Sábado, 28 DE Novembro DE 2015
Vida e Obra de Zé Paulo
Arquivo Pessoal
Exposição reúne obras inéditas do artista, falecido em 2010
FÁBIO ALEXANDRE
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Artista, poeta, autodidata,
bondoso, depressivo. São muitos os adjetivos que definem
José Paulo Ifanger, falecido em
29 de novembro de 2010. Para
celebrar sua carreira, a família
do artista se uniu a Fundação
Pró-Memória de Indaiatuba
para lançar a exposição Vida
e Obra de José Paulo Ifanger,
que teve início em setembro
e termina no próximo dia 11
de dezembro, no Museu do
Casarão Cultural.
“A exposição conta com
telas e desenhos em nanquim
e guache, que representam algumas das fases mais inspiradas de Zé Paulo”, conta a irmã
do artista, Sônia Maria Ifanger Valim. “Temos obras nunca apresentadas ao público,
do início da década de 1970,
que foi uma de suas fases mais
produtivas”, lembra a filha,
Ana Paula Ifanger Sinisgalli.
No total, são nove telas e 15
desenhos em exposição.
O evento traz a primeira
tela de Zé Paulo, um retrato de
Leonardo da Vinci. “Ele começou a pintar com 12 anos
de idade, com seus primeiros rabiscos. Aos 14, pintou
este retrato”, recorda Sônia.
“Sempre foi autodidata, mas
o talento despertou quando
ele se apaixonou pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Tínhamos livros sobre o movimento pela casa toda”, conta.
Nascido em Campinas em
1941, Zé Paulo sempre morou
em Indaiatuba. Descendente
dos suíços de Helvetia, foi casado com Maria Alice Groff Ifanger, com quem teve duas filhas:
Camila e Ana Paula. Fazia desenhos com lápis preto até que,
em 1954, de tanto pedir a seu
pai, Paulo Ifanger, ganhou seu
primeiro material de pintura.
Impressionistas
Os pintores impressionistas foram marcantes em sua carreira.
Seus preferidos foram El Greco, Rembrandt, Michelangelo e
Eugène Delacroix, cujos trabalhos o ajudaram a criar seu próprio estilo. Em 1976, conheceu o artista uruguaio Carlos
Paez Vilaró que entusiasmado
com a obra de Ifanger, o levou para sua Casapueblo, em
Punta Ballena, e organizou
sua primeira exposição.
Em 1978, um de seus quadros foi enviado ao Museu de
Arte Moderna da América La-
tina, em Washington, nos Estados Unidos. Neste mesmo ano,
expôs com o artista japonês
Toshiasu Maqui, no Indaiatuba
Clube. Até hoje, seu trabalho é
admirado por colecionadores
do Japão, Suíça, Argentina,
Uruguai e Estados Unidos.
Mas Ifanger não se limitou
aos quadros: era também poeta. “Depois de seu falecimento, fomos dar uma olhada nas
coisas dele e encontramos uma
sequência de poesias muito
coesa da fase em que se afastou
da pintura”, conta Ana Paula.
“São poesias inéditas, que retratam este momento em que
ele sofreu mais profundamente com a depressão”.
José Paulo Ifanger em momento de criação na sua casa
Restauração reacendeu paixão pela pintura, após 20 anos longe das artes
Zé Paulo decidiu se afastar da
pintura e fundou, em 1978,
a Clauss & Ifanger, primeira
agência de publicidade da cidade, ao lado do amigo Agenor
Clauss. Até hoje, muitos dos logotipos de instituições e empresas locais levam a sua marca.
“No total, foram 20 anos
sem pintar. Certo dia, uma amiga pediu que fizesse uma restauração. O quadro ficou dois anos
em casa e todo dia ele olhava, até
que decidiu encarar o desafio”,
conta a filha. O ano era 1997 e
Ifanger passou a desenvolver
novas técnicas a óleo, incorporando referências atuais.
“Analisando sua obra, fica
claro: a década de 70 foi sua fase mais dramática, que o revelou como artista. Já a fase atual
é vívida, colorida”, analisa Ana
Paula, que conta um pouco da
relação entre Zé Paulo e sua família. “Meu pai era um homem
fechado, mas sensível e de uma
bondade extrema”, destaca.
A irmã Sonia concorda. “Zé
Paulo era fechado. Nosso pai
também era. Além disso, era o
único homem no meio de quatro
irmãs”, recorda. “Meu pai esperava que ele fosse advogado,
mas sua alma de artista não permitiu e ele foi na contramão”.
A exposição Vida e Obra
de José Paulo Ifanger pode ser
conferida até 11 de dezembro
no Museu do Casarão Cultural, que fica na Rua Pedro
Gonçalves, 477, Centro. O horário de visitação é de segunda
a sábado, das 9h às 17h, e aos
domingos, das 13h às 17h.
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