A formação do designer gráfico em Curitiba e sua
opinião quanto ao mercado editorial de revistas
The graphic designer undergraduation process in Curitiba and the magazines
editorial market
Wolanski, Beatriz; graduanda; Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Seefeld, Martina; graduanda; Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Resumo
O objetivo desta pesquisa é a investigação da influência da formação do designer em seus julgamentos
estéticos, opiniões e posterior habilidade de adequação de seu trabalho aos mais diversos públicos. A
partir de um levantamento histórico preliminar do ensino de design gráfico em Curitiba e de testes e
entrevistas com alunos, objetiva-se descobrir como se dá esta relação, utilizando o design gráfico
editorial de revistas populares e de elite como pano de fundo.
Palavras chave: ensino; design gráfico; popular.
Abstract
This research project main purpose is to investigate possible relations between the graphics
designer education and one’s aesthetic judgments, opinions and abilities to adapt one’s work
to different audiences. To figure out those relations, historic sceneries of Curitiba’s design
education models are drawn and tests and interviews are made, using editorial design of
popular and elite magazines as the research’s background.
Key words: education; graphic design; popular.
A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas
INTRODUÇÃO
O objetivo geral da pesquisa é estabelecer relações entre o gosto estético e a formação
acadêmica dos designers gráficos de Curitiba com a produção editorial de revistas populares.
Para alcançar este objetivo, os seguintes objetivos específicos foram definidos: identificar as
influências históricas e pedagógicas no desenvolvimento da grade curricular dos cursos de
design gráfico da PUC-PR e da UFPR; entender os pensamentos e ideologias por trás desses
cursos de design gráfico curitibanos; identificar a opinião dos estudantes de design gráfico em
relação ao projeto gráfico de revistas e definir a influência da formação acadêmica dos alunos
em suas opiniões acerca do projeto gráfico das revistas selecionadas.
Para atingir esses objetivos, foram realizadas entrevistas com estudantes e
coordenadores de cursos de design gráfico para coletar suas opiniões sobre a formação atual
do designer gráfico em Curitiba e sobre o projeto gráfico de revistas populares e de elite. Os
alunos ainda realizaram um teste no qual avaliavam as revistas “Vida Simples” e “Minha
Novela” a partir de critérios técnicos aprendidos durante o curso.
Considera-se que quanto mais e melhor se compreende a formação dos novos
designers mais se torna possível obter uma postura mais crítica em relação à universidade. A
investigação a respeito da interferência da formação do profissional na sua prática após a
graduação também pode apontar novos questionamentos e necessidades para a profissão e
para a evolução dos próprios cursos.
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DESENVOLVIMENTO
Fundamentação teórica
Para eliminar possíveis contradições entre o popular como sendo o produto que emana
do povo ou mesmo aquilo que adquire grande popularidade atingindo um grande número de
pessoas rapidamente, definiu-se, para os fins dessa pesquisa, que quando se utiliza o termo
“popular” este se refere ao popular-massivo, ou seja, o que é produto de uma indústria
cultural. Para reforçar esse conceito, tomou-se a definição de Adorno e Horkheimer (1986),
de que a cultura popular define um conjunto de manifestações não criadas pelo povo, mas
para o povo.
Toma-se por essencial, portanto, a característica de que o mercado editorial de revistas
não pode ser considerado neutro de prerrogativas e intenções e faz parte de um pensamento
capitalista de uma sociedade estratificada onde a produção para a massa emana de uma parte
da população que se propõe a decidir e publicar por ele. Logo, o designer gráfico, como
possível agente incluído nesse processo, deve conhecer esses princípios e poder atuar de
forma crítica nesse mercado. É necessário que, uma vez atuando no mercado, ele saiba
conhecê-lo e adaptar-se a ele, e ao mesmo tempo, conhecer o público do seu trabalho.
