HISTÓRIA DA CIÊNCIA
Professora: Tereza Fachada Levy Cardoso
Aluna: Telma Alves
A Relação Ciência,
Tecnologia e Sociedade
No Ensino de Ciências
Andréa Infantosi Vannucchi
Mestrado Profissional Em Ensino de Ciências e Matemática
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
O OBJETIVO DESTE CAPÍTULO é
mostrar como organizamos uma
atividade que discute a relação C/T/S
para a escola média com base nas
investigações sobre o tema e como
incorporamos os professores na
pesquisa didática que realizamos em
sala de aula.
O Que é CTS ?
Objetivos Sociais da CTS:
•Os estudos sociais da ciência e tecnologia, os
estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade
(CTS), constituem um campo de trabalho nos
âmbitos da investigação acadêmica, a educação
e a política pública.
•CTS se origina há três décadas a partir de
novas correntes de investigação e de um
incremento na sensibilidade social e institucional
sobre a necessidade de uma regulação
democrática da produção científico-tecnológico.
•Neste campo trata-se de entender os aspectos
sociais do fenômeno científico-tecnológico, tanto
no que se refere a seus condicionantes sociais
como no que se refere a suas conseqüências
sociais e ambientais.
•O enfoque geral é de caráter interdisciplinar,
envolvendo as disciplinas das ciências sociais e
a investigação acadêmica em filosofia e a
história da ciência e da tecnologia, a sociologia
do conhecimento científico e a teoria da
educação.
•CTS define hoje um campo de trabalho bem
consolidado institucionalmente em
universidades, centros educativos e
administrações públicas de numerosos países
industrializados.
•Trata de promover a alfabetização científica,
mostrando a ciência como atividade humana de
grande importância social. Faz parte da cultura
geral nas sociedades democráticas modernas.
•Trata de estimular ou consolidar nos jovens a
vocação pelo estudo das ciências e da
tecnologia.
•Trata de favorecer o desenvolvimento e
consolidação de atitudes e práticas
democráticas em questões de importância social
relacionadas com a inovação tecnológica ou a
intervenção ambiental.
•Propicia o compromisso de respeito a
integração das mulheres e minorias, assim como
o estímulo para um desenvolvimento sócio
econômico respeitoso com o meio ambiente e
equânime com relação as gerações futuras.
A ATIVIDADE é composta de um texto e
algumas questões elaboradas a partir dos
trabalhos de historiadores, filósofos e
sociólogos da Ciência e que indicam não
haver consenso, seja entre modelos que
estabelecem relação entre Ciência e
Tecnologia, seja na interpretação do episódio
em questão por historiadores da Ciência.
A ATIVIDADE
Tema: Telescópio
Finalidades: Relações entre desenvolvimento científico e tecnológico
Ao professor
Pesquisas recentes
têm investigado as concepções
dos estudantes e mesmo dos
professores sobre Ciência,
Tecnologia, suas interações
mútuas e com a sociedade.
Díaz e Stiefel apontam alguns
dos resultados:
• Ignoram-se os aspectos
sociais da Ciência, não havendo
alusões ao papel da
comunidade científica, nem aos
equívocos, crenças e dilemas
dos pesquisadores.
• Quanto a suas repercussões
sociais, identificam-se Ciência e
Tecnologia como uma empresa
única (“Tecnociência”).
• Muitos consideram a Ciência
hierarquicamente superior à
Tecnologia, sendo a segunda
nada mais que a aplicação da
primeira.
Entretanto, a Ciência não é necessariamente matriz da
Tecnologia – esta relação de ciência-causa e tecnologiaefeito carece de respaldo histórico, como mostra o texto
da Atividade.
Ao estudante
Galileu, além de professor,
desenvolvia atividades de consultoria
em problemas de engenharia civil e
militar. Dessa forma, prevendo a
utilidade de tal instrumento para a
frota naval de Veneza contra os
turcos, decidiu tentar sua construção.
E assim o fez,
raciocinando que uma das lentes teria
que ser côncava e a outra convexa.
Tentando essa combinação, com a
lente côncava perto do seu olho,
verificou o efeito de fato produzido:
era possível observar objetos com
suas dimensões ampliadas em três
vezes.
Antes do final daquele
mesmo ano, Galileu havia construído
telescópios de qualidade satisfatória e
poder de ampliação significativa para
observações astronômicas.
