouxeram uma grande riqueza cultural. Os alemães, através de
sua cultura, proporcionaram novas experiências sociais à sociedade juizforana. As atividades
de lazer foram uma delas. Com o advento da modernidade, estas atividades vão tomando seu
lugar na sociedade e “ ... ganham um papel estratégico e se apresentam como marcas de um
novo mundus vivend, fenômeno bem típico da cidade moderna que está se estruturando, se
articulando com todas as dimensões que estavam sendo construídas. São impregnadas pela
idéia de luxo, pelas marcas de classe, pela influência da tecnologia, pela espetacularização do
corpo, pela valorização do corpo, pela valorização da imagem, pela perplexidade perante a
velocidade e a fugacidade” (MELO, 2006).
Costumavam, aos domingos, reunir as famílias nos parques das cervejarias existentes
então na cidade no final do século XIX. Estes encontros tiveram um papel importante na
manutenção das tradições deste povo, representando ali momentos de diversão e lazer em
torno dos hábitos e costumes em comum. No Jornal do Comércio (s.d), Luiz José Stehling
escreve sobre as atividades destes imigrantes
“costumavam as famílias se dirigirem para os parques das fábricas de
cerveja, onde além dos passeios tomavam sua cerveja, soda ou grenadina,
acompanhada de sanduwiches feitos com pão alemão e gelatinas fabricadas
nas casas de proprietários. Isto era comum com respeito a fábrica do Sr.
Carlos Stiebler, onde além do jogo de boliche tinha instalado uma paralela,
um trapézio e argolas”.
Nestes aparelhos ginásticos presentes na cervejaria de Carlos Stiebler, chamada Dois
Leões, a juventude alemã e juizforana começaram a praticar exercícios ginásticos,
incentivados principalmente pelo alemão Hans Happel. Esta iniciativa deu início ao que viria
a ser o primeiro clube de ginástica de Minas Gerais, em 1909.
A criação do Clube Ginástico - o Turnerschaft
Na Alemanha, a ginástica se desenvolve por volta da segunda metade do século XIX
sobre a forma de métodos ginásticos e com algumas finalidades como a de regenerar a raça,
promover a saúde, desenvolver a coragem, vontade, a força, energia, a moral e
particularmente a defesa da pátria, uma vez que este país, no início do século XIX, não havia
ainda realizado a sua unidade territorial. Era preciso, portanto, criar um forte espírito
nacionalista para atingir a unidade, a qual seria conseguida por homens e mulheres fortes,
robustos e saudáveis (SOARES, 2001).
A partir de 1824, a imigração alemã trouxe consigo para o Brasil o “Turnen”
(Ginástica Alemã), tornando esta prática um hábito de vida. Promoveu manifestações em
todos os Estados do Sul do país, estendendo-se também ao Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito
Santo e mais tarde em Minas Gerias. Em Juiz de Fora, o Clube Ginástico foi denominado
inicialmente de “Turnerschaft”, em referência ao movimento ginástico desenvolvido na
Alemanha por Friederich Ludwig Janh.
Segundo Leomar Tesche (2002), “o Turnen constituiu-se num importante fator de
identidade e, como tal, utilizou os corpos físicos como espaço que transcendiam essa
dimensão, inserindo-se num significado político, cultural e social”. Ainda de acordo com o
autor, as idéias de Janh foram utilizadas por algumas instituições educacionais,
principalmente no sul do país, com intenções de desenvolver a auto-estima nos imigrantes e
teuto-brasileiros.
É importante compreender como a história das culturas nos possibilita uma
compreensão dos diferentes processos educativos e escolares presentes nas várias sociedades.
A história das instituições educacionais, permite a compreensão da cultura escolar, na
perspectiva de Dominique Júlia:
“Cultura escolar pode ser definida como um conjunto de normas que
definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de
práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação
desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que
podem variar segundo épocas ( finalidades religiosas, sociopolíticas ou
simplesmente de socialização (2001, p. 10).”
Neste sentido, em 1909, data de sua criação, o “Turnerschaft” de Juiz de Fora foi
anexado à Sociedade Teutônia que tinha por objetivo a congregação dos interesses culturais
dos alemães. O espaço inicialmente onde se realizava a prática de ginástica foi o Parque da
Cervejaria Stiebler. Segue abaixo um trecho da ata do Turnerschaft em 1910:
Aos cinco dias do mês de agosto de mil novecentos e dez, no salão de
Recreio da Cervejaria Stiebler, às 9 horas da noite, presente grande número
de sócios quites desta União de Gymnastica Juiz de Fora, foi aclamada sua
diretoria provisória que deverá reger o destino desta união, proposto que os
sócios do quadro de exercícios de gymnastica deverão comparecer no Parque
da Cervejaria Stiebler, todas as quartas-feiras, das 8 a 10 horas da noite e aos
domingos pela manhã a fim de detonarem parte nos exercícios obrigatórios.
