UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS Anderson José Lopes Catão ESTUDO DE ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE(II) EM ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA ANÁPOLIS 2012 ii Anderson José Lopes Catão ESTUDO DE ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE(II) EM ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao corpo docente da Coordenação de Química Industrial da Universidade Estadual de Goiás como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Química Industrial. Orientadora: Prof. Dra. Roberta Signini ANÁPOLIS 2012 iii CATÃO, ANDERSON JOSÉ LOPES Estudo de adsorção de íons cobre(II) em esferas de quitosana e esferas de quitosana reticulada [Anápolis] 2012. XI, 54 p. 29,7cm (UnUCET/UEG, Bacharel, Química Industrial, 2011). Trabalho de conclusão de curso - Universidade Estadual de Goiás, UnUCET. 1. Quitosana; 2. Adsorção; 3. Cobre(II); 4. Esferas; 5. Reticulação. I. UnUCET/UEG II. Título (série) iv ESTUDO DE ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE(II) EM ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA Anderson José Lopes Catão BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dra. Roberta Signini (Orientadora) ________________________________________ Prof. Dr. Olacir Alves Araújo (Membro) ________________________________________ Prof. Msc. Valmir Jacinto da Silva (Membro) Aprovado em ___ /___ /_____ v DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado a todos aqueles que, assim como eu, possuem o espírito científico, demasiado humano. Um espírito desconfiado e questionador, motivado e conquistador. A eterna busca, o eterno retorno, a instigação pelo mistério, pelo desconhecido. A motivação de que nunca saberemos tudo e por isso sempre aprenderemos mais. Eis o que é Ciência. Um atalho. Apenas mais um para a relativa natureza. Uma verdade temporal. Uma Lei? Até que se prove o contrário! Desperta-te!! Levanta-te!! Honras o chão que tu pisas, pois ele te sustenta calado esperando o dia em que alces voo. “Ontem a lua, ao nascer, pareceu-me que ia dar à luz um sol” (Friedrich Nietzsche – Do imaculado conhecimento) vi AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus Pais, Antônio e Maria Francisca, pela vida, educação e sabedoria concedidas com suor e muitas vezes com sacrifícios próprios. A eles devo tudo. Sem eles nada seria possível. Aos meus irmãos, Alvinan e Alaine, pela excelente convivência, pelas excelentes discussões e incessáveis brigas. Com eles estarei sempre sorrindo. Sem eles tudo seria mais chato. Ao amor da minha vida, Anna Paula, pela paciência, dedicação, compreensão e pelas horas intermináveis e incansáveis de massagens. Com ela compartilharei momentos, ideias e desfrutarei o fruto proibido. Sem ela não há futuro. A minha Professora e Orientadora, Roberta Signini, pelo apoio, incentivo, tempo gasto e pela imensurável orientação. Com ela desenvolvo este trabalho. Sem ela perderia essa grande oportunidade. Aos meus Colegas e Professores pelos poucos, porém, prodigiosos anos convividos, pelas divergências de pensamentos, pela oportunidade de superação, pelo exemplo e imagem. Sem eles haveriam outros, porém, uma perda incalculável. A banca examinadora, Prof. Dr. Olacir Alves e Prof. Msc. Valmir Jacinto, por aceitarem participar desse momento. Agradeço a todos que de uma ou outra forma contribuíram para a realização deste trabalho. vii Resumo do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UnUCET/UEG como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Química Industrial. ESTUDO DE ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE(II) EM ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA Anderson José Lopes Catão Orientador: Prof. Dra. Roberta Signini Curso: Química Industrial A adsorção de íons cobre(II) por esferas de quitosana e esferas de quitosana modificadas foi investigada. O material de partida (quitosana) foi purificado por um método simples, filtração, removendo resquícios de quitina e materiais insolúvel. As esferas foram produzidas manualmente por gotejamento de uma solução de quitosana em ácido acético (5%) a uma solução coagulante (NaOH), com o auxílio de uma seringa acoplada com agulha. Glutaraldeído foi escolhido como agente reticulante. A reticulação ocorreu durante 15 minutos. As esferas foram caracterizadas por espectroscopia na região do infravermelho, grau de acetilação (GA = 73,8%) para as esferas de quitosana, e grau de reticulação para as esferas de quitosana reticulada. A variação da quantidade de Cu2+ adsorvido em função do tempo foi determinada (tempo de equilíbrio), a qual foi de 6 horas para as esferas de quitosana e 72 horas para esferas de quitosana reticulada. Os experimentos de adsorção, realizados em três bateladas, foram analisados usando espectrofotômetro de absorção atômica, quantificando as concentrações iniciais e no equilíbrio de cobre(II). Os dados foram ajustados pelos modelos de Langmuir e Freundlich. A isoterma de Langmuir mostrou uma capacidade máxima de 18,50mg.g-1, para as esferas sem modificação, e 14,02 para as esferas modificadas. As constantes, de Langmuir e Freundlich, revelaram uma maior afinidade das esferas sem reticulação pelos íons cobre(II). O modelo que melhor ajustou os dados experimentais tanto para as esferas de quitosana como para esferas de quitosana reticulada foi o modelo de Freundlich evidenciando, assim, um processo de adsorção em mais de uma camada, característico de adsorção física, também confirmada pelos baixos valores do calor de adsorção. Palavras-chave: Quitosana, cobre, adsorção. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação das estruturas planar da (a) Celulose, (b) Quitina e (c) Quitosana ..... 5 Figura 2 – Esquema genérico da produção de quitosana ............................................................. 7 Figura 3 – Representação da participação da hidroxila do carbono 3 (vizinho) para a formação do complexo Quitosana-Cu(II).................................................................................................... 12 Figura 4 – Representação das estruturas propostas para o complexo Quitosana-Cu2+ pelo modelo do pendente (a) e modelo da ponte (b) ........................................................................... 13 Figura 5 – Representação da reticulação das cadeias de quitosana pela reação com o glutaraldeído................................................................................................................................ 16 Figura 6 – Microscopia ótica de uma esfera de quitosana com Objetiva com ampliação de 4x (a) e Objetiva com aumento de 10x (b). ...................................................................................... 28 Figura 7 – Microscopia ótica de três esferas de quitosana reticulada com Objetiva com aumento de 4x (a) e Objetiva com ampliação de 10x (b). ......................................................................... 28 Figura 8 – Microscopia ótica (Objetiva com aumento de 4x) das esferas produzidas por quatros diferentes métodos (a, b, c, d). .................................................................................................... 29 Figura 9 – Curvas potenciométricas das amostras (a direita) de quitosana (a, b , c) e suas respectivas derivadas de primeira ordem (a esquerda) ................................................................ 32 Figura 10 – Curvas potenciométricas relativas ao grau de reticulação realizado em triplicata (Amostra 1, 2, 3) ......................................................................................................................... 34 Figura 11 – Espectro de absorção na região do infravermelho da quitosana ............................. 35 Figura 12 – Espectro de absorção na região do infravermelho da quitosana modificada .......... 36 Figura 13 – Sobreposição dos espectros de quitosana (vermelho) e de quitosana modificada (preto) .......................................................................................................................................... 36 Figura 14 – Gráficos de Condutividade x Tempo: (a) esferas de quitosana e (b) esferas de quitosana reticulada ..................................................................................................................... 37 Figura 15 – Linearização das isotermas de Adsorção para as esferas de quitosana: (a) Langmuir e (b) Freundlich ........................................................................................................................... 41 Figura 16 – Linearização das isotermas de adsorção para as esferas de quitosana reticulada: (a) Langmuir e (b) Freundlich .......................................................................................................... 45 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Resultados do grau de acetilação das amostras de quitosana. ..................... 31 Tabela 2 – Resultados da análise de absorção atômica e porcentagem de adsorção de Cu2+ em esferas de quitosana.......................................................................................... 39 Tabela 3 – Parâmetros obtidos pelos modelos teóricos para as esferas de quitosana.... 41 Tabela 4 – Resultados da análise de absorção atômica e rendimento da adsorção de Cu2+ em esferas de quitosana.......................................................................................... 43 Tabela 5 – Parâmetros obtidos pelos modelos teóricos aplicados as esferas de quitosana reticulada. ....................................................................................................................... 45 x SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 3 2.1 POLÍMEROS ........................................................................................................ 3 2.2 QUITINA E QUITOSANA .................................................................................. 4 2.2.1 Obtenção da Quitosana.................................................................................. 7 2.2.1.1 Desacetilação Parcial da Quitina ................................................................. 8 2.3 ADSORÇÃO........................................................................................................ 11 2.3.1 Isotermas de Adsorção ................................................................................. 14 2.4 RETICULAÇÃO ................................................................................................ 15 2.5 INTERAÇÃO QUITOSANA E ÍON METÁLICO ......................................... 17 3 METODOLOGIA...................................................................................................... 21 3.1 PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA .................................................................. 21 3.2 PREPARAÇÃO DAS ESFERAS DE QUITOSANA ....................................... 21 3.3 RETICULAÇÃO DAS ESFERAS DE QUITOSANA COM GLUTARALDEÍDO ................................................................................................. 22 3.4 CARACTERIZAÇÃO DA QUITOSANA ........................................................ 23 3.4.1 Titulação Potenciométrica ........................................................................... 23 3.4.2 Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho ....................... 24 3.5 TEMPO DE EQUILÍBRIO................................................................................ 25 3.6 ADSORÇÃO DE ÍONS Cu2+ PELAS ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA ....................................................... 25 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 27 4.1 PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA .................................................................. 27 4.2 PRODUÇÃO DAS ESFERAS DE QUITOSANA............................................ 