HISTÓRIA DOS PRIMÓRDIOS DA TECNOLOGIA DE ALIMENTOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA José Marcondes Borges TECNOLOGIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL Convidado pelo professor Paulo Henrique Alves da Silva para falar sobre a história do Departamento de Tecnologia de Alimentos no Simpósio de Avaliação e Projeção do Curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, considerando meu estado de saúde e minha idade, achei conveniente escrevê-la para ser lida na referida solenidade, pedindo a atenção dos ouvintes para possível falha de memória ou dos registros consultados. A Tecnologia de Alimentos tomou parte no planejamento inicial da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV), com a construção da Leiteria do Departamento de Zootecnia, que foi derribada para a edificação do atual Laticínios, mais precisamente sua parede sul, locada, mais ou menos, no eixo central dela. Aliás, os prédios da atual Tecnologia ocupam a parte inicial da antiga Zootecnia, que começava com uma balança para pesar animais, na estrada que ficava entre a Diretoria de Material e o Edifício Alfred Beck Andersen. O Estábulo ficava atrás da Leiteria e abrigos, currais, baias e outras dependências da Zootecnia se estendiam até as proximidades da atual Floricultura, onde ainda existem as ruínas do aviário. Depósito de forragens Cocheira para muares Estábulo de bezerros Estábulo Leiteria Balança Dado o caráter histórico desta publicação, será transcrita do Relatório Bello Lisboa, um dos melhores repositórios da história da Instituição, a parte referente à Leiteria, respeitando a ortografia original. “Abrigo nº 8 - Leiteria e Estábulos – Departamento de Zootechnia. A planta deste abrigo comprehende um corpo principal de 21,3 x 10,20, a metade do qual tem o pé direito de 4,00 e a outra metade o de 2,80 e 2 pequenos puchados lateraes. A primeira metade da planta se divide em 4 salas em que estão installados machinismos, de accordo com a legenda da planta que se segue, 2 corredores normaes entre si e 2 camaras frias; na segunda parte da planta estão os estabulos para l6 vaccas. Um dos puchados comprehende uma ante-camara e uma camara frigorífica e o outro, um w.c. e chuveiro, e commodo para caldeira de vapor. A construcção, excluindo os machinismos, cuja installação vae descripta em outro capítulo, importou em 46:826$561”. Considerando a honestidade e a competência dos engenheiros Bello Lisboa, Chefe da Comissão de Construção, e Mario das Neves Machado, Chefe do Escritório, essa quantia exprime o valor real, sem sub ou super faturamentos. 2 Quanto à instalação, será transcrita outra parte do Relatório. “ Lacticínios: - No laboratorio rural de lacticinios foram assentes: Laboratorio para analyse de leite; deposito de 200 litros, de ferro estanhado; pasteurisador, para 400 litros á hora, de 25 – 90º celsius, dinamarquez F.M. horizontal; 1 esfriador tubular, para 400 ls. á hora, baixando o leite de 90º a 40º celsius; 1 desnatadeira Alfa Laval nº 4 para 100 litros; tubulação para leite; 1 fabrica de gelo, constituída dum compressor vertical Sabroe, de producção 7.400 caloria á hora, 1 condensador tubular, l tanque congelador de chapa de aço, 1 agitador completo; tres câmaras frigoríficas e 1 ante-camara, todas isoladas a corticite; 1 bomba para salmôra; 1 motor electrico de 7,5 H.P.”. Estábulo de bezerros Leiteria e Estábulo Nesse particular, de acordo com o “Anuario, 1927”, de autoria de Peter Henry Rolfs, datado de 1º. de maio de 1928, deve ser citado Hermann Rehaag como o primeiro professor e organizador do Departamento de Zootecnia e o responsável pela compra do equipamento acima citado e da “instalação da leiteria, sendo a mais necessária, bem como a mais demorada, teve a preferência sobre todos os outros serviços”. Rehaag, prussiano de nascimento e portador de vários diplomas de escolas alemãs, incluindo o de veterinário, veio para o Brasil para trabalhar em uma escola de padres, em Olinda, Pernambuco, e chegou a Viçosa, com a experiência de 12 anos de trabalho em vários lugares no Brasil. Em seu relatório, constante do mesmo Anuário, Rehaag fala de sua posse, em 27 de março de 1927, das primeiras construções, inclusive da Leiteria, da aquisição dos primeiros animais, da instalação dos laboratórios, do ensino, do sistema de criação, do estado sanitário dos bovinos, da produção de leite, da leiteria, dos suínos, das consultas veterinárias e das viagens a serviço. Além do laboratório de leite, ele instalou um outro, mais simples, para o ensino, na sede do DepartaHermann Rehaag mento de Zootecnia, no Prédio Principal, hoje, Edifício Arthur da Silva Bernardes. 