ANNO II TOMO II 13.° FASCICULO * .# Is # 0 CENACULO •. REDACÇÃO: *> Dario Vellozo, Silveira Netto, Secretario; Júlio Pernetta, Thezoureiro;' Antônio Braga. c.«_ SUMMULA ; pag. : 97 Pelos Índios, de Dario Vellozo 99 O Clero e o ensino religioso, de Albino Silva ... -103 Tragédia da vida, de Júlio Pernetta. Le mauvais jardinier, delwan Gelkin . . . . .106 107 A Evolução, pelo Dr. Carvalho de Mendonça . . VI Socialismo e Clero, de Silveira Netto . 410 VII Confidencia, de Antônio Braga 116 VIII Litania, de Silveira Netto. ........ 417 IX Conferências religiosas, de Chichorro Júnior. .'. 449 Nheenga, de Rocha Pombo ^23 •* XI Luar, de Dario Vellozo 124 XII Respigas . . . . . ... ...'. 425 . !w! i I II III IV >**? Abril de 1896 i» ¦¦¦•» . i <?* # <# Paraná-Goritiba •*-«!• X "ifc lp'- FIOS ÍNDIOS! O Cenaculo, em reunião de 7 de Dezembro do anno passado, deliberou, om vista de proposta que tive o prazer desubmetterlhe, pugnar pelo nosso pobre Selvagem, violentado e zurzido pelos coripheos do cosmopolitismo que se não dignam, entretanto, lançar os olhos para as nossas llorestas e procurar trazer para a civilisação os preciosos destroços de altiva e sobranceira raça, dizimada cruelmente em pelejares heróicos, na defeza instinctiva do solo que lhes foi berço e conserva os sagrados manes de suas gerações extinctas. Ficou resolvido inaugurar Silveira Netto unia serie de artigos pelas columnas da Bevista Club Corilibano, e oauctordostas linhas, encetar a propaganda nas paginas desta revista. Nas columnas daquella revista, disse eu, em artigo inicial, com que se abrio a serie deste anno: oComo Brazileiro, almejo ver aproveitado nosso elemento selvagem,— esses mizeros índios escurniçados e esquecidos, (ue são, incontestavelmente, necessário elemento á compleição do typo nacional,—factor preciosíssimo que nos traria por certo uma característica, aprezentando corrente opposta a que nos avassala, enérgico elemento de reacção contra o desmembrar de nossa autonomia,— elemento fetichista, elemento autochtone, que tem as suas tradições neste solo, que não conserva reminiscencias de outra pátria e não sente nostalgia de outro ceov.» (1) É bem de crer, não sou contra a immigraç«ão,— nem poderia sêl-o, em tendo a respeito do Socialismo as ideas que tenho; o que desejo, porem, é sentir salvaguardada para o futuro a autonomia de nosso povo, o ver aproveitado em nosso paiz todo osso elemento selvagem que ainda nos resta. Penso com Sylvio Romero,— o conspicuo escriptor brazileiro, o grande patriota republicano : (1) Club Coritibano, Anno VÍT. ii.° 1 98 O CENACULO «O Brazil possue uma certa unidade ethnica que lhe tem ser não deve unidade Mas esta hoje. até a existência garantido extrangeielementos de systomatica ingestão a com perturbada ros em privilegiada zona do paiz... «Depois dos assumplos políticos se seguem os sociaes, e entre estes avulta o da immigraçâo e colonisação extrangeira, do social uurtemeroso mais ver, é nosso a que problema que, econômico. «Queremos em primeiro logar que se aproveitem os elementos nacionaes. «Existem ahi milhares e milhares de patrícios nossos que devem ter a preferencia nos favores do governo para a colonisação. E' um meio de fixar e garantir o immenso proletariado lir__7_lG_ro. «Quanto aos extrangeiros, deve-se fazer com elles o que nós intitulamos a colonisação integral, isto é, que se vão espalhando por todo o paiz, especialmente o norte o o grande oeste. (2) Nada de agglomeral-os ás dezenas e centenas de milhares de uma só raça nas quatro províncias do sul. «E porquo não quererão elles occupar o resto do paiz? Nosso plano é o mais liberal possível: em vez do trez ou quatro espalhemestá ahi todo Brazil O ; vinte. damos-lhe províncias, se, tenham o mesmo trabalho que tiveram outrora os portuguezes. Espalhem-se e misturem-se ás populações nacionaes.» (3) E assim deve ser. E' necessário não alienarmos os direitos e a felicidade de nosso povo, na lizongeira e fallaz esperançado conquistarmos para o Brazil, em breve espaço de tempo, prono completo anuitarde mais redundarão fictícios que gressos ethnica. vitalidade nossa de quilamento «O Cenaculo está convencido, pelo estudo analytico e come imprescindível urgente é historicos.de factos dos que parativo aproveitar o elemento indígena ema nossa civilização.» (4) Procurarei demonstrar, em artigos subsequentes, a verdade — amorpatriotico de sentimento destas palavras, dictadas pelo fogo de Vesta, acceso religiosamente no coração de todos os Brazileiros. dario Vellozo. Abril, 1896. e pelo mameluco, oi-de_ o cru(2) Exactamente a região mais povoada pelo coriboca myshfical:ao naciozamento com o índio é mais commum, e não haverá portanto, receio de '(3) Sylvio Romero,— Historia da Litteratura Brazileira, 1888. (_) Cenaculo, fase. 10. O CLERO IO lllll ( Carta) A Dario Vellozo Nem poderá imaginar com que satisfação li, no ultimo numero d'O Cenaculo, que tenho em mão, oseoarligo intitulado— " A Imprensa e o Clero". « O Cenaculo protesta cm nome da Moral, em nome da Pátria republicana, contra esse invadir da Egreja nos domínios da intelligencia.» Muito bem! Tão enérgico o brilhante protesto não podia deixar de apparecer onde ha cidadãos que pensam, onde a Republica e a Sociedade têm dedicados defensores. Era uma necessidade o protesto do Cenaculo, assim como é um dever nosso combater sem tregoa a invasão que elle denuncia, a mais perigosa, a mais nociva de todas as invasões. O padre, esse triumpho da fraqueza, da hypocrisia e da indolencia do espirito pela verdade e pela firmeza dos princípios, como bem o define Max Nordau, impotente contra a Republica, não deixou todavia de manifestar as suas iras o os seos despeites contra as leis que libertaram as nossas escholas do ensino religioso, que secularizaram os cemitérios e instituíram o casamento civil. A principio esbofára-se do púlpito contra a nova instituição da familia, esbravejara contra as leis e contra os legisladores republicanos; mandou tocar a reunir e tralou de organisar um partido catholico de opposição. No concilio, porém, falou-lhe o espirito do Mestre Instituidor, eeil-o mudado de tactica, na faina de fundar escholas e seminários, como querendo desquitar-se do desleixo em que viveo no tempo do Império,cujas leis encarregavam ao mestre eschola o ensino da Cartilha do Padre Ignacio.^ Suas manobras são conhecidas. Os positivistas e livres pensadores da Republica são de energia invencível, de convicção inabalável. Fortificam o entendimento pelo estudo e propagam aluzda razão; a maioria do povo que não se dá ao traporem, nalho de pensar — que é sinceramente crente e essencialmente /JOO O CENACÜLO religiosa, teme a Egreja e submeUe-sc aos seos dogmas. Fundem-se portanto, para a maioria subjugada pela crença, escholas, seminários e conventos; as creanças de hoie serão homens amanhan; faça-se da geração futura um povo do embeeis, defanaticos, de supersticiosos e a Egreja tnumphara e a Effreia vingar-se-ha da Republica que instituto leis de liberdadee dos casamentos dos baptisados, rendas as diminuiram lhe que ,. dos óbitos. Ouerem fazer entender os filhos de Loyola que a sua relisua a religiões) tantas mil e que verdadeira, a seja ièaú (entre instrucção seja a melbor, (instrucção dogmática e íncomprehcnVatido espantalho o sem existir não mundo o sivel que possa cano, que não se possa instruir sem as suas escholas, como sease strigés podessem fazer propaganda da luz que as deslumbra as afflige nas ruinas sombrias que habitam! , Ensino ministrado pelo theologo ou pela beata! O theologo é aquelle desconhecido, de que nos tala Didcrot, - que manda os transviados apagarem a luz que os guia para • — a beata é aquel caminho; seo o depressa mais encontrarem Ia santa, de que nos fala Renan, a entidade que mais ha a temer. ... m neste mundo. um em o instruir