Suanno, J. H. (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar. En Torre,
S., Pujol, M.A., Rajadell, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona: Giad.
A CRIATIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
UM OLHAR COMPLEXO E TRANSDISCIPLINAR.
João Henrique Suanno* (UEG – Brasil)
RESUMO
Esta pesquisa tem como problema investigativo saber como o Colégio X de
Goiânia, escola considerada criativa, segundo os critérios estabelecidos do projeto
ERAIEC da Rede Internacional de Ecologia dos Saberes – RIES, percebe e
transporta para o processo de ensino-aprendizagem o olhar da complexidade, da
transdisciplinaridade e da ecoformação. Como objetivos principais apresentam-se:
1- identificar como o Colégio X de Goiânia transporta, desenvolve, vivencia o
processo de ensino-aprendizagem de forma criativa e inovadora e 2- verificar as
mudanças e impactos gerados pelas inovações criativas na qualidade do ensino e
da aprendizagem, bem como na qualidade de vida das pessoas dessa escola. A
presente pesquisa intenciona investigar o Colégio X de Goiânia, escola criativa da
região centro-oeste do Brasil e ser uma pesquisa parceira da Rede Internacional
De Ecologia Dos Saberes – RIES e de seu Projeto Escolas Criativas (Projetos
cenários e redes de aprendizagem integrados para um ensino de qualidade:
investigar e inovar sob um olhar transdisciplinar – ERAIEC). Por ser esta uma
pesquisa qualitativa assume-se o método, como o diálogo entre o caminho e o
caminhante, e a definição do método se deu por esse ser adequado ao problema
investigativo deste projeto de pesquisa. Nesse sentido optou-se pelo método da
complexidade e da transdisciplinaridade. A fundamentação teórica do presente
estudo se valerá das contribuições científicas de Morin (2008), Moraes (1997,
2004, 2008), Moraes e Valente (2008), Torre (2008), Nicolescu (1999), dentre
outros. Espera-se, com este estudo, contribuir com a investigação dos temas
complexidade, transdisciplinaridade, ecoformação e criatividade, aplicados à
educação e levantar as estratégias necessárias, contribuidoras na construção e
reconhecimento de um cidadão com pensamento e responsabilidades planetárias.
INTRODUÇÃO
A pesquisa que apresento propõe-se a compor a linha de pesquisa
“dinâmica curricular e ensino-aprendizagem” e a área de concentração “ensinoaprendizagem”. E pretende investigar como o Colégio X de Goiânia tem buscado
inovações pedagógicas, criado novas práticas e concepções de ensinoaprendizagem. Pretendeu-se também que essa investigação estivesse vinculada e
pudesse cooperar também com a Rede Internacional de Ecologia dos Saberes –
RIES, permitindo identificar como as escolas criativas e inovadoras têm
transportado para o processo de ensino-aprendizagem o olhar da complexidade,
da transdisciplinaridade e da ecoformação.
1
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
A presente pesquisa compreende a metodologia como um caminho, um
rumo para o investigador e a investigação e compreende também que esta deverá
ser criada, construída no caminhar da pesquisa, considerando as emergências e
as especificidades desta. Por ser esta uma pesquisa qualitativa assume-se o
método, como o diálogo entre o caminho e o caminhante, e a definição do método
se deu por esse ser adequado ao problema investigativo deste projeto de
pesquisa: “Como o Colégio X de Goiânia, escola considerada criativa, segundo os
critérios estabelecidos do projeto ERAIEC da Rede Internacional de Ecologia dos
Saberes – RIES, percebe e transporta para o processo de ensino-aprendizagem o
olhar da complexidade, da transdisciplinaridade e da ecoformação?” Nesse
sentido optou-se pelo método da complexidade e da transdisciplinaridade
(MORIN, 2008; MORAES e VALENTE, 2008; NICOLESCU, 1999; SUANNO E
MAGALHÃES, 2008, dentre outros).
O método da complexidade e da transdisciplinaridade foram guiados pelo
movimento promovido com “os operadores cognitivos do pensamento complexo
[que] são os instrumentos ou as categorias de pensamento que nos ajudam a
pensar e a compreender a complexidade e a colocar em prática esse pensamento”
(MORAES e VALENTE, 2008, p.35). Os operadores cognitivos do pensamento
complexo foram detalhadamente explicados nas páginas anteriores desse préprojeto.
