90 Domingo 5 Fevereiro de 2012 ValeViver 91 Cinema Uma semana platinada ‘Sete Dias com Marilyn’ tranforma as anotações do escritor Colin Clark em um filme que traz Michelle Williams interpretando a loira mais famosa de Hollywood Franthiesco Ballerini São Paulo E SEMELhança Michelle Williams pode não ser uma ‘sósia’ de Marilyn, mas sua atuação surpreende no filme la ajudou a popularizar o estereótipo da “loira burra” graças aos seus adoráveis papéis de tolinha em Hollywood, embora ela mesma não fosse loira de verdade. Marilyn Monroe, a atriz mais famosa do mundo até hoje, e uma das poucas em que se pode realmente chamar de estrela, não era nada burra na vida real, construindo uma carreira que ajudou a sustentar, quase que sozinha, a Fox nos seus tempos mais difíceis. No próximo dia 10, chega às telas “Sete Dias com Marilyn”, produção que já levou o Globo de Ouro, de Melhor Atriz para Michelle Williams, no papel principal. Dirigido pelo estreante em longas Simon Curtis, é baseado na história real da semana em que o escritor britânico Colin Clark foi assistente de Marilyn em 1956, durante as filmagens de “O Príncipe Encantado”, na Inglaterra, contracenando com ninguém menos do que Laurence Olivier. Detalhe, Marilyn estava na Inglaterra também por conta de sua lua de mel com o escritor Arthur Miller, que fora embora trabalhar, deixando ao colega Clark a missão de apresentar o Reino Unido a ela. Tudo que Clark e Marilyn fizeram fora registrado em um diário escrito por ele, lançado em dois livros em 1995 e 2000. Quem vive Olivier é o ator Kenneth Branagh e Miller é interpretado por Dougray Schott. A ex-Harry Potter Emma Watson e Judi Dench também fazem parte do elenco. O filme já fora exibido em alguns festivais e também já estreou nos EUA. Fora bem recebido pela crítica, especialmente a atuação de Michelle Williams, que apesar de estar longe de ter a sensualidade de Marilyn, ao menos cumpriu bem o papel de interpretar um mito cinematográfico, a ponto de alguns críticos dizerem que Williams desaparece no filme, deixando apenas a presença de Marilyn. Agradável de se ver, mostra uma história de amor altamente improvável entre a diva do cinema e o terceiro assistente de direção do filme de Olivier, aspirante a alguém na vida. Enquanto o departamento de maquiagem e figurino deixou Williams muito próxima de Marilyn, com o bocão, os seios pontudos e os cabelos, foi Williams quem devorou os filmes e bastidores da diva para fazer a voz e os maneirismos dela. O mais difícil, porém, foi mostrar Marilyn longe das câmeras, sozinha ou com pessoas que nunca registraram o que ela falou e como ela agiu. Há muito pouco gravado de making of de Marilyn na história, no entanto, Michelle Williams passa com segurança a sensação de que tudo aquilo realmente aconteceu. A história mostra, por exemplo, a frustração de Laurence Olivier, um ator absolutamente metódico, com Marilyn, que diz não acreditar na motivação da personagem que interpreta, criando atrasos e caos na produção. Branagh também está ótimo como Olivier, que embora seja um papel secundário, ganha vida intensa no filme. Ele ajuda a mostrar a dualidade entre Norma Jeane Baker, a mulher frágil e inseFotos: divulgação ANOTAçÕES Eddie Redmayne vive o escritor Colin Clark, que escreveu em seu diário as aventuras com a loira 92 Domingo 5 Fevereiro de 2012 ValeViver SENSUALIDADE Filme retrata momento bastante picante da vida pessoal da atriz gura, e Marilyn Monroe, a diva a qual Norma se transformou. Não há nenhum segredo ou novidade sobre a vida de Monroe que pipoca no filme e surpreende o mundo. Tudo ali já é de conhecimento de décadas da imprensa mundial. No entanto, o roteiro faz um recorte interessante na vida da diva. Em vez de querer abraçar o mundo –contando a saga de Marilyn do nascer ao morrer, o que acaba gerando filmes superficiais e óbvios– a trama foca um momento particularmente picante da vida da musa, quase tão fervoroso quanto suas relações com o então presidente John F. Kennedy. Como teria ficado a personagem