27 4.3 RETICULAÇÃO ................................................................................................ 29 4.4 CARACTERIZAÇÃO DA QUITOSANA ........................................................ 30 4.4.1 Grau de Acetilação ....................................................................................... 30 4.4.2 Grau de Reticulação ..................................................................................... 33 4.4.3 Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho ....................... 34 4.5 PROCESSO DE ADSORÇÃO .......................................................................... 37 4.5.1 Tempo de equilíbrio ..................................................................................... 37 4.5.2 Estudo de Adsorção de íons Cu2+ ................................................................ 38 xi 4.5.2.1 Esferas de quitosana ................................................................................... 38 4.5.2.2 Esferas de Quitosana reticulada ................................................................. 43 5 CONCLUSÃO............................................................................................................ 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 48 1 INTRODUÇÃO A crescente contaminação da hidrosfera, seja em função das atividades humanas ou decorrente de processos naturais, causa impactos ambientais desastrosos. Com o crescente desenvolvimento econômico e a melhora nos padrões de vida da sociedade é praticamente impossível evitar contaminações ambientais (ROCHA, ROSA e CARDOSO, 2004). Dentre os poluentes mais nocivos estão os não-biodegradáveis, como os metais pesados. Diversas técnicas são usadas para o tratamento de águas contaminadas por metais pesados, tais como, precipitação, troca iônica, osmose reversa, deposição eletroquímica e oxi-redução. Porém, o fato desses elementos serem injuriosos mesmo em baixas concentrações, devido ao efeito acumulativo, faz com que alguns desses métodos sejam ineficientes. Nesse contexto o processo de separação por adsorção tem a vantagem de ser um método eficiente, de produzir uma baixa quantidade de resíduos, de ter a possibilidade, relativamente fácil, de recuperação do adsorvente (separação do adsorvato) e de ser menos dispendioso principalmente quando a adsorção é feita por um biomaterial, tornando o processo ainda mais interessante economicamente e ecologicamente (LI e BAI, 2005; RANGEL-MENDEZ et al., 2009; POPURI et al., 2009). Dentre os vários biosorventes se destaca o produto desacetilado do polímero quitina, a quitosana. A quitosana é um biopolímero, de origem animal ou fúngica, com comprovada capacidade em formar complexo de metais de transição e de pós-transição. Quimicamente a quitosana é o poli[β-(1→4)-2-amino-2-desoxi-D-glucopiranose (MUZZARELLI, 1977). Dentre os íons metálicos efetivamente captados pela quitosana estão: cobre(II), níquel(II), chumbo(II), tório(IV) e urânio(VI) – na forma do íon uranilo –, sendo este apenas alguns exemplos (MUZZARELLI, 2011). Em vista de interesses práticos, melhoramentos químicos ou enzimáticos podem ser feitos para ressaltar uma propriedade ou para integrar uma nova. Como exemplo tem-se a aplicação da quitosana em meio ácido. A quitosana é solúvel nesse meio, logo o processo de adsorção, por exemplo, de íons metálicos é inviável, uma vez que esse processo acontece na superfície de um sólido. Porém, ao se reagir o polímero com um agente reticulante, como, por exemplo, o glutaraldeído, que provoque a formação de 2 ligações cruzadas entre as cadeias poliméricas, permite que o novo material tenha sua solubilidade diminuída, dificultando a ação do solvente (MUZZARELLI, 2011). O processo adsortivo é controlado por muitas variáveis, tais como, temperatura, natureza do soluto (adsorvato), natureza do adsorvente, forma (superfície) do adsorvente, concentração (ou pressão) do soluto (ou gás) (ATKINS e DE PAULA, 2006; CASTELLAN, 1986). A adsorção de íons metálicos pela quitosana está diretamente ligada a disponibilidade de grupos aminos da cadeia polimérica, uma vez que esses grupamentos são responsáveis pelas interações quitosana-íon metálico. Três fatores são primordiais nos estudos de adsorção utilizando quitosana como adsorvente: grau de acetilação da quitosana, o pH do meio e a temperatura que ocorre a adsorção (ROBERTS, 1992). Nesse trabalho objetivou-se a avaliação da adsorção de íons cobre(II) em quitosana e quitosana modificada quimicamente com glutaraldeído na forma de esferas. Os resultados experimentais foram realizados no equilíbrio de modo que se pudesse aplicar corretamente modelos matemáticos (isotermas de adsorção) que descrevessem o processo de adsorção. Os modelos usados nesse trabalho foram o modelo de Langmuir e o de Freundlich. 3 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 POLÍMEROS Com o avanço e a expansão da tecnologia, a descoberta de novos materiais tem se tornado inevitável e imprescindível. Atualmente é feita a procura de materiais que possuam, não somente uma, mais um conjunto de propriedades que potencializem determinada função acarretando em usos aprimorados. Esses novos materiais devem englobar diversas propriedades, tais como condutividade-transparência, magnetismoadsortividade, entre outras (NICOLAIS e CAROTENUTO, 2005). Os polímeros, naturais e sintéticos, enquadram-se na área de materiais promissores devido a gama de propriedades que possuem, ou que podem vir a possuir. Com o aumento da produção de polímeros sintéticos e sua, cada vez maior, aplicabilidade fez-se necessário o surgimento da ciência dos polímeros, que busca a compreensão dessas macromoléculas. O uso dos polímeros transcende milénios, sendo os naturais os primeiros polímeros a serem utilizados, tais como o algodão, a lã, a madeira (celulose) e o amido (SPERLING, 2006). Desde o primeiro polímero sintetizado em laboratório, o baquelite em 1910, diversos outros polímeros foram sintetizados em laboratório revelando várias possibilidades de novos materiais (SPERLING, 2006). Um grupo bastante interessante e diversificado desses materiais foi nomeado de plástico, do grego plassein = moldar. Eles receberam esse nome pela capacidade que tinham de adquirir formas, ou seja, sua maleabilidade. Na rotina do homem, os polímeros se tornaram indispensáveis, sendo encontrados nas mais diversas áreas e atividades (ZOJA e HINSHAW, 1986). A maioria desse grupo de polímeros tem em comum a matéria-prima que origina os seus integrantes. Trata-se de uma fonte esgotável de energia, o petróleo (hidrocarbonetos) (BRYDSON, 1999). O petróleo é hoje a forma de energia que se esgota mais rapidamente. Seu fim virá, na visão de muitos estudiosos, em aproximadamente cinquenta anos. Tal fato promove a busca intensificada de novas fontes de energias, de preferência renováveis. Isso coloca os biopolímeros, polímeros naturais e em geral a biomassa, em um patamar interessante, uma vez que a sua 4 exploração tem revelado as mais variadas propriedades, e com isso as mais diversas aplicações (CARDOSO, 2008; ANTONINO, 2007). Dentre os vários biopolímeros encontrados, dois se destacam pela quantidade produzida anualmente. São eles a celulose, polímero de sustentação dos vegetais, e a quitina, polímero de sustentação dos animais (JOLLÈS e MUZZARELLI, 1999). Ambos são polissacarídeos (glicanos), ou seja, carboidratos formados pela união de monossacarídeos, que no caso da celulose é a molécula de glicose e no caso da quitina a molécula de acetilglicosamina (NELSON, D.L. e COX, M.M., 2002). Esses polímeros naturais podem ser obtidos de diversas fontes, estando presentes em todos os reinos de seres vivos, desde os microrganismos até os animais superiores. Dentre esses polissacarídeos são de bastante importância: a celulose, o amido (reserva energética vegetal), a quitina e a quitosana (SIGNINI, 2002). Outro biopolímero, bastante interessante e alvo de muitos estudos, é um derivado da quitina, o copolímero denominado quitosana. A quitosana tem ganhado espaço, tanto no meio acadêmico como no meio industrial, pela suas mais variadas propriedades e aplicações. A semelhança entre os três polímeros apresentados é imensa, principalmente entre celulose e quitina, tanto pela sua ocorrência como pelas aplicações. A diferença em suas estruturas (Figura 1) está apenas no carbono 2, sendo um grupo hidroxila na celulose, um grupo acetamida na quitina e um grupo amino na quitosana (ROBERTS, 1992). O diferencial da quitina e quitosana para outros tantos polissacarídeos é que ambos contém átomos de nitrogênio. É neste fato que se reflete a grande diversidade de derivados e de aplicações dos dois polímeros, em especial a quitosana (JOLLÈS e MUZZARELLI, 1999). 2.2 QUITINA E QUITOSANA Quitina é teoricamente o polímero de N-acetilglucosamina. Trata-se do composto orgânico mais abundante em conteúdo de nitrogênio encontrado naturalmente. Sua ocorrência é verificada principalmente nos exoesqueletos de insetos, nas conchas de crustáceos e nas paredes celulares das células fúngicas. O termo quitina 5 é derivado da palavra grega chitón, que significa carapaça ou caixa de revestimento. De fato a sua função é de revestimento e proteção de invertebrados (JOLLÈS e MUZZARELLI, 1999). Figura 1 – Representação das estruturas planar da (a) Celulose, (b) Quitina e (c) Quitosana. Quitosana é um poliaminossacarídeo catiônico (pKa=6,5), produto da desacetilação da quitina. Apesar de se encontrada naturalmente em alguns fungos, a maior parte da quitosana que se utiliza é derivada do tratamento básico da quitina (ROBERTS, 1992). Em vista do interesse econômico, a quitosana tem a vantagem de ser um derivado do segundo biopolímero mais abundante na natureza, a quitina que perde apenas para a celulose em termos de quantidade. A biocompatibilidade, biodegradabilidade e o perfil atóxico fazem da quitosana um dos biomateriais mais 6 interessantes para aplicações industriais e tecnológicas (JAYAKUMAR, PRABAHARAN e MUZZARELLI, 2011). Quitosana e quitina são apenas nomes genéricos, encontrados na literatura e em meios comerciais, dados aos polissacarídeos de cadeias lineares formados por unidades de 2-acetamida-2-desoxi-D-glicopiranose (GlcNAc) e 2-amino-2-desoxi-D- glicopiranose (GlcN) unidas por ligações glicosídeas do tipo β(1→4). O polímero quitina é o polissacarídeo linear constituído por unidades de 2-acetamida-2-desoxi-Dglicopiranose unidas por ligações β(1→4), mas sua ocorrência está sempre associada a resíduos de D-glucosamina (ANTONINO, 2007). Sua constituição é ainda incerta pois não se sabe se esse resíduos ocorrem naturalmente ou são frutos dos processos de obtenção e purificação da mesma (ROBERTS, 1992). A diferença entre os dois copolímeros está na proporção de grupamentos amino, sendo estes presentes em maior número na estrutura da quitosana, enquanto que na estrutura química da quitina os grupamentos amino são substituídos por grupamentos acetamida. A proporção entre as duas unidades é definida como grau de acetilação (GA), mais especificamente a proporção entre as unidades contendo o grupamento acetamida (GlcNAc) em relação as unidades contendo o grupamento amino (GlcN) (GUINESI, ESTEVES e CAVALHEIRO, 2007). Não existe na literatura cientifica a relação precisa, ou seja, o grau de acetilação, que defina propriamente quitina e quitosana. Diversos autores utilizam variadas definições. Alguns utilizam o termo quitina para identificar 40% de unidades desacetiladas e quitosana para identificar 60% das unidades desacetiladas (GOY, ASSIS e CAMPANA-FILHO, 2004). Outros consideram, como quitosana, o copolímero que possua um grau médio de acetilação menor do que 30%. (SIGNINI, 2002). Para quitina isolada o grau de acetilação é próximo a 90%, o teor de nitrogênio é tipicamente 7% e a relação N/C (nitrogênio/carbono) é de 0,146. A média da massa molecular da quitina está na ordem de MDa (megadaltons). Já a quitosana tem um grau de acetilação inferior a 40% e teor de nitrogênio superior a 7% (JOLLÈS E MUZZARELLI, 1999). Apesar de ambos os polímeros serem insolúveis em água existe uma diferença clara e prática relacionada a solubilidade dos mesmos. Enquanto a quitina é insolúvel 7 em meio ácido, a quitosana é solúvel. Essa tênue diferença produz uma forma, simples e prática, de diferenciação dos dois biopolímeros (SIGNINI, 2002). 