Jona Mussa e Cássimo Charifo, jornalistas da Rádio Comunitária da lha de Moçambique notificados por reportar caso de violência Por: Amade Ismael, Coordenador da Rádio On’hipiti Os jornalistas da Rádio Comunitária da Ilha de Moçambique, On’ Hipite foram detidos no mês de Fevereiro do ano 2010 e julgados em Abril do mesmo ano, tendo a sentença ditado que deviam pagar 35.000,00 Meticais por terem realizado uma reportagem ligada a um caso de violência contra um menor, perpetrado por um cidadão Tanzaniano, no bairro Litine, arredores na Ilha de Moçambique. A Ilha de Moçambique é uma urbe pequena com um comprimento máximo de 3 Km e largura máxima de 500 metros, com oito bairros e está dividida em duas partes sendo uma a cidade de pedra e cal e outra a cidade de macuti, rodeada por água por todos os lados. Para além da bela biodiversidade que apresenta e que fascina a qualquer um que procura o local como ponto de lazer nesta pequena cidade em que habitamos acontecem grandes mistérios que ultrapassam a dimensão de qualquer compreensão. Num belo dia, pelo fim da tarde, ou melhor, exactamente no crepúsculo da tarde, num bairro chamado Macaripe e num edifício de primeiro piso vive uma comunidade Tanzaniana que procurou aquele encanto como refúgio. Estes Tanzanianos, desembarcaram nesta Ilha em meados de 1993, lembro-me bem de ter sido após o ciclone Nádia que assolou a Ilha em Março desse ano. Mas então eles vieram a procura de holotúrias que na altura abundavam nas nossas praias e hoje é uma espécie dizimada, quase extinta. Foram fazendo a colecta deste produto e exportando ilegalmente aos olhos das autoridades, que alienadas por produtos vindos da Tanzânia não actuavam como autoridade e justificavam que eram os nossos irmãos que nos ajudaram na luta armada, mas não deixamos de criticar na altura. Passados anos, foram descobrindo outros negócios como o de transporte semi-colectivo na rota Ilha - Nampula e vice versa, que hoje de tão prosperarem no negócio, o Saíde, Tanzaniano como é chamado, é um grande empresário de renome neste ramo com uma grande frota de autocarros e com as rotas diversificadas. O que lhe torna “intocável” em quase todas instâncias. Naquele fim de tarde a que me referi acima, mesmo defronte da casa do intocável estrangeiro, há um muro de contenção que dá para outro bairro chamado Litine e geralmente sobre estes muros têm-se sentado grupos de pessoas que ficam na labuta apanhando ar fresco até a altura do pitéu e hora de dormir. Estranhamente nesse dia o tanzaniano insurgiu-se contra umas crianças que por ali brincavam e culminando com um empurrão a um dos petizes que ficou ferido, provocando um mal estar na zona e a nossa equipa de reportagem constituída na altura por Jona Mussa e Cássimo Charifo escreveram e leram durante as horas de noticiários na rádio alertando para a situação. A nossa rádio foi imediatamente visitada por policiais que vinham procurar saber o que realmente se tinha passado, mas estes já vinham com uma versão diferente da que nós havíamos apurado e as duas versões não se complementavam. Os nossos jornalistas foram notificados alegando-se o motivo de difamação e sofreram perguntas, bem comoameaças do tipo “vocês são miúdos não sabem que estes são irmãos da luta armada? Vocês vão presos!”. Parecia que o caso acabaria ali na esquadra da polícia mas não, continuou, eis que nos surpreenderam com uma notificação da Procuradoria distrital e os nossos jornalistas apresentaram-se nesta e depararam-se com uma acareação já elaborada e o Procurador positivamente a obrigar que eles assinassem sobre algo que não tinham respondido e ameaçados de prisão imediata caso recusassem. Os jornalistas acabaram recusando porque alegaram uma disposição legal do Artigo 48 da Constituição da República que defende o direito e a liberdade de expressão. O caso chegou a parar em Tribunal e em julgamento com uma sentença de pagamento ao ofendido, neste caso ao tanzaniano, de uma indeminização de 35.000,00Mts. Entretanto a rádio remeteu o caso exigindo justiça e até ao momento o processo encontra-se parado.