Filiada à ® BRASIL A N O V I I | N Ú M E R O 7 9 | M A R Ç O 2 0 11 CONTAG CONFEDER AÇÃO N AC I O N A L D O S T R A B A L H A D O R E S N A AG R I C U LT U R A ( CO N TAG ) DESEMPREGO A concentração de terra, a monocultura e a mecanização acelerada são causas da redução de postos de trabalho em áreas como o setor canavieiro PÁG. 5 GRITO DA TERRA Presidenta Dilma Rousseff recebe pauta com 200 reivindicações para a mobilização de maio que tem foco no combate à pobreza PÁG. 7 ENTREVISTA José Paulo Pereira, presidente da Unicafes, fala da necessidade de reordenar a organização produtiva da agricultura familar PÁG. 8 1 EDITORIAL O Desafios do primeiro GTB com a nova presidenta do negociado com o governo da primeira tas concretas para os eixos principais bilização de movimentos sociais do campo já está respirando mulher na Presidência da República da pauta nacional, como reforma Brasil e da América Latina, a Marcha Grito da Terra Brasil. A um Federativa do Brasil. O nosso sen- agrária, crédito, fomento à organiza- das Margaridas. Nessa quarta edição, mês da realização da sua 17ª edição, timento é que o diálogo seja ainda ção produtiva, terceira idade, educa- em agosto, o evento pretende reunir os passos principais já foram dados mais fortalecido, assim como aconte- ção do campo, saúde, entre outros. na capital federal cerca de 100 mil com a aprovação da pauta de reivindi- ceu durante os dois mandatos do ex- Ela já nos deu indicativos disso na au- mulheres de todos os cantos do País. cações da categoria e a entrega do do- presidente Luís Inácio Lula da Silva. diência da entrega da pauta, de onde movimento sindical Com o lema desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, cumento à presidenta Dilma Rousseff, Aliás, pelo perfil da nova presi- no dia 1º de abril. Esperamos reunir denta, o movimento sindical dos tra- Nesse sentido, essa primeira expe- igualdade e liberdade, mais uma vez, em Brasília, nos dias 17 e 18 de maio, balhadores e trabalhadoras rurais riência de negociação com o governo as trabalhadoras irão às ruas para mais de 5 mil lideranças rurais de to- (MSTTR) tem também a perspectiva Dilma servirá ainda como um termô- protestar contra as desigualdades so- dos os estados brasileiros. de que o governo federal dê respos- metro para a realização da maior mo- ciais; denunciar todas as formas de saímos bastante esperançosos. violência, exploração e dominação e Durante a reunião do Conselho Deliberativo da Contag, na última se- avançar na construção da igualdade Hotsite das Margaridas já está no ar mana de março, os representantes O hotsite da Marcha das Margaridas 2011 está no ar e pode ser acessado das 27 Fetags e a diretoria da con- pelo do endereço eletrônico http://www.contag.org.br/hotsites/margaridas/. A federação também discutiram outros detalhes da ação, como as estraté- secretaria de Mulheres da Contag e a Assessoria de Comunicação prepararam um site específico com um conteúdo que pode ajudar o debate e a divulgação sobre o evento em todos os cantos do País. para todas. Portanto, com todos esses desafios lançados, a diretoria da Contag conclama todas as Fetags e STTRs a partici- gias para as negociações com os mi- O hotsite também conta com histórico das marchas anteriores, galeria de par das ações nos estados e municípios nistérios e o Congresso Nacional, e a fotos e notícias atualizadas. Todas as Fetags e entidades parceiras que quise- para discussão, mobilização e divulga- mobilização nos estados para garantir o público estimado. rem incluir notícias e informações no espaço podem encaminhar o conteúdo para o email comunicaç[email protected]. Além de ser uma ferramenta de divulgação, o hotsite unifica as informa- Sem dúvida, há uma grande ex- ções e facilita a distribuição de materiais e notícias com a rapidez que a inter- pectativa do Sistema Contag na rea- net proporciona. Acesse, navegue e divulgue essa ferramenta de ação, luta e lização do GTB desse ano, que será mobilização das mulheres de todo Brasil. ção do GTB e também para participar do dia D da manifestação. Sabemos que juntos somos mais fortes! Alberto Ercílio Broch Presidente da Contag PELO BRASIL AFORA Código Florestal taxa de juros, de 6% para 4,5%, e o aumento do valor Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras O deputado federal Aldo Rebelo foi recebido pela máximo de financiamento, que passou de R$ 40 mil Rurais de Minas Gerais (Fetaemg), foi lançada em Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras na para R$ 80 mil. Até o final do ano passado o PNCF 23 de março. O produto é um passo a passo de Agricultura do Estado da Bahia (Fetag-BA) na se- tinha mais de 80 mil beneficiários em todo o Brasil. quem compra e vende alimentos para merenda gunda quinzena de março. O motivo da visita era a discussão do Código Florestal e a forma como escolar, mas o foco maior é informar mais os agriAssistência Judiciária o Brasil vai utilizar os recursos naturais. O deputa- No dia 15 de março, foi firmado um convênio des- do ministrou palestra na manhã do dia 22 em um tinado a assegurar assistência judiciária gratuita a to- evento, no auditório do Sindicato dos Comerciários dos os trabalhadores rurais de Mato Grosso do Sul. O de Salvador. Participaram do encontro cerca de 250 evento foi em Campo Grande e contou com a presen- pessoas, entre elas, diretores da Fetag-BA, repre- ça da Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras Aproximadamente 400 produtores de taba- sentantes dos polos sindicais e sindicalistas de di- na Agricultura do estado (Fetagri-MS), de sindicatos co da Região Sul participaram de uma audi- versas categorias de trabalhadores. de trabalhadores rurais, da Superintendência Regional ência pública, no dia 22 de março, no