2.2.1 Obtenção da Quitosana A quitosana é classificada como um biopolímero modificado quimicamente. Esse poliaminossacarídeo é classificado como um polieletrólito do tipo polibase, pois quando em solução polar (solução ácida) forma policátions (poli-íons carregados positivamente). Sua obtenção se faz a partir do polissacarídeo quitina que por tratamento básico adequado (via química) sofre uma desacetilação parcial (SIGNINI, 2002) ou total, ou então através da hidrólise enzimática (via bioquímica) quando em presença da quitina desacetilase (FRANCO, 2009). A Figura 2 apresenta um fluxograma do processo mais comum (tratamento com álcali) de produção de quitosana. Figura 2 – Esquema genérico da produção de quitosana. Historicamente, a desacetilação da quitina foi descrita, por volta de 1859, pelo fisiologista francês Charles Rouget (1824-1904) através da fervura da quitina em presença de hidróxido de potássio concentrado. A confirmação de um novo produto foi realizada por ele em vista da solubilidade, sendo o produto da reação solúvel em soluções ácidas, diferentemente da quitina original. Trinta e cinco anos após sua 8 descoberta a quitina modificada recebe o nome de quitosana atribuído ao fisiologista e químico alemão Felix Hoppe-Seyler (1825-1895) (SARMENTO e DAS NEVES, 2012). Existe ainda outro método, embora menos comum, para a obtenção da quitosana. Trata-se da biossíntese (via microbiológica) realizada por algumas espécies de fungos, que originam quitosana conhecida como quitosana microbiológica (DA SILVA, 2010). Da Silva (2010) obteve quitosana com alto grau de desacetilação a partir da espécie Absidia corymbifera empregando um meio de cultura de baixo custo (glicerina, milhocina e uréia). No mesmo trabalho a quitosana microbiológica foi testada na descoloração de efluentes industriais, na qual se mostrou muito eficaz. Em outro estudo, Franco et al. (2005) utilizando uma cepa de fungos da espécie Cunnigamella elegans obtiveram resultados positivos para a produção de quitina e quitosana, assemelhando-se, em propriedades, ao material obtido a partir de carapaças de crustáceos. A comparação entre as duas quitosanas (microbiológica e química) mostraram um maior grau de pureza para a quitosana obtida pela C. elegans. Muzzarelli et al. (1982a) demonstrou que tanto a quitosana de origem animal quanto a fúngica agem como efetivos agentes quelantes de íons de metais de transição e também evidenciou a grande habilidade de um complexo de quitosana, o complexo quitosana-glucano (Aspergillus niger), em quelar íons metálicos. 2.2.1.1 Desacetilação Parcial da Quitina O método mais utilizado para a obtenção da quitosana consiste na desacetilação da quitina, a qual é obtida a partir de um laborioso processo químico que sofrem os exoesqueletos de crustáceos, principalmente cascas de camarões e carapaças de caranguejos. As etapas do processo são as seguintes: desmineralização e desproteinização, seguida de descoloração (despigmentação) (ROBERTS, 1992; JOLLÈS e MUZZARELLI, 1999). A desmineralização é feita através do tratamento com ácido clorídrico, solubilizando assim impurezas inorgânicas como o carbonato de cálcio, a principal delas. A etapa de desproteinização é feita por tratamento básico, geralmente com hidróxido de sódio. Nessa etapa a quitina sofre um desacetilação parcial, o que para a 9 produção de quitosana não é uma desvantagem, visto que a quitosana é a quitina desacetilada (SIGNINI, 2002). A última etapa trata-se da descoloração da quitina através do emprego de compostos oxidantes (KMnO4, NaClO, SO2, NaHSO3, Na2S2O3 ou H2O2) que são capazes de destruir as matérias corantes, principalmente carotenóides, impregnadas na quitina (ROBERTS, 1992; ANTONINO, 2007). A desacetilação feita na quitina (após o tratamento de desmineralização, desproteinização e descoloração), que tem por intuito obter quitosana, raramente é completa, não sendo esta necessária para se obter o produto quitosana. Porém, uma desacetilação de 60% ou maior é essencial para manter a solubilidade em soluções aquosas ácidas. Condições muito drástica são exigidas para se obter um produto totalmente desacetilado, uma vez que algumas aminas remanescentes são inacessíveis (efeito morfológico) para reagir com a base. Alguns trabalhos demonstraram que a completa desacetilação acaba por gerar um baixo grau de polimerização, resultando na degradação da cadeia polimérica quando em solução, acabando por ter um decréscimo na viscosidade da mesma. A viscosidade de uma solução de quitosana está relacionada com a massa molar do polímero. Maiores massas molares resultam em maiores viscosidades, quando em solução (ROBERTS, 1992). A desacetilação de quitina para a obtenção da quitosana é feita, mais comumente, através da reação com álcalis, a partir de soluções concentradas de bases, geralmente hidróxido de sódio, mediante altas temperaturas. Tal método, apesar de gerar grande quantidade de resíduos e de alto dispêndio energético, aparenta ser a forma mais rápida e barata de se obter quitosana, mesmo que, com grau de pureza inferior a obtidos pelo método da biossíntese (SIGNINI, 2002; ROBERTS, 1992). Algumas condições devem ser observadas, pois governam a extensão da desacetilação. São elas a concentração da base, o tempo de reação, a temperatura, o tamanho das partículas e a densidade (CHEN, 2008). Há outro fator relevante que deve ser analisado, trata-se da obtenção de dois tipos de produtos, que variam em massa molecular. O primeiro refere-se a um produto de alta massa molecular e o segundo a um de baixa massa molecular. As condições de obtenção de ambos os produtos relaciona-se com a ausência de ar e a presença de substâncias oxidantes. Quitosana de alta massa molecular é obtida pela exclusão de ar, ou seja, oxigênio, enquanto que quitosana de baixa massa molecular é obtida pelo uso 10 de substâncias oxidantes, como peróxido de hidrogênio e hipoclorito de sódio (SIGNINI, 2002; ROBERTS, 1992). 2.2.2 Caracterização da Quitosana Algumas análises são de muita importância para a caracterização do material, seja quitina ou quitosana. A avaliação pode ser feita pelo grau de N-acetilação, massa molecular, viscosimetria, polidispersão, cristalinidade, proteínas residuais, teor de umidade, teor de cinzas (grau de pureza), teor de lipídeos, metais pesados e cor. Essas análises variam conforme o uso pretendido (ROBERTS, 1992; DA SILVA, 2010). O grau de acetilação pode ser determinado direta ou indiretamente. Diversos são os métodos aplicados, dentre eles se destacam as técnicas hidrolíticas, as técnicas espectroscópicas como a absorção na região do infravermelho, a absorção na região do ultravioleta, o dicroísmo circular e a ressonância magnética nuclear (ROBERTS, 1992; CARDOSO, 2008). As técnicas hidrolíticas consistem no uso de condições, alcalinas ou ácidas, que favoreçam a hidrólise dos grupos acetilas que liberam ácido acético o qual por estequiometria revela a proporção de grupos N-acetil. Os métodos espectroscópicos tem as suas vantagens, pois resultam em análises rápidas e confiáveis, principalmente a ressonância magnética nuclear (ROBERTS, 1992). Outra forma de caracterização é a determinação do teor de grupos amino por titulação, podendo ser ela, ácido-base, coloidal e metracromática. A titulação ácido-base é bastante utilizada em virtude, principalmente, de sua simplicidade e praticidade. Consiste na dissolução da quitosana em um ácido, geralmente ácido clorídrico, e na sua posterior titulação com hidróxido de sódio, determinando a curva de titulação por potenciometria ou condutimetria. Dois pontos de inflexão são encontrados na curva de titulação, sendo a diferença entre eles o equivalente a quantidade de ácido necessária para protonar os grupos aminos (SARMENTO e DAS NEVES, 2012). A titulação coloidal é usada na análise de polieletrólitos. Como a quitosana em solução se torna um policátion, a concentração de grupo amino pode ser determinada por outro polieletrólito (poliânion) de concentração de grupos iônicos conhecida (ROBERTS, 1992; NEVES, 2007). Existem ainda outros métodos capazes de determinar o teor de grupos amino, 11 como a oxidação por periodato, a análise de salicilicaldeído residual, dentre outros (ROBERTS, 1992). Outra importante caracterização da quitosana é a determinação de sua massa molecular, que é comumente feito através da viscosimetria (método relativo), sendo este o método mais rápido e simples. Porém outros métodos podem ser utilizados como, por exemplo, a espectrofotometria de espalhamento de luz (método absoluto), análise de grupos terminais (método equivalente) e a cromatografia de permeação em gel (método relativo) (ROBERTS, 1992; SIGNINI, 2002; NEVES, 2007). Apesar de rápido e simples a análise da viscosidade não é um método absoluto, uma vez que esse requer a determinação de constantes através da correlação dos valores de viscosidade intrínseca com os valores de massa molecular medidos por métodos absolutos. A equação mais usada que relaciona os valores de velocidade intrínseca [η] com as massas moleculares é a equação de Mark-Houwink (equação 1). sendo: = (1) a massa molar média viscosimétrica e K´ e α são constantes independentes da massa molecular sobre uma considerável série de massas moleculares (ROBERTS, 1992; SIGNINI, 2002; CARDOSO, 2008). Existem ainda outras análises para se caracterizar quitina e quitosana como proteína residual, a análise da cor, embora não exista um padrão para a avaliação da cor de quitina e quitosana, porcentagem de material insolúvel, teor de metais pesados, teor de cinzas, de lipídeos, de nitrogênio e umidade (ROBERTS, 1992). 2.3 ADSORÇÃO Adsorção é um fenômeno de superfície. Trata-se da ligação, seja ela química (forte) ou física (fraca), de átomos e moléculas a uma superfície sólida. Desse modo, a adsorção pode ser apresentada em duas categorias: adsorção física e adsorção química (ATKINS e DE PAULA, 2006). É considerada adsorção física, também conhecida como fisissorção, quando as interações envolvidas entre adsorvente e adsorvato são do tipo fracas (forças de Van der 12 Waals). Esse tipo de adsorção apresenta calores de adsorção baixos (entalpias baixas). Na adsorção química, também conhecida como quimissorção, estão envolvidas interações do tipo fortes como, por exemplo, ligações covalentes, por isso os calores de adsorção são altos, na ordem de entalpias de reações químicas (aproximadamente 400 kJ) (ATKINS e DE PAULA, 2006; CASTELLAN, 1986). O processo de adsorção pode ser representado por uma equação química como demonstrado na equação 2. ( ) + ⇌ (2) sendo A o adsorvado, o subíndice e representa o estado do adsorvato, podendo ser gasoso ou aquoso (em solução), S é um sítio de ligação do sólido adsorvente, ou seja, uma posição vazia da superfície e AS representa a molécula A adsorvida ou um sítio de ligação ocupado (CASTELLAN, 1986). Nesse sentido S poderia representar um sítio de ligação (grupo amino) do polímero quitosana e A(e) poderia representar um íon Cu2+ em solução aquosa. Infelizmente a interação íon metálico e a quitosana não é tão simples. Possivelmente a interação do íon metálico não se dá apenas com o grupamento amino, existe a possibilidade do envolvimento de hidroxilas de carbonos vizinhos ao grupo amino para a formação de um quelato, como mostra a Figura 3 (CARVALHO, 2006). Figura 3 – Representação da participação da hidroxila do carbono 3 (vizinho) para a formação do complexo Quitosana-Cu(II). Sabe-se que a quitosana tem a capacidade de formar complexos com íons de metais de transição e pós-transição, porém