ainda povo beata a e E o theologo querem século de luz e de civilisação a mais adiantada! amenos mesmos os que perigos Montjan Madier de prévio seo de uma aqui citarmos parte caso ao muito vem e açam, discurso * «E' já tempo de mais para fazer pezar sobre elles (os pa-e morte; de combate o elles com travar e lei da mão a dres) estão de substituir em impotência na que deixar, os não preciso Republica uma menos ao fundar Monarchia, a Republica pela Pode-se sem duRepublica. verdadeira a suffocando jesuitica, vida confiar no poder daidéadesenvolvendo-secom a liberdade; existe não liberdade A com illudamos nos mas não palavras. creança uma pode liberdade a com que W egualdade. na senão luetar com um colosso? enconelle clero o de gosa, dos falar que Sem privilégios tra na sua essência, no seo dogma, na sua historia e orgamsa-a homens de que podem Milhares incomparavel. força uma ção espios dominar humana, consciência a instante cada peneirar üa hora na exercer e creanças eas mulheres ritos, subjugar as tao um constituem homens taes suprema, influencia morte uma ou lei, da fora em hesitar deve se pol-os grande perigo que não » antes, encerral-os nella. ,-. I I I I I I I I O CENACULO 10*1 Bemvindo, portanto, o protesto do Cemculo. Sejam bem poucos, embora, os que protestam, seja embora deseguala lueta, todavia haverá uma resistência, üm pequeno numero de homens livres e pensadores sempre se fará respeitar seja qual fòr o povo, seja qual fòr a multidão. Ao contrario não se faria a communicação dos grandes espiritos, das grandes idéas; Comte não propagaria as verdades scientificas de sua eschola; Darwin não teria destruído a fabulagrotesca da origem do homem o do mundo; os reformadores nada teriam conseguido contra o despotismo dos reis, da nobreza e do clero. E são os que pregam o embuste contra as verdades scientificas, são os que engasopam o povo ignorante com milagreiras estapafúrdias, com fábulas sem arte e incomprehensiveis que pretendem educar e instruir os nossos futuros concidadãos! Não! Deante de um tal attentado, a nossaindifferença seria um crime. Precisamos defender os incautos e os innocentes dos ardis ultramontanos. Precisamos falar á nossa Pátria e aos nossos compatriotas dos perigos que nos ameaçam. Oppómo-nos francamente ao ensino religioso e nisto imos com as idéas avançadas de nosso século; queremos o que querem todos os homens livres de nosso tempo; o que não é incompativol com a nossa civilisação; queremos que haja na Republica cidadãos aptos para o trabalho, qualquer que elle seja, sem teias da monstruosa aranha clerical no espirito, que saibam caminhar para a luz e para o progresso, e não seres bisonhos, resadores hypocritas que só concorrem para o atrophiamento moral e inteílectual da humanidade. «Quanto menos força tiverem asideas religiosas em um paiz, tanto mais virtuoso, pacifico e feliz ahi se ha de viver». De Tracy disse uma verdade. Os povos conquistados, os mais pobres—os mais indolentes e infelizes são os que mais se preoecupam com religião. Todas as cidades velhas, e donde o progresso recuou, têm nas suas ruínas a origem de sua decadência. Ahi sobresáem as antiqualhas religiosas, os ratos e as corujas. Ahi tudo ó triste e sombrio, tudo infunde medo, e supe stição; o ascetismo ahi deixou em tudo a sua physionomia tetrica, os traços de sua obra de morte e de agonias sem fim!... Agora lancemos o olhar para as cidades novas e prosperas e perserutemos o seo constante bolicio. O rumor alegre e harmon-oso do trabalho não deixa ouvir o cavernoso latim rosnado °m alguma egreja. Ahi vemos nas nas largas praças publicas, avenidas, nos boulevards alegres, edifícios gigantescos cheios 402 O CENACULO *_*V****-*ai ^yr^***********™^ ************** e.com as cathedraes com se nada em parecem de ar ede luzque nao, a ha syrnbc.los nio delles, dentro os conventosqporq«e, a oa. o proteimplorando beaticas perdão rezas nem motnices homem do a intelhgencia e braço o é ba abi cçao divina; o que maeh»(^r^|WjT á movimento e força grande dando moderno honra em festivaes hymnos são ouve se abi dir humano! O que , do trabalho e da liberdade! ,e DArilIÇ sombras de Oue bella cousa é não ter o espirito povoado de hvre P^Gonceil^.^e|o aterradoras; visões de porém,tel-o fortificado verdade esclarecido pela atodasasidéas generosas, hypocnsia! á á adverso e protervia pelas convicções Como podemos conseguir este ideal l Libertando-nos da influencia do padre. Pois bem, trabalhemos para isso. Albino Silva. -•<$>*. ¦«-^C -*4*~ TRAGÉDIA DA VIDA (ultimo acto) ATitoVellozo. Gabinete de estudo modestamente mobiliado. Retratos de vultos celebres pendem suspensos da parede. Juvencio, sentado junto amena de trabalho, scisma ; tons macilentos de uma luz funiria esbatem-lhe no rosto cadaverisado. Trez espectros, embuçados em lontjos s wdarios, cruzam-se ao fiindo da scena, Juvencio : Sempre a mesma visão sarcástica e terrível, o mesmo pezadello, sempre, sempre. Photographou-se indelével, na pupilla dos olhos da minha alma, o seo perfil de um satanismo macabro, hediondo, macerado, de estatua polluida por vermes de lubricos desejos, de olhares concupiscentes. Porque ainda te hei de ver, Apóstata pérfida do Evangelho sacratissimo do Amor ? porque le hei de ouvir, Serpe da luxuria, guizalhando o chocalho cruciante dostcos luridos carinhos, desfiando as contas do negro rosário dos teos sorrisos, n'um beatismo hypocrita ? ! (Erguendo-se.) Pérfida, pérfida e má,hei de te ver somnambula e louca, encalabouçada entre as grades inflexíveis do meo desprezo, onde te estorcerás nascontorsões atrozes de pungentissimo «arrependimcnto, os lábios quo muitas vezes beijei em sonho crispados n'um rictus hediondo e extravagante, como os dos desvonturados romeiros de S. Guido !... Hei de te ver anathematizada por Iodos os que conhecerem a pavorosa tragédia dos teos caprichos desvairados e loucos, da tua diabólica vaidade. EstorceMe-has em vão, em vão, em vão !... Vae ; e nunca mais eu te veja, nunca mais me embriague o narcotisante perfume dos teos cabellos!... 404 -O CENACULO Yae; precipita-te no profundo abysmo, cavado pelos teos epilépticos dezejos de nymphomanica de sensações extranhas. Que te importa que eu viva enclausurado para todo o semsonhar de a desgraça tive sonho um de célla na estreita que pre um dia! Hei de te ver passar atravez da infinita tristeza das minhas recordações, arrependida, epileptisada, pallida, de uma pallidezchloroticade pthysica, ao celebrar mephistophelico da .tesa Negra <\a, tua alma prostituída. Os astros, os astros rir-se-hão de ti, quando, por uma d'essas noites em que o luar desenrola a alvenitente clamyde de descantandesertas, ruas virem te pelas perambulando prata, do magoas, n'um regougo infernal de oceano em convulsões, estribilhando blasphemias, como as ladainhas rouquenhas e irônicas dos exorcimistas do remorso eterno. Então... Surge o \.° Espectro : Eu sou a Duvida, a sombria companheira dos que amame dos que soífrem ; vivo no gabinete do homem de lettras, e na cabana do pastor. E' fluidisado por meos solicitos carinhos que o poeta passa uma existência aíílicta. Sou Hamlet, torturando a consciência da rainha adultera; souOthello, assassinando Desdemona ; sou Zophezamim, mostrando á Belkiss, no fundo dos olhos, a luz sublime da experiencia ; sou Dante, escrevendo os immortaestercettosda Divina Comedia ; souColumbano, procurando dar ao retrato a expressâo da alma; sou o Corvo, estribilhando a Edgar Poe o nunca mais; sou Luiz Murat, escrevendo as Ondas. Sou o ser ou não ser da tragédia da existência humana. Surge o 2.