Casos em Estratégia como Representações Dramatúrgicas Autoria: Alexandre Faria, José Luis Felicio Carvalho Resumo Uma das principais características da área de estratégia é a construção ou a preservação da autoridade do estrategista, da grande empresa e da própria estratégia. Uma outra é a hegemonia dos EUA na área. A primeira característica vem sendo desafiada por abordagens e argumentações baseadas em pluralismo – ilustradas pelo debate entre planejamento estratégico e administração estratégica e exemplificado pelas duas versões mais conhecidas do caso Honda. A segunda vem sendo desafiada por acadêmicos de outras áreas e países sob uma abordagem focada em relevância local. Casos em estratégia, que são de central importância nesses dois debates, não foram suficientemente explorados por pesquisadores apesar de sua crescente importância no contexto da globalização. Mostramos que, assim como outros textos ou discursos, casos em estratégia podem ser compreendidos como recursos dramatúrgicos que promovem a autoridade e silenciam outras representações e vozes. Por meio de uma abordagem dramatúrgica desenvolvida por Étienne Souriau, analisamos o duelo entre as duas versões do caso Honda. Ao final, indicamos como abordagens dramatúrgicas podem promover o pluralismo e ajudar para o desenvolvimento da área no Brasil. 1. Introdução A principal virtude dos casos usados em administração, tanto no âmbito da educação quanto da pesquisa, é promover a aproximação entre acadêmicos e a realidade. Com base nesse argumento, casos têm sido usados, em especial na área de estratégia, para educar administradores e futuros administradores, e também para promover desenvolvimentos teóricos. Recentemente, os casos usados em estratégia ganharam um novo e extraordinário impulso devido à globalização e à correspondente expansão do mercado e das escolas de negócios. Em países comunistas e na Ásia, por exemplo, a demanda por educação e pesquisa provocou a proliferação de publicações focadas em casos de administração. Durante considerável período, o conhecimento produzido nos EUA dominou a cena. Cabe destacar o poder exportador da Harvard Business School (HBS), que produz “em média 750 casos e vende 6 milhões de cópias anualmente para outros institutos (...) é de longe o maior produtor” (Contardo e Wensley, 2004). É inegável a importância do método do caso na área de estratégia (Jennings, 1997). De acordo com a HBS, a função do caso é fornecer uma descrição de situações reais de negócios “que sirvam como uma metáfora para um determinado conjunto de problemas” (Shapiro, 1984, p. 1). Correspondentemente, os casos fornecem “um conjunto relevante e útil de metáforas que podem ser aplicadas à maioria das situações gerenciais”. Por meio da prática de analisar centenas de casos, estudantes desenvolvem não somente conhecimento e habilidades, mas também ‘filosofias’ de gerência (Shapiro, op. cit., p. 1). Em meados dos anos 1990, começaram algumas mudanças no ‘mercado’ asiático. Diversas universidades locais, bem como a HBS, passaram a se dedicar à construção e à publicação de casos locais. Tendo em vista que a principal função da maioria desses casos é educar praticantes de outros países que ali tenham algum tipo de atividade de negócios, tem sido crescente a preocupação com a produção de casos locais para educar administradores locais. Alguns autores argumentam que a maioria dos ‘casos locais’ reproduz de alguma forma a estrutura dos casos produzidos nos EUA. Na China, por exemplo, questiona-se a receptividade de estudantes locais ao método de caso em geral e em particular a casos em estratégia baseados em 1 outros contextos (Thompson, 2000). Esses argumentos reproduzem as críticas à hegemonia dos EUA em administração (Boyacigiller e Adler, 1991) e em estratégia (Whittington, 2004). Também ressaltam as críticas feitas ao caráter discursivo ou dramatúrgico da estratégia. "As authors of fiction, strategists are subject to the same basic challenge facing other fictionalist writers: how to develop an engaging, compelling account, one that readers can willingly buy into and implement. Any story the strategist tells is but one of many competing alternatives woven from a vast array of possible characterizations, plot lines, and themes. (...) Because strategies cost so much to create and implement, their credibility is of paramount importance to organizational stakeholders. Consequently, strategists find themselves having to disguise the inherent fictionality of their stories. After all, who wants to think they are merely playing out a clever tale, especially when great sums are at stake (aside from Disney or Spielberg perhaps)? In the scene where the strategist tries to convince skeptical and impatient rein-holders (whether boards of directors, tribal elders, union leaders, or local lynch mobs) to accept the plan, rarely does s/he get away with saying, "Trust me ... it's true, it'll happen." Instead, a myriad of tactics are drawn upon to invoke a sense of strategic realism and facticity". (Barry e Elmes, 1997, p. 430). Tendo em vista que casos em estratégia têm o poder de iludir/convencer e de estabelecer ou desenvolver certas ‘filosofias’, questionamentos são inevitáveis. Até que ponto seriam neutros os casos em estratégia? Que representações e ‘filosofias’ seriam impostas aos usuários ? Até que ponto os casos servem para transferir conhecimentos e valores made in USA? Esses questionamentos aplicam-se tanto ao âmbito de educação quanto ao de pesquisa na área de estratégia, por três razões. A primeira é que casos são usados sem muito critério por diferentes usuários, segundo diferentes propósitos, nos âmbitos de educação e pesquisa (Remenyi et al., 2002). Segunda: casos costumam ser usados mais para ilustrar determinada escola teórica do que para pesquisa acadêmica propriamente dita (Hambrick, 2004). Terceira: de uma forma ou de outra, os debates entre professores e estudantes reproduzem as escolas estabelecidas e legitimadas pelo âmbito da pesquisa na área (Mintzberg et al, 2000). No Brasil, costumamos reproduzir conhecimentos e significados estabelecidos nos EUA. Acadêmicos da área de estudos organizacionais no Brasil constituíram, em meados dos anos 1990, um movimento para desafiar esse cenário (Motta e Caldas, 1997). Apesar da histórica influência desta área sobre a de estratégia no Brasil (ver Bertero et al., 3003), esse movimento ‘cultural’ ainda não atingiu a área de estratégia. Por meio da dramaturgia, mostramos neste artigo que as representações dominantes de estratégia são problemáticas para o desenvolvimento da área no Brasil e para a construção de outras representações por acadêmicos locais. Analisamos o caso Honda, um dos mais importantes e controversos na área de estratégia (ver Mair, 1999), para problematizar a representação de autoridade na área. No final, indicamos como abordagens dramatúrgicas podem ser úteis para a área de estratégia no Brasil. 