ESTUDO DE CASO 2 O CARTÃO DE RELACIONAMENTO PÃO DE AÇÚCAR MAIS No final da década de 90, a idéia de tratar cada cliente como se fosse único foi traduzida em três letras, CRM (Customer Relationship Management), e passou a representar um nicho de mercado promissor para as empresas de tecnologia. Empresas de diversos setores começaram a gastar fortunas para aprimorar a gestão do relacionamento com o cliente. A E.piphany, empresa americana de progra¬mas de CRM que chegou ao Brasil em 2001, investiu 1,8 milhão de dólares, em 2002, em pesquisa de produtos específicos para o mercado brasileiro. No mundo a empresa investirá 35 milhões. "O potencial do mercado brasileiro de CRM é grande, já que cerca de 70% das grandes empresas ainda não usam a última gera¬ção do CRM", diz Todd Rowe, vice-presidente para a América Latina. A empresa vem apresentando um crescimento anual de 23% em média e já faturou mais de 130 milhões em 2002, esperando crescimento de 30% para os anos seguintes. No entanto, essa promessa da tecnologia de que o computador ajudaria a me¬lhorar o relacionamento com o consumidor está longe de ser cumprida. As empre¬sas investem milhões e milhões para conquistar e fidelizar clientes; apesar disso, bancos continuam tentando vender apólices a quem já é segurado, as empresas de cartões de crédito seguem oferecendo cartões adicionais para quem é solteiro. O fato é que a implantação dos chamados sistemas integrados se tornou uma dor de cabeça para as empresas; um em cada três projetos de implementação de sistemas integrados de gestão, os ERPs, fracassa. Metade estoura o prazo ou o orçamento – ¬em geral ambos. As estatísticas dos sistemas de CRM são ainda mais indigestas: 70% dos projetos não dão em nada. Segundo o Gartner Group, empresa de pesquisa e consultoria, 55% de todos os projetos de CRM não produzem resultados, e, embora o CRM tenha ficado no grupo das ferramentas gerenciais mais populares, um em cada cinco usuários afirmou que suas iniciativas não apenas falharam como preju¬dicaram as relações com os clientes mais antigos. Mas por que as iniciativas de CRM falham com tanta freqüência? A pesquisa concluiu que a maioria dos executivos simplesmente não entende o que está implementando, desconsiderando seu custo e o tempo de resposta. A consultoria Roland Berger fez uma pesquisa com os grandes varejistas brasileiros e encontrou o seguinte: a) A maioria das respostas obtidas para a definição do que é CRM foram: telemarketing, serviço de atendimento a clientes ou processo de integração de dados. "As companhias não exploram o CRM por uma razão elementar: elas não o compreendem", afirma Wolfgang Pelousek, diretor de projetos da empresa. b) Sem entender o conceito, as empresas também não conseguem identificar as quatro dimensões do CRM eficaz: conhecimento do cliente, criação de produtos diferenciados e adequados, atração de novos clientes rentáveis e retenção dos clientes antigos ou recentes. Muitos pesquisados demonstraram relegar a segundo plano o entendimento do mercado. Ou se preocupam principalmente com a retenção dos clientes já existentes. c) O estudo mostrou que a falta de integração dos sistemas de informação é o maior empecilho para o conhecimento do mercado. O curioso é que as empresas geralmente já possuem dados relevantes de seus clien¬tes, mas eles ficam perdidos nos diversos departamentos, que na maior parte das organizações ainda trabalham isolados. A boa notícia é que a pesquisa encontrou, sim, projetos avançados de CRM. Um exemplo é o de uma rede de varejo que combina o perfil socioeconômico com o perfil de consumo de seus clientes, extraídos com base em informações de seus cartões de crédito e de fidelidade. "Eles descobriram que têm um banco de dados de ouro e estão fazendo ofertas customizadas", diz Sistemas de Informação 1 Pelousek. CARTÃO MAIS PÃO DE AÇÚCAR Em fevereiro de 2000, o grupo Pão de Açúcar lançou o Cartão Mais, um cartão de relacionamento com os clientes da rede Pão de Açúcar, que permite identificar os hábitos de compra de cada um dos seus clientes, valorizando a diferenciação, tendo como meta cadastrar 1,5 milhões de clientes, nos primeiros 6 meses. A empresa investiu R$ 5 milhões no projeto, que incluiu a compra