Em adequação ao problema investigativo, a pesquisa qualitativa, o método
da complexidade e da transdisciplinaridade, planeja-se, para esta investigação, o
estudo de caso do Colégio X de Goiânia, escola criativa do centro-oeste brasileiro,
selecionadas utilizando os critérios da RIES/ERAIEC. Entende-se por estudo de
caso, um tipo de pesquisa que se caracteriza pelo fato do investigador partir de
pressupostos teóricos iniciais, mantendo-se atento a novos elementos emergentes
no estudo; nesse tipo de pesquisa a apreensão do objeto é mais completa por
levar em conta a interpretação do contexto em que ele se situa; o pesquisador
busca revelar a multiplicidade de dimensões presentes no problema focalizando-o
como um todo; os dados são coletados em diferentes momentos, em situações
diversificadas e com pluralidade de tipos de informantes (triangulação) e o
pesquisador apresenta os vários fatores que justificam a singularidade do caso em
estudo. Os aportes teóricos, sobre estudo de caso, para esta investigação
considerarão o proposto por Yin (1984), Ludke (1986), Stake (1988, 1998) e André
(1994).
Para possibilitar um processo rico e diversificado, a coleta de dados e
informações, intencionou-se, mesmo que a realidade posteriormente nos
encaminhe a outras opções ou necessidades, que seja feita a triangulação
mediante a utilização da estratégia metodológica do grupo focal (CERVANTES
BARBA, 2002; GATTI, 2005 e SUANNO, 2008), observação (GIL, 1996;
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
MARCONI e LAKATOS, 1996; KIDDER, 1987) e entrevista (MARCONI e
LAKATOS, 1996).
O método precisa ser compreendido por meio da compreensão dos
pressupostos ontológicos, epistemológico e metodológico, Suanno e Magalhães
(2008) desenvolvem a relação do pressupostos acima mencionados e o método
da complexidade e da transdisciplinaridade que buscaremos trazer uma releitura
destes para estabelecer com clareza a conceituação do método aqui escolhido.
O pensamento complexo e a transdisciplinaridade, ontologicamente, apesar
de reconhecer o inacabamento do mundo, do ser e da realidade, comprendem o
sujeito como aquele que se compreende conscientemente na dinâmica do
triângulo da vida, é inserido num contexto de realidade, que é multidimensional e
multirreferencial, incluindo os conceitos de níveis de realidade, lógica do terceiro
incluído e a zona de não resistência (ARNT, 2007). O Homem é um sistema autoeco-organizador. Em interação com o meio-ambiente e se auto-organiza, é um
sistema autopoiético, que se auto-constrói, auto-organiza.
Ontologicamente, da complexidade e a transdisciplinaridade, se
compreende o sujeito que vive em uma realidade que é constituída de processos
complexos, dinâmicos, relacionais, não lineares, mutáveis, incertos, ao mesmo
tempo é contínua e descontínua, estável e instável, bem como considera a
multidimensionalidade da realidade e da causalidade circular de natureza
recursiva ou retroativa. Nesse sentido, o método da complexidade e da
transdisciplinaridade considera o indeterminismo inscrito na natureza da matéria e
reconhece a existência de uma realidade constituída de objetos interconectados
por fluxos de energia, matéria e informação, que caracterizam processos autoeco-organizadores (MORAES, 2008).
Podemos resumir a proposta epistemológica do método da complexidade e
da transdisciplinaridade, segundo Moraes e Valente (2008), como sendo
“construtivista, interacionista, fundada na intersubjetividade dialógica, que gera
uma base epistemológica complexa, a qual implica aceitação da natureza múltipla
e diversa do sujeito e do objeto estudado, envolvendo dinâmica não linear,
dialógica, interativa, recursiva e aberta. Resgata a biopsicossociogênese do
conhecimento humano. Conhecimento inscrito na corporeidade humana”.
(MORAES e VALENTE, 2008, p. 16)
Sujeito e objeto ecologicamente indissociáveis e interdependentes.