2. Casos em Estratégia como Representações 2.1. A questão da autoridade em Estratégia A literatura focada na análise de casos usados em ensino em administração é crescente, embora ainda modesta. A maior parte da literatura existente se concentra em apresentar e 2 defender as virtudes do método e a ensinar professores ou instrutores a usá-lo. Uma menor parte da literatura tem se concentrado em questionar a efetividade do método. Questionamentos sobre o método têm começado a despertar a atenção de pesquisadores no Brasil (ver Lima, 2002). Entretanto, apesar da histórica importância dos casos para a área de estratégia (Jennings, 1996; Mintzberg et al, 2001), pesquisadores dessa área no Brasil não despertaram para esse debate. Nos EUA, o método de casos foi de central importância para promover a aproximação entre a academia e as grandes empresas, e também para a constituição da área de estratégia a partir principalmente da HBS (Andrews, 1951). Autores importantes da área defendem o uso do método de casos por entenderem que a compreensão pelo estudante da complexa realidade vivida pelo estrategista vale mais do que modelos teóricos. Os argumentos a favor do método são os seguintes: (a) constituem uma base mais rica para investigação de realidades estratégicas (Mintzberg e Quinn, 1991), (b) simulam de fato a realidade do trabalho do gerente (Jauch e Glueck, 1988), e (c) fornecem oportunidade para a análise em profundidade de tópicos estratégicos de organizações específicas (Johnson e Scholes, 1989). Correspondentemente, esse método foi de central importância para a introdução e difusão no Brasil do conhecimento em estratégia produzido nos EUA a partir da década de 1970 (Bertero et al., 2003). Em termos gerais, apesar do entendimento de que casos são úteis para aproximar acadêmicos da realidade, podemos afirmar que casos são representações construídas por algum autor segundo determinado propósito (total ou parcialmente conhecido por esse autor). Sob uma abordagem pós-moderna ou construtivista (Cummings e Wilson, 2003), essas representações podem ser compreendidas e usadas de diferentes maneiras pelos usuários. Assim como o conceito de estratégia pode ter significados distintos, de acordo com as diferentes abordagens e escolas (Hambrick, 2004), um mesmo caso pode receber diferentes interpretações por pesquisadores da área dependendo da abordagem privilegiada pelo analista (Mair, 1999; Bettis, 1996; Hall e Saias, 1980). Alguns acadêmicos da HBS afirmariam que “o caso é um documento negociado” (Contardo e Wensley, 2004, p. 222). Apesar das disputas de significados por autor e usuários, e da proliferação de escolas na área de estratégia (Hambrick, 2004), casos acabam assumindo algum(ns) significado(s) dominante(s). No fundo, os pressupostos teóricos da área não são tão amplos assim (Whittington, 2001). Já foi dito que casos inibem a inovação, a criatividade e o verdadeiro debate (Argyris, 1980). Ao silenciar outras representações, as representações dominantes estabelecem como ‘real’ ou ‘única’ determinada versão da realidade. Essas representações dominantes são capazes de construir autoridade e significados e de excluir outras possibilidades. Uma das características mais importantes dos textos, discursos e práticas em estratégia é a representação da autoridade subjacente (Barry e Elmes, 1997; Knights e Morgan, 1991; Westley, 1990). O principal foco desses textos é construir ou reforçar a autoridade do estrategista, da alta hierarquia, da grande empresa e da própria estratégia. Essa característica está presente não somente no que é descrito nos casos em estratégia, mas em especial em sua estrutura. "[A separação entre formulação e implementação] é conveniente para a sala de estudo de casos, na qual os alunos podem formular mesmo que não possam implementar. Em cerca de uma hora, com base em vinte páginas lidas na noite anterior, a classe pode avaliar o ambiente externo, identificar competências distintivas, gerar estratégias alternativas e discutir qual deverá ser selecionada. (...) O método de estudo de casos pode ser um dispositivo poderoso para trazer uma ampla variedade de experiências para a sala de aula para fins 3 descritivos. Mas ele pode tornar-se terrivelmente perigoso quando usado para prescrições: ensinar um processo pelo qual as estratégias deverão ser formadas. Se o ensino pelo estudo de casos deixou os gerentes com a impressão de que, para fazer estratégias, eles podem ficar em suas salas rodeados de documentos e pensar – formular para que outros possam implementar – então ele pode ter prestado – a eles e às suas organizações – um grande desserviço” (Mintzberg et al., 2000, p. 37)". [itálico no original] Essa representação de autoridade ajuda a promover ordem e obediência dentro da grande empresa, na sociedade e na própria academia. Mais especificamente, essa representação legitima e reproduz a noção de que o estrategista tem importância extrema para as empresas e para a sociedade. Dentro da empresa, esse tipo de representação é problemático porque reproduz a idéia de que ‘estrategistas’ valem mais do que ‘operadores’. Em outras palavras, reproduz a representação de management como dominação e estratificação (ver Braverman, 1974; Tragtenberg, 1980). Na sociedade, essa representação reproduz a idéia de que as grandes empresas valem mais do que outras instituições ou tipos de organização. Em outras palavras, essa representação tem o poder de suprimir ou marginalizar não somente ‘outros’ pontos de vista e interesses, mas também a possibilidade de construção, difusão e legitimação de outras representações em estratégia mais próximas da realidade. Vem sendo argumentado que a aproximação entre acadêmicos e a realidade é de central importância para a superação da crise de relevância enfrentada pela área (Hambrick, 2004; Whittington, 2004). O resgate da principal característica dos casos requer que não os vejamos como textos neutros. Independentemente das intenções conscientes do autor, casos reproduzem significados e interesses que podem mais afastar do que aproximar os casos à realidade. 