de um software Market Expert, da empresa norte-americana RMS, cuja capacidade de armazenamento é de cinco anos de histórico de cada cliente. Trata-se de um cartão de identificação e não de pagamento, pois ele não está atrelado à oferta de brindes e as ações de marketing realizadas são sempre dirigidas (grupos de consumidores com perfil semelhante) ou mesmo individualizadas. A utilização do cartão Mais, funciona nos mesmos moldes que os demais cartões de fidelização existentes no mercado: o cartão - que possui código de barras e também tem uma versão em chaveiro - é apresentado no caixa toda vez que o cliente realiza suas compras, o leitor óptico faz a decodificação e o software coleta as informações qualitativas e quantitativas, tais como dados de compra, tipo de produto, freqüência na loja e valor da compra. O cartão também pode ser substituído pelo CPF, no caso de esquecimento do mesmo. As informações são cadastradas em um computador central e a partir delas a empresa lança perguntas sobre um determinado perfil de cliente. Com as respostas fornecidas pelo software, o departamento de marketing desenvolve promoções de iniciativa da própria empresa ou conta com o apoio dos fornecedores. A divulgação é realizada através de marketing direto e também pelo próprio corpo de funcionários da loja. Desta forma, são três os departamentos envolvidos no projeto: gestão de categorias, marketing das marcas e operações. Em um mês e meio de funcionamento do sistema de gestão em CRM do Pão de Açúcar, registrou-se um histórico com 210 mil famílias cadastradas. Esse número foi suficiente para iniciar as ações de marketing dirigidas, possibilitando que, em pouco mais de um mês já estivesse lançando campanhas "com a cara do cliente", além de obter uma resposta mais eficiente para os investimentos. A empresa lançou 38 campanhas da própria marca e outras juntamente com os fornecedores - houve casos de fornecedores que tiveram aumento de 50% nas vendas. A iniciativa do Pão de Açúcar trouxe bons resultados para a empresa: das 210 mil famílias registradas no banco de dados do grupo, houve um aumento de 42% na freqüência desses consumidores às lojas até a primeira quinzena de junho do ano da implantação do sistema. De março a junho, o aumento do ticket médio de compras desses clientes foi de 19%. Além desses bons resultados do projeto Pão de Açúcar Mais, a empresa recebeu o título de Empresa de Marketing Direto do Ano de 1999, ano no qual foi lançado o projeto piloto nas lojas Pão de Açúcar do interior de São Paulo (Piracicaba, Limeira e Campinas). O número de famílias atendidas atualmente pelo cartão é de 2,0 milhões em todo o Brasil e o índice de fidelização alcançado através do programa foi de 58%. O ticket médio (valor gasto) dos clientes Mais é 130% maior do que o apontado pelos clientes comuns do Pão de Açúcar e seus números registram um aumento bastante expressivo no número de produtos comprados por este grupo. Oferecendo aos seus clientes descontos especiais, ofertas exclusivas, brindes e promoções ao longo do ano, o Cartão Mais permite ao Pão de Açúcar conhecer melhor os seus clientes e identificar quais são os produtos mais consumidos, proporcionando uma loja de acordo com as necessidades de cada um, Sistemas de Informação 2 buscando assim, uma maior fidelização. Perfil dos consumidores Pão de Açúcar Grau de Instrução Estado Civil Sexo Faixa Etária Faixa de Renda Freqüência de compra/mês QUESTÕES 1. Quais são os principais objetivos do cartão de relacionamento do Pão de Açúcar? 2. Com o Cartão Mais, o Pão de Açúcar coleta informações qualitativas e quantitativas de seus clientes, tais como dados de compra, tipo de produto, freqüência na loja e valor da compra. Como o Pão de Açúcar poderia utilizar essas informações para desenvolver programas de marketing mais eficazes para: a) satisfazer seus atuais clientes? b) conquistar novos clientes? 3. Considerando que o CRM é um projeto de longo prazo, como você estabeleceria métricas e indicadores de performance que pudessem avaliar o resultado do investimento do Pão de Açúcar? Em outras palavras, Sistemas de Informação 3 como avaliar se o projeto representou um resultado líquido para a empresa? Sistemas de Informação 4