Dentro do universo de um curso de design gráfico pode-se refletir sobre o
comprometimento social da faculdade no que diz respeito a sua capacidade de conversar com
a sociedade em que está inserida e projetar objetivando não somente interesses acadêmicos,
mas também a aplicação do seu conhecimento nas necessidades de outras realidades. Não
obstante, seja por falta de conhecimento da sociedade, seja pela falta de interesse dos
estudantes e profissionais do design, nota-se um descompasso entre o material gráfico
produzido dentro da faculdade e aquele disponível nas ruas, para o cidadão comum.
Um dos motivos aos quais podemos atribuir esse descompasso é o fato de como se dá
a formação do designer gráfico no Brasil. Quando foi criada a primeira escola de ensino
superior de desenho industrial no Brasil (a ESDI), o currículo adotado foi o da Escola
Superior da Forma de Ulm, que já trazia uma carga funcionalista herdada da Bauhaus. Por
esse estilo funcionalista entende-se a ordenação, a clareza, a legibilidade, a facilidade de
decodificação, a rapidez de absorção da comunicação pelo observador, a subserviência do
quociente estético à otimização comunicacional, o dinamismo em prol da persuasão e a
adequação simples, rápida e econômica ao processo técnico no qual o projeto está
reproduzido (VILLAS BOAS, 1998).
Com a intenção de formar e capacitar profissionais na área de design, a escola
adotou o modelo da escola de Ulm. Entretanto, esse modelo foi incorporado de
forma descontextualizada, ignorando a realidade sócio-cultural do país e,
especificamente, o currículo adotado pela ESDI desconsiderou a realidade do setor
produtivo brasileiro, na medida em que não houve uma interlocução ou participação
entre os setores produtivos e a comissão que elaborou o projeto do curso. (DIAS,
2004)
A citação acima, retirada da tese de Maria Regina Álvares Dias (“O ensino do design:
a interdisciplinaridade na disciplina de projeto em design”, 2004), aponta a despreocupação
em adequar o ensino de design no Brasil com a cultura e conjuntura sócio-econômica do país.
Em 1975, havia cerca de 15 cursos de design no Brasil, todos com currículos e métodos de
ensino semelhantes aos adotados na ESDI, herdando a mesma lacuna de adequação sócioeconômica. Neste grupo, incluem-se os cursos de Desenho Industrial da UFPR e da PUC-PR,
ambos fundados em 1975.
A partir desse panorama, foram definidos os termos “revistas populares” e “revistas de
elite”, que foram utilizados ao longo da pesquisa. Essa definição baseou-se em dois critérios:
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a classe social a qual pertence o leitor e a adequação da revista a um estilo estético.
O primeiro critério define as revistas de elite como sendo aquelas com maior número
de leitores na classe A e as revistas populares aquelas com o maior número de leitores na
classe C.
De acordo com estudo realizado pelo Instituto Ipsos-Marplan, de 2003, a Editora Abril
(foco de nossa pesquisa) construiu uma “Tabela Geral de Perfil dos Leitores Abril” (anexo 1),
como forma de orientar seus futuros anunciantes. Esta tabela será utilizada de forma a dar
subsídio à definição dos termos “revistas de elite” e “revistas populares”.
As revistas mais lidas pela classe A são as revistas “Elle”, “Vida Simples”, “National
Geographic Brasil”, “Arquitetura e Construção” e “Mundo Estranho”. As menos lidas pela
classe A são as revistas “Sou + eu!”, “Viva Mais!”, “Minha Novela”, “ Loveteen” e “Tititi”.
Já as revistas mais lidas pela classe C são “Minha Novela”, “Tititi” e “Witch”,
enquanto as menos lidas são “Viagem e Turismo”, “Elle”, “Bons Fluidos”, “Vida Simples” e
“Bravo!”.
