PADRONIZAÇÃO DO TESTE G36 PARA ALUNOS DE 1.a E 2.a SERIES DE SEGUNDO GRAU DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DE FORTALEZA(CE)* SCNIA A. C. L. CARVALHO** OROZIMBO L. CARVALHO NETO** RESUMO A necessidadede se contar com instrumentos de confiabilidade para se medir a capacidade intelectual do estudante cearense de 2.0 grau, para os serviços de Orientação Vocacional e a realização de Psicodiagnósticos, levou ao estudo do teste G36, divulgado em 1966 e já padronizado para a área industrial da grande São Paulo e para alunos de 2.0 grau de colégios estaduais de Recife (PEI. O teste foi aplicado em 260 alunos de colégios públicos e particulares da região Metropolitana de Fortaleza. Como critério externo, para o estudo da validade, foi utilizado o conceito médio obtido na disciplina Mate· mática, durante o ano escolar de 1983. Para o estudo da fidedigni· dade procedeu-se à correlação entre itens pares e ímpares, corriqindo-se em .seguida o coeficiente obtido pelas fórmulas de Spearrnan-Brown e Kuder-Richardson (KR201. Finalmente foram construidas tabelas de percentis - associadasaos resultados do teste - para os alunos, segundo suasséries escolares, sexo e tipo de escola freqüentada, e ainda uma tabela com os resultados gerais. INTRODUÇÃO O teste G36 foi constru ído por Boccalandro (1966) e editado pela Veto r Editora Psicopedagógica Ltda. tendo em vista uma necessidade crescente de instrumentos para aferição da capacidade intelectual. O próprio autor justifica a elaboração do teste na introdução existente no Manual: Inicialmente, utilizávamos, na seleção de pessoal, o teste Matrizes Proqressivas de Raven, com resultados satisfatórios, por ser um teste de inteligência • Com a colaboração da FUNDAÇÃO CEARENSE DE PESQUISA E CULTURA . •• Universidade Federal do Ceará. Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73,jul./dez. 1985 65 2. Instrumentos geral aplicável tanto em indivíduos semi-alfabetizados como também em pessoas com escolaridade superior. Mais tarde observamos o aparecimento de numerosos casos contraditórios, pois o candidato se classificava como bem dotado intelectualmente no Raven, mas, a configuração da escada do Psicodiagnóstico Miocinético de Mira y López não confirmava a expectativa de boa dotação. Como tínhamos conhecimento da utilização cada vez mais generalizada do teste Matrizes Progressivas na seleção de pessoal e da facilidade de compra do Manual do teste, em livrarias que não opunham qualquer restrição para os compradores, deixamos de ter confiança nos resultados. Sabíamos, no entanto, por experiência pessoal e pelos resultados obtidos por outros psicólogos, tanto do Brasil como de outros países, que as Matrizes Progressivas constituiam um bom instrumento para medir a inteligência geral. Isto nos levou a elaborar um teste similar de inteligência não verbal que medisse o mesmo fator g. (p. iiil. Em Fortaleza ocorreu situação semelhante, já que o teste Matrizes Progressivas é amplamente divulgado e já se constatou a existência de exemplares nas mãos de pessoas inabilitadas. A partir dessa situação pensou-se em padronizar um teste que havia aparecido com a finalidade de "substituir" um teste bem sucedido na aferição do fator G. METODOLOGIA 1. Amostra Para os fins deste trabalho foram sorteados 20% dos alunos matriculados na região Metropolitana de Fortaleza. Tal procedimento resultou num total de 260 alunos na amostra como um todo. A composição da amostra pode ser observada na Tabela 1 na qual os sujeitos estão distribu ídos por sexo, série escolar e tipo de escola freqüentada. No presente trabalho não foi considerado a variável idade para fins da composição da amostra. TABELA I Distribuição de freqüência dos sujeitos por sexo, série escolar e tipo de escola freqüentada / ESCOLA PARTICULAR ESCOLA PÚBLICA TOTAL 1.a S~RIE 2a S~RIE 1a S~RIE 2a S~RIE MASCULINO 15 16 22 30 83 FEMININO 30 29 63 55 177 TOTAL 45 45 85 85 260 66 2.1. Teste G36 Teste para avaliação da lnteliqência geral - faterG, destinado a d I entes e adultos, composto de 36 itens que podem ser classificados m ctnc categorias: 2.1.1. Compreensão de relação de identidade simples: Exemplo, 1 e 2. .2.1.2. Compreensão de relação de identidade mais raciocínio por n logia: Itens 3, 4, 6,8 e 12. 