3 Essa sede funcionou por muitos anos na esquina sudeste do segundo andar e constava de cinco salas: uma sala de aula, contígua ao corredor, o laboratório, a sala do professor, a sala para esqueletos humano e de animais e a sala para depósito. No início, a produção de leite foi muito baixa, a maior parte consumida pelos próprios bezerros, pequena parte pelos porcos e o resto vendido à cozinha do Internato da ESAV, aos empregados e trabalhadores, ao preço de 500 réis, por litro. Mais tarde, com a produção de manteiga, os bezerros passaram a ser alimentados com leite desnatado. A fabricação de manteiga começou em janeiro de 1928 e a fábrica de gelo em novembro de 1927. Esta sempre funcionou normalmente e sua produção, em dezembro, foi de 1.635 quilos de gelo, usada na manipulação do creme, na conservação do leite e da manteiga e para a venda dos blocos na cidade e aos empregados da Escola. Com a saída de Hermann Rehaag para trabalhar no Ministério da Agricultura, no fim de 1928, assumiu a direção da Leiteria e dos Laticínios, em setembro de 1929, o professor Elvino Alves Ferreira, que aí permaneceu até julho de 1932. O professor Alfred Beck Andersen, técnico laticinista dinamarquês, entrou para o serviço da ESAV em 1º. de janeiro de 1933 e aposentou-se em 24 de fevereiro de 1965, sempre trabalhando na área, quer no Departamento de Zootecnia, quer no de Tecnologia de Alimentos, de acordo com a organização da ESAV, da UREMG e da UFV. A partir de 14 de maio de 1935 até 12 de fevereiro de 1937, Svend Bording Rasmunssen, dinamarquês, lecionou Laticínios, e Alphonse van Lier, também dinamarquês, aí trabalhou de 1º. de agosto de 1935 a 2 de janeiro de 1937. Beck Andersen A história mais recente da Tecnologia de Produtos de de Origem Animal cabe ao professor Alonso Salustiano Pereira, que a acompanhou, juntamente e após a saída do professor Beck, e que nela introduziu o estudo das carnes e pescados. TECNOLOGIA DE PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL Quanto à Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal, pouco se sabe de suas origens na Instituição, a não ser o que consta oficialmente nos Regulamentos. No Decreto 7.323, de 25 de agosto de 1926, assinado pelo Governador Fernando de Mello Vianna e seu Secretário de Agricultura, Daniel Serapião de Carvalho, intitulado “Da Aprovação do Regulamento da Escola Superior de Agricultura e Veterinaria”, consta: “Art. 12. As matérias componentes dos diversos cursos da Escola ficarão distribuídos em quinze cadeiras, que constituirão os departamentos de ensino da Escola, e serão assim comprehendidos: 7ª. Cadeira – Chimica: Chimica geral e inorganica. Chimica organica. Chimica analytica. Chimica agricola. Noções de Chimica biologica. Tecnologia. Inspecção e conservação de productos alimentares. 4 No Decreto 10.154, de 15 de dezembro de 1931, assinado pelo Governador Olegário Dias Maciel e seu Secretário de Agricultura, José Monteiro Ribeiro Junqueira, que tratava “Da nova organização a Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais”, a Tecnologia Agrícola foi tornada independente do Departamento de Química, mas continuou funcionando junto a ele, por muitos anos, em uma de suas duas salas pequenas, na esquina sudoeste do primeiro andar do Edifício Arthur da Silva Bernardes. “Capítulo IV ------------- Dos Departamentos da Escola. 