plenário do Trabalho e Emprego (SRTE-MS), da Fundação da Comissão de Agricultura da Câmara de Nacional do Índio (Funai) e do Ministério Público do Deputados. Eles continuaram as mobilizações A Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras Trabalho (MPT). A iniciativa, inédita no país, pretende para a suspensão das Consultas Públicas nº na Agricultura do Estado de Rondônia (Fetagro) garantir o efetivo acesso dos trabalhadores à Justiça 112 e nº 117, da Agência Nacional de Vigilância reuniu, na primeira semana de março, sindicatos de Trabalhista de forma mais barata. Sanitária (Anvisa). O saldo da audiência foi posi- Fetagro discute PNCF trabalhadores rurais e representantes do governo para maiores esclarecimentos sobre as mudanças 2 cultores familiares que fornecem alimentos para as federação, www.fetaemg.org.br. Fumo tivo e já está marcada uma reunião com o minisAlimentação Escolar do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). Uma cartilha sobre o Programa Nacional Os pontos principais da discussão foram a queda da da Merenda Escolar (PNAE), idealizada pela JORNAL DA CONTAG escolas. A cartilha pode ser encontrada no site da tro da Casa Civil, Antônio Palocci, para tratar do assunto. O prazo das consultas públicas nº 112 e nº 117 encerra no dia 30 de março. PELO BRASIL AFORA Congresso estadual marca nova etapa no movimento sindical paranaense Com a realização do primeiro congresso, o MSTTR do Paraná democratizou as ações sindicais e aprovou o documento base, além de eleger a diretoria para o próximo período C om o tema ‘Repensar a prática sindical e avançar nas ações por um Paraná desenvolvido e sustentável’, o I Congresso Estadual de Trabalhadores (as) Rurais do Paraná, que aconteceu de 16 a 18 de março, em Curitiba-PR, marcou novo período para o movimento sindical no estado. O presidente da Contag, Alberto Broch acompanhou a abertura. Broch se referiu ao evento como um capítulo que vai dinamizar a democracia interna do movimento sindical. “Com 47 anos de existência, é impossível contar a história do Paraná sem passar pelos sindicatos de trabalhadores rurais. Hoje vocês dão início a nova etapa de luta. Parabéns pela iniciativa e pela coragem”, disse. Diversas autoridades governamentais prestigiaram o evento, além de parlamentares e entidades parceiras. Também estavam presentes sindicalistas como o Assessor da Regional Sul, José Lourenço Cadoná, o presidente da Fetaesc, Hilário Gottselig, e o vice-presidente da CTB Nacional Nivaldo Santana. QUALIFICAÇÃO – Os (as) 220 delegados (as) sindicais vieram qualificados (as) das assembleias nos STTRS e das plenárias regionais. Tanto que o trabalho das comissões temáticas otimizado pelo conhecimento prévio do documento base. Apenas duas questões foram levadas para a plenária geral, arquivo Fetaep Novos rumos no sindicalismo paranaense que, após esclarecidas, foram votadas, e em seguida o plenário aprovou o documento base que vai nortear o movimento sindical paranaense. Na avaliação do presidente da Fetaep, Ademir Mueller, o congresso foi um sucesso, graças ao empenho da organização e o comportamento dos (das) delegados (as). A federação deu um bom exemplo ultrapassando a cota mínima de 30% de mulheres e 20% de jovens, o que para a coordenadora de Mulheres do estado, Mercedes Demore, é um avanço significativo. “Todos os assuntos que foram debatidos no congresso também tem implicação direta na vida das trabalhadoras rurais”, considera. Já o coordenador de Jovens, Marcos Brambilla, ressaltou que discutir a continuidade de um segmento que conquistou o reconhecimento da sociedade é fundamental para a sobrevivência do MSTTR. ELEIÇÃO – Até então, as eleições de diretoria da Fetaep eram feitas em assembleias e reuniões de conselhos deliberativos. Seguindo as orientações da prática sindical da Contag, com a realização do primeiro congresso, a Federação inicia nova etapa na estrutura e na organização do movimento sindical do campo. Para Alberto Broch, o amadurecimento do movimento sindical do Paraná é visível e comprova também a legitimidade e a soberania das decisões do Congresso Nacional dos Trabalhadores (as) Rurais da Contag. A chapa única composta por consenso recebeu 217 votos, do total de 220 delegados(as) que votaram para eleger a diretoria para o próximo mandato que vai até 2015. Três votos foram brancos. O índice de aprovação da nova diretoria é inédito na história da Fetaep. O presidente da Contag elogiou o trabalho em compor uma chapa única, que tem por objetivo unificar e não dividir o movimento sindical. A eleição reconduz à presidência da Fetaep Ademir Mueller, à vice-presidencia, Mário Plefk, a tesoureiro, Jairo Correa e a secretário-geral, Aristeu Ribeiro. Mueller relata que vai continuar trabalhando para dar continuidade ao que já vem sendo feito, “e o resultado das urnas nos dá mais responsabilidade para buscar a implementação das propostas aprovadas no documento base”, conclui o dirigente. A posse da nova diretoria está marcada para o próximo dia 23 de abril. Primeiro encontro de Dilma Rousseff com as trabalhadoras rurais Na solenidade de início das comemorações do Mês da Mulher, Carmen Foro reiterou reivindicações das mulheres do campo para erradicação da pobreza no Brasil N o dia 1º de março, a presidenta Dilma Rousseff teve seu primeiro encontro com as trabalhadoras rurais, em Irecê, na Bahia, em uma solenidade que marcou o início da programação do Governo Federal para comemorar o 8 de março. O anúncio de que a agricultura familiar é estratégica para o programa de erradicação da miséria do governo federal estava no discurso da presidenta. Na oportunidade a secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro, enumerou pontos que precisam ser levados em conta pelo