A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas The graphic designer undergraduation process in Curitiba and the magazines editorial market Wolanski, Beatriz; graduanda; Universidade Federal do Paraná [email protected] Seefeld, Martina; graduanda; Universidade Federal do Paraná [email protected] Resumo O objetivo desta pesquisa é a investigação da influência da formação do designer em seus julgamentos estéticos, opiniões e posterior habilidade de adequação de seu trabalho aos mais diversos públicos. A partir de um levantamento histórico preliminar do ensino de design gráfico em Curitiba e de testes e entrevistas com alunos, objetiva-se descobrir como se dá esta relação, utilizando o design gráfico editorial de revistas populares e de elite como pano de fundo. Palavras chave: ensino; design gráfico; popular. Abstract This research project main purpose is to investigate possible relations between the graphics designer education and one’s aesthetic judgments, opinions and abilities to adapt one’s work to different audiences. To figure out those relations, historic sceneries of Curitiba’s design education models are drawn and tests and interviews are made, using editorial design of popular and elite magazines as the research’s background. Key words: education; graphic design; popular. A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas INTRODUÇÃO O objetivo geral da pesquisa é estabelecer relações entre o gosto estético e a formação acadêmica dos designers gráficos de Curitiba com a produção editorial de revistas populares. Para alcançar este objetivo, os seguintes objetivos específicos foram definidos: identificar as influências históricas e pedagógicas no desenvolvimento da grade curricular dos cursos de design gráfico da PUC-PR e da UFPR; entender os pensamentos e ideologias por trás desses cursos de design gráfico curitibanos; identificar a opinião dos estudantes de design gráfico em relação ao projeto gráfico de revistas e definir a influência da formação acadêmica dos alunos em suas opiniões acerca do projeto gráfico das revistas selecionadas. Para atingir esses objetivos, foram realizadas entrevistas com estudantes e coordenadores de cursos de design gráfico para coletar suas opiniões sobre a formação atual do designer gráfico em Curitiba e sobre o projeto gráfico de revistas populares e de elite. Os alunos ainda realizaram um teste no qual avaliavam as revistas “Vida Simples” e “Minha Novela” a partir de critérios técnicos aprendidos durante o curso. Considera-se que quanto mais e melhor se compreende a formação dos novos designers mais se torna possível obter uma postura mais crítica em relação à universidade. A investigação a respeito da interferência da formação do profissional na sua prática após a graduação também pode apontar novos questionamentos e necessidades para a profissão e para a evolução dos próprios cursos. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas DESENVOLVIMENTO Fundamentação teórica Para eliminar possíveis contradições entre o popular como sendo o produto que emana do povo ou mesmo aquilo que adquire grande popularidade atingindo um grande número de pessoas rapidamente, definiu-se, para os fins dessa pesquisa, que quando se utiliza o termo “popular” este se refere ao popular-massivo, ou seja, o que é produto de uma indústria cultural. Para reforçar esse conceito, tomou-se a definição de Adorno e Horkheimer (1986), de que a cultura popular define um conjunto de manifestações não criadas pelo povo, mas para o povo. Toma-se por essencial, portanto, a característica de que o mercado editorial de revistas não pode ser considerado neutro de prerrogativas e intenções e faz parte de um pensamento capitalista de uma sociedade estratificada onde a produção para a massa emana de uma parte da população que se propõe a decidir e publicar por ele. Logo, o designer gráfico, como possível agente incluído nesse processo, deve conhecer esses princípios e poder atuar de forma crítica nesse mercado. É necessário que, uma vez atuando no mercado, ele saiba conhecê-lo e adaptar-se a ele, e ao mesmo tempo, conhecer o público do seu trabalho. Dentro do universo de um curso de design gráfico pode-se refletir sobre o comprometimento social da faculdade no que diz respeito a sua capacidade de conversar com a sociedade em que está inserida e projetar objetivando não somente interesses acadêmicos, mas também a aplicação do seu conhecimento nas necessidades de outras realidades. Não obstante, seja por falta de conhecimento da sociedade, seja pela falta de interesse dos estudantes e profissionais do design, nota-se um descompasso entre o material gráfico produzido dentro da faculdade e aquele disponível nas ruas, para o cidadão comum. Um dos