BE_310 CIÊNCIAS DO AMBIENTE – UNICAMP ESTUDO (Turma 2010) Disponível em: http://www.ib.unicamp.br/dep_biologia_animal/BE310 A INFLUÊNCIA DA MACONHA NO AMBIENTE SOCIAL E ECONÔMICO JOÃO HENRIQUE STAUT DE MARCO¹ , ANDRÉ DE CAROLI*¹ , GUSTAVO HIDEIKI NOMURA¹ ¹Curso de Graduação – Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP *E-mail do autor correspondente: [email protected] RESUMO: Este projeto tem por objetivo analisar qual é a opinião das pessoas dentro do campus da UNICAMP sobre a legalização da maconha (desde seu uso até suas conseqüências econômicas e sociais),. Para conseguir um espaço amostral que de credibilidade ao trabalho um questionário foi enviado em diversos grupos de e-mail do campus e entregue impresso para pessoas as quais não tivemos acesso. O projeto também expõe uma breve idéia sobre a “história da maconha” e uma visão geral do assunto no âmbito mundial. PALAVRAS-CHAVE: maconha, legalização, influência da maconha na sociedade, influência da maconha na economia. INTRODUÇÃO A legalização da maconha é um tema bastante controvertido, pela quantidade de interesses ocultos que existem por trás da mesma, sobretudo sociais e econômicas. Atualmente a maconha é legalizada em alguns países do mundo, descriminalizada em outros e criminalizada na maioria dos outros. Originária da região do norte do Afeganistão, a planta Cannabis Sativa, a maconha, é utilizada há aproximadamente 6.000 anos. O primeiro escritor a mencionar o uso do cânhamo em cordas e tecidos é Heródoto, um historiador grego que é considerado o pai da história. O primeiro uso medicinal é datado de 2737a.C. na China. No começo do século XX a maconha, ainda que uma droga lícita, não era muito aceita pela classe mais alta da população: no Brasil era associada aos negros, na Europa aos árabes e indianos e nos Estados Unidos aos mexicanos, ou seja, era associada às camadas mais baixas e rejeitadas da população. Porém, economicamente, a maconha era muito importante: era utilizada na fabricação de remédios, papel, tecidos, cordas, redes de pesca, óleo, combustíveis, entre outros. A proibição é fruto de questões morais e religiosas e auspiciadas por interesses econômicos. No Brasil a maconha surgiu, trazida pelos escravos da região de Angola. Os negros utilizavam nos rituais religiosos, culturais e para aliviar as dores da alma e do corpo. Os senhores de engenho, preocupados em denegrir a imagem dos negros, passaram a associar a droga à vagabundagem. Diziam que os negros utilizavam a droga para não realizarem os trabalhos. Assim sendo, a discriminação ocorreu desde que a maconha aqui chegou. A primeira lei brasileira proibindo a maconha é de 1830 e a pena para os traficantes, que eram em sua grande maioria brancos de classe média, era menor do que para o usuário, que eram os negros escravos: enquanto o primeiro pagava 20.000 réis, o segundo teria três dias de prisão. Mas essa primeira lei não foi levada muito a sério e a proibição definitiva aconteceu somente na década de 1920. No âmbito mundial, a proibição da maconha se deu no fim da década de trinta, nos Estados Unidos em 1937 e a Europa seguindo o exemplo dos Estados Unidos proibiu a maconha logo nos anos seguintes. Em 1976 a Holanda decidiu legalizar o uso da maconha, devido às diversas pesquisas feitas comprovando que a droga, mesmo que nociva à saúde, não merecia tamanha balbúrdia da parte do governo. Tal legalização levou a mudanças na sociedade e economia local. Na Jamaica, a maconha ainda é cultivada e muito utilizada com fins ritualísticos: acredita-se que ela possui poderes místicos e divinos, e por isso afasta maus espíritos. O hábito de fumar maconha é um rito, um conjunto de atitudes, costumes e crenças da sociedade, além de ter participação na religião rasta. Nas classes mais altas da população esse hábito é condenado. Devido aos impactos causados pela legalização em alguns países, e pelo fato de muitos países do mundo ter em pauta em seu âmbito político a legalização da maconha, foi feita uma pesquisa dentro do campus da UNICAMP para avaliar as opiniões das pessoas desse meio em relação às mudanças que podem ocorrer em nosso país com a legalização da maconha. MATERIAIS E MÉTODOS Para obtermos as