não forma complexos com os íons de metais alcalinos e alcalinos terrosos. O polímero é reconhecido em muitos trabalhos como tendo a capacidade de quelar íons metálicos. Desde que, a definição de quelação seja a 13 interação ou ligação de um íon com dois ou mais sítios ligantes de uma mesma molécula (ROBERTS, 1992). Entretanto, ainda não se tem evidência suficiente para se afirmar que a quitosana é um composto quelante. Ao contrário da proposta de quitosana ser um quelante, muitos trabalhos utilizam da relação molar 1:1 para o complexo quitosana:íon metálico. Sendo assim para ser considerado quelante o composto quitosana deve, na formação do complexo com metal iônico, utilizar dos grupos –OH ou –O- ou então dois ou mais grupos amino de uma mesma cadeia como ligante a um mesmo íon metálico (ROBERTS, 1992). Além disso, a formação do complexo quitosana-metal não é entendida completamente, sendo diversos modelos propostos para tal explicação. Os dois modelos mais aceitos são o modelo do pendente e o modelo da ponte (Figura 4). O primeiro considera que o íon metálico esteja ligado ao grupo amino como um pendente (Figura 4a). O segundo supõe que o íon metálico esteja ligado a vários átomos de nitrogênio de uma mesma cadeia ou de cadeias diferentes (Figura 4b) (CARVALHO, 2006). Figura 4 – Representação das estruturas propostas para o complexo Quitosana-Cu2+ pelo modelo do pendente (a) e modelo da ponte (b). Muzzarelli et al. (1980), encontraram a partir de estudos espectrométricos, envolvendo procedimentos como espectrofotometria de absorção na região do visível, ressonância de spin eletrônico e espectrometria de absorção na região do infravermelho, 14 que a interação de íons cobre pela quitosana, no seu caso na forma de membrana, é função do pH do meio no qual a mesma está inserida, sendo que em pH acima de 4, existe um forte interação de outros grupos amino do polímero e que para valores já alcalinos de pH (pH ≥ 8) há a participação dos grupos hidróxidos da cadeia polimérica e também alterações conformacionais. 2.3.1 Isotermas de Adsorção Uma ferramenta poderosa para descrição quantitativa dos processos de separação, quando a temperatura é constante, são as chamadas isotermas de equilíbrio. O equilíbrio é caracterizado por uma certa concentração do soluto no adsorvente e uma associada concentração final do soluto na fase líquida ou gasosa (CARVALHO, 2006; STOPA, 2007). A curva de concentração do soluto na fase sólida (quantidade adsorvida) em função da concentração do soluto na fase líquida (remanescente) é chamada de isoterma, sendo essa dependente da temperatura (CASTELLAN, 1986). Os resultados experimentais são aplicados a modelos matemáticos de forma que o ajuste revele variáveis que controlam os processos adsortivos, tais como a intensidade, a energia, a capacidade e o tipo de adsorção. Os modelos mais utilizados são o de Langmuir e o de Freundlich (ATKINS e DE PAULA, 2006; CASTELLAN, 1986). A isoterma de Langmuir é um modelo altamente idealizado baseado teoricamente em três hipóteses. A primeira de que a adsorção (recobrimento) só acontece em uma monocamada, ou seja, a quantidade máxima de adsorção é correspondente aos sítios da monocamada. A segunda de que não existem diferenças entre os sítios de adsorção, sendo equivalentes entre si, e a superfície é uniforme. A terceira diz respeito a independência da ocupação dos sítios, isto é, a capacidade de uma molécula ser adsorvida num certo sítio é independente da ocupação dos sítios vizinhos (ATKINS e DE PAULA, 2006; CASTELLAN, 1986). A isoterma de Freundlich é uma derivação da isoterma de Langmuir levando em conta a influência das interações substrato-substrato existentes na superfície. A utilidade da isoterma de Freundlich se dá quando a adsorção ocorre em sistemas heterogêneos assumindo que a energia de distribuição para os sítios de adsorção é essencialmente exponencial, não assumindo assim adsorção em monocamada (ATKINS e DE PAULA, 2006; CASTELLAN, 1986). 15 As equações 3 e 4 representam as isotermas de adsorção de Langmuir e de Freundlich, respectivamente. = × 1 + = × × × á (3) (4) sendo q a quantidade de material adsorvida (mgg-1), KL a constante de Langmuir (Lmg1 ), Ceq a concentração em equilíbrio (mgL-1), qmáx a quantidade máxima adsorvida (mgg- 1 ), KF a constante de Freundlich (Lg-1) e 1/n uma constante adimensional relacionada com a intensidade da adsorção. 2.4 RETICULAÇÃO O polímero quitosana em sua forma simples está restrito a uma faixa de pH de fato neutro e básico, pois nessa faixa a quitosana é insolúvel. A solubilidade da quitosana em meios polares com valores baixos de pH é consequência dos grupos amino protonáveis presentes na cadeia polimérica. Assim sendo, o impedimento, a desativação dos grupos amino funcionais provoca a insolubilização do material em ampla faixas de pH (BEPPU, ARRUDA, SANTANA, 1999). Desta forma, o problema de solubilidade pode ser contornado quando se faz uma reação que provoque a reticulação das cadeias de quitosana (ROBERTS, 1992). O agente reticulante mais comum é o glutaraldeído (C5H8O2). O 1,5-pentanodial já é extensamente usado na área biológica como fixador de tecidos, na imobilização de proteínas e na estabilização de matrizes colagênica. Sua aplicação está associada a sua alta reatividade com grupos amino para a formação de bases de Schiff (YOSHIOKA et al., 1995). A ligação entre o glutaraldeído é tão forte que resiste a extremos de temperatura e pH, sendo ela irreversível. Sendo que a reticulação depende de fatores como temperatura, pH, concentração e tempo de contato (BEPPU, ARRUDA, SANTANA, 1999). Na Figura 5 é representado a reticulação da quitosana com glutaraldeído. 16 Figura 5 – Representação da reticulação das cadeias de quitosana pela reação com o glutaraldeído. Com a reticulação as cadeias de quitosana (Figura 5) resistem a valores de pH baixos, não se solubilizando. Além da reticulação resolver o problema da solubilidade, pode ele também aumentar a adsorção de íons metálicos, desde que os grupos amino permaneçam livres. Entretanto, o aumento no grau de reticulação pode ser prejudicial a capacidade adsortiva do material, uma vez que as cadeias poliméricas se arranjam em uma rede tridimensional, o que impossibilita a acessibilidade a grupos ativos do material, além de diminuir sua capacidade de expansão, e acabar por gerar um caráter hidrofóbico (ROBERTS, 1992). Quitosana (grau de acetilação de 87%) reticulada com glutaraldeído (1g para 15mL) durante 24 horas foi testada por Rojas et al. (2005) no que diz respeito a capacidade do material em adsorver íons cromo hexavalente. Os resultados foram tratados com os modelos de Langmuir e Freundlich, sendo melhores descritos pelo modelo de Langmuir com capacidade máxima de 215 mgg-1, sendo este um dos melhores resultados encontrado na literatura. 17 Sankararamakrishnan e Sanghi (2006), analisaram a adsorção de Cr(VI) em quitosana, quitosana reticulada com glutaraldeído e xantato de quitosana reticulada, mostrando-se a última mais eficiente na captação dos íons (71 mgL-1), seguida pela reticulada (58 mgL-1) e finalmente a quitosana (48 mgL-1) de uma solução de 100 mgL-1 de Cr(VI). Vasconcelos et al. (2008) verificaram a adsorção de íons cobre(II) em quitosana reticulada com N-N’-[bis(2-hidroxi-3-formil-5-metilbenzil-dimetil)]-etilenodiamina. Os resultados encontrados, utilizando isoterma de Langmuir, mostraram uma capacidade máxima de 113,6 mgg-1 de Cu(II). Vieira e Beppu (2006a), estudaram a interação de íons Hg(II) com membrana de quitosana e de quitosana reticulada com glutaraldeído e epicloridrina. O polímero reticulado com glutaraldeído mostrou uma maior adsorção (75,5 mgg-1) de íons Hg(II) quando comparado aos outros compostos testados. A modificação química não se restringe apenas a reticulação das cadeias. Zhou et al. (2009), avaliaram a adsorção de Hg2+, Cu2+ e Ni2+ em microesferas de quitosana magnética modificada quimicamente com tiouréia. As análises de adsorção revelaram, dentre três modelos, o de Langmuir como mais apropriado para descrever os dados experimentais. Tal modelo gerou capacidades de adsorção máxima de 652,2, 66,7 e 15,3 mgg-1 para os íons Hg2+, Cu2+ e Ni2+, respectivamente. Um estudo de dessorção também realizado mostrou que a uma concentração de 0,1 molL-1 de EDTA cerca de 94,5% de Hg2+, 96,7% de Cu2+ e 95,5% de Ni2+ são recuperados do adsorvente. 2.5 INTERAÇÃO QUITOSANA E ÍON METÁLICO Já é conhecida, na literatura, a capacidade da quitosana em formar complexo com íons de metais de transição e de pós-transição (MUZZARELLI, 1977). Também é de conhecimento a incapacidade de formar complexo com íons de metais alcalinos e alcalinos terrosos (ROBERTS, 1992). Janegitz et al. (2007) empregaram quitosana para remoção de íons Cu2+, Pb2+, Cd2+ e Cr3+ de águas residuárias. Klug et al. (1998) investigaram a adsorção de íons Cu(II), Cd(II), Ni(II) e Zn(II) por um derivado da quitosana, enquanto que Spinelli et al. 18 (2005) estudaram a adsorção de oxiânions Cr(VI), Mo(VI) e Se(VI) por um sal de quitosana. Todos estes trabalhos concluíram positivamente para a habilidade da quitosana e de seus derivados em adsorver os metais estudados. Copello et al. (2008) estudaram a remoção de íons Cd (II), Cr (III) e Cr (VI) de soluções aquosas empregando quitosana imobilizada em suporte de sílica. O tratamento dos dados experimentais foi feito mediante isotermas de adsorção de Langmuir e de Freundlich. Foi constatado a dependência da adsorção com o pH, sendo essa favorecida em pH neutro para os íons Cd (II) e Cr (III) e em pH 4 para os íons Cr (VI). Em virtude da capacidade de captação de íons metálicos Muzzarelli et al. (1982b) comparou o derivado N-(carboximetil)quitosana ao EDTA (ácido etilenodiamino tetracético) dizendo que a sequência N-C-C-O permite a ambos formarem anéis pentatômicos com o metal quelado. Esse derivado tem a vantagem de ser uma amina secundária, enquanto EDTA é uma amina terciária, o que lhe confere um número de funções bidentadas juntamente com grupos alcoólicos secundários e terciários levando a insolubilização do quelato N-(carboximetil)quitosana-metal. A capacidade de adsorção da quitosana acredita-se estar relacionada com a quantidade de grupos funcionais amino livres, ou seja, grupos acessíveis a ligações para a formação do complexo (ROBERTS, 1992). Sendo assim, é de se esperar que a quitina em sua forma pura, totalmente acetilada, não interaja, ou interaja em uma menor escala, com íons metálicos. Estudos de adsorção de íons metálicos em quitina foram feitos e revelaram, através de isotermas, valores de quantidade máximas adsorvidas na ordem de micromols por grama de quitina (10-6 molg-1) (GONZALEZ-DAVILA e MILLERO, 1990). Um estudo comparativo com quitosana, quitina e trocadores iônicos (resinas Purolite e Amberlite) foi realizado por Baran et al. (2006) utilizando íons Cr6+ como adsorvato comum. Os resultados modelados por isotermas de Langmuir e Freundlich demonstraram uma maior capacidade de adsorção pela quitosana chegando a uma capacidade máxima de 153,85 mgg-1, enquanto que a menor capacidade máxima de adsorção, de 70,42 mgg-1, foi designada ao polímero quitina. Kartal e Imamura (2005), estudaram a remoção de arsênio, cobre e cromo de madeiras beneficiadas com CCA (Arsenato de cobre cromatado) por quitina e quitosana. 