motivos aos quais podemos atribuir esse descompasso é o fato de como se dá a formação do designer gráfico no Brasil. Quando foi criada a primeira escola de ensino superior de desenho industrial no Brasil (a ESDI), o currículo adotado foi o da Escola Superior da Forma de Ulm, que já trazia uma carga funcionalista herdada da Bauhaus. Por esse estilo funcionalista entende-se a ordenação, a clareza, a legibilidade, a facilidade de decodificação, a rapidez de absorção da comunicação pelo observador, a subserviência do quociente estético à otimização comunicacional, o dinamismo em prol da persuasão e a adequação simples, rápida e econômica ao processo técnico no qual o projeto está reproduzido (VILLAS BOAS, 1998). Com a intenção de formar e capacitar profissionais na área de design, a escola adotou o modelo da escola de Ulm. Entretanto, esse modelo foi incorporado de forma descontextualizada, ignorando a realidade sócio-cultural do país e, especificamente, o currículo adotado pela ESDI desconsiderou a realidade do setor produtivo brasileiro, na medida em que não houve uma interlocução ou participação entre os setores produtivos e a comissão que elaborou o projeto do curso. (DIAS, 2004) A citação acima, retirada da tese de Maria Regina Álvares Dias (“O ensino do design: a interdisciplinaridade na disciplina de projeto em design”, 2004), aponta a despreocupação em adequar o ensino de design no Brasil com a cultura e conjuntura sócio-econômica do país. Em 1975, havia cerca de 15 cursos de design no Brasil, todos com currículos e métodos de ensino semelhantes aos adotados na ESDI, herdando a mesma lacuna de adequação sócioeconômica. Neste grupo, incluem-se os cursos de Desenho Industrial da UFPR e da PUC-PR, ambos fundados em 1975. A partir desse panorama, foram definidos os termos “revistas populares” e “revistas de elite”, que foram utilizados ao longo da pesquisa. Essa definição baseou-se em dois critérios: 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas a classe social a qual pertence o leitor e a adequação da revista a um estilo estético. O primeiro critério define as revistas de elite como sendo aquelas com maior número de leitores na classe A e as revistas populares aquelas com o maior número de leitores na classe C. De acordo com estudo realizado pelo Instituto Ipsos-Marplan, de 2003, a Editora Abril (foco de nossa pesquisa) construiu uma “Tabela Geral de Perfil dos Leitores Abril” (anexo 1), como forma de orientar seus futuros anunciantes. Esta tabela será utilizada de forma a dar subsídio à definição dos termos “revistas de elite” e “revistas populares”. As revistas mais lidas pela classe A são as revistas “Elle”, “Vida Simples”, “National Geographic Brasil”, “Arquitetura e Construção” e “Mundo Estranho”. As menos lidas pela classe A são as revistas “Sou + eu!”, “Viva Mais!”, “Minha Novela”, “ Loveteen” e “Tititi”. Já as revistas mais lidas pela classe C são “Minha Novela”, “Tititi” e “Witch”, enquanto as menos lidas são “Viagem e Turismo”, “Elle”, “Bons Fluidos”, “Vida Simples” e “Bravo!”. Quanto ao segundo critério, estabelece-se que as revistas de elite são aquelas que, além de terem a maior parte de seus leitores na classe A, ainda adotam uma estética parecida com aquela relativa ao funcionalismo da Bauhaus, citado acima. Já as revistas populares são aquelas que tem como padrão estético o “kitsch”, conceito intimamente ligado ao popularmassivo no que concerne ao fato de ser algo produzido pelo povo, mas não para o povo. Algumas características da estética “kitsch” são as linhas curvas e complexas, as ausências de espaços vazios, cores contrastantes, uso de materiais baratos que imitam materiais mais nobres, miniaturas e maxituras, tirar objetos de contexto e uso de modismos e outros recursos de grande aceitação pela massa (FASCIONI, 2001). Baseando-se nesses conceitos, foi definido como objeto de estudo as revistas “Minha Novela” e “Vida Simples”, ambas da Editora Abril, para que sejam feitas as entrevistas tanto com professores como com alunos. A primeira representará o conceito de revista popular enquanto a segunda representará o grupo das revistas de elite, de acordo com os critérios assinalados acima. Figura 1: capa da revista Minha Novela 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas Figura 2: capa da revista Vida Simples METODOLOGIA O projeto de pesquisa foi elaborado em quatro fases principais. A primeira fase compreendia o levantamento bibliográfico da pesquisa e a definição dos termos utilizados. A segunda fase dizia respeito à seleção da amostragem de revistas populares e de elite, selecionadas a partir de uma análise crítica. Na fase três foram realizadas entrevistas com os coordenadores dos cursos de design gráfico da UFPR e da PUC-PR