° Espectro, o olhar pro fundo e fulgurante: Eu sou a Loucura, o mephistophelico mensageiro da Sominda ópio o beijam, me os noslabios, tenho bra; para que consciência, o completo esquecimento do passado. Vivo nos hospitaes; rio-me do sábio, no necrotério da sciencia ; choro e grito nas estrophes do poeta. Fui o pezadello de Flaubert; sou o Estylo; sou Maupassant, suicidando-sepor nâo poder dar á palavra a expressão nítida do pensamento. Moro no aí Ar do artista. ¦V O CENACÜLO 105 rmmrmfmrmfmrmrm^m-mrmrmrmrmrm^ Com Shakspeare escrevi tragédias ; sou o Gênio. Julgam-me descabelladae maltrapilha ; sou bella, de uma belieza ideal e seraphica de Margarida, a estupenda creação dc Goethe. Tenho o gargalhar satânico dos mãos, e a lagrima angélica, a lagrima piedosa dos bons. 4 fiestmá-seda penumbra o 3.° Espectro, rc/ampejando uma foice: E eu, eu quem sou ? Dizem-no as orbitas vazias dos mcos olhos, a immobilidade irônica do meo sorrizo eterno de caveira. Eu sou a Morte, o terror do ignorante, c o sarcasmo do sábio. Por minhas mãos esqueléticas e frias hão passado Iodas as gerações. E' no meo seio que os torturados peregrinos do ideal descansam ; eu sou a Gloria, sou a apotbeosc da immortalidade. Quando os injustiçados e os incomprehendidos pela estrabica inveja dos néscios e dos tolos revoltam-se contra a existencia, é á porta bronzea do meo castello, que tem esta inscripção : «Deixae, ó vós, que entraes, toda a esperança ! », que vão bater para pedir a eterna pousada do descanço eterno. Eu sou a Morte, poeta; sou aMorte, o inviolável paraizo dos malaventurados e dos incomprehendidos. AMorte desapparcce brandindo a foice que ftd(pira no espaço, sinistramente, tictjitcm-na os outros espectros. Jtivcncio olha idiotumente, Juvencio: Só... EaDuvida?... E a Loucura ?... ea Morte?... Nada!... Sonhei... sonhei... por certo que sonhei... Não... não sonhei... A Duvida?... a Duvida?... eil-a, macabreando, espectral, terrível, tetrica... Eu a vejo, eu a ouço, zurzinando notas de um trecho de Chopin, nolas que gemem, que soluçam, como queixas da alma sublime d' esse extraordinario pthysico, trecho feito de risos o de gritos, de lagrimas e de sarcasmos; notas arrancadas de um violino feito da ossada branca dos sepulchros... Ella existe... sim, ella existe... é o pezadello dos (que amam, é o pezadello dos que soffrem. |06 0 CENACULO W%*AAJ Loucura... desfallccimento da razão... suicídio inconscientodas recordações... azylo piedoso das mágoas... reticenciade ,. todas as dores... Enadamaisl... nada mais !... Morte!.. Morte!... realifúnebre angelus da existência... do estupenda dade pezadello da saudade... funeral das illusões... exéquias das esperancoração que do chora, coração do anniquilamento que ças... &o"pmG eo túmulo, um do acariciador descanço o Morte, da Depois Nada o Nada, o Nada sombrio e onomatopaico, como pás de terradespejadas sobre um esquife quedesappareceo no fundo de uma catacumba... Enadamaisl... nada mais!... Júlio Pernetta. *-*^*'^he^ffl rv * I illl JARB1R Dans les jardins d' hiver, des íleurisles bízarres Sèment furtivement des végétaux haincux, Dont les tiges bicntòt grouillent comme les noeuds Des serpcnts assoupis aux bords boueux des mares. Leurs redoutables íleurs, magnifiques et raros, Oú coulent de três lourds parfums vertigineux, Ouvrent avec orgueil leurs vases vénéneux. La mort s' épanouit dans leurs splendeurs barbares. Leurs somptueux bouquets détruisent Ia santé Et c' est pour en avoir trop aimé Ia bcauté reines. blanclies les languir les dans voit on palais Qu' Et moi je vous ressamble, ò jardiniers pervers Dans les cerveaux hâtifs oú ]'ai jeté mes grames Jo regarde íleurir les poisons de mes vers. IWAN GlLRIN EVOLUÇÃO das artes nos tempos modernos Trechos de uma obra sobre philosophia da Historia da Arte, de Carvalho de Mendonça. (Continuação da pag. 80) A muzica resente-se do mal geral. Por um paradoxo insustentável, a denominação de clássico designa a mais infeliz das innovações, a mais revoltante das invasões das artes de forma na dos sons. Arte essencialmente emocional—a muzica se acha reduzida a uma combinação de sons, em que a technica usurpa a pura expressão dos sentimentos ternos. Não é mais cantar nem exprimir as affeições da alma que a arte procura, mas tão somente combinar accórdes, conforme preceitos, que aliáz só surgiram do estudo das obras primas que se não adestringiram a elles. Fugindo ao vicio de uma melodia simples, a arte inuzical inaugurou o regimen exagerado de uma harmonia exclusiva, desviada, portanto, de sua funeção essencial que é realçar o ef feito daquella. A mais perfeita das composições muzicaes, assim como as mais sublimes composições da mesma eschola,entraram na phase de esquecimento e abandono para dar logar á muzica do calculo. (1) Por mais esforços que façamos para nos manter n'um ponto de vista puramente abstracto, não podemos furtar-nos ao desejo de caracterisar o estado da muzica pelo juizo insuspeito de um escriptor de nossos dias. (2) «Não se canta mais, diz elle, grita-se, lucta-se á força de « pulmões com os clamores de uma orchestra ensurdecedora. (1) A. Comte tinha a Somnambula como a composição mais perfeita, assim como a muzica italiana. (2) Scudo—Critique et Litterature Muzicales I, pags. 13 e 23, ediç. de 1856—3.a ed. 4 08 0 CENACULO nwvvvrt/wwwtfV«ftrtrtW«rt*^*VWWWV*^ « Ninguém sabe modular uma nota, fazel-a passar successi« vãmente por todos os grãos, e exhalal-a depois como uma der« radeira palavra que contém a essência da alma... « Procura-se menos tocar do que atroar os ouvidos e nisso, « como em tudo mais, o effeito material usurpou o logar do ef« feito moral. Lançou-se de mais aos detalhes technicos, tem« se sobrecarregado a lingoa, com expressões inintelligiveis « para a grande^maioria dos leitores, e a apreciação das beije«zas exteriores c comprehensiveis da muzica foi substituída « pelas discussões de pedantes.» Não se pode melhor definira situação actual da muzica. Não entra sem duvida, em plano positivo da arte muzical o abandono da harmonia, que é exactamente sua expressão característica. Nesse terreno ja (iretry e os outros artistas que procuravam dar á muzica sua verdadeira unidade, resolviam a questão, dizendo que é difficil cogitar a qual das duas partes se deve dar Isto ao coração. chegou a muzica vez uma que predomínio, no caso dos grandes mestres italianos, que sempre souberam fazer parte a uma e a outra. O que se torna anarchico, porem, é a absorpção da melodia frisante. exemplo offerecem allemães os como harmonia pela Barthez achava que a superioridade dos effeitos da muzica antiga sobre a moderna repousa na quasi ausência da harmonia n'aquella. A melodia então se tornava de uma energia mais concentrada sobre a alma, emquanto que a attenção que o espirito distrae o sentiharmônicas combinações das calculo ao presta mento simples que a melodia desperta. O que, porem, fica incontestável é que a harmonia dá mais de serve melodiosos; osintervallos mais e torna precisos 'igação justeza ás phrases que formam seo conjuneto. c Em Gluck e em Beethoven, ella começou a ser a verdadeira significação da melodia. D'estes grandes mestres em diante, a melodia começou a subordinar-se tão completamente, que um abuso insustentável nos tempos modernos appellou para o futuro nas composições de Wagner. Os allemães francamente fazem da melodia nmdeser Não completo. colorido o é pode a harmonia de senho que mais confessada a invasão da muzica pela pintura. De resto, a decadência da muzica liga-se estreitamente a da a como canto do a elevação união intima cuja produz poesia, mais sublime expressão muzical. Essa decadência do drama lyrico deo logar á inauguração das operètas, em que a mais emocional de todas as artes se liga O CENACULO *1()9 á uma poesia immoral, sem destino social algum e condemnada a desapparecer apenas são exhibidas deante de um publico inconsistente. A muzica moderna apresenta ainda uma lamentável invasão da pintura no chamado gênero imitativo. Só a profunda anarchia esthetica de nossos dias podo subalternizar por