2.1.3. Raciocínio por analogia envolvendo mudança de posição: Itens 10, 11, 20; 21, 22, 30, 31 e 32. 2.1.4. Raciocínio por analogia de tipo numérico: Itens 5,7,9,13,14,15,16,17,18,19,24,26,28 2.1.5. e 33 Raciocínio por analogia de tipo numérico envolvendo mudança de posição, adição e/ou subtração: Itens 23, 25, 27 e 36. Raciocínio por analogia de tipo espacial (decompor um todo nas suas partes, envolvendo mudança de posição): Itens 29 e 34. O teste G36 foi aplicado por alunos da disciplina Estatística Aplicada à Ciências do Comportamento 11, no final do segundo semestre letivo do ano de 1983. Inicialmente todos eles foram submetidos ao teste e em seguida receberam treinamento quanto à aplicação e à avaliação. A aplicação do teste G36 foi realizada em grupos de cinco alunos ou individualmente, sequindo-se as instruções habituais propostas pelo autor no Manual. 3. Conceito médio de Matemática O conceito médio de Matemática foi calculado a partir das notas obtidas, pelos alunos, nas quatro provas bimestrais realizadas em seus. colégios. Tal conceito foi utilizado como critério externo para o cálculo da validade do teste G36 já que, obedecendo as devidas diferenças de culturas existentes de~tro de cada um dos colégios, os alunos foram reprovados (ou aprovados) no final do ano escolar, em função de tais conceitos. 4. ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1. Consistência interna do teste Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul.jdez. 1985 Para testar a consistência interna do teste foi calculado o coeficiente de correlação do momento produto de Pearson entre os resultados obtidos nos Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, juLjdez. 1985 67 itens pares e nos itens ímpares. A correlação encontrada r = 0,73 (p = 0,001) é alta e significativa indicando a precisão e a estabilidade com que o teste .foi. construído para a medição do fator geral de inteligência. Corrigindo-se o coeficiente de correlação do momento produto de Pearson, verifica-se: TABELA 2 Coeficientes de correlação ponto-bisserial, médias e desvios padrão para os acertos e os erros aos itens Spearman-Brown: r = 0,84 Kuder-Richardson: r = 0,889 itens 4.2 Análise de itens o objetivo principal da análise de itens foi verificar o poder discriminante de cada item, ou seja, o poder que têm para' diferenciar de manei ra nítida aqueles que acertam o item daqueles que erram. Inicialmente foram calculadas e examinadas as médias e os desvios padrões e a seguir foram obtidas correlações pontobisseriais para determinar o poder de discriminação de cada um dos itens. Na tabela 2 são' apresentadas as correlações ponto-bisseriais, médias e desvios padrões para os acertos e os erros aos itens. 4.3. Estudo da validade Para testar a validade do teste G36ioi calculado o coeficiente de correlação do momento produto de Pearson entre os resultados obtidos pelos 260 alunos submetidos ao teste e seus conceitos globais de Matemática durante o ano letivo de 1983. A correlação encontrada foi r = 0,19 (p = 0,01) indicando a exatidão com que um conjunto de rtens medem aquilo que deveriam medir (Ebel, 1965). 4.4. Análise dos erros Segundo o manual do teste, podem ser verificados três tipos de erros: 4.4.1 Erro determinado por continuar a raciocinar por identidade; 4.4.2. Erro ocasionado pela falta de compreensão do problema, que leva a pessoa a dar uma resposta sem qualquer relação com os dados do problema. 4.4.3. Erro determinado por ter raciocinado de rnanei ra incompleta, embora tendo percebido a relação entre os dados do problema. A Tabela 3 mostra a freqüência de erros cometidos pelos alunos que compunham a amostra. 