Diálogo escrito, por Drake, um grande especialista em
Galileu Galilei, travado entre contemporâneos imaginários
de Galileu .
Personagens: Sarpi, Sagredo e Salviati.
Preocupações:
• Integração harmônica entre os conteúdos específicos e os processos de
produção desses mesmos conteúdos.
• Imagem correta da produção de conhecimento em áreas específicas.
• Trabalho da Ciência se vê diretamente afetado pelos problemas e
circunstâncias do momento histórico.
• Preparar professores para que discutam o papel dos cientistas na
construção do conhecimento é uma das funções dos nossos cursos de
formação.
• A grande dificuldade está em criar condições para facilitar aos
professores, nos cursos de formação inicial ou permanente, a integração
desses conhecimentos dentro de sua prática docente.
• Atividades que favoreçam a vivência de propostas inovadoras em
situações de ensino e a reflexão didática dos professores sobre esse
trabalho podem contribuir para construir essa integração.
A ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE ENSINO
A intenção é a de verificar como os estudantes discutem sobre Ciência
quando lhes é proposto um tema controverso, no caso, as relações entre Ciência
e Tecnologia, com base no episódio do aperfeiçoamento da luneta por Galileu
Galilei, no século XVII.
O senso comum atribui relação causal entre o desenvolvimento científico
e tecnológico, sendo a Ciência considerada matriz da Tecnologia (Díaz,1995), no
episódio da luneta esse modelo não se aplica, mas trata-se exatamente do
contrário: embora Galileu tenha aperfeiçoado a luneta a ponto de permitir a
realização de observações astronômicas que determinaram uma nova etapa para
a Astronomia -, a Ciência da época não explicava por que e como funcionava
aquele aparato.
Os fatos só seriam esclarecidos cerca de 70 anos mais tarde, quando
Christian Huygens deduziu a lei de refração de acordo com o modelo das ondas
secundárias(Sabra,1981)
Se uma relação causal for estabelecida para esse episódio, o
instrumento tecnológico terá permitido novas possibilidades à Ciência .
Constata-se, dessa forma, a inverdade da presumida invariância histórica
do relacionamento entre Ciência e Tecnologia.
A interação entre Ciência e Tecnologia estaria mais relacionada a
circunstâncias até certo ponto aleatórias(pessoais, sociais, políticas e
econômicas) do que a características permanentes dessas áreas do saber.
A diferença entre as conclusões da interpretação do episódio
pelos historiadores da Ciência é atribuída às distintas concepções
filosóficas.(Mac Lachlan)
O Galileu de Koyré parece habitar um mundo filosófico
copernicano, platônico, de racionalismo e experimentos mentais. Já
para Drake, Galileu adquire caráter menos contemplativo e mais ativo
– um agudo observador, experimentador e inventor.
Em sala de aula, a intencionalidade das observações
astronômicas, controversa entre o historiadores, tornou-se uma
questão polêmica levantada pelos alunos: seria mesmo por acaso que
Galileu apontou o telescópio em direção à Lua? O que viu era
coincidentemente contrário às expectativas da teoria celeste
aristotélica?
As atividades de sala de aula podem ser elaboradas
de tal modo a encorajar os estudantes a exercitarem a razão e,
também, a serem razoáveis. Os professores deveriam tentar
interessá-los pelas questões filosóficas e históricas que
podem ser levantadas em relação a um tópico específico, ao
invés de fornecer-lhes respostas definitivas, ou impor-lhes
seus próprios pontos de vista(Matthews, 1994b)
QUE
VISÃO
DE
CIÊNCIA,
CIENTISTAS
E
DE
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO,
DEVERIA
SER
APRESENTADA AOS ESTUDANTES, VISTO QUE NÃO HÁ
UMA NATUREZA DA CIÊNCIA PREFERENCIAL SEQUER
ENTRE OS FILÓSOFOS DA CIÊNCIA?
A NOSSA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA NAS ESCOLAS
•
A atividade foi proposta para turmas de segundo ano colegial de
escolas públicas de São Paulo, Brasil.
•
O episódio constitui um recorte que tem como característica
principal tratar de um ciclo completo no processo de interação entre
indivíduos, mediado pelo objeto do conhecimento.