esse modo uma arte elevada a caracterisar phenomenos, que, por sua natureza, não comportam reproducção pelos sons. Desviada assim da representação das situações da alma liumana, ella naufraga na estulta preterição de reproduzir phenomenos inferiores, principalmente mctereologicos. A apreciação da muzica é actualmente dfííicil. O preconceito moderno trouxe a confusão entre os progressostechnicos e os aperfeiçoamentos industriaes—que ella tem incontestavelmente adquirido—e o verdadeiro destino a que ella devia tender e do qual se acha desviada. Se não estivesse em nosso plano uma curta apreciação philosophica da arte em geral, seria no estudo da muzica oceasião de caracterisar a profunda anarchia esthetica de nossa transição actual. Basta, porem,considerar de passagem que a eschola italiana —a única realmente orgânica—se acha em completo abandono, incapaz de produzir nemhum artista digno, e que por outro lado nemhuma das revoluções sociaes suscitou ainda um hymno duravel—depois do que caracterisou a crise final. (Continua) SOdlillO I CUBO A phase de transição por que passam actualmente as sociesupea attmgiram as especialidade com e humanas, que dades rior grão de civilização como a europea e a americana, requer a attenção mais acurada e o máximo devotamento bem dirigido ao estudo e ao trabalho, dos que comprchendem os deveres do _ . homem moderno. Benoit Malon, «o chefe illustre do socialismo scienti ico em França,» considera inevitável uma transformação social, sob o ponto de vista da evolução econômica. Alberto de Oliveira, sympathico áuctor das Palavras Loucas, seo o abro dirigidaaopapaLeãoXllI,comque nabellissimacarta norma a em mudança completa de a sentir faz livro precisão religiosa posta hoje em pratica pela egreja de Roma, scestae «mais doncla elle, diz religião a com coadunar-se que, quiser ignoranda não e desillusào da nasce já exigente mais porque cia.» surgirá como um refugio ás amarguras e insaciabihdades moraes do homem de agora. (I) A Europa que concentrara sempre a maior torça cie ansoiutisnío da parle dos reis e das classes nobres e sacerdotaes; quera com christianismo no Cezares, os com quer no paganismo Edade-Media; é que maior violência tem empregado para alienar o jugo hereditário ou despotico dc governos absurdos. de A'Europa onde maior terreno oecupava certa unidade mundo umtorno havia séculos, alguns o ha pensamento quando educasobre o sobre religião, sobre crença, política midade de eAristo monarchista, romanista, era mundo o todo e cão que fico e ninguém pensava em pôr em duvida esta rotina de colleem debate se é educados;» que (2) estavam todos sio em que maior diversidade no domínio da religião c em questão de escholas artísticas e philosophicas. u« /'us"'""fi^ ","dò orla de mais de duzentos papas eos discípulos de u. Domingos Innocen™w sob o 1» "o 1208 em creada Inquisição, da regularisador aquelle te lioyola, Paulo 111 cm loJ4, econli radapelo papa appro deJesus, Companhia da fundador d1o_I e este e Arlmez. criadora d'essa instituição que tanto glorificou Torq-uemada n (2) Speiicer—Educação, pg. 67 o cenaculo 114 m-mem-a* , E n'uma tão vasta agremiação de povos civilisados, onde trabalham todas as formas de governo,aclmittidas ainda pela eivilisação d'este século, desde a republica, em França, ao poder absoluto, na Rússia e Turquia; estando a Suissa como prova mais adiantada de administração publica, estabelecendo o traço de passagem para o novo ideal administrativo do povo; é justamente a politica, em sua mais moderna formação, que observa em grande escala certa homogeneidade de vistas. A politica é sempre o elemento social, alguém o disse, que dá principio a urna nova ordem de cousas. Não estamos em uma epocha de estabilidades porque o anarchismo de ideas é patente; mas o futuro que promette mais conformidade governamental e mais sadia ordem de factos em relação aos diversos ramos da actividade humana e da vida em sociedade, não se nos pode antolhar remoto de mais, porque já vemos a politica, o primeiro elemento constitutivo do Estado, determinar o soo caminho de propaganda para o futuro. Não se titubeia na escolha do govorno a pedir, trata-se de preparar o espirito e o sentimento populares, por meio da mais racional educação, para serem o alicerce da nova ordem de vida social, em germem na propaganda de hoje. Esse é o motivo de merecer lodo o cuidado a transição por que passa o mundo, A Europa, entre a sua heterogeneidade de governos e de escholas, produzida polo sopro de liberdade que a civilisação traz eomsigo o da qual «o declinar da auetoridade papal, philosopliica-real, ou pedagógica é essencialmente um único e identico phenomeno; ¦) (3) a auetoridade papal, outr'ora tão influente e arraigada e hoje, mais do que nunca, escrava da peior e mais oerniciosa instituição clerical:—a Companhia de Jesus, como Jemo prova a canonisação do immoral e assassino inquisidor hespanhol de Saragossa, Arbuez, feita pelo papa Pio IX, em 1867; e o breve pontifício de Leão XIII, IJalurn Romw, apud S. Petrum, subannuloPiscaloris, diellll Julii MDCCCLXXXVI, Pontificatus Nostri anno.(í-)(tâ de Julho de I8*»G) reconcedendo á Companhia todos os privilégios que cila arranjara desde Paulo III, papa em \53i»; a Europa, digo, depois de haver sacu(3) Spencer—*Obr. cít. (4) Novo Mensageiro do Coração de Jesus, revista jesuitica que se publica em Portugal: WB> 421, do n. 67, tomo VI, publicado em Outubro de 1886. ;'X: |y|2 O CEiNACULO revolversente sotaina, da do carga maior a dido predomínio lhe energicamente a entranha social o indestructivclgermenüa século um velho continente no por atalaiada liberdade política camde republica na Confederação Helvetica «... essas brancas maior o reahsar veio forte raça uma habitadas que por panhas democrada alhança a humanas: nas sociedades bem possivel a Castellar, Emilio quando de na cia eda liberdade» phrase havia ((oabsolutismo onde romanas, as com compara plagas as espiões de e para fiscaes e agentes de collocado um bando busFrança, da pode republicano que espirito e coarctar;» pelo con lia Ga velha da da revoltas nas antepassados plebe car seos tra as usurpações dos nobres e dos sacerdotes druidas, que consaespirito dominadoras; classes d'essas abalaram o poder imposto comotorma 81) e definitivamente de revolução na grado de governo, nos tempos actuaes. O século XIX que viera encontrar o código da liberdade poNorte, do America na e na Suissa unicamente implantado litica alem republicanas, americas as trez vendo termo chega a seo da republica Franceza, Tramway, etc, e do movimento geral iea o Itália na leva povo de instituições, que para nova ordem massacre o pelo responsabilisando impávido, governo vantar-se incita Àbyssima ; na que Garibaldi, de compatriotas bravos dos os estudantes hespanhoes a queimarem Affonso XIII em eliigie, proespedaçando a bandeira monarchica da patna do Uc ; que temúltimos dos revolta, de epopea a maior Portugal em' duz retroo constrange Junqueiro; Guerra de que pos, na Pátria, alguma uneapparentar a russo império do absolutismo grado ralidade, sob a regência de Nicolao III; que faz na A lemanba o próprio Guilherme II provar a Bismarck, o grande chanceler, a um indispensáveis absolutamente ferro de homens ha não que modo conservador espirito o forma, essa povo ; abalando, por do beneficio em povo transgridem, reis os se narchismo, porque a e nao que instituição, sua da o circulo absurdo e intolerável e livre, que um a servir povo elementos monarchia tenha para ao rei. impõe se não, ou indirectamenle a vontade popular, Essa liberalidade que parece firmar o throno, approximando-o do povo, é o começo da derrota ; é o rei que perde terreno. Finalmente, como um epílogo das victonas republicanas, euos todos paizes socialismo o por propaea-se vigorosamente Belda maior a fazendo gloria