programa. “Temos questões que não abrimos mão para erradicar a pobreza, como a discussão sobre segurança alimentar, enfrentamento a violência e produção sustentável e saudável de alimentos”, reivindicou a secretária. Esse primeiro encontro contou com a dinâmica do movimento sindical em seu permanente estado de cobrança. Todos os pontos levantados pela secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro, durante seu discurso, dialogam com os eixos de reivindicações da Marcha das Margaridas de 2011. Para a secretária, para erradicar a pobreza é necessário ter distribuição de renda, de alimentos e levar em conta todas as questões básicas de saúde e segurança. A sindicalista também lembrou da maior mobilização de mulheres de 2011, que acontece em agosto – a Marcha das Margaridas, que será um momento de diálogo e negociação com estado brasileiro – executivo, legislativo e judiciário, em favor dos direitos das mulheres. A presidenta Dilma Rousseff acredita em uma agricultura familiar que tenha trator, assistência técnica e crédito e traçou como objetivo do governo assegurar que mais 2 milhões de agricultores tenham acesso ao crédito do Pronaf. “Que nós tenhamos uma agricultura familiar capaz de gerar riqueza no bolso do trabalhador rural e da trabalhadora rural”, disse. Durante a solenidade também foi anunciado o reajuste dos benefícios do Bolsa Família, que alcançarão 45% para famílias com maior número de filhos. MINISTÉRIO DAS MULHERES – Ainda no mês de março a Secretaria de Mulheres da Contag se reuniu com a ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), Iriny Lopes para tratar primordialmente de questões sobre a Marcha das Margaridas. Para Carmen Foro, a pauta da reunião está voltada para a agenda 8 DE MARÇO CONTAGIA O BRASIL PARA A MARCHA DAS MARGARIDAS Foram centenas de encontros de mulheres, atos de luta, caminhadas e lançamentos da marcha por todo Brasil. “É impossível dimensionar tudo o que está acontecendo no Brasil, todas as atividades, debates e atividades de formação”, disse Carmen Foro sobre as atividades das trabalhadoras rurais em alusão ao mês da mulher. Estados, regionais, municípios e comunidades estão mobilizados e compromissados com a organização e a mobilização para a 4ª edição da Marcha, que acontece em agosto de 2011. A secretária também fez questão de ressaltar que a Marcha das Margaridas é muito mais que a maior mobilização de mulheres do Brasil e da América Latina. “É um momento que fervilham ideias, lutas e motivação para que as mulheres não desistam de seus sonhos por um mundo mais igualitário entre homens e mulheres”, afirmou. da Marcha, disse antes de apresentar a plataforma política da mobilização. A ministra Iriny Lopes, ouviu atentamente todas as colocações de Carmen Foro e mostrou-se disposta a colaborar no que for de competência do governo. Também afirmou que vai dar uma maior dimensão aos programas já existentes, como o de enfrentamento à violência. Fato que vem ao encontro de uma preocupação já levantada pela Secretaria de Mulheres da Contag, em outras reuniões com a SPM: a dificuldade que as políticas públicas têm de chegar até o meio rural. A ministra se comprometeu a manter um olhar atento para essa questão. Além do diálogo sobre a Marcha, a sindicalista levantou algumas pautas que requerem atenção desde já, como a criação de 6 mil de creches, anunciado no discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff. Carmen Foro também cobrou que as Diretrizes e Ações de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta, instituída por meio da Portaria Nº 85/2010, saia do papel. A próxima reunião entre as partes foi marcada para o final de maio, logo após a realização do Grito da Terra Brasil. JORNAL DA CONTAG 3 MEIO AMBIENTE MSTTR avança nas negociações sobre o Código Florestal César Ramos O relator Aldo Rebelo (PCdB-SP) recebeu as sugestões da executiva da Contag para atender a agricultura familiar O movimento sindical do campo está atento aos riscos de possível votação de um texto substitutivo para o Código Florestal Brasileiro sem que os anseios da agricultura familiar sejam atendidos. Nesse sentido, a Contag se reuniu no dia 24 de março com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que declarou apoio às propostas de emenda que a entidade entregou ao governo e aos parlamentares no dia 2 de março. Segundo a secretária de Meio Ambiente da Contag, Rosicléia dos Santos, o saldo da conversa com a RIO+20 A Rousseff. “Estamos satisfeitos porque acataram muita coisa do nosso documento e estão adotando critérios menos burocráticos para a legislação ambiental”, revela Rosy. DEBATES – A Contag está incentivando as Fetags e STTRs a promover discussões para apresentar o posicionamento da categoria trabalhadora rural à base e aos governos locais, além de garantir apoio às propostas do MSTTR. No dia 22 de março, a Fetag-BA promoveu um debate sobre a reforma do Código Florestal que contou com a presença da diretoria da confederação Brasil sediará conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável pós vinte anos, o Rio de Janeiro voltará a ser palco de um dos eventos mais esperados na agenda oficial da Organização das Nações Unidas (ONU): a Rio + 20 – Conferência das Nações Unidas sobre o ambiente e o desenvolvimento. O encontro, dessa vez, pretende encontrar soluções combinadas para as crises econômica, social e ambiental, com foco na economia verde, em um contexto de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza. 4 ministra foi bastante positivo e animador. “O principal é que ela concorda com a inserção do conceito da agricultura familiar de acordo com a Lei 11.326/2006. Isso dá um peso à nossa luta”, comemora a sindicalista. A dirigente informou que o MMA, representando