10) Tecnologia agrícola (Laticínios, conservação de produtos alimentares, fabricação de assucar e álcool, óleos vegetais, indústrias rurais)”. Na publicação de Bello Lisboa: Historico e Actualidade – Escola Superior de Agricultura e Veterinaria – MG, 1935, consta o seguinte programa para ela: Analyse de assucares e materias saccharinas; analyse de farinha e amido; analyse de alcool e bebidas alcoolicas; analyse de productos agricolas; analyses de oleos e gorduras vegetaes; analyse de materias primas, productos, sub productos e residuos de fabricação de technologia agrícola; analyse de carnes; analyse de oleos e essencias; analyse de substancias corantes; trabalhos de preparação de culturas puras de fermentos seleccionados, para a fabricação de alcool, aguardente, vinhos e fructas; trabalhos de fabricação de vinagres; trabalhos de fabricação de bebidas alcoolicas em pequenas quantidades; trabalhos de fabricação de vinhos de fructas; analyse de leite; analyse de manteiga e analyse de queijo. DEPARTAMENTO DE QUÍMICA Sala de Aulas Tecnologia Laboratório dos Professores de Química Laboratório dos Alunos Sala dos Professores 5 Desde então, o Departamento tem mantido sua autonomia, apenas variando de nome e de lotação, na UREMG e na UFV. Na ESAV, fazia parte integrante do curso dos engenheiros agrônomos e assim permaneceu até a mudança nessa carreira, a qual deu origem às profissões de fitotecnista, economista rural, engenheiro agrícola e tecnologista de alimentos. Pelo Regimento Geral da UFV, aprovado pelo Conselho Universitário, em sua 245ª. reunião, de 24 de fevereiro de 2000, em vigor, o Departamento de Tecnologia de Alimentos pertence ao Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas. Também houve mudanças na grade curricular. A fabricação de açúcar e de álcool, que tinha tido o professor Jayme Rocha de Almeida, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, como um de seus técnicos, cientista e fundador do Instituto Zimotécnico, e era mantida em primeiro plano, foi sendo deixada para os engenheiros químicos e o estudo aprofundado dos alimentos passou a predominar. Entrando no Curso Complementar, hoje Coluni, da ESAV, em 1939, o mineiro de Sobral, José Marcondes Borges vem acompanhando a história do Departamento desde então. Disso somente tem lembranças e encontrado registros a partir dessa data. O primeiro tecnologista de que se lembra é Amaury Henrique da Silveira, professor na ESAV, de 20 de fevereiro de 1940 a 15 de dezembro de 1943, e em mais de dez outras escolas, principalmente em indústrias rurais. Foi diretor de onze instituições, com destaque para a Chefia do Setor de Indústrias Rurais da Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura. Publicou mais de 200 trabalhos, nas principais revistas agrícolas do Brasil, artigos, nos suplementos agrícolas dos mais importantes jornais do País, e respondeu, na extensão, a mais de 10.000 consultas em sua especialidade. Recentemente, ofertou à Biblioteca do Departamento um pacote de publicações, feitas nos últimos quarenta anos de sua vida ativa, sobre Tecnologia Agrícola, Indústrias Rurais e Tecnologia Alimentar. Amaury Silveira O professor Jorge Leme Júnior veio da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, para lecionar na ESAV, onde permaneceu de 19 de setembro de 1944 a 3 de março de 1948. Trouxe para nós a tendência da evolução da tecnologia rural para uma tecnologia mais industrial, predominante nessa Escola, e sua inteligente concepção pessoal do futuro da tecnologia de alimentos, de que era adepto, principalmente da indústria de conservas. De volta a São Paulo, trabalhou ainda na ESALQ e na Universidade de Campinas, onde foi Diretor da Faculdade de Engenharia de Alimentos. Em co-autoria com José Marcondes Borges, escreveu o livro “Açúcar de Cana”, livro didático e técnico sobre a Jorge Leme Júnior fabricação do açúcar, que deve ter sido o primeiro livro editado em nossa Instituição e do qual foram publicadas, pelo menos, três edições. Daqui para frente, a trajetória do Departamento tem muito a ver com assuntos que envolvem a pessoa de José Marcondes Borges, por ser sido “o berimbau de uma no- 6 ta só”, professor de Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal, sozinho, na ESAV, por muitos anos. No último ano de seu curso tinha sido convidado para trabalhar no Departamento de Zootecnia, formando-se, em 15 de dezembro de 1944, engenheiroagrônomo; mas, nos últimos dias de 1944, foi convocado pelo Exército Nacional e, aproximando-se o fim da Segunda Guerra Mundial, dispensado, no primeiro semestre de 1945. Ao voltar, estando preenchido o cargo de professor na Zootecnia, foi lotado no Departamento de Biologia, onde permaneceu até 8 de março de 1948, quando, em substituição ao professor Jorge Leme Junior, ingressou no Departamento de Tecnologia Rural, mais tarde denominado de Tecnologia de Alimentos. Felizmente, em