Rússia, á ropeos, da Hespanha cooas ate Paepe, De de e seculares enfermarias as gica, desde espalhadas pelo paiz operários, os consumo de para perativas Lima Magalhães dizia á fornecem «que inteiro e propaganda, 0 CENACULO 113 ,1/uVK»'» em 1892, recursos que poderemos avaliar, por trimestre, em mais de quarenta mil francos.» (5) E as sociedades da Paz agitam os espíritos mais cultos, sem distineção de sexo, em França, Allémanha, Portugal, Inglaterra, Hespanha, Itália, Áustria, Hollanda, Dinamarca, Suissa, Bélgica, Noruega, etc, activando o predomínio do trabalho e dos sentimentos de humanidade; impulsionando assim o progresso moral e material dos povos, e realisando a observação de BenoitMalon: «Convém, pois, para apressar o triumpho da eivilisação socialista, não limitar a questão apenas aos interesses de classe do proletariado, mas fazer também apêllo a todas as forças sentimentaes, estheticas e moraes da alma humana.» (6) A America, predestinada a realisar, primeiro que os outros continentes, o ideal democrático do socialismo, já deo o exempio se tornando o núcleo da liberdade politica n'esle século; porque «os vexames que na Europa a intolerância religiosa e os antigos privilégios infligiam aos povos, haviam poderosamente concorrido para agitar a grande leva do indivíduos, que cedo começou a buscar o novo continente, em procura de uma existencia mais independente e ao abrigo das perseguições odiosas. Animados destes sentimentos e ao fixarem as bases sobre que deveriam assentar as novas instituições, era lógico e natural que os povos americanos adoptassem um regimem político consentaneo com as suas tendências democráticas.» (7) A America, onde não conseguio enraizar-se a estulta parasita do sangue azul com o seo cortejo burlesco de origens dir/inas e degeneraçõos da espécie; e onde os janizaros de Ignacio de Loyola estacaram no primeiro assalto com a sua medonha leva de horrores com que devastavam, em nome de Christo, a Itália, França, Portugal, Hespanha, ondeTorquemada, a maior emais sinistra encarnação do salteaclor assassino ; Arbuez, que temendo a pena de Talião, pelos crimes commettidos, carregava uma couraça debaixo do habito e uma espécie de capacete de ferro na cabeça; (.*») o futuro papa Adriano VI; Afionso Manrique e outros, que condemnavam, como inquisidores, milhares (5) Magalhães Lima—Bocialismo na Europa, pag: 66. (6) Benoit Malon—Prefacio do Socialismo na Europa, M. Lima, pag, 9. (7) Urbano do Amaral— A Democracia Moderna; capitulo II, pag. 53. (8) Apezar da couraça e do fanatismo de 1485, sob o reinado de Izabel, a catholica, e império deTorquemada, Arbuez foi morto próximo ao altar-mor da cathedraí de 0SaragOrisa, por um do? nobres de Aragfío, queselmvia conjurado com outros para guerrear o Saneio O/f feio. Veja-se a respeito os Mtjsterios da Inquisição, deM. V. de Péréal; nota ás paginas 507 o 508 Para maior gloria da Egreja Romana Arbuez foi beatiíieado em 1664, por Alexandre \U, e. ; auonisado pelo semeto padre Pio IX, em 1867 (!) Veja-se Koseritz: Roma perante o século, pag/138*. 414' 0 CENACULO de pessoas,dando á fogueira, depreferoneia,aquellasque Unham fortunas para serem confiscadas pela hu%il<h e smctii confraria da Inquisição e Companhia de Jesus; a America sacode ainda, com pulsos de ferro, as ultimas grilhetas do predomio extrangeiro, elevando ao implacável julgamento da Historia uma tragédia soberba de valor e de abnegação, na guerra de Cuba. A Iransição, seja para uma dolorosa religiosidade de resignações, o que não é provável, especialmente com as bíblias e os mosteiros de que fala Alberto de Oliveira, pois tudo isso só é compatível com o ideal mediévo :—um deos, um papa, e um imperador—ideal impossível já na epocha presente (9); ou seja para a completa secularisação das leis e dos costumes, purificando pela educação mais livre e mais paralella á razão e á natureza, o que é mais certo, porque a ordem natural é tender para o aperfeiçoamento. A transição é forte e se opera não só no dominio politico, mas no religioso, no artístico e no scientifico. Não ha crenças preponderantes, assim como não ha eschoIas philosophicas e artísticas que caracterizem a epocha, a não ser a duvida começada em Gcethe e desesperada em Byron; a analyse pessimista de Flaubert e de Zola. aE' sufficiente applicar por um momento os ouvidos aos echos da sociedade europea, para perceber as discordanciasque n'ella se manifestam de todas as partes.» (10) Estamos, por certo, na formação de outra Renascença que trará para a humanidade grandes reformas na vida intima c sociai; pois, todo o abalo presente implica um mais profundo conhecimento dos factos e das cousas que gyram na vida humana, o que traz alargamento considerável de aspirações e maior complexidade nos ramos do saber. Em conseqüência das precárias condições de nossos hábitos, falhas por um lado, de commodidades para os nossos sentimentos, cheios,por outro, de preconceitos imbecis acoroçoadospelo corno as esperanças do w A razão publica, a historia e a lógica, a experiência do passado, profuturo, condemnam a todos esses marcos do obscurantismo, a todos esses inimigos do em nome de Deos e sorrateiros, pretendem, e impostores hvpocritas os todos a que, gresso, sob a égide da religião, enredando o catholicismo, blasphemando contra a pMej estaDeiecer um poder repugnante e condemnado, avãssalar os reis e os povos. Saldanha Marinho— A ...ia Egreja e o Estado. 1H -;«_ democracia, danossa o refere se patriarclia O clero secular ou jesuíta, a quem directamente nunca deixaria de influir coma sua civilisação troglodyta em qualquer mosteiro, por mais puro que este pretendesse ser. (10) Littró—Fragmento de pMiosopliia positiva; pg.2. O CENACULO +m »;*»>T*aW*W»''*-*'*^ 145 " * relaxamento do caracter, na sociedade humana, essas aspirações, palpitantes de vigor, vêm-se em grande parte coarctadas. E d'ahi o pessimismo de hoje. Mas esta nevrose moral e intellectual, produzindo, como se vê, alta somma de actividade, vem, pela observação e pelas descobertas, facilitar os meios e methodos de estudos; trazer novos elementos para a commodidade geral; melhorar a comprehensão dos deveres e direitos individuaes e collectivos; o que, necessariamente, a par de completa educação racional, dando força á nobreza do trabalho e dos sentimentos e eliminando sem tregoas toda a castade privilégios, para pôr em acção oextraordinario ideal de paz que sonhamos. Latino Coelho diz: « A justa conciliação do principio da independência com o principio da associação determina a unidade e harmonia do «kosmos»edeve egualmente produzir, na humanidade a ordem, a paz, a segurança, a liberdade, e a harmonia social.» Eis ahi a nossa confiança no amanhan. « O perpetuo movimento é a suprema lei da natureza. A conlinua e regrada trasformação é também a norma da humanidade», continua Latino Coelho; e nós que vimos legislar-se a evolução com Spencer; que temos uma idea mais vasta da croação do homem com a theoria do polygenismo, e assistimos a sciencia restituir á natureza o direito sobre factos do mundo physicoque em vista da importância d'elles eda ignorância antiga, achavam-se prezos ao pretenso poder divino, longe defazermos como os antigos que, desconhecendo a evolução, voltavamse para o passado lançando, de todo, á conta da corrupção dos tempos a queda de suas instituições políticas, como diz Littré, lemos de confiar no tempo a vir c preparar, então, o caminho para chegarmos a elle. A imprensa, o livro, a tribuna, e, sobre tudo, a instrucção publica, tem na educação popular vastíssimo campo de operações. Revigore-se o caracter com os sagrados exemplos de valor e de hombriedade que a Historia nos offerece; annule-se com a 1'edagogia os rosários e os jejuns; substitua-se, no templo, as missas em latim porlicçõescíe Historia Natural. E o Brazil que propague por todas as camadas sociaes as verdadeiras leis republicanas, destruindo com os princípios da democracia, que são inabaláveis, os sophismas das convulsões e factos esporádicos, que abalam mas que passam; que faça da 116 o cenaculo lavoura a grande artéria do paiz, pois tem apropriado território eido e commercio; industria da o motor será isso, eesta para vilize o aborígene, para a integridade da nação; dê ás artes a maisamplaexpansão que comportarem as suas forças, e teremos sólidos fundamentos para receber o futuro. 