o conjunto dos demais ministérios envolvidos nessa discussão da reforma do Código Florestal, está elaborando uma proposta alternativa que atenda as demandas da agricultura familiar, dos ambientalistas e de demais movimentos sociais. Esse texto será apresentado à presidenta Dilma e do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Na ocasião, a secretária de Meio Ambiente da Contag reafirmou a posição e as propostas construídas pelo MSTTR que prezam garantias para a agricultura familiar. “Há quatro anos o Sistema Contag vem discutindo propostas alternativas e a importância da agricultura familiar para o setor. Por isso, queremos ser reconhecidos nesse documento, pois a agricultura familiar é um modo de vida”, destacou Rosy. O presidente da Fetag-BA, Cláudio Bastos, também ressaltou a importância desse diálogo. “Queremos contribuir com a construção da nova legislação para tentar diferenciar de forma mais clara os grandes negócios dos companheiros da agricultura familiar”. Enquanto isso, o parlamentar não revelou quais propostas da agricultura familiar irá atender. Mas, declarou que acatará cerca de 90% das reivindicações em seu relatório, que deverá ser apresentado ainda em abril. Já no Rio Grande do Sul, a Comissão Estadual de Meio Ambiente da Fetag-RS também promoveu, durante os dias 23 e 24 de março, um seminário para debater a temática ambiental, onde o Código Florestal teve destaque sob a perspectiva das mudanças da legislação para contemplar as demandas da agricultura familiar. O presidente da federação, Elton Weber, fez questão de deixar a sua mensagem: “queremos um Código que possa ser efetivamente cumprido.” JORNAL DA CONTAG Na Rio + 20 será feito um balanço dos avanços dos países no cumprimento da Agenda 21 de crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. O compromisso foi estabelecido na Conferência Rio 92, também conhecida como Eco 92. Para o presidente da Contag, Alberto Broch, o que aconteceu de mais significativo nas últimas duas décadas foi uma grande conscientização em todo o planeta sobre a importância da questão da sustentabilidade am- biental, ante o cenário de mudanças climáticas ora em curso. A Contag espera que esse evento cumpra a expectativa de promover um amplo debate internacional, destacando a viabilidade de produção de alimentos em conjunto com a preservação ambiental, além de discutir um novo modelo de agricultura com menos agrotóxicos. “E que haja uma grande sensibilidade dos países ricos, que destruíram praticamente todos os seus ecossistemas, no sentido de ajudar os países mais pobres e em desenvolvimento, e que eles também possam praticar um novo padrão de consumo”, completa o dirigente. AGENDA – A Rio + 20 será realizada nos dias 4, 5 e 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro. Nos três dias que antecedem o evento, haverá um espaço onde sociedade civil organizada, governos e empresariado poderão fazer seus debates, contribuições e reflexões para ser incorporados ao ambiente oficial. ESPECIAL Mecanização da lavoura: caminho sem volta e desemprego no campo No setor dos canavieiros (as), além da mecanização, a concentração de terras e a falta de um programa efetivo de reforma agrária também são os fatores agravantes da diminuição de postos de trabalho Site Sindicato Auditores Fiscais do Trabalho O desemprego em massa é um dos efeitos que a mecanização da colheita da canade-açúcar e de outras culturas vai trazer. Esse ponto está na pauta de ações da Contag e preocupa o movimento sindical. Governo, empresariado e trabalhadores precisam encontrar soluções para futuros problemas econômicos e sociais. De um lado o empresariado argumenta que a tecnologia elimina as queimadas e torna a produção mais competitiva. De outro, trabalhadores (as) buscam medidas para manter os postos de trabalho. O governo, que também tem responsabilidade sobre o cenário, ainda não deliberou medidas efetivas para um setor que tem grande importância no desenvolvimento do País. Uma colheitadeira chega a substituir o trabalho manual de até cem indivíduos. Mas, como a máquina trabalha em três turnos, 300 trabalhadores em média perdem os postos. Na análise do secretário de Assalariados (as) Rurais da Contag, Antônio Lucas, a capacitação é a melhor alternativa para a recolocação profissional, além de medidas que permitam a mecanização de forma menos abrupta tanto na cana, como na soja e futuramente no café. Uma colheitadeira substitui o trabalho de 100 cortadores de cana, mas chega a demitir 300 trabalhadores por trabalhar em três turnos O secretário explica que uma parcela desses trabalhadores podem ser absorvidos para a colheita mecânica e outros precisam de cursos de capacitação para outros setores. “O que não pode acontecer é a sociedade permitir que milhares de trabalhadores percam seus postos de emprego e fiquem à mercê da exclusão social”, considera Lucas. Segundo o dirigente, atualmente as condições de trabalho no setor da cana não são boas. Lucas salienta que existem casos de trabalho escravo e que com a insegurança profissional os trabalhadores tendem a aceitar condições precárias de emprego. A Contag tem trabalhado o tema e está disposta a dialogar. A Secretaria de Assalariados (as) Rurais da entidade realiza seminários em todas as regiões para discutir a questão. Os documentos produzidos em cada seminário são encaminhados aos governos locais, mas até o momento nenhum problema levantado pelo MSTTR teve 53,3% têm carteira assinada; para os empregados temporários, esse índice é de 12,6%. Entre os empregados permanentes do país, apenas No Nordeste, apenas 38% dos empregados permanentes têm carteira assinada; entre os temporários, a proporção é de 10%. Em Goiás, entre 2008 e 2010, o número de trabalhadores ocupados no corte da cana caiu de 52 mil para menos de 30 mil, uma perda de 36%. 