Objetividade ou a presença da intersubjetividade reveladora da impossibilidade de
um conhecimento objetivo. Somente existe objeto em relação ao sujeito que o
observa, que pensa; co-criação de significados. Destacam-se os mecanismos de
inter-relação, de auto-organização de emergência, entre outros. (MORAES e
VALENTE, 2008, p.17)
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
A dimensão metodológica do método da complexidade e da
transdisciplinaridade segundo Suanno e Magalhães (2008) propõe, como
prerrogativa, a possibilidade da utilização de multimétodos, combinados com
diversos tipos de pesquisa e instrumentos de coletas de dados e informações,
mas, desde que exista uma correspondência dos pressupostos destes tipos de
pesquisa ou de estratégias metodológicas a serem combinados. Ou a criação de
novos métodos, que sejam adequados à investigação da realidade complexa. Tal
prerrogativa se deve a necessidade de se compreender o objeto de estudo e sua
natureza complexa, por meio da utilização dos operadores cognitivos do
pensamento complexo, já desenvolvida a conceituação dos mesmos nesse
projeto, em momento anterior a esse.
A proposta pedagógica do Colégio X de Goiânia com alegria, entusiasmo e
objetivos humanísticos desenvolve como princípio a formação integral do ser
humano em seus aspectos mentais, morais, psicológicos e espirituais. Este
colégio, um ano antes de iniciar suas atividades, empenhou-se no preparo do seu
corpo docente. Abriu, portanto, suas portas à comunidade, em março de 1974,
com uma equipe que já havia iniciado uma formação específica para o olhar
humano frente às crianças, seus pais, comunidade e em sua proposta formativa.
O Colégio X tem como missão oferecer à infância e à juventude, por meio
de sua proposta pedagógica, um amparo e um saber que favoreçam o
desenvolvimento pleno de suas aptidões físicas, mentais, morais e espirituais,
formando as bases de uma nova humanidade, mais consciente de sua
responsabilidade frente à própria vida, à sociedade em que vive e ao mundo e
como finalidade da educação o propiciar a educação da criança e do adolescente,
tendo em vista o desenvolvimento natural de sua vida consciente. Os objetivos de
sua pedagogia, são
a) desenvolver no aluno as funções de estudar, aprender, ensinar, pensar e
realizar;
b) quanto à formação mental, capacitar o educando para: Conhecer os
pensamentos, como agentes causais do comportamento humano. Desenvolver o
princípio consciente, distinguindo a atuação dos pensamentos da função de
pensar. Desenvolver harmonicamente as faculdades da inteligência: pensar,
observar, refletir, raciocinar, entender, recordar, imaginar, entre outras.
Encaminhar as energias instintivas, colocando-as a serviço da inteligência e da
sensibilidade. Identificar e debilitar as deficiências caracterológicas;
c) quanto à formação moral, ensinar o educando a: Desenvolver
harmonicamente as faculdades do sistema sensível: sentir, amar, agradecer,
consentir, perdoar, querer, compadecer. Cultivar sentimentos que dignificam o
homem: gratidão; amizade; afeto; amor à vida, a Deus e aos semelhantes;
lealdade; humanidade; nacionalidade; caridade, camaradagem, entre outros.
Formar conceitos básicos de vida, homem, Deus, família, liberdade, evolução, Leis
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
Universais, herança de si mesmo, redenção, entre outros. Criar defesas mentais,
como forma de resguardar sua integridade psicológica, mental e moral. Cultivar
valores éticos como: responsabilidade, respeito, tolerância, paciência, afabilidade,
prudência, conciliação e
d) quanto à formação espiritual, possibilitar o educando a: Conhecer a sua
realidade psico-espiritual: o conhecimento de si mesmo e da própria herança
individual. Sentir permanentemente a aspiração de ser melhor, superando sua
própria realidade interna. Perceber a realidade do mundo mental, transcendente
ou metafísico. Edificar uma nova vida e um destino melhor, superando ao máximo
as prerrogativas comuns. Experimentar permanentemente a aspiração natural de
servir à humanidade.
A sua abordagem metodológica fundamenta seu trabalho nesta proposta
pedagógica, observando, como aspectos do processo educacional a) a realização
pelo educador, do processo de evolução consciente preconizado pela filosofia que
segue; b) a formação de um ambiente onde imperam elementos éticos de afeto,
cortesia e respeito, tolerância, alegria, disciplina, responsabilidade, liberdade,
estímulo ao saber e ao anelo de ser melhor e de fazer o bem; c) acercamento de
estímulos sãos e elevados, naturais e positivos, indispensáveis à formação do
caráter e d) a vinculação sensível entre docente e discente, pelo cultivo do afeto,
princípio fixador das relações humanas.