No documento acima, percebemos já uma preocupação com a organização do espaço
para o desenvolvimento da ginástica, assim como com o tempo destinado à mesma.
Analisando os atores envolvidos nesta criação, há a presença de um grande número de sócios
de origem alemã, teuto-brasileiros, brasileiros natos, sendo eles de diferentes posições sociais.
Com o desenvolvimento do Turnerschaft, vários outros grupos começaram a freqüentar esta
instituição.
No ano de 1910 foi eleita a primeira diretoria do Clube que passou a divulgar as
atividades tornando o Turnerschaft uma instituição cada vez mais freqüentada pela sociedade.
A diretoria era formada pelos seguintes sócios: Mateus Kascher, Gustavo Nietzsch, Joaquim
Ferreira Pinto, Carlos Stiebler e Hans Happel. Os primeiros instrutores de ginástica foram
Gustavo Nietzsch e Hans Happel. Os primeiros ginastas: Carlos Stiebler Júnior, Selmar
Stiebler, Rodolpho Stiebler, Aristides F. da Costa, Alfredo Otto, Oscar, Alberto, Henrique,
Valentim e Roberto Surerus, Rodolpho Engel, Carlos Gruenewald, Manoel José de Castro
Júnior, Felipe L. Kascher, Guilherme Kremer, Felippe Griese e Hermann Neubauer, sendo
dirigentes dos exercícios Gustavo Nietzsch e Hans Rappel.
A instituição adotou para suas práticas o lema “Os exercícios fortalecem o corpo” e
por escudo os “quatro efes” alemães dispostos a formar uma cruz. O símbolo ficava
estampado nos uniformes dos alunos e na bandeira, onde cada F tinha um significado: Frisch
(jovial), Fromm (devotado), Frolich (alegre) e Frei (livre) ou franco, firme, forte e fiel.
A primeira diretoria realizou vários eventos sociais com os objetivos de divulgar o
“Turnerschaft” e ao mesmo tempo arrecadar dinheiro. Durante estes eventos eram realizadas
exibições de exercícios ginásticos e concursos entre os alunos. No ano de 1916, o clube
publica sua revista em comemoração ao sétimo aniversário, onde se registrava naquele
momento um quadro de 227 sócios. Destes, 134 são classificados como ativos na turma de
moços e 38 ativos na turma das moças.
No ano de 1913, o então Presidente da Liga Mineira Contra Tuberculose, Sr. Dr.
Eduardo de Menezes, reuniu a diretoria do clube para uma reunião com o intuito de instalar
um estabelecimento modelar de cultura física. Segue abaixo, parte do contrato realizado entre
a Liga Mineira Contra Tuberculose e o Turnerschaft, divulgado no Jornal do Comércio, na
coluna “A Pioneira” (s.d)
“CONTRATO. A Liga Mineira Contra Tuberculose, como commondante e o
Turnerschaft Club de Juiz de Fora, como commodatario, representados
respectivamente por seus presidentes e seus directores abaixo assignados,
contractam o seguinte: o commodante dá por empréstimo gratuito ao
commodatario, o uso do edifício em que foi instalada a ESCOLA DE
EDUCAÇÃO PHYSICA DONA MARIA DO CARMO, a rua da Gratidão,
n. 266, e o terreno anexo até a cerca que o separa do Instituto Pasteur de Juiz
de Fora, com os móveis e aparelhos”.
Aceito o projeto pelos diretores, o “Turnerschaft” se instalou no prédio da Liga
Mineira contra Tuberculose, onde está instalado hoje em Juiz de Fora o Centro de
Hematologia e Hemoterapia, bem como o Palácio da Saúde, situado na Avenida dos
Andradas.
Com o início da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), Juiz de Fora devido ao seu grande
contingente imigratório, foi palco de conflitos políticos e sociais. Por estes motivos, os
diretores do Turnerschaft e instrutores ginásticos foram obrigados a se afastarem do comando
das atividades, e o nome inicialmente dado à instituição de “Turneschaft” teve que ser
modificado para Clube Ginástico de Juiz de Fora, assumindo a instrução de ginástica o então
aluno de Hans Happel: Caetano Evangelista.