45% da colheita da cana em SP já é mecanizada. Nos anos 1990 esse índice de mecanização não chegava a 30%. Em 2007, quase QUADRO FUNDIÁRIO DO BRASIL AGRICULTURA FAMILIAR X NÃO FAMILIAR Modelo Brasil Não familiar Agricultura familiar Nº. de estabelecimentos (x1000) % Área dos estabelecimentos (x1000ha) % 807 15,6 249.690 75,6 4.367 84,4 80.250 24,3 ação efetiva por parte do governo, ou por parte do empresariado. PESQUISAS – Estudos recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelam que, entre 1992 e 2003, houve uma diminuição drástica no número total de empregos, com 224 mil postos de trabalho a menos, uma redução de 33%. O Censo Agropecuário de 2006, feito pelo IBGE, mostra que 85,9% das propriedades têm área inferior a 100 ha, representando 21,4% da área total, enquanto que as propriedades com área superior a 1.000 ha representam 1% do número total de estabelecimentos, mas concentram 44% da área total, o que gera mais desemprego. Ainda segundo o censo, há, em média, cinco pessoas ocupadas a cada 100 ha de área em estabelecimentos agropecuários. Nos estabelecimentos familiares, a média sobe para 15,4 pessoas, ao passo que, nas propriedades não familiares, somente 1,7 pessoas estão ocupadas na mesma área. Esses números reforçam a posição da Contag contra a concentração de terras e a favor de um amplo programa de reforma agrária, o que para Antônio Lucas é o caminho para o desenvolvimento pleno e econômico do País. JORNAL DA CONTAG 5 RELAÇÕES INTERNACIONAIS A FAO decide tornar permanente programa de formação de líderes em Desenvolvimento Territorial diretoria executiva da Coordenação das Organizações dos Produtores Familiares do Mercosul (Coprofam) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO ) se reuniram, entre os dias 12 e 16 de março no Chile, para fazer uma avaliação das ações de 2010 e traçar novos desafios para o segmento no âmbito do Mercosul. Entre outros temas, o grupo avaliou o curso do programa de Líderes Rurais em Gestão Territorial da Organização das Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). “Por conta dos bons resultados, a FAO decidiu montar um programa de formação de lideranças que deve ser permanente, observado o trabalho experimental da Coprofam iniciado há dois anos”, afirma a vice-presidente da Contag, secretária de Relações internacionais da entidade e secretáriageral (presidente) da Coprofam, Alessandra Lunas. Durante o período de implantação do projeto, o grupo constituiu uma equipe pedagógica que, com o apoio da Escola Nacional de Formação da Contag (ENFOC) e das entidades executoras do projeto que contribuiu para o fortalecimento de uma ação unificadora e articulada entre as 11 organizações filiadas à COPROFAM nos 7 países do Mercosul e do Equador e qualificou, só no ano passado, aproximadamente 270 lideranças. “Um número expressivo foi de mulheres e juventude”, completa Lunas. Arquivo Coprofan Diretoria da Coprofam avalia resultados das ações realizadas em 2010 Como parte dessa ação formativa, em outubro do ano passado, 28 participantes do curso de sete países da América Latina participaram do Intercâmbio Brasil, em Natal (RN). O intercâmbio foi organizado pela COPROFAM como atividade complementar ao Programa de Formação de Líderes Rurais em Gestão Territorial da Organização das Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e com objetivo de promover a troca de conhecimentos entre os líderes rurais sobre o tema “Desenvolvimento Territorial Participativo”. Segundo a dirigente, a formação de lideranças é uma maneira mais ampla de olhar para o meio rural diante das ações emergenciais. “Dessa formação vem a necessidade de se fazer a construção LEGISLAÇÃO POLÍTICA AGRÍCOLA Frente Parlamentar da Agricultura Familiar é relançada Agência Câmara Deputado Assis do Couto (PT-PR) coordenador da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar A Contag participou do relançamento da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, no Congresso Nacional, em meados de março. Na ocasião, o presidente da confederação, Alberto Broch, deixou a mensagem do movimento sindical do campo aos parlamentares e reforçou o papel da entidade como incentivadora da ideia de uma articulação em defesa da agricultura familiar, do desenvolvimento sustentável e da reforma agrária. “Nós também colocamos que a Contag continuará permanentemente acompanhando a articulação dessa Frente, exigindo que esses parlamentares possam levar a diante projetos que estão há anos travados no 6 JORNAL DA CONTAG de outras políticas públicas que possam fortalecer a agricultura familiar e indígena. É nesse sentido que observamos que a formação de lideranças é estratégica para que exista a capacidade de se fazer interlocução não só localizada, nos municípios, iniciar um processo de discussão com seus governos num processo conjunto de maneira qualificada na proposição de políticas públicas”, complementa Alessandra. Após a avaliação, o grupo desenvolverá uma proposta de continuidade do projeto a ser apresentado em breve à FAO. “A ideia é de que se possa dar continuidade com novas turmas e que haja novos conteúdos para as turmas já iniciadas”, disse Alessandra Lunas. Congresso Nacional”, completa. O dirigente incentivou ainda que os parlamentares criem outros projetos para regulamentar as políticas públicas no campo brasileiro para fortalecer a agricultura familiar. Segundo Broch, o evento contou com a participação de outros movimentos sociais, de vários ministros e de mais de 40 parlamentares. Para coordenar essa Frente, foi escolhido por aclamação o deputado Assis do Couto (PT-PR), ligado ao movimento sindical. A escolha foi comemorada pela