2.2. O Caso como Representação A representação de autoridade é uma questão central na área de estratégia. Contrários à ênfase tradicional em prescrição e comando, autores vinculados à administração estratégica propuseram que estratégia não deve ser entendida como conjunto de conteúdos ou prescrições, mas sim como processo de reflexão e de fazer sentido (sensemaking). Essa argumentação pode ser mais bem compreendida se colocada em seu contexto histórico (Booth, 2003; Jeremy, 2002). Logo após a 2a Guerra Mundial, o conceito de estratégia nos EUA era fortemente vinculado à hierarquia militar, à autoridade do capitalista sobre os trabalhadores e à posição de superioridade dos EUA no mundo (ver Burrell, 1999). Essas características serviram de base para a constituição das técnicas de planejamento estratégico (PE) ao longo da década de 1970 e também para a exportação de modelos prescritivos para diversos países. Estratégia era entendida, naquela época, como um âmbito do conhecimento pouco passível de ser ensinado. Os líderes das empresas eram tidos como ‘naturalmente’ capacitados para o papel de estrategista. A expansão da grande empresa e da chamada classe gerencial nos EUA desafiou esse entendimento e levaram à criação da disciplina de ‘Estratégia e Política de Negócios’ nas escolas de administração e ao uso do método de caso na área. Apesar de sua função ‘pedagógica’ clara, desde o início os casos não eram compreendidos e usados por todos da mesma forma. Isso ajuda a explicar as modificações introduzidas por professores/instrutores em sala de aula. Alguns entenderiam isso como muito favorável por contribuir para o pluralismo na área de estratégia. Para a maioria trata-se de um problema sério por esvaziar as escolas teóricas da área e corromper significados estabelecidos pelo autor do caso. No fundo, essas modificações desafiam a autoridade do autor, do estrategista e da estratégia. 4 Sob uma abordagem pluralista, o uso de casos depende “da visão do próprio professor quanto ao tema, do papel atribuído ao caso no ensino, ao seu estilo e às expectativas, backgrounds e capacidades dos estudantes” (Jennings, 1996, p. 4). Os critérios para desenvolver um bom caso para ensino são diferentes daqueles para realizar boa pesquisa. Em educação, um caso não precisa refletir uma acurada descrição de eventos reais; “ao contrário, seu propósito é estabelecer um framework para discussão e debate entre os estudantes” (Yin, 1994, p. 47). Por isso, um dos mais influentes textos acerca da construção dos textos de casos em Harvard enfatiza que a descrição do caso não deve ser uma mera “fotografia da realidade”, mas seguir uma “estrutura de mote [literário]” (Towl, 1969). Segundo essa abordagem, a estrutura do texto e seus efeitos sobre o usuário são mais importantes do que a realidade em si. Mais especificamente, Towl entende que quanto mais o autor desenvolver o interesse, o drama ou o choque de idéias subjacentes, maiores são as chances de se obter o comprometimento e participação dos estudantes em classe. Quanto mais consistente for o desenvolvimento dessa estrutura, mais é esperado que o estudante “veja a situação como é apresentada pelo caso e esqueça que a mesma é artificial”. Por essa razão um típico caso ‘Harvard’ deve ser construído como uma representação que seja capaz de bloquear outras representações. O modelo é comparável à estrutura de personagens e de tramas de novelas televisivas. As capacidades de cativar o público e de fazê-lo acreditar em representações fizeram da telenovela uma das formas representacionais mais ‘didáticas’, ‘autoritária’ e ‘colonialista’ da história da arte dramática (ver Pallottini, 1998). Ademais, tendo em vista a hegemonia dos EUA na área de estratégia e o poder da HBS no ‘mercado’ de casos, fica claro que o que está por trás dos casos é tão ou mais importante do que os casos em si. De uma forma ou de outra, casos em estratégia são representações que legitimam a autoridade dos estrategistas, dos acadêmicos, e da grande empresa. Mesmo nos debates abertos em sala de aula, as escolas estabelecidas acabam sendo impostas. Esse mote da estratégia afasta praticantes e acadêmicos da realidade e contribui para a crise de relevância da área. 2.3. O Mote da Estratégia O entendimento do mote da estratégia requer a contextualização histórica dessa área de conhecimento e práticas. Até a década de 1960, havia nos EUA muitas desconfianças quanto ao poder da grande empresa e quanto à idéia de que seus proprietários poderiam ser seus únicos e legítimos ‘comandantes’. Com o mundo ainda sob influência dos resultados da Segunda Guerra Mundial, foi nessa época que a área de estratégia se constituiu na academia dos EUA. Por meio dessa nova área, constituída para funcionar como a ‘disciplina de fechamento’, os executivos de topo das grandes empresas nos EUA passaram a ser representados por acadêmicos e pela sociedade, de acordo com o extenso trabalho de um dos ‘pais da estratégia’ (Chandler, 1962), como substitutos da chamada ‘mão invisível’. Essa representação foi de central importância para a legitimação da academia de administração dentro da universidade e da sociedade. Até aquela época, os economistas – e as correspondentes escolas de pensamento que atribuíam à chamada ‘mão invisível’ os efeitos sistêmicos que governavam a economia –, dominavam o cenário. A HBS ajudou a construir nos EUA a representação heróica do alto executivo e o princípio de que “a estrutura segue a estratégia” (ver em Whittington, 2001). Tal representação foi amplamente difundida, em paralelo à expansão da grande empresa dos EUA e da academia de administração em diversos países. A escola de PE reproduz essa representação de comando, ‘de cima para baixo’. Isso ajuda a explicar sua rápida disseminação a partir dos anos 1970. Entretanto, o que mais ajuda a explicar tal difusão é que a escola de PE se baseava em determinada representação dramatúrgica. Em termos simplificados, ao ambiente externo era atribuído o papel de ‘inimigo’ e à empresa o papel 5 do ‘mocinho’. A estratégia da grande empresa se focava então não em manipular ou controlar a sociedade, mas em permitir sua adaptação ao ambiente externo (Summer et al., 1990). A “capacidade de adaptação (da grande empresa) a mudanças no ambiente” (Organ, 1971, p. 74) passou a ser sinônimo de estratégia e isso afastou a idéia de que grandes empresas poderiam produzir danos à sociedade. O mote era bastante simples e fácil de assimilar: quanto mais ameaçadora a representação do ambiente externo, mais importantes para a grande empresa e para a sociedade tornavam-se o estrategista, a estratégia, e o conhecimento acadêmico. Correspondentemente, os casos em estratégia descreviam situações de sucesso e atribuíam aos estrategistas a responsabilidade pelos resultados alcançados. Essa poderosa representação e os casos correspondentes ajudavam a criar um significado particular para a idéia de que a estratégia das grandes empresas tem como principal objetivo a ‘conquista’ de mercados – termo que servia para também representar ‘países’ ou ‘indústrias’. Os significados subjacentes de ‘invasão’, ‘dominação’ ou ‘colonização’ eram suprimidos, e isso facilitava a expansão das grandes empresas dos EUA e de outras ideologias ‘made in USA’. No início da década de 1980, época em que a democracia começava a substituir a ditadura militar em diversos países do Ocidente, PE e a área de estratégia tiveram sua reputação abalada. A ‘invasão japonesa’ nos EUA teve papel central nesse processo. Consultores e acadêmicos concluíram que os grandes conglomerados dos EUA não conseguiam competir com os japoneses (Peters e Waterman, 1983) por causa da rigidez e do ‘autoritarismo’ do PE. Gurus como Tom Peters e acadêmicos como Henry Mintzberg tiveram papel central nesse movimento e no duelo que se seguiria entre os defensores de PE e os de administração estratégica (AE). Para estes, PE impunha uma racionalidade hierárquica e autoritária que impedia não somente a participação coletiva como também isolava a empresa e seus líderes de seus clientes e ‘colaboradores’. Esta conclusão criou embaraços para estrategistas e também para a academia, visto que estratégia era a disciplina “de fecho e de integração” na grade curricular (Steiner e Miner, 1977, p. 4). Foi então desenvolvida pela academia dos EUA a representação de AE. Esta desafiava a centralização e o comando pelo pluralismo, adaptação e aprendizagem. 2.4. Uma ‘Nova’ Representação: a Administração Estratégica (AE) Apesar de a transição de PE para AE poder ser tida como uma vitória do baixo escalão sobre a alta hierarquia ou da estrutura sobre a estratégia, os teóricos da área deram um jeito de criar representações que resguardassem a autoridade do ‘estrategista’ e do alto executivo. Na essência, o mote era mantido. O principal recurso foi descrever o ambiente externo como domínio ainda mais complexo e ameaçador. Segundo definição produzida por um dos mais importantes autores baseados nos EUA, tido por Mintzberg como um ‘inimigo’, AE é uma abordagem sistemática que orienta o estrategista a posicionar e relacionar a empresa ao seu ambiente, de modo “a garantir seu continuado sucesso e a mantê-la protegida das surpresas” (Ansoff, 1984, p. xv). Essa definição estabelece as surpresas causadas pelo ambiente externo como o elemento mais crítico para as empresas e para o ‘estrategista’. AE seria então superior a PE porque, além de se focar no posicionamento da empresa por meio do planejamento de capacitações, introduz dois elementos de natureza comportamental que teriam sido negligenciados por PE: “a resposta estratégica imediata a surpresas por meio de gerenciamento de tópicos estratégicos, e o gerenciamento sistemático de resistência durante a implementação estratégica” (Ansoff, op. cit., p. xvi). Esses dois elementos estabelecem que PE não reconhece as ‘surpresas’ do ambiente externo cada vez mais turbulento. 6 Baseado nesse argumento, AE constrói a idéia de que o estrategista pode cometer equívocos e ainda assim manter intacta sua autoridade e a autoridade da estratégia. Surpresas são tidas como a principal fonte de resistência à implementação de estratégias pelos níveis inferiores da empresa. Representar o ambiente externo como um domínio que às vezes não pode ser previsto ou controlado nem mesmo pelo ‘super-estrategista’ facilitou a proliferação de escolas vinculadas a AE (ver Mintzberg et al., 2000; Volberda e Elfring, 2001). Por um lado, essa proliferação contribuiu para a crise de relevância na área (Hamrick, 2004); por outro, criou a idéia de que as grandes empresas e a área de estratégia em particular são democráticas e plurais. No fundo, entretanto, essa representação de ambiente externo facilitou a implantação de mecanismos de controle ao criar o entendimento de que uma das principais atribuições da alta hierarquia passou a ser o gerenciamento das resistências à implementação causadas pelo ambiente externo. O mote da estratégia teria persistido com AE também porque a abordagem do comandante agrada tanto aos que estão no comando quanto a gerentes que aspiram à posição de ‘estrategista’ "a abordagem do comandante (...) agrada a diversos consultores e aos gloriosos MBAs (...) [e] se ajusta à predisposição dos MBA de lidar com os elementos objetivos e quantitativos de uma dada situação, ao invés de com considerações mais subjetivas e comportamentais (...) a separação entre o planejador/gerente como um pensador e todos os demais como fazedores se ajusta à visão do patrão como um herói todo-poderoso que conforma o destino de milhares com suas decisões. Essa visão consideravelmente machista agrada a diversos candidatos a gerentes" (Bourgeois e Brodwin, 1984, p. 245). Há outras questões contextuais que merecem destaque. Foi nessa época que a academia de administração dos EUA, desafiada pela ‘invasão japonesa’ e em parceria com grandes empresas de consultoria, ajudou a criar e a difundir representações de natureza humanista. Mais especificamente, a emergência de AE coincide com o início da dramaturgia do empowerment nos EUA (Huczynski, 1993). Essa dramaturgia estabeleceu a idéia de que, no âmbito da estratégia, a empresa estava substituindo o comprometimento com planos da alta hierarquia pelo comprometimento com a “performance real” (Ansoff, 1991, p. 20) e com as habilidades diferenciadas dos gerentes (Peters e Waterman, 1981). Criou-se a idéia de que todos são ‘estrategistas’ ainda que pertençam a níveis distintos na empresa, na sociedade e no mundo. Isso facilitou a fragmentação teórica da área e a ascensão de Mintzberg e seus associados. A implicação mais séria dessa bagagem pretensamente pluralista e democrática para os dias atuais, e em particular para os usuários do conhecimento produzido pela academia dos EUA em estratégia, é o reconhecimento de que os objetos usados para controle gerencial têm sido cada vez menos a força do trabalho e o comportamento, e “cada vez mais o poder mental e as subjetividades dos empregados” (Alvesson e Deetz, 2000, p. 11). Na chamada ‘sociedade do conhecimento’ e no contexto da globalização as representações acadêmicas são fundamentais para a manutenção da autoridade na grande empresa, na sociedade e no mundo. Esse tipo de controle explica o papel ‘estratégico’ das diversas escolas em AE (Alvesson, 1991; Knights e Morgan, 1991) e da correspondente proliferação de casos em estratégia. É importante ressaltar um outro fenômeno, que é muito mais problemático em países menos desenvolvidos do que em países desenvolvidos. A dramaturgia do empowerment e a fragmentação teórica em AE emergiram em um contexto marcado pela redução drástica dos níveis hierárquicos na grande empresa. As demissões