4.5 Normas estabelecidas A partir dos resultados obtidos pelos alunos de 1.a e 2.a séries do 2.0 grau das escolas públicas e particulares de Fortaleza foram construídas as Tabelas 4 e 5 que associam o número mínimo de pontos necessários com o percentil correspondente. 68 Rev. de Psicologia, Fortaleza-S (2): 65-73, jul.jdez. 1985 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 . 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 -x 19,64 22,13 21,26 20,91 19,96 21,58 21,00 21,18 20,74 20,83 21,77 20,69 20,95 21,39 22,17 21,02 20,89 22,77 22,50 22,66 20,39 21,89 22,38 22,06 20,79 21,06 21,46 21,15 18,95 20,82 23,05 22,59 23,00 23,83 22,77 acertos erros x s 6,88 5,55 6,24 6,14 ,6,48 5,90 5,89 6,54 6,89 6,79 5,48 6,40 5,86 .6,35 6,49 6,56 7,08 5,84 5,83 5,40 5,08 5,96 6,25 6,14 7,23 6,95 6,29 ·7,89 7,45 6,86 6,14 6,32 6,93 5,93 9,53 9,5 12,38 13,36 10,97 8,62 11,39 10,77 13,50 13,53 14,.5~ 13,94 14,29 10,32 14,19 15,81 15,85 14,33 13,33 15,19 14,14 16,82 16,55 15,69 14,57 17,12 17,09 13,23 17,6 18,08 15,77 15,16 15,67 16,38 16,25 17,64 rbp s 4,3 5,79 6,5 5,32 4,72 5,99 6,03 6,21 5,95 6,67 7,29 7,26 5,55 6,71 6,94 7,30 6,39 5,96 6,92 6,64 8,35 7,43 6,92 6,65 7,24 7,3:2 6,15 7,18 7,43 7,11 6,47 6,80 6,75 6,86 6,91 0,487 0,646 0,515 0,605 0,601 0,644 0,612 0,504 0,463 0,420 0,527 0,420 0,626 0,483 0,418 0,348 0,440 0,499 0,487 0,575 0,236 0,336 0,439 0,506 0,230 0,244 0,543 0,185 0,045** 0,341 0,520 0,452 0,403 0,452 0,224 I Total 18,24 • * item não discriminador 7,43 - - para a amostra. Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul.jdez. 1985 69 TABELA 3 Freqüênciade errosA, B ou C cometidos pelosalunosque compunham item 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 70 a amostra A B C Acertos - - 24 14 05 33 14 40 43 14 12 19 09 14 28 31 12 64 50 12 26 16 40 12 111 90 38 95 19 33 71 26 17 90 40 166 24 83 69 47 85 126 164 47 76 - 260 224 156 161 189 211 175 188 161 170 153 144 163 194 146 100 121 146 139 108 125 106 082 099 127 080 080 157 047 049 128 102 096 072 069 030 - 28 40 - 50 40 47 - 26 21 12 05 17 19 62 - 38 / 28 43 71 85 24 07 14 17 21 40 95 62 43 26 52 09 02 76 133 102 62 152 144 43 128 09 62 111 80 85 73 - 24 116 111 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul.jdez. 1985 TABELA 4 Percentisassociadosà inteligência de alunosde sexos masculino e feminino, de escolasPúblicase Particulares de 1.ae 2.a sériesdo 2.0 grau da cidadede Fortaleza- 1983 PERCENTI.L 99 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 05 01 MASCULINO 34 31 30 29 28 27 26 25 25 24 23 22 21 20 19 18 17 15 12 07 05 FEMININO 33 30 28 27 26 24 23 22 21 20 19 18 16 15 14 12 10 09 08 06 04 1.aS~RIE 2.0 GRAU 2.aS~RIE 2.0 GRAU 34 30 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 16 15 14 12 10 09 07 05 03 34 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 17 16 15 13 11 08 06 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul.jdez. 1985 PERCENTIL 99 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 05 01 71 REFERENCIAS BIBLlOGRAFICAS BOCCALANDRO, E. R. - G·36 Teste não verbal de inteligência, manual de instruçõos. S o Paulo, VETOR, 1966. EBE L, R. L. - Measuring educational achievement. New Jersey, Prentice Hall, 1965. TABELA 5 BIBLIOGRAFIA Percentis associados à inteligência de alunos de escolas Públicas e Particulares . da cidade de Fortaleza - 1983 PERCENTIL 99 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 05 01 72 ESCOLA PÚBLICA' 33 29 27 26 25 23 22 21 20 19 17 16 15 14 13 12 10 09 07 05 03 ESCOLA PARTICULAR 34 31 30 28 27 26 25 24 23 22 22 21 20 19 17 16 14 12 10 07 05 GERAL PERCENTIL 33 31 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 15 14 12 10 08 05 04 99 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 05 01. SUPLEMENTAR MC CALL, R. B. - Fundamental Jovanovich, 1980. stetistics for psvcholoçv, VAN KOLCK, O. L. - Técnicas de exame psicológico Vozes, 1975. New York, Harcourt, Brace e e suas aplicações no Brasil. Petrópolis, ,. Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul./dez. 1985 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 65-73, jul./dez. 1985 73