curto estágio com o professor Jorge Leme Júnior, obteve o máximo de informações possíveis e notável apostila sobre Conservação de Alimentos, o modo que lhe permitiu lecionar, razoavelmente, no último ano do curso Superior de Agronomia, toda a matéria de Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal, em dois semestres, com três aulas teóricas e duas práticas, por semana. Pela exigüidade do espaço de que dispunha no Departamento de Química, mal servindo para as aulas práticas e impossibilitando qualquer experimentação e pesquisa, usou o tempo para estudar e preparar as aulas. De 1948 a 1951, sua luta por uma instalação condigna Marcondes Borges para a Tecnologia foi uma constante, o que se pode comprovar especialmente no relatório anual, em que mostrava, para a administração, a situação precária da Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal, impossibilitada de realizar qualquer experimentação ou pesquisa e, até mesmo, imprópria, para o conceito de vanguarda da ESAV. Uma das dificuldades era o fato de os dois andares do Prédio Principal estarem ocupados pelos departamentos originais Agronomia, Horticultura, Engenharia Rural, Química, Biologia, Solos e Adubos, Zootecnia, Administração Rural e Veterinária - e o Porão não permitir uma instalação definitiva. Nessa época, com o progresso da Instituição, já se cogitava seriamente na mudança dos departamentos para sedes próprias, fora do Prédio Principal, o que implicava elevadas somas para a sua concretização, e a preferência tenderia, possívelmente, para os departamentos tradicionais. Sem outra solução para o problema, a alternativa foi a melhoria do ensino, com a redação de notas mimeografadas sobre os variados assuntos das aulas teóricas e práticas e, em co-autoria com o professor Leme, a elaboração de uma apostila sobre a fabricação de açúcar, que mais tarde foi melhorada e transformada em livro. Ausente, Marcondes, em 1952 e 1953, para um mestrado na Purdue University, nos Estados Unidos da América, toda a carga do Departamento recaiu sobre o professor Beck. Este, há muito tempo, tinha estabelecido seu gabinete e sala de aulas no cômodo situado na esquina sudoeste do Porão; e, na volta dos EUA, Marcondes achou que a melhor solução para localizar a Tecnologia, ainda que provisoriamente, seria adaptar mais salas do Porão, anexas à de Beck. Em seu relatório anual, de 1954, para a Diretoria da ESAV, escreveu: “É oportuno observar que, neste ano, para não interromper aulas práticas, fui obrigado a recorrer às instalações da cozinha e ao uso de fogões improvisados ao ar livre”. 7 No relatório de 1955, ponderou: “Tenho a lastimar que a demora de oito meses na impressão da apostila sobre açúcar tenha causado transtorno ao curso...” e, ainda, sobre a mudança para o Porão: “Laboratório para alunos. Desde fins de agosto que os serviços de carpintaria e pintura estão concluídos, faltando entretanto o principal, ou seja, água, esgoto, energia e meio de aquecimento. Não posso compreender a demora em serviços de tão pouca monta, nas condições presentes. A tubulação de água está, quando muito, a dois metros dos balcões e a de esgoto a um metro, mais ou menos”. SEDE PROVISÓRIA DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA RURAL Gabinete dos professores Gasogênio “Benoid” Laboratório dos alunos Sala de aulas Laborat. Profess. Em 1956, a sala de aulas e o laboratório dos alunos estavam completos. Além das aulas para o Curso Superior e para o Agrotécnico, com o laboratório para professores disponível, Marcondes iniciou um projeto de experimentação com variedades de soja para a fabricação de leite de boas palatabilidade e qualidades alimentícias. A instalação, mesmo modesta, além de permitir a experimentação, abriu a possibilidade de ampliação do corpo docente, para diminuir a sobrecarga de aulas sobre Beck e Marcondes, o que aconteceu com a contratação de Adão José Rezende Pinheiro, que tomou posse em 12 de novembro de 1957. O ingresso de Adão no corpo docente diminuiu a sobrecarga de aulas sobre o professor Beck, facilitou a ida de Marcondes, em 1958, para a Tecnologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ, em Piracicaba, onde preparou uma tese. Aprovado no concurso, em 1959, recebeu o título de Doutor em Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal e assumiu o cargo de Professor Catedrático na UREMG. Convidado para instalar a Seção de Conservas de Alimentos do Instituto de Tecnologia Rural da Universidade do Ceará, esteve em Fortaleza, entre 1960 e 1962, regressando em 1963. Inicialmente, como Chefe do Departamento, pretendia instalar a Tecnologia na área da atual Fábrica de Rações, ao que se opôs o Reitor Flamarion Ferreira, exigindo que fosse situada na atual locação. 