Contag. FRENTE – A Frente Parlamentar da Agricultura Familiar é constituída por 223 deputados. O coordenador discursou sobre a necessidade da existência desse grupo de trabalho. “Dada a importância da agricultura familiar para o Brasil, é fundamental que o Congresso Nacional esteja permanentemente atento às suas necessidades e debatendo os temas de interesse dos agricultores e das organizações que representam o setor”, disse Assis do Couto. O deputado destacou ainda que as prioridades da Frente são a criação de políticas nacionais de incentivo ao cooperativismo (com linhas específicas de crédito) e de formação de profissionais da agricultura familiar, com maior embasamento técnico e científico. Novas regras sobre qualidade do leite e decisão do MDA impactam produtores A partir de 1º de julho os produtores de leite terão de se adequar a novos padrões de atestado de qualidade do produto antes de eles chegarem às prateleiras dos supermercados. As novas regras estão na Instrução Normativa 51, editada pelo Ministério da Agricultura em 2002. Entre as exigências está a contratação, por parte dos produtores, de laboratórios que atestarão o nível de gordura e outras especificações e que serão avaliados pela Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade do Leite. Após a edição da IN foi dado o prazo de oito anos para que os produtores adaptassem as instalações e o modo de trabalho. Porém, segundo o secretário de Política Agrícola, Antoninho Rovaris, a medida será tomada sem prévia conversa do governo com os produtores. “Foi negociado que haveria discussão com agricultores e produtores de leite e isso não foi realizado até agora. Consequentemente, muitos não têm noção clara do que significará a sua nova situação com relação ao fornecimento de leite para as cooperativas. A agricultura familiar não tem condições de contratar laboratórios”, disse o sindicalista. De acordo com o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a agricultura familiar é responsável por 58% da produção de leite no país. Segundo Rovaris, a orientação da Contag é de que, enquanto não houver a contrapartida do governo, esses agricultores não sejam obrigados a contratar laboratórios para a análise. PREJUÍZOS – A situação poderia ter sido pior no setor se o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tivesse mantido a decisão de retirar os resfriadores de leite do Programa Mais Alimentos. A iniciativa foi tomada em meados de março, após técnicos da Pasta entenderem que o equipamento se enquadrava na categoria “agroindústria” e não mais na “produção”, conforme segmentação proposta pelo Manual de Crédito Rural (MCR). Na prática, a mudança acarretaria menor teto de financiamento (de R$ 130 mil para R$ 20 mil) e menor prazo para junto ao banco (de 10 anos para 8 anos), já que a compra é feita por linha voltada às agroindústrias. Como paliativo, o MDA busca, no Conselho Monetário Nacional (CMN), elevar o limite de R$ 20 mil para R$ 50 mil, já que os juros de 2% são os mesmos tanto para o Mais Alimentos quanto para as agroindústrias. O dirigente defende ainda que não haja outra linha de crédito de investimento do Pronaf que não seja na linha do Mais Alimentos, pois o prazo e os juros menores são atrativos para aqueles que queiram investir nas suas propriedades para se sustentar na atividade leiteira. “Os resfriadouros passaram a ser mais importantes ainda por conta da IN 51, pois são instrumentos indispensáveis para a boa qualidade do leite. Por isso, não concordamos com a descaracterização do enquadramento desses equipamentos como sendo industriais”, completou. GTB 2011 Dilma Rousseff recebe pauta do 17º Grito da Terra Documento contém 200 reivindicações e um dos focos da mobilização agendada para a terceira semana de maio é o combate à pobreza rural Site G1 Equipe Contag foi recebida pela Presidenta da República no Palácio do Planalto para a entrega da pauta do Grito da Terra Brasil 2011 A diretoria da Contag e representantes das 27 Fetags entregaram à presidenta Dilma Rousseff a pauta de reivindicações da 17ª edição do Grito da Terra Brasil, no dia 1º de abril. Com 200 itens, o documento está organizado em nove eixos que preveem ações emergenciais de combate à pobreza rural e à desigualdade de gênero e de fomento à geração de renda e à sustentabilidade econômica, social e ambiental. “Estamos convencidos de que o combate à pobreza passa prioritariamente pelo campo, pela reforma agrária e pelo fortalecimento da agricultura como principal mantenedora da segurança e da soberania alimentar”, explica o presidente da Contag, Alberto Broch. Nesse sentido, o dirigente afirma que saiu esperançoso da audiência com a receptividade da presidenta. “Ela prometeu encaminhar todas as nossas reivindicações e disse que não se combate a pobreza extrema do país sem fortalecer a agricultura familiar”, comemora. Broch destaca ainda que a entrega do documento à presidenta repre- senta a continuidade de um processo de diálogo com o movimento sindical do campo. O processo foi iniciado no governo do ex-presidente Lula e ele espera a sequência na atual gestão. Já a presidenta, ao receber a pauta, disse que a agricultura familiar está no centro do programa de erradicação da pobreza. “Não haverá desenvolvimento se não levarmos políticas públicas para as regiões rurais do Brasil”, afirmou. Dilma também reservou um momento para falar sobre seu compromisso com as mulheres e confirmou que estará com as traba- lhadoras rurais em agosto na Marcha das Margaridas. NEGOCIAÇÃO – Os ministros da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, participaram da reunião e são os responsáveis pela interlocução com os demais ministérios, o Congresso Nacional e órgãos do governo. O GTB 2011 acontecerá de 16 a 