O Clube Ginástico de Juiz de Fora
A partir do momento em que assume Caetano Evangelista como instrutor de ginástica,
no ano de 1916, o Clube foi dando passos maiores para difusão das práticas esportivas na
cidade. O clube foi cada vez mais sendo valorizado pela sociedade tendo no número de alunos
assim aumentado. Ítalo Paschoal Luiz, mestre de ginástica do Clube, em depoimento ao
estudo de Carlos Fernando Ferreira da Cunha Junior (2003), nos dá uma impressão do local:
Revejo o salão do Clube Ginástico de Juiz de Fora com mais de 100 alunos,
todos garbosamente perfilados. Numa saleta, próxima ao salão nobre, os seus
filhos, Célio e Climene, revezavam-se juntos no piano. O professor dá um
sinal e inicia-se a aula de ginástica. O aquecimento com evoluções, marchas
e desenhos variados. Seguem-se os exercícios de cabeça, tronco e membros
nas mais variadas posições, e todos com acompanhamento musical [...]. No
centro do salão estava a figura central e responsável por tudo que acontecia.
Sim, o professor Caetano Evangelista era o regente da orquestra. O insigne
mestre, com um uniforme branco impecável. Com gestos firmes e concisos,
um sorriso carismático a conduzir mais uma sessão de educação física.
O espaço destinado para a prática da ginástica foi um salão amplo onde ali muitos
alunos se exercitavam ao mesmo tempo. As aulas eram divididas de acordo com o nível
técnico e também por sexo. Havia também turmas específicas para alunos mais velhos, que
exigiam um conhecimento mais específico, buscado por Caetano Evangelista na Associação
Cristã de Moços do Rio de Janeiro.
A partir do ano de 1916, o Clube incrementou suas atividades. Além da Ginástica,
passou a oferecer aulas de Atletismo, Basquetebol e Voleibol. Havia para esta prática um
espaço aberto e amplo ao lado do salão de ginástica, de onde saíram vários atletas para outros
clubes. Eurico Surerus, ex-aluno do Clube Ginástico, em entrevista rememora algumas de
suas vivências como atleta:
“eu iniciei no Clube Ginástico fazendo ginástica e aprendendo a
jogar basquete... o clube me influenciou muito, tanto que em 1940
fui para o Rio de Janeiro com 4 jogadores do Sport Clube, daqui
de Juiz de Fora e fui jogar durante 10 anos no 1º time de basquete
e vôlei no flamengo.”
O Clube Ginástico foi uma instituição que obteve grande prestígio pelas diversas
camadas sociais. Influenciou a fundação de diversas instituições esportivas na cidade de Juiz
de Fora, fato observado em função da presença de dirigentes do Clube Ginástico na criação de
instituições como o Tupinambás Futebol Clube, Tupi Futebol Clube, Sport Clube Juiz de
Fora, Esporte Clube Mariano Procópio e o Clube de Tênis Dom Pedro II, além da fundação de
ligas esportivas como a Liga de Futebol de Juiz de Fora.
Além disso, algumas instituições educacionais da cidade foram incentivadas a
desenvolverem a prática da ginástica através do professor Caetano Evangelista e de alguns de
seus atletas que foram professores de instituições de ensino como a Escola Normal, Colégio
Stella Matutina, Instituto Granbery e Colégio Santa Catarina.
Caetano Evangelista esteve na direção do Clube Ginástico por 45 anos. Com seu
falecimento, assumiu a função, no ano de 1961, seu então aluno Ítalo Paschoal Luiz..
Com o passar dos anos e o surgimento de outros lugares para a prática de atividades
físicas, o Clube passou a trabalhar com dificuldade, devido à diminuição do número de
alunos, sendo ele obrigado a ceder seu espaço em vários momentos a outras instituições que
pagavam pela utilização do mesmo.
No ano de 1979, a cidade passou por grandes mudanças na infra-estrutura devido ao
seu crescimento populacional, atingindo assim o Clube Ginástico. Neste ano, em decorrência
de uma obra viária, o que resultou no chamado “Mergulhão”, o Clube teve suas atividades
encerradas. Vários foram os protestos judiciais realizados por Ítalo Luiz, por alunos e por
membros da sociedade que acreditam e davam credibilidade ao Clube. No entanto, o Clube
Ginástico teve que cerrar suas portas e foi demolido.
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