Realização:
A Influência da Cultura e do Poder Local na Consolidação de
uma Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em
Petrolina-PE
FREITAS. Cátia Fernanda Lima Santos1
LIMA. Alan Silva2
SANTOS. Laura Kelly Alves dos3
RESUMO
Este artigo busca investigar a partir da estrutura de governança local em Petrolina-PE, a
forma pela qual as instituições estão contribuindo para disseminar a cultura
empreendedora local diante da implantação de uma incubadora de empresas de base
tecnológica com o propósito de impulsionar as atividades produtivas locais. Baseandose no enfoque neo-schumpeteriano/evolucionista, pretende-se demonstrar que o
estímulo ao empreendedorismo local está condicionado a um processo de
aprendizagem científico, tecnológico, inovativo, gerencial, e pessoal, a partir de uma
relação de cooperação entre os gestores públicos e agentes locais, consolidada por um
ambiente institucional propício a desenvolver as capacitações e habilidades
empreendedoras. Para tanto, a metodologia adotada consiste em realizar uma pesquisa
empírica para identificar as relações interinstitucionais (cooperação x conflito) e como a
cultura e o poder local pode influenciar o desempenho dos programas de fomento ao
empreendedorismo e a inovação. Os resultados apontam que a articulação entre as
instituições é desafiadora pelos múltiplos interesses que podem surgir durante o
processo de estruturação do programa de incubação de empresas de base tecnológica
em Petrolina-PE. Sendo assim, necessária uma relação mútua entre a governança local
e a cooperação institucional para impulsionar políticas de apoio ao empreendedorismo
local a prover o surgimento de novos modelos de negócio, a partir da inovação.
Palavras-chave: Estrutura de Governança
Empreendedora, Incubadora de Empresas
1
Local
em
Petrolina-PE,
Cultura
Administradora, formada pela Universidade Salgado de Oliveira e especialização em Psicologia
Organizacional pela Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE). Atua como coordenadora de campo da
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Estado de Pernambuco – INCUBATEP/ITEP. Email:
[email protected]
2
Administrador, formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Atua como
coordenador técnico da Incubadora de Empresas Base Tecnológico do Vale do São Francisco do Estado de
Pernambuco – INCUBATEP/ITEP. Email: [email protected]
3
Economista, formada pela Universidade Federal da Paraíba. Bolsista do CNPq da Incubadora de
Empresas de Base Tecnológica do Estado de Pernambuco – INCUBATEP/ITEP. Email: [email protected]
1
ABSTRACT
This article aims to investigate from the structure to the local governance in PetrolinaPE, the way in wich the institutions are contributing to disseminate the local
intrepreneurial culture against to the establishment of in a companies based technology
incubator with purpose to boost the local productive activities. Based on approach newschumpeteriano/evolutionist, want to demonstrate that the stimulating to
entrepreneurship is conditioned to an learning process scientific, technological,
innovative, management and personal, from a relationship of cooperation between the
public managers and local staff, consolidated for an institutional place, propitious to
develop the capacity and entrepreneurial skills. For this, the methodology adopted is to
realize a empirical research to identify the interinstitutional relations (cooperation x
conflict) and how the culture and the local potency can to influence the performance of
the promotion programs for the entrepreneurship and the innovation. The results indicate
that the articulation between the institutions is challenging for the multiple interests that
may arise during the structuring process of the incubation program for technology-based
companies in Petrolina-PE. Therefore, is necessary an interrelation between the local
potency and the institutional cooperation to boost support policies to the local
entrepreneurship and provide the appearance to the news business models, from the
innovation
Keywords: Structure to the Local Governance in Petrolina-PE, Intrepreneurial Culture,
Business Incubation.
INTRODUÇÃO
No Brasil, a política industrial adotada no processo de industrialização contribuiu
para a promoção do crescimento econômico, em detrimento do desenvolvimento
econômico, por se constituir em uma ação isolada, restrita ao setor produtivo e por não
ter sido resultante de um processo de aprendizado adquirido através do esforço em
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Ciência e Tecnologia (C&T) disseminado entre os
empresários, esferas governamentais e instituições de forma cooperativa e interativa.
A articulação entre o setor produtivo, institucional e governo resultou no
surgimento de um novo paradigma de política industrial intitulado: Política de
Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada em 2008 pelo Governo Federal com o apoio
do Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior e Apoio as
Exportações (MDIC/APEX) – que ressalta o avanço científico-tecnológico como
2
diferencial competitivo e atribui importância a introdução de inovações, endogeneizada
nas atividades econômicas e regulado por uma estrutura institucional eficiente.
Diante desse novo paradigma industrial, houve uma mudança de postura na
adoção de políticas públicas que implicou na descentralização dos investimentos por
contemplar não apenas os empreendimentos de grande porte, mas também os de micro
e pequeno. Também houve o reconhecimento de que os aspectos financeiros,
tecnológicos, inovativos e institucionais não são considerados exógenos a atividade
produtiva, mas sim endógenos.