19 Os resultados, em porcentagem, para dez dias de tratamento com 2,5 g de adsorvente foi de 74%, 62% e 63% para a quitina e 57%, 43% e 30% para a quitosana da concentração inicial de cobre, crômio e arsênio, respectivamente. O processo cinético da adsorção de íons metálicos pela quitosana pode ser dividido em três etapas. Na primeira ocorre a transferência de massa do soluto, presente no corpo da solução, para a superfície da quitosana. Na segunda, ocorre a difusão para dentro da partícula (intraparticular) enquanto que a terceira é regida pela adsorção em um sítio no interior da partícula. Assume-se que a última etapa é mais rápida que as outras duas de forma que as primeiras sejam determinantes na taxa de captação, dependendo das condições reacionais. O aumento da capacidade de adsorção parece ter uma relação com o grau de intumescimento (expansão quando em solução) do material, que contribui para a quantidade de grupos acessíveis. De fato quando o material se expande em contato com uma solução de um metal iônico, ocorre uma maior acessibilidade dos grupos funcionais, aumentando a capacidade de adsorção (ROBERTS, 1992). Um importante ponto a salientar em um estudo de adsorção é se as medidas foram realizadas numa condição de equilíbrio, ou seja, o tempo para que a adsorção seja completa deve ocorrer. Valores tomados fora do tempo de equilíbrio dificultam a comparação e conflitam com os resultados da literatura (ROBERTS, 1992). Roberts (1992), divide, grosseiramente, os estudos de complexação da quitosana com íons metálicos em duas vertentes: uma que se preocupa em estudar se o complexo quitosana-metal é formado ou não, e outra que se preocupa em ter alguma compreensão de como esse processo ocorre. Existem dois grandes empecilhos nos estudos da interação quitosana-metal de transição. O primeiro está no fato de que boa parte dos trabalhos que se encontra na literatura tem caráter qualitativo, se preocupando apenas em confirmar ou não a interação, enquanto que pouco são os trabalhos em que o estudo dessas interações, sua compreensão, é priorizado, tendo esses um caráter quantitativo. O outro, porém não menor, empecilho consiste na variabilidade de métodos, desde a produção da quitosana até o modo de agitação refletem em diversos trabalhos, dificultando assim a padronização dos resultados. Um exemplo clássico é a relação superfície-volume que varia com o estado físico da quitosana, seja ela na forma de pó, esfera ou filme. 20 Na literatura encontra-se certa dificuldade em se comparar os resultados dos diversos experimentos. O primeiro obstáculo é a heterogeneidade da quitosana, sendo sua variabilidade muito grande. A dificuldade está na cadeia polimérica uma vez que não existe a possibilidade de se conhecer plenamente sua estrutura. Quitosana de diversas fontes, origens e variados métodos de obtenção promovem diferentes produtos. Mais especificamente existem diversos estudos de adsorção, métodos experimentais que podem vir a influenciar os resultados (VIEIRA, 2008). Análises de diferentes quitosanas, variando-se o grau de acetilação, foram feitas por Gamage e Shahidi (2007). De acordo com os tempos de desacetilação avaliou-se a capacidade de quelação dos íons Hg(II), Fe(II), Ni(II), Pb(II), Cu(II) e Zn(II) de efluentes industriais, dentre os quais os melhores resultados foram obtidos para o mercúrio (99% em relação a concentração inicial). Análises com quitosana empacotada foram realizadas com soluções aquosas de Ni(II), Cd(II), Cu(II) e Ag(I) demonstrando resultados de até 98% de remoção. A recuperação (dessorção) dos íons, em torno de 5297%, foi realizada através da eluição de uma solução 0,1 molL-1 de EDTA pela coluna. A relação massa e área superficial foi estudada por Vieira e Beppu (2006b) empregando adsorção de Hg(II) em esferas, microesferas e membranas de quitosana. Estudos dinâmicos apresentaram maior adsorção dos íons em membranas do que em esferas, visto que a concentração de quitosana é maior nas membranas (redução de 50% da massa inicial da solução). Já estudos estáticos favoreceram a adsorção em esferas devido ao maior tempo de contato. A área superficial influencia o processo de adsorção de tal forma que a diminuição da área superficial aumenta a quantidade adsorvida, pois facilita a difusão intrapartícula, visto que, a adsorção é limitada pela resistência a transferência de massa externa. Shafaei, Ashtiani e Kaghazchi (2007) estudando adsorção de íons Hg(II) em partículas de quitosana de três diferentes tamanhos encontraram valores para a capacidade máxima de adsorção de 1127,1 mgg-1, sendo o melhor modelo para ajustar os dados experimentais o modelo de Langmuir. 21 3 METODOLOGIA 3.1 PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA A Purificação da quitosana (forma neutra) comercial (Polymar) foi realizada mediante adição de aproximadamente 1,0g de quitosana em 300mL de ácido acético 1%. Com o auxílio de um agitador magnético fez-se um vortex na solução de ácido acético, na qual foi adicionado a quitosana. Manteve-se a suspensão em agitação contínua durante 24 horas, à temperatura ambiente. Em seguida a suspensão foi filtrada sob pressão negativa e a solução isenta de material insolúvel tratada com hidróxido de amônio P.A. para que houvesse a precipitação. Posteriormente, o precipitado foi neutralizado através de sucessivas lavagens com água destilada. O potencial hidrogeniônico da água de lavagem foi testado com o indicador vermelho de metila (utilizando água destilada como branco), o qual possui faixa de viragem entre pH 4,2 e pH 6,3. Cessou-se a lavagem quando a cor da água de lavagem igualou-se ao branco (vermelho) quando acrescidos de duas gotas do indicador. Chegando a neutralidade do sobrenadante, lavou-se o precipitado com metanol. A quitosana purificada foi seca em placa de Petri a temperatura ambiente e protegida. 3.2 PREPARAÇÃO DAS ESFERAS DE QUITOSANA Com o intuito de se trabalhar com as melhores esferas (alta esfericidade e maior superfície de contato por grama de material) em um tempo relativamente baixo foi realizado um estudo prévio qualitativo. Tal estudo consistiu na produção de esferas de quitosana por quatro meios distintos, sendo eles: Bureta, bomba peristáltica com agulha, seringa sem agulha e seringa com agulha. As análises utilizadas para avaliação das esferas foram a microscopia óptica e a análise visual. O microscópico óptico utilizado foi o Leica DME acoplado com câmera Leica EC3. As imagens foram registradas e os diâmetros das esferas medidos através do software Leica Application Suite (LAS) EZ. 22 Os métodos de produção das esferas distinguem no veículo de aplicação da solução de quitosana, de forma que a produção para os testes é semelhante ao método escolhido como mais adequado descrito adiante. A Produção das esferas de quitosana foi feita através do gotejamento manual, com o auxílio de uma seringa e uma agulha, de uma solução ácida de quitosana em uma solução coagulante. A primor fez-se a dissolução de 3 g de quitosana, obtida após a etapa de purificação, em 75 mL de uma solução a 5% de ácido acético. A adição da quitosana foi feita ao se formar um vórtex na solução de ácido acético, sendo essa adicionada no centro do vórtex, e para completa dissolução a agitação foi mantida por aproximadamente 24 horas. Como solução coagulante preparou-se uma solução de hidróxido de sódio a 2,5molL-1. Para isso pesou-se aproximadamente 100 g de NaOH. Em seguida dissolveuse em água destilada e aferiu-se o menisco de um balão volumétrico de 500 mL com o mesmo solvente. Após a obtenção da solução de quitosana succionou-se 8 mL da mesma com uma seringa de plástico de capacidade volumétrica de 10 mL. Conectou-se, a seringa, uma agulha de dimensões 26G½ (0,45 x 13)mm. O gotejamento foi realizado com agitação branda da solução coagulante, em um béquer de plástico de 600 mL, e a uma distância de aproximadamente 1 cm da solução. Esse procedimento foi repetido até que a solução de quitosana se esgotasse. As esferas de quitosana foram deixadas em contato com a solução coagulante por aproximadamente 1 dia em agitação suave. Decorrido o tempo, as esferas foram lavadas com água destilada até a neutralidade, testando-se a água de lavagem foi com vermelho de metila. As esferas neutras foram secas a temperatura ambiente, em placa de Petri. 3.3 RETICULAÇÃO GLUTARALDEÍDO DAS ESFERAS DE QUITOSANA COM 23 A produção das esferas para a etapa de reticulação prosseguiu conforme descrito no item 3.2., com a diferença de que após a etapa de lavagem (neutralização) as esferas úmidas foram submetidas a reação com glutaraldeído. As esferas úmidas foram transferidas para um béquer de capacidade volumétrica de 250 mL. Ao mesmo adicionou-se 60 mL (razão de 20 mLg-1 entre glutaraldeído e quitosana) de uma solução a 2,5% de glutaraldeído. Sob agitação magnética, manteve-se o contanto por 15 minutos a temperatura ambiente. Em seguida as esferas foram lavadas com água destilada, de modo a cessar a reação de reticulação. A água de lavagem foi testada com Reagente de Feder, de modo que a lavagem foi cessada quando o teste para aldeído foi negativo, ou seja, a presença de aldeído não foi mais indicada. As esferas foram secas à temperatura ambiente, resultando nas esferas de quitosana reticulada. 3.4 CARACTERIZAÇÃO DA QUITOSANA A caracterização da quitosana foi realizada através de dois métodos: Titulação potenciométrica e espectroscopia de absorção na região do infravermelho médio. 3.4.1 Titulação Potenciométrica A análise potenciométrica, em triplicata, foi realizada em um titulador potenciométrico 877 Titrino Plus da Metrohm. O preparo das amostras iniciou-se com a dessecação de aproximadamente 1 g de quitosana purificada em estufa a 105 °C durante 6 horas. Após esse período a amostra foi resfriada em dessecador, contendo sílica gel azul, para posterior pesagem. Pesou-se cerca de 0,20 g da amostra dessecada e fria. Fezse a dissolução dessas amostras em 50 mL de HCl 0,05 molL-1. Aguardou-se 24 horas, sob agitação constante, a total dissolução. Passado esse tempo as amostras foram acrescidas de 150 mL de água destilada e agitadas por mais 15 minutos. Em seguida foram tituladas utilizando como titulante uma solução de NaOH de concentração real 0,0999 molL-1 previamente padronizada com biftalato de potássio. Os dados obtidos pela titulação foram plotados em um gráfico, utilizando o software OriginLab, de Volume de titulante versus pH, e as derivadas revelaram os volumes de NaOH 24 necessários para titular os grupos protonáveis da quitosana e o excesso de HCl na amostra. O grau de acetilação pode ser calculado utilizando as equações 5 e 6, %#$ = % × &'()* × ℳ'()* - × 100(5) , %# = 100 − %#$(6) sendo que: %GD é o grau de desacetilação; MM é a massa molar média da unidade de repetição da quitosana (constante igual a 161,16 gmol-1); VNaOH é o volume, em litros, gasto de NaOH, que é a diferença entre os volumes nos dois pontos de inflexão; 2NaOH é a concentração em quantidade de matéria da solução de NaOH; m é a massa, em gramas, da amostra de quitosana; %GA é o grau de acetilação; Análise semelhante foi feita com as esferas de quitosana após a reação de reticulação com glutaraldeído. A diferença, entretanto é meramente funcional. Enquanto nas amostras de quitosana mede-se a quantidade de grupos amino, ao serem protonados em meio ácido, de modo análogo, para as esferas reticuladas tem se uma medida da reticulação das cadeias poliméricas, de modo que quando comparadas as curvas potenciométrica das amostras e a curva potenciométrica do branco sejam equivalentes, ou seja, o resultado é qualitativo e indica uma medida da resistência a dissolução em meio ácido, proporcionada pela reticulação das cadeias de quitosana. 3.4.2 Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho 25 A análise espectroscópica foi realizada no espectrofotômetro Frontier (FTIR/MID/NEAR/NIR) da Perkin Elmer, na região de 4000 a 400 cm-1. Amostras de quitosana purificada, reticulada foram maceradas juntamente ao KBr (grau espectroscópico) em um almofariz de ágata formando uma mistura homogênea e em seguida submetidas a compressão produzindo-se assim as pastilhas. A proporção utilizada foi de 1:100 (amostra:KBr). Após produzidas as pastilhas foram analisadas no espectrofotômetro. 