em massa e o estabelecimento da atmosfera de medo dentro das grandes empresas a partir dos anos 1980 acabaram ajudando a garantir a 7 aceitação das representações de AE pelos escalões mais baixos da gerência. Isso impulsionou a exportação de conhecimento produzido nos EUA por acadêmicos e consultores, facilitou o controle nas subsidiárias, e obstruiu o desenvolvimento teórico em países menos desenvolvidos. Esse cenário ilustra a necessidade de desenvolvimento de abordagens locais que desafiem essa dramaturgia. O papel de ‘estrategista’ é cumprido no Brasil em condições bastante diferentes daquelas descritas em casos produzidos em países desenvolvidos. Uma segunda questão é que o contexto ou ‘ambiente externo’ não funciona somente como ‘fonte de ameaça’ às empresas e aos seus ‘estrategistas’. Na realidade, o contexto, em especial em países menos desenvolvidos, costuma ser manipulado, domesticado ou controlado pelos verdadeiros estrategistas das grandes empresas. Por essas razões, casos devem ser analisados e usados como representações dramatúrgicas. Essa abordagem permitiria que educadores e educandos locais construíssem representações mais realistas – em termos teóricos e descritivos – dos casos e das estruturas subjacentes produzidas em outros contextos. A seguir, são apresentados mecanismos e estruturas que compõem representações dramatúrgicas. 3. Lidando com Casos por meio da Dramaturgia Apesar da hegemonia da abordagem econômica (Hambrick, 2004; Whittington, 2004), é correto afirmar que a área de estratégia tem sido permeável a conhecimento produzido por outras áreas. Seus teóricos vêm recorrendo à história militar, à física, à biologia evolucionária, à inteligência artificial e à psicologia educacional. Cada uma destas disciplinas tem representações próprias, mas nenhuma delas faz da representação sua razão de ser. A correta compreensão de casos em estratégia requer que visitemos um campo em que a representação orienta teorias e práticas, tal como nas Artes Cênicas. Para os propósitos do presente texto, interessa particularmente a questão da construção do texto teatral, notadamente a contribuição de um teórico tido como o ‘estrategista da dramaturgia’. Em 1950, o filósofo francês Étienne Souriau publicou uma obra que viria a revolucionar a maneira pela qual os teóricos de Artes Cênicas conduzem a análise do texto teatral (Pallottini, 1989). No livro Les Deux Cent Milles Situations Dramatiques, Souriau (1950) tinha como objetivo investigar as funções dramatúrgicas que compõem a dinâmica fundamental de qualquer peça teatral, assim como as principais combinações de funções que tornam única cada situação dramatúrgica e cada obra de teatro. O caráter dramatúrgico da linguagem teatral reside na possibilidade que a peça delega a seus leitores e/ou espectadores de perceber o mundo onde vivem os personagens, como se eles fossem o centro do universo exterior à obra. O conjunto desses personagens forma uma constelação de forças ligadas pela ação dramática. As relações entre estas forças dependem das funções dramáticas de cada personagem. Uma função dramática é o modo específico de ação ou de reação que um personagem apresenta em dada situação. Se na obra “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, os personagens Lisandro e Demétrio amam Hérmia, as funções desempenhadas por Demétrio e Lisandro podem ser, por exemplo, a de Amantes, e a função de Hérmia pode ser o Bem desejado pelos dois. Por outro lado, nada impede que Lisandro seja designado como O Amante e, por conseguinte, Demétrio seja visto como O Rival. Esta escolha depende de dois fatores: (a) a simpatia e a opinião do público; (b) a capacidade do autor da peça em favorecer a adoção, pela platéia, de um ponto de vista e não de outro. Estabelecidas essas funções, quando as forças encarnadas pelos personagens interagem, nasce a situação dramática. 8 Funções dramáticas não são equivalentes a personagens. As funções tanto podem ser exercidas pelos personagens quanto por uma força abstrata, como a Justiça ou a Opinião Pública, ou mesmo o Povo. Em muitas tragédias gregas, por exemplo, a função O Oponente geralmente cabe a Moira, o Destino. Um mesmo personagem também pode exercer muitas funções: em “Otelo”, o ambíguo Iago assume tanto a função de O Ajudante quanto de O Oponente. Souriau (1992) identifica seis funções dramatúrgicas básicas, mostradas a seguir. Para cada uma das funções, recordam-se exemplos do teatro de William Shakespeare e da dramaturgia brasileira. I - O Leão, ou a Força Temática O personagem que encarna a função de Leão representa a força geradora de toda a tensão dramática da peça. Não é necessariamente o protagonista ou o herói; Leão é o princípio dinâmico, aquele que quer alguma coisa, seja para si mesmo, seja para outrem. Com o personagem-título de “Ricardo III”, Shakespeare criou uma das mais intensas forças de Leão que existem na arte dramática, um personagem que chega a matar um irmão e dois sobrinhos em sua trama para herdar o trono da Inglaterra. Em “Uma Mulher Vestida de Sol”, de Ariano Suassuna, o Leão é encarnado por Francisco, primogênito dos Rodrigues, que volta à terra natal para tentar reconciliar sua família com a de Joaquim Maranhão. ~ - O Sol, ou o Representante do Bem cobiçado por I O objeto do desejo de Leão pode estar, ou não, concretamente em cena. Pode estar simbolizado como um bem físico, como uma abstração ou como outro personagem. O amor de Julieta é o bem desejado por Romeu; em “A Moratória”, de Jorge Andrade, recuperar a propriedade da fazenda é o desejo que move Joaquim e Helena. ⊕ - A Terra, ou Aquele que Obtém o Bem desejado por I Nem sempre o Leão persegue o objeto desejado para si mesmo. Por vezes, o favorecido pela “paixão-chave” de Leão será outro personagem. Leituras mais diretas permitidas pelo texto de “Hamlet” sugerem que o protagonista busca a vingança não para apaziguar o fantasma do rei Cláudio, mas para aplacar sua própria indignação com a traição de Polônio e Gertrudes. Em “A Falecida”, de Nelson Rodrigues, Zulmira persegue, com fervor aparentemente doentio, a morte que deseja para si própria; no monólogo “Corpo a Corpo”, de Vianinha, Vivacqua deseja, para si mesmo, a expiação dos erros cometidos por ele próprio. M - Marte, ou o Oponente Não haveria ação dramática se o movimento de Leão estivesse livre de resistências. Marte é a força que resiste aos desejos de Leão. Sua força – que pode aparecer apenas simbolicamente – deve ser análoga à de Leão. Marte é o adversário, o principal obstáculo que Leão irá encontrar. Em MacBeth, inúmeros personagens revezam-se na função de Marte para o protagonista: Duncan, Banquo, Malcolm e, inclusive, as