Pela observação científica dos fatos, dos meios de informação, na coleta de
dados, análise, comparação, classificação, seleção do material, o discente é
orientado até chegar a comunicar os conhecimentos obtidos. O método científico
aplicado está sendo trabalhado desde o segmento de Educação Infantil (através
do desenvolvimento dos projetos de livros literários) ao segmento do Ensino
Fundamental, seguindo projetos interdisciplinares.
Em uma busca constante de possibilitar que os alunos possam
compreender os alunos como as pessoas, como cidadãos e de forma que
desenvolvam uma consciência pessoal, social e planetária, partindo de um sentido
de ética de responsabilidade eco-formativa, a presente pesquisa não poderia ser
feita sem que se revista-se os fundamentos que lhe dão corpo, nesse sentido
segue uma breve fundamentação teórica como parte que justifica o presente
estudo.
A Rede Internacional de Ecologia dos Saberes – RIES, visa refletir
colaborativamente sobre as implicações educacionais e formadoras de um olhar
transdisciplinar a partir da ecologia dos saberes no marco do paradigma ecosistêmico; Construir redes de comunicação entre grupos de pesquisa para
compartilhar princípios, metodologias de pesquisa transdisciplinar assim como a
elaboração de instrumentos que facilitem a obtenção de evidências; Estudar,
analisar e avaliar os cenários de ação educacional, investigando como levar à
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
prática de sala de aula tais princípios, valorizando tanto a auto-formação, as
estratégias práticas de execução, como as mudanças e impactos gerados, em
termos de qualidade, de acordo com as demandas atuais; Mostrar que é viável,
tanto no âmbito universitário como escolar, conceber a formação e a educação
como cenários de transformação pessoal, profissional, institucional e social,
superando a fragmentação disciplinar e a divisão entre razão, emoção e
corporeidade, sem deixar de fomentar valores humanos, éticos, espirituais e de
convivência.
O esforço coletivo, cooperativo e internacional da RIES tenta identificar
saberes, práticas e experiências que permitam elaborar princípios que
fundamentem e orientem as futuras políticas públicas, reformas educacionais e
planos de estudos, considerando os avanços científicos e tecnológicos,
desenvolvimento humano, ético e social como um todo. E empenhados em
contribuir para formar cidadãos construtivos, responsáveis, colaborativos, ao
mesmo tempo, que profissionais inovadores e criativos. Por considerar que os
objetivos e finalidade da RIES como legítimos, de interesse científico, social e
educativo é que se propõem desenvolver a partir desse pré-projeto de pesquisa
uma tese.
Compreender que a complexidade apresenta que os nossos problemas são
sistêmicos, interligados, interdependentes e é nessa perspectiva que intenciona-se
a presente pesquisa, investigar o Colégio X e seus atores sociais, suas práticas,
seus projetos e suas propostas de ruptura, de inovação. Buscando identificar o
movimento vivo de relação entre teoria e prática, nas práticas coletivas,
inovadoras e criativas.
A complexidade tem por fundamento a negação da simplificação e
pressupõe a intencionalidade de dialogar com as ambigüidades, os equívocos, as
diversidades, por meio dos operadores cognitivos do pensamento complexo.
Pensamento esse mais amplo, sistêmico e relacional e a transdisciplinaridade,
buscando religar o que a ciência moderna fragmentou e nutrida pela
complexidade, se apóiam na busca de um novo olhar sobre a realidade. A
epistemologia da complexidade proposta por Morin (2008) pode nos ajudar nesse
sentido, enquanto aporte teórico norteador capaz de sustentar o transcender rumo
a uma análise do “ser” em uma perspectiva multidimensional - social, ecológico,
econômico, político, histórico, místico, espiritual e cósmico, bem como
multirreferencial.
A pesquisa aqui apresentada compromete-se com o decálogo de intenções
e propostas educativas e sociais da transdisciplinaridade e da ecoformação. E
nesse sentido apresenta abaixo seus princípios e breves considerações sobre os
mesmos.