9—Abril—96. Silveira Netto. .__,.*•*-$*- _J_Ji_ir1 •VJ.**.^-**. CONFIDENCIA Pérfida !... Eu tremo e sinto que crocita A pavida loucura a que ando exposto... Escuta e vê como soluça e grita Meo coração, na jaula em que foi posto. Pérfida e louca! Hypocrita e maldicta, Rasgam meo peito as garras do Desgosto... E o parvo coração, que inda palpita, Tenho vontade de atirar-te ao rosto. Disse.—Porem, tremendo, allucinada, Narrou-me, altiva, em lagrimas banhada, Toda a tortura que em seo peito havia. Pasmo, sorpreso, a raiva apunhalando, Chorei também por vêl-a que, chorando, O coração em lagrimas vertia Antônio Braga \ LIMA A Antônio Braga Mais uma dor que reza o dé-profundis Das agonias e cias solidões, Faz com que o verso em lagrimas fecundes, Trocando gritos pelas orações. Mais um martyrio, como se a desgraça Não fosse enscenaçào da vida humana; E o teo amor a cruz do grito abraça, Capitulando ás portas do Nirvana. Mais um tormento avulta sem rebuços, E a magoa antiga põe-se a delirar; A dor hebreia nâo tem mais soluços Quando traduzas lagrimas deÁgar. Que desespero, ter o exilio na alma Quando se atulha a noite de um jazigo, E o crepe da orphandade geme e ensalma A paz que nos deixara ao desabrigo. Crenças e amores... tudo desabando... E' o trabalho que os dias vém fazer; E como a Boabdil nos põe chorando Por ver a pátria a desapparecer. A vidaé a dor, e não ter Mãe... tortura Em que sentimos a alma ondoudecida. E os sete palmos de uma sepultura Se não nos levam, matam-nos ávida. Mais essa dor a nos juntar na magoa Que outro infortúnio abrio em nossa dor ; E a vida se nos vae, de fragoa em fragoa, Sangrando o riso, estrangulando o amor. MA o cenaculo Também supporto esse estertor profundo, Tendo de luto uma alma desgraçada. —Como é vasio para nós o mundo... —Como se encheo de nós o infindo Nada... Sabesquede meos olhos, passo a passo, O pranto acorda em cânticos de fél; E da violeta que os circunda faço Para os meos versos trágico burel. Sabes que preces andam nos meos olhos Com a funesta muzica do tédio ; E os devaneios no seo pranto molho-os, Dando á amargura a dor como remédio. Sabes que Werther, ajoelhado e doudo, Prezo á Carlota n'um olhar febril, E' a litania de um martyrio todo Que ha muito sigo em bárbaro alcantil. E tanta magoa, e toda essa inclemencia, Que arma em abutre o mundo truanesco, Tenho-a a reger-me o duo da existência. Na arte feralIde um circulo danlesco. E nós seguimos como forasteiros, A ver que a terra em covas se fendeo ; Do próprio coração sendo coveiros; Deixando em ruina o lar, como um judeo. Por isso ajoelho ao pé d'essa amargura Hoje que ésdaorphandade um filho errante, E os sele palmos de uma sepultura Gravam-te na alma o dístico de Dante. 20—í—1896. Silveira Netto. rnvrim I ili m I B"1 um I ^—' ^j^ *- ™ JBL JB-^H m\~ 9mr \m wm Ruiioug ÜO Padre Dr. JvlIío lv£axia VI «0 protestantJsmo nasceo do orgulho. 0 orgulho do primeiro homem, que revoltou-se contra Deos, reappareeeo no século 16.° em um outro homem de talento e de profunda intelligencia, a quem a Providencia deo na terra aquillo que não dá a nenhum rei, a nenhum anjo—o sacerdócio. » (Décima Conferência.) (1) Dizer que a Reforma nasceo do orgulho de um homem, de Luthero, é desconhecer a historia c deixar de analysar os factos com a necessária imparcialidade c critério. Não se pôde admittir, effectivamente, que uma causa tão insignificante tenha produzido effeito tão importante na historia da humanidade. Esta errônea interpretação evidencia mais uma vez o antigo vezo do clero romano de taxar de orgulhoso a lodo homem que tem a independência bastante para não se deixar dominar pelas suas pretenções. A Reforma é um movimento moralisador, uma reacção digna do elemento mais são da sociedade contra a corrupção do romãnismo. As suas causas são mais poderosas do que o orgulho de um homem e esle, se não achasse um meio favorável, um terreno apropriado para a germinação das suas idéas, teria necessariamente baqueado. E' necessário estudar os antecedentes desse movimento religioso para poder penetrar no conhecimento das suas causas. O papado estava desmoralisado. Júlio II, papa e general (1502 a ' 513,) provocava guerras e commandava em chefe os exercitos O synodo de Pisa o depoz, allegando «que Júlio era um (1) Da 5.a Conferência passo para a décima, deixando de me oecupar das outras, porque tratam de assumptos demais metaphysicos, como o Inferno, a Eucharistia, etc, etc. Ora, eu não me sinto disposto a refutar theses desta natureza: O inferno é aperda de Deos; Eaumalimento physico: o pão material; ha lambem um ahmenio divino: o celeste—a Eucharistia: e outras semelhantes, pão \ ...... 420 0 CENACULO mmK0^^JmUmm*^XJmJ\0^^\Am*m*ym*mfm*m^ eterno perturbador da paz publica, que semeava a discórdia entre os üeis, que era rebelde e tyranno sanguinário, endurecido na malvadez.» Mas o santo papa pouco importou-se com essa resolução e, como resposta, depoz Luiz XII, rei de França. O historiador Mozaray diz «que Julio procedia como um sultão turco, mas não como o logar-tenento c e Doos sobre a terra o como pae espiritual de todos os christãos.» Dnzentasmil vidas custaram as guerras provocadas por esse snccessor de S. Pedro. Delle disse o imperador Maximillianol: «Santo Deos! Que seria do mundo, sem a vossa direcção, sendo imperador eu que não passo de um pobre caçador, e papa um indivíduo tão viciado e ebrio por habito, como Julio.» Com effeito, entregava-se elle á embriaguez, com freqüência. LeãoX foi o digno successor de Julio II e foi papa durante 8 annos (I >I3 a 4521.) Era tão esbanjador como o seo antecessor e durante o tempo em que occupoii a cadeira de S. Pedro gastou nada menos de 8 milhões de ducados. Conta o cardeal Bambo que LeãoX dissera-lhe um dia: «Todo o mundo sabe quaes as enormes sommas que a fábula de Christo nos tem dado a nós e aos vossos.» À corte de Leão X representava o luxo, o fausto, a grandeza e absorvia sommas verdadeiramente fabulosas, extorquidas ao com a famosa venda das indulgências, cujas rendas elle Dovo !azia arrematar pelos príncipes e bispos. Quem não conhece João Tetzcl? Era o celebre vendedor das indulgências, o agente de Leão X, que percorria a Allemanha com uma caixa de ferro, ornada com as armas do Vaticano, e com esta inseripção: «Logo que o dinheiro soar na caixa, pula a alma do purgatório!» Frei Tetzel fazia os mais pomposos reclamos por onde quer que passasse. Eis aqui um bello specimen dessa oratória commercial: «Vede, irmãos, o ceo se vos abre de todos os lados. Se não aproveitais agora a oceasião, jamais nelle penetrareis! Oh! vós, homens insensatos, que egualaes quasi ás bestas ferozes, não sabeis ligar o devido apreço á bondade do Santo Padre. Vede quantas almas podeis livrar do purgatório! Preguiçosos e teimosos que sois! Com dose dinheiros podeis tirar m vossospaes do purgatório e sois tão ingratos que não aceudis aos vossos progenitores em tão triste situação, sofrendo ineriveis dores?» o cenacülo 421 A semelhante escândalo não se podia assistir impassível e MartinhoLuthero, da ordem dos Agostinhos, justamente indignado, revoltou se protestando e queimou as bullas do papa. (2) Foram os abusos de Roma, e nâo o orgulho de Luthero, que originaram a Reforma c consequentemente o enfraquecimento do catholicismo