e testes com 10 alunos do último ano do curso de design gráfico da UFPR. A abordagem nesta fase foi indutiva e as técnicas empregadas para os testes e entrevistas foram de observação direta intensiva entrevista semi estruturada, aplicação de teste e método indutivo. Finalmente na fase quatro os dados coletados foram tabulados e discutidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entrevistas com coordenadores de curso de design gráfico de Curitiba Como forma de complementar os resultados para investigação do primeiro problema, foram realizadas entrevistas com o professor José Luiz Casella, atual diretor do curso de Desenho Industrial - Programação Visual da Pontifícia Universidade Católica, e o professor José Humberto Boguzewski, ex-coordenador do curso de design da Universidade Federal do Paraná. O formato da entrevista é semi-estruturado, sendo que dez questões foram abordadas, no entanto algumas foram omitidas ou adicionadas como forma de não comprometer a fluência da entrevista e evitar redundâncias. Sobre a origem do curso, ambos os professores apontam a origem conjunta dos cursos da PUC-PR e da UFPR: os dois surgiram em 1975, os primeiros cursos voltados para essa área no sul do Brasil e por isso tiveram muitas semelhanças em sua formação e acabaram 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas progredindo juntos. No início dos dois cursos, o corpo docente era principalmente formado por professores das áreas de artes plásticas, arquitetura e professores oriundos da ESDI, no Rio de Janeiro. O professor Casella ressalta que UFPR e PUC-PR acabaram por dividir os professores por algum tempo, já que na época não havia muitos profissionais formados na área. Por isso mesmo, os dois cursos acabaram incorporando o projeto pedagógico da ESDI, que por sua vez teve seu currículo adaptado da Escola de Ulm, que era baseada na Bauhaus. Ao longo do tempo, ambos os currículos foram se adaptando e adquirindo o formato atual. As matérias como estão dispostas hoje, segundo o professor Casella, “parecem simplesmente obedecer a uma lógica de dificuldade, mas a real lógica é a do gradativo crescimento da dependência de processo”. O professor José Humberto já entende tudo como um processo e que não é possível dizer se o curso hoje é melhor ou pior do que era antes. Durante a reforma do currículo da UFPR, muitas matérias que não condiziam com o perfil profissional almejado pelo departamento foram eliminadas, o que foi um avanço, já que isso abriu portas para várias outras disciplinas. No entanto, o professor José Humberto assinala que “por outro lado, usamos com tanta vontade essa força de podar disciplinas que foi podado demais. Hoje temos pouco contato com outros departamentos, outras disciplinas. Não deveríamos ter sido tão rígidos”. Ainda nesse âmbito, o professor Humberto esclarece o porquê da diminuição da carga de cinco anos do curso para apenas quatro. Além da “poda” de disciplinas, a proposta inicial era de uma graduação mais generalista de quatro anos seguida por uma especialização de um ano em alguma área de design gráfico, como editorial, embalagem, web, etc. No entanto, se as especializações não forem concretizadas, objetivar-seá a volta de um currículo de cinco anos. Quando perguntamos aos professores sobre o perfil desejado para os profissionais formados pelos dois cursos, não há grandes divergências. O professor Casella enumera de forma bem pontual o que é esperado do formando da PUC-PR: • interpretar o contexto • identificar oportunidades • apresentar uma resposta a essa oportunidade • lançar conceitos • propor alternativas dentro do conceito/modelo • estabelecer critérios de design, uma pré-série, uma analise, como manter o modelo funcional • implementar esses modelos, meios de processo • pensar na distribuição de mercado e manutenção de projeto. • preocupação com a questão da sustentabilidade. • em todos os meios, mesmo sem ser uma assinatura do curso, é enxergar o designer como gestor de projeto. • considerando que entra num contexto de empresa, ser gestor. O professor Humberto também aponta as habilidades do designer de identificar as diversas manifestações do design na sociedade, buscar interações entre diversas áreas, ter uma postura cidadã, além da profissional, preocupar-se com a sustentabilidade dos projetos realizados. Ele ainda ressalta o perfil generalista do curso, ou seja, o aluno deve ter essa noção das diversas áreas do design gráfico. Outro ponto abordado é o fato de o curso da UFPR não ter caráter técnico, ou seja, não se objetiva a formação de operadores de software. Quando é mostrada a revista Minha Novela aos professores e perguntado se há alguma preocupação da universidade em formar para a concepção de materiais voltados