3.5 TEMPO DE EQUILÍBRIO O ensaio de tempo de equilíbrio foi feito através da imersão de 50 mg de esferas em uma solução de concentração 100 mgL-1 de íons Cu2+ e do monitoramento da condutividade durante o contato. O monitoramento foi feito usando o condutivímetro digital CD-860 da Instrutherm. A solução de Cu2+ foi preparada a partir da dissolução de 0,0788 g de sulfato de cobre pentahidratado em água destilada. O volume preparado foi de 200 mL de forma a se obter uma solução de 100 mgL-1 de Cu2+. Foi transferido um volume de 100 mL da solução de Cu2+ para um recipiente de vidro e com o auxílio de um agitador magnético fez-se agitação em vórtex, onde sequencialmente foi adicionado 50 mg de esferas de quitosana. Mediante agitação constante, inicialmente em períodos de cinco minutos tomou-se nota dos valores de condutividade apontados pelo condutivímetro, cujos eletrodos permaneceram imersos na solução durante todo ensaio. O Período foi aumentado gradualmente para 10, 20 e 30 minutos. A determinação prosseguiu-se até condutividade constante, determinando o tempo de equilíbrio. A partir dos dados construiu-se os gráficos de tempo versus condutividade. Esse estudo foi realizado tanto para as esferas de quitosana como para as esferas de quitosana reticuladas. 3.6 ADSORÇÃO DE ÍONS Cu2+ PELAS ESFERAS DE QUITOSANA E ESFERAS DE QUITOSANA RETICULADA 26 Para os estudo de adsorção de íons cobre pelas esferas de quitosana e esferas de quitosana reticuladas foram realizadas triplicatas de seis amostras. A priori todas as vidrarias utilizadas nesse teste foram devidamente limpas: a limpeza consistiu-se em três etapas: lavagem com detergente líquido, banho em ácido nítrico 5% (V-V) e banho em água desionizada. Os dois banhos foram realizados de forma que todas as vidrarias fossem imersas no líquido durante 24 horas. Após a limpeza as vidrarias foram devidamente secas. A análise foi realizada em soluções de diferentes concentrações de íons Cu2+ sendo elas 20, 35, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 mgL-1 de Cu2+. A preparação das soluções de trabalho foi feita a partir da diluição de uma solução estoque de 500 mgL-1 de Cu2+. Esta solução foi feita a partir da dissolução de 0.982 g de Sulfato de cobre pentahidratado em água destilada e posterior aferição do menisco de um balão volumétrico de 500 mL. O estudo de adsorção foi realizado mediante imersão de 50 mg das esferas em 25 mL de cada uma das soluções de Cu2+ preparadas anteriormente. Essa solução foi mantida em banho-maria termostatizado (25 °C ± 0,5 °C) metabólico tipo Dubnoff (TE053 da Tecnal) com agitação pendular (4 rpm) até atingir o tempo de equilíbrio (6 horas para as esferas de quitosana e 72 horas para as esferas de quitosana reticulada). Atingido o equilíbrio as esferas foram separadas por filtração e o sobrenadante, após diluição adequada, guardado para análise por espectrofotometria de absorção atômica. O espectrofotômetro de absorção atômica utilizado foi o AAnalyst400 da Perkin Elmer. As soluções-padrão utilizadas para construção da curva de calibração foram obtidas por meio de diluições de uma solução padrão de cobre 1000mg/L (PACU1000- 0125) para as seguintes concentrações: 0,5, 1, 2, 5, 8 e 10 mgL-1. 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA A purificação se fez necessária de modo a tornar os resultados mais reais eliminando possíveis interferentes, pois é observado, após a dissolução da quitosana em ácido acético, material suspenso. O método de purificação foi escolhido em função de sua praticidade (SIGNINI, CAMPANA FILHO, 1998). Os rendimentos das purificações foram em torno de 70%. Apesar do rendimento não ser tão alto, como encontrado na literatura 85-95% (SIGNINI, CAMPANA FILHO, 2001) por métodos semelhantes, ele é satisfatório. O rendimento mais baixo do que o esperado pode ser atribuído a etapa de transferência logo após a neutralização, na qual parte da quitosana aderiu ao papel de filtro, impossibilitando sua extração sem contaminação do material. A quitosana purificada apresentou uma coloração mais escura do que a natural, enquanto esta possuía cor bege claro a outra se apresentava marrom escuro, devido as partículas de quitosana após seca se agregarem. 4.2 PRODUÇÃO DAS ESFERAS DE QUITOSANA Para a produção das esferas de quitosana foram feitos estudos variando-se o veículo de gotejamento. Esferas produzidas por quatro meios diferentes (bureta, bomba peristáltica, seringa sem agulha e seringa com agulha) foram analisadas por microscopia óptica. Após as análises optou-se pelo método que resultava em esferas de menor diâmetro, uma vez que quanto menor a área superficial relativa a uma mesma massa maior a interação, nesse caso a adsorção. Logo o método escolhido para a produção das esferas foi a partir do gotejamento utilizando como veículo uma seringa (10 mL) acoplada com uma agulha de dimensões 0,45 mm x 13 mm (26 G½). O rendimento da produção das esferas de quitosana, por gotejamento com seringa, foi em torno de 81%. A coloração das esferas de quitosana foi de amarelo claro, quando úmidas a marrom claro, quando secas. 28 A Figura 6 demonstra uma das análises de microscopia ótica de esferas de quitosana produzidas pelo método escolhido. As esferas reticuladas foram, também, analisadas por microscopia ótica e as fotografias são mostradas na Figura 7. (a) (b) Figura 6 – Microscopia ótica de uma esfera de quitosana com Objetiva com ampliação de 4x (a) e Objetiva com aumento de 10x (b). (a) (b) Figura 7 – Microscopia ótica de três esferas de quitosana reticulada com Objetiva com aumento de 4x (a) e Objetiva com ampliação de 10x (b). Um exemplo da análise de microscopia ótica de esferas obtidas pelos diferentes métodos, indicados entre parênteses, está representado na Figura 8. 29 (a) (c) (b) (d) Figura 8 – Microscopia ótica (Objetiva com aumento de 4x) das esferas produzidas por quatros diferentes métodos (a, b, c, d). O diâmetro médio das esferas de quitosana produzidas pelo método escolhido foi de (1197,89 ± 132,59)µm para um conjunto de 23 esferas, enquanto que outros métodos resultaram em diâmetros maiores (1900 µm – bureta; 1700 µm – bomba; 1600 µm – Seringa sem agulha). 4.3 RETICULAÇÃO O rendimento das esferas de quitosana reticulada foi em torno de 90%. Observou-se que as esferas úmidas são dotadas de uma fragilidade e quando submetidas a algum impacto, por exemplo, agitação exagerada, se desfizeram em pedaços novamente, o que pode ter diminuído o rendimento. 30 A coloração das esferas após a reação de reticulação é alterada, o que confirma uma modificação, de forma que aparentam, quando úmidas, uma coloração amarelo fosco e, quando secas, uma coloração avermelhada. Ocorre também alteração na textura das esferas enquanto úmidas. Com a adição do glutaraldeído as esferas, antes macias e parcialmente flexíveis, se tornaram duras e quebradiças. Tal fato indica uma alteração na estrutura do enovelamento das moléculas de forma a modificar as propriedades mecânicas (ROBERTS, 1992; MI et al., 2000). A interação da quitosana com solventes polares é fortemente induzida pelos dipolos OH e NH2 permanentes da molécula, ao se modificar esses dipolos, por exemplo, através de uma reação química tem-se a alteração dessa interação. A presença de ligações cruzadas impede que as moléculas ligadas sejam separadas por ação do solvente, resultando em diminuição da solubilidade. As ligações intermoleculares da quitosana modificada faz com ocorra um arranjo das cadeias poliméricas, de modo que estas formem uma rede tridimensional. Com essa perda de mobilidade (aumentando a cristalinidade) a capacidade de intumescimento (expansão) é prejudicada diminuindo a taxa de relaxamento das cadeias poliméricas, sendo responsável pela insolubilidade em meio ácido (ROBERTS, 1992; MI et al., 2000). 4.4 CARACTERIZAÇÃO DA QUITOSANA A caracterização das amostras quitosana foi realizada com o intuito de se determinar o grau médio de acetilação (%GA), verificar os principais grupos funcionais presentes na quitosana e constatar o grau de reticulação. Para isto foram realizadas análises de titulação potenciométrica, determinando-se o grau médio de acetilação (%GA) e constatando a reticulação das cadeias poliméricas, e análise por espectroscopia de absorção na região do infravermelho para a verificação dos grupos funcionais presentes na quitosana. 4.4.1 Grau de Acetilação O grau de acetilação foi obtido pela titulação potenciométrica com NaOH. A quantificação é feita através da titulação com um padrão secundário (solução de NaOH 31 padronizado com biftalato de potássio) determinando-se o ponto final da titulação com base no potencial hidrogeniônico da solução. Com a adição de ácido clorídrico ocorre a protonação dos grupos amina da quitosana (-NH3+), cujo pKa vale 6,5, e consequente solubilização do material. Os grupos acetamidas residuais do processo de desacetilação não são protonados, pois apresenta pKa muito mais baixo. O fato dos pares de elétrons não compartilhados do nitrogênio do grupo acetamida não estarem tão disponíveis devido a ocorrência de conjugação com a carbonila contribui para o valor baixo de pKa. Esse é o princípio da determinação potenciométrica do grau de acetilação (diferenciação entre quitina e quitosana). O uso de um ácido forte é de essencial importância, pois garante que a titulação aconteça por partes, gerando dois pontos de inflexão, ou seja, os dois pontos de inflexão ficam muito diferenciados em relação ao pKa. Assim, é titulado primeiro o excesso do ácido forte e em seguida os grupos protonados da quitosana. O volume indicado pelo primeiro ponto de inflexão da curva potenciométrica (Figura 9) representa o volume gasto necessário para neutralizar o excesso de ácido no meio, ou seja, os íons H3O+ em solução. Enquanto que o segundo ponto de inflexão representa a neutralização dos grupos amino protonados (NH3+) da quitosana, logo a diferença entre os dois volumes dá o volume de NaOH necessário para titular apenas os grupos aminos presente na quitosana. A derivada primeira das curvas potenciométricas (Figura 9) gera os valores correspondentes aos pontos de inflexão – o primeiro ponto de inflexão corresponde ao volume V1 e o segundo ponto ao volume V2. A diferença dos volumes (V2 - V1) corresponde ao volume necessário para titular os grupos aminos protonados, de tal forma que o grau de acetilação possa ser calculado pela equação 5 e 6. Os resultados do grau de acetilação são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 – Resultados do grau de acetilação das amostras de quitosana. Amostra V2 –V1 (mL) Massa de quitosana (g) %GD %GA 1 9,3 0.2025 74,5 25,5 2 10,2 0,2223 74,4 25,6 3 9,0 0,2015 72,4 27,6 73,8 ± 0,97 26,2 ± 0,97 Média: 12 6 10 5 8 4 dpH/dV pH 32 6 V 2 = 2 5 ,5 m L 3 2 4 V 1 = 1 6 ,2 m L 1 2 0 5 10 15 20 25 30 35 0 40 0 5 10 15 20 Volum e de NaOH (m L) 30 35 40 6 12 5 10 V1=25,5 mL 4 dpH/dV 8 pH 25 pH 6 3 2 4 V1=15,3 mL 1 2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 Volume de NaOH (mL) 20 25 30 35 40 45 6 12 V2=25,2 mL 5 10 4 dpH/dV 8 pH 15 Volume de NaOH (mL) 6 3 2 4 V1=16,2 mL 1 2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 Volume de NaOH (mL) 5 10 15 20 25 30 35 Volume de NaOH (mL) (c) Figura 9 – Curvas potenciométricas das amostras (a direita) de quitosana (a, b , c) e suas respectivas derivadas de primeira ordem (a esquerda). O grau de acetilação é complementar ao grau de desacetilação de modo que uma quitosana que possua GD igual a 73,8% tem 73,8 grupos amino e 26,2 grupos acetamida, sendo o número total de grupos igual a 100. Os resultados revelam a 40 45 33 caracterização da quitosana, importantíssimo na compreensão da solubilidade e de suas outras propriedades, de forma que uma boa reprotutibilidade foi atingida. Com um grau de acetilação de 73,8% pode-se afirmar que o material em questão é quitosana e não quitina, além disso, a solubilidade em ácido diluído (ácido acético) foi constatada o que se caracteriza quitosana e não quitina. 