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
Emerge no cenário atual a necessidade de formação de uma consciência
coletiva de que o mundo por nós habitado é, cada vez mais, plural, complexo e
que se encontra interligado. Não cabe mais a ciência e a educação fragmentar o
conhecimento prejudicando os saberes embasados nos valores humanos, éticos,
de colaboração e convivência social que deveriam acompanhar todo o processo
de construção do conhecimento. O risco de desumanização tem que ser
compensado com a integração dos valores humanos na gestão do conhecimento
e nas práticas formativas. Por isso, clamamos por um olhar transdisciplinar e uma
ecologia dos saberes naqueles em que os valores humanos de liberdade,
solidariedade, convivência, harmonia e equilíbrio com a natureza sejam eixos na
formação do cidadão planetário. A ecologia dos saberes tem como ponto de
partida a tecnociência, capaz de desenvolver talentos tanto para a ciência como
para a construção da paz, além de transpor barreiras de conhecimentos
específicos na busca de um sentido mais profundo e sólido para a vida.
A transdisciplinaridade é o que está entre, através e além das disciplinas,
ao considerar pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, de
forma interativa e relacional. Este olhar marcará uma nova forma de viver, pensar,
sentir, investigar e de construir conhecimento. Na busca de um sentido ético e de
estratégias ecossistêmicas de compreensão da realidade e dos sujeitos. Práticas
transdisciplinares baseadas no respeito, na convivência, na conservação dos
meios naturais, na melhoria das condições de vida, no consumo consciente e na
produção que não menospreze os direitos humanos nem o bem-estar psicossocial
da pessoa, se fazem fundamentais na realidade atual social, institucional e
educacional. Já não são mais úteis, a sociedade atual, as organizações rígidas,
incapazes de se adaptarem às flutuações do entorno.
Segundo Mariotti (1999 apud MORAES, 2008), os operadores permitem a
busca e o estabelecimento de conexões dos sujeitos, os objetos, os dados e as
situações, antes não vistas como conexas. Facilitam o entendimento de que os
processos e os fenômenos influenciam uns aos outros e se auto-organizam e
auto-regulam, originando destas mútuas influências outros diversos tipos de
interações. Na seqüência, será feita uma conceituação dos operadores cognitivos
do pensamento complexo.
O princípio sistêmico-organizacional nos apresenta a inseparabilidade do
todo em partes para a compreensão da realidade e a necessidade do movimento
ao contrário: o de religar as partes ao todo e o todo a cada uma das partes. Para
Morin (2008) juntar as partes não significa encontrar um todo maior que as
mesmas. O todo pode ser de diferente, maior ou menor que a soma das partes de
acordo com o momento vivido, experienciado, dependente da sinergia e da autoorganização de cada uma das partes envolvidas nesta realidade. Neste sentido,
tal perspectiva refuta a perspectiva simplificadora e fragmentadora proposta pela
ciência moderna e “a Física Quântica nos mostra que o observador, o objeto
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
observado e o processo de observação implicam uma totalidade, pois são
inseparáveis em função do acoplamento estrutural e da interpenetração sistêmica
em termos de energia, matéria e informação que ocorre”. (MORAES, 2008, p.97)
O princípio hologramático, segundo Morin (2000 apud MORAES, 2008,
p.99), é o “que coloca em evidência o paradoxo dos sistemas complexos em que
não somente a parte está no todo, mas o todo está também inscrito nas partes”.
Para Morin (2000) este princípio se aplica em tanto na compreensão dos
fenômenos sociais, quanto físicos ou biológicos. Para Moraes (2008), “o todo se
encontra virtual ou informacionalmente presente em cada uma das partes e esta
compreensão precisa ser examinada com cuidado no momento em que estamos
planejando estratégias ou criando procedimentos de pesquisa a serem adotados”.
(p.99).
O princípio retroativo traz a idéia de retroalimentação, a qual realiza
modificações no próprio comportamento ou sistema, causadas pelas respostas à
ação de um sujeito, ou órgão, sobre a realidade que o cerca. Para Moraes (2008,
p.99), “o fenômeno da retroação é também compreendido como feedback e que,
por sua vez, reflete a causalidade circular de natureza fechada, não espiralada”.
Retroalimentar é dar um feedback, uma devolução para alguém, uma resposta
reativa da conseqüência do seu comportamento.