Quanto ao segundo critério, estabelece-se que as revistas de elite são aquelas que,
além de terem a maior parte de seus leitores na classe A, ainda adotam uma estética parecida
com aquela relativa ao funcionalismo da Bauhaus, citado acima. Já as revistas populares são
aquelas que tem como padrão estético o “kitsch”, conceito intimamente ligado ao popularmassivo no que concerne ao fato de ser algo produzido pelo povo, mas não para o povo.
Algumas características da estética “kitsch” são as linhas curvas e complexas, as ausências de
espaços vazios, cores contrastantes, uso de materiais baratos que imitam materiais mais
nobres, miniaturas e maxituras, tirar objetos de contexto e uso de modismos e outros recursos
de grande aceitação pela massa (FASCIONI, 2001).
Baseando-se nesses conceitos, foi definido como objeto de estudo as revistas “Minha
Novela” e “Vida Simples”, ambas da Editora Abril, para que sejam feitas as entrevistas tanto
com professores como com alunos. A primeira representará o conceito de revista popular
enquanto a segunda representará o grupo das revistas de elite, de acordo com os critérios
assinalados acima.
Figura 1: capa da revista Minha Novela
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Figura 2: capa da revista Vida Simples
METODOLOGIA
O projeto de pesquisa foi elaborado em quatro fases principais. A primeira fase
compreendia o levantamento bibliográfico da pesquisa e a definição dos termos utilizados. A
segunda fase dizia respeito à seleção da amostragem de revistas populares e de elite,
selecionadas a partir de uma análise crítica. Na fase três foram realizadas entrevistas com os
coordenadores dos cursos de design gráfico da UFPR e da PUC-PR e testes com 10 alunos do
último ano do curso de design gráfico da UFPR. A abordagem nesta fase foi indutiva e as
técnicas empregadas para os testes e entrevistas foram de observação direta intensiva entrevista semi estruturada, aplicação de teste e método indutivo. Finalmente na fase quatro
os dados coletados foram tabulados e discutidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entrevistas com coordenadores de curso de design gráfico de Curitiba
Como forma de complementar os resultados para investigação do primeiro problema,
foram realizadas entrevistas com o professor José Luiz Casella, atual diretor do curso de
Desenho Industrial - Programação Visual da Pontifícia Universidade Católica, e o professor
José Humberto Boguzewski, ex-coordenador do curso de design da Universidade Federal do
Paraná.
O formato da entrevista é semi-estruturado, sendo que dez questões foram abordadas,
no entanto algumas foram omitidas ou adicionadas como forma de não comprometer a
fluência da entrevista e evitar redundâncias.
Sobre a origem do curso, ambos os professores apontam a origem conjunta dos cursos
da PUC-PR e da UFPR: os dois surgiram em 1975, os primeiros cursos voltados para essa
área no sul do Brasil e por isso tiveram muitas semelhanças em sua formação e acabaram
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progredindo juntos.
No início dos dois cursos, o corpo docente era principalmente formado por professores
das áreas de artes plásticas, arquitetura e professores oriundos da ESDI, no Rio de Janeiro. O
professor Casella ressalta que UFPR e PUC-PR acabaram por dividir os professores por
algum tempo, já que na época não havia muitos profissionais formados na área. Por isso
mesmo, os dois cursos acabaram incorporando o projeto pedagógico da ESDI, que por sua
vez teve seu currículo adaptado da Escola de Ulm, que era baseada na Bauhaus.
Ao longo do tempo, ambos os currículos foram se adaptando e adquirindo o formato
atual. As matérias como estão dispostas hoje, segundo o professor Casella, “parecem
simplesmente obedecer a uma lógica de dificuldade, mas a real lógica é a do gradativo
crescimento da dependência de processo”. O professor José Humberto já entende tudo como
um processo e que não é possível dizer se o curso hoje é melhor ou pior do que era antes.