•
Aspectos que se busca salientar e analisar: a necessidade e a
potencialidade de temas controversos para a educação científica.
•
Numa primeira aula, os alunos lêem o texto e discutem as
questões colocadas ao final, em grupos de quatro a cinco pessoas.
Na aula seguinte o professor propõe a discussão com todos os
grupos simultaneamente.
Análise do Momento 1
•
Os alunos parecem indicar a necessidade de que as idéias
sejam apresentadas como verdades. A educação escolar tem
contribuído para essa postura. Pois ignorar as dimensões histórica
e filosófica da Ciência favorece a visão distorcida da atividade
científica, baseada em concepções empírico-indutivistas — a
Ciência ( e demais conteúdos escolares, incluindo a História) como
composta de verdades incontestáveis.
•
Tal perspectiva é pretensiosa e reducionista e acaba
moldando o comportamento do estudante a essa imagem – o
pensamento divergente e opiniões conflitantes não são tidos como
importantes, sendo por vezes considerados negativos.(Gil-Pérez,
1985)
•
É importante que os estudantes vivenciem situações de
conflito de idéias, o que pode contribuir para a reflexão sobre o
status negativo a elas associado.
Análise do Momento 2
•
Em relação a discordância dos alunos quanto ao ponto
de vista do professor duas hipóteses podem ser levantadas:
confusão entre saber e em “saber fazer” ;
ao conceber uma relação causal Ciênciatecnologia, o aluno raciocinou como Bacon: “sendo a
causa ignorada, frustra-se o efeito”(1973, aforismo III,
livro I).
•
Os alunos levantaram pontos importantes a respeito do
que é atividade científica: previsão e descrição.
•
A contrastação entre idéias diferentes, além de relativizar
e trazer a necessidade de justificar pontos de vista, pode levar
à tomada de consciência e ao esclarecimento de idéias
inicialmente indiferenciadas.
Siegel(1993): “ deveríamos procurar para nossos
alunos aquilo que procuramos para nós mesmos: uma
consciência e apreciação cada vez mais profundas dos
problemas e dúvidas de nossas concepções”.
Análise do Momento 3
•
A discussão acabou por desviar do tema relações CiênciaTecnologia para entrar “no terreno das intenções” que Galileu
teria tido ao aperfeiçoar a luneta.
•
A dúvida levantada pelos alunos quanto às intenções de
Galileu constitui um ponto controverso entre os próprios
historiadores da Ciência, sendo sua relevância sustentada por
dois argumentos: a impossibilidade de uma versão final e
correta para todas as disputas entre pontos de vista diferentes e
a importância pedagógica dos debates e contrastação de idéias.
•
A inclusão de temas contraditórios entre os próprios
filósofos e historiadores da Ciência requer o redimensionamento
de objetivos educacionais; no caso promover não respostas
finais, mas “...algum insight sobre o modo como os cientistas
trabalham ou como o novo conhecimento científico é obtido”
(Kipnis,p613)
NOSSA EXPERÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
• Nos cursos de formação de professores levantamos a discussão
da importância de introduzir atividades de C/T/S mostrando e
analisando a experiência didática descrita aqui.
• Um ponto importante é a relação entre conteúdo e metodologia e
como ela pode acontecer quando a abordagem histórica é o tema
de nossas aulas.
• Uma das características destacadas por Driver(1986) é que se
tenham em conta os conhecimentos e as idéias prévias dos
estudantes.
• Outro ponto a salientar é a importância do conhecimento histórico,
que permite que as discussões filosóficas sejam contextualizadas
historicamente, proporcionando subsídios para debates
fundamentados.
•
Também levamos os professores a tomar consciência do
desenvolvimento das habilidades cognitivas e argumentativas entre
os alunos. A argumentação – uma das realizações mais
importantes da educação científica(Kuhn,1993,Duschl,1995 e
Driver,1997) – é favorecida quando propomos esse tipo de
atividades.
•
É necessário que o professor esteja atento ao seu discurso
em sala de aula, entendendo por discurso toda a fala do professor:
quer respondendo ao aluno, quer expondo ou fazendo novas
questões.
•
O professor tanto pode promover a argumentação de seus
alunos com um discurso persuasivo no qual questões abertas são
freqüentes, como pode fazê-los emudecer com um discurso de
autoridade.
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Ao professor