O princípio recursivo tem sua dinâmica no fato de que todo produto é
produtor daquilo que o produz, ou seja, como exemplo, segundo Moraes (2008), o
indivíduo que produz a sociedade é também, por ela, produzido. Segundo
Maturana (1999 apud MORAES, 2008) o ser e o fazer estão profundamente
imbricados, estruturalmente acoplados e este retorno para a auto-organização nos
remete à idéia de que somos pessoas em constante organização interna das
nossas ações e conseqüente evolução destas para interações e comportamentos
futuros.
O princípio dialógico deve ser percebido desde o princípio do universo, já
que para organizar algo, algo deve ser desorganizado, pois não há a possibilidade
da existência da ordem sem a existência da desordem, a primeira deve sua
existência à segunda e vice-versa, sem a necessidade de ter que se preocupar
com o aparecimento de qualquer uma das duas em primeiro ou em segundo
plano. Não cabe aqui tecer um comparativo de importância, mas a discussão da
necessidade de convivência, em uma mesma situação, dos opostos, nos dando
uma visão da associação inseparável de dois processos que, aparentemente, são
antagônicos, mas complementares em seu dinamismo de ação. Essa
complementaridade e indissociabilidade de noções aparentemente antagônicas
estão acontecendo a todo instante nos mundos bio-físico-psico-social.
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
O princípio da auto-eco-organização, de acordo com Morin (1990 apud
MORAES, 2008) existe uma relação de autonomia/dependência, na qual a
autonomia de um sujeito é inseparável de sua dependência. Isto se explica a partir
do momento em que um sujeito só pode ser autônomo a partir de suas relações
em um determinado contexto em que vive dos fluxos nutridores que o nutrem.
Desta forma, há a criação de estruturas próprias e novas formas de ação a partir
dos componentes envolvidos nas relações desenvolvidas.
O princípio da reintrodução do sujeito cognoscente trata da reinserção do
sujeito cognoscente resgatando a corporeidade deste sujeito a partir da relação
cognitiva e afetiva ao mesmo tempo em que o transforma em um sujeito que crê e
espera a construção de um mundo melhor. A idéia não é relacionar sujeito com
subjetividade, mas de perceber um sujeito capaz de pensar, de planejar, de
desejar, de imaginar e de construir o real da sua vida. A subjetividade, a partir da
ótica do pensamento complexo, sai da realidade coisificada para ocupar o lugar de
um processo vivo do sujeito que se modifica de acordo com as circunstâncias
vividas e em constante desenvolvimento.Moraes e Valente (2008) propõe que aos
operadores cognitivos do pensamento complexo propostos por Modem sejam
acrescidos outros três princípios que na seqüência será feita a exposição em um
processo de complementaridade dos sete princípios já apresentados.
O princípio ecológico da ação trata dos processos de retro-ação, de interretroação, de co-operação caracterizam a ação ecológica de toda ação, onde,
juntos, colaboramos para a construção de um mundo povoado por outros sujeitos
objetos participantes de seu crescimento e conhecimento, e através de interações
mútuas entre todos esses sujeitos. A construção deste mundo é influenciada,
segundo Moraes (2008) “pelas ações, pelas idéias, pelos pensamentos,
sentimentos, pelas emoções e valores dos outros” que se imiscuem com os de
todos os outros sujeitos objetos participantes, provocando um processo de
retroativo, recursivo, dialógico e auto-eco-organizativo do sistema vivo como um
todo, o mundo no qual nos co-responsabilizamos pela sua constante
transformação.
Para o princípio da enação, o conhecimento não pré-existe em qualquer
lugar, independente da ação do sujeito cognoscente. Este princípio nos remete a
pensar, segundo Varela e colaboradores (1997) que toda ação é voltada para o
conhecimento e irremediavelmente inseparável da percepção de quem está
envolvido no processo, ou seja, há uma evolução conjunta participantes na codependência dos fluxos energéticos que ocorrem entre esses sujeitos
participantes.
Finalmente, o princípio ético deve estar sempre presente em todo e
qualquer ato, seja ele relacional, educativo ou sistêmico. Ela se manifesta na
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
relação com o outro, nas ações que são projetadas para como sistema vivo como
um todo e também para consigo mesmo, através das diferenças e das
aceitabilidades destas pelo sujeito objeto-participante na cooperação, na
solidariedade e na manutenção e preservação da ética comum a todos.