Durante a reforma do currículo da UFPR, muitas matérias que não condiziam com o perfil
profissional almejado pelo departamento foram eliminadas, o que foi um avanço, já que isso
abriu portas para várias outras disciplinas. No entanto, o professor José Humberto assinala
que “por outro lado, usamos com tanta vontade essa força de podar disciplinas que foi podado
demais. Hoje temos pouco contato com outros departamentos, outras disciplinas. Não
deveríamos ter sido tão rígidos”. Ainda nesse âmbito, o professor Humberto esclarece o
porquê da diminuição da carga de cinco anos do curso para apenas quatro. Além da “poda” de
disciplinas, a proposta inicial era de uma graduação mais generalista de quatro anos seguida
por uma especialização de um ano em alguma área de design gráfico, como editorial,
embalagem, web, etc. No entanto, se as especializações não forem concretizadas, objetivar-seá a volta de um currículo de cinco anos.
Quando perguntamos aos professores sobre o perfil desejado para os profissionais
formados pelos dois cursos, não há grandes divergências. O professor Casella enumera de
forma bem pontual o que é esperado do formando da PUC-PR:
• interpretar o contexto
• identificar oportunidades
• apresentar uma resposta a essa oportunidade
• lançar conceitos
• propor alternativas dentro do conceito/modelo
• estabelecer critérios de design, uma pré-série, uma analise, como manter o modelo
funcional
• implementar esses modelos, meios de processo
• pensar na distribuição de mercado e manutenção de projeto.
• preocupação com a questão da sustentabilidade.
• em todos os meios, mesmo sem ser uma assinatura do curso, é enxergar o designer
como gestor de projeto.
• considerando que entra num contexto de empresa, ser gestor.
O professor Humberto também aponta as habilidades do designer de identificar as
diversas manifestações do design na sociedade, buscar interações entre diversas áreas, ter uma
postura cidadã, além da profissional, preocupar-se com a sustentabilidade dos projetos
realizados. Ele ainda ressalta o perfil generalista do curso, ou seja, o aluno deve ter essa noção
das diversas áreas do design gráfico. Outro ponto abordado é o fato de o curso da UFPR não
ter caráter técnico, ou seja, não se objetiva a formação de operadores de software.
Quando é mostrada a revista Minha Novela aos professores e perguntado se há alguma
preocupação da universidade em formar para a concepção de materiais voltados para o
público popular, as opiniões dos professores se dividem. O professor Casella afirma que “a
universidade simplesmente ignora este tipo de material, mas deveria dar mais atenção a este
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público”. Segundo ele, design e inovação são muito associados à classe A, mas o mercado em
maior expansão é o voltado para as classes C e D. Por isso, o designer deve começar a
considerar e estudar este tipo de público, entender suas necessidades e desejos, já que a
economia precisa dessa fatia de mercado.
Já o professor José Humberto nota que, apesar de voltada para um público popular, a
revista não passa da organização de texto e imagem, que é para o que os alunos estão
habilitados. Nesse caso ele defende que a universidade prepara para qualquer tipo de projeto,
basta que o aluno se identifique com o tema e saiba adequar o projeto gráfico a ele.
A partir da prévia fundamentação teórica e das entrevistas acima, é possível ver que
por motivos históricos houve certa influência Bauhausiana na educação dos estudantes de
design de Curitiba. No entanto, não se pode considerar essa primeira exploração como
absoluta e por isso foram realizados testes e entrevistas com alunos para ver como se
manifesta essa influência na emissão de opiniões.
Entrevistas com alunos de design gráfico de Curitiba
A tabulação dos dados obtidos através dos testes e das entrevistas com os 10 alunos do
último ano do curso de design gráfico da UFPR se deu da seguinte forma: as respostas foram
listadas e agrupadas quando semelhantes. A seguir encontram-se os resultados mais
relevantes e algumas respostas interessantes ditas pelos alunos.