20 de maio em Brasília e o MSTTR pretende reunir em torno de 5 mil lideranças rurais de todo o País. Conselho Deliberativo debate principais demandas de 2011 César Ramos Mobilizações e Código Florestal nortearam as discussões durante o Conselho Deliberativo A primeira reunião do ano do Conselho Deliberativo da Contag contou com uma pauta extensa. Os principais temas em debate foram o Grito da Terra Brasil, a Marcha das Margaridas, a Plenária Nacional da categoria e a reforma do Código Florestal Brasileiro. Na ocasião, conselheiros e conselheiras também aprovaram a prestação de contas da confederação do exercício de 2010 e conversaram sobre a reforma do Cesir. Já o GTB foi a primeira questão em debate. O Sistema Contag aprovou por unanimidade a mudança da data da ação para os dias 16 a 20 de maio e foram acertados os detalhes da mobilização nos estados para garantir o público esperado nos dias 17 e 18 de maio, os dias “D” da ação. A pauta de reivindicações, já entregue à presidenta Dilma, também foi aprovada durante o encontro. Os(as) conselheiros (as) aprovaram, ainda, a metodologia de regimento interno da Plenária Nacional da categoria, tiraram encaminhamentos e fizeram amplo debate sobre a reforma do Código Florestal. Além disso, todas as Secretarias da Contag apresentaram seus planejamentos para 2011 e colocaram em discussão temas centrais do movimento sindical do campo, como habitação rural, crédito agrícola, ações de formação e organização sindical, meio ambiente e integração da agricultura familiar no âmbito do Mercosul. Ao encerrar a reunião do Conselho Deliberativo da Contag, Alberto Broch elogiou a qualidade das discussões e dos encaminhamentos nesse encontro. “Agradeço por esses dias de produtividade, pois retiramos daqui pautas importantes. Quero valorizar a forma como este conselho de manifestou nas nossas principais demandas”, avaliou. JORNAL DA CONTAG 7 CONVERSA DE PÉ DE OUVIDO Cooperativas e STTRs devem atuar juntos amos César R A Contag e a União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes) assinaram um termo de cooperação no final de março de 2011. Em entrevista ao Jornal da Contag, o presidente da Unicafes, José Paulo Pereira, explica como funcionará essa parceria e os resultados esperados. Ele também faz uma análise sobre o crescimento do cooperativismo no país, inclusive, destaca que a taxa de sucesso das cooperativas é superior a das empresas. Nesse sentido, espera que novas leis sejam regulamentadas para fortalecer, ainda mais, essa forma de organização produtiva no campo. Leia a íntegra desta entrevista no site www.contag.org.br/entrevistas. No final de março, Contag e Unicafes assinaram um termo de cooperação. O senhor poderia detalhar o acordo que foi firmado? O termo de cooperação é um documento importante que reafirma o compromisso da Unicafes e da Contag de fortalecer o cooperativismo da agricultura familiar, a economia solidária e a vida dos agricultores e agricultoras familiares. Entendemos a importância que tem o cooperativismo num momento como esse, na questão da geração de trabalho e renda, na questão do desenvolvimento local, do desenvolvimento estadual e nacional e na erradicação da pobreza. Quais ações concretas os agricultores familiares podem esperar de agora em diante com essa parceria? Na pauta do GTB já estão sendo inseridas algumas propostas concretas daquilo que o cooperativismo brasileiro, a economia solidária, a agricultura familiar gostariam e precisam. Por exemplo, um conjunto de leis que precisa ser trabalhado, como a questão da Lei Geral do Cooperativismo, a do Código Florestal, do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), da necessidade da ampliação do cooperativismo brasileiro. Outra coisa concreta da parceria é haver um compromisso nosso de que alguns eventos nos estados sejam realizados conjuntamente, tanto da parte da Unicafes como da parte da Contag. Que nossos agricultores familiares possam acessar as políticas públicas existentes, como o PAA e o PNAE, que hoje, em alguns lugares, ainda não conseguem acessar. Nós pretendemos também ampliar o volume de recursos tanto do Pronaf, como de assistência técnica para essas cooperativas. Nesse sentido, para quando os agricultores familiares podem esperar novidades? Eu acredito que num curto espaço de tempo. No dia 1º de abril foi entregue a pauta do Grito da Terra e nela já constam esses itens de que eu falei anteriormente. Então, alguma coisa já começa em nível nacional. E agora nós precisamos descer para os estados. Já existem as agendas, já há um conjunto de eventos articulados. Existe algum estudo, ou estatística, que mostre o quantitativo de pessoas que optaram pelo cooperativismo como alternativa à perda de emprego no campo? Não posso precisar esse número. O que temos é um crescimento de maneira geral muito grande do cooperativismo. Para se ter uma ideia, em 1990, tínhamos no Brasil apenas 4.600 cooperativas. Hoje, estima-se que tenhamos algo aproximadamente entre 26 a 27 mil cooperativas. Então, há um crescimento médio entre 1.500 e 1.600 cooperativas/ ano. Isso significa dizer que, cada vez mais, os trabalhadores estão entendendo a importância do cooperativismo. E, também, algumas autoridades já começam a entender isso. Agora, tudo ainda é muito incipiente porque a legislação que nos orienta ainda é a Lei 5.764/1971. Há a Lei da Agricultura Familiar que já existe há aproximadamente 8 anos e até agora não foi regulamentada. Precisa ser regulamentada também a lei que trata do cooperativismo, da educação dos agricultores familiares. Só a Bahia tem legislação estadual do cooperativismo adequada ao momento atual. Como está a organização da Unicafes no Brasil? A Unicafes tem cooperativas filiadas em 23 