Editorial
João Paulo II beato
por Giulio Andreotti
Da grande multidão de fiéis – romanos e não romanos – que no
dia da beatificação de João Paulo II lotava a Praça de São Pedro e as ruas adjacentes nos resta o sentimento, a veneração, a
alegria de toda aquela gente. E é uma recordação que não podemos deixar apagar dentro de
nós. Mas também ouvir a ritual proclamação
através da voz daquele que João Paulo II declarou “seu amigo de confiança” foi particular-
mente tocante, porque me veio à lembrança as
palavras de Paulo VI quando disse que o segredo para ser um bom Pastor é a novidade na
continuidade. E a primeira característica comum entre João Paulo II e Bento XVI (mas não
sempre entre todos os papas) é a facilidade
com que chegam ao coração das pessoas com
discursos imediatos e simples, a ponto de serem compreensíveis tanto para gente comum
quanto para os intelectuais.
A multidão na praça de São Pedro durante a cerimônia de beatificação de João Paulo II, 1º de maio de 2011
4
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Pertenço a uma antiga escola
de católicos que ensina que se
deve querer bem ao papa
e não a um papa. Mas não
creio sair desta linha se me
associo aos que esperam uma
conclusão rápida do processo
rumo aos altares que segue
à beatificação, como foi para
Madre Teresa e Padre Pio,
para mim as duas canonizações
mais tocantes do pontificado
de João Paulo II
João Paulo II durante a cerimônia de canonização
de Padre Pio em 16 de junho de 2002
Tenho lembranças memoráveis de João
Paulo II e no passado tive a oportunidade de falar várias vezes disso em congressos e entrevistas, mas desta vez quero mantê-las no coração,
porque na ocasião da sua beatificação corre-se
o risco de fazer apologia de si mesmo e não do
beato Wojtyla e isso seria grave.
O dia 1º de maio de 2011 levou-nos idealmente ao dia do funeral de papa Wojtyla, dia
8 de abril de 2005: a sua agonia tinha sido
acompanhada por todo o mundo com uma
participação extraordinária e ergueu-se da
multidão, em particular dos jovens, o grito de
“santo já”, que nos dias passados da beatificação foi novamente evocado com muita intensidade.
A Igreja tem os seus tempos e é absolutamente autônoma, os procedimentos da Congregação são muito rigorosos e se forem cria-
das pressões mediáticas acaba-se provocando o efeito contrário, porém há um capítulo
específico, que me parece importante: a verificação se a santidade é percebida pelos fiéis.
E quanto a isso não há dúvidas, a ponto de
muitos fiéis rezarem há tempo por João Paulo II não menos do que fariam se fosse já santo. O importante é a substância, se em uma figura de cristão reconhece-se a santidade e reza-se, o documento selado terá todo o tempo
para chegar. Pertenço a uma antiga escola de
católicos que ensina que se deve querer bem
ao papa e não a um papa. Mas não creio sair
desta linha se me associo aos que esperam
uma conclusão rápida do processo rumo aos
altares que segue à beatificação, como foi para Madre Teresa e Padre Pio, para mim as
duas canonizações mais tocantes do pontificado de João Paulo II.
q
30DIAS Nº 4/5 - 2011
5
Download

João Paulo II beato