Inicialmente, foi perguntado aos alunos no teste se o projeto gráfico das revistas
agradava esteticamente. O projeto de Vida Simples agradou a maioria pelo uso de cores,
tipografia e diagramação. A maioria disse que o projeto de Minha Novela não agradava, tendo
informação em excesso e problemas de diagramação em geral, enquanto os que gostaram
apontaram que era adequado ao público e que tinha certo cuidado com a diagramação.
A segunda questão perguntava a opinião dos alunos em termos técnicos, e a maioria
dos alunos utilizaram os mesmos parâmetros como diagramação, hierarquia e coerência com
o tema para explicar suas respostas.
Podemos atentar aqui para a variedade de opiniões sobre os projetos gráficos,
inclusive a respeito da mesma revista. Enquanto alguns alunos apontam para o fato de a
revista “Minha Novela” apresentar problemas de hierarquia, outros disseram que apresenta
boa hierarquia. Sobre a revista “Vida simples”, alunos comentaram o bom tratamento gráfico
das imagens e ao mesmo tempo a falta de tratamento das imagens. Atenta-se também para o
fato de vários alunos terem dito que o projeto gráfico de “Minha Novela” está de acordo com
o gosto do seu público e afirmarem que é fator de influência na compra. Questiona-se, porém,
se esse agrado do público procede e se o público popular realmente prefere e gosta desse tipo
de projeto.
A terceira questão solicitava aos alunos que avaliassem o projeto das revistas,
posicionado-os em uma escala entre conceitos opostos, apresentados em uma tabela. A
mesma tabela utilizada está representada abaixo e apresenta o número de vezes que o projeto
foi qualificado em cada posição na escala pelos alunos.
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A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas
feio
confuso
ilegível
cores vibrantes
excesso de elemento
hierarquia
inexistente
inadequação do
tema
predomínio de
imagem
*unidade
organização
familiar
rápida absorção
estático
simetria
2
3
3
1
2
2
1
2
1
2
4
5
bonito
claro
legível
cores suaves
falta de elementos
3
3
2
2
1
1
3
hierarquia visível
1
1
2
1
4
1
1
2
1
2
1
1
3
2
2
1
adequação ao
tema
predomínio de
texto
aleatoriedade
desorganização
estranho
lenta absorção
dinâmico
assimetria
Tabela 1. Respostas para o projeto de Vida Simples
feio
confuso
ilegível
cores vibrantes
1
excesso de elemento 2
hierarquia
inexistente
inadequação do
tema
predomínio de
imagem
*unidade
organização
familiar
rápida absorção
estático
simetria
1
2
2
3
3
2
3
3
2
bonito
claro
legível
cores suaves
falta de elementos
2
1
3
3
hierarquia visível
2
adequação ao tema
2
2
1
predomínio de texto
3
1
3
4
1
2
1
1
2
aleatoriedade
desorganização
estranho
lenta absorção
dinâmico
assimetria
1
2
1
1
1
2
2
1
Tabela 2. Respostas para o projeto de Minha Novela
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A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas
Figura 3. Comparação das tendências entre as duas respostas. Em azul as tendências de resposta para a
revista Vida Simples e em vermelho as tendências para a revista Minha Novela.
Quando da classificação das revistas entre esses conceitos opostos, obtivemos critérios
com grande disparidade de classificação sobre uma mesma revista e outros nos quais houve
bastante concordância entre os entrevistados. Os critérios com maior variação foram simetria,
predomínio de imagem/predomínio de texto, hierarquia, cores vibrantes ou cores suaves. Os
critérios de maior concordância foram legibilidade (apenas para a revista Vida Simples),
claro/confuso, familiar/estranho.
Interessante apontar que os critérios mais objetivos da análise, como legibilidade,
simetria, predominância de texto ou imagem e unidade de projeto gráfico, critérios
enfatizados e aprendidos durante o curso na faculdade não tiveram maior unidade de resposta.
Esse fato é interessante ao analisar-se que todos os alunos entrevistados presenciaram o
mesmo curso e provavelmente foram submetidos ao mesmo ensino.