Em consonância com a conduta dos gestores públicos, percebe-se que as
estratégias institucionais também se aperfeiçoaram, abrangendo a sua área de atuação,
ou seja, deixaram de atuar apenas como captadoras de recursos financeiros e
passaram a exercer diversas funções no aspecto organizacional, tecnológico, gestão e
pessoal.
Essa convergência entre a política pública industrial e a estratégia institucional
vem contribuindo para fortalecer as aglomerações produtivas denominadas de Arranjos
Produtivos Locais (APL’s), na medida em que as instituições têm o papel de conduzir e
adaptar as políticas de apoio ao arranjo para uma melhor implementação das ações
socioeconômicas.
ESTRUTURA DE GOVERNANÇA DO APL DE FRUTICULTURA EM PETROLINA/PE
O Arranjo Produtivo Local (APL) é caracterizado por uma concentração de
atividade produtiva em um determinado espaço geográfico mantendo relações, mesmo
que incipiente, com os atores locais: instituições, órgãos públicos, empresários e
sociedade. Diante da complexidade de agentes envolvidos e de um elevado grau de
integração horizontal, percebe-se a necessidade de adoção de regras e padrões de
comportamentos que possibilite a cooperação entre os agentes locais.
Contudo, para que a cooperação seja efetiva se faz necessário uma estrutura de
governança para regular os diferentes modos de coordenação, intervenção e
participação nos processos de decisão dos agentes públicos, empresários e sociedade,
no que tange a organização dos fluxos na cadeia produtiva e o processo de geração,
disseminação o uso do conhecimento. Lastres e Cassiolato (2000).
Nessa perspectiva, percebe-se que a intervenção institucional na regulação do
comportamento
dos
agentes
(públicos,
3
empresas,
cidadãos,
trabalhadores
e
organizações não-governamentais) se faz necessário devido à conduta que envolve as
ações individuais no ambiente coletivo, tendo em vista que o comportamento dos
agentes é influenciado pelo poder político, econômico e social.
Para identificar os fatores estruturais inerentes a estrutura de governança é
preciso analisar, segundo Sluzki (1997), e Suzigan (2004), os seguintes aspectos:
a) natureza da atividade: referente ao porte do empreendimento;
b) densidade: referente ao interrelacionamento entre os agentes da cadeia;
c) dispersão: referente à distribuição geográfica das instituições de apoio;
d) composição: referente à adoção de parceria com instituições locais,
e) distribuição: referente à estratégia de inserção no mercado;
f) forma de organização da produção: integração horizontal, redes, etc.;
g) especificidades locais: referente ao ambiente social, cultural e político.
Caracterizado os condicionantes estruturais que determinam a governança, se
faz pertinente regular à tomada de decisão dos agentes, a partir do padrão de
concorrência do mercado, para promover a eficiência produtiva e competitiva da
atividade de fruticultura e consequentemente o desenvolvimento socioeconômico do
município de Petrolina/PE.
Sendo o fator preço, qualidade e inovação, mecanismos inerentes do padrão de
concorrência de mercado, a intervenção institucional atua na regulação das situações
de cooperação e conflito que envolve o processo de tomada de decisão.
Neste sentido, o desempenho das atividades produtivas e das relacionadas ao
processo de aprendizagem depende de uma coordenação proporcionada pelas
instituições que pode ser via integração vertical, integração horizontal ou multilateral
horizontal.
A integração vertical é caracterizada pela presença de um líder (geralmente uma
empresa de grande porte) que coordena as atividades de seus produtores de pequeno
e médio porte. Nessa situação, a estrutura de governança é estabelecida pela influência
que a grande empresa exerce sobre as MPE´s e, consequentemente se apropriam de
todos os benefícios da cooperação.
A cooperação horizontal é caracterizada pela agregação de unidades produtiva
de pequeno porte para vencer os desafios da concorrência ao obter maior poder de
barganha nas negociações: com fornecedores ao comprar matérias-primas em larga
escala e; facilidade de negociação com instituições para captar recursos financeiros,
4
materiais e humanos. O desempenho dessa coordenação é a repartição do benefício a
todas as unidades produtivas.
Por fim, a cooperação multilateral horizontal diz respeito à intervenção de
agentes públicos e privados na coordenação de projetos inovadores. Nesse tipo de
ação se enquadra uma estrutura organizacional de gestão definida como incubadora de
empresas, ambiente que internaliza projetos inovadores e assegura a todos os
empreendedores
um
processo
de
aprendizado
(composto
por
informações,
conhecimento e comunicação) capaz de favorecer a cooperação, a inovação,
minimizando conflitos.
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Vale de São Francisco INCUBAVALE
A constituição de uma Incubadora de Empresas no Vale do São Francisco
(INCUBAVALE) foi resultante da integração de ciência, tecnologia e inovação no
processo de aprendizagem das pequenas e médias empresas com o propósito de
impulsionar o desenvolvimento local através da exploração de nichos de mercado.