manifestações fantasmáticas de sua própria consciência, por conta do remorso pelos assassinatos. O inspetor Chaves é o Oponente de Max em “A Ópera do Malandro”, de Chico Buarque; em “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, Neusa Sueli é a Oponente de Vado, a quem ela também percebe como Bem desejado. K - A Balança, ou o Árbitro da situação O juiz da ação dramática tem como principal função atribuir o bem desejado a uma das forças que o desejam. Não é propriamente um árbitro entre dois rivais, mas um personagem que tem o poder de distribuir a felicidade ou a infelicidade aos demais. A função de Árbitro tende a ser exercida pelo Sol ou pela Terra. Em “A Tempestade”, de Shakespeare, o duque Próspero incumbe-se da função de Árbitro. Na peça “Eles Não Usam Black-Tie”, Gianfrancesco Guarnieri delega a Otávio a função de Árbitro, de portador da voz da coletividade que irá julgar Tião. 9 e - A Lua, ou o Ajudante A função de cúmplice é desempenhada pelo co-interessado na paixão de determinado personagem. Também chamado de Espelho Astral, o Ajudante é o satélite por excelência, e existem Luas de Leão, de Marte, da Terra, o que enseja numerosas e variadas combinações de personagens. Falstaff é o Ajudante do personagem-título de “Henrique IV”; sobre ele recai a mesma indulgência que o rei, Árbitro da peça, concede a seu filho, o protagonista. Em MacBeth, a Lua do personagem-título é Lady MacBeth; contudo, quando MacBeth hesita diante do assassinato de Duncan, Lady MacBeth assume a função de Leão e MacBeth passa a Ajudante. Na peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, Selminha representa a Lua de Arandir, enquanto o Delegado Cunha é a Lua do repórter Amado Ribeiro. As múltiplas construções dramatúrgicas que podem nascer a partir da organização e da reorganização destas seis funções em diferentes constelações de personagens, alternando-se as funções dramatúrgicas de todas as formas possíveis, redundam em 7.780 dispositivos, de acordo com Souriau (1992). Adicionalmente, quando os personagens são agrupados em conjuntos de funções, quando os pontos de vista são modificados e quando a ordem de apresentação de cada ponto de vista é alternada, chega-se ao espantoso número de 210.141 situações dramáticas possíveis. A manipulação dessas funções dramatúrgicas – representadas por símbolos astrológicos – que se entrechocam, que agem e reagem e que desenham uma constelação dinâmica e intensa, constitui a essência da dramaturgia. O método de Souriau teria sua efetividade diretamente relacionada à busca por uma compreensão mais ampla e profunda das intenções do texto teatral, com a “finalidade de estudar sua estrutura ou encená-lo com melhor conhecimento” (Pallottini, 1989, p. 145). Ao gerar os símbolos e os movimentos das constelações de funções dramáticas presentes na dramaturgia, Étienne Souriau acreditava que a atividade de criação dramatúrgica era uma tarefa engenhosamente simples e calculada, evidenciando que o autor do texto deveria ter uma incumbência fundamentalmente estratégica. Nas palavras do próprio Souriau (1992, p. 9-10): Pode-se falar da arte dramática como Napoleão falava da arte da guerra. É, dizia ele, ‘uma arte simplíssima e tão-só ação’. A estratégia, desde a origem até nossos dias, só conta pequeno número de temas elementares: rompimento do centro, ultrapassagem pelos flancos, acesso livre para as tropas de reserva, etc. E o gênio estratégico não consiste em inventar manobras mais complicadas ou novos dispositivos, mas sim em discernir na horrível confusão da frente de batalha, no tumulto incerto das retaguardas, as grandes linhas de uma forma simples, os elementos de um dos ‘dispositivos ganhadores’, e em mantê-los ou promovê-los com firmeza. A estratégia teatral é da mesma ordem, embora as desordens e confusões de riquezas que tem de dominar sejam de natureza imaginativa (...). Na seção a seguir, analisamos, com base no modelo de dramaturgia de Souriau, um duelo clássico de representações envolvendo um dos casos mais importantes da área de estratégia – produzido pela HBS e comercializado para os mais diversos países nos últimos anos – e destacado em um dos recentes best-sellers da área de AE (Mintzberg et al., 2000). 4. Revendo o Caso Honda 4.1. As Versões Clássicas: o ‘duelo’ entre PE e AE Se a criação teatral depende das habilidades estratégicas dos encenadores – dramaturgo e diretor – tanto quanto das possibilidades artísticas de atores e personagens, também no domínio 10 da academia de estratégia, as possibilidades ‘estratégicas’ não estarão restritas aos atores. No entanto, raríssimas são as ocasiões em que AE volta suas preocupações para além do cenário em que transitam os atores organizacionais. Mais difícil ainda é poder perceber o questionamento da função do contador da história na avaliação de casos em Estratégia. Uma das poucas oportunidades em que pesquisadores de AE dirigiram seu olhar para a dramaturgia envolvida em representações de decisões e ações estratégicas no mundo empresarial foi relatada por Mintzberg et al. (2000). O trabalho refere-se ao caso Honda, uma longa e intrincada história passada entre as décadas de 1950 e 1980, em três cenários diferentes: GrãBretanha, Estados Unidos e Japão. Casos de empresas não deixam de ser histórias contadas de forma dramatúrgica, uma vez que reúnem os três requisitos básicos, segundo Souriau (1992), para a formação de uma situação teatral: (1) forças que se relacionam em uma constelação pertinente a um universo específico; (2) personagens que representam estas forças; (3) choques cósmicos, ou ação nascida da tensão entre as forças. São analisadas a seguir as duas versões oficiais do caso, com base na teoria de Étienne Souriau acerca do desenvolvimento de situações dramáticas. À primeira versão pode ser associada a seguinte configuração simbólica: I - os consultores do Boston Consulting Group (BCG) ~ - o mercado norte-americano de motocicletas ⊕ - a indústria britânica de motocicletas M - as empresas japonesas K - os consumidores norte-americanos e - os teóricos da Escola estratégica do Posicionamento Na primeira versão do caso Honda, produzida pelo BCG (1975), o fulcro da ação encontra-se nos consultores de Boston. Estes buscam ‘reconquistar’ para a indústria britânica de motocicletas as parcelas do mercado que os norte-americanos haviam perdido para os japoneses. O processo analítico empreendido pelos consultores do BCG opôs britânicos e japoneses, em acordo com os preceitos da escola de posicionamento, e ignorou o contexto histórico em que a situação ocorrera. Suprimindo a função de Árbitro – a qual poderia ter sido exercida, por exemplo, pelos consumidores dos EUA – os analistas