Com essa avaliação não se pode afirmar que o curso formou critérios de análise que
surtem o mesmo efeito nos alunos, uma vez que se obteve respostas diferentes. Isso pode
indicar que:
• o número de alunos da amostra foi insuficiente para demonstrar tendência
• os critérios apontados não foram suficientes para avaliar os projetos gráficos
• os dois projetos gráficos não são tão diferentes como pressuposto.
Também é possível inferir que sendo suficientes o número de alunos ou não, o fato de
a avaliação ter sido semelhante para as duas revistas chama a atenção por terem projetos
gráficos muito diferentes visualmente, com conteúdo e abordagem distinta. A opinião dos
alunos quanto ao projeto gráfico confirma que são revistas diferentes, mas os critérios
objetivos/formais sugeridos no teste não foram suficientes para diferenciá-las.
Pode-se perceber, portanto, a necessidade de critérios mais eficazes quando da
qualificação de um projeto gráfico, critérios que possam obter maior tendência de respostas e
apontar de forma mais clara as diferenças entre as revistas.
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Após o teste foi realizada uma entrevista com os alunos para melhor entender suas
respostas.
Perguntou-se quais haviam sido os critérios utilizados para responder se o aluno
gostava ou não da revista. Foram citados critérios pessoais 2 vezes, enquanto que 7 vezes de
conteúdo e 23 vezes critérios técnicos. Interessante notar aqui que a tendência de agregar o
gosto pessoal pela temática da revista não se evidenciou na primeira pergunta, que abordava
justamente a opinião dos alunos. A maioria dos critérios apontados foram técnicos, o que
demonstra que os alunos tendem a apresentar critérios técnicos em suas avaliações de gosto
excluindo fatores pessoais de preferência, que podem ser decisivos na escolha de projetos
futuros para o designer.
Todos os alunos responderam positivamente quando perguntados se a faculdade havia
interferido no senso crítico e na formação do seu olhar estético, citando que ela ajuda a
identificar, embasar e definir que desagrada, desenvolve um olhar mais crítico, fornece
repertório visual e contatos. O aluno G.S. afirmou que todo seu gosto estético é determinado
pelo seu conhecimento técnico em design, e A.S. disse que se sente na obrigação de gostar do
design feito para designers.
Quando perguntados se teriam respondido da mesma forma no primeiro ano da
faculdade, sete alunos disseram que não e três que teriam tido as mesmas impressões mas sem
embasamento para justificá-las. Sobre essa questão o entrevistado RA. afirma que sem ter
cursado a faculdade “teria dado uma resposta diferente, por não ter essa visão do design de
que o produto é configurado para agradar o seu público, sem precisar ser o ‘top’ sempre.”.
Metade dos alunos afirmaram que o projeto gráfico de Minha Novela não mereceria
um redesign, porém apenas um disse que gostaria de ter seu nome vinculado a esse projeto
gráfico, pelo desafio que enxerga na proposta. Nove dos dez entrevistados gostariam de ter
seu nome vinculado ao projeto da revista Vida Simples. Sobre essa pergunta temos ainda que
mesmo os alunos que reconheceram algumas qualidades no projeto gráfico de Minha Novela
recusaram-se a ter seus nomes atrelados a ela por conta do conteúdo. A partir desse fato podese questionar até que ponto a profissão do designer pode ser apenas técnica, já que muitas
propostas de projeto podem ser recusadas por conta do conteúdo abordado e identificação
pessoal. Como apontado pelo professor Humberto, a formação acadêmica do aluno de design
deveria ser objetiva o suficiente para que ele fosse capacitado a resolver qualquer tipo de
problema de design e se adaptar a qualquer tipo de público.