8 Em sendo Reitor da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais Edson Potsch Magalhães e Diretor da Escola Superior de Agricultura Geraldo Martins Chaves, tudo mudou. As constantes dificuldades do Departamento foram superadas e iniciado um período de franco progresso, em todos os sentidos. Apoiado pela Administração, Marcondes esteve no Rio de Janeiro, em 1963, para prestar informações a técnicos do Grupo Executivo da Racionalização da Cafeicultura do Instituto Brasileiro do Café, GERCA – IBC, sobre o projeto de criação das indústrias-piloto, do qual obteve recursos da ordem de vinte milhões de cruzeiros, para começar sua execução, pois a idéia coincidia com o projeto desse órgão de substituir a cultura de café por produtos alimentícios. Nesse particular, deve ser citada a ajuda do ex-aluno Onofre Braga de Faria, responsável pelo GERCA em Minas Gerais. Em 1965, foi publicado o livro “Açúcar de Cana”, de Jorge Leme Júnior e José Marcondes Borges, o primeiro a ser editado pela Instituição, sonho multiplicado, hoje, muitas vezes, pela Editora UFV. Foi também publicada a apostila, de 204 páginas, “Práticas de Tecnologia Rural”, de autoria de José Marcondes Borges, usada por muitos anos em aulas práticas, mesmo depois da aposentadoria dele. O acontecimento principal do ano de 1965 foi, em 15 de dezembro, a inauguração do prédio da indústria-piloto de conservas, que funcionou também, algum tempo, como a sede do Departamento de Tecnologia. Na cerimônia, disse Marcondes “Desta feita, tenho a grata satisfação de expressar a Vossa Excelência o nosso júbilo por ver o início da concretização do acalentado sonho de toda a nossa vida profissional nesta Escola. Referimo-nos à inauguração do prédio da indústria-piloto de conservas, a primeira das construídas, o lançamento da Pedra Fundamental e o início da construção do prédio do Laticínios, que deverão constituir o Instituto de Tecnologia Rural”. Edifício da Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal e da Indústria-Piloto de Conservas 9 Em outro trecho, afirma: “Somente nos resta a necessidade de conseguirmos mais alguns técnicos de alto gabarito, para ajudarem no planejamento de outras seções”, fato que 44 anos depois, hoje, estamos presenciando. Em 1º. de fevereiro de 1965, foram criados os institutos, incluindo o de Tecnologia de Alimentos, que substituiu o Departamento de Tecnologia Rural. Em 1965, Geraldo Luiz Pinto, admitido no corpo docente em 1963, e Joanito Campos Júnior, recém-contratado, viajaram para a Espanha, onde freqüentaram cursos de especialização na Escola de Tecnologia de Valença, enquanto Adão Pinheiro continuou os estudos na Purdue University, com vistas em seu Ph.D. Depois de um estágio na Universidade da Califórnia, em Davis, e uma viagem de estudos nos Estados Unidos, em 1965, José Marcondes Borges foi nomeado para dirigir o Instituto de Tecnologia de Alimentos. O corpo docente da Tecnologia de Produtos de Origem Animal, em 1966, era constituído de Alfred Beck An- Sala de Esterilização da Piloto de Conservas dersen, Adão José Rezende Pinheiro e mais tarde, em 1969, Alonso Salustiano Pereira e Dílson Teixeira Coelho; o da Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal era formado por José Marcondes Borges, Geraldo Luiz Pinto, Joanito Campos Júnior e, a partir de 1969, Elmo Ferreira, Renato Cruz e, de 1965, Geraldo Sílvio Natalino. Em 1966, ocorreu com pesar - a aposentadoria do velho mestre Alfred Beck Andersen. Sua presença lhana, desde os primórdios da ESAV, era parte integrante da Instituição,que, ao mesmo tempo, Prédio do Laticínios, em construção sentirá sua ausência e guardará dele gratas lembranças. Outro acontecimento de importância no ano de 1966 foi a construção do prédio para instalação do Laticínios. A antiga leiteria, há muito tempo em péssimo estado, com as velhas máquinas se desintegrando, foi mantida, até então, apenas para contemporizar, e, como foi dito anteriormente, derribada para ser aberto o alicerce do predio. 