do BCG argumentaram que o posicionamento adotado pelos japoneses foi mais efetivo do que aquele escolhido pelos britânicos. Eles argumentaram que a estratégia dos ‘comandantes’ japoneses modificou a estrutura do mercado e isso permitiu a ‘conquista’ do mesmo. A construção desta versão reproduz não somente a representação de PE mas também a pedagogia dominante de casos em estratégia: trazer para a sala de aula empresas e problemas de administração e fazer com que os alunos assumam o lugar do tomador de decisão (Oliveira, 2000). Representar os consultores do BCG como a força de Leão visa, portanto, atender ao propósito de fazer com que os estudantes se identifiquem com os próprios consultores e assumam o papel (ver Goffman, 1996) de ‘comandante’ prescrito por PE e por professores de estratégia. Por outro lado, quando se delega a função de Leão para outro personagem do drama, nasce uma situação bastante diferente. A versão do BCG diverge da versão apresentada por Pascale (1984), resgatada das entrevistas com os executivos japoneses que haviam conseguido fazer com que a Honda superasse a BSA e outros fabricantes de motocicletas da Grã-Bretanha. Segundo analistas (Mintzberg et al., 2000), e tendo em vista o disputado duelo travado nos bastidores pelos defensores de AE e os de PE na ‘indústria de estratégia’, essa segunda versão é uma representação mais realista do processo: I - a Honda ~ - a preferência dos consumidores americanos da classe média 11 ⊕ - o Ministério das Finanças do Japão M - a BSA e demais empresas britânicas fabricantes de motocicletas K - os consumidores norte-americanos da classe média e - o Ministério das Finanças do Japão De acordo com essa representação, os executivos japoneses haviam sido incumbidos pelo Ministério das Finanças de obter um certo nível de retorno sobre o investimento, de acordo com critérios estabelecidos pelo Governo japonês, para apoiar a competitividade da indústria no exterior. Compreendendo que o público-alvo era composto basicamente por consumidores que não podiam (ou não desejavam) pagar pelas imensas motocicletas britânicas, os japoneses nada fizeram além de compreender, por meio de um processo de aprendizagem incremental e plural, que agradar aos consumidores de classe média era condição fundamental para o sucesso naquele mercado. Sem contar com nenhum recurso gerencial além da pequena verba emitida pelo próprio Ministério das Finanças, os executivos japoneses trataram de aprender como satisfazer aquele novo mercado. Por meio dessa abordagem baseada em aprendizagem, e no sentido de baixo para cima, e não em prescrição autoritária ou em ‘conquista’ – uma versão bem mais politicamente correta do que a dos rivais do BCG, e em consonância com a representação ‘pluralista’ de AE – os japoneses teriam obtido êxito e se transformado em ‘autoridades’ de estratégia no Ocidente. 4.2. Uma Versão Realista do Caso Honda Se as assunções de Étienne Souriau estiverem corretas, o ‘duelo’ entre as versões dos defensores de PE e de AE corresponde a apenas duas dentre as 210.141 representações possíveis para a situação. Restariam, então, 210.139 maneiras diferentes de se contar a mesma história. Tendo em vista os propósitos dos autores deste artigo, a questão central nessa versão não é a defesa do ‘pluralismo’ desconexo. Pelo contrário, nosso objetivo mais amplo é contribuir para aproximar a área de estratégia à realidade dos praticantes (Cummings e Wilson, 2003) e em particular fazer com que o caso Honda se aproxime à realidade dos estrategistas no Brasil. No cenário brasileiro do management, os personagens-estrategistas diferem das representações construídas nos EUA porque a idéia de ‘capitalismo gerencial’, ou de uma sociedade na qual se acredita que a ‘mão visível’ da gerência faça a diferença, está muito longe de ser concretizada (ver Faoro, 2000). O histórico cenário local de desigualdades e assimetrias de poder permanece, não obstante a expansão da academia de administração no país, e o uso disseminado de casos e escolas de estratégia construídas nos EUA. Tendo em vista nosso propósito de criar empatia principalmente com o ‘estrategistaestudante’ no Brasil, preferimos manter o ponto de vista dos executivos da Honda. Entendemos ademais que as afirmações de Mintzberg et al. (2000, p. 155) – de que “a vantagem dos japoneses não está em sua esperteza, mas em nossa própria estupidez” e de que “esta é uma história de sucesso, não de fracasso” – poderiam ser reforçadas ao modificarmos discretamente as funções dramáticas desempenhadas pelos personagens: I - os executivos da Honda ~ - os empregos dos executivos da Honda ⊕ - os executivos da Honda M - o mercado americano e as fabricantes britânicas de motocicletas K - o Ministério das Finanças do Japão e - a ineficiência dos executivos do BCG e a inação dos britânicos Em termos de dramaturgia, a construção dessa nova representação para o caso Honda obedece a duas preocupações essenciais: (a) não alterar os personagens envolvidos no drama e 12 (b) não modificar o final da história. Seguindo a abordagem de Souriau para imprimir modificações estratégicas na situação por meio da transformação de funções dramáticas, nasce um drama inteiramente novo que poderia imprimir novas percepções para o caso. Apavorados com a crise que assolava a sociedade e a economia no Japão do pós-guerra, alguns executivos da Honda recebem a difícil missão de tentar ‘conquistar’ o mercado de veículos motorizados do país que liderava o mundo após o conflito. O Governo japonês, ainda profundamente marcado pela hecatombe atômica com que os americanos e seus aliados britânicos haviam encerrado a participação do Japão na II Grande Guerra, tem a tarefa de reconstruir seu país por meio dos recursos obtidos nos mercados externos, principalmente nos próprios países que haviam bombardeado Hiroshima e Nagasaki. A vitória na guerra de mercado teria sabor especial se a conquista ocorresse num setor industrial fundamental para os americanos e que, ao mesmo tempo, fosse dominado pelos ingleses. Para os EUA, segue então uma equipe de jovens consultores despreparados para a missão, os quais foram convenientemente tomados como ‘estrategistas’. Sua única arma – a exemplo dos pilotos kamikazes – era a coragem criada pela certeza de que, se a missão falhasse, eles seriam demitidos pelo severo Ministério das Finanças. Para Mintzberg e seus associados, por exemplo, a única arma dos japoneses era a capacidade de aprender, de acordo com a representação pluralista e ‘de baixo para cima’ estabelecida por AE. Mintzberg e seus associados escolheram essa representação porque a mesma faria com que ‘japoneses despreparados e obedientes’ do mundo inteiro