Sobre um novo projeto gráfico para a Minha Novela, G.C. afirma que a revista
“Mereceria um redesign porque não parece se importar em mostrar bem o que está
mostrando”. Já A.S disse que “tem uma certa padronização de títulos, tem uma separação,
uma certa navegação, padronização de cores. Dá para ver que foi pensado, tem uma
preocupação, não se pode desmerecer totalmente”. G.S. alegou que não necessita de um
redesign porque “já está de acordo com o público alvo e é parecido com todas as outras
revistas da categoria. Se parecesse a Vida Simples ninguém compraria”. A.C. arriscou que o
público da revista talvez nem saiba interpretar um material de maior qualidade, e que o
projeto atual chama bastante atenção e estimula a compra. Alguns porém afirmaram que um
projeto melhor talvez fosse mais agradável e notado pelo público.
Embora alguns alunos afirmassem que a universidade deveria fornecer subsídios
suficientes para capacitar o aluno a realizar projetos para qualquer tipo de público, a maioria
acha que a universidade deveria ter algum engajamento com projetos destinados ao público
popular. G.S. observou que projetos assim “ajudariam a entender que a eficácia
comunicacional do design não é sempre fazer algo clean, de alto padrão estético”. O
comentário de L.G. foi interessante ao dizer que “Para esse público, talvez design não tenha
importância. As classes C e D não pagam normalmente por design”.
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Observou-se, através das entrevistas com coordenadores e em algumas entrevistas com
alunos, que tendências bauhausianas e minimalistas foram essenciais no direcionamento da
formação dos cursos, mas através dessa pesquisa pode-se concluir que apenas esses critérios
formais não foram suficientes para a caracterização das revistas, já que foi possível identificar
os mesmos critérios em revistas de projeto muito distinto.
CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da tabulação das entrevistas com os coordenadores dos cursos de design da
UFPR e da PUC-PR, é possível observar que estes cursos tiveram influência histórica da
Bauhaus e da Escola de Ulm, ambas conhecidas por adotarem um estilo funcionalista e
minimalista. Os alunos entrevistados reconhecem a importância e a influência dos conceitos
aprendidos durante os quatro anos de curso na formação de seus julgamentos estéticos, logo,
tendem a preferir e classificar como melhores materiais gráficos com as características ditas
bauhausianas.
Durante a avaliação das revistas por parte dos alunos, foi possível perceber que as
duas revistas receberam avaliações muito parecidas, mesmo sendo visualmente distintas,
demonstrando a insuficiência dos critérios ditos “técnicos” para a avaliação.
Outro fator que pode ser notado é uma tendência a rejeição dos materiais populares
por parte dos futuros designers. Mesmo não avaliando de forma negativa a revista Minha
Novela, apenas um aluno dos 10 entrevistados demonstrou interesse em realizar projetos
voltados para o público de classe baixa, o que demonstra a influência dos gostos pessoais do
designer na concepção de um projeto.
Apesar da amostra reduzida de alunos, as inferências feitas mostram a forte relação
entre o estudante e o ensino que recebe, inclusive no que diz respeito às ideologias e falhas
que são transmitidas ao longo do tempo. A partir destas observações foi possível formular
alguns questionamentos que podem ser investigados posteriormente:
1. Que outros critérios objetivos, que não os apontados pela Bauhaus, podem
caracterizar e qualificar projetos gráficos?
2. A universidade deveria apresentar durante a formação do aluno um maior preparo
para desvincular questões de gosto pessoal para a realização de projetos?
3. Que fatores podem interferir nas escolhas projetuais de um futuro aluno de design?
4. O público de revistas como “Minha Novela” realmente se identifica com o projeto
gráfico que ela apresenta, da forma que é subentendido por alguns estudantes?
5. De que forma a Universidade poderia focar melhor em projetos voltados para o
público popular?
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WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. Martins Fontes. São Paulo, 1989. pp. 70-110.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos alunos da UFPR que colaboraram ao realizar o teste e a entrevista conosco,
aos professores José Luiz Casella e José Humberto Boguzewski pela conversa e à professora
Carla Spinillo pela orientação e apoio.
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