para o público popular, as opiniões dos professores se dividem. O professor Casella afirma que “a universidade simplesmente ignora este tipo de material, mas deveria dar mais atenção a este 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas público”. Segundo ele, design e inovação são muito associados à classe A, mas o mercado em maior expansão é o voltado para as classes C e D. Por isso, o designer deve começar a considerar e estudar este tipo de público, entender suas necessidades e desejos, já que a economia precisa dessa fatia de mercado. Já o professor José Humberto nota que, apesar de voltada para um público popular, a revista não passa da organização de texto e imagem, que é para o que os alunos estão habilitados. Nesse caso ele defende que a universidade prepara para qualquer tipo de projeto, basta que o aluno se identifique com o tema e saiba adequar o projeto gráfico a ele. A partir da prévia fundamentação teórica e das entrevistas acima, é possível ver que por motivos históricos houve certa influência Bauhausiana na educação dos estudantes de design de Curitiba. No entanto, não se pode considerar essa primeira exploração como absoluta e por isso foram realizados testes e entrevistas com alunos para ver como se manifesta essa influência na emissão de opiniões. Entrevistas com alunos de design gráfico de Curitiba A tabulação dos dados obtidos através dos testes e das entrevistas com os 10 alunos do último ano do curso de design gráfico da UFPR se deu da seguinte forma: as respostas foram listadas e agrupadas quando semelhantes. A seguir encontram-se os resultados mais relevantes e algumas respostas interessantes ditas pelos alunos. Inicialmente, foi perguntado aos alunos no teste se o projeto gráfico das revistas agradava esteticamente. O projeto de Vida Simples agradou a maioria pelo uso de cores, tipografia e diagramação. A maioria disse que o projeto de Minha Novela não agradava, tendo informação em excesso e problemas de diagramação em geral, enquanto os que gostaram apontaram que era adequado ao público e que tinha certo cuidado com a diagramação. A segunda questão perguntava a opinião dos alunos em termos técnicos, e a maioria dos alunos utilizaram os mesmos parâmetros como diagramação, hierarquia e coerência com o tema para explicar suas respostas. Podemos atentar aqui para a variedade de opiniões sobre os projetos gráficos, inclusive a respeito da mesma revista. Enquanto alguns alunos apontam para o fato de a revista “Minha Novela” apresentar problemas de hierarquia, outros disseram que apresenta boa hierarquia. Sobre a revista “Vida simples”, alunos comentaram o bom tratamento gráfico das imagens e ao mesmo tempo a falta de tratamento das imagens. Atenta-se também para o fato de vários alunos terem dito que o projeto gráfico de “Minha Novela” está de acordo com o gosto do seu público e afirmarem que é fator de influência na compra. Questiona-se, porém, se esse agrado do público procede e se o público popular realmente prefere e gosta desse tipo de projeto. A terceira questão solicitava aos alunos que avaliassem o projeto das revistas, posicionado-os em uma escala entre conceitos opostos, apresentados em uma tabela. A mesma tabela utilizada está representada abaixo e apresenta o número de vezes que o projeto foi qualificado em cada posição na escala pelos alunos. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas feio confuso ilegível cores vibrantes excesso de elemento hierarquia inexistente inadequação do tema predomínio de imagem *unidade organização familiar rápida absorção estático simetria 2 3 3 1 2 2 1 2 1 2 4 5 bonito claro legível cores suaves falta de elementos 3 3 2 2 1 1 3 hierarquia visível 1 1 2 1 4 1 1 2 1 2 1 1 3 2 2 1 adequação ao tema predomínio de texto aleatoriedade desorganização estranho lenta absorção dinâmico assimetria Tabela 1. Respostas para o projeto de Vida Simples feio confuso ilegível cores vibrantes 1 excesso de elemento 2 hierarquia inexistente inadequação do tema predomínio de imagem *unidade organização familiar rápida absorção estático simetria 1 2 2 3 3 2 3 3 2 bonito claro legível cores suaves falta de elementos 2 1 3 3 hierarquia visível 2 adequação ao tema 2 2 1 predomínio de texto 3 1 3 4 1 2 1 1 2 aleatoriedade desorganização estranho lenta absorção dinâmico assimetria 1 2 1 1 1 2 2 1 Tabela 2. Respostas para o projeto de Minha Novela 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas Figura 3. Comparação das tendências entre as duas respostas. Em azul as tendências de resposta para a revista Vida Simples e em vermelho as tendências para a revista Minha Novela. Quando da classificação das revistas entre esses conceitos opostos, obtivemos critérios com grande disparidade de classificação sobre