romano pela perda de muitos fieis. O orgulho deumhomom, de um simples monge, não teria força para produzir tão intenso movimento que «quebrou a uni dade religiosa da Europa occidentalo fez triumphar finalmente nos paizes catholicos o principio da liberdade de consciência.» O simples orgulho de um homem não teria a virtude de dominar a Allemanha, a Suissa, a Inglaterra, a Suécia c muitos outros paizes. «Se o interesse particular e a razão d'Estado, diz Schiller, não se tivessem unido, jamais a voz dos theologos teria encontrado príncipes tão sollicitos, nem a nova doutrina tão numerosose tão valentes defensores. Os abusos da antiga Egreja, o absurdo de muitas de suas doutrinas, as suas pretençõesexcessivas, deviam naturalmente revoltar os espíritos já dominados pelo presentimento de uma luz mais pura, e predispòl-os para abraçarem a reforma. Os attractivos da independência, a rica presa dos benefícios ecclesiasticos, deviam fazer com que os príncipes desejassem uma mudança de religião, e sem duvida juntariam alguma força á sua convicção intima.» A Reforma queria simplesmente moralisar a conducta dos ministros de Deos e de modo algum entendia com a fé christan. Luthero nâo foi movido pelo orgulho, mas pela indignação que lhe causava o commercio das indulgências, a corrupção do romanismo, a depravação da corte de Leão X, o luxo do papado. Para prova basta citar a seguinte proposição, d'entre as 9 :• sustentadas por elle em Wiltemberg: «O papa, cujos thesouros são hoje superiores aos mais enormes, não poderá porventura, com o seo dinheiro enão com o dos pobres fieis, construir uma única egreia, a basílica do S. Pedro?» Como diz um publicista, a Reforma foi o resultado de uma convicção honesta: desejava-se purificara má administração da religião, introduzir a ordem e a honestidade na exploração do subjectivismo christão. «O protestantismo, diz o orador, não tem dogma; pois o dogma é uma verdade que se impõe, o em face do principio do (2) Veja-se j^aya ^aioir esclarecimento, Carl von Koseritz, Roma perante o século. 422 «r *»_^.j**>A/»»r*****»»*vv*»*v*i*n/vv^^ 0 CENACULO fKVWWW» livre exame, cada um interpretando a Escriptura como quer, não ha, ó claro, o dogma em sua doutrina. E não pôde haver religião sem dogma.» Concordamos em parte com este asserto. Seo orador, dizendo «protestantismo,» quer se referir simplesmente ao principio posto por Luthero—de accôrdo: o protestantismo destruio o christianismo. Não pôde haver uma religião sem dogmas, sem ritos, sem clero. E Luthero, dando a cada íim a liberdade de consciência, a liberdade de interpretação da Biblia, destruio todos estes elementos religiosos. Mas, se «protestantismo» comprehende também a obra de Calvino, então o sr. padre Julio Maria está perfeitamente enganado: a Reforma foi uma heresia. Calvino fez delia uma orthodoxia. Elle restabeleceo todos aquelles elementos que o principio de Luthero havia destruído. Quem quer que não se conformar com o Evangelho, tal como elle o interpreta e entende, é herético; e elle mesmo diz: «Os heréticos são as pestes mortaes da christandade; é licito portanto punir os heréticos.» O chefe dos calvinistas entende «que os magistrados devem castigar aquelles que se esforçam por corromper a doutrina celeste,» pois a auctoridade civil não é mais do que a «ordenação de Deos.» Para Calvino, o padre, o pastor, único depositário da verdade, é o único soberano. E' a doutrina de Gregorio VII; ó a doutrina do papado romano. O calvinismo é intolerante como o romanismo. E' sabido que Calvino mandou queimar a Michel Servet. O que o protestantismo tem de bom é justamente o principio de Luthero, a liberdade de consciência, a livre interpretação da Bíblia, o principio de tolerância. Representa tudo isto adestruiçâo do dogma, da religião? Pouco importa. È; esse princioio que tem impulsionado as nações, que as engrandece, que as iberta do dogma imposto, da tyrannia, do despotismo religioso e civil. Concluindo, resta-me dizer que é um erro de apreciação histórica dizer que a Reforma de Luthero procedeo do orgulho. Mas, o que é verdade é que, se o catholicismo taxa de orgulhoso o movei protestante, o protestantismo, pela Instituição christan de Calvino, não deixa de considerar orgulhoso o catholicismo romano e o padre catholico, a seo ver, não passa de um heretico. E' uma justa retribuição e nada tem de admirar visto como, dentro do próprio catholicismo, trez papas já se excommungaram mutuamente. Chichorro Junior. ¦ iíia Nheenga, a alma das florestas, que tinha na fronte adusta e esvelta, o esplendor da natureza americana, chegara á praia, oflegante o tremulo, flecha erguida para a vastidão da bahia, como quem procura no horisonte alguma cousa extranha. O seo olhar tem o brilho das grandes coleras que cegam o quo só deixam visão intensa e poderosa para ver o objecto d' essas coleras sagradas. Duas vezes estendeo os braços para as bandas do mar, e duas vezes ferio aterra com a ponta do arco formidável. Pelas encostas do outeiro que se eleva no extremo da Cotinga mais próximo ao continente, vagueiam homens dc outra raça,.alli chegados ha poucos momentos. Aquelles homens já haviam tentado saltar á terra firme ; mas Nheenga, a alma das florestas, os rechassára, valoroso como um leão, tremendo o a mugircomoumcataclysmo. A sua presença, a suacatadura sinistra e apavorante lançara o assombro e o terror entre os homens da nova raça; e batidos de medo elles tinham voltado a buscar valhacouto na ilha. Nheenga, a perseguil-os, chegara até a prair, oflegante e tremulo, flecha erguidapara a vastidão da bahia, como quem procura no horizonte alguma cousa exIranha. Duas vezes estendeo os braços para o mar, e duas vezes pisou forte o solo, e o solo na redondeza estremecera. Alli ficou, transfigurado o solenne, por longos instantes. Pensamentos de fogo passavam pelo seo cranem incendido, e seos olhos pareceram logo duas chammas que se apagavam... Um nume invisível elle sentio a falar-lhe dentro do"coração quasi gelado, e a dizer-lhe : « Pobre filho, que te transviaste !... O teo caminho foi muito esguioe accidentado e longo... Esconde-te depressa, filho transviado... Aquelles outros viajores devem passar para alem... Esconde-te! Vae morrer com essas tuas iras lá nas entranhas dos ermos... Queixa-te lá dos teos numes, esome-te com elles d'esta luz que já não podes ver. Esconde-te!» E outros pensamentos ainda, como centelhas electricas, lhe vão queimando o cérebro. Por fim, venceo um pouco do sangue antigo que trazia nas veias, e a alma de Nheenga, resignada e dolorosa, preparou-se 124 0 CKNACULO **A<MaHMMAMA>«^->>-li-iA.f4.<VMAAA«AA • r*mm . m\njmmm * >• A/VAWAA«XA/UI<VVa*UUUIM«%AiU«/ para obedecer a voz do nume invisível : desprendeo um longo suspiro, pasmado para o mar ; e dos seos olhos, que nunca souberam o que era pranto, expluiram duas lagrimas quasi côr de sangue e que pareciam guardadas havia mais de trinta séculos no seo coração... E como um precito, a cabeça a pender para a terra, Nheenga tomou as bandas do Occidenle, resignado e doloroso. Paranaguá—1896. Rocha Pombo. ~^j\f\r *pj^p^ LUAR ti' Noite encantadora, noite muito calma... Vae rolando a Lua pelo ceo azul... Minha Noiva amada, vida da minha alma, Porque choras tanto pela noite calma?... Porque choras tanto sob o ceo azul?... Olham-te as estrellaspiedosamente... Nas estrellas mansas fitas triste olhar... Minha Noiva amada, que pezar pungente No teo seio chora merencoriamente, No teo seio gemo sem te consolar? A minha alma é triste como um cemitério... Como um cemitério, toda glacial... Minha Noiva amada, que luar funereo Sudariza as rosas do jardim sidereo, Sudariza os lyrios do paiz natal?... Esse amargo pranto, minha Noiva amada, Mata as esperanças de illusão feliz. . Porquechoras tanto, minhaNoivaamada?... Como estás saudosa, como estás magoada, Sem as esperanças de illusão feliz!... Abre-me teos braços, minha Noiva amada, Abre-me teos braços, meo bemdito amor!... Cante na tua alma límpida alvorada!... Meo bemdito archanjo, minhaNoivaamada, Veste as brancas vestes do luar do Amor!... -1893 Daiio Vellozo ; IJjVafjnV A Nova Revista, n. 2.