Para se estabelecer contato direto e prático com esta forma de vivenciar o
mundo, o outro e a própria pessoa, deve-se trabalhar com os indivíduos formas
diferenciadas de percepção da realidade da qual faz parte. Para isso a criatividade
deve ser trabalhada para que as pessoas possam estabelecer contatos produtivos
com todo o sistema no qual está intrinsecamente envolvida.
Segundo Torre (2008) a criatividade é um conceito emocional e vivencial.
Estamos num momento de mudança social profunda, na passagem da sociedade
industrial à sociedade de informação. O papel da criatividade nesse momento é de
nos ajudar a ver como seguimos avançando sem perder em valores e em
felicidade. Trata-se de ver nesse novo que surge, algo que seja bom para todos os
demais. Quanto ao futuro, temos que ter clareza que a questão da criatividade não
pertence apenas a um campo do saber, ela é interdisciplinar e está presente na
arte, na publicidade, na ciência, na educação, na vida cotidiana e nas empresas.
Atualmente entendo que a criatividade é vontade, emoção e decisão.
Para caracterizar uma pessoa criativa vamos pensar em quatro eixos e um
coração. 1. Ser – é o mundo emocional e interior a ser projetado. Entusiasmo (na
história não existiram criadores relevantes que não foram entusiasmados!). E esse
entusiasmo se caracteriza com a entrega. Alguém que esteja vivendo um
processo criativo esquece-se do tempo fixo e marcado e se entrega de corpo e
alma ao que está fazendo. 2. Saber – trata-se do conhecimento, sobretudo no
campo técnico. Quem pode criar sem conhecer os códigos específicos do campo
no qual está criando? 3. Fazer – É quando fazemos algo concreto, que utilizamos
a criatividade para saber jogar com as coisas, combinando-as, conectando-as de
formas diferentes e ao mesmo tempo numa coisa só. 4. Querer – aqui falamos de
algo importantíssimo, porque a primeira idéia é muito importante, mas é preciso
esforço, disciplina para transformar essa primeira idéia em algo realmente criativo.
E nesse sentido, esse querer significa não apenas um desejo, mas a vontade, o
esforço, a auto-organização. E o “coração da pessoa criativa” é o conceito de
complexidade. As pessoas criativas são pessoas que nos desconsertam, nos
transbordam e desafiam nossa capacidade de encaixá-las em algum lugar. A
pessoa criativa tem tendência a manifestar-se de forma diferente em função de
uma série de situações, além disso, sabe adaptar-se à inúmeras situações
diferentes.
Escolas criativas, imagina-se, que sejam formadas por pessoas inquietas,
criativas, capazes de buscar religar saberes e reconstruir realidades, capaz de
serem amorosas e éticas com aqueles com quem convivem e é esta a proposta
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
com que trabalham professores e dirigentes deste Colégio X. A experiência por
eles proporcionada para seus alunos e para si mesmos, de maneira criativa e
inovadora, torna o aprender de valores algo com significado interno intenso, pleno
de vida e ligados intrinsecamente com o todo que cerca todos que a vivenciam.
REFERÊNCIAS
1- ARNT, Rosamaria de Medeiros. Docência transdisciplinar: em busca de novos
princípios para ressignificar a prática educacional. Tese de doutoramente.
Pontifícia Católica de São Paulo, São Paulo: 2007.
2- MARIOTTI, Humberto.
As paixões do ego:complexidade, política e
solidariedade. São Paulo: Palas Athena, 2000.
3- MATURANA, H. e VARELA, F. A árvore do conhecimento. Campinas, SP: Ed.
Psy II, 1995.
4- MATURANA, Humberto. Maturana e a Transdisciplinaridade no I Encontro
Catalizador do CETRANS-Escola do Futuro, Itatiba, SP, 1999. Disponível em:
http://www.cetrans.com.br/#. Acesso em 2005.
5- MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas, SP:
Papirus, 1997.
6- __________. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania
no século XXI. Petrópolis: Vozes, 2004.
7- __________. Ecologia dos saberes: complexidade, transdisciplinaridade e
educação: novos fundamentos para iluminar novas práticas educacionais. São
Paulo: Antakarana/WHH-Willis Harman House, 2008.