uma mesma revista e outros nos quais houve bastante concordância entre os entrevistados. Os critérios com maior variação foram simetria, predomínio de imagem/predomínio de texto, hierarquia, cores vibrantes ou cores suaves. Os critérios de maior concordância foram legibilidade (apenas para a revista Vida Simples), claro/confuso, familiar/estranho. Interessante apontar que os critérios mais objetivos da análise, como legibilidade, simetria, predominância de texto ou imagem e unidade de projeto gráfico, critérios enfatizados e aprendidos durante o curso na faculdade não tiveram maior unidade de resposta. Esse fato é interessante ao analisar-se que todos os alunos entrevistados presenciaram o mesmo curso e provavelmente foram submetidos ao mesmo ensino. Com essa avaliação não se pode afirmar que o curso formou critérios de análise que surtem o mesmo efeito nos alunos, uma vez que se obteve respostas diferentes. Isso pode indicar que: • o número de alunos da amostra foi insuficiente para demonstrar tendência • os critérios apontados não foram suficientes para avaliar os projetos gráficos • os dois projetos gráficos não são tão diferentes como pressuposto. Também é possível inferir que sendo suficientes o número de alunos ou não, o fato de a avaliação ter sido semelhante para as duas revistas chama a atenção por terem projetos gráficos muito diferentes visualmente, com conteúdo e abordagem distinta. A opinião dos alunos quanto ao projeto gráfico confirma que são revistas diferentes, mas os critérios objetivos/formais sugeridos no teste não foram suficientes para diferenciá-las. Pode-se perceber, portanto, a necessidade de critérios mais eficazes quando da qualificação de um projeto gráfico, critérios que possam obter maior tendência de respostas e apontar de forma mais clara as diferenças entre as revistas. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas Após o teste foi realizada uma entrevista com os alunos para melhor entender suas respostas. Perguntou-se quais haviam sido os critérios utilizados para responder se o aluno gostava ou não da revista. Foram citados critérios pessoais 2 vezes, enquanto que 7 vezes de conteúdo e 23 vezes critérios técnicos. Interessante notar aqui que a tendência de agregar o gosto pessoal pela temática da revista não se evidenciou na primeira pergunta, que abordava justamente a opinião dos alunos. A maioria dos critérios apontados foram técnicos, o que demonstra que os alunos tendem a apresentar critérios técnicos em suas avaliações de gosto excluindo fatores pessoais de preferência, que podem ser decisivos na escolha de projetos futuros para o designer. Todos os alunos responderam positivamente quando perguntados se a faculdade havia interferido no senso crítico e na formação do seu olhar estético, citando que ela ajuda a identificar, embasar e definir que desagrada, desenvolve um olhar mais crítico, fornece repertório visual e contatos. O aluno G.S. afirmou que todo seu gosto estético é determinado pelo seu conhecimento técnico em design, e A.S. disse que se sente na obrigação de gostar do design feito para designers. Quando perguntados se teriam respondido da mesma forma no primeiro ano da faculdade, sete alunos disseram que não e três que teriam tido as mesmas impressões mas sem embasamento para justificá-las. Sobre essa questão o entrevistado RA. afirma que sem ter cursado a faculdade “teria dado uma resposta diferente, por não ter essa visão do design de que o produto é configurado para agradar o seu público, sem precisar ser o ‘top’ sempre.”. Metade dos alunos afirmaram que o projeto gráfico de Minha Novela não mereceria um redesign, porém apenas um disse que gostaria de ter seu nome vinculado a esse projeto gráfico, pelo desafio que enxerga na proposta. Nove dos dez entrevistados gostariam de ter seu nome vinculado ao projeto da revista Vida Simples. Sobre essa pergunta temos ainda que mesmo os alunos que reconheceram algumas qualidades no projeto gráfico de Minha Novela recusaram-se a ter seus nomes atrelados a ela por conta do conteúdo. A partir desse fato podese questionar até que ponto a profissão do designer pode ser apenas técnica, já que muitas propostas de projeto podem ser recusadas por conta do conteúdo abordado e identificação pessoal. Como apontado pelo professor Humberto, a formação acadêmica do aluno de design deveria ser objetiva o suficiente para que ele fosse capacitado a resolver qualquer tipo de problema de design e se adaptar a qualquer tipo de público. Sobre um novo projeto gráfico para a Minha Novela, G.C. afirma que a revista “Mereceria um redesign porque não parece se importar em mostrar bem o que está mostrando”. Já A.S disse que “tem uma certa padronização de títulos, tem uma separação, uma certa