opiniões de alunos, professores e funcionários do campus foi desenvolvido um questionário com 15 perguntas de múltipla escolha e espaço para observações extras em cima de cada pergunta se necessário. As perguntas tinham por objetivo classificar as pessoas, [usuários (diariamente), usuários leves (menos de uma vez por semana), usuários moderados (entre 2 e 5 vezes durante a semana) e não usuários (nunca utilizaram)], auto avaliação do “entrevistado” e avaliar possíveis mudanças sociais e econômicas do ponto de vista de cada um. As perguntas foram baseadas em informações obtidas da organização mundial de saúde (OMS) e baseadas na argumentação contra a repressão e dos contra-argumentos à legalização expostas no parlamento brasileiro. O questionário foi enviado on-line para diversos grupos de e-mail relacionados a UNICAMP e entregue impresso para pessoas as quais não tivemos acesso via os grupos de e-mail, visando alcançar o maior espaço amostral possível dando assim credibilidade em nossos resultados. O questionário encontrase disponível no link novembro de 2010). https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dGRRcmphWmIyMXR6U2VabHhfNElTdVE6MQ (26 de RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta análise dá-se pela observação dos dados coletados – 370 entrevistados (99 mulheres e 271 homens, de várias faixas de idade). Por se tratar de uma substância ilegal no Brasil e marginalizada por alguns setores da sociedade, obtivemos dados sobre a quantidade de pessoas que utiliza maconha mas não se considera usuário: cerca de 71.35% das pessoas que utilizam da maconha negam que são usuários. Acresce aos dados um fato interessante: do grupo seleto de pessoas que utilizam mais de maconha (“Ao menos uma vez por dia” e “3 ou mais vezes por semana”) cerca de 85.71% das pessoas se identificam como usuários, levantando a questão que as pessoas que utilizam menos da maconha tem dificuldade em aceitar a situação de potencial vício na droga. Tabela 1- Classsificação do entrevistado e posição em relação a legalização. se a favor não identificam % que se idade utilizam de utilizam como identifica legalizar usuarios 6 3 0 0,00% 6 15-18 95 70 19 27,14% 98 18-21 69 80 21 26,25% 103 21-24 15 32 13 40,63% 34 24-40 185 185 53 28,65% 241 TOTAL %a favor de legalizar 66,67% 59,39% 69,13% 72,34% 65,14% Relacionado às consequências sociais e econômicas, vê-se claramente as diferenças de percepção das consequências do uso da maconha. Nota-se que o grupo dos não usuários veem de maneira muito mais prejudicial à vida, e à sociedade como um todo, a legalização da maconha. Porém mesmo assim num conjunto geral a grande maioria ainda é a favor da legalização: 65% das pessoas são a favor de legalizar, contra 35%. Tabela 2 – Levantamento das conseqüências sociais em relação a legalização. Utilizam CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS Aumento da criminalidade Aumento da ociosidade Aumento do uso indiscriminado Aumento do número de dependentes Não Sim 24 41 3 22 114 68 134 42 Enfraquecimento do trafico Diminuição criminalidade CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS Aumento da arrecadação Geração empregos Aumento do investimento tratamento Nenhuma das anteriores 112 56 158 103 Não Sim 97 59 142 104 101 27 34 24 As situações descritas nas tabelas acima mostram estas diferenças de percepção de usuários e não usuários. Claramente as respostas dos não-usuários sugerem que irão aumentar problemas sociais, enquanto as dos usuários sugerem que haverão melhoras no âmbito social e econômico. As relações destas respostas com a legalização desta droga passa pelo problema do contexto da maconha na sociedade. A pesquisa realizada permitiu verificar que a maconha é uma droga que praticamente todos da sociedade tem ou já tiveram contato (não de uso, mas de uso em um ambiente em comum), indicando o porque esta aceitação pode ser maioria. não conhecem alguém % utilizam que fuma 6 6 100,00% 15-18 95 82 86,32% 18-21 69 62 89,86% 21-24 15 13 86,67% 24-40 185 163 88,11% TOTAL Tabela 4 – Levantamento da popularidade da maconha. idade Quanto à legalização, existe várias formas de se enxergar a maconha como uma droga descriminalizada/legal. Uma das