coleção aplauso 2008 coleção ap coleção aplauso 2008 XXXXXXXXXX ALANAAGA - SP 11/11/2008 SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA ALANAAGA - SP | XX/10/2008 sábado, 1 de novembro de 2008 the old fashioned way Quando era pequeno, em Santos, todo domingo eu corria para pegar o suplemento do jornal “O Diário de Santos”. Ia direto ver o que havia escrito a correspondente dos Diários Associados em Hollywood, Dulce Damasceno de Brito, Brito que invariavelmente havia entrevistado algum astro famoso de um filme novo. Sempre tinha uma foto da jornalista posando com a personalidade - como a que ilustra esse texto, em que ela aparece ao lado de Bette Davis (“A Malvada”). Mais tarde, soube que houve outros brasileiros que moraram em Hollywood e haviam trabalhado como correspondentes,Vinícius de Moraes (como diplomata), Alex Viany, Louis Serrano (da revista “Cinelândia”). Mas eram todos intelectuais, não se fixavam nas celebridades – palavra, aliás, não usada tanto quanto hoje. Como sempre disse Dulce, ela não era nem nunca quis ser crítica, era apenas uma fã. Talvez seja por isso que eu me identifiquei com ela. No fim dos anos 60 e início dos 70, por problemas pessoais e profissionais, dentre eles o fim do sistema dos estúdios e dos Associados, Dulce retornou ao Brasil e escreveu um livo chamado “Hollywood Nua e Crua”. Vale a pena procurá-lo em algum sebo porque foi o primeiro a contar toda a verdade do ponto de vista dela.Até então, todos os correspondentes estrangeiros compactuavam com a lei da mentira, um acordo de cavalheiros segundo o qual nunca se publicava coisas como o romance entre Katherine Hepburn e Spencer Tracy ou o fato de Rock Hudson ser gay. Embora ela se intitulasse fofoqueira, no livro revelou os fatos sem moralismo e com certa nostalgia. Afinal, ela foi testemunha do fim de uma era que nunca mais vai voltar. Teve a chance de conviver com as estrelas de modo muito próximo. Não as figuras desglamurizadas de hoje, mas as lendas vivas, que viviam num Olimpo e hoje ainda são ícones.Assim, o filho dela brincava com o filho de Marlon Brando, Kim Novak a tratava como amiga pessoal, Marilyn Monroe també m gostava dela. Dulce chegou a pedir para a atriz ajudar um dançaclipping 23 rino brasileiro que atuava no número musical de “Os Homens Preferem as Loiras” – quanto mais próximo dela em cena, mais alto era o cachê. Muitas vezes, Dulce me brindou com suas lembranças. Eleanor Parker como a mulher mais bela que já tinha conhecido. Sua paixão por Gregory Peck, sempre seu ídolo maior. Seu pequeno romance com o astro Fredric March. Com o tempo, ficamos amigos, cheguei a visitar sua casa e vasculhar seus incríveis arquivos. Era uma pessoa muito reservada, muito discreta e vaidosa, não gostava que as pessoas a vissem quando não estava no melhor de sua forma. Eventualmente, publicamos pela “Coleção Coleção Aplauso” [da Imprensa Oficial] seu livro de memóAplauso rias visuais, que foi enorme sucesso. Nesta altura, ela já estava bastante doente e o livro só saiu por causa da amizade e fidelidade do amigo cineasta e jornalista Alfredo Sternheim. Por causa do Mal de Parkinson , tinha dificuldade para escrever e f oi o Alfredo que organizou o livro, sempre fiel às lembranças da amiga. Aliás, era Alfredo a única pessoa que ela consentia ver, foi seu grande esteio nos últimos tempos. Não mencionei Carmen Miranda, sobre quem escreveu um livro chamado “ABC de Carmen Miranda”, onde colocou tudo que podia sobre a melhor amiga. Ela foi a última pessoa que não era da família com quem Carmen esteve antes de morrer. Muitas vezes, se emocionou falando de Carmen, sua alegria contagiante, suas dores, seu final trágico e inesperado. São tantas as lembranças que Dulce nos trouxe e nos provocou que só agora com sua passagem, seu desaparecimento, que a gente se dá conta da importância que ela sempre teve em nossa vida. De uma certa maneira realizou o sonho de todos nós, fãs e jornalistas, de entrar na intimidade dos ídolos, ganhar seu respeito e por vezes a amizade. Sem nunca perder ou destruir a ilusão que, afinal de contas, é a razão de ser da própria Hollywood. Rubens Ewald Filho, Adeus a Dulce Damasceno de Brito.