navegação, padronização de cores. Dá para ver que foi pensado, tem uma preocupação, não se pode desmerecer totalmente”. G.S. alegou que não necessita de um redesign porque “já está de acordo com o público alvo e é parecido com todas as outras revistas da categoria. Se parecesse a Vida Simples ninguém compraria”. A.C. arriscou que o público da revista talvez nem saiba interpretar um material de maior qualidade, e que o projeto atual chama bastante atenção e estimula a compra. Alguns porém afirmaram que um projeto melhor talvez fosse mais agradável e notado pelo público. Embora alguns alunos afirmassem que a universidade deveria fornecer subsídios suficientes para capacitar o aluno a realizar projetos para qualquer tipo de público, a maioria acha que a universidade deveria ter algum engajamento com projetos destinados ao público popular. G.S. observou que projetos assim “ajudariam a entender que a eficácia comunicacional do design não é sempre fazer algo clean, de alto padrão estético”. O comentário de L.G. foi interessante ao dizer que “Para esse público, talvez design não tenha importância. As classes C e D não pagam normalmente por design”. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas Observou-se, através das entrevistas com coordenadores e em algumas entrevistas com alunos, que tendências bauhausianas e minimalistas foram essenciais no direcionamento da formação dos cursos, mas através dessa pesquisa pode-se concluir que apenas esses critérios formais não foram suficientes para a caracterização das revistas, já que foi possível identificar os mesmos critérios em revistas de projeto muito distinto. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da tabulação das entrevistas com os coordenadores dos cursos de design da UFPR e da PUC-PR, é possível observar que estes cursos tiveram influência histórica da Bauhaus e da Escola de Ulm, ambas conhecidas por adotarem um estilo funcionalista e minimalista. Os alunos entrevistados reconhecem a importância e a influência dos conceitos aprendidos durante os quatro anos de curso na formação de seus julgamentos estéticos, logo, tendem a preferir e classificar como melhores materiais gráficos com as características ditas bauhausianas. Durante a avaliação das revistas por parte dos alunos, foi possível perceber que as duas revistas receberam avaliações muito parecidas, mesmo sendo visualmente distintas, demonstrando a insuficiência dos critérios ditos “técnicos” para a avaliação. Outro fator que pode ser notado é uma tendência a rejeição dos materiais populares por parte dos futuros designers. Mesmo não avaliando de forma negativa a revista Minha Novela, apenas um aluno dos 10 entrevistados demonstrou interesse em realizar projetos voltados para o público de classe baixa, o que demonstra a influência dos gostos pessoais do designer na concepção de um projeto. Apesar da amostra reduzida de alunos, as inferências feitas mostram a forte relação entre o estudante e o ensino que recebe, inclusive no que diz respeito às ideologias e falhas que são transmitidas ao longo do tempo. A partir destas observações foi possível formular alguns questionamentos que podem ser investigados posteriormente: 1. Que outros critérios objetivos, que não os apontados pela Bauhaus, podem caracterizar e qualificar projetos gráficos? 2. A universidade deveria apresentar durante a formação do aluno um maior preparo para desvincular questões de gosto pessoal para a realização de projetos? 3. Que fatores podem interferir nas escolhas projetuais de um futuro aluno de design? 4. O público de revistas como “Minha Novela” realmente se identifica com o projeto gráfico que ela apresenta, da forma que é subentendido por alguns estudantes? 5. De que forma a Universidade poderia focar melhor em projetos voltados para o público popular? 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A formação do designer gráfico em Curitiba e sua opinião quanto ao mercado editorial de revistas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO T. W. & HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1986. DIAS, Maria Regina. O ensino do design: a interdisciplinaridade na disciplina de projeto em design. Florianópolis, 2004. FASCIONI, Lígia e VIEIRA, Milton. O Kitsch na comunicação visual das empresas de base tecnológica. In 15º Simpósio Nacional de Geometria Descritiva e Desenho Técnico. São Paulo, 2001. FERNANDES, Maria Esther; REZENDE, Daniela Araújo; REIS, Júnia Maria Leite. REC – Revista Eletrônica de Comunicação - © Uni-FACEF 2007 – Edição 03 – Jan/Jun 2007 GOLIN, Cida e RAMOS, Paula. Jornalismo cultural no Rio Grande do Sul: a modernidade nas páginas da revista Madrugada (1926). Revista FAMECOS. 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