8- MORAES, Maria Cândida e VALENTE, José Armando. Como pesquisar em
educação a partir da complexidade e da transdisciplinaridade? São Paulo:
Paulus, 2008.
9- MORIN, Edgar. Desafios da transdisciplinaridade e da complexidade. In: AUDY,
Jorge Luis Nicolas; MOROSINI, Marília Costa (org.) Inovação e
interdisciplinaridade na universidade. Porto Alegre: Edipucrs, 2007.
10- __________. O método 1: a natureza da natureza. Trad. Ilana Heineberg.
Porto Alegre: Sulina, 2008.
11- __________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São
Paulo: Cortez, 1999.
12- __________. Por uma reforma do pensamento. In: O pensar complexo:
Edgar Morin e a crise da modernidade. Nascimento, Elimar Pinheiro do; PenaVeja, Alfredo (org.). 3. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2001.
13- __________. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.
14- __________. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2002.
15- NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Trad. Lúcia
Pereira de Souza. São Paulo: Trion, 1999.
16- __________. A prática da transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab
(org.). Educação e transdisciplinaridade. Brasília: UNESCO, 2000.
João Henrique Suanno (2010). A criatividade na educação infantil: Um olhar complexo e transdisciplinar.
En Torre, S., Pujol, M.A., Rajadle, N., Borja, M. (Coords) Innovación y Creatividad (CD-ROM). Barcelona:
Giad.
17- __________. Educação e transdisciplinaridade. Brasília: UNESCO, 2001.
18- __________. Fundamentos metodológicos para o estudo transcultural e
transreligioso. In: Educação e transdisciplinaridade II. São Paulo:
Triom/UNESCO, 2002.
19- SOUZA, Ruth Catarina Cerqueira R. de. Novos paradigmas na educação,
2005. (Texto impresso)
20- SOUZA, Ruth Catarina Cerqueira Ribeiro de, SILVEIRA, Marly,
MAGALHÃES, Solange Martins Oliveira, GUIMARÃES, Valter Soares e
DOMINGUES, Maria Hermínia Marques da Silva. A produção acadêmica sobre
o professor e sua formação: encaminhamentos de um estudo interinstitucional
da
região
Centro-Oeste.
Disponível
em:
http://www.isecure.com.br/anpae/327.pdf. Acesso em 28/09/09.
21- STAKE, Robert. Case study methods in educational research: Seeking
sweet water. IN Richard M. Jaeger edição Complimentary methods for research
in education, Washington, D.C. ,American Educational Research Association,
1988.
22- SUANNO, Marilza Vanessa Rosa. Grupo Focal e auto-avaliação
institucional. Rio de Janeiro: Deescubra, 2008.
23- SUANNO, Marilza Vanessa Rosa e MAGALHÃES, Solange Martins
Oliveira. considerações sobre o método materialismo histórico dialético e o
método da complexidade e da transdisciplinaridade: a questão do método. In:
Leituras em Educação. V3. Teixeira de Freitas – BA, 2008. (prelo)
24- TORRE, Saturnino de la. Criatividade aplicada: recursos para uma
formação criativa. São Paulo: Madras, 2008.
25- VARELA, F. J. Sobre a competência ética. Lisboa: Edições 70, 1995.
26- __________. Conhecer: as ciências cognitivas, tendências e perspectivas.
Lisboa: Instituto Piaget, s.d.
27- __________. O caminhar faz a trilha. In: THOMPSON, William INWIN. Gaia:
uma teoria do conhecimento. São Paulo: Gaia, 2000
28- __________. Conhecer. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.
29- VARELA, F. J.; THOMPSON, E.; ROSCH, E. A mente incorporada: ciências
cognitivas e experiência humana. Porto Alegre: Artmed, 2003.
* Psicólogo – UCG/1991. Psicopedagogo – UCG/1994. Mestre em Educação –
UCG/2003. Doutorando em Educação pela Universidade Católica de Brasília –
UCB/DF, no período de 2009 a 2013, orientando da Profa. Dra. Maria Cândida
Moraes. Professor da Universidade Estadual de Goiás – UEG –
Goiânia/Goiás/Brasil. Membro do grupo de pesquisa ecologia dos saberes,
transdisciplinaridade e educação: www.ecotransd.com.br. [email protected]
Download

João Henrique Suanno - A criatividade na educação infantil