acreditassem naquela mágica transformação de papéis. A realidade, no entanto, era bem diferente daquela proposta pela ‘dramaturgia do empowerment’. Para aqueles japoneses, o fracasso significaria a desonra e, muito provavelmente, a demissão. Eventualmente, isso os levaria, juntamente com suas famílias, à morte por inanição. Em outras palavras, a vitória ‘estratégica’ daqueles japoneses era motivada pela ‘sobrevivência’. Eles não detinham a autoridade das representações mais conhecidas de estrategista. Assim como a maioria dos gerentes brasileiros que aprende na prática como ‘nossos estrategistas’ se comportam e quão distante estão ‘operadores’ e estrategistas’ entre si, aqueles japoneses sabem que a ‘vitória’ estratégica da Honda seria alcançada por personagens e mecanismos que geralmente não são descritos nos casos nem reconhecidos por PE e AE. A escolha dos executivos da Honda para encarnar a força de Leão reflete nossa tentativa de construir uma representação do caso mais próxima à realidade de praticantes e estudantes em um contexto diferente dos países que produzem as histórias heroicizadas das grandes empresas multinacionais e de seus gerentes/estrategistas globais. A representação de um gerente japonês cuja estratégia é baseada nos objetivos de manutenção do emprego e defesa da honra tem mais a ver com a realidade dos gerentes/estrategistas no Brasil do que a representação de um comandante onipotente – seguindo PE –, ou a de um errante que aprende heuristicamente a se transformar em ‘estrategista’ – seguindo AE. Ao atribuirmos ao Ministério das Finanças do Japão o poder da ‘vingança’, esperamos que a nova versão demonstre a possibilidade de que uma ação estratégica não precisa necessariamente refletir uma motivação grandiosa. No Brasil, os ‘casos’ reais de estratégia mostram isso todos os dias a nossos gerentes. A nova representação das forças presentes no caso talvez possa legitimar a construção de novas leituras que confirmem o tipo de pluralidade proposta por AE. Sem a alternativa da pluralidade desconexa de representações, de que serviriam as representações clássicas do caso para os ‘estrategistas’ brasileiros, os quais não se encaixam nos perfis dos protagonistas de nenhuma das três histórias? Como utilizar o método do caso nas salas de aula em países menos desenvolvidos se as funções atribuídas aos personagens seguem uma construção dramatúrgica de uma obra produzida por autores que trazem a autoridade do ‘primeiro 13 mundo’? A autoridade contida na hegemonia do único autor certamente não encontra respaldo nas múltiplas alteridades que se pretende mobilizar com o estudo de caso. A resposta a essas questões está principalmente na desmistificação da autoridade. A primeira a ser desmistificada é a do autor do texto. Quando são mostradas as múltiplas possibilidades dramatúrgicas, delega-se ao leitor a chance de tomar para si a responsabilidade da autoria. A segunda desmistificação é a dos personagens da história. Protagonistas dos casos de estratégia talvez sejam movidos por objetivos menos majestosos, não somente porque correm riscos bem menos nobres, mas também porque eles sabem que, na prática, as decisões estratégicas costumam ser conduzidas por instâncias e agentes inacessíveis para eles. A terceira autoridade a ser desmistificada é a do gerente-herói. Essa prescreve que nada, nem ninguém, pode desviá-lo da nobre missão estratégica que lhe foi confiada. Finalmente, a quarta e última autoridade a ser desmistificada é a do professor em estratégia, cujos impulsos autorais advindos do exercício profissional talvez sirvam para reforçar ou reproduzir uma autoridade da qual nem mesmo ele/ela tem plena consciência. 5. Análise e considerações conclusivas Conhecimento acadêmico em estratégia é capaz de moldar identidades pessoais (Knights e Morgan, 1991) e mesmo de transformar “sociedades inteiras” (Whittington, 2004, p. 49). Esse conhecimento, que vem sendo produzido, patrocinado e disseminado por organizações, instituições e atores muito poderosos, vem enfrentando sérias críticas quanto à sua relevância para praticantes (Cummings e Wilson, 2003) e também para outros contextos. O poder correspondente da ‘indústria da estratégia’ e de seus principais beneficiários ajuda a explicar o nosso propósito de promover desenvolvimentos teóricos e educacionais locais. Este artigo problematizou a reprodução da representação de autoridade construída nos EUA na área de estratégia e em casos em estratégia. Analisamos a evolução da área para demonstrar que o duelo entre PE e AE não desafia a questão da autoridade. Tanto a escola de PE quanto as escolas de AE preservam a autoridade do ‘estrategista’ e reproduzem o mote da área. Essas escolas, legitimadas pelo âmbito da pesquisa, bloqueiam a emergência de conhecimento local. Ao analisarmos as duas versões mais conhecidas do caso Honda por meio de uma abordagem dramatúrgica específica, esperamos ter contribuído para o reconhecimento da dramaturgia pela área de estratégia no Brasil. Tentamos mostrar que o uso dessa bagagem de conhecimento pode ajudar a aproximar estudantes e professores da área à realidade. Tentamos mostrar que as versões mais conhecidas do caso Honda são problemáticas porque ambas, baseadas na autoridade concedida ao estrategista, à grande empresa, à própria estratégia e ao acadêmico reproduzem o mito de que gerentes, de uma forma ou de outra, ‘farão a diferença’. Argumentamos que, no Brasil, os efeitos desse mito sobre os constituintes locais são bem mais problemáticos do que em países desenvolvidos. Cabe destacar que defendemos um certo tipo de pluralidade na área de estratégia no Brasil. Mais especificamente, tentamos fazer por meio desse artigo com que seja permitido a praticantes e a acadêmicos locais representar a realidade sob uma perspectiva menos ‘autoritária’ do que aquelas produzidas pelo ‘mundo’ anglo-saxão. Finalmente, esperamos estar colaborando para que muitas outras representações do caso Honda e de outros casos em estratégia sejam reconstruídas e testadas em sala de aula no Brasil por meio do uso da dramaturgia. Mais do que isso, esperamos que tais representações sejam reconhecidas e analisadas por pesquisadores da área. Em conjunto, essas práticas podem ajudar a desmistificar certas autoridades e autores, não somente em ensino, mas também em pesquisa em estratégia. 14 Referências Bibliográficas ALVESSON, M. Organizational Symbolism and Ideology. Journal of Management Studies, v. 28, n. 3, p. 207-225, 1991. ALVESSON, M.; DEETZ, S. Doing Critical Management Research. London: Sage, 2000. ANDREWS, K. Executive Training by the Case Method. 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