perguntas se refere à maneira de legalização. Abaixo o gráfico (Figura 1) apresenta esses resultados. Gráfico 1 – Levantamento da maneira de como as pessoas são a favor de legalizar a maconha, perguntando-se em quais casos. Sobre o uso medicinal levantamos dados para verificar o que as pessoas pensam disso como tratamento de doenças. Pela bibliografia sabemos que a maconha pode ser eficaz nos seguintes tratamentos: Analgesia, Transtornos Neurológicos e dos Movimentos, Náuseas e Vômitos Associadas a Terapias Oncológicas, glaucoma, estimulante do apetite, estresse, insônia. Dos dados coletados montamos o seguinte gráfico (Figura 2), relacionado apenas ao uso medicinal: Figura 2 – Levantamento da opinião sobre o uso da maconha para fins medicinais. CONCLUSÃO Através da bibliografia pesquisada e dos dados coletadossobre o assunto, verificamos que trata-se de um assunto que está em alta nos dias de hoje. Com o uso e a “publicidade” da maconha cada vez corriqueiros, o potencial deste mercado e indústria mostra-se para muitos países como saída para o fim do tráfico ilegal. Aberturas na legislação de alguns países visando uso medicinal – como no Arizona, EUA (13 de novembro de 2010) e mais 14 outros estados americanos – diminuem o preconceito com esta droga com potencial crescimento de consumo pela sociedade. A maconha hoje tem tanto espaço na mídia e nos canais públicos – aproximadamente 1.720.000 resultados numa pesquisa da palavra “maconha” de 0,12 segundos / aproximadamente 17.400.000 resoltados numa pesquisa da palavra “cannabis” de 0,11 segundos – que isto mostra que a maconha tem quase tanto espaço na sociedade quanto o alcool e o tabaco. Estes fatos são comprovados pelos dados levantados pela nossa pesquisa e por muitas outras indicadas nas “bibliografias sugeridas”. Além disso pela bibliografia pesquisada a legalização da maconha abriria também espaço para utilização desta planta para outros fins, como na indústria têxtil, de óleos e de combustíveis. Mesmo com vários prós, em muitos lugares ultimamente verifica-se que a opinião continua conservadora referente à legalização. Na California, EUA, em outubro/novembro de 2010, o plebiscito foi contra a legalização total do uso da maconha. Na Europa os dados mostram que cerca de 30% da população de alguns países é favor da legalização total do uso da maconha. Acreditamos que os dados levantados pelas nossas pesquisas refletiram bem a opinião do público, comparando com outras pesquisas de opinião pública. Desta forma trata-se de um trabalho que deve refletir a opinião do campus da UNICAMP, atendendo nossos objetivos. Além disso pensamos que as consequências reais e não previsíveis só poderão ser analisadas em um contexto de legalização, pois muitos fatores influenciam indiretamente esta questão: como política, interesses econômicos e outros. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Prof. Dr. Carlos Fernando S. Andrade pela liberdade de lidarmos com um tema polêmico e ao mesmo tempo por poder expô-lo. Agradecemos também às pessoas que preencheram nosso formulário, viabilizando esta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hall W, Solowji N, Lemon J. The health and psychological consequences of cannabis use. Monograph Series No. 25. National Task Force on Cannabis; 1994. 2. Rocco, Rogério. O que é legalização das Drogas. 11aed , São Paulo, ed.brasiliense, 1996. 3. Segal M. Cannabionids and analgesia. En: Mechoulam R., ed. Cannabinoids as therapeutic agents. Boca Ratón, Florida: CRC Press; 1986. 4. Websites: http://www.cic.unb.br/~fatima/imi/imi200/b/hojebrasil.htm http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1537 http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,eleitores-da-california-rejeitamlegalizacao-da-maconha,633947,0.htm http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/11/legalizacao-da-maconha-seradecidida-pelo-voto-na-california.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/11/referendo-no-arizona-aprova-legalizacao-demaconha-medicinal.html http://intra.vila.com.br/sites_2002a/urbana/julia_lima/proibicao_maconha_4.htm BIBLIOGRAFIAS RECOMENDADAS http://www.youtube.com/watch?v=hMM_T_PJ0Rs http://www.youtube.com/watch?v=zfiaC-2K1LM