°, anno i. Director Adolpho Caminha, Secretario Oliveira Gomes. — Rio de Janeiro, Fevereiro, -1,>96. E',como o Ce>i%mlo, uma revista de trinta e poucas paginas, quesepublicamensalmente. Traz variadasummula. Destacamse os nomes do Clovis Bevilacqua, B. Lopes, Gonzaga Duqu' Estrada, Nestor Victor, Collatino Barrozo, e etc. Adolpho Caminha vae dando á Nom Revista sadia orientação que muito o recommenda á nossa Pátria, pela pujança e critério com que trabalha cm prol da Lilteratura Brazileira. A Nova Revista impõe-se deliciosamente aquelles que prezamo estudo e amam o convívio dos bellos espíritos. Sentimos não ter chegado ás mãos o seo primeiro fasciculo. Recebemos, também, o terceiro. Traz o seguinte, quenosdiz respeito: «O Cenaculo (Coritiba)— Protesta, num artigo vibrante, contra a intervenção do clero no ensino publico: aíiirmaque « é dever de todo aquelle se que preza de possuir umapenna — de aço ou de ouro, que importa? — mostrar e demonstrar ao povo ingênuo e crédulo a impropriedade do ensino religioso, a falsidade das doutrinas da egreja romana, a esterilidade de seo dogmatismo.» Não estamos de accordo em muitos pontos do artigo. A sociedade carece de uma moral e não ha moral sem religião. Não ha duvida a que verdadeira religião christan anda falsificada: mas d'ahi nào segue-se zimpropriedade do ensino religioso. « Crimine-se o clero, crimine-se a Egreja, que não tem sabido ou não tem querido interpretar as legitimas doutrinas do Christo, mas conserve-se a educação religiosa até a edade em que o indivíduo tenha liberdade de pensar e de agir no meio social. — Collaboramneste numero d' O Cenaculo Dario Vellozo, Leoncio Correia, Júlio Pernetta, Silveira Netto e outros.» Se bem que pretendamos continuar a serie de artigos ence tada, demonstrando a impropriedade da instrucção religiosa miNISTRADA Á 1NFANICA, DO ENSINO CÍVICO ENTREGUE A DIRECÇÃO ESPIRI- tual do clero, — e não conheçamos todos os pontos em está que comnosco em desaccordo o auetor das Notas Bibliographicas, 120 O CENACÜLO fwwwvvvvvvvvvwvvwvyvwvvvvvvwwwwvwvvwvvw»ww vamos responder, ligeiramente,com os seguintes trechos,transcriptos de duas assaz conhecidas e acatadas notabilidades curopeas, os tópicos que se referem á necessidade «da educação religiosa até a edade em qae o indivíduo tenha liberdade de pensar e agir no meio social»e d carência de religião, para que haja moral. Diz o Dr. Luiz Büchner: « A educação deve ler por base a sciencia c não a fé; nas escholas publicas, a religião deve apparecer somente sob forma histórica; deve ser ensinada somente como exposição objectiva escientifica dos diversos systemas religiosos em vigor entre os homens. O indivíduo que, depois de receber esta educação, senlir ainda necessidade de uma regra dc crença determinada, terá o direito de se reunir á seita religiosa que lhe agradar, mas não o de exigir que a communidade supporte asdespezas desse goslo particular.» (O homem conforme a Sciencia.) Pensamos com Büchner: — Só depois que o indivíduo lenha liberdade de pensar c agir no meio social, ê que deve escolher a seita religiosa que mais lhe agrade. O pae, o mestre, ou quem quer que seja, não tem direito de impor á creança esla ou aquella religião. Besponde o segundo tópico o seguinte trecho do MaxNordau: «Os monarchistas sinceros, que combatem apaixonadamentea instrucçao do povo ou que pelo menos não querem que o Estado contribua, têm mil vezes razão. São conseqüentes quando pregam: «o povo deve ter uma crença-, quando se oppòem á creação de escholas puramente seculares, quando declaram que a separação da Egreja c do Estado eqüivale á destruição dos úlares mestres do èdificio do próprio Estado. O pedido que 'azem para que o Estado seja christão é a seqüência necessária do seo modo de pensar. Deixam sem duvida de ser sinceros quando acerescentam : «Porque sem religião o povo não tem moral e o Estado que renuncia a ser christão deixa o campo livre a todas as más paixões, a todos os vícios c a todos os crimes.» O verdadeiro sentido desta asserçâoéo seguinte : «porque a religião é a única base da realeza hereditária, porque a emancipação do povo conduz irresistivelmentc ao domínio do mais forte ou do mais culpado, istoé, á dictadura ou á republica.» Isto é mais uma prova dos usos menlirosos do tempo actual, que mesmo os monarchistas mais intrépidos nâo lera coragem de confessar o verdadeiro motivo pelo qual querem trazero povo para o grêmio da Egreja. Deviam exclamar aclivamente • «temos necessidade da religião paraservir de escudo á o cenacülo nrwvvvvv»»vvvvvvv*vvvvvvvw»^^ 127 vmrvvvv»» monarchia!» Isto seria mais corajoso; mas que pretendam manter a religião em nome da ordem, da moral e do bem do povo, écobardia.» (Mentiras convcncionaes da nossa civilisacâo). Fica assim mais uma vez justificado o que avançámos em nosso artigo, inserido em ofasciculo 11.° desta revista. Agora vejamos como pensa, a respeito da instrucção religiosa, o sr. Luiz D. Cleve,— austero e veneravel republicano que com tanta hombriedadee civismo redige o timym—criterioso hebdomadário da cidade do Guarapuava, neste Estado: OCenacülo «E' o thema em discussão entre os talentosos lilteratos paranaenses, emCoritiba, a já assaz condomnada instrucção religiosa, que a todo custo querem os ferrenhos catholicos implantar entre nós. «Sobre o assumpto apreciámos o criterioso e bem lançado artigo do sr. Dario Vellozo, no «Cenacülo», refutando essa perniciosa pretenção no nosso Estado. «Parabéns aos intemeratos moços, gloria e orgulho da moderna geração paranaense.»—(Guayrade 5 de Abril). Do Nacional (Capital Federal) : «Recebemoso «Cenacülo» (anno II, tomo II), revista lilte— raria, politica e scientiíica, que so publica em Coritiba—(Paraná) trabalhada por adestradas pennas, sob a direcção de Dario Vellozo. «O numere que recebemos está esplendido e traz a seguinte summula : A imprensa e o clero, por Dario Vellozo ; Prometheo—Leoncio Correia ; A evolução—Carvalho de Mendonça ; Funeral das lagrimas—Julio Pernetta ; A cleclricidade—komario Martins; iHedade!—Silveira JNetto ; Em guarda—Albino Silva; Conferências iY!%ioms'—-Chichorro Junior ; Desolação—Antônio Braga; Crepúsculo—Julio Pernetta.» Da Comarca (Palmeira) de 5 de Abril : O Cenacülo «Recebemos e agradecemos um exemplar dessa imporlante revista, que se publica na Capital do Estado e que é uma folha tão distincta, quanto distinclos são os seos redactores, moços considerados devidamente na republica litteraria de nosso Estado. _2H m DW><-Miaiiii _. w» O CENAGULO .J.VUU»MVWW»-W»W*»i**«*<**»W<W«-*-»«»-**^'v-ytl^ «Seremos solícitos em marcarmos o archivo do sympathico Ccmculo coma remessa da insulsa Comarc/i, em remuneração muito diminuta a essa revista em cujas paginas brilha o talento de uma corporação tão distineta de litleratos que honram e muito a vida intellectual de nosso Estado.» Da llcpublka (Coritiba) de 10 de Abril : O Cenaculo «E' sempre com máximo prazer que accusamOs a recepção desta brilhante revista litteraria, que não honra simplesmente ao Paraná, mas as lettras nacionaes. «Eis a summula do 42.° fasciculo, que temos á vista : Conferências religiosas, por Chiehorro Júnior; Le Pénitent, por Iwan Gilkin; A Evolução, pelo Dr. Carvalho de Mendonça ; Do Funeral, de Silveira Netto ; O Consórcio de Carmen, de Dario Vellozo ; A Capella de S. Francisco, de Julio Pernetta ; Respigas. «Parabénsaos seos ilustres redactores, que,de maneira tão gloriosa, têm aífirmado a evolução litteraria da Pátria Paranácnso.» Agradecidos. •4xB^^>.