4.4.2 Grau de Reticulação As amostras de esferas de quitosana reticulada (amostra 1, 2 e 3) foram caracterizadas verificando-se qualitativamente o grau de reticulação, a qual é realizado mediante titulação potenciométrica com NaOH de uma suspensão de esferas de quitosana reticuladas em ácido clorídrico. Um resultado negativo, representado por uma reação incompleta de reticulação, é representado por uma curva potenciométrica semelhantes a aquelas apresentadas no grau de acetilação (Figura 9), possuindo dois pontos de inflexão - um relativo ao excesso de ácido e outro relativo a protonação da quitosana. Um resultado positivo – a reticulação das cadeias poliméricas – é representado por uma curva de titulação ácidobase simples, apresentando apenas um ponto de inflexão, diferentemente da curva potenciométrica da quitosana sem reticulação, que apresenta dois pontos de inflexão (Figura 9). O segundo ponto de inflexão está associado a titulação dos grupos protonáveis da quitosana, estando relacionado a quantidade de grupos amina presentes no polímero. Uma vez que esse ponto não aparece na curva de titulação das esferas de quitosana reticulada, tem-se uma indicação de que o material continua insolúvel, ou seja, não se solubilizou com a adição do ácido. Tal resultado pode ser interpretado como o surgimento de um novo material (quitosana modificada) que é insolúvel em toda a faixa de pH. A Figura 10 apresenta as curvas potenciométricas referentes a análise qualitativa da reticulação das esferas de quitosana com glutaraldeído. A partir das curvas de titulação potenciométrica apresentado na Figura 10, percebe-se que as curvas se comportam como curvas de titulação ácido-base simples, indicando a ocorrência de um processo de reticulação das cadeias de quitosana. 34 12 10 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Branco pH 8 6 4 2 0 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Volume de NaOH (mL) Figura 10 – Curvas potenciométricas relativas ao grau de reticulação realizado em triplicata (Amostra 1, 2, 3). 4.4.3 Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho O espectro de absorção na região do infravermelho de uma molécula revela grupos funcionais que são capazes de absorverem em determinadas frequências da radiação infravermelha. O espectro de absorção na região do infravermelho da quitosana está registrado na Figura 11. Analisando o espectro da quitosana pode-se visualizar como principais bandas de absorção, aquelas que ocorrem nas seguintes regiões: 3436, 2923, 1649, 1596, 1421, 1262, 1080 e 1034 cm-1. As últimas três regiões supracitadas são característica da estrutura sacarídea representadas pela deformação de O-H em 1034 cm-1, estiramento de C-O em 1080 cm-1 e estiramento de C-N em 1262 cm-1 (SANKARARAMAKRISHNAN e SANGHI, 2006). 35 66 64 1649 54 50 4000 617 1080 52 1155 1034 1596 56 1382 1421 1323 58 898 1262 60 2923 Transmitância 62 3436 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de Onda (cm ) Figura 11 – Espectro de absorção na região do infravermelho da quitosana. A banda larga e forte na região de 3500-3300 cm-1 é característica de vibrações de estiramentos das ligações O-H e NH2, estando sobrepostas entre si. A banda em 2923 cm-1 representa estiramento C-H, em –CH e –CH2. As bandas que ocorrem acopladas em 1649 cm-1 e 1596 cm-1estão associadas ao estiramento C=O dos grupamentos de amidas secundárias (banda de amida II) e a deformação angular simétrica no plano do grupo –NH2, respectivamente. As bandas 1421, 1382 e 1323 cm-1 são atribuídas a deformação angular C-H dos grupos CH3. A banda 1080 cm-1 corresponde ao estiramento da ligação C-O de álcoois primários (SILVERSTEIN, BASSLER e MORRIL, 1994). O espectro da quitosana reticulada com glutaraldeído (Figura 12) demonstra pouca diferença com o espectro da quitosana (Figura 11). Uma melhor visualização dos dois espectros é mostrada na Figura 13. Entre as diferenças pode-se observar a diminuição na intensidade da banda que ocorre na região de 1596 cm-1, em relação a banda que ocorre na região de 1650 cm-1, a qual aumenta sua intensidade no espectro de quitosana reticulada. Tal fato confirma a ocorrência da reação de reticulação que acontece entre o glutaraldeído e o grupo amino da quitosana para a formação de um grupo imino (azometino) que corresponde, no espectro de infravermelho, a região de 1689-1471 cm-1 (SILVERSTEIN, BASSLER e MORRIL, 1994), nesse caso podendo estar sobreposto a banda de amida II, o que explica o aumento na intensidade da banda em 1650 cm-1 quando comparada a aquele em 1596 cm-1. Outra diferença é o aumento da intensidade da banda na região de 2883 cm-1 que corresponde as vibrações axial do 36 grupamento C-H, possivelmente, da molécula adicionada (glutaraldeído) que se encontra ligando as cadeias poliméricas. 80 2125 75 1155 1072 1031 55 3445 50 4000 3500 563 1379 2927 1655 2883 65 60 898 1420 1321 Transmitância 70 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de Onda (cm ) Figura 12 – Espectro de absorção na região do infravermelho da quitosana modificada. 85 Quitosana Modificada Quitosana 80 Transmitância 75 70 65 60 55 50 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de Onda (cm ) Figura 13 – Sobreposição dos espectros de quitosana (vermelho) e de quitosana modificada (preto). 37 4.5 PROCESSO DE ADSORÇÃO 4.5.1 Tempo de equilíbrio Entende-se como tempo de equilíbrio o tempo gasto para saturar os sítios de ligação (grau de recobrimento) do adsorvente com o adsorvato. Esse tempo pode ser determinado analisando a condutividade iônica de uma solução contendo a substância de interesse quando em contato com o adsorvente. O tempo de equilíbrio encontrado para as esferas de quitosana foi de 6 horas (360 minutos). Para as esferas de quitosana reticulada o tempo encontrado foi de 72 horas (4320 minutos). A partir do tempo de equilíbrio não foi detectada mudança significativa na condutividade iônica da solução contendo íons cobre, indicando uma relação de equilíbrio, na qual a adsorção dos íons pelas esferas tornou-se constante. Nesse ponto todos os sítios de ligação estavam sendo ocupados, e não mais íons cobre poderiam ser adsorvidos. A Figura 14 representa os gráficos de Condutividade versus tempo explanando o tempo de equilíbrio encontrado. 0,20 0,24 0,18 0,23 0,14 Condutividade (2mS) Condutividade (2mS) 0,16 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,22 0,21 0,20 0,19 0,18 0,02 0,17 0,00 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 0 2000 4000 6000 Tempo (min) Tempo (min) (a) (b) 8000 Figura 14 – Gráficos de Condutividade x Tempo: (a) esferas de quitosana e (b) esferas de quitosana reticulada. A Figura 14 mostra uma relação quase linear do decréscimo da condutividade da solução em função do tempo até aproximadamente 200 minutos para as esferas sem 10000 38 reticulação e até aproximadamente 4000 minutos para as esferas de quitosana reticulada. A partir desses tempos a relação torna-se exponencial e assintótica a um determinado valor de condutividade. Esse valor representa o mínimo de condutividade que a solução pode atingir para determinado experimento. O valor respectivo ao mínimo de condutividade, no eixo Tempo corresponde ao tempo de equilíbrio. 4.5.2 Estudo de Adsorção de íons Cu2+ A análise da adsorção de íons se baseia nas isotermas de adsorção. Para a obtenção das isotermas foi realizado um experimento no qual se analisou a variação na concentração de soluções contendo íons Cu2+, sendo elas 20, 35, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 mgL-1 de Cu2+ . A análise consiste basicamente na determinação da concentração inicial (antes do contato com as esferas de quitosana) e da concentração final (no tempo de equilíbrio, após o contato) das soluções de trabalho, sendo a diferença das concentrações o parâmetro determinístico para a quantidade de íons Cu2+ adsorvidos. O método utilizado para se determinar as concentrações foi a espectrofotometria de absorção atômica. 4.5.2.1 Esferas de quitosana Visualmente se observa a interação quitosana-Cu2+ pela alteração na cor das esferas que com o tempo se tornaram cada vez mais azuladas. A Tabela 2 apresenta os dados obtidos por espectrometria de absorção atômica referentes as concentrações iniciais (C0), as médias das concentrações finais (Ceq) e consequentemente a quantidade de íons cobre adsorvida, em miligramas de cobre por grama de quitosana, para cada experimento. Tal quantidade (íons Cu2+ adsorvidos) pode ser calculada pela equação 7, = ( 3 − )×& (7) sendo: C0 a concentração inicial de Cu2+ na solução (mgL-1); Ceq a concentração de Cu2+ no equilíbrio (mgL-1); V o volume da solução (L); 39 M a massa do adsorvente; Tabela 2 – Resultados da análise de absorção atômica e porcentagem de adsorção de Cu2+ em esferas de quitosana. 2+ Amostra -1 -1 -1 Remoção de Cu C0 (mgL ) Média Ceq (mgL ) q (mgg ) -1 10,61 1,90 4,25 82,09 -1 31,08 12,42 9,11 60,04 -1 46,82 23,46 11,41 50,88 -1 55,50 29,55 12,62 46,76 -1 65,93 36,00 14,25 45,40 -1 77,03 44,31 15,42 42,48 -1 85,11 51,34 16,02 39,68 93,33 60,46 15,60 35,22 20 mgL 35 mgL 50 mgL 60 mgL 70 mgL 80 mgL 90 mgL -1 100 mgL (%) A priori observa-se que em concentrações mais baixas as esferas de quitosana tendem a adsorver quase que completamente os íons da solução, o que pode indicar o quão sensível é o biopolímero a se complexar com íons metálicos, ou seja, mesmo em concentrações baixas do íon ocorre a formação do complexo (adsorção) o que diferencia de outros métodos que não tem a sensibilidade dessa detecção. Goy, Assis e Campana-Filho (2004) estudaram a adsorção de íons cobre(II) em esferas de quitosana, a uma temperatura média de 25 °C, obtidas de modo semelhante as desse trabalho. As esferas com diâmetro médio de 800 µm removeram cerca de 43% de íons Cu2+ de uma solução de aproximadamente 10 mgL-1, quase a metade do valor encontrado nesse estudo (remoção de aproximadamente 82%). A diferença de resultados pode estar relacionada ao procedimento de preparo das esferas, como a altura do gotejamento, as características da seringa (dimensão do orifício), a velocidade de agitação, ao grau de acetilação e massa molecular da quitosana. Tais fatores contribuem, por exemplo, para as características da superfície das esferas que estão inseparavelmente ligadas ao processo de adsorção. Nesse estudo foram empregadas as isotermas de Langmuir e Freundlich para se tratar os dados experimentais. A isoterma de Langmuir prevê que a adsorção (recobrimento) ocorra em apenas uma camada molecular (monocamada), sendo que os sítios de adsorção são considerados uniformes e as moléculas adsorvidas não interagem 40 com os sítios ou moléculas vizinhas (ATKINS e DE PAULA, 2006). Assim sendo a construção da Isoterma de Langmuir (equação 8) se faz a partir de um gráfico Ceq/q versus Ceq (Figura 15a). A linearização dos dados, regressão linear, origina uma equação da reta no qual é possível determinar as constantes de Langmuir (KL e qmáx), = 1 × ( + ( (8) sendo: Cqe é a concentração no equilíbrio (mgL-1); q é a quantidade do metal adsorvido (mgg-1); qmax é a quantidade máxima de metal adsorvido (mgg-1); KL é a constante de Langmuir (Lmg-1); A isoterma de Freundlich ocorre geralmente em multicamadas diferentemente da monocamada exigida pela isoterma de Langmuir, sendo a primeira uma derivação da segunda na qual modifica-se a hipótese de que todos os sítios são equivalentes. A construção da Isoterma de Freundich (equação 9) se faz a partir da linearização de um gráfico log q versus log Ceq (Figura 15b), log = log 1 + × log 9 (9) sendo: Cqe é a concentração no equilíbrio (mgL-1); q é a quantidade do metal adsorvido (mgg-1); 1/n é uma constante adimensional relacionada com a intensidade da adsorção, também conhecido como fator de linearidade; KF é a constante de Freundlich; As constantes encontradas para os presentes dados (esferas de quitosana) estão representadas na Tabela 3, na qual se encontram também as duas equações referentes aos gráficos da Figura 15. 41 1,3 4,0 Isoterma de Langmuir Isoterma de Freundlich 1,2 3,5 1,1 log q (mg/g) 3,0 Ceq/q(g/L) 2,5 2,0 1,5 1,0 1,0 0,9 0,8 0,7 0,5 0,6 0,0 0 10 20 30 40 50 60 0,2 70 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 Ceq(mg/L) log Ceq (mg/L) (a) (b) 1,4 1,6 Figura 15 – Linearização das isotermas de Adsorção para as esferas de quitosana: (a) Langmuir e (b) Freundlich. Tabela 3 – Parâmetros obtidos pelos modelos teóricos para as esferas de quitosana. Modelo Equação da Reta R Langmuir y = 0,56561 + 0,05404x Freundlich y = 0,51417 + 0,40562x qmax(mg. 2 KF KL -1 -1 1/n -1 g ) (L.mg ) (L.g ) 0,97579 18,50 0,096 - - 0,99837 - - 3,27 0,40 Pode-se analisar o modelo de Langmuir a partir das constantes KL e qmax, dados pelos coeficientes angular e linear da equação da reta (Isoterma de Langmuir), estando essas constantes relacionadas com a energia da adsorção e a capacidade de adsorção máxima. Existe ainda outro parâmetro, RL, chamado parâmetro de equilíbrio que é uma constante adimensional que indica se a adsorção é ou não favorável. Para valores entre 0 e 1 a adsorção é considerada favorável (FUNGARO e DA SILVA, 2002). A constante RL é definida pela equação 10, ; = sendo: RL o parâmetro de equilíbrio; KL a constante de Langmuir (L.mg-1); (1 + 1 × 3) (10) 1,8 42 C0 a concentração inicial mais alta do metal (mg.L-1). O parâmetro de equilíbrio encontrado para a adsorção de cobre por esferas de quitosana foi de 0,094, o que mostra que o processo de adsorção do cobre em quitosana é favorável. A quantidade máxima de íons de cobre(II) adsorvida para esse sistema foi de 18,50 mg de cobre por grama de quitosana. Tal valor é, quando comparado com a literatura, razoavelmente elevado. Carvalho (2006) encontrou um valor de qmax, usando o modelo de Langmuir, de 5,9185 mg de Cu2+ por grama de esfera de quitosana e no mesmo trabalho encontrou 6,7317 mg de Cu2+ por grama de esfera de quitosana com uma espécie de bactéria imobilizada. Ghaee et al. (2010) estudando a adsorção de íons cobre(II) em membranas de quitosana encontraram um valor, ligeramente inferior ao encontrado nesse trabalho para esferas, de 17,660 mgg-1 para a capacidade máxima de adsorção de membranas contendo 6% de quitosana com aproximadamente 0,16 mm de espessura. A partir da constante de Langmuir é possível também calcular o calor (∆H) de adsorção pela aproximação da equação 11 (CHAVES, et al., 2009), ∆= = −; × > × log (11) sendo: ∆H o calor de adsorção; R a constante universal dos gases (8,314 Jmol-1K-1); T a temperatura em kelvin (298 K). O valor obtido para o calor de adsorção de íons Cu2+ pelas esferas de quitosana foi de 2,52 kJmol-1 caracterizando uma adsorção física (baixos calores de adsorção) ou fisiossorção. A isoterma de Langmuir descreve melhor a adsorção química, pois essa não prossegue além da formação de uma única camada sobre a superfície do adsorvente. (CASTELLAN, 1986) Tal fato revela que a isoterma de Langmuir não é a mais adequada para o tratamento dos dados experimentais. Esse fato é ainda confirmado quando o tratamento é feito com o modelo de Freundlich, obtendo-se um fator de correlação (R2) de 0,99837, superior ao fator de correlação do ajuste de Langmuir (R2 = 0,97579). 43 A análise do modelo de Freundlich é baseada nas constantes KF e 1/n que se relacionam com a capacidade de adsorção do adsorvente, ou seja, afinidade do adsorvato com o adsorvente e com a intensidade da adsorção (fatores dependentes da temperatura, heterogeneidade do sistema, do adsorvente e do adsorvato), respectivamente. Para valores de n entre 1 e 10 a adsorção é considerada favorável. (SOARES, 1998) O valor de n obtido neste trabalho foi de 2,5 confirmando a espontaneidade da adsorção, como já confirmado também pelo valor de RL. O valor da constante de Freundlich obtida (3,27 Lg-1) revela a alta afinidade dos íons cobre(II) pelas esferas de quitosana. 4.5.2.2 Esferas de Quitosana reticulada A Tabela 4 apresenta os dados obtidos a partir da análise de espectrofotometria de absorção atômica referentes as concentrações iniciais (C0), as médias da concentrações finais (Ceq) e consequentemente a quantidade de íons cobre(II) adsorvida (calculada pela equação 7), em miligramas de cobre por grama de quitosana, para cada experimento. Tabela 4 – Resultados da análise de absorção atômica e rendimento da adsorção de Cu2+ em esferas de quitosana. 2+ Amostra -1 -1 -1 Remoção de Cu C0 (mgL ) Média Ceq (mgL ) q (mgg ) -1 15,65 12,25 1,67 21,72 -1 29,94 24,17 2,83 19,27 -1 44,87 37,88 3,42 15,58 -1 54,61 46,21 4,17 15,38 -1 64,62 55,35 4,55 14,34 -1 74,55 63,48 5,42 14,85 -1 85,24 73,24 5,91 14,08 96,33 83,40 6,42 13,42 20 mgL 35 mgL 50 mgL 60 mgL 70 mgL 80 mgL 90 mgL -1 100 mgL (%) Goy, Assis e Campana-Filho (2004) encontraram valores semelhantes de remoção de íons Cu2+, a temperatura média de 25 °C, por esferas de quitosana reticulada com glutaraldeído. No estudo em questão a remoção de Cu2+ foi de 23% para uma 44 solução de aproximadamente 10 mgL-1, enquanto no atual estudo a remoção de cobre(II) para a solução de 15,65 mgL-1 foi de aproximadamente 22%. O comportamento de remoção de íons Cu2+ pelas esferas de quitosana reticulada se assemelha ao das esferas sem reticulação, no sentido de que em concentrações mais baixas a remoção de íons cobre(II) é maior. É visível, porém, a discrepância na quantidade de íons removidos pelos dois materiais. Enquanto que a adsorção pelas esferas de quitosana varia com valor máximo de 82,09% a um valor mínimo de 35,22%, a remoção pelas esferas de quitosana reticulada varia com valor máximo de 21,72% a valor mínimo de 13,42%. Tal resultado indica as esferas de quitosana, sem reticulação, como melhor adsorvente de íons cobre(II). Pode-se observar que o resultado de baixa remoção de íons cobre(II) pelas esferas reticuladas refletem na confirmação teórica de que os sítios quelantes da quitosana são compostos por grupos aminas. E uma vez que esses grupos aminas são imobilizados, reação de reticulação (formação do grupo imino), a capacidade de quelação é diminuída (menor acessibilidade aos sítios de ligação). Apesar da menor capacidade de adsorção das esferas de quitosana reticulada, quando comparadas com as esferas sem reticulação, esse material oferece uma oportunidade de aplicação em um meio ácido, na qual o material sem reticulação se tornaria solúvel. Como os experimentos foram realizados em um pH mediano de 5,0 os resultados para valores de pH mais ácidos ficam incognoscíveis. Caso os experimentos não fossem realizados em um pH mediano ou elevado, no qual ambos os materiais são insolúveis, os resultados seriam drasticamente diferentes, uma vez que as esferas de quitosana se solubilizariam impossibilitando o processo de adsorção, tornando-se inviável o trabalho nessa condição com esse material. Os tratamentos teóricos dos dados experimentais estão apresentados na Tabela 5, na qual se pode também encontrar as equações das retas referentes as isotermas de Langmuir e Freundlich, que estão apresentadas na Figura 16. 45 0,9 Isoterma de Langmuir 13 Isoterma de Freundlich 0,8 0,7 log q (mg/g) Ceq/q(g/L) 12 11 10 0,6 0,5 0,4 9 0,3 8 0,2 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1,0 1,2 1,4 Ceq(mg/L) 1,6 1,8 log Ceq (mg/L) (a) (b) Figura 16 – Linearização das isotermas de adsorção para as esferas de quitosana reticulada: (a) Langmuir e (b) Freundlich. Tabela 5 – Parâmetros obtidos pelos modelos teóricos aplicados as esferas de quitosana reticulada. - - qmax(mg. KL (Lmg KF (Lg g ) -1 1 ) 1 1/n 0,96968 14,02 0,0098 - - 0,99703 - - 0,28 0,71 Modelo Equação da Reta R Langmuir y = 7,25342 + 0,07133x Freundlich y = -0,55673 + 0,71223x 2 ) Aplicando o ajuste de Langmuir obtém-se uma capacidade máxima de adsorção (qmax) de 14,02 mg de Cu2+ por grama de esfera de quitosana reticulada. Ao comparar os dois valores de qmax encontrados no presente trabalho, para esferas sem e com reticulação, observa-se uma pequena diferença, podendo-se supor que as esferas de quitosana reticulada devem adsorver maiores quantidades de Cu2+ em soluções de concentrações não estudadas. Tal resultado faz com que as esferas de quitosana reticulada se assemelhem as sem reticulação em quantidade de matéria adsorvida, porém, é válido ressaltar que o processo de adsorção nas esferas reticuladas é mais lento do que nas sem reticulação, o que pode ser crucial na escolha do adsorvente para alguma aplicação. O parâmetro de equilíbrio (RL) encontrado para a adsorção de cobre por esferas reticuladas, baseado na constante de Langmuir encontrada, foi de 0,50, ou seja, tratando-se assim de um processo favorável. O valor obtido para o calor de adsorção de 2,0 46 íons Cu2+ pelas esferas de quitosana reticulada foi de 0,746 kJmol-1 caracterizando uma adsorção física ou fisiossorção, devido ao baixo calor de adsorção. Da mesma forma que as esferas sem reticulação, as esferas reticuladas são melhores descritas por um modelo de multicamadas, como o de Freundlich. Os dados experimentais são melhores ajustados pelo modelo de Freundlich, como visualizado nos coeficientes de correlação: R2 = 0,99703 para o ajuste de Freundlich contra R2 = 0,96968 para o ajuste de Langmuir. Analisando a isoterma de Freundlich encontra-se o valor de n de 1,4 confirmando a espontaneidade da adsorção, como já visualizado também pelo valor de RL. O resultado é semelhante ao encontrados para as esferas de quitosana, embora as constantes obtidas para as esferas reticuladas sejam menores, o que possivelmente reflete na menor capacidade de adsorção e menor afinidade (KF = 0,28 Lg-1) aos íons Cu2+ (adsorção lenta). 47 5 CONCLUSÃO O presente trabalho permitiu concluir que: 1. A reação de reticulação com glutaraldeído levou a formação de um novo material, visivelmente diferente, insolúvel em meio ácido, diferentemente do material de partida, no caso a quitosana que se mostra solúvel em meio ácido. 2. As esferas de quitosana e esferas de quitosana reticuladas possuem uma boa afinidade por íons cobre(II), sendo eficientes na remoção desse íons, porém as esferas de quitosana sem reticulação apresentaram-se mais eficientes que as esferas de quitosana reticulada. 3. O processo de adsorção de íons cobre(II) pelas esferas de quitosana foi classificado como adsorção física, possuindo calores de adsorção (∆H) baixos, sendo que para as esferas sem modificação o valor de ∆H foi de 2,52 kJmol-1 e para as esferas modificadas o valor de ∆H foi de 0,746 kJmol-1. 4. A adsorção de íons Cu2+ pelas esferas quitosana e esferas de quitosana reticulada não é restrita a uma camada (monocamada) de adsorção, uma vez, que os dados são melhores ajustados isotermicamente pelo modelo de Freundlich que pressupõe adsorção em superfície heterogênea. 5. Aplicando-se os modelos matemáticos conclui-se que a adsorção de íons cobre(II) pelas esferas de quitosana é favorável, mostrado pelo valor do parâmetro de equilíbrio (RL) e pela constante n que para as esferas sem reticulação foi de 0,094 e 2,5, respectivamente, e para as esferas reticuladas de 0,5 e 1,4, respectivamente. 6. É possível, também, concluir que a quitosana tem uma boa afinidade pelos íons metálicos, representada pela constante de Langmuir (KL) e confirmada pela constante de Freundlich (KF). O valor obtido de KL e de KF foi de 0,096 Lmg-1e de 3,27 Lg-1 para as esferas naturais, de 0,0098 Lmg-1 e de 0,28 Lg-1 para as esferas modificadas, respectivamente. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONINO, N.A. Otimização do Processo de Obtenção de Quitina e Quitosana de Exoesqueletos de Camarões Oriundos da Indústria Pesqueira Paraibana. 2007. 88f. Dissertação (Mestrado em Ciências – Química Inorgânica) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007. ATKINS P., DE PAULA J. Físico-química. Rio de Janeiro-RJ. Editora LTC, 8.ed. v. 2, p. 322-330, 2008. BARAN, A.; BIÇAK, E.; BAYSAL, S.H.; ÖNAL, S. Comparative Studies on the Adsorption of Cr(VI) Ions on to Various Sorbents. Bioresource Technology, v. 98; p. 661-665, 2006. BEPPU, M.M.; ARRUDA, E.J.; SANTANA, C.C. 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