Nessa perspectiva, o Governo do Estado, utilizando-se do instrumento de
contrato de gestão do ano de 2010, em parceria com a Secretaria de Ciência,
Tecnologia de Pernambuco (SECTEC) e o Instituto de Tecnologia de Pernambuco
(ITEP), promoveu um programa governamental de implantação de uma Incubadora de
Empresas de Base Tecnológica no Vale de São Francisco (INCUBAVALE), ambiente
propício para:
 Estimular o surgimento de novos empreendimentos de base tecnológica em
Pernambuco, associados a setores dinâmicos da economia;
 Disseminar a cultura do empreendedorismo no Estado de Pernambuco; criar
mercado para o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas;
 Possibilitar uma maior aproximação entre o meio acadêmico e o empresarial
através do estímulo ao surgimento de spin-offs acadêmicos e aos processos de
transferência de tecnologia;
 Apoiar e incentivar o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços
de alto valor agregado e relevantes para o desenvolvimento sustentável do
Estado;
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 Impulsionar o conhecimento de C&T, com o objetivo de desenvolver ou
aperfeiçoar produtos, processos, sistemas ou serviços visando o interesse
empresarial ou social.
Quanto à área de atuação da INCUBAVALE, destacam-se como setores de
Fruticultura Irrigada; Psicultura; Alimentação e Cosméticos e Tecnologia da Informação;
e Comunicação (TIC).
RESULTADOS
A constituição da INCUBAVALE ocorreu por iniciativa de uma política pública
estadual em parceria com os atores locais concentrados em Petrolina-PE, como: o
Governo do Estado de Pernambuco, Prefeitura de Petrolina, Instituto Tecnológico de
Pernambuco (ITEP-OS), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Faculdade de Ciências
Aplicadas de Petrolina (FACAPE), Universidade Federal do Vale de São Francisco
(UNIVASF) e Instituto Federal do Serão Pernambucano (IF Sertão-PE).
Cada
agente
tem
a
função
de
contribuir
com
a
disseminação
do
empreendedorismo local ao prover investimentos que agregue valor à cadeia produtiva
local ao prover
capacidades e competências necessárias ao desenvolvimento de
bens e serviços inovadores no mercado.
Devido a complexidade de atores envolvidos, se faz necessária a intervenção de
um agente externo, definido como broker, para coordenar as ações dos agentes e gerir
sua forma de atuação. Nesse caso particular, o agente externo é a Associação Instituto
de Tecnologia de Pernambuco (ITEP/OS), sendo responsável por impulsionar as
políticas de apoio à formação e desenvolvimento do arranjo de fruticultura irrigada.
A influência do ITEP na formação de governança por redes para constituir a
incubadora em Petrolina/PE é pertinente para que ocorra a cooperação entre os
agentes locais em prol do desenvolvimento socioeconômico do município de
Petrolina/PE.
A atuação do ITEP na formação de governança por redes também
contribuiu para minimizar riscos e incertezas quanto o desempenho da rede na provisão
de negócios inovadores e na disseminação da cultura empreendedora.
6
O ITEP, atuando como agente externo desempenha um papel estratégico na
promoção da cooperação entre os atores locais, a partir do processo de aprendizagem
que resulta no estabelecimento de confiança entre as partes e flexibilidade para se
adequar as mudanças estruturais e conjunturais do sistema econômico.
CONCLUSÃO
O processo de aprendizagem é inerente a estrutura organizacional formada por
redes por favorecer a cooperação entre os atores locais, viabilizando investimentos
sociais e econômicos em torno da atividade de fruticultura irrigada em Petrolina/PE.
Além da relação de cooperação, o processo de aprendizagem também envolve a
competição, a partir de relações de conflito, devido aos interesses individuais de cada
agente, impactando diretamente na busca por eficiência produtiva e competitiva.
Contudo, constata-se que no ambiente de redes, os interesses individuais
devem estar subordinados ao bem estar coletivo, portanto as estratégias adotadas
devem ser associadas ao bem estar socioeconômico para impulsionar a cultura
empreendedora e estimular a competitividade local, a partir da tecnologia da
informação, conhecimento e inovação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. M.; SZAPIRO, M. Arranjos e sistemas
produtivos locais e proposições de políticas de desenvolvimento industrial e
tecnológico. Rio de Janeiro: UFRJ/IE, 2000.
LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. (Org.). Pequena empresa:
cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, UFRJ/Instituto
de Economia, 2003.
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (MDIC). Política de
Desenvolvimento
Produtivo
(PDP).
Disponível
em
<
http://www.mdic.gov.br/pdp/index.php/sitio/inicial> Acesso em 01 de jul. 2012.
SLUZKLI, C. La red social: Fronteras de Le práctic sistêmica. Barcelona: Gedisa,
1996.
SUZIGAN, W. Estruturas de governança e cooperação em APLs. Rio de Janeiro:
BNDES,2004. Palestra Proferida no Seminário Arranjos Produtivos Locais como
Instrumento
de
Desenvolvimento.
Disponível
em:
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/seminario/apl5.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2005
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(coordenadora de Incubadoras do interior), Alan Silva Lima