gente
PANROTAS
O
18 a 24 de outubro 2011 -
B R A S I L
08
B E M - S U C E D I D O
CARIÚS
PARA O
MUNDO
O DIRETOR DA TAM NA EUROPA,
JOSÉ SALES, COMEÇOU CARREIRA
NA AVIAÇÃO COMO OFFICE BOY
DA VARIG EM FORTALEZA. HOJE,
COMANDA EQUIPE COM MAIS DE
300 PROFISSIONAIS
mundo está ficando pequeno para José Sales, di­
O
foi a recompensa, rendendo-lhe o convite para assumir a
de Vendas da companhia, Klaus Kühnast. “Preciso fazer um
retor da Tam na Europa. Ele nem imaginava que as
aulas no Centro de Cultura de Idiomas da Universi­
sub-gerência da então concorrente Vasp no aeroporto de
parêntese para dizer aqui que o Klaus foi quem me ensinou
Fortaleza, em 1973.
tudo sobre a aviação moderna. Eu havia permanecido alguns
Cariús, a 500 quilômetros de Fortaleza, no interior do Ceará,
Sales mudou-se com a família para a capital do Estado aos
ESCALADA
João Amaro, Luis Carlos Perinotto e Wagner Ferreira.”
Mas José Sales ainda não utilizava os idiomas que vinha
anos fora do setor e tive verdadeiros mestres nas figuras de
dade Federal do Ceará o ajudariam a ir tão longe. Nascido em
14 anos. E começou a trabalhar, em 1968, como Office boy
aprendendo. Ainda. O Office boy que sonhava ser executivo
INTERNACIONAL
da Varig na capital cearense. “Foram três anos como Office
de Contas da Varig, começou a atuar na área comercial
boy para, aos 17 anos, ir trabalhar no aeroporto. Vi meu
durante os anos em que permaneceu na Vasp. De lá, saiu
Em 2001 ocorre a segunda experiência internacional na vida
de Sales, convidado a assumir a gerência Mercosul da Tam.
primeiro avião", conta.
em 1978, convidado a assumir a gerência da Transbrasil em
“Fiquei baseado em Montevidéu e respondia pelo Uruguai e
Antes do encontro com o avião, no entanto, Sales foi colecio­
Vitória, onde nasceram seus filhos. Em 1989, voltou para
Argentina. Foi uma passagem rápida, em 2002 voltei para os
nando histórias... De escritório, de bastidores, de bar. Sim, era
o Nordeste, responsável pela gerência da Transbrasil em
ele quem levava a garrafa térmica ao bar vizinho ao escritório
Recife, mas permaneceu pouco por ali, porque foi nesse
Estados Unidos, responsável pela gerência América do Norte
da Tam, com base em Miami.” Depois disso, Sales tornou-se
da Varig, de manhã e à tarde, para buscar o café para os
mesmo ano que veio o primeiro convite internacional: a
“turista” no Brasil - à exceção dos eventos e reuniões que
funcionários. “Eu fazia realmente de tudo. Inclusive, duas
gerência comercial da Transbrasil em Miami. “A Transbrasil
vezes por mês, no fim de semana, encerava o escritório todo.
já contava com fretamentos para a Flórida e acompanhei a
juntam diretores da Tam. Mudou-se em 2005 para Paris, ao
assumir a gerência da companhia aérea na Europa. “A Tam
Lembro que ganhava com aquele trabalho extra o equivalente
criação dos voos regulares para Orlando e Miami e Nova
tinha uma frequência diária para Paris e tenho muito orgulho
ao mês de salário”, diz, orgulhoso, o diretor da Tam.
O esforço do adolescente aplicado, que estudava à noite, fazia
York e Washington”, conta.
A saída da Transbrasil ocorreu na passagem entre 1994
em ter participado, desde 2005, da abertura de todas as rotas
operadas pela Tam na Europa”, diz o executivo, instalado
aulas de idiomas e observava atentamente o trabalho no es­
e 1995, quando Sales decidiu seguir vivendo nos Estados
hoje em Madri.
critório foi recompensado. “Minha primeira promoção foi como
boy mesmo. De Office boy do gerente de Vendas, passei a Office
Unidos, dividindo-se entre Nova York e Orlando. Pela primei­
Sales foi o responsável pela abertura do escritório da Tam
ra vez, o executivo abriu seu próprio negócio, sua estreia
para Oriente Médio, Ásia e África. Depois, abriu o escritório
boy do gerente geral”, brinca Sales. O diretor lembra que atuou
fora da aviação. “Permaneci até 1997 nos Estados Unidos,
em Tóquio e Hong Kong. Hoje, a equipe comandada por
no departamento de Reservas e na loja, até ser encaminhado
ao aeroporto. “Lembro que montava as apresentações que
trabalhando em minha operadora”, diz. Foi quando teve um
reencontro com suas origens. Acompanhando um grupo
Ásia, atendendo 51 países e trabalhando com 13 moedas.
fazíamos da Disneyland, na Califórnia, para apresentar aos
de representantes da Câmara de Comércio Brasil-Estados
O ex-office boy da Varig em Fortaleza, não tem Office boys
agentes de viagens e aos milionários de Fortaleza”, diz. No
Unidos em visita ao Ceará, reencontrou-se com Rubens
para atendê-lo no escritório em Madri. “Essa relação funciona
aeroporto, encontrou-se com a escola. “Essa foi a melhor escola
Sayão Correia, ex-gerente geral da Varig no Ceará, um de
de outro modo. Sei que no Brasil algumas empresas ainda
que poderia ter tido. Aprendi tudo de aviação ali.”
seus primeiros mentores. “Ele já estava aposentado, mas foi
têm Office boys, mas na Europa, não. Temos uma moça que
Morando na periferia de Fortaleza, José Sales saía de casa
muito emocionante revê-lo. Afinal, tudo havia começado ali,
faz a limpeza à noite, quando os profissionais não estão no
às 3h30 para pegar o transporte da Varig que o levaria até
buscando café no bar ao lado do escritório.”
o aeroporto - depois de longa peregrinação pela cidade, já
De volta ao Brasil, Sales instala-se em Vitória - cidade onde
escritório, e as entregas são virtuais, em sua maioria.”
Para Sales, ainda seria possível um jovem ter uma carreira
Sales soma 297 profissionais na Europa e outros 11 na
que começava a trabalhar às 5h. “Foram sete anos desse
pretende viver quando se aposentar. Ali, teve outra experi­
semelhante à sua. “Mas talvez ele não começasse como
jeito. Muito sacrifício, mas todo ele mais que recompensa­
do”. Dessa época, Sales lembra dos plantões, nos finais de
ência fora da aviação, implantando o convention & visitors
bureau do Espírito Santo. “E foi enquanto desenvolvia essa
office boy, embora ainda possa começar por baixo, do início.
Sei que tive muita sorte, mas acho que com muita dedicação
semana, quando dormia dentro do Electra da Varig. “Não
atividade que recebi o convite da Tam, voltando à aviação e
e vontade de aprender, as pessoas podem de fato construir
tínhamos alojamentos, então o descanso, durante o plantão
que começava às 18h da sexta-feira e terminava às 8h de
mudando para São Paulo. Fui assumir a gerência comercial
regional da Tam para o Norte e Nordeste.” Na mesma época,
uma carreira bem sucedida. Mas a sorte é fundamental”, diz,
com humildade. Para o office boy que queria ser gerente de
segunda, era ali no avião”. A carreira de Sales na Varig
a gerência de Sul e Sudeste era ocupada pelo atual diretor
Contas, a sorte continua a sorrir.