se Scarlett Johansson tivesse aceitado o papel, visto que ela era a atriz mais desejada pela produção para encarar a missão? Impossível saber, mas certamente a atuação chamaria mais atenção, especialmente após a divulgação das fotos em que Johansson aparece nua, no ano passado. No final das contas, o filme é todo sobre percepção e manipulação. A percepção que o público e os colegas tinham de Marilyn e como eles manipulavam-na, bem como ela manipulava quem estava ao seu redor. “Eu cresci com um pôster dela em cima de minha cama, e sempre fui mais interessada em conhecer a Marilyn privada e resguardada das câmeras, a Marilyn antes da Marilyn”, comentou Michelle Williams no lançamento do filme nos EUA. O filme foi rodado em Los Angeles e no Reino Unido, inclusive na Parkside House, casa onde Marilyn se hospedou enquanto filmava o longa. Com um ar ao mesmo tempo moderno e retrô, “Sete Dias com Marilyn” é uma boa opção de entretenimento, descompromissado e, ao mesmo tempo, com boas atuações. A ascensão do mito Nascida Norma Jeane Baker em 1º de junho de 1926, Marilyn passou a infância em casas de pais adotivos, começou como modelo e só entrou para o cinema aos 20 anos. Sua persona “loira burra” foi criada no filme “Os Homens Preferem as Loiras” (1953), clássico de Howard Hawks, usado ao longo de toda a carreira posteriormente. Tendo sofrido abusos sexuais na infância, carregou distúrbios de sono e abuso de substâncias químicas ao longo de toda a vida. O nome Marilyn Monroe foi sugerido por Ben Lyon, executivo da Fox, que o achava sexy e poderoso. Mas antes de se tornar uma atriz, fez até fotos nuas para sobreviver, ganhando pouquíssimo dinheiro. Também estudou literatura e arte na Uni- versidade da Califórnia, no início dos anos 1950. Com 1,67 metro de altura, 94 cm de busto, 61 cm de cintura e 89 cm de quadril, em pouquíssimo tempo se tornou símbolo sexual do cinema. Seus filmes mais famosos são “O Inventor da Mocidade”, “Niagara”, “Almas Desesperadas”, “Como Agarrar um Milionário”, “Nunca Fui Santa” e “Quanto Mais Quente Melhor”. Seu primeiro marido foi o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Na lua de mel, em Tóquio, Marilyn aproveitou para cantar e dançar para as tropas americanas, num passeio pela Coréia, deixando o marido irritadíssimo, o que ajudou o casamento a desabar apenas nove meses depois. Mudando-se para Nova York para estudar atuação e se tornar uma atriz séria, abriu sua própria produtora, responsável por alguns de seus filmes, como “O Príncipe Encantado”. Se casou em 1956 com Arthur Miller e o casamento acabou exatamente no dia 20 de janeiro de 1961, escolhido propositadamente pois era a posse do presidente John F. Kennedy, numa tentativa de tirar a separação das manchetes. Mas isso não funcionou, especialmente porque Marilyn já era amante de Kennedy há muito tempo, ou mais, uma obsessão do presidente. O caso começou logo depois do divórcio com di Maggio. O caso entre os dois foi alvo inclusive de chantagem de John Edgar Hoover (outro personagem que ganha às telas neste ano), pois ele grampeou uma conversa entre o casal e chantageou Kennedy, que queria demiti-lo do FBI. Por manter a gravação em segredo, Hoover continuou no cargo. No auge da fama, em 5 de agosto de 1962, com apenas 36 anos, Marilyn Monroe supostamente cometeu suicídio em sua casa em Brentwood, na Califórnia, por overdose de barbitúricos. A morte segue um mistério, pois os telefonemas e outras evidências da morte sumiram, a autópsia perdida e todos os amigos dela que tentaram investigar o caso foram ameaçados de morte. Suspeita-se que ela tenha sido sufocada até a morte pela máfia ligada a Kennedy, pois Marilyn talvez saberia detalhes da ligação do presidente com estes mafiosos e poderia denunciar à polícia. Trata-se de uma das teorias (talvez conspiratórias) sobre a morte da mulher que não nasceu loira, mas se tornou a musa platinada mais famosa da história. • 93 No set Kenneth Branagh interpreta Lawrence Oliver, o ator frustado com a atuação de Marilyn