10 Em 1967, instalaram-se a Indústria de Conservas de Produtos de Origem Animal, no prédio hoje denominado de Alfred Beck Andersen, e a maquinaria do Laticínios. Edifício da Tecnologia dos Produtos de Origem Animal e de Laticínios Foi também instalada, em prédio próprio, a maquinaria para industrialização da farinha de mandioca. Parte da maquinaria para fabricação de farinha de mandioca 11 Feita a compra das máquinas para a indústria-piloto de óleos, ficou-se aguardando a construção do prédio onde seriam instaladas. Nessa altura dos acontecimentos, é dever de justiça e de gratidão dizer o papel importantíssimo que representaram para a instalação das indústriaspiloto as dotações concedidas à Instituição pelo GERCA-IBC, pela CAPES, pelo Projeto Purdue-Brasil e pelo governo mineiro e as máquinas doadas pela Fundação Rockefeller para a piloto de conservas, bem como a ajuda do exaluno Miguel Martins Chaves no desemPrensa da Piloto de Óleos baraço burocrático do material. Aposentado como professor pelo Estado de Minas Gerais, em 28 de fevereiro de 1967, José Marcondes Borges foi contratado pela UREMG, em 1º de março desse ano, como Diretor do Instituto de Tecnologia, e permaneceu no cargo até 14 de junho de 1969. De 1969 a 1971, foi pesquisador e Subdiretor do Centro de Pesquisas do Cacau, (CEPEC) da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC). Voltou à Instituição em 1º. de fevereiro de 1972, sendo nomeado Diretor da Imprensa Universitária e, em 2 de junho de 1972, novamente Chefe do Departamento de Tecnologia de Alimentos. Dessa fase de sua administração, o evento mais importante foi, em 1º. de agosto de 1974, o início do mestrado no Departamento de Tecnologia, em cooperação com a Escola de Veterinária de Belo Horizonte, Em 14 de outubro de 1974, deixou a Chefia do Departamento, voltou a dirigir a Divisão de Bioengenharia do CEPEC, da CEPLAC, e estagiou no Instituut voor Graan, Meel en Brood, em Wageningen, na Holanda. A ausência de informações sobre ensino, pesquisa e extensão praticados na Tecnologia de Alimentos deve-se ao fato de que isso implicaria fugir ao escopo deste trabalho, mas elas certamente podem ser encontradas nos relatórios anuais dos arquivos do Departamento. O ensino foi sempre muito bem cuidado; das pesquisas, serão citados apenas estes trabalhos, os mais importantes do período: Características industriais das variedades existentes e recém-introduzidas da cana-de-açúcar, Leite de soja, Pão de mandioca e soja, Industrialização de frutas tropicais e Aromatização do leite. Quanto à extensão, além das respostas a consultas e explanações adequadas aos visitantes, eram dadas aulas de aguardente de cana, vinho de laranja, doces e leite de soja na Semana do Fazendeiro. A continuação dessa história é incumbência de Geraldo Luiz Pinto. 12 REFERÊNCIAS BORGES, José Marcondes. Escola Superior de Agricultura - origem – desenvolvimento – atualidade. Viçosa, MG: UREMG, IMPRENSA Universitária, 1966. 88p. BORGES, José Marcondes; SABIONI, Gustavo Soares (Orgs.) Cópia do relatório do chefe da comissão de construção da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), Eng. João Carlos Bello Lisboa, ao secretário de Agricultura Djalma Pinheiro Chagas. Viçosa, MG: UFV, 2004, 89 p. BORGES, José Marcondes; SABIONI, Gustavo Soares; MAGALHÃES, Gilson Faria Potsch (Eds.). A Universidade Federal de Viçosa no Século XX. 2. ed. Viçosa, MG: Editora UFV, 2006. 671 p. JANGO JUNIOR, José Enir; LEÃO, Maria Ignez; ASSIS, Ângelo Adriano Faria de; OBEID, José Antônio (Eds). 80 anos de história do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG: UFV; DZO, 2007. 191 p. LISBOA, João Carlos Bello. Historico e actualidade da Escola Superior de Agricultura e Veterinaria. Belo Horizonte, MG, 1935. 49p. RELATÓRIOS Anuais do Departamento de Tecnologia Rural. RELATÓRIOS Anuais do Instituto de Tecnologia Rural. RELATÓRIOS Anuais do Departamento de Tecnologia de Alimentos. ROLFS, Peter Henry. Escola Superior de Agricultura e Veterinaria do Estado de Minas Geraes. Primeiro Anuário, 1927. Bello Horizonte: Secretaria de Agricultura, Industria, Terras, Viação e Obras Publicas do Estado de Minas Geraes, 1931. 91 p.