estados. Temos, aproximadamente, 1.100 cooperativas filiadas, 11 Unicafes estaduais com universo de 2 milhões de cooperados. Então, é um crescimento extraordinário de uma entidade muito nova. A Unicafes nasceu em 2005, vamos fazer 6 anos ainda. É pouco tempo, mas conseguiu, ao longo desse período, um espaço extraordinário de reconhecimento, dada a necessidade que a sociedade brasileira tinha de ter uma organização que pudesse articular as cooperativas nos seus diversos ramos – do crédito, da produção, da comercialização, da agroindústria, da assistência técnica. Do total de assentamentos hoje existentes no país, em quantos há organização cooperativa? Que avaliação se faz desse número? A nossa participação nos assentamentos não é muito grande. Temos baixa participação porque, num primeiro momento, não tivemos essa inserção. Acho que é a avaliação que nós precisaríamos trabalhar mais e ter maior engajamento. Que com o termo de coope- ração, possamos ter maior inserção nos assentamentos liderados pela Contag. Qual a taxa de sucesso das cooperativas agrícolas hoje? Qual o tempo médio de amadurecimento de um empreendimento cooperativo na agricultura familiar no Brasil? A taxa de sucesso beira 90%, porque, quando se tem um índice de mortalidade num empreendimento individual, o cidadão, a cidadã têm de, ao mesmo tempo, saber produzir, vender e gerenciar. No cooperativismo, com a legislação atual, você tem de ter 20 pessoas no mínimo, cada uma delas com uma habilidade, com uma aptidão. É por isso que se dá um índice de viabilidade tão alto. Levam, em média, uns três anos para alcançar um mínimo de maturidade, principalmente na questão da gestão, de poder acessar alguns recursos para viabilizar o negócio e de poder caminhar com suas próprias pernas. Quantas se perdem no caminho e não conseguem “frutificar”? Por que isso ocorre? Seria principalmente falta de assistência técnica ou existe dificuldade em trabalhar em grupo? O principal problema é esse. Por exemplo, hoje as cooperativas padecem de falta de apoio muito grande na orientação. Desde orientação técnica, acompanhamento na área de gestão, até a parte do capital de giro. Esse é um problema que afeta nossas cooperativas brasileiras. Em sua análise, qual a importância de unir cooperativismo e sindicalismo na organização da produção? Qual o papel do sindicato e da cooperativa nesse processo? Nós tratamos do mesmo público. O mesmo agricultor familiar que está no sindicato é o agricultor familiar que está na cooperativa ou que deveria estar na cooperativa. Ainda é muito baixo o número de cooperados em relação aos que estão nos sindicatos. A primeira coisa que nós temos de fazer é entender qual o papel de um e o papel do outro. O movimento sindical tem papel extraordinário na garantia dos direitos adquiridos pelos trabalhadores ao longo da sua luta, da sua história, e também garante a busca de novos direitos. Além do processo de mobilização e articulação para garantir essas questões. O coo- perativismo tem o papel de trabalhar a parte econômica dos trabalhadores. As dificuldades na hora de comercializar, de acessar o crédito, na hora de agregar valor a sua produção, que é papel específico do cooperativismo. A ONU instituiu 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas. Qual a importância dessa ação para a agricultura familiar e a economia solidária? Esse vai ser um momento extraordinário. Eu diria até que nós já estamos trabalhando, já estamos nos preparando para esse grande momento, estamos divulgando já. Vai ser um momento importante em que a ONU estará reconhecendo a importância estratégica de desenvolvimento, de geração de trabalho e de renda do cooperativismo. O governo do ex-presidente Lula estimulou o cooperativismo no país? Quais mecanismos foram criados? No seu primeiro ano de governo, Lula colocou que queria fazer do Brasil um país cooperativo. Infelizmente ele não conseguiu alterar a lei do cooperativismo e não conseguiu fazer aquilo que que ele gostaria. Mas foi importante para o cooperativismo da agricultura familiar e da economia solidária. Houve aumento significativo de recursos de apoio. Para ter uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, todo o recurso que tinha para apoiar o cooperativismo da agricultura familiar e da economia solidária era algo em torno de R$ 3 milhões. Nós chegamos ao final do governo Lula com R$ 60 milhões. Então, foi um avanço significativo embora, nesse momento, vivamos uma dificuldade muito grande porque o Congresso cortou de R$ 30 milhões para R$ 5 milhões. Qual a expectativa da Unicafes com o governo da presidenta Dilma Rousseff? A expectativa é grande. Nós temos dialogado com diversos ministérios, já tivemos audiências com os ministros do Desenvolvimento Agrário e da Pesca e com a ministra do Desenvolvimento Social, falando da importância do cooperativismo. Também já estivemos com a Secretaria-Geral da Presidência. Esperamos avançar, cada vez mais, com o cooperativismo da agricultura familiar e da economia solidária. EXPEDIENTE Jornal da Contag - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º VicePresidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretário-Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Jovens Trabalhadores Rurais Maria Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicleia dos Santos | Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política Agrícola Antoninho Rovaris | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Rogério dy la Fuente | Coordenação Editorial Adriana Mendes | Reportagem Danielle Santos, João Paulo Biage, Suzana Campos, Verônica Tozzi | Projeto Gráfico Wagner Ulisses e Fabrício Martins | Diagramação Fabrício Martins | Revisão Suely Touguinha | Impressão Dupligráfica 8 JORNAL DA CONTAG