PERMEAÇÃO DE FÁRMACOS ATRAVÉS DE MEMBRANAS DE QUITOSANA MODIFICADAS COM POLI(ÓXIDO DE ETILENO) Cypriano. G. da T. Neto1*, José A. Giacometti2, José L. C. Fonseca1, Márcia R. Pereira1 1 Departamento de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Faculdade de Ciência e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista 1 * Campus Universitário, Lagoa Nova, Caixa Postal 1662, Natal, RN 59078-970, Brasil - [email protected] 2 Permeation of drugs in blends of chitosan and poly(ethylene oxide) Chitosan-poly(ethylene oxide) blend membranes were manufactured and used in the study of permeability of drugs, sulfamerazine and sulfametoxipyridazine. The drug concentration was changed from 1.0 to 0.1 % while membrane thickness was varied 30 to 40 µm and the release rate was measured by spectrophotometric determination at 30 +/- 0.1 °C. An increase in permeability with increase in poly(ethylene oxide) concentration is probably due to an increase in membrane hydrophilicty. This hypothesis was confirmed by DSC and TG analysis. Introdução A quitina, depois da celulose, é o polímero natural mais abundante sendo encontrado no esqueleto de crustáceos e em outros materiais biológicos. É estruturalmente idêntica a celulose diferenciando-se desta por possuir um grupo acetamida no lugar de uma hidroxila secundária no segundo átomo de carbono da unidade repetitiva de hexose, sendo basicamente um poli (β -(1-4) - 2 - amino - D - glucose). A quitosana é um derivado da quitina obtido pela desacetilação desta com um álcali. É um copolímero composto de unidades ( β -(1-4) - 2 - acetamida - D - glucose) e de unidades (β -(1-4) - 2 - amino - D - glucose) solúvel em ácidos diluídos e com estas soluções, pode haver a formação de filmes 1. O polióxido de etileno (PEO), um polímero termoplástico, solúvel em água, produzido pela polimerização heterogênea do óxido de etileno é facilmente solúvel a temperatura ambiente, contudo a temperaturas elevadas (> 98 oC) sua solubilidade diminui . A quitosana é um dos mais promissores polímeros utilizados na preparação de membranas para vários usos, como purificação da água em processos de osmose reversa 2-3 e sistema de liberação para vários produtos farmacêuticos4-5. Apesar da quitosana ser um polímero natural abundante, obtida a partir de recursos marinhos renováveis, sua utilização comercial não tem sido tão intensa como a de outros biopolímeros como a celulose e o ácido hialurônico. A quitosana possui propriedades mecânicas, físicas e químicas que a tornam apropriada para uso em um grande número de produtos médicos e farmacêuticos5, entretanto a literatura mostra que a quitosana possui pouca compatibilidade sanguínea, promovendo a adesão das plaquetas provocando trombose quando em contato com o sangue. As interações que levam a trombose ocorrem na interface sangue-biomaterial, uma modificação desta superfície com polímeros solúveis em água podem prevenir a adsorção de proteínas, a adesão de plaquetas e a formação do trombo através de um mecanismo de repulsão estérica6, deste modo, cadeias de PEO ligadas à superfície tem se mostrado bastante eficazes no aumento da compatibilidade sanguínea, de diferentes materiais poliméricos7. A quitosana modificada com PEO mostrou prevenir a adesão de plaquetas e sua ativação8. Deste modo este trabalho destina-se à criação de um novo tipo de membrana e a avaliação de sua eficácia na liberação controlada de alguns fármacos através do estudo da difusão de substâncias através destas membranas, realizados utilizando uma técnica simples que consiste em colocar a membrana entre dois compartimentos com soluções a diferentes concentrações, onde a difusão ocorre obviamente do compartimento de maior concentração para o menor concentração. Experimental Membranas de quitosana e quitosana-PEO foram preparadas dissolvendo a quitosana e o PEO em solução de ácido acético 2 % a temperatura ambiente deixando sob agitação constante por um período de 24 horas. Após este período as soluções foram filtradas e deixadas em repouso para a eliminação das bolhas. As soluções obtidas foram adicionadas em placas de petri Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 87 e colocadas na estufa a 50 °C por 24 horas para a evaporação do solvente, o filme seco obtido após este período foi imerso em solução de NaOH 5 % por 2 horas, sendo depois lavado com água em abundância e colocado no extensor para secar. Procedeu-se também a reticulação de algumas membranas com solução de glutaraldeído 0,001 % sendo as espessuras das membranas obtidas determinada utilizando-se um micrometro digital Check-line modelo DCF-900. Os ensaios de permeabilidade foram realizados utilizando dois fármacos de diferentes massas molares, sulfamerazina e sulfametoxipiridazina, de modo já descrito na literatura9-10. Curvas de DSC e TG foram obtidas em aparelhos Netzsch DSC 204 e Netzch TG 209 respectivamente, sendo a curva DSC de cada membrana obtida em uma segunda corrida de aquecimento a uma taxa de 10 °C/min em atmosfera de N211 e as curvas de TG a uma taxa de 10 °C/min também em atmosfera de N2. As membranas reticuladas também demonstram um aumento na taxa de permeação, ocasionado por um aumento da hidrofilicidade da membrana e maior acessibilidade da água aos grupos NH2 da quitosana ocasionada pela perda da estrutura cristalina devido a reticulação14. Resultados e Discussão 1. No ensaio de DSC não foram observadas modificações da Tg entre as membranas de quitosana e quitosana-PEO devido a pequena quantidade de PEO adicionada, entretanto pode-se observar um aumento na hidrofilicidade das membranas não reticuladas pela adição do PEO na sua composição, bem como nas membranas reticuladas. No ensaio de TGA as membranas de quitosana-PEO também apresentaram um aumento de sua hidrofílicidade quando comparadas as membranas de quitosana. Nas membranas de quitosana foram observados dois estágios distintos, o primeiro estágio entre 70 e 110 oC associado a perda de água pela membrana e um segundo estágio entre 270 e 320 oC associado a um processo complexo que inclui desidratação dos anéis sacarídicos, despolimerização e decomposição dos grupos acetilados e desacetilados das unidades do polímero12-13. Um terceiro estágio foi observado nas membranas de quitosana-PEO entre 580 e 700 oC, associado ao PEO, confirmando sua presença na mistura. Nos ensaios de permeação as membranas de quitosana-PEO apresentam um aumento na taxa de permeação quando comparadas às membranas de quitosana como mostra a tabela abaixo, provavelmente devido a maior hidrofilicidade do PEO, bem como a presença física do mesmo aumentando o espaço entre as cadeias de quitosana, facilitando a hidratação da membrana. Conclusões A modificação das membranas de quitosana com PEO aumenta a hidrofilicidade das membranas, aumentando também a velocidade permeação de substâncias hidrofílicas através destas. Agradecimentos Os autores agradecem ao MCT ao CNPq pelo suporte financeiro deste trabalho. Referências Bibliográficas 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. P. A. Sandford em Chitin and Chitosan G. Skjak – Braek, T. Anthonsen, P. Standford, Eds.; Elsevier Applied Science, 1989, 51. T. Tsuru ; S. Nakao; S. Kimura J. Memb. Sci. 1995, 108, 269-278. C. K. Yeon; C. U. Kim; K. J. Kim; J. M. Lee J. Memb. Sci. 1999, 156, 197-210. D. Thacharodi; K. P. 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(g/L) Tempo (min) QUIT 0,033 65 QUIT-PEO 0,033 45 QUIT reticulada 0,033 35 88 Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros